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APOSTILA PARA A RECUPERAÇÃO 2022

3º ANO
DIREITOS HUMANOS
É possível apontar na antiguidade diversas tentativas de esboçar direitos básicos para os indivíduos, mas de uma
forma geral esses direitos eram em sua maioria direitos civis, ou seja, ligados diretamente à categoria de cidadania. Dessa
forma vinculavam os direitos apenas a determinados grupos sociais. Imaginemos, por exemplo, o direito à participação política
na Grécia Antiga. Apenas os cidadãos tinham esse direito e eles representavam uma parcela diminuta da população ateniense.
No século XVII, mais precisamente em 1689, foi promulgada a “Declaração Inglesa dos Direitos”, ou simplesmente Bill of Rights.
Entre outras coisas, essa carta foi uma resposta às arbitrariedades do rei, limitando o poder deste e garantindo diversos direitos
aos cidadãos. De uma forma geral a Bill of Rights ainda pode ser considerada uma carta de direitos civis, mas já traz o cerne da
ideia de direitos universais. De certa maneira a primeira carta que defende realmente a amplitude dos direitos é a Declaração
dos Direitos do Homem e do Cidadão, herança da Revolução Francesa, no final do século XVIII. Isso fica patente após a leitura
de seu primeiro artigo que diz: “Os homens nascem livres e iguais em direitos”... Ela foi base para a Declaração Universal dos
Direitos Humanos (DUDH), promulgada pela ONU em 1948. Assim, os Direitos Humanos teriam surgido apenas no século XX.

Os Direitos Humanos podem ser divididos em três gerações. Os direitos de 1ª geração são direitos oponíveis ao Estado
que têm como titular o indivíduo. Como exemplo podemos citar direito à vida, à liberdade e inviolabilidade do domicílio. Os
direitos de 2ª geração estão diretamente ligados com os direitos sociais. Exigem do Estado uma prestação de atividade
(exemplos: salário mínimo e assistência social). Direitos de 3ª geração são diretamente relativos à existência e destino da
humanidade (exemplo: meio ambiente equilibrado, paz, desenvolvimento e etc).

Há duas correntes ou vertentes básicas sobre os Direitos Humanos, uma se chama Jusnaturalista e a outra Histórica ou
Positivista. A primeira baseia-se na tese de filósofos como Rousseau e Montesquieu, que acreditavam que antes do surgimento
do Estado já existiam direitos naturais e que eles são intrínsecos a todos os seres humanos. A outra vertente acredita que a
origem dos Direitos Humanos não é natural, mas sim histórica, construída de acordo com as necessidades humanas.

Independentemente da vertente adotada,há uma série de princípios que estão presentes em todos os trinta
artigos da Declaração dos Direitos Humanos. A primeira dessas características é a universalidade, ou seja, todos os
indivíduos são possuidores dos direitos, não importando etnia, gênero, nacionalidade, religião ou qualquer outra
categoria social. O princípio da inviolabilidade indica que os Direitos Humanos não podem ser descumpridos por
ninguém, pessoa ou instituição. Temos também o princípio da indisponibilidade, que representa a noção de que os
Direitos Humanos não podem ser renunciados. Então, os indivíduos não podem abrir mão de seus direitos, uma vez que
estes compõem sua “humanidade”. Por imprescritibilidade entendemos a percepção de que os Direitos Humanos têm
um caráter eterno, não possuindo data de validade. O princípio da complementaridade evidencia a ideia de que os
direitos se complementam e não há uma hierarquia entre eles, não podendo ser negociados. Por fim, em relação à
efetividade, temos o entendimento de que o poder público deve atuar para garantir a efetivação dos direitos. Não é
descartada ao Estado a possibilidade legal do uso de meios coercitivos, para garantir a efetividade dos Direitos
Humanos.É necessário ressaltar também que, além do Estado, a Sociedade Civil também é responsável pela promoção
dos Direitos Humanos, qualquer que seja a geração. Por exemplo, garantir o direito à educação não é obrigação apenas
do poder público, mas da sociedade como um todo.
Reforçando a compreensão da vertente histórica, percebemos a evolução dos Direitos Humanos a partir de
momentos marcantes da história. Na antiguidade tivemos vários esboços dos direitos básicos, mas em sua maioria esses
direitos eram direitos civis, ou seja, ligados à categoria de cidadania. No século 1689 foi promulgada a Declaração
Inglesa de Direitos, conhecida como Bill of Rights, que reconhecia direitos fundamentais para os cidadãos ingleses. De
certo modo, a primeira declaração que avançava além dos direitos civis, é a Declaração dos Direitos dos Homens e dos
Cidadãos, oriunda da Revolução Francesa. No entanto, o fato é que a primeira carta de direitos realmente universais é a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada pela ONU em 1948.
O lançamento da Declaração Universal dos Direitos Humanos foi um passo importante para a difusão dos
Direitos Humanos, mas não foi capaz de superar todos os obstáculos. Mesmo que todos os países membros da ONU se
comprometam a promover os Direitos Humanos, essa organização não detém poder coercitivo. De um modo geral, seu
poder de controlar diretamente e fiscalizar as violações aos direitos é reduzido.

