Você está na página 1de 13
2. A Representacao Social do trabalho penoso Leny Sato Partem da medicina do trabalho e da engenharia de seguranca algumas categorias jA tradicionalmente que visam compreender a relagdo entre con- digdes de trabalho e satide, guiar estudos bem como instrumentalizar as agdes concementes a satide dos trabalhadores. Sio rabalho Insalubre é de que ele diz respeito aquelas condigées de trabalho que provocam doengas e intoxi- cages; por sua vez, o Trabalho Perigoso diz respeito condigdes que geram acidentes de trabalho! Além delas, uma terceira expressao existente, po- rém menos debatida ¢ utilizada no Brasil para nominar expressdes da relagiio satide e trabalho, 6 0 trabalho pe- oso. Embora conste como figura juridica, no ha uma clara definicao quanto ao seu entendimento. Apenas 1. A partir de uma concepgio particular sobre essas eategorias, no Br cexistem normas legais visando prevenir a ocorréncia desses agravos 3s de, beneficiar aqueles lores que expoem-se na trabalho ao zisc0 &, inda, indenizar os casos confirmados de cloenga e acidentes. AREPRESENTACAO JALDOTRABALHOPENOSO 189 sao citadas as atividades profissionais consideradas penosas: mineiros, motoristas e cobradores de énibus, motoristas ¢ ajudantes de caminhao, motoneires e con dutores de bonde, professores ¢ telefonistas’. Quanto aos estudos sobre satide do trabalhador, identificou-se que est também ausente uma definicso conceitual, 0 que possibilita a coexisténcia de varios entendimentos quanto ao que seja o trabalho penoso.O primeiro deles, que engloba a grande maioria dos estu- dos, afilia-se ergonomia e & fisiologia do trabalho. Para esses estudos, o “trabalho penoso” est presente naquelas atividades profissionais que exigem esforco fisico e, para estuda-las, empregam-se métodos para avaliar a freqiiéncia cardiaca, o consumo de oxigénio, 0 gasto de energia. Nessa perspectiva encontram-se os estudos de Anderson (1986), Astrand (1988), Koskela e cols. (1983), Undeutsch e Gaertner (1982), dentre varios outros. Na segunda tendéncia, encontram-se os estudos que apontam 0 sofrimento mental como a expressiio da penosidade do trabalho. Nela encontram-se os estudos de Cooper e Sutherland (1980) e Dejours (1980). Para Dejours que desenvolveu os estudos da psicopatologia do trabalho empregando referencial psicanalitico vi- sando estudar a relagao entre psiqué e trabalho, o tra- balho recebe a adjetivagao “penoso” quando suscita vivéncias de sofrimento psiquico, motivo pelo qual co- letivos especificos de trabalhadores constroem defesas também coletivas para 0 enfrentarem. Nessa perspecti- va, a vivéncia é que merece ser adjetivada como “pe nosa”, dado que ela é de sofrimento. Dejours entend ser a organizacao do trabalho © eixo sobre 0 qual deva 2, Consta na lei no. 3.807 de 1960 da ia Especial, regulamentada pelo decreto no. 1989 e regulamentada pelo decreto n° 99.351 de 1990. Na Constituigio ecleral de 1988 estd previsto 0 direito & percepgao do adicional de rem eragio por atividades penosas, mantendo-se 0s adicionais por atividades perigosas ¢ insalubees. 190 OCONHECIMENTONO COTIDIANO a Psicopatologia do Trabalho debrugar-se para enten- der a relagdo entre psiqué e trabalho, Como variante dessa segunda abordagem, Seligman Silva (1986) e Dessors (1985) pontuam que a penosidade do trabalho provoca simultaneamente o sofrimento mental e fisico. F importante ressaltar que os diversos estudos, na sua grande maioria de pesquisas empiricas, dos quais apenas alguns foram aqui citados, nao tém por objetivo conceituar a expresso “trabalho penoso”, muito em- bora seja possivel aprender a que remete a adjeti io de condigées de trabalho, esforcos ¢ vivéncias como “penosas” Além desses estudos, quando Oliveira (1971), re- presentante do Sindicato dos Condutores de Veiculos e Anexos de Nova Iguacu (RJ), propunha a criagsio do adicional de penosidade em beneficio dos motoristas profissionais, por considerar que a sua condigio de tra balho era geradora de sensagées de clesconforto, pres: sao, incdmodo e sofrimento fisico ¢ menial, caracte: rizava ainda © trabalho dos motoristas profiss como “desumano e forcado” (p. 314). Além do significado do “trabalho penoso” alr do por legisladore: balla dor ¢ representante sindical, hi ainda aquele atribuido pelos proprios trabalhadores. £ nessa perspectiva que sionais fe sentagao Social, cuja teoria encontra-se descrita no ea” pitulo a cargo de Pereira cle $4, neste liveo. Além disso, apreender 0 significado do « © “trabalho peno- so” através do conhecimento pratica implicou enfocar © cantetido ou produto das Representacdes Sociais, como referido por Spink, em capitulo sobre o estudo empirico cas Representagdes Sociais, neste livro, na~ quilo em que remete ao caréter penoso do trabalho, 0 que consistiu em investigar de que forma aquilo que pode ser chamado de “penosidade” manifesta-se na | AREPRESENTACAOSOCIALDOTRABALHOPENOSO 191 maneira como 0s trabalhadores