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04 Apostila Versao Digital Direito Administrativo 066.342.559 03 1696340480
04 Apostila Versao Digital Direito Administrativo 066.342.559 03 1696340480
Prefeituras
Direito Administrativo
Direito Administrativo
Estado, Governo e Administração Pública: conceitos, elementos, poderes, natureza,
fins e princípios............................................................................................................. 1
Direito Administrativo: conceito, fontes e princípios...................................................... 6
Ato Administrativo: Conceito, requisitos, atributos, classificação e espécies; Invalida-
ção, anulação e revogação; Prescrição........................................................................ 11
Exercícios...................................................................................................................... 29
Gabarito......................................................................................................................... 38
Estado
Conceito, Elementos e Princípios
Adentrando ao contexto histórico, o conceito de Estado veio a surgir por intermédio do antigo conceito de
cidade, da polis grega e da civitas romana. Em meados do século XVI o vocábulo Estado passou a ser utilizado
com o significado moderno de força, poder e direito.
O Estado pode ser conceituado como um ente, sujeito de direitos, que possui como elementos: o povo, o
território e a soberania. Nos dizeres de Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino (2010, p. 13), “Estado é pessoa
jurídica territorial soberana, formada pelos elementos povo, território e governo soberano”.
O Estado como ente, é plenamente capacitado para adquirir direitos e obrigações. Ademais, possui perso-
nalidade jurídica própria, tanto no âmbito interno, perante os agentes públicos e os cidadãos, quanto no âmbito
internacional, perante outros Estados.
Vejamos alguns conceitos acerca dos três elementos que compõem o Estado:
POVO: Elemento legitima a existência do Estado. Isso ocorre por que é do povo que origina todo o poder
representado pelo Estado, conforme dispões expressamente art. 1º, parágrafo único, da Constituição Federal:
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou direta-
mente, nos termos desta Constituição.
O povo se refere ao conjunto de indivíduos que se vincula juridicamente ao Estado, de forma estabilizada.
Entretanto, isso não ocorre com estrangeiros e apátridas, diferentemente da população, que tem sentido
demográfico e quantitativo, agregando, por sua vez, todos os que se encontrem sob sua jurisdição territorial,
sendo desnecessário haver quaisquer tipos de vínculo jurídico do indivíduo com o poder do Estado.
Com vários sentidos, o termo pode ser usado pela doutrina como sinônimo de nação e, ainda, no sentido de
subordinação a uma mesma autoridade política.
No entanto, a titularidade dos direitos políticos é determinada pela nacionalidade, que nada mais é que o
vínculo jurídico estabelecido pela Constituição entre os cidadãos e o Estado.
O Direito nos concede o conceito de povo como sendo o conjunto de pessoas que detém o poder, a so-
berania, conforme já foi explicitado por meio do art. 1º. Parágrafo único da CFB/88 dispondo que “Todo poder
emana do povo, que exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
TERRITÓRIO: pode ser conceituado como a área na qual o Estado exerce sua soberania. Trata-se da base
física ou geográfica de um determinado Estado, seu elemento constitutivo, base delimitada de autoridade, ins-
trumento de poder com vistas a dirigir o grupo social, com tal delimitação que se pode assegurar à eficácia do
poder e a estabilidade da ordem.
O território é delimitado pelas fronteiras, que por sua vez, podem ser naturais ou convencionais. O território
como elemento do Estado, possui duas funções, sendo uma negativa limitante de fronteiras com a competência
da autoridade política, e outra positiva, que fornece ao Estado a base correta de recursos materiais para ação.
Por traçar os limites do poder soberanamente exercido, o território é elemento essencial à existência do
Estado, sendo, desta forma, pleno objeto de direitos do Estado, o qual se encontra a serviço do povo e pode
usar e dispor dele com poder absoluto e exclusivo, desde que estejam presentes as características essenciais
das relações de domínio. O território é formado pelo solo, subsolo, espaço aéreo, águas territoriais e plataforma
continental, prolongamento do solo coberto pelo mar.
SOBERANIA: Trata-se do poder do Estado de se auto administrar. Por meio da soberania, o Estado detém
o poder de regular o seu funcionamento, as relações privadas dos cidadãos, bem como as funções econômicas
e sociais do povo que o integra. Por meio desse elemento, o Estado edita leis aplicáveis ao seu território, sem
estar sujeito a qualquer tipo de interferência ou dependência de outros Estados.
Em sua origem, no sentido de legitimação, a soberania está ligada à força e ao poder. Se antes, o direito era
dado, agora é arquitetado, anteriormente era pensado na justiça robusta, agora é engendrado na adequação
aos objetivos e na racionalidade técnica necessária. O poder do Estado é soberano, uno, indivisível e emana
do povo. Além disso, todos os Poderes são partes de um todo que é a atividade do Estado.
Como fundamento do Estado Democrático de Direito, nos parâmetros do art.1º, I, da CFB/88), a soberania
é elemento essencial e fundamental à existência da República Federativa do Brasil.
A lei se tornou de forma essencial o principal instrumento de organização da sociedade. Isso, por que a
exigência de justiça e de proteção aos direitos individuais, sempre se faz presente na vida do povo. Por conse-
guinte, por intermédio da Constituição escrita, desde a época da revolução democrática, foi colocada uma trava
jurídica à soberania, proclamando, assim, os direitos invioláveis do cidadão.
O direito incorpora a teoria da soberania e tenta compatibilizá-la aos problemas de hoje, e remetem ao povo,
aos cidadãos e à sua participação no exercício do poder, o direito sempre tende a preservar a vontade coletiva
de seu povo, através de seu ordenamento, a soberania sempre existirá no campo jurídico, pois o termo designa
igualmente o fenômeno político de decisão, de deliberação, sendo incorporada à soberania pela Constituição.
A Constituição Federal é documento jurídico hierarquicamente superior do nosso sistema, se ocupando
com a organização do poder, a definição de direitos, dentre outros fatores. Nesse diapasão, a soberania ganha
particular interesse junto ao Direito Constitucional. Nesse sentido, a soberania surge novamente em discussão,
procurando resolver ou atribuir o poder originário e seus limites, entrando em voga o poder constituinte originá-
rio, o poder constituinte derivado, a soberania popular, do parlamento e do povo como um todo. Depreende-se
que o fundo desta problemática está entranhado na discussão acerca da positivação do Direito em determinado
Estado e seu respectivo exercício.
Assim sendo, em síntese, já verificados o conceito de Estado e os seus elementos. Temos, portanto:
Obs. Os elementos (povo + território + soberania) do Estado não devem ser confundidos com suas funções
estatais que normalmente são denominadas “Poderes do Estado” e, por sua vez, são divididas em: legisla-
tiva, executiva e judiciária
Em relação aos princípios do Estado Brasileiro, é fácil encontra-los no disposto no art. 1º, da CFB/88. Ve-
jamos:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
Administração pública
Conceito
Administração Pública em sentido geral e objetivo, é a atividade que o Estado pratica sob regime público,
para a realização dos interesses coletivos, por intermédio das pessoas jurídicas, órgãos e agentes públicos.
A Administração Pública pode ser definida em sentido amplo e estrito, além disso, é conceituada por Di Pie-
tro (2009, p. 57), como “a atividade concreta e imediata que o Estado desenvolve, sob regime jurídico total ou
parcialmente público, para a consecução dos interesses coletivos”.
Nos dizeres de Di Pietro (2009, p. 54), em sentido amplo, a Administração Pública é subdividida em órgãos
governamentais e órgãos administrativos, o que a destaca em seu sentido subjetivo, sendo ainda subdividida
pela sua função política e administrativa em sentido objetivo.
