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XLVII Encontro da ANPAD - EnANPAD 2023

São Paulo - 26 - 28 de set de 2023


2177-2576 versão online
DOI: https://doi.org/10.21714/2177-2576EnANPAD2023

O que foi inovação (no passado), agora é poluição (no presente); mas, e quanto ao
futuro?

Autoria
Fábio Freitas Schilling Marquesan - marquesan@unifor.br
Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas - PPGA / UNIFOR - Universidade de Fortaleza

Marina Dantas de Figueiredo - marina.dantas@unifor.br


Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas - PPGA / UNIFOR - Universidade de Fortaleza

Resumo
O Plasticeno chama a atenção para uma das facetas mais proeminentes do Antropoceno: a
poluição – uma das evidências que caracterizam a nova época geológica. O argumento
central deste esboço de artigo em construção é o de que inovações do passado, em geral,
acabam resultando em poluição no presente, e que essa dinâmica se repetirá no futuro, caso
não sejam tomadas ações efetivas quanto a uma avaliação mais acurada dos riscos
ambientais inerentes à introdução de inovações na sociedade. Nosso objetivo, por
conseguinte, é problematizar as interrelações que se estabelecem entre as inovações e os
riscos associados ao problema da poluição, sendo o plástico tomado como unidade de análise
– o que nos conduz a uma descrição do histórico percorrido desde sua invenção até a
variedade de usos comerciais e a exposição dos riscos presentes e tardios envolvidos na sua
utilização. O marco teórico são os estudos sobre risco, sobretudo na dimensão dos efeitos
inesperados e danosos sobre o meio ambiente. As reflexões que emergem contribuem para o
desenvolvimento de meios a partir dos quais as dinâmicas insustentáveis de produção e
consumo sejam quebradas, permitindo um futuro diferente, no qual cadeias produtivas
incorporem a reparação de danos ambientais tanto reais
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O que foi inovação (no passado), agora é poluição (no presente); mas, e quanto ao
futuro?

Resumo
O Plasticeno chama a atenção para uma das facetas mais proeminentes do Antropoceno:
a poluição – uma das evidências que caracterizam a nova época geológica. O argumento
central deste esboço de artigo em construção é o de que inovações do passado, em geral,
acabam resultando em poluição no presente, e que essa dinâmica se repetirá no futuro,
caso não sejam tomadas ações efetivas quanto a uma avaliação mais acurada dos riscos
ambientais inerentes à introdução de inovações na sociedade. Nosso objetivo, por
conseguinte, é problematizar as interrelações que se estabelecem entre as inovações e os
riscos associados ao problema da poluição, sendo o plástico tomado como unidade de
análise – o que nos conduz a uma descrição do histórico percorrido desde sua invenção
até a variedade de usos comerciais e a exposição dos riscos presentes e tardios envolvidos
na sua utilização. O marco teórico são os estudos sobre risco, sobretudo na dimensão dos
efeitos inesperados e danosos sobre o meio ambiente. As reflexões que emergem
contribuem para o desenvolvimento de meios a partir dos quais as dinâmicas
insustentáveis de produção e consumo sejam quebradas, permitindo um futuro diferente,
no qual cadeias produtivas incorporem a reparação de danos ambientais tanto reais quanto
potenciais.
Palavras-chave: Antropoceno. Plasticeno. Inovação. Risco. Poluição. Plástico.

