Você está na página 1de 47

As hipóteses sobre o centro de origem e rotas

de expansão dos Tupi1

Francisco Sil va N oe lli2


Unive rs idade Est adu al ele M ar ingá

RESUMO : Desde 1838 se ve 1n in1agi nando e pe squisando a or igem e a


expansão dos T upi . M as foi apenas nos últi1nos qu arent a anos qu e a ques-
tão pa so u a se r tratada co1n e leme nt os obtidos pela lingüística histórica
e pela arqueo logia . E ntretan to, essa s info n naçõe s rece ntes ainda nã o fo-
ran1 totalmente ab so rvidas , po is seg ue1n vige ntes as hip ó teses e co nclu -
sões propostas há 1nais de ce n1 anos.

PALAVRAS -C HAVE : arqueologia , centro de orige 1n dos Tupi, rotas de


expansão do s T upi.

O inte resse e1n exp lica r c ientifica 1ne nte a enorme di spersão territorial
do s T upi surgiu pela pri 1neira vez e1n 1838 e se mantém , sendo uma
questão quase int eira 1nen te abe rta à pesqui sa e ao debate. At é o n10-
mento te1n hav ido consenso sobre a existência de u1n centro de ori-
gem comu m , do qual os T upi se dista nc iara 1n para várias direç ões e
se diferenciara1n , por 1neio de processo s hi stór ico-culturais di stint os.
Ma ntivera 1n , porén1 , d iversas ca rac ter ísticas cultura is co1nuns.
1-<'R\NCtso Nou .11.Rcn AS DE EXPA NSÃO Do s Tui>1

'f al co nsen so, entreta nto, re fe re-se apenas ú existência de uni cen-
tro e de distintas rotas de expa nsão. Não há consenso quanto à loca-
lização geográ fica desse cen tro e quanto à direção das ro tas .
Atrav és de uni histórico das pesqu isas sobre os dois temas, o obje-
tivo deste artigo é resenhar e disc utir as hipóteses sobre o centro de
origen1 e as rotas de expansão dos Tupi, 1nostrando que hou ve 1na is
recorrências à pri n1cira hipótese e ben1 1nc nos pesquisas e1n busca de
provas científica~. Para lela n1entc, 1nost rand o o estado e 1n que se en-
contra a questão, pretende-se aprese ntar sobretudo as interpretações
surgidas a partir de 1960 , quando foran1 incorporados dados arqueo -
lógicos (loca lização de sítios/datações radiocarbônicas e tern1olu1nines-
centcs) e lingüísticos (glotoc ronologia e relações entre as línguas). Ao
111es1notcn1po, n1inha intenção ta1nbé1n é mostrar que:
A) Há elen ientos suficientes para dar consistência ao estabelecin1en-
to de relações diretas ligando grupos Tupi pré-históricos aos históricos,
criando as bases científicas para co n1precnder globaln1ente suas origens,
con tinuidades, n1udanças e/ou desaparecin1ento.
B) É itnportantc que se passe a considerar a crono logia arqueológi-
ca, nos casos en1 que é poss ível, a partir das dataçõ es racliocarbônicas,
abandonando-se as te1nporalidades propostas no século XIX, con10 a
suges tão de que a expansão teria ocorrido pouco antes do século XVI.
/

C) E necessá rio que se abandonen1 as hipóteses e os press upostos


apoiados son1cntc e1n inforn1ações históricas , produzidas antes da pes-
quisa arqueológica e lingüística n1ais recente, cujas conclusões distorce1n
os aco ntecin1entos pré-históricos.
Isto é possível a partir de estudo s co1no o de Colin Renfrew ( 1987),
que 1na nifesta a necessidade de desenvolver 1netodologias que integre1n
dado s arqueológicos e lingüísticos para estudar a história e o desenvol-
vi1nento das populações . Cabe repetir aqui sua crítica à pesquisa sobre
o centro de orige1n e rotas de expansão dos indo-europeus. Renfrew
concluiu que po r rnuito ten1po linguistas e arqueólogos se contentaran1
e1n usar acritica1nente os resultad os arqueológicos e lingüísticos e que

-8-
R i::v 1ST/\ DE ANTROPOLOGIA, Si\o PAULO,USP, 1996, v. 39 nº 2.

seria o 11101nentode desenvolver 1netodo logias que integrassem as


abordagens de a111bos.Pode-se afinna r que os Tupi preenchen1 os re-
quisito s para a rea lização de um e111pr eendi 1nento deste tipo.
Subjacente ao debate há duas hip óteses que vêm sendo aperfeiço-
adas e ganhando consistênc ia progressiva1nente, a partir das infor-
rnações obtidas nos ú lti1110strinta anos: 1) as diferenciaçõe s 111ateriais
aco1npanha ra1n as derivaçõe s Jingüística s; 2) as diferenciaçõe s ma-
teria is e tecnológ icas não aco ntecera 1n iso lada1nente, rnas a part ir de
fenôn1enos culturallnent e encadeados.
Entre 1838 e 1946, as hip óteses sobre o tem a foram construídas
com dados histó ricos e et nográficos que não propiciam elementos
tão cons iste ntes qua nto os arqu eoló gicos e lingü ístico s para definir
orige1n, expa nsão, co ntinui dades e 1nudança s pré-históricas. Fora1n
influenciadas por diversas teoria s, de sde o degeneracionismo, os
deterrninisrnos raciais e geog ráfico s, até o evolucionis1no. Como se
verá, a 1naior parte das hipóteses sobre o centro de origem e a ex-
pansão funda1nentou-se e1n deduções a part ir da localização histó -
rica do s povos Tupi co nhec ido s.
Desde 1946 até a atualidade, co 1n a publicação do Handbo ok o.f
South Anierican lndi ans, as informa ções arqueológica s pa ssa ran1 a
se r interpretada s a part ir do dete nnini s1no ecológico e do difusi-
onisn10. Neste 1nes1noperíodo forarn introduzidos 1nétodo s próprios
da lingüística histórica (Dyen, 1956; Rodrigu es, 1963, 1986; Swadesh,
1971 ; Ehre t, 1976; Ca 1nara J r., 1979a, 1979b ), especialinente para
identificar as relações entre as línguas 1nais apar entada s.

Os Tupi
Por Tupi designa-se u1n tronco lingüístico que engloba aproxin1adamente
41 línguas que se expandira1n, há vários 1nilênios, pelo leste da A1néricado
Sul (Brasil, Peru, Bolívia, Paraguai, Argentina e U1uguai). Por Tupi são
designados ta1nbén1os povos fa lante s dessas língua s.

-9-
FR,\ 1c 1soNoELU. Ro r/\s DE ExP/\NSAo nos Tur>1

Das 41 línguas, as rnais citadas desde a chegada dos europeus foram


o guarani e o tupinênnbá. Apes ar da aceitação da organização do tron-
co lingüístico feita por Aryo n Rodrigues ( J 950 , l 958 , 1964, 1984-19 85,
1986), o termo tup i ten1 sido usado , indev ida1nente, para designar uni-
C8111ente a língua tupinan1bá. Em 111uit as pub licações de arqueo logia há
u1na tendência a englobar sin1plificada111ent e todos os não-Gua rani (as
demais quarenta línguas) co1no um só povo , deno1ni nando-o Tupi , e]i-
n1inando -se as diferenciaçõe s ex istentes (ver lista de línguas in:
Mont serrat, 1994:98). A expressão Tupi-g uaran i, que defi ne uma das
sete fa1ní]ias lingüísticas do tronco tupi, ta1nbé 1n ve1n sendo usada inde-
vidamente para designar u1na língua en1 algumas publicações.

Migração ou expansão?
A terminologia tradi cionahn ente utilizada para definir todo s os mov i-
1nentos populacionai s dos Tupi é u1n tanto restrit iva, pois conceb e-os
apenas con10 niigrações 3. O tenno 1nig ra ção significa etimo logica-
1nente, e111 sua orige111latina, 1novin1ento saindo de u111lugar para outro,
aba ndonando sua região de orige111.No caso dos Tu pi este tenn o se-
ria 1na is adequado para defini r as 111ovi1n entações que os 1nes 111osre-
alizara 1n , 111ot
i vados pela pressão de outros povo s, corno por exe m-
plo, após 1500 , dos europeus. Estas 1nigrações foram caracterizadas,
inclusive, co 1no rnovi 1nentos de fuga (Métraux, 1927 ).
Es te ter mo, po ré1n , não parece definir adequadan1ente aqueles 1no-
vin1entos dos Tup i desenc adea dos poss ivelTnente por razões outr as,
tais co 1110 o cresc i1nento de1nográfico , di versas 1nodalidades sóc io-
po líticas de fraciona1nento das aldeias, 1nanej o agroflorestal etc. Con-
fonn e estud os arqueo lóg icos, fo i poss ível verificar que os Tupi man-
tinh a111a posse de seus do1nínios por longos períodos, expandind o-se
para novo s territórios sen1 abandonar os anti gos (Bro chado , 1984;
Scata 1nacc hia, 1990 ; Noe lli, 1993 b) . Pesquisas etnobiológ icas e de
história indíge na vê1n de1nonstrando que os territórios de domínio de

- 1O -
R EVISTA oc ANTROPOLOG IA, S Ao P AULO, USP, 1996, v. 39 nº 2.

alguns povo s Tupi eran1 le ntam ente co nqui stado s, manejado s e


longa1nente usufruído s, cons tituindo , então, u1na faceta 1nuito impor -
tant e a ser co nsiderad a no est udo da expa nsão (Noelli , 1993a, b).
O ten n o adequado para def inir estes de slocam entos, portanto , é
expansão, signifi ca ndo di stensão, alarga1nento , ala stra1nento , com o
se ntido de ir co nqui stando novas áreas sem abandonar as anter iores .
A ss in1 co 111
0 Ant hony ( 1990 ) realizou aprof und ado estudo so bre a
niigração ern arqueolog ia, se ria important e urn de senvo lvi1nento simi -
lar a respeito das que stões ge ográfica s e soc iais que envo lvem as ex-
pansões, espec iaJn1e nte e111tern1os conce ituais e 1netodo lógicos.

As hipóteses sobre o centro de origem


Ern co nferência proferida etn 1838, "O passado e futuro da hum ani-
dade a1nerica na ", Karl F.Ph. von Martiu s ( 1867 I: 1-42) propô s pe la
prime ira vez a hip óte se de u1n centro de orige111 do s Tup i e ntre o
Para gua i e o sul da Bolívia, co nsiderand o esta reg ião co 111
0 a po ssível
porta de entrada hu111anap ara o leste da An1ér ica do Sul , a partir dos
A ndes. Martiu s acreditava qu e a expa nsão fora recente , pouco antes
da chegada do s eu rope us, e que, desde antes de 1500 , de "lo nga data ",
já estava m no ca 1ninho da dege neração , suge rindo que as alta s cu ltu -
ra s era1n anterio res às tribai s (Martius, 1867 I: 1-42 , exp lor a demo -
rada 111ente a que stão). A pa rtir da idé ia de que as popula ções nativ as
da An1érica pa ssara 111por um co nt ínuo proce sso de decadência , de-
duz iu a exi stência de vár ias lín gua s de rivadas de uma s pouca s origi-
nais. As de ri vações seriam originária s de urna de so rdenada mist ur a
ent re populações distinta s, res ultand o e1n novas línguas e dialetos. Esta
pos ição fo i repet ida e111sua tese "Co 1no se deve escrever a Hi stó ri a
do B rasil" (Ma rtiu s, 1845) , vencedora de u111concu rso do Instituto
Hi stórico e Geográfico Bra sile iro.
Em 1839, seg uind o Mart ius e partindo de c ritério s lin güí sticos , fí-
sico s e de localização geográfica dos fa lant es do tron co tupi , Alcides

- 11 -
FRA C ISO NOEi LI . ROT AS DE EXPANSt\O DOS T UPI

D'Orbigny suge riu un1a reg ião e ntre o Para guai e o Br as il como "pá-
tria pri1nitiva" (D'O rbi gny, [ 1839] 1944:37, 368) . D e no1ninou , e ntão,
todos os Tupi co 1no "B rasí lio -G uarani " ou "G uar an i".
E 1n 1886 Karl von den Steine n ( 1886:353) propô s que as cabec eiras
do rio Xingu estava1n na área "o nde n1ais ou rne nos se encontra o pon-
to geográ fico ce ntr al da irradiação tupi '' . Von de n Steinen ( 1886:323)
foi o criador do te rn10 tupi-guarani. E1nbora não tenha ju stificad o sua
criação, pode-se inferir que teve o objetivo de e li1ninar a confusão das
discussões da sua é poc a, quando se chan1avarn os Tupi ora de "t upi "
ora de "guara ni " (disc ussão do proble1na in : Edelweiss, 1947).
Pau1E hrenreich ( 189 l ). n1e111bro da seg unda exped ição de Von de n
SLeinen ao Xingu, e n1 1887, n1unido de argu111entações lin güí stica s e
etnográficos n1ais explícitas qu e se u s predecessore s, dizia qu e "t udo
indica qu e deven1os pr ocu rar se u ponto de ê xodo onde aind a hoje
ve1n os aglo111erada a 1nassa 111a i s co 1npac ta de sta s tribo s, isto é, no
P araguai e sua s v izinhan ças" . Di z ia ta1nbé1n que a "di stribuição mui -
to espal hada des tes po vos, co 1no se ve rá exa ,ninand o u 1n 1napa , ex-
plica -se pe la irradia ção de u1n cent ro-i" (E hr e nr eich, 1891) . E1n
Ehr e nr eic h nota-se a cont inui dade das hip óteses so bre o local do cen-
tro de or ige n1 de D ' Orbi g ny e Martiu s, e sobre a irr adia ção ce ntral de
Von den St e ine n. Foi nestes quat ro cient istas qu e grand e part e dos de-
m a is pesq ui sa dore s e 1nbasou suas propo s içõ es .
Wilh elin Sch 1nidt ( 1913), urn dos c riad ores da apli cação da teo ria
do s círcu los culturai s na A1né rica do Su l, após co tnpara ções de diver -
sos aspectos cu lturais e ntr e os rfupi e, nun1 es pectro n1ais a1nplo , des -
tes co 111povo s de outras cu ltura s, propôs co n10 ce ntr o de orige 1n a área
das nasce ntes do A tnazo nas .
Affon so A. de Fre itas ( I 9 14) suge riu co1no cen tro de origc 1n are-
g ião situ ada ent re as ca bece iras do rio M ade ira, lago T iticaca, rio s Beni
e A raguaia (c rítica in : Baldu s, 1954:251-2) .
Rodo lfo Ga rc ia ( 1922), basea do e ,n Eh re nre ich, co loca a área e ntre
as bac ias dos rios Para guai e Paran á co 1no prováve l ce ntro de orige 1n.

