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CAPÍTULO I

ATOS PROCESSUAIS E ATOS JUDICIAIS

1. INTRODUÇÃO

O processo penal se desenvolve através de atos processuais e atos


judiciais. Esses atos processuais podem ser postulatórios, instrutórios e
decisórios. Os atos postulatórios são aqueles em que a parte interessada pede,
requer algo, e o faz através do exercício da ação penal.

Essa fase postulatória diz respeito ao autor da ação penal já que a


defesa se manifesta, geralmente, através de contestações, refutações dos fatos
contidos na denúncia ou na queixa; Já a fase instrutória está diretamente ligada
a instrução processual realizada não só através do conjunto probatório, mas
também quando da interposição e julgamento de recurso. Em alguns atos
processuais essas características se confundem, como nas alegações finais, em
que se postula e se instrui ao mesmo tempo; e finalmente a fase decisória que
ela precípua do juiz, que é a fase da sentença ou da decisão judicial.

É importante salientar que a fase decisória não se desenvolve apenas


quando da sentença penal condenatória ou absolutória, ocorre também na fase
pré-processual antes do início da instrução, como por exemplo, quando do

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reconhecimento da extinção da punibilidade, prevista no art. 61 do Código de
Processo Penal.

1.1. Atos judiciais

Inicialmente há que se estabelecer a distinção entre os atos judiciais


de impulso, aqueles que como o próprio nome diz, impulsionam o processo
daqueles de conteúdo decisório. Para tanto, se faz mister falarmos dos
despachos e das decisões judiciais.

Despachos são atos judiciais com a finalidade de dar seguimento ao


processo, sem, no entanto, entrar em questões controvertidas ou no mérito.
São os chamados despachos de mero expediente, contra os quais não cabem
recurso; já as decisões judiciais, são aquelas em que o julgador terá que
decidir questões de direito material ou processual.

1.1.2. Decisões interlocutórias

Entende-se por decisão interlocutória todas aquelas que não sejam


decisão de mérito. As decisões interlocutórias se dividem em simples ou
mistas.

Decisões interlocutórias simples são aquelas que solucionam


questões processuais mais não extinguem o processo. Em regras elas são
irrecorríveis mas,podem ser aventadas em outro momento processual, como
quando da interposição de Apelação, de ação própria como o Hábeas Corpus e
o Mandado de Segurança. Como exemplo podemos citar as hipóteses de
recebimento da denúncia ou da queixa ou ainda, indeferimento de habilitação
de assistente de acusação. Já as decisões interlocutórias mistas são aquelas
que, da mesma forma, não decidem o mérito, mas extinguem o processo ou a
fase procedimental, como exemplo, a decisão de pronúncia.

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2. Sentença

Vimos que a única maneira do Estado exercer o jus puniendi é


através do Estado-Juiz, através do processo penal. O processo penal tem a
dura missão de reconstruir o fato pretérito através do conjunto probatória, na
instrução processual que culminará com a decisão de mérito e por fim a
prolação da sentença penal absolutória ou condenatória.

Se faz mister que no processo penal constitucional não se há falar


em decisão sem fundamentação. Todas as decisões judiciais, conforme
preceito constitucional, devem ser fundamentadas. Fundamentar importa dizer
que a sentença será proferida sempre com base nas provas trazidas ao
processo, serve ainda, como forma de “fiscalização” pelas partes envolvidas já
que deve haver correlação entre a denúncia e a sentença, como veremos mais
adiante.

Vejamos como ficou o artigo 387 do Código de Processo Penal que


dispõe sobre a sentença penal condenatória, com a modificação feita pela lei
11.719/2008:

“O juiz, ao proferir a sentença penal condenatória:

I - mencionará as circunstâncias agravantes ou atenuantes definidas


no Código Penal, e cuja existência reconhecer;

II - mencionará as outras circunstâncias apuradas e tudo o mais que


deva ser levado em conta na aplicação da pena, de acordo com o disposto nos
arts. 59 e 60 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código
Penal;

III - aplicará as penas de acordo com essas conclusões;

3
IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados
pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido; (grifo
nosso).