Já em sentido estrito, a Administração Pública se subdivide em órgãos, pessoas jurídicas e agentes públicos
que praticam funções administrativas em sentido subjetivo, sendo subdividida também na atividade exercida
por esses entes em sentido objetivo.
Em suma, temos:
Existem funções na Administração Pública que são exercidas pelas pessoas jurídicas, órgãos e agentes da
Administração que são subdivididas em três grupos: fomento, polícia administrativa e serviço público.
Para melhor compreensão e conhecimento, detalharemos cada uma das funções. Vejamos:
a. Fomento: É a atividade administrativa incentivadora do desenvolvimento dos entes e pessoas que exer-
cem funções de utilidade ou de interesse público.
b. Polícia administrativa: É a atividade de polícia administrativa. São os atos da Administração que limitam
interesses individuais em prol do interesse coletivo.
c. Serviço público: resume-se em toda atividade que a Administração Pública executa, de forma direta
ou indireta, para satisfazer os anseios e as necessidades coletivas do povo, sob o regime jurídico e com pre-
dominância pública. O serviço público também regula a atividade permanente de edição de atos normativos e
concretos sobre atividades públicas e privadas, de forma implementativa de políticas de governo.
A finalidade de todas essas funções é executar as políticas de governo e desempenhar a função adminis-
trativa em favor do interesse público, dentre outros atributos essenciais ao bom andamento da Administração
Pública como um todo com o incentivo das atividades privadas de interesse social, visando sempre o interesse
público.
A Administração Pública também possui elementos que a compõe, são eles: as pessoas jurídicas de direito
público e de direito privado por delegação, órgãos e agentes públicos que exercem a função administrativa
estatal.
— Observação importante:
Pessoas jurídicas de direito público são entidades estatais acopladas ao Estado, exercendo finalidades de
interesse imediato da coletividade. Em se tratando do direito público externo, possuem a personalidade jurídica
de direito público cometida à diversas nações estrangeiras, como à Santa Sé, bem como a organismos interna-
cionais como a ONU, OEA, UNESCO.(art. 42 do CC).
No direito público interno encontra-se, no âmbito da administração direta, que cuida-se da Nação brasileira:
União, Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios (art. 41, incs. I, II e III, do CC).
No âmbito do direito público interno encontram-se, no campo da administração indireta, as autarquias e
associações públicas (art. 41, inc. IV, do CC). Posto que as associações públicas, pessoas jurídicas de direito
público interno dispostas no inc. IV do art. 41 do CC, pela Lei n.º 11.107/2005,7 foram sancionadas para auxiliar
ao consórcio público a ser firmado entre entes públicos (União, Estados, Municípios e Distrito Federal).
Princípios da administração pública
De acordo com o administrativista Alexandre Mazza (2017), princípios são regras condensadoras dos va-
lores fundamentais de um sistema. Sua função é informar e materializar o ordenamento jurídico bem como o
modo de atuação dos aplicadores e intérpretes do direito, sendo que a atribuição de informar decorre do fato
de que os princípios possuem um núcleo de valor essencial da ordem jurídica, ao passo que a atribuição de
enformar é denotada pelos contornos que conferem à determinada seara jurídica.
Desta forma, o administrativista atribui dupla aplicabilidade aos princípios da função hermenêutica e da
função integrativa.
Referente à função hermenêutica, os princípios são amplamente responsáveis por explicitar o conteúdo dos
demais parâmetros legais, isso se os mesmos se apresentarem obscuros no ato de tutela dos casos concretos.
Por meio da função integrativa, por sua vez, os princípios cumprem a tarefa de suprir eventuais lacunas legais
observadas em matérias específicas ou diante das particularidades que permeiam a aplicação das normas aos
casos existentes.
Não existe hierarquia entre os princípios expressos e implícitos. Comprova tal afirmação, o fato de que
os dois princípios que dão forma o Regime Jurídico Administrativo, são meramente implícitos.
Regime Jurídico Administrativo: é composto por todos os princípios e demais dispositivos legais que
formam o Direito Administrativo. As diretrizes desse regime são lançadas por dois princípios centrais, ou supra-
princípios que são a Supremacia do Interesse Público e a Indisponibilidade do Interesse Público.
Ademais, tendo o agente público usufruído das prerrogativas de atuação conferidas pela supremacia do
interesse público, a indisponibilidade do interesse público, com o fito de impedir que tais prerrogativas sejam
utilizadas para a consecução de interesses privados, termina por colocar limitações aos agentes públicos no
campo de sua atuação, como por exemplo, a necessidade de aprovação em concurso público para o provimen-
to dos cargos públicos.
Princípios Administrativos
Nos parâmetros do art. 37, caput da Constituição Federal, a Administração Pública deverá obedecer aos
princípios da Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência.
Vejamos:
– Princípio da Moralidade: Dispõe que a atuação administrativa deve ser totalmente pautada nos princí-
pios da ética, honestidade, probidade e boa-fé. Esse princípio está conexo à não corrupção na Administração
Pública.
– Princípio da Publicidade: Trata-se de um mecanismo de controle dos atos administrativos por meio da
sociedade. A publicidade está associada à prestação de satisfação e informação da atuação pública aos admi-
nistrados. Via de regra é que a atuação da Administração seja pública, tornando assim, possível o controle da
sociedade sobre os seus atos.
Ocorre que, no entanto, o princípio em estudo não é absoluto. Isso ocorre pelo fato deste acabar por admitir
exceções previstas em lei. Assim, em situações nas quais, por exemplo, devam ser preservadas a segurança
nacional, relevante interesse coletivo e intimidade, honra e vida privada, o princípio da publicidade deverá ser
afastado.
Sendo a publicidade requisito de eficácia dos atos administrativos que se voltam para a sociedade, ponde-
ra-se que os mesmos não poderão produzir efeitos enquanto não forem publicados.
– Princípio da Eficiência: A atividade administrativa deverá ser exercida com presteza, perfeição, rendi-
mento, qualidade e economicidade. Anteriormente era um princípio implícito, porém, hodiernamente, foi acres-
centado, de forma expressa, na CFB/88, com a EC n. 19/1998.
São decorrentes do princípio da eficiência:
a. A possibilidade de ampliação da autonomia gerencial, orçamentária e financeira de órgãos, bem como de
entidades administrativas, desde que haja a celebração de contrato de gestão.
b. A real exigência de avaliação por meio de comissão especial para a aquisição da estabilidade do servidor
Efetivo, nos termos do art. 41, § 4º da CFB/88.
Conceito
De início, convém ressaltar que o estudo desse ramo do Direito, denota a distinção entre o Direito Adminis-
trativo, bem como entre as normas e princípios que nele se inserem.
No entanto, o Direito Administrativo, como sistema jurídico de normas e princípios, somente veio a surgir
com a instituição do Estado de Direito, no momento em que o Poder criador do direito passou também a respei-
tá-lo. Tal fenômeno teve sua origem com os movimentos constitucionalistas, cujo início se deu no final do século
XVIII. Por meio do novo sistema, o Estado passou a ter órgãos específicos para o exercício da Administração
Pública e, por isso, foi necessário a desenvoltura do quadro normativo disciplinante das relações internas da
Administração, bem como das relações entre esta e os administrados. Assim sendo, pode considerar-se que foi
a partir do século XIX que o mundo jurídico abriu os olhos para a existência do Direito Administrativo.
Destaca-se ainda, que o Direito Administrativo foi formado a partir da teoria da separação dos poderes de-
senvolvida por Montesquieu, L’Espirit des Lois, 1748, e acolhida de forma universal pelos Estados de Direito.