- 12 -
R EVIST A DE ANTROPOLO GIA , SÃo P AULO, USP , 1996, v. 39 nº 2.

F rit z Kr ause ( 1925) def iniu urna região aprox i111 ada à do s Omágua
e Koká111a, e ntr e os rio s Napo e Juruá, co1no centro de orige 1n.
A lfr ed M é traux ( 1927, 1928, 1948a, 1948b) pod e ser cons id e ra -
do o divi so r de água s e ntre todo s os que propuseram ce ntros de o ri -
ge m , poi s foi o primeiro a ju stificar sua s proposições com e leme n-
to s siste 1naticam e nte o rga nizado s e co 1nparados. Tamb ém fo i o mai s
c itado e o 111 e no s contestado em su as hipóte ses a res peito d o ce ntr o
de or ige 111e da s rot as de ex pan são (c rítica s in : Bro c hado , 1984 :351-
4; Lar a ia , 1986: 22). A notáve l imunidade de sua s propo sta s sobre
as " mi g rações" pré-históricas , tornad as obsoletas p e la a rqu eo lo gia,
a ind a se 111 a nt é 111(La rai a, 1988 ; Brandão , 1990; Fau sto , 1992:382 ;
Santos , 1992; Porro , 1992:74- 76 ).
Em bo ra o seu pri 111eiro trabalho de fôlego tenha tr ata d o das 111igra-
ções hi stóricas do s tup i5 (Mét raux, 1927 ), foi no estudo sob re a cul-
tur a 111ate ri al que M é traux ( 1928) propôs sua hip ótese so br e o centro
de o ri gem. In sp irad o p e los 1néto do s compa rativos de Erland
No rdenskjo ld e Wi lhe hn Sch111idt, Métraux co111parou geograficamente
ele1nen to s 111ate riais e tecno lóg icos, ded uzin do que o centro de orige1n
se ri a uma " reg ião sufi c iente111ente viz inha " da Amazônia, porque os
Tupi ap rese nt ava 111influ ê nc ias se tentr iona is e Atna zônicas (Mé traux ,
1928:31 O). M ét rau x supôs q ue, dificihnente , a 111 argem nort e do A111a-
zo na s se ri a a "pá tr ia primitiva ", e qu e o ce ntro d e o rigem estaria em
algu111luga r da bacia do Tapajó s ou do Xingu. Por fi111, definindo-se,
conc luiu qu e:

nenhu1na tribo Tupi -Guarani de i1nportânc ia na época pré-hist órica es-


taria estabe lecida sobre a 1nargen1 esquerda do An1azonas e que a ocu-
pação de sua cos ta seria feita tardimnent c, nos forçando portant o a co-
locar o centro de dispersão das tribos desta raça dentro da área li1nitada
ao norte pelo A1nazonas, ao sul pelo Para guai, a leste pelo Tocantins e
a oeste pelo Madeira. íMétraux , 1928 :3 12]

- 13 -
F Ri\NC ISO NOELU. ROTAS ()E EXPANSÃO DOS T UPI

Branislava Susn ik ( 1975:57), após u1na revisão etnológica tão am-


pla quanto a de Mét raux, suger iu as planícies colo1nbianas como cen-
tro de origcn1. O n1otivo das expa nsões obedece rian1 quatro fatores
essenciais: 1) cresci1n ento de1nográfico, co 111o probl ema si1nultâneo
do fracionan1ento dos núc leos originais; 2) necess idade de nova s ter-
ras para agricu ltura; 3) pressão periférica de povos não-Tupi ; 4) aban-
dono coletivo de zonas sen1 condições eco lóg icas adequada s.
O segundo gra nde grupo de estud iosos a propor centros de origem
foi constituído por lingüístas, ta 1n bén1 baseado s e1nMartiu s, Von den
Ste jnen e Ehren reich .
Mo isés Be rtoni ( I 9 16, 1922) acreditava na existência de u1na única
1íngua karíb-gua rani, do1n inando as A1néricas Central e do Sul. Bertoni
cha111 ava de "gua rani" o tronco tupi e afinnav a que a orige1n dos Tupi
era asiática, vindos para a A1nér icajá fonn ados cu lturalm ente. Bertoni
( 1922:2 98), rep roduzindo Max Uhle, afirn1ou que os Tupi tivera1n in-
fluência direta das altas cultur as 1nex icanas e centro-a1nericanas.
Paul Ri vet ( 1924), influ encia do por Martiu s e E hrenreich , apó s
co mp ara r diversas línguas, prop ôs o ce ntro de origern entre os rios
Paraguai e Paraná, na altura do Para gua i. Rivet foi reprodu zido por
Jorge B . Stella ( 1928), Man sur Guérios ( 1935 ), Aryon Rodr igues
( I 945 ) e J. Ald en Ma son ( 1950).
Aryon Rodri gues, e1n 1964 , con1 outros critér ios, a part ir do 1néto-
do léxico -estat ístico e da noção de que a conc entração da 1na ioria das
fa1nílias de u1n tronco lingüístico nu1na 1nes1na área sugeria o centro de
origem de utna protolín gua, prop ôs que o centro de orige1n dos Tupi
deveria ser procurado na região do Guapo ré (Rodrigues, 1964: 103).
Outros lingüi stas ta1nbé1nprop usera111distinto s ce ntros de origem :
Ce st1nir Louk otka ( 1929: ,napa, 1935, 1950) - entre o J uruena e o
Arinos; A. Chi Ide ( 1940) - cabece iras do Xingu e alto Araguaia; Ernest
Mi gliazza ( 1982) - en tre o li -Paran á e Aripu anã, tribu tários do rio
Madeira ; G reg Urban ( 1992) - para o tronco tupi , entre o Mad eira e

- 14 -
R EV ISTA DE ANTROP OLOG IA, S ÃO P AULO, USP, 1996, v. 39 nº 2.

o Xingu, rnai s próxi1no da s cabeceiras que das várzeas e, exclu siva -


111entepara a fa1nília Tupi- guarani , entre o Madeira e o Xingu. Ma ga-
lh ães ( I 993) 111 esc lou as propo stas de Loukotka com as rotas de ex-
pan são de M egge rs.
O terce iro grupo a propor hipóte ses para u111ce ntro de origem é
co 1nposto de arqueólogos.
A pri111eiraetapa da pe squi sa arqueológica a respe ito da s origens está
relacionada às co111parações entre cerâ1nicas, onde se procurou ve ri-
ficar as relaçõ es da ce râ1nica do s Tupinarnbá e do s Guarani com as da
Amazônia (Netto , 1885; Torre s, 1911, 1934; Linn é, 1925; Costa, 1934;
Howard , 1947, 1948; Willey , 1949). E 1111934, Angyo ne Co sta ( 1934:
mapa VI) suge riu a região central de Mato Gro ss o como ce ntro de
orige 111. Ne sta época as influ ênc ias de Martiu s e M étraux são percep -
tívei s em Sarnuel Lo throp ( 1932) e Gordon Willey ( 1949), embora nã o
explícita s, principalrnente a hipóte se de di sper são tardia e ce ntro de
orige m no m édio Paraná.
A que stão do s centro s de origem sob o ponto de vista arqueo lógi-
co recebeu des taque no s anos 60, co111a in stalaç ão do Pronapa 6, cujo
objetivo era ac u1nular dado s p ara e lab ora r tnna "se qü ênc ia cultural e
reco nh ece r as dir eções de influên c ias, n1igração e difusão " (Evan s,
1967 :9) . E ntr e tanto , ba se ado etn pr e1nissas 7 de pesqui sas ant eriore s
(Megge rs, 1951, 1954 , 1957, 1963; Meggers & Evan s, 1957 ; Silva &
Meggers, 1963), o Pronapa postulava a in venção da cerâmic a fora da
Amazô nia , decadência cu ltural causada pelo a1nbiente adver so da fl o-
resta tropi ca l e utna difusão recente. A sinü lar idade com as propo si-
ções de Martiu s era c lara , apesar de não c itada s. Do s cin co ano s do
Pronapa, há três sínteses ge rai s (Broc had o et ai, 1969; Pronapa , 1970 ;
Meggers, 1985) e duas a respeito da tradição "Tupiguarani " (Bro cha-
do, 1973; Meggers & Evans, 1973) .
/

E important e destaca r qu e os "pro napi ano s" sugerira1n que se dei -


xa sse de e 1npregar as ce nt enári as de signações etnográfica s par a os
ve stígios arqueo lóg icos (guaran i e tupin a1nb á), propondo que:

- 15 -
F1~\NC!~n Non i 1. Ro r.\s DE EXPANSÃO Dos T ur>t

1\pôs a co nsid cra\ão de possív e is allcrnalivas, não ohstantc suas


conotações lingüísticas, l'oi decidido rotular co n10 'Tupi guarani ' [escri-
to n un1a só pa Iav ra J esta tradição e eram ista tareiia1nc n te difundida ,
considerando _jüter sido o lcn n o consagrado pela hibl iografia e tan1hé1n
a in !'onnação ctno-h i st6rica estabelecer corre lação cn lrc as cv idências
arqucol6gic~ 1s aos falantes de língua Tupi e Guarani, ao longo de qua se
todo o litoral bras ileiro. lBroch ado ct ai , 1969: 10; Pronapa , 1970: 12]

O conceito "Tradição Tupiguarani" foi baseado na propo sição de


Wi 1Jcy & Phi 11ip'i ( I 9S8 :22), e foi definido con10:
Lnna tradição cu lI u ra I ca ractcri za da pri nci pai 111
c n te po r cc ran11ca
p o Ii e r ô 111i e a [ , ·e r In e Ih o e ou pr eto sob re eng ô b o h r a n c o e o u ve r-
1nclh ol, co rrugacla e escovada, por cn tcrra1ncn to s scc und úrios cn1
urna s. 1nachados de pedra p o lida e pc io uso de tc 1nhcuís.
l Tenninolog io , 1969:8 e l 976: 146]
Nesta abord agen1do Pronapa el i1ninou-se o uso das infonn ações his-
tóricas e lingüí stica~, passa ndo- se a en1preg ar exc lusiva 1nente as ar-
queológicas. Iniciou-se, entre os arqueó logos , un1 período d.eesqueci-
tnento das diferenças de identidades e de cultura n1aterial reconhecida s
entre os Tupi , e nquadrando -se nu rna única categor ia povos histori-
ca 1nente con hec idos tanto por suas igualdad es co 1no por suas dif e-
renças e opos 1çoes.
Esta propo sta dos "pronapianos" foi possível devid o à sin1ilaridade
entre a téc nicas de trata n1ento de superfície das cerân1icas de diversas
popula ções Tupi , inclusive dos distanciados por n1ilhares de qu ilôme -
tros. Por ou tro lado , foi privileg iada a anál ise da con1posição da pasta
e não a relação entre fonna e uso das vasilha s, abunda nte1nente des-
critas nas crôn icas e dic ionários dos pr i1neiros contatos nos séculos
XV I e XV II. A cons ideração da relação entre todo o processo pro-
dutivo , a forn1a e a funcionalid ade poderá elucidar as setnelhanças e
dife renças ent re as ce râ1ni cas cios Tupi , enquant o que a pasta é urn
1narcado r li1nitado, relativo à opção das cera,nislas ou às pecu liarida-
des geo lóg icas de suas reg iões de inserção.

- 16 -
R EV ISTA DE ANTROPOLOG IA, SÃO P AULO , USP , l 996, v. 39 nº 2.

Megge rs ( J 972: 129) , baseada nos resultado s do Pronap a e nas suas


proposições do início dos ano s 60 (Megge rs, 1963), def iniu co1110
centro de or ige1n a base dos Andes, na Bolívia . No ano seguint e, jun -
to co n1 CIifford Eva ns, basea ndo -se e111Métraux ( 1927) e Rodri gues
( 1958), des loca a "terra nata l" dos Tupi par a a planície amazônica , a
leste do rio Madeira (fronteira Br asil/Bolívia), onde se co nce ntrav a o
n1aior nú111 e ro de f a1ní l ias 1ingüísticas do tronco tupi (M egge rs &
Evans, 1973:57). Posteriorm ente, Megge rs reiterou sua segund a hi-
pótese (Megge rs, 1975, 1976, 1982; Megge rs & Eva ns, 1978:figs. 7
e 8; Megge rs, Dia s, Mill er & Perota , I 988 :fig.5). Ent re os arqueó lo-
gos , Meggers foi seg uida por Pedro I. Schmitz ( 1985:mapa
l; 1991 :n1apa 1), que se baseo u lingüistica1nente em Mig liazza ( 1982)
para 1narcar o cent ro de orige n1, as expa nsões e a te,nporalidad e.
Brochado ( 1973) local izou geog rafica rnente os sítios, interpretan -
do 55 data s radiocarbôn icas ob tid as pe lo Pronapa , mai s sete tenno-
lun1inescentes esta belec idas no Projeto Paranapanema em São Paulo ,
ad111itindoo centro de orige 111de M étraux.
Dona ld Lathrap criou u111ahip ótese contrária à de Meggers . Po stu-
lou que a ce râ111icada A111éricado Sul ter ia sido inventada dentro da
A111azônia , suger indo co1110ce ntro de orige1n dos Proto -Tupi a con-
fluênci a do rio Made ira co111o A111azonas. Ta 111bé1nsuger iu que os
Proto-T upi, pre ssionados pelos Aruák , teria111subido o Madeira e seus
aflue ntes orientais até a região da Serra dos Pareei s, onde teria 111ocor-
rido as derivações que culJ11inara1nnas fa1nílias lingüí sticas do tron co
Tupi (Lat hrap , 1970:75 -78). Suas hipóte ses foran1 influen ciadas por
Métra ux, apesa r de não citá -lo e, exp licita1n ente, por Rodri gues ( 1958).
Brochado ( 1984), abando nando os pres supo stos que tinha utilizado 'no·
Pro napa , adoto u e a111pliouas hip óteses de Lathrap.
Recente1nente Onde111arDias ( 1993), ao revisar os trab alhos de Bro-
chado ( 1984) e Sch1nitz ( 1991 ), baseado apena s e111infonna ções de
áreas não-A1nazô nicas, propô s t11naárea do Sud este bra sileiro en tre
o Paranapane rna e Guaratiba con10 o cent ro de origc 111dos Tupi.