Direitos Humanos no Brasil


No Brasil a discussão sobre Direitos Humanos deu-se tardiamente, apenas a partir da década de 1980. Isso
porque o regime ditatorial que vigorava no país entre as décadas de 1960 e 1980 era um grande empecilho. “Desde as
primeiras cartas de direitos, aquelas que buscavam conter as arbitrariedades dos reis, o combate à tortura já se
mostrava de suma importância”. No Brasil, a tortura era implementada não apenas por pessoas comuns, mas também
por agentes do Estado. Com o fim da ditadura no Brasil, foram abertos vários canais de participação para a sociedade
civil, inclusive ONGs. O próprio Estado já não tinha uma ideologia a combater”.
Em maio de 1996, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, foi lançado o Programa Nacional de
Direitos Humanos (PNDH), ainda sob efeito do massacre em Eldorado dos Carajás, em que 19 trabalhadores sem-terra
foram mortos em um confronto com a polícia paraense. Ele foi lançado em decorrência de forte pressão nacional e
internacional. O principal papel do programa é a elaboração de diagnósticos sobre os Direitos Humanos no país, mas
suas propostas não têm valor de lei, devendo ser aprovadas pelo Congresso e/ou Executivo Federal. Existem três versões
do PNDH, sendo duas durante o governo de FHC (1996 e 2002) e uma na gestão de Lula, em 2009. Em relação à
violência, apontamos três momentos marcantes nos últimos anos. Em 1995, o Estado admitiu a morte de pessoas
desaparecidas em razão de percepção política. Esse reconhecimento de culpa resultou também em indenizações para
familiares das vítimas. Em 1996, a lei 9.299/96 transferiu da justiça militar para a justiça comum a responsabilidade de
julgar crimes dolosos cometidos por policiais militares. Isso permitiu que casos como o “Massacre do Carandirú” e do
“Eldorado dos Carajás” fossem levados ao Tribunal do Júri. Também podemos apontar a tipificação do crime de tortura,
com penas mais severas.
Vimos também a chamada “Lei da Anistia”, de 1979. Em linhas gerais, ela anistiava aqueles que, durante o
regime militar, teriam cometido crimes políticos, eleitorais e também aqueles que tiveram seus direitos políticos
suspensos. Essa anistia contemplou também os servidores dos poderes Legislativo e Judiciário, militares, dirigentes e
representantes sindicais. No ano de 2011 tivemos mais um capítulo importante, com o lançamento da Comissão
Nacional da Verdade. Seu objetivo era investigar violações dos Direitos Humanos consideradas graves, ocorridas entre
1946 e 1988. O foco foram os crimes cometidos por agentes do Estado durante a ditadura militar. Setores ligados à
repressão mostraram-se contrários às investigações, argumentando que a Lei da Anistia havia perdoado a todos. Vale
lembrar que, de acordo com a Constituição de 1988, a tortura é um crime insuscetível de anistia. Mais recentemente,
esses setores defenderam que a Comissão Nacional da Verdade investigue também os crimes cometidos por grupos
armados de esquerda.

