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Bananas

Music
Trends
2023
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ÍNDICE

02 INTRODUÇÃO

A MISTURA DOS GÊNEROS MUSICAIS NO BRASIL E A


04 DIFICULDADE DE CATEGORIZAÇÃO DAS MÚSICAS

A CONSOLIDAÇÃO DO ÁUDIO COMO PROMOTOR DE


06 SAÚDE MENTAL

09 MÚSICA DE CATÁLOGO DOMINANDO O MUNDO POP

13 DOBRADINHA DE ARTISTAS EM PALCOS DE FESTIVAIS

16 DANÇARINOS COMO ELEMENTO ESSENCIAL NO PALCO

22 CONCLUSÃO
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INTRODUÇÃO

O Bananas Music é uma agência de curadoria musical para marcas. Somos um time de
curadores e pesquisadores musicais sempre atentos aos movimentos de
comportamento e consumo de música dentro e fora do Brasil. Tudo isso para sermos
capazes de apresentar as melhores estratégias de posicionamento de marca no
território musical.

O report Bananas Music Trends nasce dessa constante investigação sobre a indústria
musical, dos resultados de nossas tecnologias proprietárias, análise diária de charts,
notícias e reports de outros pesquisadores, acrescidos do nosso próprio senso crítico.

O objetivo do relatório de 2023 foi concentrar, em um só documento, fatos já


comentados nos bastidores do mercado da música brasileiro e propor alguns futuros
possíveis, trazendo a reflexão para quem gosta de música como entretenimento
pessoal e para quem trabalha em algum nível dessa grande indústria.

O Bananas Music Trends de 2023 foi apresentado na Semana Internacional de Música


de São Paulo (SIM São Paulo), uma das maiores feiras de música da América Latina,
que reúne agentes da música de vários lugares do Brasil e do mundo para discutir os
rumos do mercado da música.

É importante ressaltar que nenhum comportamento descrito aqui está


terminantemente definido, ainda mais em uma realidade onde as ditas trends se
transformam tão rápido como um viral de TikTok. Além disso, esse documento não
tem como objetivo ser um guia de como artistas, agentes da música e marcas devem
agir nos seus próprios projetos.
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INTRODUÇÃO

Dito isso, acreditamos que essas 5 tendências que apresentaremos a vocês irão se
consolidar em 2023 e perdurarão inclusive pelos próximos anos.

Se utilizar algum desses insights em suas estratégias de negócios, ficaremos felizes em


saber :)

Tenha uma ótima leitura!

SOBRE AS AUTORAS

EMELY JENSEN
SÓCIA E HEAD DE CURADORIA
Formada em Design pela Universidade Feevale e
pesquisadora musical há mais de 8 anos, trouxe sua
experiência analítica para o mercado da música,
desenvolvendo desde a identidade musical de marcas até
reports e pesquisas sobre comportamento de consumo
musical.

JULIANA CASTRO
HEAD DE RELACIONAMENTO ESTRATÉGICO
Especialista em Marketing de Conteúdo e pesquisadora
musical há 3 anos. Atuou como head de conteúdo na
Bananas Music, sendo responsável pela comunicação digital
da empresa. Hoje é head de relacionamento estratégico da
Bananas Music.
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A MISTURA DOS GÊNEROS MUSICAIS NO


BRASIL E A DIFICULDADE DE
CATEGORIZAÇÃO DAS MÚSICAS

Em um país com dimensões continentais como o Brasil, já observamos desde muito


tempo a diversidade de expressões culturais e, consequentemente, a multiplicidade de
sonoridades e do que chamamos de gêneros musicais.

Também pela grandeza do seu território e dificuldade de deslocamento de pessoas e


informações através das regiões mais afastadas, era comum que estilos musicais
específicos ficassem restritos a uma determinada região.

Essa dinâmica foi amplamente favorecida pela consolidação e democratização digital e


teve como fator de aceleração a cultura de mashup¹ amplificada pelos aplicativos de
vídeos curtos.

O brasileiro se firmou como expert em criar coisas novas a partir da fusão de outras
existentes. Só no Brasil existe R&B com swing baiano e pizza de sorvete (risos).
Perceba que ainda não existe uma palavra que caracterize o gênero “R&B com swing
baiano”. E talvez nunca exista. O brasileiro terá que se acostumar a utilizar muito
mais palavras para explicar uma sonoridade, ao invés de uma palavra que
expresse tudo.

