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Sistemas Produtivos Locais: uma revisão da literatura

Junior Ruiz Garcia 1


Armando João Dalla Costa 2

RESUMO

O desenvolvimento regional tem sido objeto de pesquisa em diversos centros


acadêmicos, tanto nos países centrais como nos periféricos. A busca pela eqüidade
entre as regiões influenciou no surgimento de estudos direcionados ao
desenvolvimento regional. As principais correntes teóricas relacionam o
desenvolvimento regional à competitividade e a organização da indústria local. Estas
investigações resultaram na identificação das vantagens competitivas presentes na
indústria local, principalmente nas estruturas industriais que apresentam uma
aglomeração espacial entre as empresas. No entanto, foi em Marshall (1988 [1920])
que a ciência econômica reconheceu as vantagens de se ter uma da “indústria
localizada”, termo utilizado pelo autor para caracterizar este comportamento.
Decorrido quase um século, o conceito cunhado por Marshall tem suscitado o
surgimento de diferentes conceituações sobre a aglomeração espacial de empresas
como os Clusters industriais, Aglomerados Industriais, Distritos Industriais, Cadeia
Produtiva e Arranjos Produtivos Locais. Cada sistema ou arranjo produtivo acima
citado apresenta características próprias e bastante heterogêneas. Diante destas
considerações, este trabalho tem por objetivo apresentar uma evolução da literatura
econômica acerca dos sistemas produtivos locais. Na elaboração deste estudo são
destacados os trabalhos de autores como Marshall (1920 [1988]), Perroux (1967),
Krugman (1991), Garofoli (1993), Markusen (1994), Langlois e Robertson (1995),
Porter (1998) entre outros. Estes autores apresentaram diversas Tipologias de
Redes de Empresas localizadas na Europa, América e Ásia.

Palavras-chave: Arranjos Produtivos, Clusters, Distritos Industriais, Redes de


Empresas, Inovação.

1
Autor. Universidade Federal do Paraná. E-mail: jrgarcia@estadao.com.br
2
Co-autor. Professor Doutor. Universidade Federal do Paraná
2

INTRODUÇÃO

No atual contexto em que a produção industrial encontra-se organizada,


produção em larga escala e elevado grau tecnológico, contribuiu para a
disseminação dos sistemas produtivos locais, maneira pela qual as pequenas e
médias empresas e determinadas regiões encontraram para elevar sua capacidade
competitiva no mercado. Contudo, um sistema produtivo não se encontra restrito às
pequenas e médias empresas, atualmente as grandes empresas reconhecem as
vantagens da “verticalização” do processo produtivo, na qual organizam seus
processos na forma de cadeias produtivas, que podem assumir caráter local e/ou
global.
A investigação dessa estrutura organizacional da produção remete-nos aos
estudos de Marshall sobre a organização da produção, identificando assim a
formação dos conhecidos distritos industriais. Este autor abriu caminho para o
surgimento de uma vasta gama de variantes a partir do conceito de distritos
industriais, as quais procuram identificar e classificar a formação de aglomerações
produtivas. Durante anos a literatura econômica conseguiu identificar os
aglomerados, principalmente através de análises empíricas da indústria mundial,
dentro da qual foi identificada a presença de relações de confiança entre as firmas e
a introdução de novos agentes no processo produtivo, por exemplo, as instituições
de ensino, o governo, associações de classe entre outras, que contribuíram na
consolidação de novas formas de organização da produção.
Este trabalho tem por objetivo apresentar as principais correntes teóricas que
discutem a formação de sistemas produtivos locais e/ou nacionais. A identificação de
novas definições a respeito da concentração espacial das firmas tem implicação
direta na formulação de políticas industriais. Neste sentido a congregação num único
texto das principais tipologias de aglomerados industriais pode contribuir na
definição da melhor política industrial para determinada região e/ou indústria.
Para a realização deste trabalho será necessário recorrer às origens teóricas
sobre a organização industrial. A revisão da literatura implica num levantamento,
inicialmente histórico, e numa próxima fase analítico das principais investigações a
respeito da concentração espacial das firmas.
O trabalho está dividido em três outras seções além desta introdução. Na
primeira encontra-se a revisão teórica dos distritos industriais marshalliano e suas
3

principais tipologias de aglomeração de firmas, a seção seguinte expõe uma


discussão sobre as principais variantes que não estão diretamente associadas ao
distrito industrial marshalliano, e finalmente na última as conclusões do estudo.

