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Capítulo 4- As forças de mercado

Valor de Troca e o “Paradoxo do uso”


Valor de troca de um bem
Este valor resulta na interseção das escalas que representam as preferências e a
disposição de transacionar de cada um dos lados do mercado.
Valor de uso- Juízo subjetivo de mérito ou uma apreciação relativa a uma possível
característica intrínseca ou invariável dos bens ou serviços oferecidos e procurados no
mercado.

A distinção entre valor de troca e valor de uso é sublinhada pelo “paradoxo do valor”
imortalizado por Adam Smith.
O “paradoxo” resulta da contestação de que os diamantes atingem valores de mercado
superiores ao da água, quando é indesmentível de que água desempenha um papel
crucial de sobrevivência e não os diamantes.
No caso da água- as escalas de oferta e procura intercetam-se num nível de preços
muito baixos- a quantidade oferecida excede ainda muito amplamente as necessidades
do mínimo vital de subsistência.
No caso dos diamantes- o ponto de equilíbrio é muito elevado
O valor de uso da água é superior ao dos diamantes.
Uma pessoa indiferente aos diamantes afigura racional que alguém disponha a gastar
mais na aquisição de mais um diamante do que na de mais um copo.
Valor de troca do diamante é superior para os diamantes do que é para a água.

Conclusão: Abandona-se a terminologia de Adam Smith em favor da dicotomia valor-


preço: o valor será uma atribuição subjetiva de contornos mais ou menos nebulosos e
arbitrários. O preço tem raiz em duas avaliações distintas e complementares, será o
resultado objetivo, automático, de um jogo de forças de mercado. Representa as
avaliações, mas não coincide com nenhuma.
Elasticidade-Procura
 A elasticidade é a amplitude da reação dos agentes económicos à alteração de
condições fundamentais da sua atividade, ou seja, a reação às variações das
condições de mercado e às resultantes flutuações de preços dos produtos ou de
rendimento dos fatores.

 Não afere apenas a amplitude das reações, mas também a rapidez, característica-
viscosidade.

 A elasticidade-preço procura denota a sensibilidade maior ou menor das reações


dos consumidores às alterações dos preços dos bens e serviços.

Efeitos dominantes no condicionamento dessa sensibilidade:


1) Efeito rendimento

 A sensibilidade tende a aumentar se as limitações orçamentais do sujeito


económico estão a ser atingidas.

 Deverá restringir as quantidades consumidas, afetando também o total


consumido do bem cujo o preço aumentou.

 Um aumento de preços desacompanhado de um aumento do rendimento


disponível faz com que se restrinja os valores totais de consumo

 Aumentado o rendimento a elasticidade-preço procura tende a diminuir

2) Efeito de substituição

A elasticidade tende a aumentar se o consumidor dispuser de alternativas e puder


fugir do aumento de preços de um bem.

Substitui o respetivo consumo pelo consumo de bens sucedâneos, na condição


de que o preço relativo destes não tenha aumentado.

Tem duas variáveis este efeito: o preço relativo e o tempo necessário para a
mudança de hábitos de consumo.

Nota: a elasticidade preço depende da existência de sucedâneos, e isso pode ser


lustrado com outros exemplos, como o das receitas médicas.
3) Essencialidade das necessidades

A elasticidade é reduzida quanto àqueles bens e serviços que satisfaçam necessidades


primárias, as necessidades cuja satisfação é imprescindível
A elasticidade tende a aumentar na área das necessidades secundárias, até ao limite de
consumo que cada um possa ter por supérfluo, ou de luxo.

As limitações orçamentais do agente determinam a necessidade do


estabelecimento de prioridades na satisfação das necessidades.

4) A perspetiva temporal
A passagem do tempo faz aumentar a elasticidade, porque dá ao consumidor
maior oportunidade de reação

Permite-lhe aumentar várias vias de fuga em relação ao consumo cujo o custo


aumentou, adotando novos hábito, novas tecnologias, ou até atitudes concertadas
no mercado.

Consumo, congruência intemporal e comportamentalismo


 Quanto ao passado a elasticidade pode ser influenciada pela formação de
hábitos, como por pautar o consumo por linhas de referência, combinado com o
efeito de “aversão ao risco”, isto de acordo com os princípios de
comportamentalismo.