- 17 -
FRI\NCl ~O NOELLI. R OTi\S DE EXPi\NSÃO DOS T UPI

C lari stell a Santos ( 1991, 1992), ao discut ir as aborda gens que sin-
tet iza 111e re lacio na1n res ult ado s lingüísticos e arg ueo]ógicos (exc lusi-
va1ne nte os do Pronap a), conside ra que na época su ger id a por
Rodrigu es ( 1964) para a origen1 do tronco Tup i - 5000 A .P.- tai s
povos a inda não poss uiria1n ce râ n1ica, se ndo ain da caça dores-co leto-
res. Seg undo a autora , não há uma unidade entre os dados lingüísticos
e arqueológ icos dev ido à suposição de que não have ria uma unidad e
histórico-cultural durant e a " 1nudança fu ndam enta) , eco nômica , ocor-
rida no s isten1a cultural nos fala ntes da proto líng u a tupi " (Sa ntos,
1992: 112). Assi1n, considera qu e a cerâ1n ica, todos os seus atribut os
e os 1nétodo s analít icos apJicados não fora1n sufi c ien tes par a de1nar-
c ar os e len1ento s que a re lacionasse tn aos 1ne111bros do tro nco tupi.

As rotas de expansão: a busca dos caminhos dos Tupi


A ident ificação geog ráfica da s ro tas pré-históricas depend e, exclu si-
vamente, da re lação en tre a loca lização/es tud o dos sítio s arqueo lógi -
cos e as datações rad ioca rbôn icas/tennolu1nine sce ntes. As 1nigrações
histó ricas est ud ada s por Métra ux ( 1927), e 111qu e se ap óia a maior ia
dos pesq ui sa dor es, represe nta1n bas ica 1n e nte os n1ov i1nentos de fuga
da pressão eur opéia (veja ta1nbé m F ernande s, J 963:25-58). A defini-
ção lin güí stica das de rivaçõe s pod e pro pic iar loca lizaçõe s re lativas,
depe nd e nd o da s inf onn ações arqueoló gica s e histórica s para a defi ni-
ção geog ráfica da s á reas de e xpan são. As rot as de expansão só con1e-
çara1n a ter um a co nfonna çã o e 1nbasa da e tn vestí g ios arqu eoló g ico s
datado s a partir da déc ada de 60 .
A 1naioria do s proponente s de ce ntro s de orige 1n po stulou rota s de
expan são , qua se se1npre, da 1nes1na 1nane ira, ca rece ndo de ju stificativa s
demon strá ve is. E , espec iahn e nte os pesqui sador es 1nais recente s, dei -
xara111de co nsiderar todo o co njunt o das pesqui sas arqueo lógicas ex is-
tent es ou de reco nhece r todo s os avanços do s últirno s trinta anos. Pode -

- 18 -
R EV ISTA DE ANTROPOLOG IA, SAo PAULO, US P, 1996 , v. 39 nº 2.

se dividir doi s grupo s prin cipais de propo stas: a) os que seguiram a ex-
pan são de sul para o nort e; b) os partidário s da expan são radial.
Martiu s ( 1867 I:7 - 1O) postulou que a partir do Par ag uai , a rota do s
Tupi teria seg uido prirneiro para o sul e depoi s para o nort e do Bra sil:
"Provavelmente da reg ião e ntre o Uruguai e o P aran á, chega nd o até
o litor al da Bahia , Pernarnbu co e as mata s Am azô nicas". Martiu s, j a-
1nais citado pelo s arqueólogo s profis sionai s no s últin1o s 38 ano s, apa-
rece in1pJicita1nente e1n M egg ers & Evan s ( 1957 ) e nos que a seg ui-
ram. Cos ta ( J 934:inapa VI) seg uiu Martiu s e foi o úni co que o citou .
D ' Orbi gny, seg uindo Martiu s, suge riu qu e uma porção do s Tupi
teria se diri gido até a reg ião de Bu enos Aires, a pa rtir de uma área en tre
Paraguai e Bra sil. Po sterio rm e nte , outra porção teri a ido para os A n-
des (C hiri guanos). F inaltne nte, se n1 fazer ligações com as sua s suge s-
tões citada s, co nclu iu que "s omente os Gua ran i8 , se se co nsidera sua
orige1n o Trópico de Capricó rnio , haviam desenvo lvido de sul a norte
suas 1nigraçõe s" (D ' Orbi gny , 1944:37) .
E hrenreich ( 1891 ), obse rva ndo a dispo sição geográfica dos Tupi
histór ico s, propô s qu e a "dispe rsão radia l" deu-se em sucessivas on-
das, para o norte , les te e sul. Por é1n , seg uind o Martiu s, repet iu que os
que chegara1n ao sul ter iam, a seg ui r, se de slocad o para o norte ao
longo do litoral at lântico.
M ét raux ( 1928:3 10-31 1), no caso guarani e tupin a1nbá, fund iu o
111od e lo da expansão radia l com o da ex pan são de sul para norte atra-
vés da costa atlânt ica.
Co1n a loc alização do s sítio s e as datas rad iocarbônicas , Brochado
( 1973) deta lhou u1n esqu e1na "1nigratório" para as regiões de atuação
do Pr onap a acata nd o ta1nbé1n as dir eções j á propostas po r Métraux .
Brochado ( 1973: 17) su ge riu qu e a ex pan são do s "Tup igua rani" teria
se da do e1n dua s "o nda s n1igratórias": u1na, pré- histór ica, e outra, que
se dese nvo lveu até depo is da chegada do s eu rop eus. A primeira onda
representava a Subt radição Pintada e a segunda a Subtradição Corrugada.

- 19 -
FRANCt~o NoELLI. Rcrr,,s DE Ex P/\NS1\o uos T uP 1

Após os conta to s co n1 os eur ope us, a Subt radi ção Corrugada teri a
passado por un1a tran sição, se ndo subst itu ída pe la Subt radi ção Esco-
vada. Estas subtra dições ca racteriza111-se, ern seu co njunto ce rân1ico ,
pe la predo111inância de un1a técnica de acaba1nento de sup erfície e1n
relação a outros (Ternúnolo1; ia, 1969:7, 1976: J 43). Po ster ior1ne nte,
en1 sua tese (Broc hado , 1984:69-77) e en1 diversos co ngressos cien-
tíficos , refutou co n1pleta1nente a ex istê ncia destas subtr adições, ex-
pl icando qu e tudo resu ltou de urna confusão estabelec ida co 111a rnistur a
indiscriininada das cerân1icas guara ni e tupin ~nnbá (veja tamb ém: Bro -
chado , Monticelli & Neuma nn , 1990; Brochado & Montice lli , 1994;
L a Sa l via & Brochado, 1989).
Lathr ap ( 1970:75-78 , fig. 5) cr uza ndo dados arqueo lóg icos, lingüís-
ticos e etnográficos, 111aspri nc ipa ltne nte os arqu eo lógico s, e 111pr egou
a idéia de expansão rad ial, baseado na distribuição geog ráfica do s Tupi .
En1bora se u 1nodelo ten ha s ido 111uito sintét ico e de du tivo , publicou
u1na hipót ese que influenc iaria propostas fora do es quema co rrente
e ntre os pesqu isadores. Lathrap inau gur o u u1na era de po larizaçã o
política, co111u1na discussão sobr e a origen1 da cerâ n1ica e da agricul-
tura fora ou dentro da A1nazô n ia. Sua 1ne todolo g ia de campo não foi
1nuito d iferente da dos " pro napiano s", e n1bora fosse 111o v ido po r co n-
cepções teó ricas dist intas .
Me gge rs & Eva ns ( 1973) , a partir do ce ntr o de ori ge 1n qu e propu -
se rarn a leste do rio Mad e ira , suge rira111rotas de e xpan são e ,n dir e-
ção ao sul do Br as il e depoi s pa ra o no rte (Megge rs, 1972: 129, 1975 ,
1976 , 1982; M egge rs & Eva ns, 1973 , 1978:figs. 7-8; M egge rs, Dia s,
Mi lle r & Pe rota , 1988: fig. 5). Por é 1n, Meg ge rs & Ev an s ( 1973) não
1ne nc iona1n a seqü ê nc ia co1npl e ta da análi se arqu eo lóg ica co 111parat i-
va re lati va aos T upi , privi leg ia ndo as seq üênc ias es tratigráfica s do
rnédio -ba ixo A1na zo nas e exc luindo as seq üê nc ias de fora d a A1nazô-
nia. Apesa r de M egge rs & Eva ns ( 1973:6 0 ) assu1nirern que há um a
" inabilidad e dos 1né todo s léx ico-es tatí sticos e n1 reve lar loca lizaçõe s
ante rio res de falantes de língua s apa re ntada s", toda su a argu111 e ntação

- 20 -
R EV ISTA DE A NTRO POLOG IA, SAo P AULO, US P, 199 6, v. 39 nº 2.

sobr e a expan são do s Tupi es tá ba seada na s hipót eses da lin güí stic a
hi stóri ca e na s informa ções hi stórica s anali sada s por M étraux ( 1927).
Brochado ( 1984: 2 8- 39), seg uindo Lathrap , pro curou pr opor rela-
ções entre as di visões int ern as do tronco Tupi , des de o Pr oto -Tupi até
a fo nna ção da s lín gua s e di aletos histórico s, sobr epondo -as ao m ode-
lo de ev olu ção e dif ere nc iaçõ es da s ce râmica s Ama zônica s (L athr ap ,
l 970 ~ Bro c hado & La thrap , 1980 ) . Apó s ob se rvar as divi sões do
Prot o-Tupi propo sta s por Rodri gu es ( 1964) e Leml e ( 197 1), ve rifi -
co u qu ais corr es pond ênc ias para es tab elece r sobrepo sições e ntre ele-
111e ntos arqu eol óg icos e lingüí sticos conh ec idos, con siderand o qu e as
dif erenciações 111at eriais e lin güí stic as deve111ter sid o conc om itantes.
Pos teriorm ente, ve111enfa tizando a nec ess idade de ampli ar as pes qui-
sas reg io nais co 111o obj eti vo de fortifi ca r os e los de ligação mu lti-
di sc ip lin ares qu e gar anta1n a con sistê nc ia dos re sult ados pa ra cada
povo Tu p i (Br oc hado, co 1n. pess oal , 1993).
B roc had o ( 198 4 , 1989 ) formul ou a hip ótese de qu e o aparec i1nen-
to do P ro to-Tup i teria sido res ultad o de 111n a divisão ent re povos pro-
du tores d as ce râ1nicas da Tr adi ção Guarit a ( da T rad ição Policrô 111ica
A 1nazô nica), e1n ai guin a reg ião da A1nazô nia Ce ntral. Baseado em pres-
supostos da lingüística histó rica, co nside rou que a diferenciação das lín-
guas e das ce râ1nicas ao longo de dife rentes expansões teria resultado
da sepa ração espaç o-te 1nporal do Pr oto -T up i, ca u sada por pressões
pop ul acionais co ntínuas dev idas a un1 aun1ento de1nog ráfico no interio r
da reg ião a111 azô nica. Des ta separação, as corre lações 1nais evidentes
1iga 111os Gua rani às cerâ 1n icas encon tradas no oeste da A1nazônia e os
Tupin a1nbá às ce râ1nicas do les te a1nazônico . Ta tnbém sugeriu que as
ex p ansões se dese nro lara1n e1n do is n101nentos: a) pri111e iro , ao lon go
dos prin cipa is cursos fluv iais~ b) segu ndo, co tn o au 1n ento da pressão
dernog ráfica, co lonizando os afluentes cada vez tneno res.
Estas co lonizações teriarn , no caso gua rani , u111sentido do norte para
o su l, desde a A1nazôn ia até a foz do P rata, pe los cursos dos rio s Paraná,
Pa ragua i e Ur uguai - há sítios desde Corurnbá (Peixoto, 1995) até