1 DISTRITOS INDUSTRIAIS: PRINCIPAIS VARIANTES

O ponto de partida desta análise remete-nos, primeiramente, aos estudos


empreendidos por (MARSHALL, 1988, p. 223-230) nos quais enfatizou os motivos
que levaram à concentração das firmas em determinada localidade. Este fenômeno
da concentração das firmas ficou conhecido como “indústria localizada”, que
posteriormente, foi caracterizado como distritos industriais. Este autor verifica que
esta alteração no comportamento das firmas esteve, inicialmente, condicionada aos
aspectos físicos da época, tais como, a natureza do clima e do solo, a proximidade
das minas de carvão e de pedreiras e/ou pelo fácil acesso por terra ou mar aos
principais mercados consumidores.
Outro ponto apresentado pelo autor está relacionado à grande vantagem que
a indústria localizada obtém em relação a outras indústrias que não concentram
suas firmas geograficamente. A localização elementar da indústria preparou,
gradualmente, o caminho para muitos dos modernos avanços na divisão do trabalho,
onde se destacam as artes mecânicas e a tarefa de administração das firmas. A
especialização da divisão do trabalho reflete-se na criação de um mercado de mão-
de-obra local mais dinâmico. Contudo, observa-se ainda um maior dinamismo em
outros mercados, como na produção de maquinário, insumos, consumidor etc. A
especialização do mercado de trabalho implica que “os segredos da profissão
deixam de ser segredo, e, por assim dizer, ficam soltos no ar, de modo que as
crianças absorvem inconscientemente grande número deles” (MARSHALL, 1988, p.
231-234). A criação de um fluxo de conhecimento, especialização da mão-de-obra e
do dinamismo de outros mercados que se encontram associados de alguma forma
ao processo de produção, contribuem para uma redução nos custos de produção, e
na elevação da capacidade inovativa 3 das firmas.

3
As chamadas novas combinações que Schumpeter (1988) referiu-se em seus trabalhos, as quais
podem manifestar-se em processos, produtos e na prestação serviços.
4

A concentração espacial das firmas reflete-se no surgimento de


4
externalidades positivas , que contribuíram para o aparecimento das economias
externas, posteriormente, contribuiu para o desenvolvimento do conceito de
eficiência coletiva. As economias externas definidas como ganhos obtidos pelas
firmas que sejam independentes de suas ações 5 , podem, freqüentemente, ser
alcançadas através da concentração de muitas firmas similares. Contudo, o
conceito de economias externas não está restrito a proximidade geográfica, as quais
podem também se manifestar entre firmas e/ou indústrias que se encontram
esparsamente localizadas.
Esses ganhos foram chamados por (SCHMITZ, 1997, p. 165) de eficiência
coletiva, definida como a vantagem competitiva derivada de economias externas e
da ação conjunta “joint action”. As ações conjuntas são classificadas em planejada e
não planejada. Nos trabalhos de BRUSCO (1990), PIORE e SABEL (1984) e
TRIGILIA (1989) citado por (SCHMITZ, 1997, p. 172), a ação conjunta pode
manifestar-se em dois tipos: i) firmas individuais cooperando, por exemplo,
compartilhando equipamentos ou no desenvolvimento de novos produtos; e ii)
grupos de firmas reunindo forças em associações empresariais, consórcios de
produtores entre outros. Este autor associa que os ganhos decorrentes da eficiência
coletiva refletem-se nas externalidades positivas da formação dos clusters 6 ,
destacando que os produtores organizados individualmente raramente alcançariam.
Um distrito industrial pode representar um cluster, contudo, o inverso nem
sempre é verdadeiro, afirma (SCHMITZ, 1997, p. 173). O primeiro termo refere-se a
uma profunda divisão do trabalho que se desenvolveu entre as firmas, implica
também na existência de cooperação, enquanto que o segundo refere-se apenas a
uma concentração setorial e geográfica de firmas.
7
O sucesso apresentado pela “Terceira Itália” chamou a atenção dos
cientistas sociais, que desdobraram o conceito de cluster e incorporaram aos

4
Mercado de trabalho especializado, redução de custos de transporte, proximidade do mercado
consumidor etc.
5
Por exemplo, a infra-estrutura, mão de obra treinada, recursos naturais, informações tecnológicas,
proximidade geográfica entre as firmas, forte relacionamento interfirmas, etc.
6
O termo cluster refere-se apenas a uma concentração setorial e geográfica de firmas segundo
SCHMITZ, 1997.
7
Termo cunhado por Arnaldo Bagnosco começou a ser utilizado no final da década de 1970, está
relacionado à geografia italiana. Naquela época o reduzido progresso econômico do sul da Itália
(Segunda Itália) era visível, o noroeste (Primeira Itália) defrontava-se com uma profunda crise,
enquanto que o nordeste e o centro sul da Itália destacava-se pelo rápido crescimento (SCHMITZ,
1997).
5

atributos dos distritos industriais, destacando ainda suas principais características


como a presença de proximidade geográfica, especialização setorial, predominância
de pequenas e médias firmas, uma relação estreita entre as firmas, competição
baseada na inovação, organizações ativas de apoio e governos regionais e
municipais (SCHMITZ, 1997, p. 174-175). A seqüência de estudos relacionados à
consolidação de sistemas produtivos resultou na formação de uma tipologia
complexa, que procurou identificar as diversas manifestações dos arranjos
produtivos em diferentes países.
O distrito industrial foi caracterizado pela presença de um grande número de
firmas organizadas na forma de ramificações, ou seja, estão ligadas quase que
automaticamente dentro de um organismo. Contudo, a cooperação não era algo
consciente de cada um dos agentes e esta forma destaca-se ainda pela ênfase dada
à especialização da mão-de-obra local, que se mostra altamente flexível. Os distritos
eram vistos como uma maneira das firmas alcançarem as chamadas economias
externas. Diversos autores se concentraram nessa linha de raciocínio, os quais
centraram seus esforços em análises empíricas de indústrias localizadas nos EUA,
Europa e Japão.
A seguir serão apresentadas as principais tipologias que surgiram de análises
que foram empreendidas pelos seguintes autores: GAROFOLI (2002), LANGLOIS e
ROBERTSON (1994) e MARKUSEN (1995).