Até esse momento, o absolutismo reinante e a junção de todos os poderes governamentais nas mãos do Sobe-
rano não permitiam o desenvolvimento de quaisquer teorias que visassem a reconhecer direitos aos súditos, e
que se opusessem às ordens do Príncipe. Prevalecia o domínio operante da vontade onipotente do Monarca.
Conceituar com precisão o Direito Administrativo é tarefa difícil, uma vez que o mesmo é marcado por diver-
gências doutrinárias, o que ocorre pelo fato de cada autor evidenciar os critérios que considera essenciais para
a construção da definição mais apropriada para o termo jurídico apropriado.
De antemão, ao entrar no fundamento de algumas definições do Direito Administrativo,
Funções do Estado
> Legislativa
>> Administrativa
>>> Jurisdicional
PODER EXECUTI-
PODER LEGISLATIVO PODER JUDICIÁRIO
VO
FUNÇÃO TÍPICA Legislar Administrativa Judiciária
Julgar e solucionar conflitos
Redigir e organizar o regra- Administração e ges- por
ATRIBUIÇÃO intermédio da interpretação
mento jurídico do Estado tão estatal e aplicação das leis.
Além do exercício da função típica, cada poder pode ainda exercer as funções destinadas a outro poder, é
o que denominamos de exercício de FUNÇÃO ATÍPICA. Vejamos:
Diante da difícil tarefa de conceituar o Direito Administrativo, uma vez que diversos são os conceitos utili-
zados pelos autores modernos de Direito Administrativo, sendo que, alguns consideram apenas as atividades
administrativas em si mesmas, ao passo que outros, optam por dar ênfase aos fins desejados pelo Estado,
abordaremos alguns dos principais posicionamentos de diferentes e importantes autores.
No entendimento de Carvalho Filho (2010), “o Direito Administrativo, com a evolução que o vem impulsio-
nando contemporaneamente, há de focar-se em dois tipos fundamentais de relações jurídicas, sendo, uma, de
caráter interno, que existe entre as pessoas administrativas e entre os órgãos que as compõem e, a outra, de
caráter externo, que se forma entre o Estado e a coletividade em geral.” (2010, Carvalho Filho, p. 26).
Como regra geral, o Direito Administrativo é conceituado como o ramo do direito público que cuida de princí-
pios e regras que disciplinam a função administrativa abrangendo entes, órgãos, agentes e atividades desem-
penhadas pela Administração Pública na consecução do interesse público.
Vale lembrar que, como leciona DIEZ, o Direito Administrativo apresenta, ainda, três características princi-
pais:
1 – constitui um direito novo, já que se trata de disciplina recente com sistematização científica;
— Observação importante: Note que os conceitos classificam o Direito Administrativo como Ramo do
Direito Público fazendo sempre referência ao interesse público, ao inverso do Direito Privado, que cuida do
regulamento das relações jurídicas entre particulares, o Direito Público, tem por foco regular os interesses da
sociedade, trabalhando em prol do interesse público.
Por fim, depreende-se que a busca por um conceito completo de Direito Administrativo não é recente. Entre-
tanto, a Administração Pública deve buscar a satisfação do interesse público como um todo, uma vez que a sua
natureza resta amparada a partir do momento que deixa de existir como fim em si mesmo, passando a existir
como instrumento de realização do bem comum, visando o interesse público, independentemente do conceito
de Direito Administrativo escolhido.
Objeto
De acordo com a ilibada autora Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a formação do Direito Administrativo como
ramo autônomo, fadado de princípios e objeto próprios, teve início a partir do instante em que o conceito de
Estado de Direito começou a ser desenvolvido, com ampla estrutura sobre o princípio da legalidade e sobre o
princípio da separação de poderes. O Direito Administrativo Brasileiro não surgiu antes do Direito Romano, do
Fontes
Fonte significa origem. Neste tópico, iremos estudar a origem das regras que regem o Direito Administrativo.
Segundo Alexandre Sanches Cunha, “o termo fonte provém do latim fons, fontis, que implica o conceito de
nascente de água. Entende-se por fonte tudo o que dá origem, o início de tudo. Fonte do Direito nada mais é do
que a origem do Direito, suas raízes históricas, de onde se cria (fonte material) e como se aplica (fonte formal),
ou seja, o processo de produção das normas. São fontes do direito: as leis, costumes, jurisprudência, doutrina,
analogia, princípio geral do direito e equidade.” (CUNHA, 2012, p. 43).
A) Lei
A lei se estende desde a constituição e é a fonte primária e principal do Direito Administrativo e se estende
desde a Constituição Federal em seus artigos 37 a 41, alcançando os atos administrativos normativos inferio-
res. Desta forma, a lei como fonte do Direito Administrativo significa a lei em sentido amplo, ou seja, a lei con-
feccionada pelo Parlamento, bem como os atos normativos expedidos pela Administração, tais como: decretos,
resoluções,
B) Doutrina
Tem alto poder de influência como teses doutrinadoras nas decisões administrativas, como no próprio Di-
reito Administrativo. A Doutrina visa indicar a melhor interpretação possível da norma administrativa, indicando
ainda, as possíveis soluções para casos determinados e concretos. Auxilia muito o viver diário da Administração
Pública, posto que, muitas vezes é ela que conceitua, interpreta e explica os dispositivos da lei.
Exemplo:
A Lei n. 9.784/1999, aduz que provas protelatórias podem ser recusadas no processo administrativo. Desta
forma, a doutrina explicará o que é prova protelatória, e a Administração Pública poderá usar o conceito doutri-
nário para recusar uma prova no processo administrativo.
C) Jurisprudência
Trata-se de decisões de um tribunal que estão na mesma direção, além de ser a reiteração de julgamentos
no mesmo sentido.
Exemplo:
O Superior Tribunal de Justiça (STJ), possui determinada jurisprudência que afirma que candidato aprovado
dentro do número de vagas previsto no edital tem direito à nomeação, aduzindo que existem diversas decisões
desse órgão ou tribunal com o mesmo entendimento final.
— Observação importante: Por tratar-se de uma orientação aos demais órgãos do Poder Judiciário e da
Administração Pública, a jurisprudência não é de seguimento obrigatório. Entretanto, com as alterações promo-
vidas desde a CFB/1988, esse sistema orientador da jurisprudência tem deixado de ser a regra.
Exemplo:
Os efeitos vinculantes das decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal na ação direta de inconsti-
tucionalidade (ADI), na ação declaratória constitucionalidade (ADC) e na arguição de descumprimento de pre-
ceito fundamental, e, em especial, com as súmulas vinculantes, a partir da Emenda Constitucional nº. 45/2004.
Nesses ocorridos, as decisões do STF acabaram por vincular e obrigar a Administração Pública direta e indireta
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nos termos dispostos no art. 103-A
da CF/1988.
D) Costumes
Costumes são condutas reiteradas. Assim sendo, cada país, Estado, cidade, povoado, comunidade, tribo
ou população tem os seus costumes, que via de regra, são diferentes em diversos aspectos, porém, em se
tratando do ordenamento jurídico, não poderão ultrapassar e ferir as leis soberanas da Carta Magna que regem
o Estado como um todo.
— Observação importante: Existe divergência doutrinária em relação à aceitação dos costumes como
fonte do Direito Administrativo. No entanto, para concursos, e estudos correlatos, via de regra, deve ser com-
preendida como correta a tese no sentido de que o costume é fonte secundária, acessória, indireta e imediata
do Direito Administrativo, tendo em vista que a fonte primária e mediata é a Lei.