constroem seu mundo. Nao se queria saber 0 que eles pensam sobre “a “penosidade”, mas sim se ela existe para eles. Dessa forma, esse estudo voltou-se para a busca da légica do conhecimento pratico, cujas formas de expressao aqui utilizadas foram alinguagem e as'praticas (0 fazer no dia-a-dia de trabalho). O trabalho de campo e a andlise dos dados Para dar conta do objetivo proposte, poder-se-ia adotar como base empirica trabalhadores de uma ou mais categorias profissionais. Optou-se por concentra la em uma categoria especifica, de modo que permi- tisse maior aprofundamento ¢ melhor compreensio da linguagem e do trabalho em si. Poder-se-ia tam- bem escolher, dentre as vérias calegorias profissionais existentes, qualquer uma, mas a opgio pela categoria dos motoristas de Gnibus foi pautada em fungao de ser ela uma das contempladas na lei de aposentadoria especial por penosidade e também por ter sido um representante do sindicato dos motoristas a reivindi- car a criagao do adicional de penosidade, o que levou a pensar que existem condicées propicias para esse estudo. O método de coleta de dados seguiu uma trajeté- ria que possibilitou entrar no mundo de trabalho dos motoristas de énibus urbano, de modo a conhecer sta organizacao, as praticas no trabalho e a linguagem em- pregada para se referirem ao trabalho. Denire as varias empresas de transporte urbano existentes no municf- pio de Sao Paulo, escolheu-se uma, na qual, tanto a diretoria de recursos humanos quanto a diretoria do sindicato da categoria permitiram a realizacao do estu- do. Dentre as suas varias garagens, escolheu-se uma a partir da indicacao coincidente de um dirigente sindical e de um profissional de recursos humanos da 192. 0. CONHECIMENTONOCOTIDIANO empresa. Essa garagem foi indicada por ser uma das maiores da empresa, comportar um niimero maior de linhas e por considerarem haver ai maior variedade de contextos de trabalho, scolhida a garagem, o primeiro passo consistiu em apresentar a proposta de pesquisa ao chefe da gara- gem, A Comissao Interna de Prevengao de Acidentes (CIPA) e.& Comissao de Garagem e, posteriormente, ao coletivo de trabalhadores. Com duragio aproximada de quatro meses, o trabalho de campo iniciou com ob- servagao € Conversas na garagem, periodo no qual foi possivel conhecer a divisao de setores, funcdes existen- tes e, genericamente, a organizagao do trabalho dos operadores (motoristas e cobradores). Também, nesse periodo, foi possivel identificar que os operadores tém uma linguagem propria que empresta palavras do por- tugués correntemente falado, mas cujo significado par- cular, criado para se referirem ao trabalho 6, por yezes, bastante distinto daquele que costumeiramente se emprega na comunicagdo. Neste primeiro momento _xfoi possivel proceder a um pequeno levantamento de indicagoes de linhas consideradas por eles como bons ¢ outras como ruins. Essa qualificagao das linhas possibi- lou apreender, ainda que superficialmente, uma de- mareagdo de tipos de relagées do motorista com os contextos de trabalho, quer sejam essas sentidas como boas ou como ruins Posteriormente, o trabalho de coleta de dados consistiu em-acompanhar o dia-a-dia de trabalho dos motoristas em duas linhas de dnibus, sendo uma delas indicada como boa e a outra indicada como ruim. O acompanhamento consistiu em permanecer junto a um motorista durante toda a sua jornada de trabalho, des- de o momento em que ele iniciava o seu dia de traba- Iho, passando pelo intervalo para refeigao até a entrega do carro na garagem ou para outra dupla de operado- res, Nesta elapa, com duragao média de trés meses, foi posstvel compartilhar a vivéncia dos trabalhadores no AR NTAGAO SOC ABALHOPENOSO 193 be trabalho. Nessa condigao 6 possivel conhecer e enten- der a linguagem criada e adotada bem como as prati- cas e seu contetido significativo. m todas essas etapas os dados foram registrados através de um diario de campo. Como tltima técnica de coleta de dados utilizou- se a entrevista semi-estruturada, realizada com oito motoristas, que permitiu aprofundar ainda mais a compreensdo de varios aspectos do trabalho em si eda linguagem jé identificados como importantes para 0 al- cance do objetivo da pesquisa. Seu roteiro foi elabora- do com informacées colhidas no decorrer do trabalho de campo até entao desenvolvido. A escolha dos oito entrevistados seguiu o seguinte critério: quatro moto- ristas de cada linha, distribuidos nos diferentes perfo- dos de trabalho, minimo de trés anos de exercicio da profissao de motorista de énibus urbano. Essas entre- vistas foram gravadas e posteriormente transcritas. A (linguagend foi analisada mediante técnica de andlise de contetido que possibilitou, através de proce- dimento de “vigilancia critica” (Bardin, 1988: 28), apre= ender significados comuns, subjacentes a diversidade aparente dos discursos, ou recuperar a presenga perdi- da, como quer’ Lefebvre(1983). liste trabalho de