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© MUNDO EM TRANSFORMAGAG CLIQUE AQUI EVOLTE AD y) Apresentacao Embora a eletricidade tenha sempre estado presente em nossas vidas, como é atestado pelos raios, podemos supor que sua histéria remonta ao Século VI, quando 0 filésofo grego Thales de Mileto desco- briu uma resina (mbar) que atraia objetos leves quando era esfregada com Id ou pele de animal. Seguiram-se novas descobertas e através de varios desbravadores chegamos a era de Thomas Edison ‘em 1879, com a comercializacao da lampada e de muitas patentes que, dizem, ter trazido de outros. Nikola Tesla é talvez o principal exemplo destas chamadas injustigas, mas muito sinceramente penso que a gléria cabe aos pioneiros e néo aos exploradores — estes séo recompensados, mas de outra forma, E, por fim, temos hoje a utilizagao da eletricidade suportando nossas vidas, o que se tornou tao comum, como 0 ar que respiramos e por isto nem damos pelas instalacées elétricas... quando bem projetadas e instaladas! Entretanto, se nossas instalacées elétricas apresentam problemas, entao elas passam a ser uma ques- t80 de vida ou morte, literalmente, e nosso cotidiano se transforma num caos. E € neste cenério que reencontro 0 Paulo Barreto, um querido amigo de longa data sempre dedicado as boas préticas de engenharia elétrica, seja em seus cursos ‘ou nos trabalhos que realiza para livrar-nos deste caos. Este artigo é sobre isto. Obrigado por té-lo a bordo nesta coluna do Mundo em Transformagao, Paulo! PROFESSOR F CONSULTOR E vamos ... que vamos! www.geme.com.br POTENCIA POMS sate A engenharia diagnostica e a patologia das instalacoes elétricas engenharia diagnéstica € uma alividade relativamente recente na engenharia (cerca de duas décadas). Ela pode ser definida, de forma direta, como sendo “a disciplina da determinagao das manifestagdes patolégicas e nivel de desempenho da construgéo"{3] Importando da medicina os mesmos conceitos, tem-se que os trabalhos desenvolvidos na engenharia diagndstica passam, pelo menos, pelas etapas da anamnese, do diagnéstico, das prescricdes técnicas e das agdes preventivas. Para efeitos deste artigo, o que nos interessa dentro da engenharia diagnéstica é a patologia das ins- talagdes elétricas, Também importando da medicina e da etimologia, tem-se que patologia é 0 “estudo das doencas’, portanto, aqui, 0 foco € 0 “estudo das doengas das instalacées elétricas”, £ séo muitas as doengas! Como 0 objetivo deste artigo 6 fornecer elementos de ordem prética para aplicacao em projetos, exe- cugées, manutengées, inspegdes e pericias em instalagées elétricas de baixa tenséo, a abordagem nao tem caréter cientifico, mas sim técnico. PoreNcia EF © MUNDO EM TRANSFORMACAO “ale Fig, 1 — Arranjo inadequado de cabos. Normalizagao técnica Tanto sob o aspecto legal quanto técnico é necessério, e prudente, que os profissionais fundamentem suas decisdes nos conhecimentos cientificos e técnicos existentes. Nesse contexto, o conhecimento e a consequente aplicagao dos requisitos das normas técnicas so fundamentals para o bom desenvolvimen- to e credibilidade do trabalho técnico a ser realizado; desde a elaboracao de um projeto até a fase de uso ¢ operacao de uma instalacao elétrica, independentemente do porte dessa instalagéo — ou seja, desde uma simples lampada em uma casinha de bonecas até as instalagées de uma grande industria. A histéria da normalizacao técnica no Brasil remonta muito antes da criac&o da Associagao Brasileira de Normas Técnicas ~ ABNT. Segundo consta, 0 que parece ter sido a primeira norma brasileira de eletri- cidade surgiu em 1888 sob o titulo de “Regras preventivas de incéndio nas instalagées elétricas’, baseada na norma inglesa “Rules and regulations for the prevention of fire risks arising from electric lighting’, publl- cada em 1882 pela The Society of Telegraph Engineers and Electricians [2, 4] Posteriormente, em 1914, a entao Inspetoria Geral de lluminacao da Capital Federal (cidade do Rio de Janeiro) aublica um documento cyjo titulo diverge um pouco segundo dados histéricos. Um deles informa que 0 titulo seria “Regulamento das Instalages de Luz", e outro menciona “Cédigo de