Conceito
Hely Lopes Meirelles conceitua ato administrativo como sendo “toda manifestação unilateral de vontade da
Administração Pública que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, mo-
dificar, extinguir e declarar direitos, ou impor obrigações aos administrados ou a si própria”.
Já Maria Sylvia Zanella Di Pietro explana esse tema, como: “a declaração do Estado ou de quem o repre-
sente, que produz efeitos jurídicos imediatos, com observância da lei, sob regime jurídico de direito público e
sujeita a controle pelo Poder Judiciário”.
O renomado, Celso Antônio Bandeira de Mello, por sua vez, explica o conceito de ato administrativo de duas
formas. São elas:
Requisitos
A lei da Ação Popular, Lei nº 4.717/1965, aponta a existência de cinco requisitos do ato administrativo. São
eles: competência, finalidade, forma, motivo e objeto. É importante esclarecer que a falta ou o defeito desses
elementos pode resultar.
De acordo com o a gravidade do caso em consideração, em simples irregularidade com possibilidade de ser
sanada, invalidando o ato do ato, ou até mesmo o tornando inexistente.
No condizente à competência, no sentido jurídico, esta palavra designa a prerrogativa de poder e autoriza-
ção de alguém que está legalmente autorizado a fazer algo. Da mesma maneira, qualquer pessoa, ainda que
possua capacidade e excelente rendimento para fazer algo, mas não alçada legal para tal, deve ser considera-
da incompetente em termos jurídicos para executar tal tarefa.
a) Competência primária: quando a competência é estabelecida pela lei ou pela Constituição Federal.
a) Exercício obrigatório: pelos órgãos e agentes públicos, uma vez que se trata de um poder-dever de
ambos.
b) Irrenunciável ou inderrogável: isso ocorre, seja pela vontade da Administração, ou mesmo por acordo
com terceiros, uma vez que é estabelecida em decorrência do interesse público. Exemplo: diante de um exces-
sivo aumento da ocorrência de crimes graves e da sua diminuição de pessoal, uma delegacia de polícia não po-
derá jamais optar por não mais registrar boletins de ocorrência relativos a crimes considerados menos graves.
c) Intransferível: não pode ser objeto de transação ou acordo com o fulcro de ser repassada a responsabili-
dade a outra pessoa. Frise-se que a delegação de competência não provoca a transferência de sua titularidade,
porém, autoriza o exercício de determinadas atribuições não exclusivas da autoridade delegante, que poderá,
conforme critérios próprios e a qualquer tempo, revogar a delegação.
d) Imodificável: não admite ser modificada por ato do agente, quando fixada pela lei ou pela Constituição,
uma vez que somente estas normas poderão alterá-la.
f) Improrrogável: com exceção de disposição expressa prevista em lei, o agente incompetente não passa
a ser competente pelo mero fato de ter praticado o ato ou, ainda, de ter sido o primeiro a tomar conhecimento
dos fatos que implicariam a motivação de sua prática.
Cabem dentro dos critérios de competência a delegação e a avocação, que podem ser definidas da seguinte
forma:
Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a que foi atribuída como
própria, salvo os casos de delegação e avocação legalmente admitidos.
Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento legal, delegar parte da
sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados,
quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à delegação de competência dos órgãos cole-
giados aos respectivos presidentes.
Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser publicados no meio oficial.
§ 1º O ato de delegação especificará as matérias e poderes transferidos, os limites da atuação do delegado,
a duração e os objetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva de exercício da atribuição
delegada.
§ 2º O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela autoridade delegante.
§ 3º As decisões adotadas por delegação devem mencionar explicitamente esta qualidade e considerar-se-
-ão editadas pelo delegado.
Súmula 510 do STF: Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra ela
cabe o mandado de segurança ou a medida judicial.
Com fundamento nessa orientação, o STF decidiu no julgamento do MS 24.732 MC/DF, que o foro da auto-
ridade delegante não poderá ser transmitido de forma alguma à autoridade delegada. Desta forma, tendo sido o
ato praticado pela autoridade delegada, todas e quaisquer medidas judiciais propostas contra este ato deverão
respeitar o respectivo foro da autoridade delegada.
Seguindo temos:
• Na avocação, sendo sua providência de forma excepcional e temporária, nos termos do art. 15 da Lei
9.787/1999, a competência é de forma originária e advém do órgão ou agente subordinado, sendo que de forma
temporária, passa a ser exercida pelo órgão ou autoridade avocante.
Não convém encerrar esse tópico acerca da competência sem mencionarmos a respeito dos vícios de
competência que é conceituado como o sofrimento de algum defeito em razão de problemas com a competên-
cia do agente que o pratica que se subdivide em:
a) Excesso de poder: acontece quando o agente que pratica o ato acaba por exceder os limites de sua
competência, agindo além das providências que poderia adotar no caso concreto, vindo a praticar abuso de
poder. O vício de excesso de poder nem sempre poderá resultar em anulação do ato administrativo, tendo em
vista que em algumas situações será possível convalidar o ato defeituoso.
b) Usurpação de função: ocorre quando uma pessoa exerce atribuições próprias de um agente público,
sem que tenha esse atributo ou competência. Exemplo: uma pessoa que celebra casamentos civis fingindo ser
titular do cargo de juiz.
c) Função de fato: ocorre quando a pessoa que pratica o ato está irregularmente investida no cargo, em-
prego ou função pública ou ainda que, mesmo devidamente investida, existe qualquer tipo de impedimento
jurídico para a prática do ato naquele momento. Na função de fato, o agente pratica o ato num contexto que
VÍCIOS DE COMPETÊNCIA
EXCESSO DE PODER Em determinadas situações é possível
a convalidação
USURPAÇÃO DE FUNÇÃO Ato inexistente
FUNÇÃO DE FATO Ato válido, se houver boa-fé do admi-
nistrado
ABUSO DE AUTORIDADE
EXCESSO DE PODER Vício de competência
DESVIO DE PODER Desvio de finalidade
Relativo à finalidade, denota-se que a finalidade pública é uma das características do princípio da impes-
soalidade. Nesse diapasão, a Administração não pode atuar com o objetivo de beneficiar ou prejudicar determi-
nadas pessoas, tendo em vista que seu comportamento deverá sempre ser norteado pela busca do interesse
público. Além disso, existe determinada finalidade típica para cada tipo de ato administrativo.
Assim sendo, identifica-se no ato administrativo duas espécies de finalidade pública. São elas:
b) Pública específica ou imediata: é o resultado específico previsto na lei, que deve ser alcançado com a
prática de determinado ato.
Está relacionada ao atributo da tipicidade, por meio do qual a lei dispõe uma finalidade a ser alcançada para
cada espécie de ato.
Destaca-se que o descumprimento de qualquer dessas finalidades, seja geral ou específica, resulta no vício
denominado desvio de poder ou desvio de finalidade. O desvio de poder é vício que não pode ser sanado, e por
esse motivo, não pode ser convalidado.
A Lei de Ação Popular, Lei 4.717/1965 em seu art. 2º, parágrafo único, alínea e, estabelece que “o desvio
de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou impli-
citamente, na regra de competência”. Destaque-se que por via de regra legal atributiva de competência estatui
de forma explícita ou implicitamente, os fins que devem ser seguidos e obedecidos pelo agente público. Caso o
ato venha a ser praticado visando a fins diversos, verificar-se-á a presença do vício de finalidade.