garim- pagem continua foi iniciado pela construgio de um diciondrio de palaoras-indic@de penosidade, motivada pela constatagao de que o adjetivo “penoso” nao fazia parte do vocabularie empregado pelos motoristas, sen- do utilizado apenas quando diretamente questionados sobre ele. As palavras-indice sao expressdes extraidas da linguagem criada pelos motoristas que qualificam vivéncias de sintonia com o trabalho, como conforté- veis, incmodas, de sofrimento, dentre outras. Além deste critério, o que levou a destacar determinadas ex- pressdes como palavras-indice foi também a identifica- do anterior de que o adjetivo “penoso” remete a situagdes de desconforto, pena, sofrimento e castigo. Em suma, elas indicam tipos de sintonia entre 0 traba- 194 ‘0 CONHECIMENTONOCOTIDIANO Ihador e 0 seu trabalho. Sao expresses empregadas ou criadas pelos motoristas para identificar situagées ¢ re- lages, para avaliarem e se posicionarem frente ao tra- balho*. ‘As palavras-indice levaram a focalizacao de frag- mentos dos discursos, de modo a que se detectasse os tipos de relagdo motorista-trabalho que mereciam de- terminadas nominagées e adjetivagdes. Esse procedi- mento, estendido para o conjunto do material discursivo, levou-a que se identificasse categorias es- senciais que nucleavam a caracterizagaio do conceito de “trabalho penoso” a partir do conhecimento pratico. Por sua vezcas pratica’ foram analisadas tanto no sentido de reconstruir o trabalho do motorista de éni- bus urbano, como no sentido de captar o significado da penosidade do trabalho através do contetdo significa tivo de praticas especificas. Linguagem e praticas foram mutuamente explica- tivas no proceso global de andlise. Os métodos do conhecimento pratico A construgio das Representagdes Sociais sobre 0 trabalho, ao menos naquile que se refere A penosidade, baseada em dois métodos. O primeiro mereceu a de- nominacdo deepidemiologia do senso comum”) pois lida basicamente ‘com indicadores de conforto e de 3. O conjunto de palavras-indice obtido englobou as seguintes: inka pesa- a, linha problemitica, linha roblema/espinho, trabalho Fuizn, , desumano, trabalho muito pesado, trabalho duro de agiientar, profissio muito sacificada, facil de tabalhar, muito i , desgasta/desgasta demais, cansa/cansa de- mais, nervoso/nervosismo/sistema nervoso/nervo abalade, castigo, so- fret, sacrificio, forga muito /forga demais, transpassar, esquentar a cabeca, trabalhar brincando, misturar, gastar muito, dentre outras, AREPRESENTAGAOSOCIALDOTRABALHOPENOSO 195, satide em relagao ao trabalho, é construida com base na observacéo e na troca de informacoes. A epidemiologia trabalha sobre dados de grupos populacionais ~ indicadores de satide — no sentido de medir satide, tal como distribuigao e tipos de doengas na populagéo; a unidade de andlise para a epidemiologia é a populacio e nao o individuo, dado que existem fenémenos passiveis de apreensao e com- preensao apenas em grupos populacionais (Forattini, 1976). A epidemiologia pratica também adota como unidade de anélise 0 grupo ~ motoristas — cujo com- portamento frente a determinados contextos de traba- tho é mostra indireta da relago de sintonia com o trabalho. Assim, 0 absentefsmo, a recusa ou a solicita- do para trabalhar em determinadas linhas e a rotatividade de motoristas so indicadores de aproxi- maciio ou de evitacao do trabalho, comunicando assim probabilidades de cada motorista individualmente ex- perimentar conforto ou desconforto nas linhas evitadas ou procuradas. Também, a epidemiologia do Senso ‘Comum traga um perfil de morbidade com as doengas mais prevalentes dentre os motoristas que, exceto pela auséncia do dimensionamento numérico, coincide com | perfis delineados em estudos epidemiolégicos condu- zidos junto a essa categoria profissional (Betta, 1985;! Cippat, 1972; Netterstrom, 1981; ¢ Netterstrom e Laursen, 1981). Esses indicadores, apesar de nao expressos nume- ricamente, so quantitativos; quantidade essa extraida pela nogao de repeticao do evento no grupo e expres- sos pelo emprego de advérbios de intensidade ou de outras designagdes de quantidade como muito, bastan- te, demais, pra caramba, A epidemiologia do senso comum configura-se em um conhecimento pratico que cria predisposigao em procurar determinadas linhas de énibus e a evitar outras, mesmo nao havendo a vivéncia direta nesses contextos, 196 OCONHECIMENTO NO COTIDIANO. Osegundo métode adotado pelos motoristas para onstruir 0 seu conhecimento sobre a penosidade foi lenominada “subjetivo-existencial”) pois pressupde a véncia do motorista no trabalho. Nele, a unidade de nalise é a relagao particular, individual, do trabalha- lor com seu trabalho, a relagio entre condigdes objeti- as e disposigdes subjetivas. A avaliagao pautada na vivéncia nem sempre co- incide com os achados da avaliagao do trabalho obti- dos pela troca de informagoes ¢ pela observacao. Isso porque os indicadores lidam com a tendéncia do