Introdução
O neologismo Plasticeno (TILLER et al., 2019) é uma denominação sugerida por
alguns pesquisadores para enfatizar a importância das dinâmicas do plástico como marco
fundamental do Antropoceno. O plástico é um material sintético produzido a partir de
derivados de petróleo, que possui uma ampla variedade de usos em diversas indústrias,
como embalagens, eletrônicos, construção, entre outras. É amplamente utilizado na
sociedade hodierna devido à sua versatilidade e conveniência. No entanto, sua utilização
excessiva, associada ao descarte inadequado, tem gerado consequências nefastas, de
impacto significativo para o meio ambiente.
Durável e resistente à decomposição, esse material pode persistir no ambiente por
centenas de anos após ter sido descartado. Como resultado, o plástico se acumula em
locais tais como os oceanos, onde prejudica a vida marinha e a qualidade da água, além
de causar outros impactos ambientais negativos. Animais aquáticos muitas vezes
confundem pedaços de plástico com alimento e, assim, correm o risco de ficar feridos ou
mesmo, morrerem. O plástico também pode liberar produtos químicos tóxicos quando
exposto a certas condições ambientais, o que traz potenciais impactos negativos à saúde
humana e aos ecossistemas naturais. Por essas razões, é importante buscar maneiras de
reduzir a utilização do plástico e promover práticas mais sustentáveis de produção,
distribuição e consumo de bens mundo afora. Mas mais do que isso, é necessário avaliar
os benefícios da utilização do plástico em relação aos riscos associados ao seu descarte,
reciclagem e governança de rejeitos (Tuna & Yilmaz, 2019).
Neste artigo, o plástico é assumido como unidade básica de análise para a
compreensão das relações que se estabelecem entre inovação e risco ambiental. O
objetivo é compreender como as inovações do passado resultam em poluição no presente,
e avaliar a tendência dessa dinâmica a se repetir no futuro. O marco teórico são os estudos
sobre risco tardio (Wesendonck, 2012; Beck, 2011; Giddens, 1991), com ênfase na
dimensão do impacto ambiental, a partir do contexto do Antropoceno (Steffen;
Broadgate; Deutsch; Gaffney; Ludwig, 2015). Como método, assumimos uma
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problematização que consiste em uma análise crítica das dinâmicas do plástico em relação
à inovação e à poluição, levantando hipóteses e questionando os pressupostos teóricos e
práticos que orientam as práticas e as políticas relacionadas à sustentabilidade nessa
cadeia produtiva.
Nossa análise assinala que os riscos ambientais oriundos da ampla adoção do
plástico não puderam ser plenamente avaliados ao longo da trajetória de sua invenção e
desdobramentos práticos e comercias. O plástico é um material relativamente novo na
história da humanidade, mas que se tornou pervasivo e onipresente nos modos de vida
contemporâneos. As consequências acumuladas dos riscos do uso e descarte do plástico
que se manifestam atualmente precisam não apenas ser compreendidas e avaliadas, mas
também mitigadas e reparadas.
Como desdobramento desses esforços de pesquisa, buscamos contribuir para o
desenvolvimento de meios que permitam quebrar as dinâmicas insustentáveis de
produção, distribuição e consumo do plástico, incorporando a dimensão da reparação dos
danos ambientais reais e potenciais. As reflexões advindas desse encadeamento de ideias
nos permitem argumentar que é crucial desenvolver meios para romper com a atual
dinâmica de transformação da inovação em poluição, permitindo um futuro em que os
riscos da adoção das inovações sejam avaliados e as cadeias produtivas adotem a
adequada governança e, mais do que isso, assumam a responsabilidade sobre a reparação
dos danos ambientais acumulados ao longo do tempo.

Plasticeno e a dinâmica do plástico: culto à inovação às custas da avaliação dos riscos