.........................

Diferentemente das decisões interlocutórias, a sentença extingue o


processo com julgamento de mérito e o recurso será sempre o de Apelação.

Saliente-se ainda que no processo penal devemos atentar para a


necessidade de correlação entre a sentença penal e a denúncia ou a queixa.
Trata-se de garantia do indivíduo e do devido processo legal. O réu jamais
poderá ser condenado por fato distinto do apresentado na peça inicial da
acusação. Corroborando isso, a necessidade de fundamentação das decisões.

Para melhor compreensão desse tema, se faz necessária a análise de


duas providências peculiares ao processo penal: a emendatio libeli e mutatio
libeli.

2.1. Emendatio libeli

Como ensina Eugênio Pacelli de Oliveira:

“Assim, a “emendatio” não é outra coisa senão a correção da


inicial (libelo, nessa acepção) para o fim de adequar o fato narrado e
efetivamente provado (ou não provado se a sentença não for condenatória,
caso em que seria dispensável a emendatio) ao tipo penal previsto na lei.”1

1
Pacelli de Oliveira, Eugênio. CURSO DE PROCESSO PENAL. 9º Edição. Rio de Janeiro: Editora Lúmen
Júris. p.2008.

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A emendatio libeli está prevista no artigo 383 do Código de
Processo Penal, já com as modificações trazidas pela Lei 11.719/2008 com o
seguinte texto:

“O juiz, sem modificar a descrição do fato contido na denúncia ou


queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em
conseqüência, tenha de aplicar pena mais grave.

§ 1º.Se, em conseqüência de definição jurídica diversa, houver


possibilidade de proposta de suspensão condicional do processo, o juiz
procederá de acordo com o disposto na lei.

§ 2º.Tratando-se de infração de competência de outro juízo, a este


serão encaminhados os autos.”

Importante salientar que a nova lei trouxe incorporou ao dispositivo


a parte “sem modificar a descrição do fato contido na denúncia ou queixa”.
Isso obedecendo ao processo penal constitucional tendo como garantia do
acusado o processo penal.

Alterar definição jurídica significa alterar conseqüência jurídica,


portanto, há que se cercar de garantias. Muito embora no processo penal o
acusado de defenda de fatos e não de qualificação jurídica. Mas poderia a
emendatio alterar rito procedimental, trazendo prejuízo à defesa.

2.1. Mutatio libeli

Encontramos a definição no artigo 384 do Código de Processo


Penal, com a redação dada pela lei 11.719/2008.

“Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova


definição jurídica do fato, em conseqüência de prova existente nos autos de
elemento ou circunstância da infração penal não contida na acusação, o

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Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 05
(cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime
de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente.

§1º. Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento,


aplica-se o art. 28 deste Código.

§2º. Ouvido o defensor do acusado no prazo de 5 (cinco) dias e


admitido o aditamento, o juiz, a requerimento de qualquer das partes,
designará dia e hora para continuação da audiência, com inquirição de
testemunhas, novo interrogatório do acusado, realização de debates e
julgamento.

§3º. Aplicam-se as disposições dos §§ 1º e 2º do art. 383 ao caput


deste artigo.

§4º. Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar 03 (três)


testemunhas, no prazo de 05 (cinco) dias, ficando juiz, na sentença, adstrito
aos termos do aditamento.

§5º. Não recebido o aditamento, o processo prosseguirá.”

Atente-se para a garantia do contraditório, dada pela nova redação


ao dispositivo.

Enquanto na emendatio o que se altera é somente a classificação


jurídica; na mutatio o que sofre alteração são os fatos, a imputação. Por essa
razão a preocupação do legislador em assegurar a garantia do contraditório.