1.1 GAROFOLI (2002)


(GAROFOLI, 2002, p.225-226) adiciona novos elementos à literatura
econômica sobre distritos industriais. Para o autor, a organização da produção
podem assumir diversas formas, as quais não podem ser reduzidas dualísticamente
(em modelos de eficiência e de ineficiência na organização da produção) ou para
uma distribuição de casos mais ou menos favoráveis a um predeterminado grau
hierárquico. Sendo possível a coexistência de diversos sistemas organizacionais, por
exemplo, uma grande firma verticalmente integrada, uma rede hierárquica de
fornecedores, uma forte ligação sinérgica no ambiente local, uma grande firma
isolada de seu território, um sistema integrado de pequenas firmas ou a propagação
industrial sem a presença de trocas de bens e serviços com agentes externos.
Desta maneira (GAROFOLI, 2002, p. 227), com base nestes pressupostos
amplia a análise referente à organização produtiva dos distritos industriais,
6

permitindo a adoção de novas variáveis 8 (localização, investimento, estratégias) que


auxiliarão na tomada de decisão dos agentes econômicos, associada ao processo
de transformação da economia local e conseqüentemente da economia regional e
nacional. A criação de um sistema social de inter-relações entre as firmas, fluxo de
informação, da reprodução e produção de valores, organiza-se por si só para
permear e caracterizar o modelo de produção. Em outras palavras, o processo de
desenvolvimento adquire características definitivas como um processo social,
refutando o caráter de processo técnico.
Sustentado pelos pressupostos supra citados (GAROFOLI, 2002, p. 227)
reconhece duas dimensões para a organização produtiva: i) o sistema de produção,
as relações entre firmas e a divisão social do trabalho (aspectos tais como métodos
de comercialização das mercadorias e serviços, custos de transação, custos de
produção, dependência e relativa autonomia dos fornecedores); e ii) a base social e
institucional que permite a construção de uma forma específica de organização
(como acordos trabalhistas, coerência nas estratégias das instituições locais,
políticas para suporte e estímulo no nível local, reprodução do conhecimento e dos
valores, investimentos sociais necessários para reproduzir economias externas).
GAROFOLI (1995) citado por BRITTO (2002, p. 365-366), identifica quatro
variantes para o distrito industrial marshalliano:

• Sistema de produção em grande escala (redes verticais), refere-se à


aglomeração espacial de unidades com presença de vínculos fortemente
hierarquizados, que confluem no sentido de grandes empresas
especializadas na montagem de componentes;
• Sistema de pequenas empresas (distritos industriais), representa a
concentração de pequenas empresas do ponto de vista espacial cujos
inter-relacionamentos não se prendem a vínculos hierárquicos, e sim a
práticas de cooperação bidirecionais;
• Produção descentralizada (com presença de empresa dominante),
constitui-se da presença de unidades dispersas do ponto de vista espacial
que, no entanto, mantém sólidos vínculos de dependência hierárquica em
relação à empresa responsável pela montagem de componentes e;

8
Como o aspecto cultural, histórico e fatores sociais.
7

• Acordos cooperativos baseados em alianças estratégicas referem-se à


colaboração entre agentes dispersos do ponto de vista espacial, que
estabelecem entre si práticas cooperativas não-hieraquizadas baseadas
no intercâmbio de informações e na reciprocidade de ações.

1.2 LANGLOIS E ROBERTSON (1994)


Os economistas (LANGLOIS e ROBERTSON, 1994, p. 545) identificam outras
variantes a partir dos distritos marshallianos. As várias estruturas identificadas
mostram-se eficazes para coordenar o fluxo de informação necessário ao processo
inovativo e superam a força adversa dos relacionamentos. Estes autores
examinaram a relação entre inovação e a estrutura da firma e da indústria como
determinante da flexibilidade e escopo das mudanças cruzadas no ambiente, e
chegaram à conclusão de que vários tipos de estruturas organizacionais amparam o
processo de inovação, contudo, dependem principalmente do escopo de inovação e
da relativa maturidade das indústrias envolvidas.
Os autores destacam em suas análises duas dimensões como forma de
organização das firmas, a primeira está associada ao grau de propriedade e a
segunda refere-se ao grau de cooperação da integração.
Identificam ainda diferentes tipos de sistemas organizacionais que descrevem
um distrito industrial, por exemplo, o modelo adotado pela Terceira Itália apresenta
um elevado grau de cooperação. Uma maneira para classificar as diversas
estruturas organizacionais das redes de empresas está associada ao grau de
articulação formal entre os agentes locais. Por meio desta variável os autores
LANGLOIS e ROBERTSON (1995) citados por (BRITTO, 2002, p. 366) destacam
quatros principais sistemas organizacionais das empresas.