“Vieram criticar a gente pela junção de coisas de estilos, mas se você for
pensar, música é uma coisa só." Luan Pereira sobre a música 'Roça Roça' em
entrevista para o G1.

¹Mash up: canção ou composição criada a partir da mistura de duas ou mais canções pré-existentes,
normalmente pela transposição do vocal de uma canção em cima do instrumental de outra, de forma a se
combinarem.
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O movimento de misturar gêneros musicais promove alguns benefícios e traz com


eles alguns desafios também. Entre as vantagens, notamos que:

● aquece o mercado de novos lançamentos;


● permite que o artista se mantenha relevante comercialmente (se o hype da vez é
funk, vamos misturar sertanejo com funk, pop com funk, brega com funk…);
● aumenta os pontos de contato do artista de um determinado gênero musical
com os fãs de outro gênero.

Talvez o maior desafio dessa tendência seja a dificuldade de entender e agrupar os


atributos musicais dos gêneros para classificar a música de maneira que ela
seja “encontrada” pelo ouvinte. Na era dos mecanismos de buscas e plataformas
de streaming, como encontrar uma coisa sem nome definido?

Nesse caso, atributos subjetivos, como mood e atividade concomitante ao consumo da


música, passam a ser mais expressivos para o público final do que a nomenclatura do
gênero musical em si.

Outro desafio é a adaptação da nomenclatura por parte da indústria da música


para fins de comunicação e comercialização dessa mistura sonora tão rica e
complexa. Essas serão cenas dos próximos capítulos.
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A CONSOLIDAÇÃO DO ÁUDIO COMO


PROMOTOR DE SAÚDE MENTAL

Está cientificamente provado que a música interfere no cérebro humano e altera


nosso humor. Na ascensão das plataformas de streamings, esse efeito se tornou ainda
mais evidente através do consumo, mais acessível e prático, de playlists com músicas
selecionadas especialmente para momentos específicos - as playlists de mood.

Juntos, música, sons da natureza, sons ASMR, sons de frequência binaurais ("ilusões
auditivas” capazes de estimular e alterar o comportamento do cérebro) e ainda
podcasts, coroam o áudio em geral como um regulador do nosso humor e
estado mental.

Podemos dizer que a tendência de estimular a audição acima dos outros sentidos se
fortaleceu durante a pandemia, quando Millennials e especialmente Gen Z’ers,
saturados pelo bombardeio de notícias e pela alternância frenética entre tweets e vídeos
curtos, foram buscar relaxamento em outros formatos.

Usar o digital para se desconectar do digital parece contraditório. Entretanto, o áudio


tem esse poder, pois não requer a atenção plena no dispositivo para usufruí-lo. É
possível ouvir música ou um podcast fazendo uma outra ação ou simplesmente, não
fazendo mais nada.

E esse cenário está longe de mudar. Um estudo recente do Spotify mostrou que “a
Geração Z não considera o áudio apenas como uma diversão, ele é uma parte essencial do menu de

Nota: Spotify Culture Next Report, um estudo realizado pelo Spotify em 2021. Foram combinados dados
qualitativos, quantitativos e primários sobre a Geração Z (de 16 a 25 anos) e os Millennials (de 26 a 40 anos),
juntamente com mais de 9 mil entrevistados ao redor do mundo, 500 deles brasileiros. As descobertas foram
correlacionadas ao Streaming Intelligence e aos dados primários exclusivos do Spotify.
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bem-estar pessoal deles [...] seja através de podcasts de pensamento positivo, som ambiente ou até
mesmo o silêncio.” (Spotify Culture Next 2021, p. 05)

● 91% dos Millennials e 71% da Geração Z no Brasil concordam que usam o


áudio para reduzir o estresse.
● 87% dos Millennials brasileiros veem o áudio como um recurso de saúde
mental.
● 80% da Geração Z do Brasil se sente "mais centrada e geralmente mais feliz"
ao ouvir suas músicas preferidas diariamente.

Fonte: Spotify Culture Next 2021, p. 04-05.

Podcasterapia

Inicialmente utilizados como fonte de entretenimento e aprendizado, os podcasts vêm


se destacando nos últimos anos como fonte de autoconhecimento e saúde mental.