O desvio de finalidade, segundo grandes doutrinadores, se verifica em duas hipóteses. São elas:
a) o ato é formalmente praticado com finalidade diversa da prevista por lei. Exemplo: remover um funcioná-
rio com o objetivo de punição.
b) ocorre quando o ato, mesmo formalmente editado com a finalidade legal, possui, na prática, o foco de
atender a fim de interesse particular da autoridade. Exemplo: com o objetivo de perseguir inimigo, ocorre a de-
sapropriação de imóvel alegando interesse público.
Em resumo, temos:
Concernente à forma, averígua-se na doutrina duas formas distintas de definição como requisito do ato
administrativo. São elas:
A) De caráter mais restrito, demonstrando que a forma é o modo de exteriorização do ato administrativo.
B) Considera a forma de natureza mais ampla, incluindo no conceito de forma apenas o modo de exterio-
rização do ato, bem como todas as formalidades que devem ser destacadas e observadas no seu curso de
formação.
Ambas as acepções estão meramente corretas, cuidando-se simplesmente de modos diferentes de exa-
minar a questão, sendo que a primeira analisa a forma do ato administrativo sob o aspecto exterior do ato já
formado e a segunda, analisa a dinâmica da formação do ato administrativo.
Via de regra, no Direito Privado, o que prevalece é a liberdade de forma do ato jurídico, ao passo que no Di-
reito Público, a regra é o formalismo moderado. O ato administrativo não precisa ser revestido de formas rígidas
e solenes, mas é imprescindível que ele seja escrito. Ainda assim, tal exigência, não é absoluta, tendo em vista
que em alguns casos, via de regra, o agente público tem a possibilidade de se manifestar de outra forma, como
acontece nas ordens verbais transmitidas de forma emergencial aos subordinados, ou, ainda, por exemplo,
quando um agente de trânsito transmite orientações para os condutores de veículos através de silvos e gestos.
Pondera-se ainda, que o ato administrativo é denominado vício de forma quando é enviado ou emitido sem
a obediência à forma e sem cumprimento das formalidades previstas em lei. Via de regra, considera-se plena-
mente possível a convalidação do ato administrativo que contenha vício de forma. No entanto, tal convalidação
não será possível nos casos em que a lei estabelecer que a forma é requisito primordial à validade do ato.
Devemos explanar também que a motivação declarada e escrita dos motivos que possibilitaram a prática do
ato, quando for de caráter obrigatório, integra a própria forma do ato. Desta maneira, quando for obrigatória, a
ausência de motivação enseja vício de forma, mas não vício de motivo.
Porém, de forma diferente, sendo o motivo declinado pela autoridade e comprovadamente ilícito ou falso, o
vício consistirá no elemento motivo.
Motivo
O motivo diz respeito aos pressupostos de fato e de direito que estabelecem ou autorizam a edição do ato
administrativo.
Quando a autoridade administrativa não tem margem para decidir a respeito da conveniência e oportunida-
de para editar o ato administrativo, diz-se que este é ato vinculado. No condizente ao ato discricionário, como
há espaço de decisão para a autoridade administrativa, a presença do motivo simplesmente autoriza a prática
do ato.
Nesse diapasão, existem também o motivo de direito que se trata da abstrata previsão normativa de uma
situação que ao ser verificada no mundo concreto que autoriza ou determina a prática do ato, ao passo que o
motivo de fato é a concretização no mundo empírico da situação prevista em lei.
Assim sendo, podemos esclarecer que a prática do ato administrativo depende da presença adjunta dos
motivos de fato e de direito, posto que para isso, são imprescindíveis à existência abstrata de previsão norma-
tiva bem como a ocorrência, de fato concreto que se integre à tal previsão.
De acordo com a doutrina, o vício de motivo é passível de ocorrer nas seguintes situações:
a) quando o motivo é inexistente.
• Motivo: situação que autoriza ou determina a produção do ato administrativo. Sempre deve estar previsto
no ato administrativo, sob pena de nulidade, sendo que sua ausência de motivo legítimo ou ilegítimo é causa
de invalidação do ato administrativo.
• Motivação: é a declinação de forma expressa do motivo, sendo a declaração das razões que motivaram
à edição do ato. Já a motivação declarada e expressa dos motivos dos atos administrativos, via de regra, nem
sempre é exigida. Porém, se for obrigatória pela lei, sua ausência causará invalidade do ato administrativo por
vício de forma, e não de motivo.
Convém ressaltar que a Lei 9.784/1999, que regulamenta o processo administrativo na esfera federal, dis-
põe no art. 50, o seguinte:
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídi-
cos, quando:
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;
V - decidam recursos administrativos;
VI - decorram de reexame de ofício;
VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos, propos-
tas e relatórios oficiais;
VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo.
Prevê a mencionada norma em seu § 1º, que a motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo
consistir em declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou
propostas, que, nesse caso, serão parte integrante do ato. Tal hipótese é denominada pela doutrina de “motiva-
ção aliunde” que significa motivação “em outro local”, mas que está sendo admitida no direito brasileiro.
É a teoria dos motivos determinantes. Convém explicitar a respeito da motivação dos atos administrativo e
da teoria dos motivos determinantes que se baseia na ideia de que mesmo a lei não exigindo a motivação, se o
ato administrativo for motivado, ele só terá validade se os motivos declarados forem verdadeiros.
Exemplo
A doutrina cita o caso do ato de exoneração ad nutum de servidor ocupante de cargo comissionado, uma
vez que esse tipo de ato não exige motivação. Entretanto, caso a autoridade competente venha a alegar que a
exoneração transcorre da falta de pontualidade habitual do comissionado, a validade do ato exoneratório virá a
ficar na dependência da existência do motivo declarado. Já se o interessado apresentar a folha de ponto com-
provando sua pontualidade, a exoneração, seja por via administrativa ou judicial, deverá ser anulada.
É importante registrar que a teoria dos motivos determinantes pode ser aplicada tanto aos atos administra-
tivos vinculados quanto aos discricionários, para que o ato tenha sido motivado.
Em suma, temos:
• Motivo do ato administrativo
— Definição: pressuposto de fato e direito que fundamenta a edição do ato administrativo.
— STJ: “Não se decreta a invalidade de um ato administrativo quando apenas um, entre os diversos motivos
determinantes, não está adequado à realidade fática”.
Objeto
O objeto do ato administrativo pode ser conceituado como sendo o efeito jurídico imediato produzido pelo
ato. Em outras palavras, podemos afirmar que o objeto do ato administrativo cuida-se da alteração da situação
jurídica que o ato administrativo se propõe a realizar. Desta forma, no ato impositivo de multa, por exemplo, o
objeto é a punição do transgressor.
Para que o ato administrativo tenha validade, seu objeto deve ser lícito, possível, certo e revestido de mora-
lidade conforme os padrões aceitos como éticos e justos.
Havendo o descumprimento dessas exigências, podem incidir os esporádicos vícios de objeto dos atos ad-
ministrativos. Nesse sentido, podemos afirmar que serão viciados os atos que possuam os seguintes objetos,
seguidos com alguns exemplos:
a) Objeto lícito: punição de um servidor público com suspensão por prazo superior ao máximo estabelecido
por lei específica.
b) Objeto impossível: determinação aos subordinados para evitar o acontecimento de chuva durante al-
gum evento esportivo.
c) Objeto incerto: em ato unificado, a suspensão do direito de dirigir das pessoas que por ventura tenham
dirigido alcoolizadas nos últimos 12 meses, tanto as que tenham sido abordadas por autoridade pública ou fla-
gradas no teste do bafômetro.
d) Objeto moral: a autorização concedida a um grupo de pessoas específicas para a ocupação noturna de
determinado trecho de calçada para o exercício da prostituição. Nesse exemplo, o objeto é tido como imoral.