- 21-
Buenos Aires. Par a leste, no caso do s Tupina 1nbá, sa indo pela foz do
A,nazonas e seg uindo pe lo litora l até São Pau lo e , ta1nbé1n, e ntrand o
para o interior pelos rios que deság uan1 no At lântico . Ao lo ngo do s prin-
cipais rios as populações se expa ndiram e, reg idas pelo aumento derno-
gráfico, do111inanun succssiva1nen te os rios de grandezas m e nor es .
En1 colaboração co 1n Lathrap (B roc hado & Lat hr ap , 1980 ; Bro cha-
do. 1984), concl u iu que a d iferenc iação da ce râ1nica guarani e m rela -
ção à tradição guari ta 1nanifes tou -se pela perda de técn icas deco rati -
vas con10 o 1T1 odela do . a excisão e a inc isão e1n linha s fina s e lar gas,
oco rrida durante as expansões para fora da Arnazônia, em direção su l,
pelos rio s Madeira e Guaporé. Te ria1n desa parecido , ta1T1b , as ti-
é 1T1
gelas co1n bordas ex tro ver tida s e refo rçada s, assi 111 como as flan ges
labiai s e 1n e di ais o nd e antes se co ncentrava a deco ração . Do co nta to
co 1n portad o res das cerâ1n ica s do le ste boliv iano e pe ruano , teria1n
co nh ec ido novas for n1as de panelas e jarra s : co no id ais, co1n co ntorn o
infl et ido ou co 1np1exo, n1arcado pe lo dese nv o ]vi 1T1 ento do bojo e/ou
pela seg1nentação horizontal , co rru gadas ou pintadas , ut iliza da s sec un -
darian1ente co n10 urnas fun e rárias. E stes são os traços ca racterí stico s
da ce rârnica dos G uar ani arqueo lóg icos e históricos.
A inda não há res u1tados arqu eo lóg icos para os Tupi no ba ixo A tna-
zo nas , 1nas ape na s dad os lin g üísticos e hi stór icos , poré rn Broc had o
p rop ôs qu e a partir do se u centro de o rigen1 os T up ina1nbá ter ia111se
deslocado para o leste, pe lo n1é d io c urso at é sa ir pe la fo z do Am azo-
nas , co lo ni za ndo o litora l para o sul até o T rópico de Cap ricó rn io . A
ce râ111ica tup inambú po ss ui a lg u 1na s ca racte rísticas for ma is e ncontra -
da s no ba ixo A1nazonas e no es tilo 1na raj oa ra, p rese rva nd o quase to -
das as vasilhas abe rtas incl usive as de boca ova ló ide e quad ranguló ide,
co nse rvando a pin tura po licrôn1ica co nce ntr ada nas bo rd as ex trove r-
t id a s e refor ça da s (e sta s caracte rística s não oco rrem nas bac ias do
Made ira-Guapor é e Paraná -Pa ragua i). Não pos su i, po ré n1, a n1aioria
da s fonnas fecha das, principa ltn e nte as a ntropo mórfi c as e as téc nica s

- 22 -
R EV ISTA DE ANTR OPOLOG IA, SÃOP AULO, USP , 1996, v . 39 nº 2.

de incisão, excisão e 111ode lagem. A partir de cornparações entr e as


cerârnica s tupinarnbá e 1narajoara e do s indício s de que os Tupina1nbá
terian1 ocupado o baixo Amazonas, esta1no s suge rindo a hipóte se de
que a cerâ111ica marajoara poderia ter sido u1na derivação da ce râmi-
ca tupina1nbá (B rochado & Noelli, 111. s.).
Brochado ( 1984) demonstrou através de con1parações fonnai s e
decorativas , que a cerâmica tupina1nbá não poderia ter se de sdobr ado
e evo luído fora da A1nazônia , próximo do Para guai , co1110foi propo sto
or igi nalmente no séc ulo pa ss ado. Nem se di sper sado primeiro em di -
reçã o ao sul e, po steriorn1ente , ao norte do Brasil, co 1no sugeriu
Me gge rs ao reproduzir os 1nodelo s do século pa ss ado. I sto se ri a Íln-
prováv el, poi s fora da An1azônia, no leste da Am érica do Su l, não
há nenhu1n a se qü ência 1naterial que deriva sse na cerâmica dos T upi .
A s relaçõ es lin güí st icas publicada s após 1984 mo st ram se r impo s-
sível que os Tupina1nbá tivesse1n co lon izado sua áre a de ocupação a
partir do Paragu a i até o sul do Bra si l e depoi s em direção ao nordes-
te/ norte. Conside rada a 1nais anti ga língua da fa1níli a tupi -g uarani
(Jense n, 1989: 13), o tupinambá não pod e ria derivar do guarani, cujo s
fa lant es eran1 os únicos cera111is tas tupi ao sul de São Paulo. Brocha-
do rece beu u1n refor ço significa tivo depois que R od rigues ( 1984-1985 ,
1986) ap rese ntou os pri 1neiro s re sult ados a respeito das rela ções in-
terna s na família tupi-guaran i. As rel ações entr e o tupinarnbá e o ko-
ká 1na pode111 vir a se r a chave ex plicati va para a co nfirmação da ori-
ge m do s Tupin a1nbá , desde que se consiga definir se o kokárna é ou
não um a lín gua do tronco lin güí st ico tupi ou se é uma lín gua tupi ado-
tada por um povo não-t upi. O kok á1na e o tupinambá po ss uem carac-
terística s qu e estão ause ntes nas lín guas da fa 1nília tupi -g uarani ao sul
do Ama zo nas, nas áreas do Tapajó s-Madeira , Toca nti ns -A ra gu aia e
X in gu , refo rçan d o a hipótese d e Brochado de que a e xpan são
tupina1nbá te ri a iniciado no baixo A1na zo na s e seg uido pelo lit o-
ral At lântico ru1n o ao sul.

- 23 -
FR.\Nc1s o N oELLI. RoT ,\S u1: ExP ,\NS1\ o Dos T uii1

A esta ques tão lingüíst ica so 1na-se ou tro elen1ento: tllna da s 1nai-
ores dificu ldades para deriva r a cerân1ica tupinarnbá da guarani seria
ex plicar con10, ultrapa ssando o Paran apan e1n a, na sugerida difusão
do su l para norte. a cc rân1ica tupinan1bá teria se tran sfo nn ado tão
d ra s tican1en te, incluindo forn 1as e téc nica s de acaba n1en to de
super fície aus entes no Bras il n1eridional? Co 1no isto se ria po ss ível,
se dive rsos elen1cntos forn1ais da cerâ 1n ica tup inan1bá estão restritos
apenas à região a1na zônica?
Procu rou reto1nar a singu laridade das cerârnicas relacionadas a cada
un1 dos povos falante s das línguas do tron co tupi , procurando eli1n i-
nar o in1preciso co nceito "pronapiano " de "Tup iguar ani" (Broc hado,
l 984) . Tendo a ce rân1ica, a lingüí stica e os dados histó ricos com o
referênc ia, reto1n ou o antigo conc eito da arqueologia guarani , deno-
1ninando-a Sub tradição Guaran i. Sugeriu o no1ne de Su btradição tupi-
narnbá para os Tupina 1nbá do litor al brasileiro, assirn co1no pa ra os
den1ais Tupi (não-Tupinan1bá) anterionnent e enquadrados no "Tup i
guarani'' . Após 1984, Brochado ve1n propo ndo e1n enco ntros cien-
tíficos, con1 critérios se1nelhante s, out ra divisão: para os falantes do
Tupina,nbá, exc lusiv an1ente. o conceito de Subtradi ção Tupi na1T1bá,
con1 a inte nção de diferenciá-los dos de1nais Tup i. Ta n1bén1co nside-
ra necess ár io que se an1plie a diferenc ição pa ra todos os Tup i, esten-
dendo o concei to de subtradição cerân1ica aos Asurini, Kokán1a, Tapi -
rapé, M unduru kú etc. O caso dos povo s T up i que não utili zam
ce râ1n ica deveria se r acurada1nen te es tud ado , pa ra defini r se nun ca
a prod uzi r a 111 ou se houve u 1na per d a.
Co nside rando que o te11 1a ainda é incipiente, Brochado (co1T1. pes-
soa l, 1990) acredita que foi in1portante ter conseg uido organizar un1
1nodelo que refletisse o co njunt o de toda s inforn1ações sobre os Tupi
até 1984, escapando ao 1nodelo tradi cional apoiad o, ,najor itariarn en-
te, ern dados históricos e concebido 1nuito antes da existência das ev i-
dências arqueo lóg icas e lingüísLic as dos últi1r1os quarenta anos.

- 24 -
R 1:v 1sTA DE ANTR OPOLOG IA, SAo P AULO, US P, 1996 , v . 39 nº 2.

r\ hipótese de expansão proposta por Greg Urban ( 1992 :92-93) , a


p~1rtir dos estudos de l{odrigues e Le1nle, co necta 1nais expl icitarncn -
ll' a deriva~ão lingüíst ica à expa nsão geog ráfica. Ape sar da ex istênc ia
dL" infonna çõcs arqu eo lóg icas, Urban e1nprego u exc ]usiva 1n ente as
lin~Liísticas. Urban divide as expa nsões e,n dois 1no1nentos sucessivo s,
co n1 duas ,na gnitud es cresce ntes e1n tenn os de distanciam ento do
ce ntro de origc 1n, de aco rdo co m a cronolog ia sugerida por Rodr igues
( 1964). E ntr e 3 000 e 5000 anos atrá s, o pri1ne iro 1no1nento corres-
pon deria à divis ão inicial e expansão do tronco tupi (denon1inado por
ele de Macro-Tupi ) nun1a área do Brasil Cent ro-Oes te, entre o Ma-
deira e o Xin gu, até o A1nazo nas, co n11naior co nce ntração e div ersi-
dad e e1n Rondô nia (Urban , J 992:92) .
Não 1nais assoc iado à expan são inic ial dos Tupi , co nfonn e Urban ,
o seg undo 1non1ento co rresponde à expans ão geog ráfi ca da fa1nília
tupi-gua rani , dividida en1 três fas es co nsec uti vas. Ba sea nd o-se e1n
Rodrigues ( 1958 J 964 ), co nsidera que es ta etapa teria oco rrid o en -
tre 20 00 ou 3 000 anos. Sugere, ta1nbé1n, que pa rte da ex pansão' é pro -
vave hn ente 1nuito rece nte" (Urban , 1992:92).
Propondo que a fan1ília tupi -guar ani iniciou sua expansã o "e1n al-
gu1n lugar ent re o Mad eira e o X ingu", suge riu que a prin1eira deriva -
ção ter ia oco rrido e1n direção ao A rnazo nas, atrav és dos Kok án1a, e
os On1água se des loca ran1 até o A1nazo nas. "Pe la n1es1na época '', os
Guaiak i foratn para o sul, ating indo o Para guai , e os S iriono para o
sudo es te até a Bo lívia. Es te 1noni"e nto foi seg uid o pelos falant es da .:
línguas pauserna e kawa hib (par intinlín) a oeste, os ·Kayabi e Ka1nayurj
ao longo do Xing u; os Xe tá ao sul do Bra siL os Ta pirap é, T cn "'t har ·1
e, talvez, co1n os W aya n1pi se des loc ando à frente até as Gui anas, fc 1-

ran1 para próxi1no da foz do Arnazo nas (Urban, 1992:92).


Por volta do ano I 000 , a terce ira fase ocor reria con 1a expélt1'.'-i
ão d~)s
falantes do chirigua no e guarayo para a Bol ívia , dos T'apict :-.'(1u,1r,1n1
para o Paragua i, dos Kaingwa par a a área cnl r .. o Para ~uJÍ , ~1.\ r~ "'n
PRANCISo N oELLI. Ro r As DE E XPANSÃO DOS T u r1

tt na e o Brasil. Finaln1 e nte , os 1'upina111bá, Tupiniquin e Poti guar a se


in sta1aria111na costa do Brasil. Originaln1ente, ser iam falantes de u rna
ún1ca lín gua , denominada "Tupi-gua ran i, que não deve se r confund i-
da co n1 a fan1ília n1ais a1npla " (Urban, 1992:92).
Urban, ao citar que teria h avido u 111 a língua cha 111 a da tupi- guarani,
fez e rnergir uma ant iga discussão de nornenc latur a j á res o lvida no fi-
n al da dé cada de 40. Tupi-guaran i, desde então, co rres pond e a um a
fa111íl ia lingüí stica e não a u1na lín gua (E d e lwe iss, 1947:3-9 ;
Loukotka, 1950; Rodrigues , t 945, 1950, 1984-8 5). Portant o, con-
forme os referenciais da lingüística histór ica, se ri a 1nais adequad a a
adjção da palavra proto ao ter m o tupi -g uarani , poi s es taria se refe-
rindo à língua que deu orige 1n às at u ais d a fa mí lia Tupi -g u ara ni .
Deve-se ressaltar, ta1nbé111,que o kaingwa não é uma lín gu a, 111asuma
exp ressão relativa aos fal antes do guar ani não- int eg rado s às reduç ões
jesuíticas ou às soc iedades colo nia is, significando " os do m a to"
(M e lià , Saul & Muraro , 1987: 362).
Finalmente, a que stão das derivaçõe s 111 a is recen tes, "po r vo lt a do
ano 1000", foi superada pela ob te nção de da tas radiocarbônicas mais
a nti gas, ressa ltando a necess id ade de urna co nexão co1n os da do s ar-
queo lóg icos . Co1no se ve rá aba ixo, os Tupinambá e os G uara ni j á es-
tar ian 1 ocupando a 1naior p arte de se u s territ órios hi stor icamente co-
nhec ido s desde, pelo 1neno s, 2000 ano s atr ás. Os Waya 1np i, só mu ito
te1npo de poi s do qu e suge riu U rb an, te ria rn chega do à G ui ana no sé-
cu lo XVII, m ig rand o do X in g u dev ido à pr ess ão esc ravag ista lu so-
br as ileira (G aJlo is, 1986:77-85).

A temporalidade das expansões tupi


D o is tipo s de dataçã o fo ra1n e n1prega do s: abso lutas (radi oca rb ônica s
e tern1olun1ini sce nt es) e re lat ivas (se ri ações ce râ111icas e g lo toc ro-
nol og ia ) . A s se riações não se rão co nsideradas na análise, por não re-
prese nt ar un1 111 e io p rec iso de data çã o .

- 26 -
R EVISTA DE ANTROP OLOG IA, SÃ O PA ULO, USP , 1996, v. 39 nº 2.

