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Oscar Ordoñez
Liliana Lopes
1
Apresentam-se os resultados obtidos nos três países onde se realizou o projeto, Colômbia, Brasil e Argentina.
2
Trata-se dos capítulos compreendidos na terceira parte da versão em língua espanhola deste livro. A versão
brasileira inclui apenas o relatório brasileiro.
1
A proposta de intervenção é concretizada através de um curso-oficina dirigido a
educadoras em exercício. Consiste em organizar um sistema de assessoria
personalizada, com estratégias metodológicas individuais e grupais apoiadas em
reflexões sobre práticas de ensino atuais, visando a elaboração de critérios que
permitam sua transformação. A idéia é recuperar as capacidades naturais 3 das
crianças mediante situações de resoluções de problemas (SRPs), de modo a
aperfeiçoar as intervenções em sala de aula. Além disso, trata-se de introduzir,
ao nível da prática, algumas modalidades simples e diferenciadas de trabalho,
bem como renovar concepções e visões acerca de como a criança constrói
conhecimento.
2
O questionário está organizado em dois grandes blocos independentes entre si:
1) Concepção de Desenvolvimento, Intervenção e Avaliação, 2) Condutas e
Ferramentas Científicas. Inicia-se com um modelo geral que inclui um total de
60 itens (ver anexo), a partir do qual se preparam 10 modelos de questionários
específicos, cada qual com 39 itens. Estes itens são de quatro tipos:
econômica feita pelo DANE, Departamento Administrativo Nacional de Estatística e utilizado para caracterizar a
população na Colômbia).
3
Os resultados e as idéias aí contidas permitem iniciar um discussão sobre as
reelaborações e novas interpretações acerca da criança no campo educativo, que
se poderiam derivar do modelo de intervenção apresentado durante o curso. Para
tratar desse último aspecto, desenvolve-se uma análise comparativa que busca
determinar os avanços e retrocessos observados como decorrência de haver
participado do processo de capacitação.
5
Para uma descrição e análise detalhada de cada uma das ferramentas, consultar o primeiro capítulo desse livro.
4
Ainda que exista um crescente número de estudos e investigações sobre este
tema, boa parte dela se resume a uma abordagem descritiva. Muito desses
estudos carecem da profundidade conceitual necessária para que efetivamente se
convertam em possibilidades efetivas de transformação das práticas
pedagógicas. Sem dúvida é fundamental identificar essas concepções e práticas
que persistem cristalizadas, mas isso não é tudo: não basta dizer apenas que elas
produzem um efeito positivo ou negativo. Para tentar qualquer mudança na
educação é preciso conhecer as particularidades de concepções e práticas e
penetrar nos núcleos das contradições de tal forma que surjam estratégias que
minimizem os efeitos negativos sobre a prática. Só assim é possível avançar de
forma frutífera.
Resultados globais
6
Utilizamos a expressão modelo de criança para indicar uma concepção enraizada em crenças individuais de um
sujeito particular, e que tenham sido construídas ao longo da vida. Como sugerem alguns autores, esses
"modelos" podem gerar ações específicas (Reyes, Salcedo e Perafan, 1999).
5
forma como ocorre o desenvolvimento da criança, e de como se aproxima do
conhecimento. Visando uma agilidade e economia de nossa apresentação,
optamos por resgatar as idéias que compõem uma concepção de criança que é
tradicional nos meios escolares. Fazem parte dessa concepção a forma como a
professora 7 concebe o desenvolvimento infantil, a maneira como encara seu
trabalho pedagógico e seu cotidiano profissional, e que tipo de avaliação utiliza
na escola.
6
Colômbia 79,5% 19,5% 1%
Este gráfico revela que mais de 3/4 das professoras da Colômbia e da Argentina,
seguidas de perto pelo Brasil, concebem o desenvolvimento da criança sob a
forma de um ordenamento de aquisições crescentes.