ambientais
O plástico foi inventado no início do século XX a partir de macromoléculas (resinas,
elastômeros e fibras artificiais) de formaldeído e fenol. Esse polímero orgânico sintético
tomou conta da vida diária humana e transformou o mundo moderno com uma gama de
aplicações, cada vez mais abrangentes. Notadamente a partir da década de 1950, o
plástico se popularizou e se tornou o terceiro material mais amplamente fabricado no
mundo, depois do cimento e do aço (Rangel-Buitrago, Neal & William, 2022). Esses
polímeros orgânicos sintéticos derivados de hidrocarbonetos fósseis são usados desde
embalagens de alimentos e bebidas até equipamentos médicos, peças de automóveis,
materiais de construção, dispositivos eletrônicos, roupas, brinquedos infantis, móveis e
utensílios domésticos. Além disso, novas aplicações do plástico estão sendo
desenvolvidas constantemente. Por exemplo, cientistas estão explorando maneiras de usar
plástico em células solares (Fontanesi et al., 2020), em tecidos resistentes ao fogo (Wu et
al., 2021), em dispositivos médicos implantáveis (Khan et al., 2019) e até em órgãos
artificiais (Dhand et al., 2016).
Os usos do plástico estão se tornando cada vez mais abrangentes, o que só aumenta
a sua importância na vida contemporânea. No entanto, a previsão de que esse material se
torne ainda mais utilizado destaca a importância de avaliar a dependência em relação a
ele, assim como e os potenciais riscos associados à sua utilização. As consequências
deletérias do uso do plástico não eram totalmente previsíveis quando o material foi
apresentado à sociedade e ao mercado como uma inovação que prometia revolucionar a
vida cotidiana, oferecendo uma alternativa econômica, prática e durável a materiais
tradicionais como o vidro, o metal e o papel. No entanto, com o tempo, tem se tornado
cada vez mais evidente que o plástico apresenta riscos significativos para o meio ambiente
e para a saúde de humanos e não-humanos, que não eram conhecidos ou não eram
amplamente divulgadas no passado.
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Essas são apenas algumas das consequências deletérias do uso do plástico que
foram se tornando evidentes ao longo dos anos. É importante lembrar que os impactos do
plástico no meio ambiente e na saúde humana são complexos e multifacetados, e ainda
há muito a ser descoberto e compreendido. Por isso, o plástico ilustra muito bem o
argumento de que a inovação do passado, em geral, acaba resultando em poluição no
presente, e que essa dinâmica se repetirá no futuro, caso não sejam tomadas ações efetivas
quanto a avaliação dos riscos ambientais inerentes à introdução dessas inovações na
sociedade. Conforme apontado por Beck (2011), as organizações que lidam com
inovações tecnológicas buscam gerenciar os riscos envolvidos, mas esses riscos não
podem ser totalmente eliminados, uma vez que o conhecimento técnico-científico atual é
limitado e as consequências a longo prazo ainda não são completamente compreendidas.
A sociedade tolera os riscos porque os benefícios da adoção das inovações são
mais significativos. Além disso, a dinâmica das inovações se assenta na crença ilimitada
do progresso, a qual fomenta a ideia de as consequências manifestas de riscos assumidos
quando da adoção de uma inovação podem ser resolvidas com avanços tecnológicos. Essa
ideia de controle é baseada em pressupostos da modernidade, como a razão e o
conhecimento científico. Entretanto, a experiência da modernidade tardia com as
consequências de riscos tecnológicos fomenta a reflexividade sobre tais pressupostos e a
crítica às crenças modernas sobre o controle do risco (Giddens, 2011). No context dessa
crítica, Beck (2011, p.44) sugere que as inovações geram riscos num efeito bumerangue,
no qual avanços tecnológicos geram novos ricos e mais pressões sobre o meio ambiente,
para garantir o funcionamento do sistema econômico.
O plástico é uma inovação que exemplifica notavelmente a incapacidade da
sociedade e de seus sistemas de governança para avaliar riscos e lidar com consequências
não planejadas. No início de sua adoção no mercado, não havia clareza sobre os perigos
do uso do plástico, não apenas por limitações de compreensão dos riscos reais e potenciais
do material, mas particularmente porque não se podia prever a pervasividade do material
em diferentes cadeias produtivas. Fatores como custo de de produção e relativa
independência em relação a commodities revelaram a vantagem do plástico sobre
materiais tradicionais, como madeira, vidro e metal fizeram com que componentes
plásticos penetrassem em praticamente todos os bens de consumo contemporâneos.
