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Embranquecimento Da História Do Cristianismo
Embranquecimento Da História Do Cristianismo
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a atenção dos portugueses quando, muito tempo depois, tomaram contato com ela durante o período
da expansão colonial da modernidade.
Mas... Voltando à questão original, por que na frase que abriu este texto a referência mais óbvia
para tanta gente foi Constantino e o Império Romano? Para explicar talvez seja ilustrativo pensar nos
currículos escolares. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) precisam ser
abordados no 6° ano do Ensino Fundamental o “papel da religião cristã, dos mosteiros e da cultura na
Idade Média” de forma a analisar a “religião cristã na cultura e nos modos de organização social no
período medieval”.
Numa tentativa, ainda que limitada, de ver como esse currículo prescrito é efetivamente
aplicado na sala de aula convém olharmos para um dos principais elementos da cultura escolar: os
livros didáticos. Naqueles mais amplamente utilizados no país – os selecionados pelo PNLD – os
capítulos que tratam do cristianismo e monastérios medievais fazem referências apenas ao contexto
Europeu. De tal maneira que estamos diante do que me parece ser um apagamento histórico marcante
de uma experiência religiosa africana que, ao fim e ao cabo, embranquece a História do cristianismo.
Cristianismo esse que em boa parte das consciências históricas passa a ser associado como
parte dessa narrativa tradicional da dita “civilização ocidental” cristã e branca. No ano que
completamos duas décadas de vigência da lei 10.639/03 é imperativo pensar outras temáticas da
História africana, que rompam com essa visão pálida e menos diversa do passado. O que é
indispensável para nos afastarmos da ignorância, por exemplo, simbolicamente expressa nos ataques
recheados de racismos ao padre Júlio Lancelotti que no último Natal postou em suas redes sociais uma
foto com o menino Jesus negro. Representação bastante comum na Etiópia que, ao longo do que se
costuma chamar Idade Média, deu ao cristianismo tons e sabores africanos. Precisamos entender e
explicar o cristianismo durante o medievo como um fenômeno global.
HAAS, Christopher. Mountain Constantines: The Christianization of Aksum and Iberia. Journal of
Late Antiquity, vol. 1, n° 1, 2008.
MOKHTAR, Gamal. História geral da África, II: África antiga. Brasília: UNESCO, 2010.
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