 Aversão às perdas: discrepância entre a disposição de pagar e a disposição de


aceitar.
 A idade e a expectativa de vida interferem nessas projeções de elasticidade

 O mecanismo da oferta e da procura reporta-se à formação de preços relativos:


quando se diz que baixa o preço de um produto, isso não implica
necessariamente que o valor monetário de um bem tenha descido

 O preço desceu relativamente à média de preços, ou seja, tendo havido uma


alteração das determinantes daquele mecanismo, a oferta e a procura desviaram-
se para outros produtos, fazendo subir o preço relativo dos últimos.

Cálculo da elasticidade
A elasticidade preço-procura é calculada com um quociente entre a variação percentual
das quantidades procuradas de um bem ou serviço, e por outro lado, a variação
percentual do respetivo preço.
Valor da E.P.P <1 – Inelasticidade
Valor da E.P.P >1- Elasticidade
Deve desprezar-se o sinal na elasticidade preço da procura
Quanto maior é a elasticidade, mais a curva da procura se aproxima da horizontal.

Os testes do “rendimento total” e da “despesa”.


Se fosse possível ao vendedor conhecer antecipadamente a elasticidade-preço dos seus
clientes. Esse conhecimento afetaria a receita total que ele retira das suas vendas- a
multiplicação de unidades vendidas pelo preço de cada unidade.

1. Se a procura for relativamente elástica, tanto em relação às subidas de preços


como às descidas dos preços é mais compensador descer o preço.
Exemplo: O vendedor que vendia 100 unidades a 100 euros tinha um rendimento total
de 10000 euros (100 x 100). Se subir o preço para 110 venderá apenas a 80 unidades
(quebra de 20%), o rendimento descerá para os 8800 (80x110) registando uma perda de
1200.

2. Se a procura for relativamente inelástica em relação às subidas como às descidas


de preços é mais compensador a subida de preços

3. No caso da elasticidade unitária, o rendimento total do vendedor mantém-se


inalterado, visto que uma subida de uma das parcelas no produto “preço-
quantidade” é sempre acompanhada de uma descida da outra, anula a primeira.

4. No caso de elasticidade infinita toda a subida de preços resulta numa imediata


perda total do rendimento, passando para zero o volume de vendas

5. No caso de inelasticidade total, o vendedor vedado para ele a opção de aumento


de volume de vendas (pois não venderia mais nem menos a qualquer nível de
preços), o aumento percentual das suas receitas, do seu rendimento, igual à
percentagem de subida de preços.
Conclusão:

 Inelasticidade absoluta (valor=0) - A quantidade procurada não varia em


função do preço.

 Inelasticidade (valor= entre 0 e 1) – O aumento do preço leva a uma


diminuição menos do que proporcional da quantidade procurada. Uma
diminuição do preço leva a um aumento menos do que proporcional da
quantidade procurada

 Elasticidade unitária (valor=1) O aumento do preço leva a uma diminuição


proporcional das quantidades procuradas. A diminuição do preço leva a um
aumento proporcional das quantidades procuradas.

 Elasticidade (valor= entre 1 e infinito) O aumento do preço leva a uma


diminuição mais do que proporcional das quantidades procuras. A diminuição
do preço leva a um aumento mais do que proporcional das quantidades
procuradas.

 Elasticidade infinita (valor=infinito) O aumento do preço leva ao


desaparecimento da procura ou a diminuição do preço leva a um surgimento ou
expansão infinita da procura.

Elasticidade- preço e elasticidade rendimento


 A elasticidade-rendimento é a sensibilidade dos padrões de consumo às
variações do rendimento disponível do consumidor, da sua fronteira orçamental,
do seu poder de compra.

 O quociente entre a variação percentual das quantidades e a variação percentual


do rendimento.

 O consumo tende a aumentar à medida que cresce o poder de compra dos


consumidores (bens normais).

 O aumento do rendimento leva a um incremento do consumo de bens de luxo.

 Se a elasticidade > 1 então é bem superior, Se E<1- bem normal, Se E<0 =


procura é elástica e o bem é inferior.
Criação de impostos com finalidades redistributivas:
- A distribuição de bens inferiores discriminará aqueles que têm mais elevados
rendimentos, mas o mesmo não aconteceria se incidisse sobre bens normais ou
superiores.
- Aceita-se o subsídio à habitação e à alimentação, que ocupam um lugar
desproporcionalmente elevado nos rendimentos disponíveis, mas não o subsídio a
viagens de férias que tendem a ter um lugar quando o rendimento aumenta.
-Uma tributação de consumo que tenha objetivos redistributivos deverá ser mais
reduzida nas classes mais pobres (elasticidade-rendimento baixa).