Adicionalmente, as embalagens plásticas não apenas subsidiam praticamente todas as
demais indústrias, como criaram ilimitadas possibilidades de consumo, abrindo espaço
para inovações consecutivas, dependents do plástico. Ainda que o material tivesse
demonstrado formidável capacidade de inserção na indústria desde o início, tamanha
dependência não pode ser prevista a priori. Isso fez com que a governança dos riscos e as
ações precaucionárias ligadas à adoção dessa tecnologia partissem de um contexto em
que as possibilidades de uso do material foram subestimadas.
A produção global de plástico aumentou significativamente ao longo dos anos,
passando de apenas 2 toneladas métricas em 1950 para impressionantes 380 Mt em 2015
(Geyer et al., 2017), com a previsão de alcançar 1.124 Mt até 2050, de acordo com dados
do Fundo Mundial para a Natureza (WWF, 2019). A degradação do plástico é um
processo lento, uma vez que esses polímeros são relativamente inertes, insolúveis em
água, resistentes à decomposição biológica e ao ataque químico. Estudos relatam que o
plástico pode levar de 10 a 1.000 anos para se decompor na natureza (Andrady, 2011;
Geyer, Jambeck & Law, 2017), dependendo do tipo. Entretanto, a exposição ao sol, à
chuva e ao vento, que auxiliam o processo de decomposição, fazem com que o plástico
se fragmente em microplásticos e libere substâncias químicas tóxicas no meio ambiente,
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como o bisfenol A (BPA), que podem ser ainda mais prejudiciais ao meio ambiente e à
vida marinha. É alarmante que 83% da água potável do mundo já esteja contaminada com
microplásticos (Orb Media, 2018).
A persistência dos resíduos plásticos no meio ambiente também tem levado ao
surgimento de novas formas de poluição, incluindo o alarmante aparecimento de rochas
sintéticas em praias, denominadas de "plastiglomerados". Plastiglomerados são um tipo
relativamente novo de material formado pela fusão de resíduos plásticos com outros
materiais, como madeira, rochas e areia, geralmente sob altas temperaturas (Corcoran et
al., 2013). Os plastiglomerados são um indicador alarmante da extensão da poluição
plástica no meio ambiente, especialmente em áreas costeiras, onde os resíduos plásticos
costumam se acumular. Estima-se que cerca de 8 milhões de toneladas de plástico acabam
nos oceanos todos os anos (Jambeck et al., 2015), prejudicando a vida marinha, afetando
a saúde humana e formando anomalias como os plastiglomerados.
Além disso, o uso de plásticos descartáveis, como sacolas plásticas, copos e
canudos, contribui para o aumento dos resíduos sólidos urbanos e a sobrecarga dos aterros
sanitários, que podem contaminar o solo e a água subterrânea. Aproximadamente 80%
dos resíduos plásticos são originados de fontes terrestres (LANDON-LANE, 2018), e sua
presença nos mares se deve em grande parte ao descarte incorreto e ao gerenciamento
incorreto dos resíduos na terra, causando poluição. Proximidade das indústrias de plástico
a rios, oceanos e outros corpos d'água foram identificados como um dos principais
facilitadores da poluição ambiental induzida pelo plástico. Resíduos de fábricas em vários
locais são lixiviados para o meio ambiente, transportados por meio de chuvas, rios,
oceanos, vento etc. As atividades humanas em ilhas povoadas também são fontes de
poluição do plástico (MONTEIRO et al., 2018), juntamente com o modelo de consumo
predominante de diversos itens de plástico, que produzem quantidade significativa de
resíduos (PALETTA et al., 2019).
Nossa dependência dos plásticos, juntamente com uma relutância em reciclá-los,
significa que o material já está deixando sua marca na geologia do nosso planeta. Numa
figura de linguagem impressionante, podemos pensar que todos os plásticos já produzidos
seriam suficientes para envolver todo o mundo em um filme plástico (Reed, 2015). Essa
quantidade de resíduos plásticos não apenas representa uma séria ameaça ambiental, mas
também tem o potencial de, numa metáfora bastante conveniente e assustadora, asfixiar
o planeta. É crucial que tomemos medidas imediatas para abordar essa questão e encontrar
maneiras mais sustentáveis de gerenciar nosso uso de plásticos. Somente por meio de
esforços concertados para reduzir, reutilizar e reciclar o lixo plástico, podemos esperar
impedir que ele altere permanentemente o registro geológico de nosso planeta.
A contaminação... Isso destaca a necessidade urgente de melhores estratégias de
gerenciamento de resíduos e esforços aumentados para desenvolver alternativas mais
sustentáveis aos plásticos.