Instalagées Elétr- cas". O documento tinha forca de lel, mas de aplicacao restrita ao Rio de Janeiro [4] Jé no Ambito da ABNT, a primeira edigdo da norma técnica de instalagdes elétricas foi publicada em 1941 sob o titulo de "“Execugao de Instalagdes Elétricas - NB-3". Daf em diante ocorreram sucessivas rev ses (1960, 1980, 1997) até chegar a edicao de 2004, ora em vigor. Ou seja, como se pode notar, referéncias normativas nao faltaram ao longo das décadas para propor- clonar instalacdes elétricas seguras, operacionais e modernas (a cada época). Por que sera entdo, que ainda nos dias atuais, nos deparamos com instalagées elétricas inseguras e degradadas e com utilizagio inadequada de diversos materiais elétricos? Manifestacées patolégicas!"! Boa parte das futuras anomalias em instalagdes elétricas jé pode ser evitada na fase de projeto. Outras poderao surgir devido a erro ou falha de execugao, desgaste natural dos materiais ou inexisténcia de manutengao adequada PoreNcis EE © MUNDO EM TRANSFORMACAO PCTS De acordo com a vivéncia deste autor, mais da metade das anomalies identificadas em inspecdes e pericias em instalacées elétricas tiveram origem no projeto daquelas instalacées. Ou seja, 0 desconheci- mento do projetista de principios cientificos, técnicos e normativos, ou até mesmo a falta de competéncia (expertise) no segmento do empreendimento (residencial, comercial, hospitalar, industrial etc), acabam introduzindo anomalias na fase de execucao, as quais iréo “estourar nas maos do usuério” Mais adiante so exemplificados diversos tipos de anomalias que resultam em manifestacdes patolégi- cas. Algumas curdveis, outras incuréveis que levam (ou levaram) a prejuizos financeiros ou acidentes fatais. E importante que os profissionais envolvidos nas diversas fases de um empreendimento (projeto, exe- uso, comissionamento, inspegao, utllizagdo € manutencao) tenham conhecimento das anomalias mais corriqueiras, de modo a evitar futuros acidentes, 0s quais, no caso de eletricidade, podem resultar em incéndios e mortes por choque elétrico Analises mais detalhadas e as provavels solucées para anomalias existentes em instalacées elétricas devem sempre ser realizadas por profissionais com formagao e atribuicées na érea da engenharia elétrica, além de conhecimento especifico na matéria (qualificagao), para que se tenha respaldo técnico e legal Nunca é demais lembrar que um profissional exerce relevante papel no desenvolvimento das ativida- des de consultoria, assessoria técnica, inspecao ou pericia. Tals atividades nao devem ser exercidas por “amadores”, pois do seu parecer resultardo decisées que podem implicar em despesas de elevada monta, punigdes, multas, prisées, cassacdes do exercicio profissional, fechamento de empresas, prejulzos a vida € bem-estar de pessoas, entre tantes outras consequéncias danosas. Portanto, o profissional da érea tecnolégica deve atuar com responsabilidade, ética, ¢ se manifestar apenas em assunto do qual tenha habilitagéo legal e, principalmente, profundo conhecimento, Fig. 2 ~ Pressao de contato insuficiente nos terminais dos cabos. Principais anomalias"! A seguir so apresentadas algumas das anomalias mais corriqueiras que este autor identificou a0 longo dos anos em inspecdes e pericias realizadas. Essa lista termina aqui, Séo apenas alguns exemplos, apresentados com 0 intuito de chamar a atengdo e, quem sabe, de reduzir suas ocorréncias: D inexisténcia de sistema de aterramento (com o alerta de que aterramento no € apenas uma haste cravada no solo!) POTENCIA ED w° MUNDO EM TRANSFORMACAO, PCTS Fig, 3— Eletroduto nao resistente aos ralos 3 cone) ultravioleta (influéncia externa). . 