As datas g]otocronológicas, propostas por Rodrigues ( 1958, 1964),


são: o Proto-Tupi, língua que originou as co1nponentes do tronco tupi ,
teria se constituído por volta de 5 000 anos atrás, e a família tupi-guarani ,
2500 anos depoi s. Esta data , para a família tupi-guarani, pode ser am-
pliada devido às datas que 1nostram os Guarani já estar ocupando o
Paraná e o Rio Grande do Sul há, no 1nínimo,2000 anos e os Tupinambá
há, pelo menos, 1 800 anos, Piauí, São Paulo e Rio de Janeiro. Apesar
de estar publicadas desde o início dos anos 70, os lingüistas não vêm
considerando as dataçõe s absolutas em suas análises ou na reprodução
das datas de Aryon Rodrigues e1n 1958/1964(Migliazza, 1982;Greenberg ,
1987; Urban, 1992). As proposições lingüísticas poderiam ser com-
paradas e co1npassadas com as datações arqueológicas.
Existem diversas datas radiocarbônicas e tennolu1ninescente s publi-
cadas, posteriores ao Anno Domini, na Bacia A1nazônica,Bacia do Paraná-
Paraguai, Rio Grande do Sul, litoral atlântico e nos rios costeiros
(Brochado, 1973, 1984;Brochado & Lathrap, 1980; Scatamacchia, 1990).
As datas são muito 1nais antigas do que imaginavam os etnólogos,
desde Martiu s, que propu seram uma expansão rápida e próxim a da
chega da dos europeus. Isto estava apoiado na con statação da simila -
ridade de diversos aspectos lingüísticos e culturais, pois se acredita que
a uniformidade so,nent e seria possível devido à pouca antigüidade do
distancia1nento entre os Tupi.
Ape sar de ainda sere1n poucas em relação ao número de sítios, e
desigualtnente distribuída s entre as áreas de ocupação dos Tupi , as
datas radiocarbôni cas de1nonstra1n que a expansão e a diferenciação
de alguns povo s não fora1n recent es. Relacionada s con1 outras variá -
veis, estas dat as propicia1n elementos para projetar a expansão da fa-
mília tupi -guar ani para be1n antes de 2 500 anos antes do presente.
E1n três regiões há datações radio ca rbônicas próximas ao Anno
D01nini: Santa M aria, RS , cerca de 150 d.C; 1néd io rio Ivaí, PR , cerca
de 100 d.C.; baixo Tietê , SP, cerca de 232 d.C.; São Raimund o Nonat o,
PI , cerca de 260 d.C; litoral Flu1ninense, RJ , cerca de 300 d.C . Algu-

- 27 -
FRA ciso N oEL LJ. Ro rAs DEEXPANSÃO Dos T u P1

1nas destas datações estão iso lad as, 1nas , como vere 111os a seg uir , ou-
tras f aze rn pa rte de seqüências qu e se es tende tn até os te111pos históri -
cos. Ta nto no ex treino sul do Br as il, no nord este e no litoral flumi nen se,
portan to afast ados de todos os centros de orige 1n proposto s, as data -
ções ates ta1n a an tigüidade das e xpansões, pode ndo se r re lacionadas
às deriva ções lin gü ísticas. Na Argentina, no Urug uai, no Para guai e
na Bolívia há pouca s data s, toda s posterior es ao séc ulo X (Br oc hado ,
1984 ). No Perú e áreas bras ileira s viz inh as , as ce râ111icas relac ionad as
aos Kok án1a, Otnágua e Kokan1íya ainda estão po r se r 111 elhor pes-
qu isadas (Lathrap. 197 0 ; M ye rs, 1990).
E111outros po ntos ex iste n1 dat ações próx im as das 111aisantiga s : no
rio M oji-Guaçu - 400 d .C.; litor al Fl u111inen se, RJ , ce rca de 440 d.C .;
Santa Maria, RS, cerca de 475 d.C.; médio rio I va í, PR , ce rca de 460
d.C. e cerca de 570 d.C. ; baixo Tietê, SP , cerca de 578 d.C., poden -
do de 111onst rar a co ns istê ncia da s 1nais anti gas. A seg uir, au ment a o
número de datas próxi 1na s do pre se nte, e 111diversos po nt os do leste
da América do Su l. No litoral sud es te e nord es te do Bra sil te1nos:
baixo Ti etê, SP , cerca de 668 d. C; Curi 1nataú , RN , ce rca de 800 d.C. ;
litoral F lum inense , RJ , ce rca de 870 d.C; Cricar é, ES , ce rca de 895
d .C., Guaratiba , RJ , ce rca de 980 d. C .
Pode-se ve rifica r que parte dos Tupi j á est ava espalhada pelo Br a-
sil há pe lo m enos 2000 ano s atrá s, e1n áreas 111 uit o di stant es entr e si e
dos ce ntro s de ori ge 1n propo stos , torna ndo obso le tas as cons ideraçõe s
origina is de Martiu s, re produ z ida s po r 111uitos pes qui sadore s, so bre a
ex pan s ão ráp ida , pouco ant es da cheg ada do s europeus.
Ne ste co ntex to é necessá rio co nsiderar as pe squ isas arqueológica s
e os res ultado s regiona is. Le111brar-se qu e hou ve mai s pesqui sa e data -
ções no Bra sil me ridi onal e pouca s pe squisas dentro da A111azônia e
de outras reg iões (c uj os dado s es tão parc ial ,nente pub licados; cf.
Br oc had o & Lat hrap , 1980; Bro c hado, 1984; Scatan1acchia , 1981 ,
1991 ) . As n1ais recente s pesqu isas na A1nazônia es tão apr ese ntand o
data ções qu e rcvc lan1 un1a ant igü idad e ainda n1aior de certos fenô1ne -

- 28 -
R1 :v1SI' ;\ 111:. /\N 'l'l {(H'n1.oc a A, SAo PAu1.o, lJSP, !<)<)(, , v . 19 nu 2 .

nos cultur~1is. co1110~,ccrJn1ica, a agricultura e os cacicados. lsto po -


der~ien1purrar 111aispara o passado os 'Tupi, demonstrando -nos que
certos clcnll.'lltos que lhes são con1uns são ainda n1ais antigos .

Co11cl11sões

Co1no ~e pc.)dc \'cr aci1na, a solução para os problemas do centro de


orige1n e d,1s rotas de expansão dos Tupi ainda não está definida. Pa-
rafraseando rvlanucla Carneiro da Cunha ( 1992: 11), pode- se dizer que
já se sabe ..a extensão do que não se sabe" a respeito da (Pré) Hi s-
tória indí2:ena brasileira.
~

Desde que Martius lançou sua hipótese , em 1838 , as recorrência s


a ela fora n1 freqüentes e, en1 sua rnaioria, sem as devidas provas
oriundas da pesquisa arqueológica e da lingüística histórica. Isto é,
as hipótese - postu ladas até o final dos anos 50 estiveram apoiadas
apena en1 evidênc ias históricas que remontavam à época da chegada
do s europe us, betn como em evidências lingüí sticas que não per-
1nitian1 a verif icação das derivações entre as língua s. Diante di sto , é
compreen sível que a grand e maioria do s pe squi sadore s dos povos
Tupi sugeri sse que a expansão foi tardia , próxima do séc ulo XVI.
As dataçõe citadas mo stram qu e pe lo meno s os Guarani e os
Tupin ambájá estavam instalado s em seus território s histor icamente
conh ec ido s de sde 2000 anos atrás.
O conjunto de todas as inforn1ações arqueológicas, lingüíst icas e
etnográfic as dos Tupi , e m seus contextos geog ráfico s, não apresenta
evidê ncia de um centro de origen1 fora da An1érica do Sul. Tan1bém
não há evidências qu e co1Tlprovcrn utTlcentro de origem nas " terras
alta~" CJU ahaix<>elo Paralelo 160 s ul.
Nas "!tc;rnJ\ h,1ixé1<-i ", ond e ;ts seqüênc ias de ocupações são co nhec i-
ihilicla clc de Paraguai, Bolívia n1eridionaL Mato
das, C\ t á é1Írt \ l ;H l; 1 ;1 po<-i<-i
G ro <.,\C>d <) Std , ( ;<,i ;Í\ , l<t·1~i<>cs Su l , Sud este e Nord este do Bra sil tc -
rc1n <.,icl<><J c<~rt11<, de· <>ri; y rn • .'-:<.:co 11frontarn1o s toda s as puhl ica~ÔL'S
1

- L <) -
FRANc1so NocuJ. Ro rAs DE ExPANsAoDOS T UPI

arqueológicas . No alto e 1nédio Xingu, no A rag uaia, e no alt o e mé-


dio Tocanti ns, de acordo co 1n as prin1ei ras inves tigações do Pronapa ba
(Megge rs , Dias, Miller & Pe rota, 1988:288) , ta m bé m não foram en-
contrados vestígios arqueológ icos para viabiliza r o cent ro de orige1n .
Nessas áreas, conside rando o conjunto de se qü ê nc ias est ratigrá fi cas
identificadas, há claras provas de qu e as cerâ1n icas Tupi não evo lu í-
ran1 das cerân1icas anteriores (figu ra J ) .
Por outro lado, os vestíg ios arqu e o lóg icos tup i aprese nta m eleme n-
tos esl rcitan1 ente relacio nados co m as cerâ tn icas das se qü ênc ias e stra-
tig ráficas da A1nazô ni a ce ntral (figura 1), especia linente co1n os clas -
sifi cados na Tradição Po lic rô mica A 1nazô n ica (B rochado, 1984:308;
veja tan1bé 1n Lathrap, 1970; Broc h ado & Lath rap , 198 0 ; R oosevelt,
1991 a, 199 1b:98-125). Para le lan1en te, os dados lingüí st icos ap rese n-
tam a 1naior conce ntração de fa 1nílias e línguas tupi ao sul do A m a-
zo nas (Rod rigues, 1964 , 1986; U rb an, 1992). Al é n1 d isso, há indí c ios
de u1na co nexão lin güí st ica 1nuito anti ga entre as língu as Pr oto- Tupi
e Pr oto-Ka ríb, co rno se vem co m eç a ndo a detecta r (R od ri gu es,
1985:393-400). Perante a 1naio r co nce ntração das línguas karíb ao nor-
te da linha do Eq u ador , há n1ais tuna ev id ê ncia para apro xi1nar o ce n-
tro de ori ge 1n do s Prato -Tu p i à região a1nazô nica (info nn ações arqu e-
o lógicas K arí b in Rouse, 198 6).
Excet uando-se as áreas co nsidera das ac i1na co1no i1nprováve is, den-
tro da i1ne nsa reg ião a1nazô nica há u1n es pa ço e1n que se poder á v ir a
loca liza r o ce ntro de o rige 1n dos T u p i: litnit ado ao norte pe la 1narge m
d ire ita d o 1nédi o e bai xo A1nazo na s; a les te pe lo T oc antin s; a oes te
pe las b ac ias do Mad e ira e ba ixo-n1édi o Guapor é; ao sul , po r u1na li-
nh a qu e va i do 1nédi o Gu apor é (P aral e lo 120º30 ') até o Toc antin s, pr ó-
x i1no d a foz do A rag u a ia. E ntr e tanto , es tes Jitnit es aind a são ge néri-
cos, c irc un sc reve nd o o p oss íve l ce ntro d e ori ge 1n, qu e de ve rá ser
esta b e lec ido co 1n pr ec isão e tn a)gu1na part e do se u inte rior.
A p artir dos e le 1ne nt os es tudado s, há unia tend ê ncia e 1n situar o
ce ntro de o rige 1n na 1netacle oes te da área de c irc un sc rição . Em te r-

- 30 -
R EVISTA DE ANTROPOLOGIA, SÃO P AULO, USP, 1996, v. 39 nº 2.

1nos Iingüísticos, a partir da 111 aior concentração de famílias, há um


co nsenso em situar o centro de origem na porção oeste da área acima
circunscrita (principa ltnente na área próxima da bacia do Madeira-
Guaporé) . E111tennos arqueo lóg icos o modelo mais completo, com-
plexo e atual, que organiza a maior quantidade de ev idências, é o de
Lathrap e Brochado, que postu la a região junto à conf luência do Ma -
deira com o Amazonas co1110centro de origem (figura 2). Se for confir-
mada a hipótese de Lathrap ( 1970:78), de que os Proto-Tupi teriam sido
pressionados a se des locar para o sul, haverá uma exp licação para o
centro de orige 111da cerâmica esta r afastado da área onde se forma -
ram as famílias lingüísticas do tronco tupi.
A elucid ação das rota s de expansão está inti111amentevinc ulada às
hipóteses sob re o cent ro de origem. Para prec isá-las é necessário o
estabelec imento das relações
,,
entre os vestígios arqueológicos e lingüí-
sticos de todos os Tup i. E provável que a cada derivação lingüística
tenha correspondido uma diferenci ação cerâmica ~semelhante ao que
se verifica nos casos guarani e tupinambá (Brochado, 1984;Scatamacchia ,
1981, 1991). No entanto , estas derivações ocorreram sem que tenh a
havido pe rda das caracterí sticas gerais do que foi denominado pelos
"pronapiano s" de cerâm ica "Tupiguarani".
As informações históricas, espec ialn1ente depoi s das profund as al-
terações demográficas e culturais ocorridas após a chegada dos europeus,
não propiciam elementos confiáve is para a definição espacial das expan-
sões. Pesquisas co1110as de Menéndez ( 1981/ 1982), Gallois ( 1986) e PotTO
( 1992)demonstraram como a presença européia alterou a territorialidade
amazônica, influenciando a mobilidade e o remanejam ento espacial de
vários povos. Estas pesquisas também 111o stram a extinção de muitos povos
que poderiam ser falantes de línguas tupi. Assim co1110as pesquisas his-
tóricas, as arqueológicas com perspectivas regionais ta111b ém poderão vir
a de111onstrar as alterações da distribuição espacial das populações pré-
histórica s, fornecendo ele111 ento s para explicar os seus p rocesso s de
expansão e, quand o fo r o cas o, co lapso.