7
A relativa uniformidade entre os dados nos três países segue sendo uma
tendência. Os três países compartilham porcentagem muito similares e parecem
concordar com a idéia de que trabalhar numa só área é inadequado pois produz
um desequilíbrio no desenvolvimento9. As professoras com este enunciado
evidenciam uma concepção segmentada do desenvolvimento infantil. Enfatizar
o trabalho sobre atividades referidas a uma área determinada de conhecimento,
como por exemplo as ciências sociais ou as ciências naturais, é considerado
inconveniente pelas professoras. Pode-se interpretar isto em duas direções. Por
um lado talvez indique o perigo de não confiar nos interesses da criança,
correndo o risco de que não se consolidem. Por outro lado, estas respostas
parecem considerar que os interesses especificamente desenvolvidos pela
criança possam se transformar em obstáculos que impeçam penetrar em outros
domínios do conhecimento: por exemplo, explorar e aprofundar-se em ciências
sociais não permitiria chegar às ciências naturais. Ambas as direções coincidem
ao interpretar o desenvolvimento como não suscetível de estabelecer relações
entre diferentes avanços.
8
O conjunto dos dados apresentados até aqui permite inferir que os professores
apresentam uma noção de desenvolvimento como um processo linear e
cumulativo, exibindo as seguintes características básicas:
9
Discordo 89,2% 73,3% 85%
10
visíveis nas condutas específicas e não somente nas verbalizações que a criança
produz. Em outras palavras a apresentação das condutas em uma dada situação
pode mostrar o tipo de raciocínio usado para resolvê-la. Esta resposta se afasta
do esquema tradicional que consiste em perguntar a criança como ela faz aquilo
que ela está pensando, esperando (ingenuamente) que a criança possa verbalizar
o que pensa. Neste sentido são pertinentes as SRPs, para substituir
procedimentos diretos. Na segunda direção, menos otimista, esta pergunta traduz
uma concepção que enfatiza os resultados mas subestima os processos que lhes
são subjacentes, isto é, para a qual os resultados são mais importantes que os
processos.
11
Brasil 71,7 25 3,3
Este gráfico mostra que nos três países a maioria das participantes considera a
motivação como principal função do professor: em todos os três países os
professores identificam esta função como a principal. Esta pergunta aponta
assim para uma concepção de criança enquanto ser que precisa ser motivado.
Concomitantemente percebe o professor como alguém que deve motivá-la.
Esta tabela amplia a informação sobre como são vistos os interesses da criança.
As participantes de todos os países coincidem quando declaram ser insuficiente
conhecer os interesses da s crianças para planejar suas propostas de trabalho.
12
Gráfico nº: As experiências das crianças com o seu meio não são suficientes
para dar conta de sua aprendizagem
A informação obtida neste quadro demonstra que a maior parte das professoras
não considera suficiente a experiência da criança com seu meio, no que se refere
à aprendizagem.
Uma possível interpretação dos resultados para as três últimas perguntas aponta
para uma concepção que atribui um papel central e preponderante do professor
em relação aos sucessos da criança e que enfatiza sua função como motivador,
como construtor de cenários a partir do interesse das crianças, reconhecendo a
experiência com o meio como insuficiente. As características mencionadas
justificariam a concepção segundo a qual o professor precisaria acompanhar a
criança em seu processo de conhecimento. Esta tendência não seria isolada mas,
ao contrário, convergiria com outros resultados que complementam e legitimam
esta concepção.
13
justifica claramente a urgência em gerar novos conceituações que, associadas a
novas estratégias de intervenção, possam superar estes impasses.
10
É de se notar que esta concepção não é necessariamente implícita, já que muitas professoras fazem uso destas idéias não apenas como conseqüência do tempo e experiência como docente
mas também porque são idéias promovidas explicitamente por alguns modelos pedagógicos que visam a aprendizagem por associação.
14
- As concepções das professoras sobre desenvolvimento infantil correspondem a
um processo com etapas sucessivas e cumulativas demandando uma intervenção
do adulto para compreender o mundo.