SOCIOLOGIA DO TRABALHO
Taylorismo é um tipo de organização do trabalho, baseado no método desenvolvido pelo engenheiro
norte-americano Frederick Taylor (1856-1915). Ele buscava intensificar ainda mais a divisão do trabalho, de modo que
cada funcionário ficasse responsável por uma pequena parte do processo de produção. As tarefas seriam altamente
especializadas e repetitivas. Havia um controle rigoroso do tempo gasto nas tarefas, tentando sempre reduzi-lo. O
trabalho intelectual e manual eram separados. A qualificação dos trabalhadores era muito baixa, assim como os salários.
As condições de trabalho eram extenuantes.
Também no início do século XX surgiu nos EUA o Fordismo. É um processo de organização produtiva similar ao
Taylorismo, no entanto dava mais ênfase à noção de produção em massa e consequentemente do surgimento de
grandes estoques. Seu criador, Henry Ford, acreditava que produzindo em larga escala seria capaz de reduzir os custos
de produção e baixar os preços de seus produtos. Geralmente os produtos eram de baixa qualidade e com poucas
inovações. Eles ficavam muito tempo no catálogo das empresas. Na década de 1970 surgiu o Toyotismo, no Japão. Esse
modo de organização produtiva surgiu na Toyota, idealizado por Eiji Toyoda (1913-2013). A característica principal desse
modelo é a flexibilização da produção, ou seja, segue o princípio da adequação da estocagem dos produtos conforme a
demanda. O modelo taylorista/fordista não teria sucesso no Japão, pois o volume de capital naquele país, após a
Segunda Guerra Mundial, era reduzido. O pequeno mercado consumidor e a falta de matéria-prima foram outros fatores
que deram força à ideia do Toyotismo.
O produto final é marcado pela alta qualidade e variedade. Os produtos ficam em catálogo por pouco tempo e
logo são substituídos, ao contrário do que acontecia anteriormente.Outro fator importante foi a redução no número de
empregados, agregando a isso um sensível investimento na qualificação destes. O trabalhador toyotista deve ser mais
polivalente, flexível. Houve também a tentativa de desburocratizar o processo produtivo e promover melhorias na
qualidade de vida dos empregados. Acreditavam que se o empregado se sentisse valorizado ele tenderia a produzir
mais e melhor, em decorrência surgiram estratégias como a criação de planos de saúde, de carreira, participação nos
lucros da empresa, descontos em lojas parceiras e etc. A qualificação dos trabalhadores era mais elevada, os salários
melhores e os mesmos tinham maior conhecimento do processo de produção como um todo. Um quarto modelo a ser
citado é o Volvismo. Surgiu nas fábricas da Volvo, na Suécia. Sua principal característica é a altíssima qualificação dos
funcionários e também o avançado processo de automação. Dessa forma a robotização das fábricas é algo a ser
ressaltado. A força dos sindicatos também é grande, resultando em excelentes condições de trabalho e salariais. É o
trabalhador quem dita o ritmo das máquinas, ao contrário dos modelos surgidos no início do século XX. A carga de
trabalho é dividida em jornadas curtas, com ênfase em pausas para descanso. O nível de qualificação é tão alto que o
processo é organizado em pequenos grupos, geralmente entre oito e dez trabalhadores, sendo que eles são capazes de
sozinhos construir um veículo. No taylorismo e fordismo eram necessários muitos trabalhadores para produzir um
determinado bem, isso porque a divisão do trabalho era alta, cada um apto a realizar uma tarefa bem localizada.
Vejamos agora alguns termos e conceitos essenciais para refletir sobre a questão do trabalho. Iniciamos com
“terceirização”, que diz respeito ao recurso em que uma empresa transfere a responsabilidade de serviços ou atividades
produtivas para uma outra empresa. Essas atividades podem ser feitas dentro ou fora do espaço da empresa que
contratou o serviço. É um tipo de precarização do trabalho, pois geralmente os trabalhadores terceirizados têm
remuneração menor e muitas vezes a estrutura das empresas terceirizadas não é tão grande como na empresa
contratante. Com a recente reforma trabalhista tanto a empresa contratante como a terceirizada dividem
responsabilidades em relação aos direitos trabalhistas, sobretudo em caso de falência ou dificuldades financeiras da
empresa terceirizada.
Nos últimos anos se acirrou a disputa entre trabalhadores e classe patronal. Os primeiros procuram manter e
mesmo ampliar seus direitos e proteção trabalhista, enquanto que a classe patronal busca flexibilizar cada vez mais a
legislação trabalhista, muitas vezes acusando o Estado de “excesso de proteção ao trabalhador”, tomando isso como
obstáculo a investimentos e contratação. Afirmam que é extremamente caro contratar no Brasil. O trabalho temporário
também é apontado pelas organizações sindicais como precarização do trabalho. A especificidade dessa modalidade de
contratação é que o período máximo de contratação é de nove meses. Ao contrário do vínculo padrão de contratação,
não é estabelecida uma indenização por rescisão do contrato de trabalho, mesmo em caso de demissão sem justa causa.
É pertinente também diferenciar os conceitos de trabalho e emprego. O trabalho consiste em qualquer
atividade física ou intelectual, que tem por objetivo fazer, transformar ou obter algo. O emprego é um tipo de trabalho
que é realizado buscando uma remuneração, que se baseia em obrigações entre quem contrata e quem executa o
trabalho.
Por trabalho intermitente devemos ter em mente o contrato de trabalho no qual a prestação de serviços, com
subordinação, não é contínua, ocorrendo com alternância de períodos de prestação de serviços e de inatividade,
determinados em horas, dias ou meses. O trabalhador recebe apenas pelo tempo exato de prestação de serviço. O
trabalhador pode prestar serviço para vários empregadores, conciliando tudo em sua agenda. É considerada pelas
instituições sindicais uma forma de precarização do trabalho, pois o trabalhador não tem um vínculo duradouro de
emprego. Não há um “salário mínimo”, o empregado que trabalhar cinco dias ou cinco horas receberá apenas o relativo
a esse tempo. Isso também acontece no cálculo do décimo terceiro, férias, FGTS e previdência social.
De uma forma geral a precarização do trabalho consiste em medidas que fragilizam os trabalhadores frente aos
patrões, as entidades sindicais afirmam que esse processo tomou força nos últimos anos. A precarização do trabalho é
apontada como uma tendência em regimes neoliberais. Por outro lado, os empregadores argumentam que a
flexibilização das leis trabalhistas é necessária para o crescimento econômico e que pode gerar novos empregos.