GEN Z MILLENNIALS
Crescimento de
categorias de podcasts 370%
entre os Millennials e a Saúde Mental
381%
Geração Z do
137%
Brasil no primeiro Espiritualidade
trimestre de 2021, em 162%

comparação ao 110%
primeiro trimestre de Autoajuda
116%
2020.
107%
Saúde
105%
Fonte: Spotify Culture Next 2021, p. 04-05.
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Podcasts de saúde mental e autoajuda possuem um propósito muito claro sobre como
podem auxiliar o ouvinte em questões pessoais, de autoconhecimento ou regulagem
emocional.

Agora um fato curioso sobre o assunto é que podcasts sombrios, como de casos
criminais, também estão mais presentes dentro do “kit de saúde mental” das
pessoas. Há relatos de que muita gente ouve esse gênero com prazer para relaxar
após um dia estressante. Ainda não sabemos uma possível explicação para isso, mas é
algo que vamos ficar de olho.

Precisamos ressaltar que nada substitui a terapia com um profissional


qualificado. Nada! Mas sem dúvida, ferramentas terapêuticas acessíveis de
autoconhecimento ou mesmo de distração, como os podcasts, devem ser celebradas.
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MÚSICA DE CATÁLOGO DOMINANDO O


MUNDO POP

O termo “música de catálogo” se refere às músicas que foram lançadas há 18 meses


ou mais.

Nos charts e listas de músicas mais tocadas nas mídias é muito comum vermos
músicas atuais, lançadas no ano corrente ou, no máximo, no ano anterior. Imagina a
surpresa quando salta aos nossos olhos uma música de décadas atrás figurando entre
as top 50 mais ouvidas no presente!

É o que vem acontecendo com cada vez mais frequência. Dreams, do Fleetwood Mac
(1977), viralizada a partir de um vídeo no TikTok, e Running Up That Hill, de Kate
Bush (1985), revivida pela série de ficção Stranger Things, são alguns exemplos de
músicas que retornaram recentemente às paradas de sucesso, por motivos que vamos
discorrer a seguir.

TikTok - Música nova é música que não conheço

Um dos motivos que justifica a presença de músicas de catálogo no top 50 atuais já


foi citado acima: a popularização do TikTok. Algumas músicas viralizam na
plataforma através de incansáveis reproduções, trends e challenges. Portanto, o passo
natural dessas músicas (que podem ter viralizado organicamente ou impulsionada
através de gravadoras) é chegar ao topo das paradas virais, e muitas vezes, ao
topo das paradas globais das plataformas de streaming.

Um estudo divulgado pelo The Pudding em julho de 2022 observou que 25% dos 332
artistas que entraram pela primeira vez na parada de músicas mais ouvidas no
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Spotify, entre janeiro de 2020 a dezembro de 2021, vieram exclusivamente do


TikTok.

Um evento curioso: algumas pessoas da Geração Z estão conhecendo a banda de


rock Nirvana em 2023. Isso pode soar como blasfêmia para uma pessoa em seus 30
ou 40 e poucos anos, mas um dia já fomos adolescentes que não conheciam Os
Mutantes ou Rolling Stones, por exemplo. O fato é que o TikTok tem espaço para
apresentar novidades, e também as relíquias e clássicos musicais.

Comprar catálogos musicais é considerado um ativo


financeiro estável

Vimos o cantor Sting vender todo o seu catálogo musical para a Universal Music por
U$ 300 milhões no início de 2022. Recentemente, em janeiro de 2023, o cantor Justin
Bieber fez o mesmo com as suas músicas, confirmando que as transações anteriores
não foram isoladas e sim, representam uma tendência do mercado musical.

Isso porque, com o avanço da tecnologia de dados, se tornou muito mais fácil
compreender o histórico de performance de um catálogo, ou seja, o volume anual de
royalties, e sua projeção futura de execução.

Nesse caso, várias movimentações podem ser feitas para incentivar a execução do
catálogo: produção de filmes biográficos, documentários, covers e pitching ativo para
interpolações com outras músicas fazem parte da negociação prevista para retorno do
investimento.

Sobre esse último ponto, editoras musicais, que são geralmente as administradoras
dos direitos das composições, ativamente fazem pitching de ideias de interpolações
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para as gravadoras. Isso busca aumentar a visibilidade e número de plays em seus


catálogos musicais e, consequentemente, seus lucros.

Menor custo de marketing do catálogo

Essa regra vale para qualquer tipo de produto cultural: o investimento de


marketing costuma ser menor para algo que as pessoas já conhecem e já têm
uma relação afetiva construída do que para começar essa relação do zero. Por
exemplo, é mais fácil vender um filme do “Homem Aranha 57” do que o novo filme
do “Super Herói Desconhecido”.