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2.1. Publicação da sentença

“A intimação da sentença será feita:

I - ao réu, pessoalmente, se estiver preso;

II - ao réu, pessoalmente, ou ao defensor por ele constituído, quando


se livrar solto, ou, sendo afiançável a infração, tiver prestado fiança;2

III - ao defensor constituído pelo réu, se este, afiançável, ou não, a


infração, expedido o mandado de prisão, não tiver sido encontrado, e assim o
certificar o oficial de justiça;

IV - mediante edital, nos casos do nº II, se o réu e o defensor que


houver constituído não forem encontrados, e assim o certificar o oficial de
justiça;

V - mediante edital, nos casos do nº III, se o defensor que o réu


houver constituído também não for encontrado, e assim o certificar o oficial
de justiça;

VI - mediante edital, se o réu, não tendo constituído defensor, não


for encontrado, e assim o certificar o oficial de justiça.

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Inconstitucionalidade levantada por Eugênio Pacelli de Oliveira . op. Cit. p. 500. “A nosso aviso, o princípio
constitucional da ampla defesa exige a intimação pessoal do acusado em qualquer hipótese, com o que estaria
revogado o previsto no inc. II, que permite a intimação por intermédio de defensor”.

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CAPÍTULO II

PROCESSOS EM ESPÉCIE

1. Processo e procedimento

Processo é o conjunto de atos processuais, concatenados,


interligados, que se desenvolvem com a finalidade da aplicação da lei penal ao
caso concreto, por meio do processo penal.

No dizer de Pacceli “...o processo como conteúdo e o procedimento


como a sua embalagem, por assim dizer.”3

É o processo penal o instrumento de aplicação da lei penal. Mas,


hoje, no Direito moderno é muito mais que simples instrumento de efetividade
do direito penal, é sobretudo, instrumento de garantia do acusado quanto ao
pleno exercício da ampla defesa e do contraditório e mecanismo de controle
do poder de punir estatal.

Essa é a nova linha adotada pelo processo penal garantista, que não
podia ser de outra forma em se tratando de Em Estado Democrático de
Direito.

Na lição de Tourinho Filho, “processo é aquela atividade


desenvolvida pelo Juiz, com o concurso dos demais sujeitos processuais –
partes e auxiliares da Justiça – visando à solução do litígio”4.

3
Op.cit. p.510
4
Tourinho Filho, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal, Saraiva, 5ª ed., p. 600.

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Aliado à noção de processo temos o procedimento, que é o conjunto
de atos processuais que se sucedem, de forma coordenada, com a finalidade de
resolver, jurisdicionalmente, o litígio.

Portanto, processo é o todo, é aquela atividade tendente à solução da


lide. E o procedimento a seqüência dos atos que se desenvolvem no processo.

Procedimento, portanto, é uma seqüência de atos processuais que


obedece a uma ordem lógica até a prolação da sentença.

2. Sistemas processuais

Três são os sistemas processuais: inquisitivo, acusatório e o misto.

O primeiro deles, o inquisitivo, com raízes no Direito Romano,


quando se permitiu ao juiz iniciar o processo de ofício, sob influência da
organização política do Império, revigorado na Idade Média, e com larga
difusão por todo o continente europeu a partir do século XV diante da Igreja.
Seu declínio ocorreu com a Revolução Francesa. Esse tipo de processo
geralmente é secreto, escrito, se desenvolve por impulso oficial, e não há
regras de igualdade entre as partes. Permite a tortura e a confissão é elemento
bastante para a condenação.

O acusatório, por seu turno, tem raízes na Grécia e em Roma, e se


apresenta, no direito moderno, pelo estabelecimento de uma verdadeira
relação processual em que estão em pé de igualdade o autor e o réu, e
eqüidistante deles, como órgão imparcial, o juiz.

Por último, o sistema misto se desenvolve em três etapas: a


investigação preliminar, a cargo da Polícia Judiciária, a instrução preparatória,
a cargo do juiz instrutor, e a fase de julgamento. Das duas primeiras não

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participa a defesa. Na fase final, do julgamento, o processo se desenvolve sob
o contraditório.

O sistema adotado pelo nosso ordenamento jurídico é o acusatório,


caracterizado pela divisão, ou seja, partes (autor e réu) em igualdade de
condições e um juiz eqüidistante.