- 31-
FR,\Nc 1so N o[ LU . Ro rAs DE ExPANs,,o Dos Tt 1111

Se considerarn1os os vários povos Tupi histórica e arqueolog ican1en-


te conhecidos , vere 111 os que os dados 1nais cornple tos se restringe1n
apenas a dois, resta ndo n1uito para ser conhecido a respeito dos n1a-
te ri ais pré--históricos dos den1ais 39. S0n1ente é pos sível faze r afirrna -
ções con1 base e1npírica para os Guarani e Tupinan1bá. Para os outros
povos Tupi ainda não há ev idências definitivas ligando -os a seus an-
tepas sados pré-his tóricos e, succss iva1nente, defini ndo qua is fora1n as
rotas que os concluzira1n as seus territórios historica 1ne nte co nhecido s.
Ainda não foi feito estudo relacio nando os 1nateriais arqueológico s
enco ntrados na reg ião an1azônica, con10 os do Pronapaba e outras pes-
quisas, co111os rnateriais et nográficos elos Tupi 9 .
No estado da atua l da pesquisa, ta1nbém sobre as rotas de expan-
são o 1n odelo n1ais co n1pleto é o de Brochado ( 1984). Fo i o único que
1napeou todas as áreas onde não hou ve possibilida de de clese nvolvi-
n1ento cultural dos Tupi. delin1itando dessa forn1a os espaços possí-
ve is de início das ex pansões pa ra fora da An1azônia. Poré n1, este 1n o-
de]o concentra-se nas exp ansões guarani e Lupinan1bá, estando,
po rtanto, en1 abe rto para os dc1nais 39 povo s Tu pi historica mente si-
tuado s na área de circunscrição ou na sua vizinhança (figura 3).
Os Tupinan1bá se expandiran1 a partir do baixo An1azonas, passando
por sua foz e1n direção ao litoral bras ileiro, de norte para sul, até alcançar
o Trópico de Capicórnio. Paralelan1ente, grupos penetravan1 o interior,
subindo pelas bacias que deságuarn no Atlântico. Este 1no delo contradiz
a hipótese de Martius, adotada pela n1aioria dos pesquisadores, apesar das
crescentes evidências contra a centenária proposição de que os Tupinarnbá
teria1T1 vindo do sul do Brasil. O fato de que e1n todo o território tupinan1bá
histórica e argueologica1nente conhecido não há evidências de relação entre
os estratos tupina1nbá e os inferiores con1prova que a cerâ1T1i ca tupinan1bá
não se desenvolveu fora da A1nazô nia.
A falta de pesquisas arqueológ icas sisten1áticas entre o Rio Grand e
do Norte e o Ma ranhão tc1n induzido os pesquisadores a se apoiare1T1

- 32 -
R EV ISTA DE ANTROPOLO GIA, SÃOP AULO, USP, 1996, v. 39 nº 2.

apenas nas informações históricas siste1natizadas por Métraux ( 1927:2-


16) e Fernand es ( 1963 :33-57), sobre as fuga s dos Tupina111bá em di-
reção ao Maranh ão e ao A1nazonas. O registro feito pelos quinh entis-
tas Ca rdi1n ( J 939 : J 79) e Soar es de Sou sa ( 1987:299-300) sobre a
1nemória da con qui sta territorial rea lizada pelos antepa ssado s do s
Tupina1nbá, be1nco1no aque le fe ito por Abbevill e ( 1975 :208 -9) sobre
as fugas dev idas aos portu gueses, não caracteriza o sentido sul-norte
da expansão pré-histórica.
As informações sobre os Guara ni são bem 1nenos prob lernáticas que
as dos Tup ina1nbá. E1n termos arqueo lóg icos, exce tuando a fro nteira
com out ros Tupi , e1n todo o terr itório guarani já estudad o ao sul do
Paral elo l 70, não há nenhum a conexão direta co m as ev idências de
ocupações anteriores. Em termos lingüísticos, a língua gua rani tem re-
lações 1nais estreita s com as línguas da famíl ia tupi-guarani falada s na
Bolívia meridiona l, no Paraguai e no Brasil 1neridional (executando o
tupinambá). Outro aspecto importante , consideradas as relações en-
tre as línguas da fa1nília tupi-guarani, é que a maioria delas não deri-
vou do guarani, eliminando a possibilidade da expansão sul-nort e. Res-
ta ainda pesqui sar tnai s acu radamente a área ao norte do Paral elo 17,
o Guaporé e a borda oeste do Pant anal , na Bolívi a.
Os dados de antropologia física ainda não foram incorporados à questão
da origem e expansão dos Tupi, 1nas poderão fornecer informações para
reconstiução de populações parentais e inferências sobre suas diversifica-
ções, padrões de saúde/doença e 1nodos de vida (Salzano, 1992). Alguns
estudos recentes entre grupos tupi da A1nazônia apontan1para grandes dis-
tâncias genéticas e ação de fatores dispersivos entre eles, podendo vir a ates-
tar utna tendência para assimilar 111 en1bros de outras populações (Salzano
& Callegari-Jacques, 1991). Estes estudos também pode1nser efetuados e1n
esqueletos de um 1nesmo sítio arqueológico, e1nnível local, ou, en1grande
escala, entre todo s os esqueletos reconh ec idos.
Outra faceta i1nportante que deve ser incluída é relativa ao ritn10 das
expa nsões, pois elas não se dese nvolvera 1n no vácuo ou isolada s de

- 33 -
F1v\ Nc1so Nocu 1. ROTAS DE EXPANSÃO DOS Turr

ou tras populações. Nenhu 1n estudo foi dedicado ao terna. Sub siste


ainda a repro dução do n1odelo suge rido por Ma rtiu s, de que e las fo-
ran1 rápidas. E sta idéia não proporcionou o espaço para que se co n-
siderasse a d11nensão cot idian a da vida tupi assoc iada ao s proc essos
expa n ivos. Até o presente, não se pesquisou a questão da s expansões
perseguindo deliberadamente todos os com plexo s de sdob ran1ento s
práticos e simbólicos envolvidos.
Na pesquisa etn que apliquei a 111etodologia aqui propo sta , de u111 a
a1npla integra ção entre dados arqueo lógicos, lin güL ticos, histó ricos,
etnog ráficos , et nobi ológicos e eco lóg icos , so bre as prática s de sub sis-
tência guarani (Noel li, 1993b), pude co ncluir qu e só é po . sível con-
ceber os Tup i co 111 0 povos com alto gr au de sedentari smo. Umas da s
principai s conseq üências da expa nsão territoria l deve ter sido ocre -
ci1nento de1nográfico, que redundava etn fraciona mento de aldeia s. Por
out ro lado, a ex pan são de ve ter sof rido res istência da . populaç ões que
ocupavam as áreas pretendida s, irnpli ca ndo co rnplexas relações inter-
étni cas que dev ia111osc ilar entr e contatos be licos os e ami stosos.
Pa ralelame nte, a prática do 1nanejo de plantas agrícol as e de coleta
deve ter se co nstituíd o e111out ro aspect o que influía direta111enteno rit-
m o da expa nsão. Os Tupi tra nsporta ratn sua s planta s, inserindo -as por
todas as reg iões em que se instalav am , bem co 1no se ap rop riaram de
novo s vegetai s que ia1n conhec endo. Era1n proce ssos que ex igia111in-
ves ti111entode te1npo e1n pesqui sa e preparação do atnbient e, na tran s-
formação da flore sta pri1nária em áreas co nhec idas e produtivas (Balée ,
1994) . Acre sce nto ainda que o ciclo feno lóg ico das planta s deve ser mais
u1n e lemento a se co nsiderar para estabe lece r o rit1no das expan sões.
E 1n funç ão di sso Lnna aldeia não poderia ocupar nova s terra s sem
pr epara ção pr év ia . Não pod eria mudar -se para u1n território muito
di stant e da s aldeias aliada s. A expa nsão nã o pod e ter ocorrido por
sa ltos ; ne cessa riam e nte se dava por u ,na anex ação contínua e pau -
lati na de áreas in1ediata1nente adjacente s aos te rrit ório s já ocupado

- 34 -
R EV ISTA DE A NTROPOLOG IA, SÃO PAULO,USP , 1996, v. 39 nº 2.

co mo vêrn mo st rando as pesq ui sas etnobiológicas so br e populaçõe s


tropicais e subtropicai s .
O aspecto central para reco nhecer os elementos nece ssário s à compre-
ensão das variáveis que co ndicionavam as expan sões está relacionado à
territorialidade , e1n suas unidade s soc iais de co nsangüinidad e e aliança,
manife stada por áreas denon1inada s, no caso guara ni , tekohá (Noe lli,
1993b; Melià , 1986 ). Sua cor respo ndente tupina1nbá é o termo tecoaba
(VLB: 127), ficando ern aberto a pesqui sa para os outros Tupi .
Teko há é o territ ór io cor respo ndent e a uma alde ia, com sua área de
caça, pesca, culti vo, co leta e fonte s de 1natér ias-prima s, de li1nitado por
acidentes geog ráfico s e ex plorado predo1ninantemente pel o grupo ali
in stalad o. Em condições nonn ais, o qu e ocorria era a mudan ça da s
casas entr e as áreas 1nanejadas dentro do tekohá. A formação de u1n
novo tekohá dependia do desdob ra1nento de urn a aldeia e não do aban-
dono inte gra l da alde ia origina l.
A arqu eo log ia e a lingüí stica for nece1n algun s elementos de com-
pr ovação de qu e permaneciam nu1n 1nes m o lugar e que dali iam se
de sdo brando. Div ersas área s guarani pe squi sadas mo straram ocupa-
ções cont ínu as po r mai s de 1500 anos , ass i1n co1no áreas tupinambá,
co1n n1ais de 1000 anos . E ssas longas pennanência s podem ser indica-
doras de um ritmo be1n 1nais lento do qu e o tradicionalm ente co nsi-
derado. Por outr o lado , se fore1n conf inn adas as est i1nativas de Aryon
Rod rigues, vár ios povos tupi vive 1n há pe lo m enos 5 000 anos na ba-
cia do Guaporé e adjacênc ias. A utilização exclusiva de fontes hi stó-
ricas, e1n que fora 1n baseadas a maioria da s conclusõe s que for1nara1n
o se nso comu 1n até hoje predon1 inante (apesar de o modelo de Lathrap
e Broc had o já ter onze anos), não po ssi bilitou a percepção da antigüi-
dade da or ige 1n e do rit1no le nto das expa nsões dos Tupi.

D esenhos: Carlos César Reis de Oliveira.

- 35 -
FRANCISO NOELLI. R OTAS DE EXPA NSÃO DOS T UPI

Distribt1ição da cerâmica policrômica no leste


da América do Sul (figura 1)

§ Área com antec edentes re lacionado s às ce râmica s do s Tupi


lIIIIIJÁrea corn po ssíve is antecedentes da tradição policrô111ica
amazônica re lac ionados às cerâ micas dos Tupi
Área sen1 antecedentes relacionado s às cerân1icas dos Tupi

- 36 -
R EYI~A DE ANT ROPOLOGIA, SÃO P AULO, US P , 1996, v. 39 nº 2.

,,
Area de circunscrição do centro de origem dos
Tupi (figura 2)

.__
~ ...........
~"-' - -----
- .~

N," "'-"'• ·- - -- -,,...._ .___ • ~-,,,-


(
\ '

~ Centro de ori ge 111da s cerârnica s, conforme Lathrap

OIIl] Centro de origem da língua Pr oto-Tupi , segundo Aryon Rodrigue s

- 37 -
FR ·\Nc 1so N oELu. Ro rAs Dr E X PANSÃO nos T UPI

Início das rotas de expansão, e as áreas


co11hecid as dos Tupinambá e Guarani
(figu ra 3)

.....
. - - ...--, ~ -

1
t

E3 Área co n1 inforina çõcs históricas e arqu eo lóg icas da loca lização do.
Tupin a1nbá, co n1 instrusões de outros povos indíge nas
ITilII]Área co n1 inl'onn açõcs históricas e arq_uc~ 16g icas da locali zação do.
Guarani, con1 intrusõcs de outros povos I nd 1gc nas

~ Iní c io da rota de expan são

- 38 -
REVISTADE ANTROPOLOGIA
, SÃOPAULO,USP, 1996, v. 39 nº 2.

Notas
1 Esta é um a versão co 1n pro funda s alteraç ões, co rreç ões e ac résc im os de
um artigo publi ca do a nteriorm e nte (Noe lli , 1994).

2 Prof esso r visita nte no departa1n ent o de Hi stória da Univer sidad e Estadual
de Marin gá. D outorand o e 1n Ciências So c iais na Unicamp.

3 Anthony ( 1990) sint etiza os prin c ípi os gerais para o es tud o de mi gração.

4 O rnap a de Nimuendajú ( 1981) m os tra a loc ali zação históri ca dos Tup i .

5 Em 1927-28 o tronco tupi não havia sido definid o lin g üistica me nte, se n-
do chan 1ado por Métraux de "tupi -guarani " .

6 Programa Nacional de Pesquisas Arqueológica s, 1965 - 1970 . Continuado


na Amazô ni a Lega l Br asi le ira a partir de 1977, co rno Pr onapaba, Pr og rama
Nac ional de Pes qui sas Arqueológicas da B ac ia Amazônica (c f. aná lise ge-
ral in: Brochado , 1984; Alves, 1991; Noelli, 1993b).

7 Atua hn e nte ultrapa ssa das (M orá n, 1990; Roosevelt , 199 1a, b , 1992 ).

8 Por Guara ni. D ' Orbigny de signava a totalidade do s Tupi.

9 Coleções de cerâ tni cas et n og ráfica s do s Tupi , co n10 a estudada por


Li1na ( 198 7), ainda n ão fo ratn isten1at ica 1nent e comparadas co tn co-
leções arqueo lógicas.

- 39 -
f : R, ' l 'I\O Nou 11 Ro 1 ,s DF EXP ·\NS., o DOS Tt 'PI

Bibliografia

1\BBEVILLE , C'.
197.:::, 1/istária do 111issc7ocios podr es capuc/1i11!,osno illza do Moranlu7o e ter-
Hn cin u11,·i;i11!ut.\, São P,nilo. Itatiaia/EDUS P.

,\L \t ES. C .
1991 "A ccrâtnica pré-hist<>rica no Bra sil: Avaliação e Propo sta'' . Clio. sé rie
arqu co l<>gica, Rcc if'c, 1(7):9-88.

ANTHONY, D.W.
1990 "Mi gra tion in archacology: lhe baby and thc bathwatcr", A,n ericon
Antlzropologist , 92:895-914.

BALI)US . H.
1954 '·Bibliografia crítica da etnologia brasileira", São Paulo, Con 1issão do IV
Ccntcn,frio da Cidade de São Pau lo.
,
BALEE. W.
1994 Footprints r~fthe fores/. Ka 'apor etlu1obotany - the histori cal eco logy
<~lp/0111 utili z.otion hy an a111c1
-;.011ion p eopl e. Ncw York, Co lu1nbia
Univ crsity Prcss .