• Distrito Marshalliano apresenta uma estrutura com reduzido grau de


propriedade e de coordenação, com tendência à especialização horizontal
e vertical dos recursos de pequenas e médias empresas autônomas;
• Distrito do Tipo “Terceira Itália” apresenta uma estrutura com reduzido
grau de integração de propriedade e elevado grau de coordenação,
caracterizada pela forte especialização horizontal–vertical de pequenas
empresas, a competição entre os agentes restringe-se a campos que
8

geram competências distintas e a presença de cooperação na provisão de


infra-estrutura e serviços;
• Distrito Inovativo do Tipo Venture Capital, destaca-se pela presença de
firmas chave de base tecnológica, coordenação promovida através da
mediação de venture capital, com tendência gradual a consolidação de
propriedade e o crescimento ocorre a partir da capacitação tecnológica
preexistente e;
• Redes Japonesas (Kaisha Networks), estruturas com núcleo bem definido,
caracterizado por uma firma chave (principal) que promove a
coordenação, ênfase em contratos de longo prazo entre os agentes, com
estímulo a confiança e redução dos custos de transação, busca pela
otimização da logística de produção de sistemas do tipo just-in-time, com
possibilidade de interpenetração de propriedade e de conexões financeiras
entre os agentes.

1.3 MARKUSEN (1995)


(MARKUSEN, 1995, p. 14), por outro lado define um pólo ou um distrito
industrial (sticky place) como especialmente bem sucedido assim que cumpridas as
seguintes condições:

i) A obtenção na região, de taxas de crescimento na média ou acima


da média em relação a outras localidades;
ii) A capacidade local de se evitar falências e/ou perdas de postos de
trabalho decorrentes dos efeitos das oscilações de curto e médio
prazo, tanto referente aos ciclos dos negócios e/ou em relação aos
gastos públicos;
iii) A oferta de bons empregos, a contenção das tendências de
segmentação salarial e a prevenção de excessiva concentração da
renda e da propriedade;
iv) A livre organização dos trabalhadores e sua participação nos
processos decisórios das firmas e;
v) O incentivo à participação e a contestação política em âmbito
regional.
9

Para este autor, de acordo com o quadro 01, os distritos industriais


tradicionais referem-se à existência de cooperação entre todas as firmas e agentes
externos, nos distritos centro-radiais (hub and spoke) os agentes organizam-se em
torno de uma firma chave, formando assim eixos de economia regional, ou seja,
congregando em torno de si fornecedores e outras atividades correlatas. As
plataformas satélites são organizadas fora dos centros urbanos, cujo sistema é
estimulado por governos nacionais e/ou estaduais como forma de desenvolvimento
regional, onde as atividades desenvolvidas podem variar desde simples rotinas de
montagem (low-end-cases) até pesquisas sofisticadas (high-end-cases). Por fim os
distritos sustentados pelo governo, os quais os agentes encontram-se organizados
em torno de uma entidade não lucrativa ou pública, seja de base militar,
universidade, um centro de pesquisa ou laboratório ligado ao setor bélico, um
complexo prisional ou uma grande concentração de órgãos públicos, diferencia-se
pelo fato da estrutura de negócios locais não ser caracterizada pela presença de
instituições privadas (MARKUSEN, 1995, p. 15).
Para este autor os distritos industriais marshallianos podem assumir as
seguintes variantes:

QUADRO 1 – TIPOLOGIAS DE ESPAÇOS INDUSTRIAIS


TIPOLOGIA DESCRIÇÃO
Distritos Industriais Centrados na especialização funcional de agentes atuantes em
Marshallianos determinadas regiões, nas quais se destaca a presença de
pequenas e médias firmas.
Distritos Industriais Centro- Estruturada em determinadas regiões, articulando-se em torno de
Radial (Hub and Spoke) uma ou várias grandes firmas pertencentes a uma ou a algumas
poucas indústrias.
Distritos Industriais no formato Constituídos por sucursais ou subdivisões de transnacionais, e
de Plataforma Industrial que tanto podem ter o caráter high tech, quanto meramente se
Satélite basear em filiais atraídas pelos reduzidos salários, impostos e
incentivos.
Distritos Industriais Suportados Estruturados a partir da ação de alguma agência ou empresa
pelo Estado (state centered) estatal como instalações militares e instituições de pesquisa, que
funcionam como âncoras para o desenvolvimento econômico
regional.
FONTE: MARKUSEN, 1995.
10

Observa-se assim que existe uma sobreposição entre algumas das variantes
apresentadas pelos autores acima citados, contudo, a tentativa de sistematização do
fenômeno de concentração das firmas em diversos países contribuiu para o
surgimento de novas correntes teóricas, que procuram explicar e definir os efeitos da
concentração de firmas no contexto atual (globalização dos mercados), e no
planejamento regional.