Ainda sobre a questão do trabalho, vimos que essa temática ocupa papel de destaque na teoria de diversos
autores clássicos. Para Marx a divisão social do trabalho acompanha o desenvolvimento das sociedades, que se dá
através de diferentes modos de produção. O Modo de Produção Primitivo é o mais antigo, nele todos trabalhavam e a
produção era dividida. Não havia classes sociais, nem Estado ou mesmo dinheiro. O Modo de Produção Asiático ocorreu
sobretudo na África, Américas e Ásia. Nele, a riqueza era produzida pela população, sendo posteriormente confiscada
pelo Estado. Esse pagamento era feito por meio de parte da produção ou mão de obra em obras estatais, como a
construção de estradas, por exemplo. As grandes disparidades sociais teriam surgido aí, com uma distribuição desigual
das riquezas, além do trabalho. Uma inovação desse modelo de produção foi o surgimento do dinheiro.
O Modo de Produção Escravista ocorreu em uma diversidade de lugares, nele a sociedade está distribuída
basicamente em escravos, senhores de escravos e trabalhadores livres, os plebeus.Nesse contexto, os plebeus
produziam para a própria subsistência, além de comercializar o excedente da produção. Os escravos eram tidos como
propriedade, sendo responsáveis pela produção da maior parte daquilo que se consumia. O Modo de Produção Feudal
ocorreu principalmente na Europa, após o colapso da escravidão. Os camponeses não eram os donos das terras em que
produziam, sendo levados a destinar uma grande parte da sua produção para os senhores feudais, além de trabalhar
determinados dias da semana para estes. Com o declínio do Feudalismo nós temos o surgimento do Modo de Produção
Capitalista, que baseia-se na propriedade privada dos meios de produção. De acordo com com Marx, esse sistema
baseava-se na exploração da classe proletária pela burguesia.
Seguindo a teoria criada por Karl Marx, o Capitalismo seria substituído pelo Socialismo, mudança que só
aconteceria por meio de um processo revolucionário. O Socialismo se basearia na propriedade coletiva dos meios de
produção, ou seja, tudo seria compartilhado por todos. Após o amadurecimento do Socialismo, inclusive com o fim da
necessidade de controle estatal, teríamos o Comunismo, fechando o processo evolutivo, tal como apontado por Marx. O
principal mecanismo utilizado pelos proprietários dos meios de produção para obterem lucro é a Mais-valia. Ela
consistiria no excedente do valor obtido pela exploração do trabalhador.
Ao analisar o tema trabalho, Max Weber partiu de pontos de vista diferentes dos de Marx. Weber propõe uma
compreensão do capitalismo que parte do âmbito cultural em vez do econômico. Para ele, o capitalismo industrial tem
sua gênese na ideologia puritana e calvinista. No século XVI, com o advento da Reforma protestante, a Igreja católica
perdeu o monopólio religioso na Europa e surgiram diferentes vertentes do protestantismo. Weber analisou os
puritanos e os calvinistas, seguidores da reformulação da doutrina cristã que ocorreu na Inglaterra no século XVI. Ao
apontar as conexões entre as mudanças na esfera religiosa e as transformações na economia, Weber fez uma associação
entre o trabalho e a possibilidade de salvação espiritual. A mudança de valores e atitudes graças ao surgimento do
protestantismo criou a predisposição ao trabalho como modo de salvação da alma ou ao menos como meio de garantir
a satisfação de prazeres mundanos, de acordo com Weber. Essa nova relação com o trabalho teria originado um
posicionamento mais racional, típico do capitalismo e que caracterizaria o Ocidente.

Ao contrário de Weber e Marx, Durkheim argumenta que a divisão social do trabalho se consolida como um
dos fatores que possibilitam a existência de coesão social. O trabalho representa uma esfera primordial para a existência
da solidariedade em uma comunidade. Segundo Durkheim, solidariedade seria a forma como os indivíduos de uma
determinada sociedade interagem, de modo a proporcionar uma sociedade equilibrada. A solidariedade mecânica é
típica de sociedades simples, pré-capitalistas. A coesão se daria pelo pensamento uniforme dos indivíduos, não havendo
uma grande diferenciação social naquelas comunidades. A solidariedade orgânica é típica de sociedades industriais. A
grande diversidade de funções e de trabalhos faz com que se fortaleça a interdependência entre as pessoas, que se
complementam bem por serem diferentes.

Ainda complementando a apostila anterior, devemos observar um conceito muito importante sobre o mundo
do trabalho, o desemprego estrutural. Refere-se à situação em que o número de pessoas sem emprego mantém-se, no
longo prazo, muito acima da quantidade de vagas disponíveis. Esse processo não se limita à indústria e ao ambiente
urbano, encontrando-se também no campo, especialmente em decorrência da mecanização agrária. Outro conceito de
suma importância para as reflexões sobre o mundo do trabalho é o subproletariado. Entendemos por subproletariado os
trabalhadores à margem da organização de classe, que oferecem sua força de trabalho sem encontrar interessados que
paguem por ela um valor que assegure condições básicas para a sobrevivência dessas pessoas.