Muito embora o nosso modelo seja acusatório, guarda ele grande


carga de inquisitoriedade, haja vista a possibilidade do juiz determinar a
produção de provas. É bem verdade que muitas alterações, como a reforma de
1984, e agora recentemente o projeto de Reforma do Código de Processo
Penal, busquem a maior adequação do nosso sistema ao modelo acusatório.

3. Processos em espécies

Como se percebe, o sistema processual penal brasileiro contempla,


basicamente, dois tipos de procedimentos, o comum e os especiais. O comum,
por sua vez, subdivide-se em ordinário, sumário e sumaríssimo.

Os procedimentos especiais, por sua vez, são específicos para os


crimes de falência (arts. 503 a 512), para os crimes de responsabilidade dos
funcionários públicos (arts. 513 a 518), para os crimes de calúnia e injúria –
crimes contra a honra (arts. 519 a 523), para os crimes contra a propriedade
imaterial (arts. 524 a 530), para aplicação de medida de segurança por fato não
criminoso (arts. 549 a 555). Prevê o Código, ainda, como procedimento
especial, o chamado processo sumário (arts. 531 a 540), e também um
procedimento para a restauração de autos extraviados ou destruídos (arts. 541
a 530).

Embora o texto legal fale em processo comum, a terminologia


correta seria procedimento comum.

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O procedimento comum, no sistema do Código, é adotado para
todas as hipóteses que não se enquadrem nos processos (ou procedimentos)
especiais. Em outras palavras, sempre que não se tratar de crime cujo processo
(ou procedimento) seja o especial, o processo será o comum.

Outrossim, o procedimento comum se subdivide em procedimentos


da competência do juiz singular, e procedimentos da competência do Tribunal
do Júri.

A instrução criminal, para ambas as hipóteses – juiz singular, ou


Tribunal do Júri – é a mesma, disciplinada nos arts. 394 a 405. A partir daí é
que se opera a diferenciação, como veremos a seguir.

3.1. Procedimento comum ordinário

O jus puniendi nasce com a ocorrência de um delito. Nesse instante


o Estado é chamar a exercer a sua atividade persecutória. Essa atividade é
desenvolvida, primeiramente, através da polícia judiciária e a elaboração do
inquérito policial que irá culminar com o oferecimento ou não da denúncia.
Quando do recebimento da denúncia ou da queixa tem início o processo penal
na sua forma precípua, de jurisdição, de dizer o direito.

As causas de rejeição da denúncia ou queixa estão previstas


expressamente nos arts. 395 do Código de Processo Penal são elas: I)Inépcia;
II)ausência de pressupostos processuais ou condições da ação; III) justa causa.

No momento do recebimento ainda não se pode dizer completa a


relação jurídico penal, que apenas se efetivará com a citação válida do
imputado.

No momento do recebimento da peça acusatória, denúncia ou


queixa, impõe também o estabelecimento do rito a ser seguido.

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Para tanto passamos á análise dos artigos 394 e seguintes do Código
de Processo Penal com a nova redação dada pela Lei 11.719/2008.

Art. 394. “O procedimento será comum ou especial.

§1º.o procedimento comum será ordinário, sumário ou


sumaríssimo.:

I-ordinário, quando estiver por objeto crime cuja sanção máxima


cominada for igual ou superior a 4 (quatro) anos de pena privativa de
liberdade;

II-sumário, quando tiver por objeto crimecuja sanção máxima


cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade;

III- sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial


ofensivo, na forma da lei.”

Traz ainda, no parágrafo 3º, que nos processos de competência do


Tribunal do Júri, o procedimento observará as disposições estabelecidas nos
arts. 406 à 497 do Código de Processo Penal.

O legislador divide o procedimento em comum e especial. O


procedimento comum em Ordinário, Sumário e Sumaríssimo.

De acordo com o artigo 396 do Código de Processo Penal “Nos


procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se
não a rejeitar liminarmente, recebê-la-à e ordenará a citação do acusado
para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias” e continua
no parágrafo único “No caso e citação por edital, o prazo para defesa
começará a fluir a partir do comparecimento pessoal do acusado ou do
defensor constituído.”