Por fim, ressalta-se que o princípio da inafastabilidade da prestação jurisdicional possui o condão de ga-
rantir ao particular que considere que algum direito seu foi lesionado ou ameaçado, possa livremente levar a
questão ao Poder Judiciário em busca da defesa dos seus direitos.
• Atos individuais ou especiais: são dirigidos a destinatários individualizados, podendo ser singulares ou
plúrimos. Sendo que será singular quando alcançar um único sujeito determinado e será plúrimo, quando for
designado a uma pluralidade de sujeitos determinados em si.
Exemplo:
O decreto de desapropriação que atinja um único imóvel. Por outro lado, como hipótese de ato individual
plúrimo, cita-se: o ato de nomeação de servidores em forma de lista. Quanto aos destinatários: ATOS GERAIS,
ATOS INDIVIDUAIS, SINGULARES PLÚRIMOS
b) Em relação ao grau de liberdade do agente, os atos podem ser atos vinculados e discricionários.
• Os atos vinculados são aqueles nos quais a Administração Pública fica sem liberdade de escolha, nos
quais, desde que comprovados os requisitos legais, a edição do ato se torna obrigatória, nos parâmetros pre-
vistos na lei. Exemplo: licença para a construção de imóvel.
• Já os discricionários são aqueles em que a Administração Pública possui um pouco mais de liberdade
para, em consonância com critérios subjetivos de conveniência e oportunidade, tomar decisões quando e como
o ato será praticado, com a definição de seu conteúdo, destinatários, a motivação e a forma de sua prática.
c) Em relação às prerrogativas da Administração, os atos administrativos podem ser atos de império, de
gestão e de expediente.
• Já os atos de expediente são tidos como aqueles que impulsionam a rotina interna da repartição, sem
caráter vinculante e sem forma especial, cujo objetivo é dar andamento aos processos e papéis que tramitam
internamente nos órgãos públicos.
Exemplo:
Um despacho com o teor: “ao setor de contabilidade para as devidas análises”.
e) Quanto à formação, os atos administrativos podem ser atos simples, complexos e compostos.
• O ato simples decorre da declaração de vontade de apenas um órgão da administração pública, pouco
importando se esse órgão é unipessoal ou colegiado. Assim sendo, a nomeação de um servidor público pelo
Prefeito de um Município, será considerada como ato simples singular, ao passo que a decisão de um processo
administrativo por órgão colegiado será apenas ato simples colegiado.
• O ato complexo é constituído pela manifestação de dois ou mais órgãos, por meio dos quais as vontades
se unem em todos os sentidos para formar um só ato. Exemplo: um decreto assinado pelo Presidente da Re-
pública e referendado pelo Ministro de Estado.
É importante não confundir ato complexo com procedimento administrativo. Nos dizeres de Hely Lopes Mei-
relles, “no ato complexo integram-se as vontades de vários órgãos para a obtenção de um mesmo ato, ao passo
que no procedimento administrativo praticam-se diversos atos intermediários e autônomos para a obtenção de
um ato final e principal”.
f) Em relação ao ato administrativo composto, pondera que este também decorre do resultado da manifes-
tação de vontade de dois ou mais órgãos. O que o diferencia do ato complexo é o fato de que, ao passo que
no ato complexo as vontades dos órgãos se unem para formar um só ato, no ato composto são praticados dois
atos, um principal e outro acessório.
Ademais, é importante explicar a definição de Hely Lopes Meirelles, para quem o ato administrativo com-
posto “é o que resulta da vontade única de um órgão, mas depende da verificação por parte de outro, para se
tornar exequível”. A mencionada definição, embora seja discutível, vem sendo muito utilizada pelas bancas
examinadoras na elaboração de questões de provas de concurso público. Isso ocorreu na aplicação da prova
para Assistente Jurídico do DF, elaborada pelo CESPE em 2001, que foi considerado correto o seguinte tópico:
“Ao ato administrativo cuja prática dependa de vontade única de um órgão da administração, mas cuja exequi-
bilidade dependa da verificação de outro órgão, dá-se o nome de ato administrativo composto”.
Espécies
O saudoso jurista Hely Lopes Meirelles propõe que os atos administrativos sejam divididos em cinco espé-
cies. São elas: atos normativos, atos ordinatórios, atos negociais, atos enunciativos e atos punitivos.
• Atos normativos
Os atos normativos são aqueles cuja finalidade imediata é esmiuçar os procedimentos e comportamentos
para a fiel execução da lei, posto que as dispostas e utilizadas por tais atos são gerais, não possuem destinatá-
rios específicos e determinados, e abstratas, versando sobre hipóteses e nunca sobre casos concretos.
a) Decreto: é ato administrativo de competência privativa dos chefes do Poder Executivo utilizados para re-
gulamentar situação geral ou individual prevista na legislação, englobando também de forma ampla, o decreto
legislativo, cuja competência é privativa das Casas Legislativas.
O decreto é de suma importância no direito brasileiro, motivo pelo qual, de acordo com seu conteúdo, os
decretos podem ser classificados em decreto geral e individual. Vejamos:
b) Decreto geral: possui caráter normativo veiculando regras gerais e abstratas, fato que visa facilitar ou
detalhar a correta aplicação da Lei. Exemplo: o decreto que institui o “Regulamento do Imposto de Renda”.
c) Decreto individual: seu objetivo é tratar da situação específica de pessoas ou grupos determinados,
sendo que a sua publicação produz de imediato, efeitos concretos.
Exemplo:
Decreto que declara a utilidade pública de determinado bem para fim de desapropriação.
Nesse ponto, passaremos a verificar a respeito do decreto regulamentar, também designado de decreto de
execução. A doutrina o conceitua como sendo aquele que introduz um regulamento, não permitindo que o seu
conteúdo e o seu alcance possam ir além daqueles do que é permitido por Lei.
Por sua vez, o decreto autônomo é aquele que dispõe sobre matéria não regulada em lei, passando a criar
um novo direito. Pondera-se que atualmente, as únicas hipóteses de decreto autônomo admitidas no direito
brasileiro, são as disposta no art. 84, VI, “a”, da Constituição Federal, incluída pela Emenda Constitucional
32/2001, que predispõe a competência privativa do Presidente da República para dispor, mediante decreto,
sobre a organização e funcionamento da administração federal, quando não incorrer em aumento de despesa
nem criação ou extinção de órgãos públicos.
• Atos ordinatórios
Os atos administrativos ordinatórios são aqueles que podem ser editados no exercício do poder hierárquico,
com o fulcro de disciplinar as relações internas da Administração Pública. Detalharemos aqui os principais atos
ordinatórios. São eles: as instruções, as circulares, os avisos, as portarias, as ordens de serviço, os ofícios e
os despachos.
Instruções: tratam-se de atos administrativos editados pela autoridade hierarquicamente superior, com o
fulcro de ordenar a atuação dos agentes que lhes são subordinados. Exemplo: as instruções que ordenam os
atos que devem ser usados de forma interna na análise do pedido de utilização de bem público formalizado
unicamente por particular.
Circulares: são consideradas idênticas às instruções, entretanto, de modo geral se encontram dotadas de
menor abrangência.
Avisos: tratam-se de atos administrativos que são editados por Ministros de Estados com o objetivo de
tratarem de assuntos correlatos aos respectivos Ministérios.
Portarias: são atos administrativos respectivamente editados por autoridades administrativas, porém, dife-
rentes das do chefe do Poder Executivo. Exemplo: determinação por meio de portaria determinando a instau-
ração de processo disciplinar específico.