Resultado do pós-teste
11
Devido ao caráter anônimo das respostas, não se faz uma comparação entre sujeitos individuais e sim através das porcentagens.
15
Em primeiro lugar há uma informação importante no núcleo de questões
relativas ao desenvolvimento infantil. No pré-teste a informação, relativamente
homogênea nos três países, apoiava uma idéia de desenvolvimento progressivo e
cumulativo. Vejamos as diferenças registradas no pós-teste.
16
Discordo Pré-teste Pós-teste
Pré-teste Pós-teste
12
Esta feliz expressão remete à idéia segundo a qual a criança, ao participar de uma determinada intervenção educativa, passa de um conhecimento a outro completamente novo, utilizando
apenas um caminho da mesma maneira. Esta concepção supõe então que existem vias privilegiadas e canônicas para a aquisição de conhecimentos.
17
Desde o pré-teste, as respostas a esta pergunta pareciam contundentes. Boa parte
das professoras havia já abandonado a concepção que vincula desenvolvimento
e idade, e demonstravam não acreditar que é necessário observar nas condutas a
presença das competências para afirmar a existência das referidas competências.
No pós-teste, esta tendência persiste. As altas porcentagens que convergem na
independência desses dois fatores demonstram uma recuperação da concepção
de desenvolvimento como um processo mais espontâneo e autoregulado na
criança. Esta característica aparece em igual proporção entre as professoras dos
três países.
Para a maior parte das educadoras, uma conduta indica a presença de uma
habilidade mental, embora a recíproca não seja metodologicamente correta. E
as professoras compreendem isso. Conforme observável na tabela 4, os dados do
pós-teste apenas confirmam os dados anteriores. É contundente a maneira como
as professoras assumem uma posição reflexiva sobre o desempenho das
crianças, assim como também conhecem e abordam as competências cognitivas.
A grande maioria - 94% nos três países – considera, sem sombra de dúvidas, que
não se deve considerar uma conduta como única indicadora da presença de
habilidades e/ou competências na criança.
Argentina 43,2 68
Brasil 25 40
Ainda que com algumas variações, é importante ressaltar que nos três países se
verifica uma mudança na maneira de observar os desempenhos das crianças.
Ainda a partir desses resultados, observa-se que as educadoras passaram a
valorizar mais os procedimentos do que os resultados finais. Esta via pode ser
mais segura para garantir que o objetivo ou solução buscada pelo criança seja a
mesma prevista pelo professor.
18
Vejamos agora os resultados obtidos quando da abordagem da relação entre
áreas do conhecimento e habilidades da criança, no gráfico 10.
Argentina 59 84
Colômbia 29 49,5
Brasil 20 26,7
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nos três países (92%) concorda com esta afirmação, o que sugere sua adesão a
uma concepção de desenvolvimento centrada na criança.
Argentina 43,2 92
Brasil 25 30
Argentina 65 24
Brasil 69 26,7
20
Nesta questão, Brasil e Argentina revelam uma tendência inversa a que vinham
apresentando, enquanto os resultados colombianos mostram um aumento
relativo. A indicação de frequências mais baixas para o pós-teste dos dois
primeiros países não deixa de ser curiosa e interessante. A intervenção parece
revelar que o impacto não consiste apenas em "aumentar" um conhecimento ou
adquirir outro, pode significar também tornar obsoleto um conhecimento
anteriormente adquirido 13. Podemos entender esta diminuição como indicação
deque as professoras começam a fazer uma articulação entre o desempenho da
criança e a atividade pedagógica que elas planejam. Dentro do modelo proposto
por esta pesquisa, esta articulação é necessária e revela a relação orgânica
existente entre os três pólos analisados ( desenvolvimento, intervenção e
avaliação).
Tabela 6 :A experiência da criança com o seu meio não é suficiente para dar
conta de sua aprendizagem.