PRÉ-MODERNIDADE, MODERNIDADE E PÓS-MODERNIDADE

De acordo com a teoria de Anthony Giddens, a principal característica da pré-modernidade é a tradição. Essa
orientação para o passado, de modo que este tenha um peso determinante em relação ao presente e futuro, dá origem ao
que ele chama de tempo cíclico. É um contínuo retorno, em que a vida dos ancestrais é a base para a vida das novas
gerações, além de que os fenômenos naturais se constituem como parâmetro para contagem do tempo. Essa contagem
estava diretamente interligada à esfera local, no âmbito da comunidade.
Na pré-modernidade, a tradição integra e monitora a organização tempo-espaço, vinculando a compreensão do
mundo na superstição, religião e nos costumes. Ela pressupõe uma atitude de resignação diante do destino, que independe
da intervenção humana. Ela também se vincula ao futuro, mas este é visto como algo distante e separado. Nesse
contexto,os rituais ocupam um papel importante, pois assumem a função de preservar a memória e as verdades inerentes à
tradição. A verdade formular, na qual se vincula o ritual necessita do intérprete, este exerce o papel de um “guardião da
tradição”. Giddens se refere a essa figura simplesmente como guardião. Sua posição de destaque se dá pelo monopólio da
verdade formular, que não é acessível para as pessoas comuns.
Somente com a consolidação do Estado-nação e a generalização da democracia nos séculos XIX e XX, a comunidade
local efetivamente começou a se fragmentar. A modernidade teve que inventar tradições e romper com a tradição
“genuína” Ainda de acordo com Giddens, a modernidade expressa uma ruptura com a ideia de comunidade e passagem
para a ideia de sociedade. Há também uma ruptura com a ideia e prática teleológico-política do poder, passando para uma
dominação impessoal ou dominação racional. Na modernidade, vivemos uma vida baseada na desorientação. Ela rompeu
com o referencial protetor da comunidade, que foi substituída por organizações modernas e impessoais. A tese de Giddens
é que em vez de estarmos num período de pós-modernidade, estamos alcançando um período em que as consequências da
modernidade de estudos estão se tornando mais radicalizadas e universalizadas do que antes. Ele analisa a modernidade
como descontinuidade entre as ordens tradicionais e instituições modernas. Nessa descontinuidade temos uma alteração
no ritmo da mudança, pois a modernidade é sempre pautada em transformações, não estando atrelada ao passado.
Também foi alterado o escopo da mudança, uma vez que, na globalização, as mudanças tendem a ser de maior magnitude,
muitas vezes de abrangência global. Por fim, foi alterada a natureza das instituições, com o surgimento e fortalecimento do
Estado-nação, dependência por atacado da produção de energia (agora inanimada, como o petróleo e energia elétrica) e a
transformação em mercadoria de produtos e trabalho assalariado.
A saída dos indivíduos do contexto local, da comunidade, para o contexto global, fruto da globalização, é
propiciada pelos mecanismos de desencaixe. No tocante às fichas simbólicas, são mecanismos de desencaixe mais
específicos, significando meios de intercâmbio que podem ser circulados sem ter em vista as características específicas dos
indivíduos ou grupos que lidam com eles em qualquer conjuntura particular. O melhor exemplo de ficha simbólica é o
dinheiro.
Outra característica importante da modernidade (além da globalização, capitalismo, racionalidade, ciência, etc) é o
desenvolvimento do individualismo. Para mostrar essa tese, Giddens observa algumas transformações ocorridas na noção
de sexualidade, no século XIX. Até aquele momento era padrão que os relacionamentos fossem pautados em arranjos
sociais, sobretudo vinculados a questões de ordem material, formação de família e procriação. O surgimento e
fortalecimento do amor romântico mudou esse estado de coisas, sobretudo para as mulheres. Elas passaram cada vez mais
a ver os relacionamentos como fonte de proteção, afeto, prazer e satisfação pessoal, não mais se resumindo à procriação,
isso consiste no que Giddens chama de sexualidade plástica.
Nas sociedades modernas, nos encontramos permanentemente vinculados a sistemas abstratos, que são sistemas
com os quais interagimos cotidianamente e que independem diretamente de um conhecimento aprofundado da nossa
parte sobre o seu funcionamento, por exemplo o sistema bancário e a informática. Nesses casos, confiamos em sistemas
peritos, sistemas baseados em excelência técnica e eficiência. Enquanto na modernidade, os sistemas peritos são baseados
no conhecimento técnico e científico, as sociedades pré-modernas funcionam a partir da já referida verdade formular. A
reflexividade constitui uma fonte de dinamismo da modernidade. A reflexividade de modernidade significa que as práticas
sociais e instituições modernas são enfocadas, organizadas e transformadas, à luz do conhecimento constantemente
renovado sobre estas próprias práticas.
Vimos que, para Giddens, estamos vivendo uma intensificação da modernidade, e, que perdemos o controle de
nossas vidas, ao contrário do que acreditava o “sonho iluminista” do progresso constante, símbolo da modernidade. A
modernidade reflexiva rompe com o ideal iluminista de um saber fundado na razão e capaz de superar a superstição e os
dogmas da tradição, gerando uma nova certeza, a “segurança ontológica”. Essa segurança ontológica diz respeito a uma
sensação de continuidade a respeito dos acontecimentos da vida, da sociedade como um todo e também de nossa própria
identidade. Com o avanço da modernidade, estaríamos perdendo esse controle de nossas vidas, muito em decorrência da