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Apontamos essa alteração, dos arts. 396 e 396-A, como mais
relevantes para o processo penal moderno, pois, diferentemente da redação
antiga em que o imputado era citado para ser interrogado, depois apresentava
alegações escritas num prazo de 03 dias, agora não mais, a defesa preliminar é
apresentada de forma escrita, antes mesmo do interrogatório, num prazo de
dez dias (não mais tão exíguo), inclusive com a possibilidade de requerimento
de intimação de testemunhas, providência já existente no procedimento dos
Juizados Especiais Criminais. Há ainda a nomeação de defensor para fazê-lo
se o imputado não oferecer a defesa preliminar. Em total atenção e
observância do preceito constitucional da ampla defesa.

Vejamos agora o art. 396-A:

“Na resposta, o acusado poderá argüir preliminares e alegar tudo


o que interessa à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar
as provas pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo
sua intimação, quando necessário”.

§ 1º.....

§ 2º. Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se acusado,


citado, não constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la,
concedendo-lhe vista dos autos por 10 (dez) dias.”

De acordo com o disposto no artigo 397 do Código de Processo


Penal após o cumprimento do disposto no artigo 396-A, e parágrafos, o juiz
deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: I- a existência
manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;II- a existência manifesta de
causa excludente de culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; III- que
o fato narrado evidentemente não constitui crime (esse seria motivo para

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rejeição ou não recebimento da peça acusatória); IV extinta a punibilidade do
agente (causa de rejeição da peça acusatória).

O legislador inovou também nesse dispositivo, já que trouxe a


absolvição sumária logo na fase inicial, ou seja, depois de oferecida à resposta
do imputado, verificando haver excludente de ilicitude ou de culpabilidade o
juiz deverá absolver sumariamente o imputado. Note que o legislador diz
deverá e não poderá!

O artigo 398 que tratava do número de testemunhas foi revogado e o


tema abordado mais adiante no art. 401 do CPP.

Art. 399. “Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e


hora para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor,
do Ministério Público e, se for o caso,do querelante e do assistente.

§ 1º. O acusado preso será requisitado para comparecer


pessoalmente ao interrogatório, devendo o poder público providenciar sua
apresentação.

§ 2º. O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença.

Aqui o legislador aponta a forma para a designação da audiência,


inclusive do réu preso, e sabemos que onde há forma há garantia, e ainda,
expressamente prevê a adoção do princípio da identidade física do juiz com a
vinculação do juiz ao processo. Providência essa há muito reclamada pelo
processo penal constitucional.

3.1.1. Instrução processual – fase inicial

De acordo com o disposto no art. 400 do Código de Processo Penal:

”Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo


máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do

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ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela
defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem
como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de
pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado.5

§1º.as provas serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz,


indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias.

§2º.Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio


requerimento das partes.

O artigo 400 antes da Lei 11.719/2008 tratava da juntada de


documento, agora, com a nova redação dada pela lei dispõe acerca da
audiência de instrução e julgamento, do procedimento comum ordinário.
Note-se que houve uma condensação dos atos instrutórios, antes fracionados,
em observância ao princípio da celeridade, e ainda, atendendo ao preceito
constitucional trazido com a emenda 45 da duração razoável do processo.

Chamamos a atenção para a seguinte modificação: o interrogatório


do imputado antes era o primeiro ato realizado depois da citação, agora todas
as provas são produzidas e apresentadas em audiência de conciliação e
julgamento e depois o acusado é interrogado.

O número de testemunhas é de 8 (oito)para acusação e defesa,


excluindo-se deste número aquelas que não prestam compromisso e as
referidas(art. 401).

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Art. 222. A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de sua
residência, expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, intimadas as partes.

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As partes poderão desistir da inquirição de testemunhas arroladas,
mas nada impede que o juiz faça a inquirição, de acordo com o art. 209 do
Código de Processo Penal.

Produzidas as provas, ao final da audiência, o Ministério Público, o


querelante e o assistente e, a seguir, o acusado poderão requerer diligências
cuja necessidade se origine de circunstâncias ou fatos apurados na instrução
(art. 402). Atendendo assim a dialética que deve ser observada no processo
penal constitucional.

