Você está na página 1de 7

A Judicialização do direito a saúde

Entende-se que a Judicialização do direito a saúde se trata da


necessidade de buscar junto ao Poder Judiciário resolução de
demanda em relação a saúde que foi negada, sendo este um
tratamento médico, uma internação, ou até mesmo um
medicamento. De acordo com o Art.196 da Constituição Federal, a
saúde é um direito de todos e é dever do Estado garantir medidas
de proteção e recuperação contra riscos de doenças através de
políticas sociais e econômicas.
Entretanto, existem muitos pacientes que dependem de apenas
um medicamento para dar continuidade a um tratamento devido
alguma doença da qual sofre e este não é acessível, pois pode não
estar mais sendo distribuído pelo SUS – Sistema Único de Saúde-
desta forma entende-se que o paciente não tem condições de arcar
com essa despesa sozinho, já que o mesmo depende do sistema
público de saúde para adquirir tal medicamento.
De acordo com a Constituição Federal, a saúde é um direito social
de todos, disposto no art.6º deste dispositivo. Sendo assim, quando
o Estado não cumpre o seu dever, os indivíduos têm instrumentos
para garantir a efetivação do direito, não podendo ser excluído o
Poder Judiciário, conforme o art. 5o inciso XXXV.
Porém, há uma necessidade ao acesso a saúde e esta é maior
que a capacidade do Estado de garantir a efetiva implementação de
políticas públicas aos direitos sociais. O que acaba
sobrecarregando o sistema de saúde que em consequência ocorre
deveras insatisfações, que demanda mais da atenção do Poder
Judiciário para administrar e gerir essas questões.
Ademais, em decorrência da necessidade de um apoio para além
da saúde pública, surgiu a saúde suplementar. As redes privadas e
seus planos de saúde também se inserem no fenômeno da
judicialização, uma vez que existem inúmeras demandas em razão
da negativa em fornecer determinado medicamento ou em cobrir
tratamentos obrigatórios conforme a ANS – Agência Nacional de
Saúde.
No Brasil, apesar que inicialmente a judicialização das demandas
ser uma exceção, ou seja, ser a última alternativa, não é o que tem
acontecido. Por exemplo, os gastos com demandas
judiciais chegaram a quase 2% do orçamento referente à saúde no
ano de 2010.

O tema é de extrema importância e vem ganhando destaque na


medida em que a necessidade que, se não tratado, pode acarretar
consequências prejudiciais aos cidadãos.
Isso porque, como citado acima, a judicialização deve ser a última
escolha. Mas, se o Judiciário de intervenção do Poder Judiciário na
saúde pública se mostra cada vez mais comum, fato também não
estiver apto, como serão efetivados os direitos dos indivíduos?

O que é a Judicialização da saúde?


Quando um paciente tem indicação de certo medicamento, por
exemplo, para tratar uma enfermidade e não tem acesso ao tal
medicamento pois ele não está disponível no Sistema Único de
Saúde, a forma que o paciente tem de reivindicar as doses
necessárias é entrando na justiça contra o Governo. Isso porque
é dever do Estado garantir a saúde a todos.
Sendo a ação judicial a única e última alternativa do paciente,
esse processo é chamado de judicialização da saúde.
O fenômeno “tem ganhado relevância no cenário jurídico nacional,
uma vez que o cidadão cada vez mais denota a necessidade de
recorrer às vias judiciais para buscar a efetivação dos seus direitos
sociais”. (Daniela Recchioni)

Como ocorre a Judicialização da saúde


Infelizmente, nem todas as pessoas e pacientes têm acesso a esse
tipo de informação e sequer sabem que têm direito ou como podem
fazer para buscar a efetivação desse direito.
A Constituição Federal de 1988 é que prevê a saúde como um
direito social (art. 6o) de todos e um dever do Estado:
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do
risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação.”
Sendo assim, quando o Estado não cumpre o seu dever, os
indivíduos têm instrumentos para garantir a efetivação do direito,
não podendo ser excluído o Poder Judiciário, conforme o art.
5o inciso XXXV:
Art. 5o (…) XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito”
Todavia, a necessidade de acesso à saúde pelo povo é superior
à capacidade do Estado de garantir a efetivação de políticas
públicas para a implementação efetiva dos direitos sociais. Isso
acaba sobrecarregando o sistema de saúde e, consequentemente,
gerando insatisfações que, por sua vez, demandam de atenção do
Poder Judiciário para dirimir as questões.
Assim, o movimento gerado pela busca na efetivação das
prerrogativas constitucionais é a chamada judicialização.
Com a necessidade de um apoio para além da saúde pública,
surgiu a saúde suplementar. As redes privadas e seus planos de
saúde também se inserem no fenômeno da judicialização, uma vez
que existem inúmeras demandas em razão da negativa em fornecer
determinado medicamento ou em cobrir tratamentos obrigatórios
conforme a Agência Nacional de Saúde define.