O esforço e capital aplicado para conquistar a atenção do público é muito alto. No


mundo da música, a concorrência por atenção é ainda mais desleal. Estamos
vivenciando um período de número recorde de lançamentos: são aproximadamente
100 mil músicas sendo lançadas diariamente nas plataformas de streaming.

Logo, a interpolação de músicas novas com músicas de catálogo, que captura a


atenção do ouvinte pelo fator nostalgia, já passa na frente de muitos lançamentos
“novos”.

Número aproximado de novas músicas enviadas por dia no Spotify e outros serviços
de streaming música:

Fonte: Music Business Worldwide


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Parceria entre artistas e marcas

Para as marcas que se aliam à música para fins comerciais e de marketing, reciclar
conteúdos que já possuem alguma história costuma ser mais seguro do que a criação
do zero. A utilização de conteúdo de catálogo passa então a ser interessante
comercialmente para artistas em outras fontes, indo além de royalties de streaming -
nesse caso, a publicidade.

Vale lembrar que antigamente, ser um “sellout”, um vendido, e trabalhar com uma
marca era a pior coisa que poderia acontecer com um artista, na visão dos fãs. Hoje
em dia, com a cultura do influencer invadindo todos os espaços, se o artista não tem
apoio de marcas, ele pode ser visto como um amador, alguém que ainda “não chegou
lá”.

Se feita estrategicamente e com conexão sincera, seja pelas marcas, gravadoras,


editoras e artistas, a interpolação com músicas de catálogo para criação de
novos lançamentos é uma ferramenta poderosíssima para atingir novos e
antigos públicos.

Dizemos conexão sincera pois, se tem uma coisa que o público, especialmente a Gen
Z, consegue sentir de longe é o cheiro de marketing forçado. Essa conexão verdadeira
também é importante para não prejudicar o legado do artista, para que ele possa
continuar reverberando e consequentemente, para que os detentores do catálogo
continuem tendo retorno sobre o investimento.
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DOBRADINHA DE ARTISTAS EM PALCOS DE


FESTIVAIS

Promover o encontro de artistas nos palcos dos festivais é uma abordagem já


conhecida pelo mercado brasileiro de entretenimento. O Palco Sunset, do festival
Rock in Rio, desde 2011 propõe esses encontros entre artistas. Já foram vistas
dobradinhas das mais inusitadas, como Sepultura e Zé Ramalho ou CeeLo Green e
Iza, a encontros que simplesmente faziam sentido sonoramente, como Karol Conká,
Linn da Quebrada & Gloria Groove ou Lulu Santos e Silva.

O que chamou nossa atenção, principalmente nos festivais pós-pandemia, foi a


expansão das dobradinhas para festivais de menor porte. A frequência cada vez maior
de termos encontros musicais, seja em participações ou em shows compartilhados,
corrobora que a tendência vai se estender ainda por um bom tempo.

Em 2022, o Mapa dos Festivais - plataforma de conteúdo, busca e concatenação de


informações sobre festivais de música no Brasil inteiro criado pelos sócios do
Bananas Music - registrou que 33% dos 86 festivais cadastrados na plataforma em
2022 tiveram pelo menos um encontro em seus palcos. A seguir apontamos
possíveis motivações para a tendência ganhar força.

A era dos feats digitais e nos palcos

Você consegue se lembrar do último disco que ouviu sem feats? Não dá pra negar que
colaborações são queridas pelo público. Todo mundo tem uma certa curiosidade em
saber como ficaria uma música entre artistas x e z.
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Nos últimos anos, as parcerias musicais têm se tornado cada vez mais comuns para os
artistas. Na segunda semana de janeiro de 2023, por exemplo, 31 das 50
músicas, ou seja 62%, do Top Spotify Brasil eram colaborações entre artistas.
Mas a união de artistas no palco não é somente um reflexo da “era dos feats” da
música digital.

Além da confluência de públicos similares, a união de artistas de um mesmo


escritório artístico em um único show, por exemplo, pode buscar a diminuição
de custos de produção. A estratégia também pode ser parte do planejamento de
marketing para alavancar o lançamento de um futuro trabalho entre os artistas.

Ineditismo nos festivais

Acreditamos que outro fator que estimula a crescente onda de colaborações entre
dois ou mais artistas no palco seja a grande repetição de line up que muitos
frequentadores de festivais observam em eventos por todo o Brasil

Novamente, o Mapa dos Festivais fez um levantamento dos 86 festivais cadastrados


na plataforma e constatou que os 10 artistas mais cotados estavam presentes em, pelo
menos, 9 festivais brasileiros, de norte a sul do país - a artista Marina Sena ganhou
em disparado, com presença marcada em 15 festivais, 17% dos festivais analisados.