com- portamento do grupo e nao com as particularidades, ou seja, ele aponta para a probabilidade de que a rela- So entre trabalhador e contexto de trabalho seja boa ou ruim, mas nao tem 0 poder de prever com certeza qual sera a vivéncia de cada trabalhador individual- mente em cada contexto. Ambos 05 métodos sio complementares pois, se de um lado, a epidemiologia do senso comum de tendéncias e probabilidades de ocorréncia de compor- tamentos de aproximagao — evitagdo dos motoristas em relagéo a determinados contextos de trabalho —, de ou- tro, 0 subjetivo-existencial elucida os mecanismos que conduzem a esta aproximagio e evitacdo, bem como seu funcionamento, suas motivagées e ocorréncias, vis~ to que, através da andlise dos dados obtides por esse método, é possivel apreender a esséncia do conheci mento pratico sobre o trabalho penoso. O conhecimento pratico sobre o trabalho penoso Inicialmente constatou-se que aquilo que era bom para uns no o era para outros, inclusive pelos mesmos motives. Essa diversidade, como aponta Spink (1979), nao ocorre s6 em relac&o aos fatores identificados mas também ao peso que cada pessoa atribui a cada um ARE ENTACAOSOCIALDOTRABALHOPENOSO 197 deles. Porém, subjacente a diversidade que se encon- trou nos motivos, que tornam determinados contextos de trabalho bons ou ruins, identificou-se 0 nticleo do significado do trabalho penoso para os trabalhadores. Nessa perspectiva, trabalho penoso diz, respeite 10s contextos de trabalho geradores de incdmodo,/ forco e sofrimento fisico e mental, sentido como lemasiados, sobre os quais o trabalhador nao tem con- ole. Ofcontrole Sobre 0 trabalho é um dos aspectos ja lentificados em varios outros estudos como um dos rincipais requisitos para que o trabalho seja saudavel. stavsen (S/d) considera relevante a possibilidade de © trabalhador exercer controle sobre o trabalho pois isso “contribui positivamente para a redugio da insa- tisfagio, doengas mentais etc... (...) torna as pessoas mais capazes de agiientar e lidar com praticamente to- dos os problemas estressantes do ambiente de traba- Iho. O controle torna as pessoas capazes de enfrentar 0 A familiaridade A familiaridade 6 um processo de aproximagao gradativa com 0 trabalho, possibilitado mediante a construgao de um conhecimento especifico dos prépri- 08 trabalhadores. A essencialidade desse aspecto para a compreenséo da penosidade do trabalho é indubitavel, dado que os motoristas relatam experién- cias de trabalho associadas ao sofrimento quando do ingresso na profissio: “Ah, a pessoa fica nervosa por- que ela passou a motorista esses dias, entio a pessoa fica com medo de andar, nao tem experiéncia, nao tem 198 OCONHECIMENTONO COTIDIANO nada. Eu mesmo quando comecei a trabalhar fiquei meio cismado assim. Nao tinha prética, entéo a gente fica com receio de andar, entéo é numa dessa que os passageiros comecam a chiar com a gente ea gente fica nervoso”. A falta de familiaridade com o trabalho cor- robora a afirmacdo de Dejours (1980) de que o periodo de adaptagao é “penoso”. processo de aquisigéo da familiaridade com 0 abalho nao é um processo de aprendizagem que se dé passivamente, nao é um caminho de mao tinica. Ele ocorre através do entrelagamento do conhecimento, que o trabalhador jd possui, com o novo. Além disso, nao é um processo visando apenas tornar 0 trabalho familiar pois, a0 mesmo tempo, é um processo de autoconhecimento; A familiaridade possibilita prever o desenrolar do trabalho, os problemas existentes na tarefa e tam- bém como lidar com eles. Essa possibilidade de pre- visao, por sua vez, gera expectativas e acomodacio subjeliva, para as quais os trabalhadores se preparam. pera-se um determinado desenrolar no trabalho e, quando isto nao ocorre, gera sofrimento. O imprevis- to incomoda, pois nem sempre se sabe como lidar com el No entanto, apenas conhecer 0 trabalho, o seu de- senrolar, os seus problemas e o proprio limite subjetivo nao é suficiente para que o trabalho no seja penoso, pois hé momentos em que para atuar & necessario ter Poder. O poder O poder sobre o trabalho implica a possibilidade o trabalhador interferir e mudar prescrigdes que nem normas figinivelldall@ilaba ser por ele execu- AREPRESENTACAOSOCIAL DOTRABALHOPENOSO ‘199 da. A limitagéo do poder sobre 0 trabalho faz com ele seja sentido como complicado, problematico e ruim ais, Sentimentos de irritagao so vivenciados quando existe a impossibilidade de responder a todas as soli- citagdes simultaneamente, como por exemplo: “existe carro que é tudo duro e vocé pisa ¢ ele nao desenvol- ve, nao deslancha a velocidade dele, entao aquilo acarreta bastante... tanto nervo como cansago no mo- torista, né. Traz bastante irritagto na gente, por qué? Vocé té vendo 0 hordrio aproximado e vocé nao pode, nao tem condigdes... Entdo vocé sai do ponto... 