2 CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DAS FIRMAS: OUTRAS TIPOLOGIAS

Esta seção procura apresentar outras tipologias adotadas para explicar o


fenômeno de concentração espacial das firmas em determinadas regiões. As
principais definições adotadas são os pólos de crescimento (PERROUX, 1967),
cadeia produtiva (PROCHNIK, 2005), Milieu Innovateur (GREMI - Groupe de
Recherche Européen sur les Milieux Innovateurs), clusters (KRUGMAN, 1991; e
PORTER, 1990, 1998) e Arranjo Produtivo Local Rede de Pesquisa em Sistemas
Produtivos e Inovativos Locais (REDESIST/UFRJ).

2.1 PÓLOS DE CRESCIMENTO


O aumento da produção no mesmo ritmo da população, sendo constante os
fluxos de mercadorias e o fluxo dos bens de capital, a economia torna-se a cada
período uma cópia exata da economia no período anterior, isso significa que
somente as quantidades sofrem variações. Contudo, dentro dessas variações ocorre
o aparecimento e desaparecimento de indústrias, possibilitando novas invenções
(inovações) que dão origem a novas indústrias. (PERROUX, 1967, p.143-218)
percebe que o crescimento não surge em toda economia ao mesmo tempo,
manifesta-se com diferentes intensidades em pontos ou pólos de crescimento,
propagando-se por vias diferentes e com efeitos finais variáveis no conjunto da
economia.
Na tentativa de explicar o surgimento de pólos de crescimento (PERROUX,
1967, p.143-218) introduz na discussão a expressão “complexos industriais”, a qual
refere-se a três elementos básicos: i) indústria-chave; ii) o regime não concorrencial
do complexo; e iii) o fato da concentração territorial. A indústria-chave surge quando
um aumento do volume de produção (mercadorias e serviços) de várias indústrias,
ou seja, dado uma elevação na produção da firma chave toda a indústria ou setor
11

eleva sua produção. No entanto, as indústrias que fornecem mercadorias


complementares à indústria-chave podem em algum determinado período tornar-se
uma indústria-chave. O regime do complexo de indústrias pode criar um monopólio
parcial, o qual tem condições de “impor” um acordo às pequenas firmas satélites.
Ocorre que no longo prazo o acordo resultará na organização das firmas em torno
de uma firma leader. Essa firma elevará a produtividade de toda indústria, realizando
assim uma acumulação de capital mais eficiente do que se a indústria fosse regida
por um ambiente concorrencial. A concentração territorial conduz a intensificação
das atividades econômicas como resultado da proximidade das firmas e aos
contatos humanos, deste modo, surgem e encadeiam-se necessidades coletivas
como transportes, serviços etc. implicando, portanto, no surgimento dos pólos de
crescimento.
(PERROUX, 1967, p.143-218) define os pólos de crescimento como abstract
economic space, entretanto, nega que este conceito corresponda a um espaço
geográfico como uma cidade ou região. Segundo o autor o conceito corresponde à
dominância de uma grande firma ou indústria sobre outras firmas ou indústrias,
acentuando assim os aspectos de interação entre as firmas, ou seja, refere-se a uma
menor importância ao espaço geográfico como determinante das interações entre as
firmas e parte para o “domínio” das grandes firmas ou indústrias sobre o fluxo de
bens interfirmas.
Os pólos de crescimento apresentam certa semelhança com as formas
adotadas por MARKUSEN (1995), LANGLOIS e ROBERTSON (1994), entretanto
este formato de organização abre novas possibilidades de análise dos efeitos
decorrentes da aglomeração das firmas em determinada região. Por outro lado,
constata-se, que este autor considera as interações entre as firmas o ponto principal
para a caracterização dos pólos de crescimento.

2.2 CADEIA PRODUTIVA E COMPLEXO INDUSTRIAL


Outro formato que contribui para a caracterização dos sistemas produtivos é
conhecido na literatura como cadeia produtiva, este tipo de organização da produção
resulta da crescente divisão do trabalho e da maior interdependência entre os
agentes econômicos. As cadeias produtivas são criadas inicialmente através do
processo de desverticalização da produção e pela especialização técnica e social.
Contudo, as pressões competitivas por uma maior integração e coordenação das
12

atividades, ao longo da cadeia, ampliam a articulação entre os agentes (PROCHNIK,


2005, p. 1).
As cadeias produtivas apresentam três importantes aspectos: i) um conjunto
de etapas consecutivas; ii) divisão do trabalho; e iii) não se restringem,
necessariamente, a uma mesma região ou localidade. Com bases nestes aspectos a
cadeia produtiva pode ser definida como o encadeamento de atividades econômicas
através das quais circulam (transformados e transferidos) diversos insumos,
incluindo desde as matérias-primas, máquinas e equipamentos, produtos
intermediários até os fins, ou seja, sua distribuição e comercialização. Esse formato
organizacional pode ser identificado a partir de análises das relações interindustriais
expressa em matrizes de insumo-produto. Outro fato a ser destacado está
relacionado à possibilidade de encontrarmos cadeias produtivas inseridas dentro de
arranjos produtivos, ou mesmo podendo assumir uma maior abrangência espacial
como de âmbito nacional ou mundial (CASSIOLATO e LASTRES, 2005, p. 6).
As cadeias produtivas podem ser segmentadas numa cadeia produtiva
empresarial, onde cada etapa do processo é representada por uma empresa ou por
um conjunto de poucas empresas que participam de um acordo de produção.
Considerando um nível mais agregado de cadeia produtiva, encontram-se as
cadeias produtivas setoriais, as quais referem-se a etapas nas quais participam
setores econômicos e os intervalos são mercados entre setores consecutivos. Outro
fato que deve ser considerado nos estudos referentes à formação de cadeias
produtivas é a possibilidade de entrelaçamento das cadeias. Dito isso, as cadeias de
uma economia nacional podem ser agregadas em conjuntos, ou blocos. E os blocos
que derivam do entrelaçamento de cadeias produtivas são conhecidos como
complexos industriais (PROCHNIK, 2005, p. 1).