BERT 'ONI , M. S.
19 16 " I n ri ue n e ia d e Ia Ieng u a Guara n í e n S ud-;\ 111éri e a y An ti 11a~... A 11a I e s
Cicn l (ji'cos Parog uayos , séri e 1l , As unc i ôn, 1: 1- 120.
1922 Lo Ci,·ili-;.ociôn G1u1roni, parte I , Pucrto Bcrto ni, Ex Sylvis.

BRANDÃO , C. R.
1990 "Os Guarani: índ ios do sul , re ligião, res istê nc ia e adapt ação ", Estudos
codos , São Pau lo, 4( 10):53 -90.
A vc111

BR OC HAD O , J.P.
J 973 "Mi grac íoncs que d ifundi crón la trad ición alfarcra Tupig uarani ", R ela-
ciolles. B ucnos /\i rcs, 7 :7-39.

- 40 -
REVISTADE ANTROP
OLOG
IA, SÃOPAULO,USP, 1996, v. 39 nº 2.

1984 An ecological 1nodel of the spread ofpottery and agriculture into Eastern
South A111erica, U rbana -C hainpaign , Un ive rsity of I llinois at Urbana-
C harnpaig n, tese de doutorad o .
1989 "A expansão dos Tupi e da cerân1ica da tradição pol icrômi ca amazôni-
ca", D édalo, São Paul o, 27 :65-82.
199 1 "U ni 1node lo de d ifusão da cerfün ica e da agricu ltura no leste da Am éri-
ca do Sul. Ana is do Iº S in1pósio de Pré-história do No rdes te Brasileiro",
Clio, série arqueo lóg ica, Rec ife , 4:85-88.

BROCHADO , J .P .; CALDERÓN, V. ; CHMYZ, I. ; DIAS , O. ; EVANS, C.;


MARANCA, S.; MEGGERS, B.J.; MILLER , E.T. ; NASSER, N.; PEROTA , C.;
PIAZZA, W. ; RAUTH, J. & SIMÕES, M.
1969 Arqu eo logia brasile ira e,n 1968, B elén1, Mu se u Par ae nse En1ílio Goeldi.

BROCHADO , J.P. & LATHRAP, D.


1980 An1azo nia (dati logra fad o).

BROCHADO, J.P.; MONTICELLI, G. & NEUMANN , E.


1990 "A nalogia etnog ráfi ca na reco nstru ção gráfi ca das vasilhas Guarani ar-
queol ógicas", Veritas, Porto A leg re, 35( 140):727-43.

BROCHADO, J.P. & M ONT ICELLI , G.


1994 "Regra s práticas na reco nstr ução grá fica da ce rân1ica Guarani por com-
paração co 1n vas ilha s inteira s", Estudos l bero-Aniericanos, Porto Alegre ,
20(2): l 07 - 18, 1994.

BROC HADO , J.P. & NOELL I , F.S.


s. d. Rela ções en tre as cerâ111icas n1arajoara e tupincunbá (datilografado).

CAMARA JR., J.M.


1979a Introdução às línguas indígenas brasileiras, Rio de Jan e iro , Ao Li vro
Técnico SIA.
1979b Prin cípios de lingüística geral, 6ª Ed., Rio de Jan ei ro , Padrão.

- 41 -
FR ANC IS<> N()EI.! 1. R<nAS D1~ ExPA N\.1\ 0 1,, ,s Tt 1ii1

Ct\ RTJf>--1.F.
1939 Tratodo da terra e 1;ente do /Jrfoil Süo Paulo C1a I:d1t<>ra i':ac1<>n,d.
1

ClfILDL. A.
1940 ''Ét udc philologiquc \U r k\ no rns du ·chien · de 1· antiquit é ju\qu · a nos
jour1.,", ArqLu vo\ do M Lneu Na cio na l, 39:5-498. Ri o de Janei ro.

COSTA, A.
1914 /11tro du çtio à arqueolox ia bra \ ileira , São Pau lo , Ci a. Edi t(Jra N ac1onal.

CUNHA. M.C.
1992 ..Introdução a un1a hi\ tória ind ígena''. in CUNHA , M.C. (o rg.). fli stória
dos índios no Rra sil, São Paul o, FAPESP/SMC/Cia . das Letras. pp . 9-24.

DIAS . O.
1993 Con.side ra çôes a re~pei to dos ,nodelo s de dijú são ela ce rán7ica
Tupiguarani no Bra s il!, texto ap rese ntad o na IX Reu nião Científica da
Sociedade de Arqueo log ia Brasileira , 14 pág s. (datil og rafad o).

D ' ORBIGNY , A.
1944 El ho nzbre anzericano con siderad o en sus aspecrosfisiológi cos y 1norales.
Tradu cc ión de Alfr edo Cepeda, B uenos Aire -, Edit orial Futu ro.

DYEN , I.
19 56 "Lan guage d is Lribu ti on and 1n igratio n the ory ''. Languog e. B ai ti n1ore.
32:6 1 1-26.

EDE LW EISS, F.
l 947 Tupis e Guara ni s, estlldos de et11011ín1i(le lingiiísrico. Sah ·ad r. Mu ~eu
do E ·tado da Bahi a.

EI-IRENREICH, P.
1891 '·Die Einteílun~
...,und Ycrb rei lun ~ der Vülkcr st~i1n11
'-'
1c Brasilicn: na ·h den1
gege nw arli gc n Stand c un src r Kcnnlni ssc". Pal<'!'11101111s
A-filfcilungen .
Go thin gc n, 37:8 1-91. 114-24.

- 42 -
R EV ISTA DE ANTROPOLOGIA, S ií.o PA ULO, USP , 1996 , v. 39 nº 2.

EHRET , C.
1976 "Lin gui stic cv idence and its co rrelations with archaeo logy", World
Archa eology, 8( I ) :5- 18. l 976.

EVANS, C.
1967 "Intr od ução", PRONAPA 1, Publi cações Avul sas do Mu se u P ara ense
E 1nílio Goe ldi , Belé1n, 6:7- l 2.

FAUSTO, C.
1992 "Frag n1e ntos de hi stóri a e cultura tupin a1nbá. Da etn olog ia co m o in s-
trun1ent o críti co de co nh ec i1nento etn o- hi stóri co", in CUN HA , M.C.
(o rg.) , H istória dos índios no Brasil, Sã o Paul o, FAPESP/SMC/Cia. da s
Letra s, pp. 38 1-96.

FERNANDES, F.
1963 Orga nizaç üo soc ial dos Tupinan zbâ, 2ª edição, São Pau lo, Dif el.

FREITAS , A.A.
1914 "Di stribui ção geog raphica das tribu s indí ge nas na épo ca do de sco brim en-
to", R evista do Instituto H istórico e Geographico de São P aulo, São
Pau lo, 19: 103-28 .

GALLO IS , D.T .
1986 Mi gração, guer ra e co,nér cio: os Waiapi na Guiana , São Paulo, FFLCH-
USP.

GA RCIA , R.
1922 "E thn og raphia indi ge na", Di cc ionario histórico, geog raphi co, e
ethn og raphi co do Bra sil, Intr odu ção ge ral , I, Rio de Jan eiro, Imprensa
Offi cial , pp . 249-77.

GREENBERG , J.
1987 LaHguag e in the An1ericas, Stanford, Stanfo rd Uni versity Prcss.

- 43 -
FR ,\NCISO N OELU. R OTAS DE EXPANSÃO DOS T UPI

GUÉRIOS, R.F.M.
1935 ''Novos ru n1os da tupinolog ia", se par ata da Revis ta do Círculo d e Es tu-
dos Bandei rant es, Cu riti ba, 1(2), 12 págs.

HOWARD, G.D.
1947 ''Prc h istor ic ce ra1nic sty les of lo wl and So uth Am eric a , th e ir di st ribu tio n
and h is tor y ", New Have n , Ya le Uni ve rsity Pub lica ti o ns in A nthr o-
pology, 37:5-9 5 .
1948 "Nor theas t A rge ntina ", in HOWARD , O .D & WI L LE Y , G .R ., Lowla nd
Argc nt in e ar cha eo logy, N c w Ha vc n , Yal e U ni ver sity Pub lic at io ns in
Archae log y , 39:9- 24 , l 94 8.

JENSEN , C.J . J.
1989 ent o histórico da líng ua Waycunpi , Ca mpina s, Edi tora d a
O dese n volvi111
UNICAM P .

KR AUSE, F .
192 5 " B e itr age z ur E thn og ra p h ie des A raguaya -Xi ng u-Ge bie tes " , A ctés du
XXI'' Cong res l nternati onal des An 1éricani stes, G ote borg , pp . 67- 79 .

LARAIA , R .B .
l 986 Tup i: índios do Br as il at ual , São Paulo , FFCLH -USP.
1988 "O 1nov i1nent o co nstant e do povo ain ento indí ge na no B rasil" , Hun zani -
da des, B ras ília , 5: I 04-9 .

LA SALV IA , F. & BROC H ADO , J .P .


1986 Ce râ nú ca g uarani , Porto A legre , Poze nato Art e & C ul tur a.

L AT HRAP , D .
1970 Th e upp er A niazon , L ondon, Than 1cs a nd Hud so n.

LEMLE , M .
197 1 "In te rn a i c lass ificati o n of thc T up i-g uara ni lin gui stic fa1n ily" , in
BENDO R -SAMUE L , D. , Tup i S t1tdi es , l : l 07 -29, N onn an, Su1nm e r
Jnstitut e of Li ngui stics .

- 44 -
R EVISTA DE A NTROPOLOG IA, S ÃO P AULO, USP , 1996, v. 39 nº 2.

LIMA , T .A.
l987 "Cerfün ica indí ge na bra sileira", in RIB EIRO , B . (coo rd.), Sunia
etnol óg ica bra sileira , vo l. 2. Petrópo lis, Vo zes, 1987 , pp. 173-229.

LINNÉ , S.
L925 "Th e tec hniqu e of So uth A m er icain ce raini cs", Gotehorg, Got ehor gs
kuJLg l, Vete nskap s-oc h Vitt erh ets- Smnhall es Handlin ga r.

LOTHROP , S.K.
1932 "Indian s of the Paraná D e lta , Arg entina ", Anna ls of th e New York
Acade ,ny of Science, New Y ork , 32:77-232 .

LOUKO TKA, C.
1929 "Le se tá, u n nouvea u dialecte tupi ", Journal de la Société des
An 1éricanistes, n .s., Par is, 2 1:373 -98.
1935 "Lí nguas indí ge nas do Bra sil", R ev ista do Arquivo M unicipal, São P au-
lo, 54: 147-74.
1950 "Les lang ues de la fatn illie tupi -g uarani ", Boleti,n nºl6 de Etnografia e
Línguas tup i-g uarani da Faculdade de Filo sofia, Ciências e Letras da
Unive rsida de de São Paul o, São Pau lo.

MAGALH A ES , E .D.
1993 "O tupi no lito ral", Revista de Arque ologia, São Paulo, 7 :51-67.

MART IUS, K.F.Ph.


1845 "C o1no se d eve esc reve r a hi stó ria do Bra zil", Revista Trin iensal de His-
tória e Geographia ou Jornal do Inst ituto Histórico e Geographico
B razile iro, Ri o de Jane iro, 6:389-411.
I 867 B eitrcige z ur Ethographie und Spracha ngenkunde Südanierika 's zunials
Br asilie ns, vol. / , Le ipz ig, F riede rich Fischer.

MASON , J. A.
1950 "Th e language s of South A 1ner ica n Indian s", in STEWARD, J. (ed.),
Handbook of South A111 e rica11 lndian s, 6: 157-3 17, Washington,
S 1n ith so n i an I ns ti tuti o n.

- 45 -
FRANCIS() NOELLI. R OTAS DE EXPAN~ÃO DO ' T UPI

MEGGERS, B .J.

195 I " A pre -co lun1bian co lonizati on of thc An1azon ", Ar clzaeology, N ew Yo rk,
4(2): 110-14.
1954 " En v iro n111cntal I i1nitation o n thc de velop1nc nt of c ultur e", A nzerican
Anthropologist, 56: 801 -2 4.
1957 "E nvironn1cnt and culturc in thc A1nazo n Basin : an appraisal of thc theory
of enviro nn1cntal dcte nninisrnc ' ', Studies in huntan. ecology, Wa shing -
ton D.C. , Thc Pan A1ncrican U ni on.
196 3 Cult ur al dcvclop1ncnt in Lat in A 1nerica: a n int erpr etativc overv iew , in
MEG GERS, B. & EVANS, C. (c ds.), Ab origi nal cul tural d evelopnzent
ill Latin A n1eri ca: {uz in te rpretar ive review, Wa shin gton D .C. ,
S1niths on ian In stitution, pp . 13 1-4 5.
197 2 Pr elzistoric Anzeri ca, Chicago, A ldine Pu b lishin g Pr ess.
1975 "Appli ca tion of th c bio log ica l 1node l o f di ve rs ifica tion to cultura l
distributi ons in Trop ical Low land Sou th A1n erica", Biotrop ica, 7: 141-61.
1976 "Fluc tua c ión vege ta l y adaptac ión c ultural prehi stóric a en Amaz onia :
a lgu na , co rrelacion es tentativas" R elac iones, n.s ., Bu enos A ire s, 1O:11-26.
1982 "Ar c haeo logica l and cthn ogr aphi c ev idencc com pat ible wit h th e m ode]
of forcst fragincntati on" in PRANCE , G.T. , Biological divers~fi cati on in
tlze tropi cs, Ncw York , Co lu1nbia Un ive rsi ty Pr ess, pp. 483-96.
1985 " Advance s in Braz ilian Arc hacology , 1935- 1985 ", A,n e rica n Antiquit y,
50(2 ) :364 -73 .

MEGGERS , B.J. & EVANS, C.


l 957 Ar chaeologi cal investigatio ns at the niou th. of th e Anza zo n , W as hi ngto n,
Sn1ith so ni an In stituti on.
197 3 "A reco ns titui ção da pré- história ainaz ônica: algumas co nsidera ções te-
óricas", O Mu seu Goeldi no ano do Sesquicentenário, B e lé 1n , P ubl ica-
ções Avul s as 20, pp. 5 1-69 .
1978 "L o wland South A1ner ica and the A ntilles", in JENN INGS, J .D. , An cient
er ica 11s, Sa n Franci sco, W .H . Frec 1nan & Co. , pp. 543-91.
nati ve A111

M EGGERS, B.J. ; DIAS , O. ; MILLER , E.T h. & PE R OTA , C.