reflexividade da modernidade. A metáfora do “Carro de Jagrená” faz referência a essa consequência da modernidade. A
modernidade moldou um mundo fora do controle, muito diferente daquele que o iluminismo antecipou.
Até metade da década de 1990, Zygmunt Bauman, outro teórico que aborda a questão da modernidade, acreditava
na pós-modernidade. No entanto, observou que as mudanças ocorridas não sinalizam um novo paradigma que justificasse o
início de uma nova era. De acordo com sua teoria a modernidade se dividiria em modernidade sólida e modernidade
líquida. A primeira fase, a sólida, consistiria basicamente nos mesmos aspectos indicados por Giddens, acrescentando a
ideia de que há uma fixidez nas relações sociais entre sujeitos e instituições sociais. Em primeiro lugar, a modernidade
líquida se relaciona com a noção de que os relacionamentos se tornam extremamente voláteis. É uma espécie de
individualização do mundo, em que o sujeito agora sente-se “muito livre” para conseguir ser o que quiser, portanto que seja
em decorrência de suas próprias forças. Essa liquidez consiste em uma inconsistência, onde já não há mais pontos rígidos de
referência. Os relacionamentos e, consequentemente, as instituições são muito influenciados pela produção mercadológica,
por isso, é impossível dissociar a modernidade líquida na globalização e capitalismo. Devemos citar também a crise do
Estado-nação, crítica à democracia, ao capitalismo e mesmo à religiosidade.
Outro fator que fez com que a modernidade líquida surgisse na segunda metade do século XX, foi o
desenvolvimento dos meios de comunicação de massa. Os relacionamentos se tornam ainda mais fluidos e transforma-se
também nossa relação com o conhecimento. A facilidade com a qual as informações circulam faz com que os indivíduos
tentem consumir conteúdos de forma extremamente rápida, numa espécie de luta contra o tempo. Um efeito negativo
disso é a superficialidade no conhecimento comum das pessoas e nos discursos.
Na teoria de Bauman, assim como na de Giddens, é importante a passagem da vida na comunidade local para a
cidade. Na perspectiva de Bauman, a cidade distancia as pessoas, uma vez que agora, a priori, elas são desconhecidas. Na
cidade, de certo modo organizadas a partir da ideia de redes sociais, com os laços cada vez mais frágeis, é singularmente
fácil cortar relações. É nesse contexto que o fenômeno do ghosting é característico de nossos tempos. Vemos então um
medo constante no âmbito da modernidade líquida, essa insegurança é central em sua teoria. Bauman indica três tipos
básicos de insegurança, na modernidade líquida. Há a insegurança em relação ao futuro de não conseguir trabalhar ou ter
um sustento. Existe também a insegurança em relação ao status, tão característica da vida na cidade e, por fim, temos a
insegurança em relação à integridade física, de certa forma natural em um mundo de desconhecidos, sem pontos de
referência fixos. Esse medo produzido socialmente é nomeado por Bauman como medo derivado, diferente do medo
primário fundamental, que independe das relações sociais.
Esse mundo onde estar com desconhecidos é um pressuposto é intitulado como espaço mixofílico, originando a
mixofobia, que seria um medo ou aversão aos desconhecidos. Como citei em sala de aula, essa mixofobia altera a geografia
das cidades, com a construção de shoppings e condomínios fechados, reduzindo a quantidade de pessoas que circulam em
determinados ambientes, além de selecionar determinados perfis de pessoas.
Ainda de acordo com Bauman, a mídia ocupa um importante papel na sociedade líquida. Ela torna a vida em
sociedade mais tolerável, inclusive domando o medo dos indivíduos. De certa forma, ela promove uma desconstrução em
que as situações que geram medo parecem possíveis de serem evitadas. Além disso, essas situações são banalizadas, uma
vez que são cotidianamente exploradas.
Quanto ao Jean François Lyotard, não foi avançarmos em sua teoria, então vimos apenas os aspectos mais
básicos. Inicialmente, percebemos que entre os autores trabalhados, ele é o único que acredita na pós-modernidade. O fato
que marcaria a chegada desse paradigma é o fim das grandes narrativas, que marcaram a pré-modernidade, depois a
modernidade. Vemos uma incredulidade em relação aos discursos filosóficos e científicos, que são minados por uma
constante provocação da dúvida. Giddens entendia essas reflexões e discordâncias como fruto da reflexividade.
Na visão de Lyotard, nossa relação com o conhecimento se dá por meio de jogos de linguagem, em que a
performance é determinante na legitimação desses mesmos conhecimentos. Além disso, a legitimação dos saberes tende a
ser contextualizada, uma vez que não teríamos mais grandes narrativas com verdades pretensamente universais. O
princípio da paralogia nos remete à ideia de que aqueles que percebem anomalias nos discursos podem aproveitar para
construir novos conceitos e ideias, que muitas vezes são bem recebidos por muitos grupos de indivíduos. É nesse contexto
que temos uma profusão de teorias de conspiração de discursos anticiência, por exemplo. Um ponto positivo, de acordo
com algumas interpretações da teoria de Lyotard, seria uma tendência a um mundo mais harmonioso com as diferenças.
Finalmente, percebam que os autores clássicos que estudamos, teorizaram sobre a sociedade moderna. Durkheim
vai observar a crescente diferenciação social que forma a sociedade moderna ou industrial como aspecto definidor. Marx
aponta a tendência de aumento de produção e as relações sociais relacionadas a isso, enquanto Weber dará atenção
especial ao processo de racionalização do mundo, que tem como marco a Reforma Protestante.