0 carro nao deslancha e ja o passageiro vai descer naquele [ponto] e o carro nao desenvolveu nada a velocidade. Ent&o aquilo acarreta esforgo no corpo né, canseira no corpo, na mente e tudo, enquanto um carro que voce pisa e ele desenvolve a velocidade entéo aquilo te..né...te alivia bastante”, Assim, a irritagio, 0 nervo- sismo e 0 cansago, portanto a penosidade, é vivida quando trabalhar significa ter que suporiar, tolerar uma situagao incomoda ou que demande esforgo e per- ceber que 6 Poder de interferéncia na situacho é restri- ta ou inexistente. Reconhecendo a limitagao para o exercicio do po- der é que um dos motoristas considerou o seu trabalho “penoso”: “é meio penoso por agiientar todas essas conseqiiéncias que a gente agiienta né, mas se torna mais penoso se a gente levar aquilo assim, né, se a gen te for pensar naquilo, mas se a gente procurar meio que disfarcar entéo se torna menos penoso... entdo & uma coisa bastante prejudicial no servico da gente isso af, porque vocé vai ser obrigado a se fazer de bobo pra poder viver.” Ao dizer que é obrigado a fazer-se de bobo, ele expressa a existéncia de um conhecimento prévio, ndo aplicavel, inclusive sobre as limitacdes de seu poder no trabalho ‘Nao ter poder sobre 0 trabalho faz com que ele seja “duro de agiientar”, pois o trabalhador é obrigado a 200 (0 CONHECIMENTO NO COTIDIANO suportay, tolerar e submeter-se a siluagées complicadas e dificeis. O limite subjetivo rizagdo com o trabalho é também um processo ¢ stoconhecimento, conhecimento dos préprios lir denominado de limite subjetivo; ou sej A objetivagao do limite subjetivo é procedida me- diante o emprego de palavras-fndice que indicam uma ago estimuladora/ provocadora sobre o motorista. A palavra-indice irritar , suas derivacdes e compos- tos, mostra-se adequada para sinalizar que ha contex- tos di trabalho geradores de incémodo. E plastica 0 vivencias inde ojadas, nao prazerosas {isi mente. Tal propricdade desta palavra-indice coincide com a constatacao de Duarte (1986) de que a irritagao desig “sensibilidade difusa por toda a superfi- cie corporal, um pouco como capacidade cle recepgio & "0 como a experiéncia fica ‘tornar colérico’, , ‘exaltar’, ‘excitar’, ‘provocar’. Quando sao empregadas encadeadamente com irrilar outras palavras-indice como nervose, cansago, desgaste, incomodo, prejudicar, atrapalhar, a provocagao sentida passa a ganhar contornos mais claros, indicando atra- vés de quais espagos o limite subjetivo é detectavel. Ele € detectavel nos espacos fisico ¢ mental (cognitive e emocional). Airritagio sentida pelo motorista sofre determina- oes objetivas e subjetivas, pois depende ao mesmo tempo dos contextos de trabalho e das caracterfsticas de cada trabalhador, significando que o limite subjeti- ‘exasperar’, AREPRESENTACAO SOCIAL DOTRABALHOPENOSO 201 vo sofre dupla determinagiio. No entanto, as de ordem objetiva parecem jogar um peso maior na vivéncia da irritagio : “existe aqueles operadores que so mais cal- Mos e outros que sao mais agitados, né. Toda classe tem esse tipo de gente, uns. sd mais irritados... entao, mesmo aquele que nao ¢ tao irritado, ele se sente irrita- do porque faz. parte daquela profissao, né, as vezes 6 0 carro que nao anda bem, 6 ruim, é pesado, os passagei- tos irritando, entéo vocé se sente mal”. Incémodos, esforgos e irritagdes existem em todos os contextos de trabalho: “espinho tem em todas as linhas”. Por isso, a simples identificacio da penosi- dade do trabalho a existéncia de provocacées nao con duz ao conceito de “irabalho penoso” para o trabalha- dor. Aqui novamente a linguagem empregada pelos motoristas permite identificar que o limite subjetivo é também quantificado e essa quantificagao 6 demar- cada pelo emprego de advérbios de intensidade como muito, demais ¢ outras expressoes que denotam quan- lificagdo como pra caranba, tinha pesade, dentre outras. Se algo é sentido como muito, denis, pesado, signifi- ca que existe a nogio de um limite do que é possivel agtientar. Assim, a penosidade do trabalho aponta para um excesso além desse limite, remetendo ao des- respeito a tal limite. O limite subjetivo nao 6 uma demarcagao rigida e imutavel, ele varia em funcdo dos diversos conlextos de trabalho e do proprio trabalhador. Dessa forma, 6 possivel que uma determinada linha em que 0 motoris- ta trabalha seja considerada boa por um certo periodo de tempo e venha a tornar-se ruim por motivos varia- dos. Essa constatacao de que no existe uma demarca- cdo rigida e imutavel do que é ruim e bom, do que é suportavel e nao suportavel parece aproximar-se do que Dejours (1986) adota como nogo central de sua proposicaio de um novo conceita de satide ~ a devaria- bilidade\, em que satide é o movimento e nao a estabi- lidade . 