Pressupostos teóricos e práticos da adoção do plástico na sociedade contemporânea:


uma brevíssima discussão sobre a alternativa da economia circular
Para abordar a complexidade da cadeia produtiva do plástico e das suas
possibilidades de integração a modelos circulares, faz-se necessário problematizar que os
ciclos preconizados nessa abordagem são de curto prazo e contemplam uma perspectiva
sobre os riscos ambientais detidas ao momento presente ou futuro próximo. Todavia, essa
indústria lida com um passivo ambiental construído ao longo de décadas e que permanece
como rejeito na natureza por tempo indeterminado.
O Antropoceno é fruto, também, de uma aqui chamada ideologia da inovação. O
que está contido no manifesto EcoModernista (Asafu-Adjaye, 2015) é colocado como se
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a problemática do Antrpoceno se resolvesse com mais inovação e mais aplicação de


conhecimento (progresso técnico). O plástico está aí para mostrar que não, em alguma
medida. Por meio da inovação as características elementares do plástico se aprimoram,
mas não se chega numa integração plena à natureza. Isso é a retroalimentação do
Antropoceno na sua essência (Bezerra, Marquesan e Figueiredo, 2020). Cada vez mais se
faz uma corrida tecnológica capitaneada pela tecnologia da inovação, que é vista somente
como boa, como solução plena, por muitos.
...continua

Práticas e políticas relacionadas à sustentabilidade na cadeia produtiva do plástico


O uso massivo do plástico está, agora, no centro de um debate acalorado
envolvendo cientistas, gestores públicos e políticos, bem como a sociedade civil, devido
ao impacto ambiental causado pela acumulação de resíduos plásticos no meio ambiente
(RAMBONNET et al., 2019). Dessa forma, muitos temas, desafios e tendências passam
a fazer parte de um panorama global, que afeta a todos, ainda que de modo assimétrico.
Daí que se torna decisivo cuidar a economia circular como mais uma “inovação”
de processo ou organizacional que não resolve o problema mais amplo; ela está
condenada a ser mais do mesmo. Há a necessidade de uma “meta-inovação”(?); pensar a
lógica própria das dinâmicas e do funcionamento das inovações no capitalismo
contemporâneo.
O neologismo Plasticeno (TILLER et al., 2019) enfatiza a importância das
dinâmicas do plástico na composição do Antropoceno. Além disso, parece exemplificar
a dicotomia entre uma abordagem positiva sobre a sustentabilidade e propostas novas,
como a da economia circular, e a e a crítica mais que necessária aos modos de produção
e consumo contemporâneos, que causam riscos previstos e imprevistos à vida na Terra.
Ao trazer ao debate a questão do Antropoceno é preciso considerar que a
circularidade das cadeias produtivas pode esbarrar na simplicidade com que a questão é
abordada, se não for levado em conta que os limites planetários já foram amplamente
tensionados em algumas indústrias, como no caso do plástico. A possível efetividade do
conceito de Plasticeno (TILLER et al., 2019) é ressaltar que estratégias de reciclagem de
materiais, conforme as propagadas pelas várias definições de economia circular,
provavelmente não se configuram como soluções definitivas para um problema que vem
sendo acumulado em lixões e oceanos (bem como na atmosfera) ao longo de anos de
produção, consumo e descarte de plásticos. Por isso, julgamos que é preciso compreender
e lançar um olhar crítico à ideia da economia circular no Plasticeno (TILLER et al., 2019).
A extração sustentável de matérias-primas (BOCKEN et al., 2017) e o descarte
seguro em sumidouros finais (Kral et al., 2013) são partes necessárias de um programa
de economia circular, mas raramente são incluídas nas abordagens atuais (DESIGN et al.,
2020). O Plasticeno evidencia, ainda, que grandes investimentos tecnológicos seriam
necessários para, realmente, lidar com a complexidade dos resíduos da cadeia de
plásticos. Sob a forma de microplásticos, resíduos químicos ou emissões gasosas, os
resíduos dessa indústria estão imiscuídos nos oceanos, na atmosfera e na biodiversidade
em geral, impactando severamente os limites planetários.

Conclusão (ainda que preliminar)


O Plasticeno é um conceito a ser melhor desenvolvido e ainda devidamente
problematizado à luz das discussões mais amplas sobre o Antropoceno e suas implicações
epistemológicas, políticas e sociais. Mas a despeito disso, carrega uma importante
mensagem cujo poder está, justamente, em trazer á materialidade do cotidiano a dimensão
do problema maior segundo o qual estamos todos envolvidos: a destruição do planeta em
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função de, primordialmente, a grande aceleração da atividade organizacional desde o fim


da II Guerra Mundial, no que desemboca no que se convencionou chamar de
Antropoceno.
Este trabalho em construção se volta para esse alerta, esse chamar a atenção, a
denúncia de que algo vai (muito) mal, mas que, a depender das ações do presente, um
futuro diferente pode (ou não) vir a ser delineado.

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