CONCLUSÃO:
 Bens superiores, valor é superior a 1= O aumento da procura é mais do que
proporcional ao aumento do rendimento. A quebra da procura é mais do que
proporcional à diminuição do rendimento.

 Bens normais, valor=1, 0 ou entre 0 e 1- O aumento da procura é proporcional,


menos do que proporcional ou indiferente ao aumento do rendimento.
A quebra do preço é proporcional, menos do que proporcional ou indiferente ao
aumento do rendimento.

 Bens inferiores: valor é abaixo de 0- O aumento da procura resulta de uma


diminuição do rendimento, ou a quebra da procura decorre de um aumento do
rendimento.

Elasticidade cruzada
A medida de variação percentual das quantidades procuradas de um bem em função da
variação percentual dos preços de outro bem.
É positiva no caso de bens sucedâneos, negativa no caso de bens complementares e nula
no caso de bens que não relacionados com o consumo.

 Bens complementares (valor é abaixo de 0) - A quantidade procurada de um


bem diminui se o preço do outro aumenta, ou aumenta se o preço do outro
diminui.

 Bens independentes (valor=0) – A quantidade procurada de um bem não varia


em função das variações de preços do outro.

 Bens sucedâneos imperfeitos (valor entre 0 e infinito) - A quantidade


procurada de um bem aumenta se o preço do outro aumenta.
 Bens sucedâneos perfeitos (valor=infinito) A diminuição do preço de um bem
leva ao desaparecimento da procura do outro ou o aumento do preço de um bem
leva à expansão ou surgimento da procura do outro.

Só existirá um mercado autónomo para cada produto quando o valor das elasticidades
cruzadas for igual a 0, trata-se de um mercado de um bem independente.

Elasticidade da oferta
 A sensibilidade da oferta às oscilações de preço, calculada como o quociente
entre a variação percentual das quantidades oferecidas e a variação percentual do
nível de preços.

 A subida de preços induz um aumento da oferta e uma quebra de preços


determina a retração da oferta.

 A elasticidade da oferta tende a aumentar com a passagem de tempo.


 A elasticidade da oferta vai diminuindo à medida que nos aproximamos do
limite de capacidade produtiva de uma empresa, da sua fronteira de
possibilidades de produção.

 A elasticidade do vendedor está limitada ao stock de que dispõe.

 Se o processo produtivo utilizar recursos universais e fungíveis, aplicáveis numa


grande diversidade de empregos é de esperar uma muito maior elasticidade da
oferta.

O Impacto negativo do efeito de rendimento na Elasticidade da oferta


O efeito de rendimento faz diminuir a elasticidade-preço da oferta e pode mesmo
conduzir a uma elasticidade negativa, ou seja, um aumento da oferta quando descem os
preços do mercado.
A elasticidade negativa pode não ser manifestação isolada da posição de um único
produtor e pode resultar de um fenómeno coletivo de mercado.

Cálculo da elasticidade da oferta


É o quociente entre a variação percentual das quantidades oferecidas e a variação
percentual dos preços:
1) A oferta é elástica quando responde mais do que proporcionalmente às variações
de preços.
2) A oferta é inelástica quando ela responde, em termos de quantidades oferecidas,
menos do que proporcionalmente às variações de preço

3) A oferta tem uma elasticidade de valor igual a 1 se todos os aumentos ou


diminuições de preços que lhe forem acompanhados por um aumento ou
diminuição da oferta.

4) A oferta é totalmente inelástica quando ela não responde com qualquer alteração
de quantidades oferecidas às subidas ou descidas de preços

5) A oferta é perfeitamente elástica ou infinitamente elástica quando existe um


preço de equilíbrio entre ela e a procura.

Conclusão
Inelasticidade absoluta (valor=0) - a quantidade oferecida não varia em com os preços
Inelasticidade (valor entre 0 e 1) - o aumento do preço leva a um aumento menos do
que proporcional da oferta ou uma diminuição do prelo leva a uma diminuição menos
do que proporcional da quantidade oferecida.
Elasticidade unitária (valor=1) – o aumento do preço leva a um aumento proporcional
da oferta e uma diminuição do preço leva a uma diminuição das quantidades oferecidas
Elasticidade (valor entre 1 e o infinito) = o aumento do preço leva a um aumento mais
do que proporcional das quantidades oferecidas, uma diminuição do preço leva a uma
diminuição mais do que proporcional das quantidades oferecidas.
Elasticidade infinita (valor=infinito) - o aumento do preço leva à expansão infinita ou
surgimento das quantidades oferecidas, uma diminuição do preço leva ao
desaparecimento das quantidades oferecidas.

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