2.3 MILIEU INNOVATEUR

Outra forma de organização da produção que tem sido discutida na literatura


é o conceito de Milieu Innovateur, que foi inserido por iniciativa do GREMI (Groupe
de Recherche Européen sur les Milieux Innovateurs), e procura desenvolver um
enfoque comum que permitisse uma análise territorializada do processo de
inovação, enfatizando o papel do ambiente ou meio (milieu) no processo de
desenvolvimento tecnológico (CASSIOLATO e LASTRES, 2005, p. 15-16).
13

O conceito tem sua origem na idéia da natureza endógena do território no


processo de inovação. É importante enfatizar que esta abordagem leva em
consideração alguns tipos de fatores ligados aos aspectos culturais e fatores
territoriais (locais), assim como a combinação destes elementos cria um sistema de
externalidades, desenvolvendo um ambiente no qual estimula a inovação e o
aprendizado (ENRICO e GRANDI, 2005, p. 3-5).
O Milieu Innovateur pode ser definido como um conjunto de elementos
materiais (firmas e infraestrutura), imateriais (conhecimento) e institucionais (regras
e estrutura legal) que compõem uma complexa rede de relações direcionadas à
inovação. Neste conceito a firma não é considerada como um agente isolado no
processo de inovação, mas um importante elemento de um ambiente sistêmico com
capacidade inovativa. Este conjunto de elementos e relacionamentos é representado
por vínculos entre firmas, clientes, organizações de pesquisa, sistema educacional e
demais autoridades que interagem de forma cooperativa (CASSIOLATO e
LASTRES, 2005, p. 15-16).
Neste aspecto a abordagem sobre Milieu Innovateur preocupa-se mais com
as relações que emergem interfirmas e outros agentes do ambiente do que com a
natureza dos fluxos produtivos. Ou seja, esta perspectiva enfatiza a importância do
ambiente local no dinamismo tecnológico de aglomerações industriais. As análises
sobre Milieu Innovateur recaem sobre os relacionamentos entre firmas e seu
ambiente e, particularmente, sobre as formas de organização dessas relações, as
quais são estruturadas em torno de três espaços funcionais: i) o espaço de
produção; ii) espaço de mercado; e iii) espaço de apoio. Este último que habilita as
firmas a enfrentarem as incertezas inerentes ao ambiente de competição na medida
em que ele determina as relações entre a inovatividade das firmas e o
desenvolvimento territorial (VARGAS, 2002, p. 57).
Este modelo abre espaço para uma discussão em relação à formação do
sistema nacional de inovação, pois, a ênfase nos relacionamentos entre os agentes
internos e externos à indústria sugere uma proximidade conceitual entre os termos.
Entretanto, este modelo apresenta alguns aspectos que vão além das características
de um sistema nacional de inovação, como visto anteriormente.
14

2.4 CLUSTERS
O crescente interesse da comunidade acadêmica pelos clusters,
principalmente, em relação à compreensão de aspectos associados à aglomeração
de firmas e relacionado aos fornecedores e serviços industriais, pode ser traçado
para um grande número de alterações no ambiente competitivo da firma, tornando-
se crescentemente evidente no final da década de 1970 e 1980.
Os clusters referem-se a muitas formas organizacionais, onde cada uma
apresenta uma única trajetória de desenvolvimento, princípios organizacionais e
problemas específicos, originam-se como aglomerações espontâneas das firmas ou
os agentes locais são induzidos através da formulação de políticas públicas a se
organizarem na forma de clusters (FARINELLI e MYTELKA, 2000, p. 11).
Os primeiros estudos relacionados ao conceito de cluster foram
empreendidos por (KRUGMAN, 1991, p. 484-485), que utilizando os trabalhos de
Marshall procurou identificar a natureza das externalidades que conduzem a
concentração de uma indústria em particular. Contudo, neste trabalho Krugman
destacou a geração de economias externas mais do que especificamente a
concentração das indústrias, chegando à conclusão de que a formação do cluster
estaria associada somente à geografia econômica, a qual definiu como a simples
concentração de firmas numa determinada região.
Na tentativa de explicar a competitividade das firmas e dos países a partir de
aspectos locacionais PORTER (1990, 1998), associou a existência de clusters a
fatores virtualmente econômicos de caráter nacional, regional e metropolitano. As
firmas continuamente estão criando vantagens competitivas, dessa forma, o que
acontece dentro da firma torna-se um fator importante, mas os clusters revelam que
o ambiente externo tem um papel vital. Um cluster representa uma nova maneira de
se pensar sobre a situação locacional, desafiando a convencional estrutura
organizacional das firmas, e como as instituições podem contribuir para o sucesso
competitivo e como os governos podem promover o desenvolvimento econômico.
Para (PORTER, 1998, p. 78-79), os clusters são definidos como
concentrações geográficas interconectadas entre firmas e instituições numa
particular forma de competição. Este modelo inclui, por exemplo, fornecedores
especializados (insumos e componentes, máquinas, serviços) e de uma
infraestrutura específica, a interação existente nos clusters podem ser estendidas
aos consumidores e horizontalmente a produtos complementares manufaturados e
15