Ofícios: são especificamente, atos administrativos que se responsabilizam pela formalização da comuni-
cação de forma escrita e oficial existente entre os diversos órgãos públicos, bem como de entidades adminis-
trativas como um todo. Exemplo: requisição de informações necessárias para a defesa do Estado em juízo por
meio de ofício enviado pela Procuradoria do Estado à Secretaria de Saúde.
• Atos negociais
Também chamados de atos receptícios, são atos administrativos de caráter administrativo editados a pedido
do particular, com o fulcro de viabilizar o exercício de atividade específica, bem como a utilização de bens pú-
blicos. Nesse ato, a vontade da Administração Pública é pertinente com a pretensão do particular. Fazem parte
desta categoria, a licença, a permissão, a autorização e a admissão. Vejamos:
• Atos enunciativos
São atos administrativos que expressam opiniões ou, ainda, que certificam fatos no campo da Admi-
nistração Pública. A doutrina reconhece como espécies de atos enunciativos: os pareceres, as certidões, os
atestados e o apostilamento. Vejamos:
a) Pareceres: são atos administrativos que buscam expressar a opinião do agente público a respeito de
determinada questão de ordem fática, técnica ou jurídica. Exemplo: no curso de processo de licenciamento
ambiental é apresentado parecer técnico.
De forma geral, a doutrina pondera a existência de três espécies de pareceres. São eles:
1) Parecer facultativo: esta espécie não é exigida pela legislação para formulação da decisão administrativa.
Ao ser elaborado, não vincula a autoridade competente;
b) Certidões: tratam-se de atos administrativos que possuem o condão de declarar a existência ou inexis-
tência de atos ou fatos administrativos. As certidões são atos que retratam a realidade, porém, não são capazes
de criar ou extinguir relações jurídicas.
*Nota importante: o art. 5, XXXIV, “b”, da Constituição Federal consagra o direito de certidão no âmbito de
direitos fundamentais, no qual assegura a todo e qualquer cidadão interessado, independentemente do paga-
mento de taxas, “a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de
situações de interesse pessoal”.
c) Atestados: tratam-se de atos administrativos similares às certidões, posto que também declaram a exis-
tência ou inexistência de fatos. Entretanto, os atestados não se confundem com as certidões, uma vez que nas
certidões, o agente público utiliza-se do ato de emitir declaração sobre ato ou fato constante dos arquivos públi-
cos, ao passo que os atestados se incumbem da tarefa de retratar fatos que não constam de forma antecipada
dos arquivos da Administração Pública.
d) Apostilamento: tratam-se atos administrativos que possuem o objetivo de averbar determinados fatos
ou direitos reconhecidos pela norma jurídica como um todo. Como exemplo, podemos citar o apostilamento, via
de regra, feito no verso da última página dos contratos administrativos, da variação do valor contratual advinda
de reajuste previsto no contrato, nos parâmetros do art. 65, § 8.°, da Lei 8.666/1993, Lei de Licitações.
• Atos punitivos
Também chamados de atos sancionatórios, os atos punitivos são aqueles que atuam na restrição de direi-
tos, bem como de interesses dos administrados que vierem a atuar em desalento com a ordem jurídica de modo
geral. Entretanto, exige-se, de qualquer forma, o devido respeito à ampla defesa e ao contraditório na edição
de atos punitivos, nos trâmites do art. 5.°, LV, da Constituição Federal Brasileira, bem como que as sanções
administrativas tenham previsão legal expressa cumprindo os ditames do princípio da legalidade.
Podemos dividir as sanções em dois grupos:
1) Sanções de polícia: de modo geral são aplicadas com supedâneo no poder de polícia, bem como são
relacionadas aos particulares em geral. Exemplo: multa de trânsito.
2) Sanções funcionais ou disciplinares: são aplicadas com embasamento no poder disciplinar aos servido-
res públicos e às demais pessoas que se encontram especialmente vinculadas à Administração Pública. Exem-
plo: reprimenda imposta à determinada empresa contratada pela Administração.
Em relação aos atos punitivos, pode-se citar como exemplos, as multas, as interdições de atividades, as
apreensões ou destruições de coisas e as sanções disciplinares. Vejamos resumidamente cada espécie:
Interdições de atividades: são atos que proibitivos ou suspensivos do exercício de atividades diversas.
Cassação
É a supressão do ato pelo fato do destinatário ter descumprido condições que deveriam permanecer aten-
didas com o fito de dar continuidade à0situação jurídica. Como modalidade de extinção do ato administrativo,
a cassação relaciona-se ao ato que, mesmo sendo legítimo na sua origem e formação, tornou-se ilegal na sua
execução. Exemplo: cassação de uma licença para funcionamento de hotel que passou a funcionar ilegalmente
como casa de prostituição.
Vale ressaltar que um dos principais requisitos da cassação de um ato administrativo é a preeminente
necessidade de sua vinculação obrigatória às hipóteses previstas em lei ou norma similar. Desta forma, a
Administração Pública não detém o poder de demonstrar ou indicar motivos diferentes dos previstos para
justificar a cassação, estando, desta maneira, limitada ao que houver sido fixado nas referidas leis ou normas
similares. Esse entendimento, em geral, evita que os particulares sejam coagidos a conviver com extravagante
insegurança jurídica, posto que, a qualquer momento a administração estaria apta a propor a cassação do ato
administrativo.
Relativo à sua natureza jurídica, sendo a cassação considerada como um ato sancionatório, uma vez que a
cassação só poderia ser proposta contra particulares que tenham sido flagrados pelos agentes de fiscalização
em descumprimento às condições de subsistência do ato, bem como por ato revisional que implicasse audito-
ria, acoplando até mesmo questões relativas à intercepção de bases de dados públicas.
Vale ressaltar que a cassação e a anulação possuem efeitos parecidos, porém não são equivalentes, uma
vez que a cassação advém do não cumprimento ou alteração dos requisitos necessários para a formação ou
manutenção de uma situação jurídica, ao passo que a anulação tem parte quando é verificado que o defeito do
ato ocorreu na formação do ato.
Anulação
É a retirada ou supressão do ato administrativo, pelo motivo de ele ter sido produzido com ausência de
conformidade com a lei e com o ordenamento jurídico. A anulação é resultado do controle de legalidade ou legi-
timidade do ato. O controle de legalidade ou legitimidade não permite que se aprofunde na análise do mérito do
ato, posto que, se a Administração contiver por objetivo retirar o ato por razões de conveniência e oportunidade,
deverá, por conseguinte, revogá-lo, e não o anular.
Diferentemente da revogação, que mantém incidência somente sobre atos discricionários, a anulação pode
atingir tanto os atos discricionários quanto os vinculados. Isso que é explicado pelo fato de que ambos deterem
a prerrogativa de conter vícios de legalidade.
Assim, percebe-se que o instituto da autotutela pode ser invocado para anular o ato administrativo por mo-
tivo de ilegalidade, bem como para revogá-lo por razões de conveniência e oportunidade.
A anulação do ato administrativo pode se dar de ofício ou por provocação do interessado.
Tendo em vista o princípio da inércia Poder Judiciário, no exercício de função jurisdicional, este apenas
poderá anular o ato administrativo havendo pedido do interessado.
Destaque-se que a anulação de ato administrativo pela própria Administração, somente pode ser realizada
dentro do prazo legalmente estabelecido. À vista da autonomia administrativa atribuída de forma igual à União,
Estados, Distrito Federal e Municípios, cada uma dessas esferas tem a possibilidade de, observado o princípio
da razoabilidade e mediante legislação própria, fixar os prazos para o exercício da autotutela.