A partir da união entre artistas, inevitavelmente se cria um novo show, um show


inédito. Esse ineditismo gera interesse para o público e para os artistas, e ainda para
os produtores do evento, que ganham no fator exclusividade: o público só verá esse
show nesse dia, então não pode perder.
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“Os artistas parecem estar mais abertos a isso, em ter um show diferente, para não terem sempre o
mesmo show da turnê.”, aponta Juli Baldi - diretora criativa do Mapa dos Festivais e da
Bananas Music.

Acreditamos que o encontro de artistas, prováveis e improváveis, novos e


consagrados e tantas outras possibilidades, deixa o palco mais interessante, atiçando a
curiosidade do público, além de unir fãs e aumentar platéias. Dá resultado, portanto
acreditamos que acontecerá frequentemente nos próximos anos.
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DANÇARINOS COMO ELEMENTO ESSENCIAL


NO PALCO

Depois da pandemia de COVID-19, que nos obrigou a passar dois anos sem shows,
as performances ao vivo em eventos presenciais voltaram com produções
espetaculares. Tanto o público quanto os artistas estavam ansiosos para se entregar
em experiências com tudo que se tem direito - mesmo com toda a dificuldade
financeira trazida pela pandemia e, mais recentemente, pela guerra na Ucrânia, que fez
o custo de produção e consumo dos shows e festivais no Brasil ficarem muito mais
elevados.

De Ludmilla, investindo 2 milhões para ter seu show no Palco Sunset do Rock In Rio
do jeitinho que queria, à Lady Gaga, em seu teatral e megalomaníaco Chromatica Ball,
as maiores estrelas da atualidade vem oferecendo shows que parecem projetados com
precisão para a mídia social. Os palcos, cada vez mais cercados de elementos
estrategicamente pensados para chamar a atenção do nosso olhar (e câmeras), vão além
do foco do artista no spotlight com seu microfone.

Historicamente, no Brasil, vemos a inserção de um balé como parte da apresentação


desde os shows gigantes de Calcinha Preta, Limão com Mel e Calypso aos, às vezes
apertados, palcos dos shows de funk. Recentemente essa estratégia também tem sido
utilizada por artistas alternativos, fora do eixo do forró, pop comercial ou funk, por
exemplo.

O input para observarmos mais de perto essa tendência foi justamente a presença de
bailarinos em shows de artistas independentes, cujos cachês são frações
quando comparados aos artistas mainstream que podem investir nesse tipo de
elemento de palco como expressão da sua arte.
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Na receita de shows para se encher os olhos além dos ouvidos, acrescentamos a


popularização da dança, de maneira geral, impulsionada pelo TikTok e a sede de
experiências deixada pela pandemia, e o que temos são mais artistas investindo em
performance de palco, mesmo que isso represente menos lucro no final do dia
para alguns deles.

O investimento vale a pena

Mais gente no palco, mais caro para fazer o show acontecer - o que pode muitas
vezes, inclusive, ser um empecilho para o show ser contratado em primeiro lugar.
Então por que levar um balé se torna essencial? Quando o balé se tornou
imprescindível, especialmente para aqueles artistas que não tem nem de longe um
orçamento como o da Ludmilla, por exemplo?

Conversamos com alguns artistas independentes que vimos nos festivais Se Rasgum e
Coquetel Molotov e que se apresentaram com bailarinos no palco para entender suas
motivações. São eles Raidol (PA), Uana (PE) e Barbarize (PE).

BARBARIZE
Foto: Divulgação / Thays Medusa

“O show só é completo se tiver nosso balé lá. Eles fazem parte da nossa
banda assim como os músicos também. Faz parte da nossa performance.”
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Expressão cultural (tanto regional quanto do estilo musical)

Raidol trouxe diversos pontos sobre seu uso de balé no palco. “A questão dos dançarinos
tá bem intrínseca na nossa cultura nortista, onde bandas de cultura popular (como carimbó, boi
bumbá) têm dançarinos [...] eu como sou um artista pop, senti a necessidade de explorar todos os
âmbitos da minha arte, e ter um balé faz com que você estude seu corpo, o desenvolvimento dele no
palco. É um desafio cantar e dançar”, e completa: “Viva Beyoncé, Joelma e Viviane Batidão!”.