Situação da judicialização da saúde no


Brasil
Apesar de a judicialização das demandas, inicialmente, ser uma
exceção, ou seja, ser a última alternativa, não é o que tem
acontecido.
Em 2010, por exemplo, os gastos com demandas
judiciais chegaram a quase 2% do orçamento referente à saúde. A
grande preocupação é o colapso que pode ser gerado não só
no sistema de saúde, desequilibrando o orçamento e prejudicando
eventuais políticas públicas que eram previstas, mas no judiciário
também, uma vez que a aumento do número de demandas, reduz a
celeridade processual, causando danos especialmente àqueles que
necessitam de uma prestação jurisdicional urgente.
Além disso, outra discussão é sobre o conhecimento técnico e
científico dos julgadores que analisam as demandas da saúde.
Em se tratando de um tema com abordagem mais complexa e
específica, nem sempre terá como árbitro um juiz de direito
qualificado, seja por falta de informação ou de conhecimento
técnico, por exemplo, quanto à escolha de um medicamento ou
tratamento, em detrimento de outro. Seria ideal que houvesse a
análise também de médicos ou gestores qualificados para auxiliar.
Segundo Luiz Roberto Barroso, é necessário também atentar à
teoria da micro e da macro justiça. Isso porque, no momento em
que o Judiciário passa a atender uma pessoa na área da saúde,
interfere na macrojustiça, nas decisões administrativas, econômicas
e políticas públicas. Diferente de realizar a justiça no caso concreto,
focando em indivíduos ou em um grupo de pessoas – a
microjustiça.
Por isso é necessária a cautela do magistrado, para não
prejudicar a sociedade, já que uma demanda pode se tornar
precedente para outras e aumentar significativamente o custo para
o Estado. Por outro lado, não se pode lesar o indivíduo pois, como
já falado, a saúde é um direito constitucionalmente garantido à
todos.

E qual o papel dos operadores do direito?


O papel do advogado em casos de judicialização da saúde
é administrar o que chamam de “contenção saudável”. Ou seja,
discutir os problemas do ponto de vista jurídico, de forma a evitar a
demanda judicial.

Buscar o diálogo, reunir grupos de pesquisa para concretizar


possíveis soluções, fazer chamadas de audiência pública e até
assinar Termos de Ajuste de Conduta. São ferramentas que podem
trazer soluções a médio e longo prazo, e que poderiam, inclusive,
gerar uma economia de dinheiro público, baseado na execução
planejada de projetos públicos e aquisição de medicamentos,
materiais, etc.

Uma sugestão para o profissional do direito que atua em benefício


dos pacientes, se realmente necessária a judicialização do caso,
é preconizar as ações coletivas, pois elas apresentam uma
economia de tempo, de dinheiro, de trabalho e atingem um número
maior de pessoas.
Quando aos operadores do direito que atuam pelo poder público, o
auxílio pode vir de um trabalho interdisciplinar entre os
profissionais da saúde e o judiciário, de forma que, como já
falado, a atuação conjunta pode proporcionar melhor decisões e
resultados mais eficientes.
Na visão do Juiz de direito Marcos Salles, do TJPB, cada
magistrado tem uma visão micro individual do processo e, por
óbvio, não desejam dar causa a um óbito. Por isso, segundo ele, o
Poder Judiciário tem se esforçado para atuar com uma macrovisão
do SUS, tentando entender melhor as demandas e atuar em
colaboração.

Como evitar a judicialização da saúde no Brasil?

Outras duas sugestões de mudanças práticas podem auxiliar na


redução das ações judiciais.
Uma delas é ter decisões mais razoáveis e ponderação da
responsabilidade solidária dos entes federativos. Muitas vezes
é possível ver que eles se desincumbem de cumprir um papel que
na verdade é de todos – isso significa dizer que qualquer um pode
ser demandado e não cabe ao paciente, já em condição
de hipossuficiência, buscar quem seria o responsável.

Quando às decisões, tratando-se, na maioria dos casos de


demandas urgentes, não há que se falar em licitação. Portanto, o
Estado é quase que obrigado a adquirir produtos e medicamentos
da primeira empresa que ofertar, impossibilitando, algumas vezes, a
coerência no valor e comprometendo o orçamento.

A segunda sugestão é atualizar com mais frequência a Relação


Nacional de Medicamentos – RENAME e os protocolos do SUS,
pois isso evitaria que o paciente buscasse no Poder Judiciário o
deferimento a novos tratamentos ou medicamentos, justificando que
os apresentados pelo SUS estão obsoletos.

Conclusão
A judicialização da saúde é um tema amplo, muito discutido nos
últimos anos, mas que ainda carece de mais estudo, especialmente
sobre como reduzir cada vez mais o fenômeno. O certo é que as
melhorias somente serão percebidas a longo prazo, portanto, é
essencial que a discussão não seja deixada de lado.
Entender o que significa o fenômeno da judicialização da saúde,
especialmente para profissionais que atuam ou desejam atuar na
área do direito médico, é essencial para desempenhar um bom
trabalho e evitar o prejuízo do indivíduo para além do financeiro.
A saúde é um direito de todos e um dever do Estado, devendo ser
efetivado através de políticas públicas. Em que pese seja um direito
que nem sempre é efetivamente cumprido, impõe-se aos
operadores do direito, seja no âmbito público ou privado, atitudes
que visem a redução das demandas judiciais, buscando a
resolução mais célere e efetiva ao paciente, sem, contudo,
prejudicar o coletivo.

Você também pode gostar