Arg 29,7 60
13
A idéia de que basta conhecer os interesses da criança para propor uma atividade pedagógica é tributária , sem
dúvida, de uma concepção "construtivista" mal compreendida, que acredita que uma proposta construtivista
consiste em deixar a criança sozinha em contextos que não são organizados.
21
Mais uma vez, observamos uma impressionante homogeneidade nas respostas
das professoras dos três países para o pré-teste assim como para o pós-teste.
Ademais, as diferenças observadas entre os resultados do pré- e pós-teste
mostram claramente que as educadores resgatam a dimensão espontânea do
desempenho infantil. Entretanto, ao compararmos essa tabela com a anterior,
observamos uma certa contradição, o que sugere posições todavia em processo
de definição. Parece que o processo de reflexão das educadoras, ao mesmo
tempo que busca integrar e incorporar à prática elementos de uma nova
concepção de criança, conserva ainda elementos que indicam a imposição do
modelo adulto no processo de aquisição de conhecimentos por parte da criança.
22
proporções distintas.14 É de se destacar também que as mudanças mais marcadas
se concentram no núcleo correspondente à avaliação. Este dado específico
indica que o modelo de intervenção proposto é mais eficaz para tratar do tema
da avaliação. Mais interessante, no entanto, é que seja precisamente o tema da
avaliação o mais fácil e suscetível de mudar. Acreditamos que isso se deva à
utilização das SRPs, que evidenciam o desempenho da criança, desempenho este
que, na maioria das vezes, surpreende a educadora e a estimula a descobrir as
situações que demandam determinados mecanismos cognitivos da criança. Uma
hipótese alternativa considera que a questão da avaliação sempre marca com
muita força o lugar do professor nas práticas educativas. É justamente a
avaliação que define o lugar a partir do qual a reflexão sobre a intervenção
pedagógica permite vislumbrar posturas diferenciadas e fomentar modificações.
23
escolares, em transformar concepções e práticas de avaliação, sem rever
questões importantes, como sua concepção de criança, o que deixa intactas
aquelas práticas educativas específicas que dificultam a aprendizagem da
criança.
Convém esclarecer, ainda, que o objetivo da presente proposta não foi impor
uma determinada posição, concepção ou teoria, mas sim suscitar uma reflexão
crítica sobre a criança e como a compreendemos. Por reflexão crítica entenda-se
um olhar crítico sobre alguns pressupostos que caracterizam as concepções de
24
desenvolvimento, para assim promover modificações que ensejem uma
paulatina reorganização da concepção geral de criança, nas esferas relacionadas
ao desenvolvimento, à intervenção e avaliação.
25
determinadas pelas características específicas oferecidas pelas próprias respostas
(ou seja, uma subcategorização post hoc ). Estas categorias são aplicadas a todas
as ferramentas ainda que, devido ao seu caráter empírico, inevitavelmente
desembocam em subcategorias que apenas cobrem uma das ferramentas.
Vejamos esta subdivisão:
- ambíguas: respostas que supõem uma definição tão geral que se confunde com
um clichê, o que as torna pouco precisas para indicar o grau de compreensão;
Resultado do pré-teste
Definição de ferramentas
COL 53,5 75 71
16
Sabemos que a classificação adequada X inadequada pode não ser muito feliz, porém tem o mérito de oferecer
precisão na análise dos dados.
26
BRA 84 82 96,3
17
Respostas das professoras às perguntas abertas.
27
Também a Formulação de Hipóteses apresenta alta porcentagem de respostas
inadequadas. Os dados incluem definições funcionais: "quando a criança faz
perguntas sobre o tema proposto no projeto"; e definições ambíguas: "quando
uma criança indaga sobre sua descendência, fazendo muitas perguntas" . Nesse
último caso, é claro que formular perguntas não implica em formular hipóteses.
Perguntas podem ser feitas apenas para obter informação, ou para completar um
sentido. Não necessariamente implicam uma hipótese.