firmas que se encontram relacionadas por suas capacitações tecnológicas e/ou


insumos em comum, os governos e instituições como universidades, agências
reguladoras, centros de profissionalização e associações comerciais que
providenciam treinamento especializado, educação, informatização, pesquisa e
suporte técnico. Os clusters são capazes de promover a coexistência entre
cooperação e competitividade, porque ambos ocorrem sobre diferentes dimensões
entre os agentes. Um cluster representa uma forma alternativa de se organizar uma
cadeia produtiva, pode ainda afetar a competitividade por meio de três diferentes
formas: i) elevação da produtividade das firmas; ii) pela direção e compasso da
inovação; e iii) estimulando a formação de novos negócios.
Os estudos de PORTER (1990, 1998) enfatizam, principalmente, o aspecto da
rivalidade entre as firmas, como estimulador da competitividade, do que nos
processos de cooperação, aprendizado e capacitação, esses elementos podem ser
percebidos pela hipótese de coexistência entre cooperação e competição entre os
agentes.
Com o objetivo de distinguir entre produtores dispersos geograficamente e
setorialmente (SCHMITZ, 1997, p. 169), identificou os clusters de pequenas
empresas, o qual definiu como a concentração geográfica das firmas setorialmente.
Este formato organizacional da produção permite amplas oportunidades para a
divisão do trabalho dentro das firmas e, portanto, a especialização e a inovação,
elementos que são essenciais para competir fora dos mercados locais. A formação
dos clusters torna possível os ganhos de eficiência que produtores individuais
raramente conseguem alcançar. Contudo, Schmitz procura em seu trabalho mostrar
que os ganhos não resultam, necessariamente, da formação dos clusters, pois, essa
organização traz poucos benefícios. A postura adotada pelo autor decorre pelo fato
de que a formação de um cluster, e especialmente a proximidade geográfica é
menos crucial para grandes firmas, pois estas podem internalizar muitas funções.
(SCHMITZ, 1997, p. 169-173) sugere que a formação de clusters poderia
deixar uma cidade ou região vulnerável a alterações exógenas de produto e
tecnologia, pois, considera que uma indústria local mais diversificada é menos
vulnerável a choques externos. Contudo, essa indústria torna-se menos apta a
captar os ganhos de eficiência advindo da concentração geográfica e setorial.
16

2.5 ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS


Os estudos que procuram caracterizar um Arranjo Produtivo Local (APL)
resgatam a mesma fonte teórica, os distritos marshallianos. Contudo, o conceito de
APL abrange alguns aspectos que contribuem para uma eficiência maior do
aglomerado, que outros modelos deixaram de lado.
A literatura considera como Arranjo Produtivo Local (APL) a integração ou
organização entre pequenas e médias firmas e/ou a presença de cooperação
relacionada à atividade principal do conjunto dessas firmas. A interação ou a
cooperação pode se estender até às instituições de ensino, associações de firmas 9 ,
aos concorrentes, aos fornecedores, aos clientes e também ao governo (CAMPOS,
2004, p.58-62). Os sistemas locais de produção podem assumir diversas
caracterizações, as quais dependem de sua história, evolução, organização
institucional, contextos sociais e culturais nos quais se insere, estrutura produtiva,
organização industrial, formas de governança, logística, associativismo, cooperação
entre os agentes, formas de aprendizado e grau de difusão do conhecimento
especializado local.
Uma definição mais precisa foi adotada pela Rede de Pesquisa em Sistemas
Produtivos e Inovativos Locais (REDESIST/UFRJ), a qual definiu os sistemas locais
de produção e inovação como sendo “aglomerados de agentes econômicos,
políticos e sociais, localizados num mesmo território, que apresentam vínculos
consistentes de articulação, interação, cooperação e aprendizagem, incluindo não
apenas firmas (produtoras de bens e serviços finais, insumos e equipamentos,
prestadoras de serviços, comerciantes, clientes etc. e suas diversas formas de
representação e associação), mas também outras instituições públicas e privadas
voltadas à formação e treinamento de recursos humanos, pesquisa,
desenvolvimento e engenharia, promoção e financiamento”. A Redesist adota o
conceito de Arranjos Produtivos Locais (APL’S), para identificar os sistemas que
ainda não estão inteiramente constituídos, refere-se a aglomerações produtivas
cujas articulações entre os agentes não é suficientemente desenvolvida para
caracterizá-las como sistemas (SUZIGAN, FURTADO, GARCIA e SAMPAIO, 2003,
p. 1-2).