Sociologia Urbana e do Meio Ambiente

A expressão meio ambiente comumente traz à mente a ideia de natureza, No senso comum, a natureza está ligada,
sobretudo, à vida animal e vegetal. Nas sociedades pré-modernas os indivíduos se viam como parte do meio ambiente, mas
a modernidade trouxe um afastamento dos seres humanos em relação à natureza, os aproximando cada vez mais do
ambiente urbano. As rápidas transformações econômicas e políticas que marcaram a modernidade transformaram as
sociedades humanas em majoritariamente urbanas e industriais. Com o desenvolvimento tecnológico, tido por muito
tempo como uma necessidade da sociedade industrial, passou a ser visto como um problema ambiental.
O que antes era um fator de coesão social passou a ser visto como uma ameaça à manutenção de todas as
sociedades. A partir da segunda metade da década de 1960, os impactos ambientais foram incorporados às discussões
políticas sobre o capitalismo, pelo menos entre pesquisadores. O relatório “Os limites do crescimento”, lançado em 1972,
encomendado pelo Clube de Roma, foi importante para a divulgação dos problemas de preservação ambiental. Ele alertava
sobre o risco de colapso ou esgotamento dos recursos naturais no planeta. De uma forma geral, os governos ignoraram o
aviso. O Clube de Roma foi formado em 1968, por meio da reunião de 30 especialistas de várias áreas que tinham como
meta promover uma convivência pacífica entre as noções de desenvolvimento sustentável e desenvolvimento econômico.
Por desenvolvimento sustentável devemos compreender aquele desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente,
ao mesmo tempo em que garante as necessidades futuras.
A década de 1980 indicou um avanço na conscientização em relação à preservação ambiental, especialmente em
relação à sociedade civil. Nessa década percebemos o surgimento de importantes movimentos sociais de preservação
ambiental. A partir dos anos 1990, motivada pela internacionalização do debate sobre o meio ambiente e possíveis fontes
renováveis de energia, a Organização das Nações Unidas (ONU) organizaram conferências sobre questões ambientais.
Nesse momento cresceu a adesão à ideia de que o ritmo de crescimento do capitalismo e da sociedade de consumo era
incompatível com a preservação do meio ambiente. Em 1992 foi organizada no Brasil a ECO-92, essa conferência
reconheceu a responsabilidade dos países desenvolvidos pela degradação ambiental, além do princípio de que as
necessidades econômicas dos países são diferenciadas, resultando na noção de que os países em desenvolvimento só
conseguirão superar sua condição de estagnação de maneira sustentável com auxílio financeiro e tecnológico da
comunidade internacional. Foi nessa época que o conceito de desenvolvimento sustentável foi delineado, consistindo no
desenvolvimento que garante a satisfação das necessidades presentes sem prejudicar a capacidade de as gerações futuras
satisfazerem suas necessidades. Outro efeito da ECO-92 foi a ampliação da atuação das organizações não governamentais
nas ações de preservação ambiental.
O Protocolo de Kyoto é uma decorrência do processo iniciado com a ECO-92, começando a ser negociado em 1997,
mas implementado só em 2005. Por meio dele os países se obrigam a reduzir a emissão de gases poluentes na atmosfera,
problema amplamente discutido no evento anterior. Trinta e oito nações se comprometeram a reduzir , até 2012, suas
emissões desses gases a níveis anteriores aos verificados em 1990. Dados levantados em 2015 apontam um aumento de
16,2% da emissão dos gases nocivos. Alguns especialistas acreditam que, se não fosse o Protocolo de Kyoto, os índices
seriam mais altos. A principal estratégia estabelecida é conhecida como “créditos de carbono”, consistindo em cotas de
concessões para poluir o ar atmosférico que os países poluidores podem comprar dos que estão abaixo do limite de
emissão estabelecido. Quem polui pouco acumula créditos que podem ser vendidos.
A industrialização do mundo promoveu uma radicalização das diferenças entre os diversos países, por exemplo,
várias empresas transnacionais implantaram fábricas em locais onde a legislação ambiental é menos rígida e os governos
estão mais dispostos a fazerem sacrifícios ambientais. É nesse cenário que se dá um processo no qual a indústria mais
“pesada” e poluidora é deslocada para países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. A questão da produção de
alimentos também reflete na nossa relação com o meio ambiente. O conceito de Segurança Alimentar surgiu após a
Segunda Guerra Mundial, com o estabelecimento de políticas agrícolas voltadas ao abastecimento de alimentos em países
em conflito. Diz respeito ao princípio de que todas as pessoas têm o direito à alimentação sadia e nutritiva, sendo dever do
Estado desenvolver políticas públicas que garantam esse direito. Em 1996, durante a Cúpula Mundial sobre a Alimentação,
organizada pela ONU, foi criado o conceito de Soberania Alimentar, em contraponto ao de Soberania Alimentar. A Soberania
Alimentar se refere ao conjunto de medidas que devem ser adotadas por todas as nações, tendo o princípio de que para ser
protagonista e soberano de sua existência, um povo deve possuir os recursos e o apoio necessários para a produção de seus
próprios alimentos, com acesso a eles em qualquer época e de modo adequado a seu ambiente e hábitos alimentares. Ele
busca efetivar a segurança alimentar, responsabilizando os governos, organismos internacionais e nacionais.
A produção alimentar pode ser, de forma simplificada, organizada a partir da agricultura familiar ou por meio do
