Você está na página 1de 17

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB

Licenciatura em História
Disciplina: História Antiga I
Docente: Alexandre Galvão Carvalho
Discente: Jayne Sousa Silva

O Estado Cósmico
A influência do meio ambiente na
Mesopotâmia

 Na Mesopotâmia a natureza não se impõe limites; na plenitude de


seu poderio, interfere e contrapõe a vontade do homem, fazendo-o
sentir claramente sua pouca importância. Isto se reflete no caráter
da civilização mesopotâmica.
 A força e a violência da natureza faz com que o homem perceba a
sua impotência diante desses fenômenos.
 A experiência da natureza que produziu esse caráter teria sua
expressão direta na noção que o mesopotâmio formou acerca do
cosmos em que vivia.
 Para o mesopotâmio, a ordem cósmica não se apresentava como
algo dado, mas como algo realizado. Portanto em sua concepção de
cosmos tratava de dar expressão a esta integração de vontades, isto
é, o representava como uma espécie de ordem social, à semelhança
da família, da comunidade e mais particularmente do Estado.
 O mesopotâmio considerava a ordem cósmica como uma
adequação de vontades – como um Estado.
A antiguidade da concepção do mundo
entre os mesopotâmicos
 A concepção mesopotâmica do universo parece ter tomado sua
forma característica na época em que sua civilização chegou a
integrar-se, ou seja, no período proto-literário, em meados do quarto
milênio a.C.
 O desenvolvimento agrícola provoca um notável aumento da
população. Os antigos povoados se transformam em cidades, surge
então, a forma política da nova civilização: a democracia primitiva.
 Na nova cidade-estado o poder político reside na assembleia geral
constituída por todos os homens livres. Havia também um conselho
de anciãos que tratava de assuntos cotidianos.
 Portanto, não surpreende que já possamos atribuir a essa época
uma concepção de universo em conjunto, suficientemente
esclarecida e estruturada.
 A civilização Mesopotâmia considerava o universo como um Estado.
Contudo o fundamento desta interpretação não era o Estado que
existiu nas épocas históricas, mas o Estado pré-histórico – ou seja, a
democracia primitiva.
 Podemos supor que a ideia de Estado cósmico se formou em uma
época primitiva, quando o tipo de Estado que prevalecia era a
democracia primitiva – ou seja, que surgiu com a civilização
mesopotâmia.
A atitude do mesopotâmio ante os
fenômenos da natureza
 O mesopotâmio via nos fenômenos em sua volta, um mundo
semelhante a sociedade em que vivia.
 As relações entre os fenômenos naturais eram tratadas de maneira
semelhante as relações sociais, de uma ordem em que operam
vontades conjugadas de um Estado.
 Cada fenômeno possuía uma vontade e uma personalidade. Uma
pedra de sílex em particular, por exemplo, teria uma personalidade e
uma vontade fáceis de reconhecer.
 A personalidade característica que encontramos, nesta pedra de
sílex em particular, podemos encontra-la também em qualquer outro
pedaço de sílex, que parecerá dizer-nos “aqui estou de novo” –
negro, pesado, duro, disposto a deixar-me laminar – “eu o sílex!”
 O exemplo de Nidaba, deusa dos juncos; de Marduk e Enlil e do fogo
como juiz entre o homem e seus inimigos.
 De modo intuitivo o mesopotâmio aplicava à natureza a
experiência que havia adquirido no seio de sua própria
sociedade e a interpretava conforme suas categorias sociais.
Isso pode ser ilustrado como um exemplo particularmente
sugestivo. Por assim dizer, a realidade objetiva assume a forma
de uma organização social diante de nossos próprios olhos.
A estrutura do Estado Cósmico

 O Estado formado pelo cosmos mesopotâmio compreendia todo o


mundo existente, de fato, tudo podia ser pensado como um ente:
homens, animais, objetos inanimados e fenômenos naturais, o
mesmo que noções como justiça, retidão, a forma do círculo.
 Esses entes eram considerados membros do Estado porque tinham
vontade, caráter e poder.
 Mesmo quando todas as coisas imagináveis formavam parte do
Estado cósmico, nem todos os membros ocupavam o mesmo nível
político.
 No Estado terreno havia grandes grupos que não tinham participação no
governo. Os escravos, as crianças e as mulheres não tinham o direito de
falar nas assembleias. Somente os adultos livres podiam decidir os
negócios públicos: somente eles eram cidadãos no sentido estrito da
palavra.
 No Estado constituído pelo universo somente aquelas forças naturais
cujo poderio inspirava temor ao mesopotâmio e que, em consequência,
teriam classificado de deuses, eram considerados cidadãos do universo,
atribuindo-lhes direitos políticos e reconhecendo que podiam exercer
influência na marcha do Estado. Portanto, a assembleia geral dentro do
Estado cósmico era uma assembleia de deuses.
Os dirigentes do Estado cósmico