202 OCONHECIMENTONOCOTIDIANO O controle ador nao tem conhecimento, poder e instrument ara controlar os contextos de trabalho que suscita ivéncias de desconforto e desprazer, dadas as caract isticas, necessidades e limite subjetivo de cada trab ador. Ou seja, 0 trabalho 6 penoso quando ‘abalhador nao é o sujeito da situagao, e isso pares proximar-se do que Oliveira( 1971) refere como trabi Aruptura Sendo o controle sustentado pelos trés requisite zando eles ndo estao simultaneamente presentes, © que denominou-se de ruptura; é a ruptura do eq brio entre a familiaridade, o poder e o limite sub 0, sendo ela a expresso da impossibilidade do ex icio do controle. E a expressdio de uma exigéncia abalho, maior do que o trabalhador suporta. F a trat A ruptura se expressa diretamente na satide. £ quando as coisas saem dos seus lugares, quando forca demais, quando o motorista sente 0 estado de neroo abala- do, quando, na linguagem dos motoristas, eles mistu- ram. Esses estados emocionais vao sendo forjados no decorrer do trabalho em determinados contexts, ten- do também um carater cumulative. Nao havendo me- canismos adequados para lidar com esses sentimentos, da-se um processo de transformaciio da subjetividade © pessoa “fica nervosa, fica doente, fica irritante”. ‘Misturar 6 uma das palavras-indice empregadas para designar o efeito para a satide advindo do traba- tho penoso pelo motorista de coletivos urbanos. Tem uma especificidade de emprego e significacao entre os. trabalhadores desta categoria profissional. Um dos AREPRESENTACAOSOCIAL DO TRABALHOPENOSO 203 motoristas entrevistados utiliza a seguinte metéfora para definir 0 que 6 misturar: “As vezes voc pega um carro que ta ruim de motor e ta com a junta de cabecote queimada... e aquilo passa Agua para o carter ou passa éleo para o radiador... jA ta tudo misturado, aquela lamageira danada, de Agua com éleo... da essa palavra ai, misturar, ai quando o companheiro que fica nervoso no servico... chega na garagem e comeca a discutir com um colega, com outro e fica falando que brigou com dois, trés na rua, entao nés achamos que ele fA mistu- rando que nem o carro... A finalidade dessa palavra é essa, vocé entendeu? Ele ta misturando, quer dizer, o carro t4 misturando Agua com éleo, 0 carro nao ta bom, ele tem que recolher pra arrumar, pois é igual ao com- panheiro quando ta discutindo muito... ai nds falamos que ele ta misturando, ele ja t4 nervoso demais, té em ponto de ir pro Juqueri, em ponto de ficar internado, ele t4 misturando”. Misturar & a expressao maxima da impossibilida- de para 0 exercicio do controle sobre o trabalho, é ter poutea tolerdncia para suportar os eventos do dia-a-dia que sao sentidos como provocagao, por isso os entre- istados dizem que quando sao irrilados denais eles ficam transpassados. $5 desvio dos padroes que norteiam a dinamizagao das relagées sociais “ele con funde, desentende, discute e briga’. Ao misturar o mo- torista adota padrées de comportamento nao esperados. Isso é provocado por uma espécie de desar- ranjo na subjetividade: “ele troca as bolas... jA no co- mega a falar coisa com coisa porque comega a irritar demais e vai mexendo muito com a cabeca, 0 cara as vezes comega a falar sozinho e tem bastante [motoris- ta] misturando, inclusive o cara com esgotamento nervo- 30, entdo ja nao faz a coisa certa, nao fala coisa com coisa, voce vé cara falando sozinho por af, As vezes co- mega a xingar todo mundo” Longe de ser um ato voluntério, inisturar é uma “necessidade”, como define um dos motoristas. E uma 204 (© CONHECIMENTO NO COTIDIANO. necessidade por ter ultrapassado 0 limite do suporté- vel. & necessario muitas vezes ter autocontrole para continuar trabalhando, denotando que, quando nao é possivel controlar os contextos de trabalhos penosos, é necessario controlar a si mesmo. Axpressao da ruptura pode dar-se no espaco da mente ou do corpo e, na concepgao dos trabalhadores, no existe dicotomia entre mente e corpo. Uma estimulagao demasiada, sentida inicialmente na mente, pode expressar-se no corpo ou vice-versa. A acio adaptativa > foi identificado que, para exercer 0 controle, os trés requisitos apontados devem estar simultaneamen- te presentes ¢, considerando-se ainda que o poder refe- re-se a possibilidade de o trabalhador interferi nivel de plane por ele executada, dificando-a, evitam a ruptura através de acies adaptations, quéSi0 praticas criadas e adotadas no dia-a-dia de tra- batho capazes de modificar o trabalho prescrito, con- forme concepgao de Daniellou, Laville e Teiger (1989), resultando em jeitos de trabalhar, cujo objetivo e func onalidade ~ contetido significative ~ reside em buscar continuamente 0 controle sobre o trabalho apesar da centralizagao do poder. Elas sao formas através das quais o trabalhador pode “adaptar-se, acostumar-se” com o trabalho. Ao mesmo tempo em que as acdes adaptativas modificam 0 trabalho prescrito, elas alte- ram também o préprio comportamento do trabalha- dor, implicando nao s6 uma conformagao, um ajuste do trabalho ao trabalhador, mas também e simultanea- mente, um ajuste do trabalho a ele. AREPRESENTAGAO SOCIAL DOTRABALHOPENOSO 205 As acSes adaptativas sio praticas socialmente construidas, dependem dos contextos concretos de tra- balho ¢ do