“agronegócio”. Agricultura familiar é aquela produção agrícola que se dá por meio de pequenos produtores rurais, quando
há unidade entre gestão e trabalho. Por sua vez, o agronegócio, é pautado na produção de alimentos em larga escala e
utilização de tecnologias modernas que permitem esse ritmo de produção. A agricultura familiar resulta em menos impacto
ambiental, geralmente ocorrendo de forma sustentável. Além disso, oferece uma fonte de renda para pequenos produtores
rurais. O agronegócio tem capacidade técnica para produzir alimentos em escala suficiente para saciar a fome de toda a
população mundial, mas tem como principal guia a geração de lucro para as empresas. Além disso, utiliza muitas técnicas
acusadas de não serem ambientalmente responsáveis, como manipulação genética de alimentos, por exemplo. É
importante frisar que ainda permanece o desafio de alimentar toda a população mundial, desafios não apenas cotidianos,
mas também se apresentando por meio de várias crises. Entre os principais motivos para alta no preço dos alimentos temos
o aumento na demanda, ocasionado pelo aumento da população mundial. Podemos apontar também o aumento na
demanda por combustíveis, em decorrência do estilo de vida moderno. Os custos são repassados a toda a cadeia de
produção e distribuição de alimentos. Temos também a especulação no mercado, uma vez que o agronegócio normalmente
é tocado por grandes empresas, que cujas ações são negociadas nas bolsas de valores. Um quarto motivo para a elevação
do preço dos alimentos são as mudanças climáticas, que prejudicam, sobretudo, a produção de alimentos.
Não podemos deixar de citar a Revolução Verde, um modelo idealizado para aumentar a produção agrícola no
mundo e sua lucratividade, principalmente nos países em desenvolvimento, por meio de alterações genéticas de sementes
e o uso intensivo de insumos industriais , como adubos químicos e agrotóxicos. Ele se baseia na produção de monocultura
para exportação em grandes propriedades, na mecanização e na redução dos custos de manejo. Os altos custos de
implementação desse sistema, inviabiliza a competitividade dos pequenos produtores, por isso a revolução verde é
característica do agronegócio.
A economista e filósofa indiana, Vandana Shiva, acredita que a escassez de alimentos é decorrente do modo de
vida consumista, típico do Ocidente. Também defende que os sistemas de agricultura não utilizem sementes geneticamente
modificadas e que os alimentos sejam vistos não como mercadorias, mas sim um direito. O sociólogo brasileirto Antonio
Cândido realizou um estudo sobre os caipiras do interior paulista, identificando que eles possuíam um modo de vida auto
suficiente e voltado para a subsistência. Foi só o contato com outras culturas que comprometeu aquele modo de vida
ambientalmente sustentável.
Vimos que a urbanização do mundo impactou nossa relação com o meio ambiente. A Escola de Chicago investe na
ideia de que há uma ordem implícita por trás do aparente caos urbano. Seus teóricos buscaram influência nos estudos da
Biologia (Ecologia), tomando o espaço urbano como um ecossistema, em que todos os agentes sociais interagem de modo
que seja criado um equilíbrio. As cidades tornariam a população das cidades mais homogêneas, desconstruindo as
diferenças entre os indivíduos. Para Georg Simmel, por exemplo, as rápidas mudanças ocorridas nas cidades, além do
excesso de estímulos, incentivava nos indivíduos uma postura blasé, em que eles fossem cada vez mais racionais e menos
afetuosos. A Ecologia, que tanto influenciou nos estudos da Escola de Chicago, é um ramo da Biologia que estuda as
relações entre os organismos e entre estes e o meio ambiente. A visão de que as relações no espaço urbano são do tipo
ecológicas, baseadas no equilíbrio, deu origem ao termo ecologia urbana. Outro conceito de grande importância é o
“urbanismo”. Ele se refere aos efeitos socioculturais das interações que ocorrem nas grandes cidades, ao mesmo tempo em
que caracteriza sua especificidade em contraste com as interações da vida rural. O termo também pode ser utilizado como
sinônimo de planejamento urbano.
A Escola de Chicago foi perdendo espaço na Sociologia Urbana, pois a partir da década de 1970 surgiu uma
corrente chamada Nova Sociologia Urbana, que começou a atrair a atenção de muitos especialistas. Essa nova perspectiva,
de influência mais marxista, tinha como base não a noção de equilíbrio, mas sim a ideia de conflito. Desse modo, os
conflitos de classe tornam o ambiente urbano extremamente desigual, conflituoso e tenso. O acesso aos lugares não é
democrático e na medida em que a dinâmica urbana avança, os mais pobres passam a ocupar espaços cada vez mais
precários, normalmente em regiões distantes, com violência e falta de oferta de serviços públicos de qualidade.
Loic Wacquant observa que a atuação do Estado nas regiões mais pobres é cada vez mais pautada em um aspecto
punitivo e de controle da população local. Segundo ele, esse é um efeito do avanço de políticas neoliberais nos países
desenvolvidos e em desenvolvimento. O tamanho do Estado é cada vez mais reduzido e quem sofreria com os efeitos
negativos disso seriam as camadas mais pobres da população. Esse processo pode ser resumido por meio do conceito de
gentrificação, que aponta que há uma espécie de “limpeza” do espaço urbano, que promove um encarecimento do custo de
vida e torna inacessível aos mais pobres a presença em determinadas regiões das cidades. Também fazem parte desse
processo as políticas públicas e as estratégias de ocupação dos espaços urbanos implementadas por agentes econômicos
que objetivam lucrar com a especulação imobiliária.

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