Coletividade

RAIDOL

Foto: Divulgação / Duda Santana

“Aqui no Norte a gente se une. Quase nunca dá pra fechar o orçamento


porque fica faltando o de alguém. Então muitas vezes a gente não recebe
ou recebe menos pra conseguir pagar todo mundo.”

Quando começamos a pesquisar esse movimento aqui no Bananas Music, nos


lembramos da ascensão de MC Loma e as Gêmeas Lacração. Mirella e Mariely, as
gêmeas, nunca tiveram interesse em cantar, em ser artistas. Esse era o sonho da
Paloma. Mas elas vieram junto pela amizade e foram fundamentais na carreira da
artista - dançando e ganhando a simpatia do público. A amizade sincera e o
sentimento de parceria entre as três estão presentes desde o vídeo caseiro de
Envolvimento às últimas entrevistas em videocasts.
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Além de criatividade, TikTok

Uana, que além de artista musical também é dançarina, vê a dança em simbiose com o
ritmo que vem trabalhando:

"Quando eu decidi fazer um trabalho mais pop, que é muito referenciado no brega funk, comecei a
entender que eu não poderia ir nessa pegada se não tivesse dança no palco. Porque dentro da cultura,
é muito uma coisa ligada à outra. A música e a dança são codependentes no brega funk. Uma coisa
alimenta muito a outra.”, diz Uana.

Uana também credita o poder do TikTok nessa tendência.

UANA

Foto: Divulgação / Lana Pinho

“As batidas começaram a mudar com o tempo para a galera poder


construir outras coisas na dança. As músicas começaram a viralizar por
conta das dançarinas, por conta de dança de TikTok.”

“Às vezes não é só você cantando que vai segurar o público, às vezes precisa de mais cênica, mais
estímulos.” - Barbarize
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Quando a dançarina vira a estrela principal

Para fechar essa nossa discussão sobre dançarinos como elementos de performance,
vejamos o case de Luísa Sonza, uma artista consagrada pelo pop brasileiro que
dispensa maiores apresentações.

Mas você já ouviu falar de Amanda Araújo? Amanda é uma TikToker e dançarina
com mais de 4.7 milhões de seguidores na rede social. Apenas UM de seus vídeos
dançando no palco tem mais de 34 milhões de visualizações na plataforma.

Enquanto Luísa Sonza descansa ao fundo, deixando seus dançarinos brilharem em seus
solos, Amanda viraliza com a hipnotizante coreografia de “Escolhe o Bandido”, música
de MC Myres, MC CH da Z.O, Danado do Recife, EOO Kendy e Deyvinho PL.
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Para nós, é muito interessante o fato de que os fãs de Luísa Sonza esperam esse
momento no show: o momento em que Amanda dança uma música específica no
palco, como uma parte consolidada do repertório - tal como os fãs devotos de Rosalía
esperam o fatídico e viralizado momento em que La Rosalía masca seu chiclete
furiosamente nos shows da Motomami Tour.

O mais curioso é perceber que no momento “Amanda Araújo”, a artista principal


(Luísa Sonza) não é o foco do público: nem no olhar, nem nas lentes das câmeras e
nem mesmo na música tocada ao fundo. A atenção está voltada para a dançarina.

Independente do tamanho do artista, ser “rede social ready” e “TikTok ready”


parece ser mais um ponto de cuidado na crescente lista de produção de um
bom show. Claro, nenhum artista deve colocar um cenário verticalizado ou um balé
no palco só por causa de uma dancinha para o TikTok, se não houver contexto algum
com sua arte.

Muitos artistas, porém, parecem ter ficado mais abertos à possibilidade de


experimentar abordagens novas no palco, indo além da simples performance de uma
tracklist - seja para que o registro fique apenas na memória do público ou quem sabe,
tome vida e viralize nas redes sociais.
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CONCLUSÃO

Observamos os eventos no mundo da música e, através desse report, provocamos


questionamentos e traçamos algumas possíveis justificativas para essas
movimentações estarem acontecendo com mais frequência.

Essa prática nos permite enxergar além dos fatos e propor estratégias que sejam
condizentes com as tendências de consumo de música e que façam sentido para o
público.

Esperamos que esse relatório tenha trazido muitos insights sobre como trabalhar com
música em 2023. Se quiser entrar em contato com a gente, escreva para
oi@bananas.mus.br.

Até ano que vem! ;)

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