4 — Projetor inadequado para o local. » Aterramentos distintos para vérias finalidades (BEP, SPDA, neutro, massas, equipamentos de tecnologia da informacao, equipamento especifico, ..), sem a devida equipotencializagao. } Inexisténcia de condutor de protegao — PE (‘fio terra") em todas as situagdes contempladas pelas normas. ) Existéncia de condutor de protecdo — PE com percurso diferente dos condutores de fase correspon- dentes, ) Existéncia de condutores isolados (condutores dotados apenas de isolago, sem cobertura) instalados de forma aparente, ou em bandeja, ou em eletroduto enterrado (salvo excesées previstas na norma), ) Arranjo inadequado de cabos em bandejas, eletrocalhas ou leltos. (fig!) ¥ Disjuntores ou fusivels com caracteristicas incompativeis com os condutores dos correspondentes cir- cuitos (falsa sensacao de protecao). } Emendas inadequadas de condutores (modo de fazer e de isolar). } Emendas de condutores realizadas no interior de eletroduto ou de parede (sem caixa de passagem) ¥ Conexdes inadequadas (materials inadequados e pressao de contato insuficiente). (fig. 2) P Sinais de que existiu ou existe sobrecarga nos condutores, ¥ Sinais de que ocorreu curto-circuito em algum condutor. ) Existéncia de fuga de corrente a terra, em valor elevado, ) Desconsiderar queda de tensao no dimensionamento dos condutores. ) Barramento de quadro de distribuicao “falsaments tor geral ndo coordenado com o barramento). protegido contra sobrecarga e curto-circuito (disjun- } Componentes elétricos com grau de protegao IP incompative's com as influéncias externas dos locais, nos quais estao instalados. } Uso de material inadequado em fungao das influéncias externas. (fig. 3) } Agrupamento de condutores nao considerado no projeto. E quando considerado determinado arranjo ele ndo é observado na fase de execucao. PoreNcis EE O MUNDO EM TRANSFORMACAO P Redugao de secao de condutores, no mesmo Circuito, sem protegéo adequada contra sobre- correntes, PExisténcia de equipamentos com baixo fetor de poténcia sem que essa caracteristica tenha sido considerada no projeto. Ou entéo, 0 proje- to considerou 0 uso de equipamentos com alto fator de poténcia e foram instalados (compra- dos) equipamentos com baixo fator de poténcia Existéncia de equipamentos com elevada taxa de distorgdo harménica sem que essa caracteristica tenha sido considerada no projeto. Ou entao, 0 projeto considerou o uso de equipamentos com ceterminada taxa de distorgéo harménica ou da presenga de determinados harménicos e foram, instalados (comprados) equipamentos com ca- tacteristicas diferentes da projetada. P Instalagdes em piscinas e em banheiros, em de- sacordo com requisitos normativos, que afetam a seguranca contra choques elétricos. (fig. 4 ¢ 5) P Interruptor com corrente nominal (In) insuficien- te para a carga a ser comandada PTomada com corrente nominal (In) insuficiente para a(s) carga(s) a ser(em) conectada(s) > Disjuntor com capacidade de interrupgéo de corrente (Icn) inferior @ corrente de curto-circut- to presumida (Ik) no local, P Disjuntor com curva de atuagao (B, C, D) in- compativel com as caractetisticas da carga (por exemplo, motor e capacitor) ) Uso de mangueira para égua no lugar de ele- troduto. P Ero de ligagdo dos cabos em dispositives DR de modo que 0 botao de teste néo iré funcionar (particularmente para 0 caso de dispositive DR tetrapolar utilizado em circuito 2F+N), P Ero de ligaco de condutores neutro em qua- dro de distriouiggo que contém mals de um dis- positive DR. Ligagao de cargas entre condutor de fase e de protegao (F-PE) em vez de ligar entre fase neutro (F-N) POTENCIA Fig. 5 - Instalagdo de interruptor e tomada em box de chuveiro Fig. 6 ~ Inexisténcia de manutencao ¢ inspecao periédica. Fig. 7 — Falta de limpeza periédica das instalacées. » Acoplamento de dois (ou trés) disjuntores unipolares em circuitos a duas (ou trés) fases. } Aumento de carga na instalagao (normalmente feito pelo usudrio) sem a devida verificacao técnica (redimensionamento) D Inexisténcia de manutengéo, limpeza e de inspegao periécica nas instalagées. (fig. 6 € 7) . Referéncias [1) Barreto, Paulo E. de @. M. Patologia nas instalacées elétricas. Apostila de curso de pés-graduacao, tN ed, Séo Paulo, 2022 [2] Costa, Rodrigo P. B; Bernardes, Félix A. Metrologia - Fundamentos. Voli. Rio de janeiro: Brasport Livros e Multimidia, 2017. [3] Gomide, Tito L. F. at all. Manual de engenharia diagnéstica. 2 ed. Sao Paulo: Leud, 2021 [4] Suplemento “100 anos de Cobei’. Revista Eletricidade Moderna, Séo Paulo, n. 416, nov. 2008. AQUI EVOLTE AO SUMARIO G PAULO E. Q. M. BARRETO cen HeISTA Porencia EI i

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