Antes da lei, o requerimento de novas diligências poderia ser


formulado em até 24 horas após a inquirição das testemunhas, de acordo com
o artigo 499, agora revogado. Agora deve ser formulado imediatamente ao
final da audiência.

Não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido,


serão oferecidas alegações finais orais por 20 (vinte) minutos respectivamente,
pela acusação e pela defesa, prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz,
a seguir, sentença (art. 403). Havendo mais de um acusado, o tempo previsto
para a defesa de cada um será individual.

Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação desse,


serão concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo
de manifestação da defesa.

Dependendo da complexidade do caso ou o número de acusados o


juiz poderá, ainda, conceder ás partes o prazo de 5 (cinco) dias para que
apresentem seus memoriais por escrito. Hipótese em que terá o prazo de 10
(dez) dias para proferir a sentença.

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Havendo requerimento de diligências considerada imprescindível,
de ofício ou a requerimento das partes, a audiência será concluída sem as
alegações finais, e de acordo com o § único do art. 404, realizada, em seguida,
a diligência determinada, as partes apresentarão, no prazo sucessivo de 5
(cinco) dias, suas alegações finais, por memorial, e, no prazo de 10 (dez) dias,
o juiz proferirá a sentença.

Outra modificação relevante trazida com a lei 11.719/2008 é no


tocante ao registro de tudo que ocorre na audiência, de acordo com o disposto
no art. 405, todo o ocorrido será lavrado termo em livro próprio, assinado pelo
juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes, e ainda,
sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, indiciado,
ofendido e testemunhas será feito por meios ou recursos de gravação
magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual,
destinada a obter maior fidelidade das informações. Notem que o legislador
estendeu essa providência também para a fase preliminar, investigatória do
inquérito policial. Ademais, ressalte-se a preocupação com o avanço
tecnológico, a demonstrar que o Judiciário não se mantém atento a esses
avanços, como insistem alguns em afirmar.

3.2. PROCEDIMENTO COMUM SUMÁRIO

O procedimento comum sumário é aquele adotado para crimes cuja


sanção máxima cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de
liberdade.

É importante lembrar que se aplicam subsidiariamente as regras do


procedimento comum ordinário.

O Código de Processo Penal, com o advento da Lei 11.719 de 20 de


Junho de 2008, trata do procedimento comum sumário no art. 531 e seguintes.

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Vejamos esses artigos:

Art. 531. “ Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada


no prazo máximo de 30(trinta) dias, proceder-se-á á tomada de declarações
do ofendido, se possível, á inquirição das testemunhas arroladas pela
acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste
Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao
reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado
e procedendo-se, finalmente, ao debate.”

De acordo com o parágrafo primeiro, da mesma forma como no


procedimento ordinário, a expedição de carta precatória para inquirição de
testemunha que residir fora da jurisdição, não suspenderá a instrução.

O prazo para a realização da audiência de instrução e julgamento


que no procedimento comum ordinário era de 60 (sessenta) dias, no
procedimento sumário é de 30 (dias).

O número de testemunha no procedimento sumário será de 5 (cinco)


a serem arroladas pela acusação e pela defesa.

As alegações finais, de acordo com o art. 534, serão orais, sendo que
primeiro se manifesta a acusação e depois a defesa, nessa ordem, pelo prazo
de 20 (vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez) e o juiz deverá proferir a
sentença logo em seguida.

Havendo mais de um acusado o tempo previsto para a defesa de


cada será individual e ao assistente do Ministério Público, após a manifestação
deste, serão concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o
tempo de manifestação da defesa.

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Uma particularidade do procedimento comum sumário está no
artigo 535 que prevê que nenhum ato será adiado, salvo quando
imprescindível a prova faltante, determinando o juiz a condução coercitiva de
quem deva comparecer. Essa providência já está prevista no procedimento dos
juizados especiais criminais. A intenção do legislador é atingir a celeridade
necessária ao cumprimento da garantia da duração razoável do processo.

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