 Anu, o deus supremo era o deus do céu e seu nome era a palavra usual para
designar “céu”. A função dominante que o céu desempenha na composição do
universo visível e a posição eminente que ocupa, colocado acima e por cima de
todas as coisas, explica perfeitamente porque considerava Anu como a força
mais importante do cosmos.
 Enlil, o deus da tempestade, era o segundo em importância. A tempestade que
domina todo o espaço que se estende sob o firmamento, ocupava o segundo
lugar entre os grandes componentes do cosmos.
 A terra era o terceiro elemento fundamental do universo visível. Como fonte das
águas, a terra era masculina, era En-ki, “o senhor da terra” ou mais
literalmente, “Senhor Terra”.
O poder do céu: a autoridade

 É, o que inspira majestade. Há nele a experiência de grandeza ou,


mais exatamente do terrível. O homem se dá conta de sua própria
insignificância, de sua distância intransponível. No fundo, a
experiência da majestade é a experiência do poder, da força que
colida com terrível; mas de um poder em repouso, que não impõe
conscientemente sua vontade. O poder que está por trás da
majestade é tão grande que não necessita exercer-se. Sem
nenhum esforço de sua parte obriga a submissão por sua mera
presença; o espectador obedece voluntariamente, seguindo um
imperativo categórico que surge do fundo de sua própria alma.
O poder da tempestade: a força

 Enlil se revela na tempestade. A violência, a força que a constitui e


que se experimenta nela era o deus, era Enlil. Em todas as grandes
catástrofes da história, nos ventos demolidores aprovados pela
assembleia dos deuses, sempre se encontra Enlil, a essência da
tempestade. Nele reside a força, como executor do veredicto dos
deuses.
O poder da terra: a fertilidade

 Ki, a “Terra” se manifesta antes de tudo como “Mãe Terra”, como a


grande fonte inesgotável e misteriosa da nova vida e da fecundidade
em todas as suas formas. Cada ano dá nascimento a pastos e
plantas novas. Em uma só noite o árido deserto se transforma em
campo verde. Os pastores levam seus rebanhos para pastar. As
ovelhas e as cabras parem cordeiros e cabritos. Todas as coisas
crescem e prosperam.
O poder da água: a criação

 Da terra provêm também as frescas águas, portadoras de vida, a


água que brota nas nascentes, que corre nos rios, e no tempo mais
remotos se considerava “águas que atravessam a terra” como parte
de seu próprio ser, como um dos múltiplos aspectos em que se
manifestava. O poder que se revelava ao mesopotâmio em sua
experiência subjetiva da água era um poder criador, uma potencia
divina que produzia vida nova, novos seres e novas coisas.
Elementos fundamentais da concepção
de universo dos mesopotâmios
 O universo mesopotâmio não era dividido, como o nosso, em duas partes
fundamentais, em matéria animada e inanimada, em objetos vivos e
inertes.
 O universo, como um conjunto organizado, era uma sociedade, um Estado.
 A forma que os mesopotâmios atribuíram ao Estado do universo foi a de
uma democracia primitiva; esta parece haver sido a forma de Estado que
prevalecia na época em que surgiu a própria civilização mesopotâmia.
 No universo a influência política era exercida exclusivamente por aqueles
membros que, em virtude do poder que lhes era inerente, podiam ser
classificados como deuses.
 Entretanto, tal como deve ser todo Estado, o universo mesopotâmio é
dinâmico e não estático. A simples atribuição de tarefas e funções não
forma o Estado. O Estado é e funciona pela cooperação das vontades
que desempenham as distintas tarefas, por meio de sua coordenação
recíproca e seu acordo para realizar ações de conjunto em certas
situações quando se trata de um interesse geral. Para lograr esse
acordo de vontades, o universo mesopotâmio teria uma assembleia
geral composta por todos os cidadãos.
Bibliografia

 FRANKFORT, H; WILSON, J.A e JACOBSEN, T. El pensamiento


prefilosofico.I. Egipto y Mesopotamia. México: Fondo de cultura
econômica, 1998. O COSMOS CONCEBIDO COMO UM ESTADO

Você também pode gostar