conhecimento-que vai sendo construido e socializado ao longo da trajetéria profissional na em- presa. Tais ages passam a fazer parte da realidade através das praticas e da linguagem criada para nominé-las. Assim “quebrada de asa”, “dar né na li- nha”, “amarrar a linha”, so expressdes que nominam. certos conjuntos de pratica, cujo objetivo e repercus- sdes no andamento do trabalho todos os motoristas co- nhecem e possivelmente j4 experimentaram. Embora sejam coletivamente construidas, sua adocao depende do limite subjetivo e do contexto de trabalho de cada trabalhador, implicando que existam diferencas quanto ao que merece ser evitado, pois os motivos de penosidade variam de pessoa para pessoa Essas praticas podem trazer repercussdes negati- vas para 0 proprio trabalhador pois, apesar de serem adotadas visando evitar o sofrimento, 0 incémodo e 0 esforco demasiados, muitas vezes as formas possiveis encontradas, acabam gerando mais apreensao, dado que, em muitas delas, 6 necessdrio transgredir regras técnicas e disciplinares, podendo acarretar repreensio ou mesmo levar a situagées de risco de acidente. Isto significa que, embora sejam elas a expressao da tentati- va de adaptacdo, de ajuste na relagao trabalhador-tra- balho, elas nao sao necessariamente sadias, na medida em que podem limitar a visibilidade sobre as reais motivagées que levam a sua pratica 4. “Quebrada de asa" significa trafegar rapidamente de uma pista para a uta da via; “clar né na linha” nomina um eonjunto de priticas que modi ficam a programagio planejada para a linha e repercute no trabalho de todos os motoristas que nela trabalham; “amazrar a linha” significa que o motorista estd andando mais deva ica atrasar todas os ou ‘ros carros da linha. 206 ‘O CONHECIMENTONOCOTIDIANO jurar a expressao maxima do custo para a satide, ela traduz uma relagéo trabalhador-trabalho em que o trabalhador foi “conformado, forcado, transpassado”. Menzies (1970) ¢ Dejours (1980) estudaram, a par tir de referencial psicanalitico, os mecanismos de defe-~ sa socialmente estruturados por coletivos especificos de trabalhadores, cuja funcionalidade reside em per- mitir continuar trabalhando apesar do sofrimento que A atuaco preventiva Compreendido 0 que caracteriza o trabalho peno- so para os trabalhadores, a questéo que dai decorre consiste em como atuar preventivamente, partindo também da légica do conhecimento pratico. Sendo o nticleo figurativo da Representagao Social do trabalho penoso o controte sobre contextos de traba- Iho, que suscitem incémodo, sofrimento e esforcos de- masiados, a pratica preventiva deve ser norteada por este eixo. O controle remete a relagao entre o trabalha- dor e o contexto de trabalho, entre as condigées objeti- vas e as disposicées subjetivas; remete ainda a possibilidade de a organizacao do trabalho respeitar a AREPRESENTACAO SOCIAL DOTRABALHOPENOSO 207 variabilidade intraindividual e a diversidade interindi- vidual. Em suma, o eixo para se pensar a atuacéio pre- ventiva consiste em refletir sobre como as orga- nizacdes estruturam e podem estruturar padrées de como 0 trabalhador pode nelas se situar e agir, dadas pela adagdo de diferentes formas de organizagao do trabalho que sempre pressupdem uma visdo sobre os trabalhadores. Nao é de hoje que formas de organizaciio do tra- balho na sociedade moderna provindas da mesma matriz conceitual tém sido criticadas. Dentre os varios estudos encaminhados nessa diregdo encontram-se 0s de Marglin (1980), Friedmann (1983), Braverman (1981), Naville (1973), Fleury e Vargas (1983). As erfti- cas repousam no fato de esas formas de organizacao do trabalho pressuporem que elas podem tornar todos s trabalhadores iguais, que eles trabalham apenas im- pulsionados pelo dinheiro e que devem ser estrita~ mente vigiados em sua atividade, concentrando-se assim, no Ambito da geréncia, 0 poder e © controle, inclusive nos processos de mudanga. Nelas o trabalha- dor é visto como abjeto sobre o qual a organizacao tem poder irrestrito. Porém, ao ser identificado que os trabalhadores constroem e praticam acdes adaptativas, claro est que existe a busca continua em serem sujei- tos na situacao de trabalho, apesar de incorporados como objetos. ‘Também nao é de hoje que intervengées visando a melhoria das condigées de trabalho tém sido prati- cadas, ampliando 0 poder e 0 controle dos trabalha- dores sobre 0 trabalho que realizam. Embora nem sempre 0 motivo a partir do qual essas intervengdes tenham sido desenvolvidas residisse na redugao dos problemas de satide dos trabalhadores, ao se conduzir a ampliacdo do poder e do controle dos trabalhado- res, 05 problemas de satide a ele relacionados acabam por se constituirem também em objeto da interven- so, {4 que a concretude da realidade nao é fragmen- 208 ‘OCONHECI TONOCOTIDIANO tada® . Assim é que Spink (1991) relata o resultado de um trabalho por ele desenvolvido: “Durante 1974-75, participamos de um trabalho de pesquisa-agaio