9
Como associações comerciais e sindicatos.
17

Dentro da estrutura organizacional de um APL podem surgir algumas


variantes, assim os autores (SUZIGAN, FURTADO, GARCIA e SAMPAIO, 2003, p.
2-3) propõem uma tipologia para os sistemas locais, que envolve a combinação de
duas variáveis: a importância da atividade econômica para a região e a importância
da região para o setor 10 .

QUADRO 02 – TIPOLOGIA DE SISTEMAS LOCAIS DE PRODUÇÃO DE ACORDO


COM SUA IMPORTÂNCIA PARA A REGIÃO
IMPORTÂNCIA PARA O SETOR
Reduzida Elevada
Elevada Vetor de Desenvolvimento Núcleos de
Local Desenvolvimento
IMPORTÂNCI
setorial-regional
A LOCAL
Reduzida Embrião de Arranjo Vetores Avançados
Produtivo
FONTE: SUZIGAN, FURTADO, GARCIA e SAMPAIO (2003).

A dupla importância dos sistemas produtivos para uma região e para o setor a
que pertencem torna-os Núcleos de Desenvolvimento Setorial-Regional. Ao lado
destes, existem aqueles que possuem enorme importância para o setor (manifestada
através de sua participação na produção e no emprego), contudo, estão dissolvidos
num espaço econômico muito maior e mais diversificados, significa que são
importantes para o setor, mas não para o desenvolvimento regional, os quais são
designados pela expressão Vetores Avançados. Por outro lado, se os sistemas
produtivos são importantes para um setor, mas não para uma região, são
conhecidos como um Vetor de Desenvolvimento Local, e se o sistema é
caracterizado pela reduzida importância para o seu setor, além de conviver com
outras atividades econômicas na mesma região, este tipo constitui um Embrião de
Arranjo Produtivo (SUZIGAN, FURTADO, GARCIA e SAMPAIO, 2003, p. 2-3).
A formação de APL’S contribui, portanto, para uma elevação da capacidade
produtiva e competitiva das firmas, além de contribuir para uma redução nos custos,
ou seja, a obtenção local de economias de escala. Por exemplo, a compra de

10
O primeiro é mensurado através do índice de especialização e o segundo pela participação da
microrregião no total.
18

insumos em conjunto pelas firmas, as parcerias entre as montadoras de automóveis


para reduzirem os gastos na compra de insumos produtivos (IGLIORI, 2001, 29).
Outro efeito positivo relacionado ao surgimento dos APL’S é a capacidade de
acumulação e transferência de conhecimento entre as firmas locais. O acúmulo de
conhecimento representa numa maior quantidade de informação disponível aos
empresários, derivada do conhecimento adquirido pela mão-de-obra local. As
informações disponíveis as firmas terão impacto direto nas decisões de
investimentos, tanto referentes a novos mercados quanto ao lançamento de novos
produtos ou mesmo mudanças nos processos produtivos. O APL contribui para a
redução do custo individual das firmas na aquisição das informações e do
conhecimento. Quando várias firmas se localizam na mesma região a informação se
transfere com maior facilidade. (MATOS, 2004, p. 13). Essa transferência pode
ocorrer via formal, ou seja, a troca de informações diretamente entre as firmas na
forma de parcerias, ou pela via informal, por exemplo, em reuniões informais entre
diversos trabalhadores. A redução entre as distâncias físicas e tecnológicas contribui
ainda para a aceleração do processo de inovação das firmas. Diante dessa
afirmação a integração entre o processo inovativo e o mercado de mão-de-obra
constitui-se de extrema importância na formação dos APL’S. O conhecimento e a
disponibilidade de mão-de-obra capacitada contribuem para a formação de APL’s,
principalmente em regiões onde ocorre à concentração de pequenas firmas.

CONCLUSÃO

Este trabalho procurou apresentar as principais variantes dos distritos


marshallianos, destacando os conceitos que foram utilizados em trabalhos
empíricos, que buscam as diferenças entre a competitividade das firmas,
apresentando como as externalidades que surgem a partir da concentração espacial
que modificam a economia como um todo, esta prática verifica-se através da
especialização do trabalho e do surgimento da eficiência coletiva, que favorecem
ainda a construção de ambiente dinâmico direcionado à amplificação do processo
inovativo local.
A tentativa de elaborar um quadro tipológico a partir dos distritos industriais
marshallianos, expressa a preocupação dos autores em entender as diferenças
19

existentes entre indústrias semelhantes que, no entanto, divergem


consideravelmente no aspecto competitivo.
De modo geral, a identificação e caracterização das diversas formas de
organização estrutural da produção local e/ou nacional e até mesmo mundial
(cadeias produtivas) entre as firmas podem ser de grande valia para que a política
industrial seja direcionada à construção de um ambiente sistêmico capaz de elevar a
competitividade das firmas.

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