1988 " I1nplica tions of arc haco log ica l d is trib utions in A1n azo nia", sepa rata dos
Anai s da Acaden,ia Br as ileira de Ciências, pp. 275-94.

- 46 -
RE VISTA DE ANTROPOLOGIA, SÃO PA ULO, USP, J 996, v. 39 nº 2.

MELIÀ , B.
1986 "E l 'modo de ser ' Guaraní en la primera documentación jesuítica ( 1594-
1639)", in Barto1neu MELIÀ, B., El Guaraní conquistado y reducido,
Asunción , CEAUC, pp. 93- J 16.

MELIÀ , B. ; SAUL, M.V.A. & MURARO , V .


1987 O Guarani, u,na bibliografia etnológ ica, Santo Ângelo, Fundação Naci-
onal pró -Memória/ FUNDAMES.

MENÉNDEZ, M.
1981 "U1na contribui ção para etno- histó ria da área Tapajós-Madeira", Revis-
ta do Mus eu Paulista, nova série, São Paul o, 28:289-388.

MÉTRAUX , A.
1927 "Migration s hi storique s des Tupi-guarani" , Journal de la So cie té de
Aniérica nist es, n.s., Paris , 19: 1-45.
1928 La civilisation niatérielle des tribus Tupi-guarani, Pari s, Librarie
Orien talist e.
1948 "Th e Gua ran i", in STEWARD , J., Handbook of SouthAm .erican India ns,
3:69-94. Wa shington , Smithsonian Institution.
1948 "Th e Tupinainba ", in STEWARD , J., Handbook of South American
lndian s, 3:95-133. Wa shington , S1nithso nian In stitu tion.

MIGLIAZZA, E.
1982 "Linguist ic prehi sto ry and the refuge 1nodel in A1nazo nia ", in PRANCE ,
G.T. (ed .), Biological divers~fication. in the Tropics. New York , Columbia
Un iversity Press, pp. 497-5 19.

MONTSERRAT, R.M.F .
1994 "Lí ngua s indígenas no Bra si l co ntemp orâneo" in GRUPIONI , L .D. B .
(org. ), Índi os no Brasil, Bra síl ia , Ministéri o da Educação e Desporto,
1994 , pp . 93-104.

MORÁN , E.F.
1990 A Ecologia hu,nana das populações da A,na zôn ia, Petrópoli s, Vozes.

- 47 -
FR ,\N CISO NOELLJ. ROTA S DE EXPANSÃO DOS TUPI

MYERS, T.

1990 Sora\'ac u: et lznohistorical and orclzaeolo g ical inves tig at ions of a


11ineteentlz-centuryji-ancisca11nzissio n in the Peruvian Montaita , Lin co ln,
Unive rsity o r Nchraska St udi cs .

NETTO, L.
1885 '' In ves tigaçõ es sobre archeolo g ia brazil e ira", Ar clú vos do Mus eo Nac io-
nal do Ri o de Jan eiro, Ri o de Janeiro , 6:257-554.

N IM U ENDAJÚ , C.U.
1981 Mapa etno-lzistóri co d e C!lrt Ninzu endc~jú, Rio de Jancjro , IBG E/FUN-
DAÇÃO NAC IONAL PRÓ -MEMÓRIA.

NOELLL F.S.
1993a " Po r uma rev isão da ' busca da terra sc1n n1al' dos Tupi", B oletún da ABA ,
Florianópolis, 20: 16, dczc 1nbro.
1993b Sen1 Tekohâ não há Tekô (e 111 bu sca de 1un 111odeloetno a rqueológico da
subsi stência e da o/e/eia guarani aplicado a unia área de donzínio no delta
do Jacuí-RS), Porto A legre, dissertação de 1nest rado, JFCH -PUCRS .
1994 "Unia revisão das hip óteses so bre o ce ntr o de orige n1 e rotas de ex pansão
pr é- hi stóricas dos Tupi", Estudos lb ero-A 111 ericanos, Porto A leg re,
20( l ): l 07-35.
s.d. A fossil iz ação de tuna visão acadênzica: o desenvolviniento e a ntanu-
tenção da produção cient(ti ca d e B etty J. Meggers ( 1948-199 3 ), tnanu s-
c ri to.

PEIXOTO , J .L .
1995 A ocupação do Tupi gua rani na bo rda oeste do Pan tan al SuL-
tog rossense: ,na ciço do Urucu, Porto A leg re, disse rtação de n1es trad o,
111a
IFC H-PUCRS.

PORRO , A.
1992 A s c rôni cas do rio cuna zona s. Notas et110-históri cas sobr e as anti gas
popula ções indí ge nas do A111a zô11ia , Petrópoli s, Voze s.

- 48 -
IA, SÃOPAULO,USP , 1996, v. 39 nº 2.
REVISTADE ANTROPOLOG

PRONAPA , Progra1na Naciona l de Pesquisas Arqueológicas.


1970 "Bra zilian Archeol ogy in 1968: An interi1n report on the Natio nal
Progratn of Archeo logy Resea rch - PRONAPA ", An ier ican Antiquity,
35( 1): 1-23.

RENFREW , C.
!987 Archaeology anel languag e. Th e pu zz le of Indo-European ortgtns,
London, Jonathan Cape Ltd ., 1987.

RIVET , P.
1924 "Langu es A1néricaine s, III. Lan gues de l ' Amériquc du Sud et des
Anti lles", in MEILLET , A. & COHEN, M . (eds.), Les Langues du Mon -
de, Co llection Lingui stique , Societé de Lingui stiqu e de Pari s, Pari s,
16:639-7 17.

RODRIGU ES, A.D.


1945 "Fonét ica histórica tupi -guarani: dif erenças fonéticas entre o tupi e o
guarani", Arqui vos do M useu Paranaense, Cur itiba, 4:333-54.
1950 "A non1enclatura na fainília Tupi-guara ni", Bol etín de Filología ,
Montev idéo , 6( 43-44-45):98- 104 .
1958 "C lass ifica tion of Tupí-G uaraní", lnternational J ournal of Ameri ca n
Linguistics , 24:23 J -4.
1963 "Os estudos de lingü ística indígena no Bra sil", Rev ista de Antropologia ,
São Paulo, 11( 1-2):9-22 .
1964 "A classificação do tronco lingüístico Tupi", Rev ista de Antropologia,
São Paulo, 12:99- 104.
1984 "Relações internas na fmn ília lingü ística tupi-guarani", Revista de An-
tropologia, São Paulo, 27-28:33-53.
1985 "Ev ide nces for Tupi -Ca rib relatio nship", in KLEIN, H. & STARK , L.
(eds.), Sou th A111erica11indian languages: retrospect and pro spect,
Aus tin, University of Texas Press, pp. 37 1-404.
I 986 Lín guas brasile;ras , Loyo la, São Pau lo.

- 49 -
FRANCIS() NOELLI. ROTAS DE EXPANSÃO DOS T UPI

ROOSEVELT , A.C.
199la "Dete rrnin i ·111
0 eco lóg ico na int erpretação do dese nvo lvimento soc ial
indígena da A1nazô nia ", in NEVES, W . (o rg.), Orige ns, adaptaçõ es e
diversidade biológica elo honzent nativo da Aniazô nia , Belétn, SCT/CNPq/
MPEG, pp. l 03 -4 1.
199lb Moundbuilders of the Anzazon, Nova York, Acade mic Pre ss.
1992 "Arq ueo logia A1nazônica", in CUN HA , M .C. (org.), Histór ia dos índios
no Bra sil,. São Paul o, FAPESP/SMC/C ia das Letras, pp. 53-86.

ROUSE, I.
1986 Migrations in prehi sto r.y, New Haven, Yale Univer sity Pre ss .

SALZAN ·o , F .M .
1992 "O ve lho e o novo . Antropologia física e história indíg ena" , in CUN HA,
M .C . (o rg.), Hi stó ria dos índios no B rasil, São Paulo, FA PES P/SMC/Cia.
da s Le tra s, pp. 27-36.

SALZANO , F.M . & CALLEGARI-JACQUES , S.M.


1991 "O índi o da An1azô nia: u1na abordage1n 1nicroev olucionár ia", in NEVES ,
W. , Orige ns, adaptações e di ve rsid ade biológica do honi eni nativo da
Aniazônia , Be lé1n , SCT/CNPq/MPEG, pp. 39-53.

SANTOS, C.A.
1991 Rotas de núg ração Tupiguaralli - aná lise das hipóteses, Rec ife, disse r-
tação de 1nes trado, CFCH -UFPE.
1992 "M obi lidade es paço -te1npo ral da Trad ição T upiguarani: co nsiderações
I i ngüísticas e arqu eo lógicas", Clio, série arqu eo lógica, Recife, 1(8): 89-
130.

SCATA M ACC HI A, M .C.M.


198] Tenta tiva de caracterização da tradição tupigua rani, São Paulo, disser-
tação de Mes trado, FF LCH-US P .
199 1 A Tradi ção poli crôntica no les te da Anzéri ca do Sul evidencia da pela
ocupa ção guara ni e tupina nLbá:fo ntes arqueo lógicas e etno-históricas,
São Pa ul o, tese de do utorado, FF LCH-US P.

- 50 -
R EVISTA DE AN T ROPOLOGIA, SÃ O P AU LO , USP, 1996, v. 39 nº 2.

SCHMIDT , W.
1913 " Kullurkr e ise und Kulturschicht en 111Südamerika", Zeitschrift für
Ethnologie, Berlin , 45: 10 14- 130.

SCHMITZ, P.I .
1985 "O Guarani no Ri o Grande do Sul", Bol etirn do Mar sul, Taquara , 2:5-42.
199 1 "Mi grant es da An1azô nia: A tradi ção tupi -guarani ", Arqu eo logia do RGS ,
Brasil - Docu111 .entos, São Leopo ldo, 5:31 -66.

SILVA , F.A . & MEGGERS, B.J.


1963 "C ultur al deve lop1nenl in Brazil ", in MEGGERS , B. & EVANS , C . (ed s.),
Abori g inal cul tural developnient in Latin An ie rica: an int erpretativ e
reviev11, Wa shin gto n D.C. , S1nith so nian In st itution , pp. 119-2 9.

SOARES DE SOUSA , G.
1987 Tratado descritivo do Brasil eni 1587, São Paulo , Cia. Editora Na cional.

STELLA , J .B.
1928 " A s lín guas ind ígena s da An1érica ", R ev ista do Instituto H istórico e
Geographi co de São Paulo, São Paulo, 26:5- 172.

SUSNIK, B.
1975 Dispers iôn tupí-guaranf pr ehist órica. Ensayo analíti co, As unción, Museo
Etn og ráfico "André s Barb cro".

SWADES H , M.
197 1 " Gl olloc hrono logy", in FR IED, M. , Readings in Anthropolog y, 2nd Ed.
New Y ork , Th o1nas Crowcll Co. , pp. 384- 40 3.

TERMINOLOGIA.
1969 "Tennin olog ia arqueológ ica bra silei ra par a a ce râmi ca, part e II", CEPA,
Manuai s de Ar queologia nº 1, C uritiba , UFPR , 8 págs .
1976 "Tennin olog ia arqu eo lóg ica bra sileira para a ce rân1ica", 2ª Ed. revista e
ainpliada , Cadernos de Ar queo logia, C uritib a, 1(1): 119-148, Centro de
Ensino e Pe squi sas A rqu eo lógicas. ·

- 51 -
FRANCISO NüELLI. ROT AS DE EXPANS/\.0 DOS T UPI

TO RRES , L.M .
191 l Los pr inzitivos habi tantes del del ta del Paraná, Bu enos Aire s, Imp renta
de Coni Hennanos.
1934 ''Relacio ne s arq ueo lóg icas de los pueb los dei A1na zo na s", Actas y
Trabajos Cient(ticos del XXV Con greso Internacio nal de An iericani stas,
Bueno s Ai res, 2 : 191- 193.

UR BAN ,G.
1922 " A história da cu ltura bra sileira seg und o as línguas nativ as", in CU NHA ,
M.C. , Histó ria do s índios no Br as il (org.), São Paulo , FA PESP /S MC/Ci a.
da s Letra s, pp . 87- l 02 .

VLB
1952 Voca bul ário na língua brasílica, 2ª ed. revist a por Car los Drum ond , Sã o
Paulo , Bol eti1n nº 137 , Et nog rafia e tupi -g uara ni nº 23 -FFCL -USP .

VON D EN STE INEN , K .


1886 Dur ch Zentral- Bra s ili en. Expeditio n z ur E,j'orsc hung de s Sch ingú ini
Jah re 1884 , Le ipzig, F.A . Br oc kha us, 1886.

WILLEY , G.
1949 "Ccrmníc s", in STEW ARD , J., Handbook of South A,n erican l ndians ,
5: 139-204, Wa shin gto n, Smithson ian In stitu tion.

WIL LE Y , G.R. & PH ILLI PS , P.


1958 M ethod and theory in Anie rican archaeolog y !, Chi cago, Th e Univ ersity
of C hicago Press.

- 52 -
R EVISTA DE AN T ROPOLOG IA, SAo P AULO, USP , 1996, v. 39 nº 2.

ABSTRACT: Th e origins and ex pan s ion of the Tupian has bee n fancied
and inves Liga Led s ince 1838. On ly in the last 40 ye ar s the pr obl e1n has bee n
tac kled wit h he lp fro1n Hi sto rica l, Lin g uist ic asd Arc haeo logica l dat a. Yet
th ose ne w info nn a tio n has not bee n in co rp orat ed, a nd hypote s is a nd
co nc lus io ns pr opose d 1nore than a ce ntury ago are st ill ex tand .

KEY WORDS : arc hae ]ogy, Tupian hotn e lan d , route s of ex pansion of the
Tup ians.

Aceito para publica ção em agosto de 1995 .

- 53 -

Você também pode gostar