Em decorrência do disposto no art. 54 da Lei 9.784/1999, no âmbito federal, em razão do direito de a Ad-
ministração anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários de boa-fé,
o prazo de anulação decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados. Infere-se que como tal
norma não possui caráter nacional, não há impedimentos para a estipulação de prazos diferentes em outras
esferas.
Revogação
É a extinção do ato administrativo válido, promovido pela própria Administração, por motivos de conve-
niência e oportunidade, sendo que o ato é suprimido pelo Poder Público por motivações de conveniência e
oportunidade, sempre relacionadas ao atendimento do interesse público. Assim, se um ato administrativo legal
e perfeito se torna inconveniente ao interesse público, a administração pública poderá suprimi-lo por meio da
revogação.
A revogação resulta de um controle de conveniência e oportunidade do ato administrativo promovido pela
própria Administração que o editou.
É fundamental compreender que a revogação somente pode atingir os atos administrativos discricionários.
Isso ocorre por que quando a administração está à frente do motivo que ordena a prática do ato vinculado, ela
deve praticá-lo de forma obrigatória, não lhe sendo de forma alguma, facultada a possibilidade de analisar a
conveniência e nem mesmo a oportunidade de fazê-lo. Desta maneira, não havendo possibilidade de análise
de mérito para a edição do ato, essa abertura passará a não existir para que o ato seja desfeito pela revogação.
Mesmo não se submetendo a qualquer limite de prazo, a princípio, a revogação do ato administrativo pode
ser realizada a qualquer tempo. Nesse sentido, a doutrina infere a existência de certos limites ao poder de re-
vogar. Nos dizeres de Maria Sylvia Zanella Di Pietro12, não são revogáveis os seguintes atos:
b) Os atos que exauriram seus efeitos, como a revogação não retroage e os atos já produziram todos os
efeitos que lhe seriam próprios, não há que falar em revogação; é o que ocorre quando transcorre o prazo de
uma licença concedida ao servidor público, após o gozo do direito, não há como revogar o ato;
c) Quando a prática do ato exauriu a competência de quem o praticou, o que ocorre quando o ato está
sob apreciação de autoridade superior, hipótese em que a autoridade inferior que o praticou deixou de ser com-
petente para revogá-lo;
d) Os meros atos administrativos, como certidões, atestados, votos, porque os efeitos deles decorrentes
são estabelecidos pela lei;
e) Os atos que integram um procedimento, porque a cada novo ato ocorre a preclusão com relação ao
ato anterior;
f) Os atos que geram direitos a terceiros, (o chamado direito adquirido), conforme estabelecido na Sú-
mula 473 do STF.
Convalidação
É a providência tomada para purificar o ato viciado, afastando por sua vez, o vício que o maculava e man-
tendo seus efeitos, inclusive aqueles que foram gerados antes da providência saneadora. Em sentido técnico, a
convalidação gera efeitos ex tunc, uma vez que retroage à data da edição do ato original, mantendo-lhe todos
os efeitos.
Sendo admitida a convalidação, a convalidação perderia sua razão de ser, equivalendo em tudo a uma anu-
lação, apagando os efeitos passados, seguida da edição de novo ato que por sua vez, passaria a gerar os seus
tradicionais efeitos prospectivos.
Por meio da teoria dualista é admitida a existência de vícios sanáveis e insanáveis, bem como de atos ad-
ministrativos nulos e anuláveis.
À vista da atual predominância doutrinária, a teoria dualista foi incorporada formalmente à legislação bra-
sileira. Nesse diapasão, o art. 55 da Lei 9.784/1999 atribui à Administração pública a possibilidade de convali-
dar os atos que apresentarem defeitos sanáveis, levando em conta que tal providência não acarrete lesão ao
interesse público nem prejuízo a terceiros. Embora tal regra seja destinada à aplicação no âmbito da União, o
mesmo entendimento tem sido aplicado em todas as esferas, tanto em decorrência da existência de dispositivo
similar nas leis locais, quanto mediante analogia com a esfera federal e também com fundamento na prevalên-
cia doutrinária vigente.
Assim, é de suma importância esclarecermos que a jurisprudência tem entendido que mesmo o ato nulo
pode, em determinadas lides, deixar de ter sua nulidade proclamada em decorrência do princípio da segurança
jurídica.
Decadência Administrativa
O instituto da decadência consiste na perda efetiva de um direito existente, pela falta de seu exercício, no
período de tempo determinado em lei e também pela vontade das próprias partes e, ainda no fim de um direito
subjetivo em face da inércia de seu titular, que não ajuizou uma ação constitutiva no prazo estabelecido pela lei.
Celso Antônio Bandeira de Mello considera esse instituto como sendo a “perda do próprio direito, em si,
por não o utilizar no prazo previsto para o seu exercício, evento, este, que sucede quando a única forma de
expressão do direito coincide conaturalmente com o direito de ação”. Ou seja, “quando o exercício do direito se
confunde com o exercício da ação para manifestá-lo”.
Nos trâmites do artigo 54 da Lei 9.784/99, encontramos o disposto legal sobre a decadência do direito de
a administração pública anular seus próprios atos, a partir do momento em que esses vierem a gerar efeitos
favoráveis a seus destinatários. Vejamos:
“No próprio Superior Tribunal de Justiça, onde ocupei durante dez anos a Turma de Direito Público, a minha
leitura era exatamente essa, igual à da ministra Carmen Lúcia; quer dizer, a administração tem cinco anos para
concluir e anular o ato administrativo, e não para iniciar o procedimento administrativo. Em cinco anos tem que
estar anulado o ato administrativo, sob pena de incorrer em decadência (grifo aditado). Eu registro também
que é da doutrina do Supremo Tribunal Federal o postulado da segurança jurídica e da proteção da con-
fiança, que são expressões do Estado Democrático de Direito, revelando-se impregnados de elevado
conteúdo ético, social e jurídico, projetando sobre as relações jurídicas, inclusive, as de Direito Público.
De sorte que é absolutamente insustentável o fato de que o Poder Público não se submente também a
essa consolidação das situações eventualmente antijurídicas pelo decurso do tempo.”
Destaca-se que ao afirmar que a Administração Pública dispõe de cinco anos para anular o ato administrati-
vo, o ministro Luiz Fux promoveu maior confiabilidade na relação entre o administrado e Administração Pública,
suprimindo da administração o poder de usar abusivamente sua prerrogativa de anulação do ato administrativo,
o que proporciona maior equilíbrio entre as partes interessadas.
Em resumo, é de grande importância o posicionamento adotado pela Corte Suprema, levando em conta
que ao mesmo só tempo, propicia maior segurança jurídica e respeita a regra geral de contagem do prazo de-
cadencial.
Exercícios
Posteriormente, o Estado ajuizará ação regressiva contra o servidor, mas aqui o Estado deverá demonstrar
o dolo ou a culpa do servidor público Fernando, ou seja, na ação regressiva a responsabilidade do agente pú-
blico é subjetiva.
Sendo assim, gabarito letra D. O Município Alfa deve ajuizar ação regressiva em face de Fernando, com
base em sua responsabilidade civil subjetiva, pois o agente público tem o dever de ressarcir o erário municipal,
porque agiu com culpa, incidindo no caso narrado a teoria da dupla garantia: a primeira para o particular Moacir
que teve assegurada a responsabilidade objetiva, não necessitando comprovar dolo ou culpa de Fernando; e a
segunda para o servidor Fernando, que somente responderá perante o ente municipal.
“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO: § 6º
DO ART. 37 DA MAGNA CARTA. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. AGENTE PÚBLICO (EX-PREFEI-
TO). PRÁTICA DE ATO PRÓPRIO DA FUNÇÃO. DECRETO DE INTERVENÇÃO.