dentro de uma companhia inglesa de processamento de da- dos (Bain e Spink, 1980). Iniciada por um estudo de rotatividade de mao-de-obra, a investigagdo chegou a questionar a natureza do trabalho e, 14 meses mais tarde, chegou a forma experimental de organizacao de trabalho do Departamento de Digitagio de Dados. Vinte ¢ quatro digitadores assumiram 0 controle total de planejamento, organizagao e execugao das ativida- des ¢, entre os resultados, verificou-se diminuicao vertiginosa dos problemas de satide mental e fisica” (p-23) ste 6 m dos trabalhos de intervengao desenvol vido pelos pesquisadores do Instituto Tavistock de Londres, fundadores da Escola Sociotécnica que, ao ontrario de propor um outro modelo de organizagao um conjunto de técnicas a serem replicadas, adotam alguns pressupostos de atuagao, baseados também em uma visio sobre as organi os trabalhado- . Nessa perspectiva, os trabalhadores sao vistos oMo pessoas e, como tal, sAo diferentes; as s inclividuais sido vi jade deve ser contemplada por organizagbes saudaveis. O detalhamento das orientagées da Escola Sociotécnica, bem como relatos de intervengdes, po- dem ser encontrados nas publicagdes de Spink (1982a, 1982b, 1979) e de Orstman (1984) Ao se conceber os trabalhadores como pessoas, concebe-se, além da diversidade e da variabilidade, 0 simbélico que também é mutavel. Ao se pensar nas isposigbes subjetivas pensar que o conceito de satide aproxima-se do ident {(1982b) como qualidade de vida no trabalho. AREPRESENTAGAOSOCIAL DO TRABALHOPENOSO 209 pessoas inseridas nas organizagées e atualizando orga- nizag6es de trabalho, pensa-se em movimento. Assim, 0 simbélico nao esté a parte das organiza- des mas faz parte delas, estruftrando visées sobre elas e sobre as relagdes entre as organizacées e os tra- balhadores. Ao estruturé-las, o simbélico participa na construcdo e na adogao de praticas no trabalho, ou seja, em tipos de relacionamento trabalhador-trabalho, as quais, conforme analisado acima, tém um contetido significativo. Spink (1991) entende que “... enquanto foco de estudo, a organizagho 6 menos objetiva ¢com- preensivel do que muitos imaginavam” (p. 24). Enessa perspectiva que.o simbélico ~ as Representacbes Soci- ‘ais = pode nortear a atuacdo preventiva em satide do. trabalhador. Ele informa quando os contextos de traba- Iho sao vividos como positives ou como negativos, de~ nunciando pontos, na tangéncia trabalhador-contexto de trabalho, a partir dos quais as mudangas podem ser impulsionadas. Em termos operacionais, isso implica que as mudangas nos contextos de trabalho devem se pautar na.participagaovde todos, o que requer a dispo- sigdo dos envolvidos em desencadear e manter um processo de negociacao continua nao sé entre trabalha- dores e patrdes mas também entre os proprios traba- Ihadores, pois trata-se de criar um espaco de trabalho cujo contexto seja flexivel REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ANDERSON, J. A. D, the Society of Oc jidemiological aspects of back pain. journal upational Medicine. Autumn, 36(3):90-4, 1986. ASTRAND, I. Physical demands in worklife, Soaud. J. Work Einoant ‘and Heath, 14(1}10-3, 1988. BAIN, A. e SPINK, P. K. Work or mn in data conversion: @ case shady of ant operational experiment. International labour office study of fragmented jobs in office. Tavistock Institute 2T 328, 1990. Apud SPINK, PK. O resgate da parte. Revisia de Adminis- ragdo, Sto Patio, 26(2)22-31, abe: /jun., 1991 210 0 CONIHECIMENTO NO COTIDIANO, BARDIN, L. Anslise de conteiido. Lisboa, Edigées 70, 1988. BETTA, A. e COSTA, G. Condizioni di lavoro, statou di salute & performance psico-fisica in conducent realizado licacién Teenica n° 1, dic,, operiri. Reo /dez, 1989. Organizagto do trat ‘casos brasileiros para estudo. S30 especializagt GUSTAVSEN, B. Direct workers pa jion in matters of work safety and health: Scandinavian strategies and experiences. In: BAGNARA, S. e cols. (eds.) Work and Health in the 1980s — Experiences of Direct Workers. Participation in Occupational selection among metal workers. 9(2):155-61, 1983, SA, M. Processo de produgao e sade ~ traba- Sio Paulo, Hucitec, 1989. y LEFEBVRE, H. La presencia y la ausencia ~ contribucion a la teoria de las oso. 211 Fondo de Cultura Econémica, 1983, fungoes do parcelamento das tarefas (para srvem o8 patrées?). In: GORZ, A. (org.) Critiea da Divisio Impact of work-related and psychosocial factors rent of ischemic heart disease among urban ymark. Scand. J. Work Environm. Health Acidentes nos Servigos de Transpor- Provengio de Acidentes do Traba- Rio de Janeiro, 1971, p. 311-5. todos, as condi- sboa, Fundago Calouste Transport Workers Performing Ph Environm. Health. 8(1):92-6, 1982. O CONHECIMENTO NO COTIDIANO AS REPRESENTACOES SOCIAIS NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA SOCIAL Ana Mercés Bahia Bock Angela Arruda Bader Burihan Sania Iso Pereira de Sé 1993 editora brasiliense

Você também pode gostar