28
Arg Bra Col
As definições sobre planejamento permitem afirmar ser este o item que melhor
compreensão alcançou, e de maneira muito semelhante nos três países. As
respostas são formuladas em termos de organização de ações para alcançar uma
meta, apontando para uma seqüência lógica de passos e atividades que a criança
elabora/realiza para resolver uma situação específica. O planejamento é uma das
poucas ferramentas cujas definições são formuladas como operação mental. Um
exemplo é a resposta: "coordenar e antecipar ações para chegar a um objetivo
final". As respostas também descrevem situações muito próximas daquelas que
se incluiriam dentro de um enfoque conceitual específico. "uma criança de três
anos tem um brinquedo sobre uma prateleira, primeiro pega uma cadeira,
depois aproxima da estante. Depois sobe na cadeira e em seguida na prateleira
e finalmente alcança o brinquedo desejado".
29
A Classificação rompe a homogeneidade que vinha se delineando até agora. É a
única ferramenta para a qual um dos países (Colômbia) apresenta um
desempenho excepcionalmente adequado. As porcentagens de respostas
adequadas na Argentina e Brasil revelam uma aproximação à ferramenta de
classificação que é quase inteiramente ligada às propriedades perceptivas dos
objetos: são respostas que fazem referência a ações das crianças sobre o objeto,
e não a processos de organização mental da informação. Por exemplo:
"classificar é separar os objetos por forma, tamanho, cor e textura", ou
"classificar é selecionar figuras de uma cor e de uma cor". Por outro lado, as
professoras da Colômbia, em sua maioria, consideram outros elementos da
definição, tais como organização de informação e critérios para classificar. Este
dado, no entanto, deve ser visto com moderado ceticismo: quem conhece a
realidade da educação na Colômbia sabe que esse conhecimento verbal sobre
classificação nem sempre revela um manejo apropriado da ferramenta.
Confirmam-se, por essa via, as limitações apresentadas pelo formato verbal do
instrumento utilizado p/ detectar as concepções docentes. Em especial, trata-se
de discutir as implicações de se trabalhar com informação verbalizada e referida
a uma realidade não presente (a sala de aula), que neste estudo foi obtida por
meio de questionários escritos. Pela sua importânica, esta questão é analisada na
Parte Terceira deste livro.
30
— conforme já era de se esperar, a Inferência aparece como a ferramenta mais
estranha aos meios pré-escolares, o que explica em parte o aparecimento de
definições ambíguas. Por outro lado, surpreendem as dificuldades verificadas
quanto a Experimentação e Formulação de Hipóteses, que pareceriam ser
temas familiares às professoras.
Hipóteses 85,8 68 75
Experimentação 93,4 41 84
31
sobressai a alta porcentagem de respostas inadequadas. Cabe ressaltar que o
Brasil apresenta o melhor desempenho nas ilustrações de condutas relacionadas
com a Experimentação. Em seguida vejamos com mais detalhes os dados
encontrados para cada ferramenta.
32
De uma maneira geral, os exemplos de condutas para as diferentes ferramentas
pouco se afastam dos enunciados propostos pelo questionário. Além disso, as
respostas mostram um aspecto lúdico e por vezes induzido pelo adulto 18. A partir
do conjunto de respostas, é possível afirmar que docentes, assim como adultos
em geral, têm dificuldades para reconhecer uma ferramenta a partir de uma
conduta. Essa divergência ou desencontro entre conduta e ferramenta, no
entanto, não deve surpreender. Enquanto expressa a operacionalização de
conceitos (as ferramentas) em desempenhos (as condutas infantis), a relação
ferramenta/conduta não costuma fazer parte do cotidiano escolar. Parece assim
que este é um tema ausente das rotinas pedagógicas, o que o torna um tema
pouco explorado e por isso mesmo de difícil compreensão.
33
condutas. As duas tendências observadas são, de um lado, as altas porcentagens
de identificação inadequada de condutas ilustrativas das ferramentas e, de outro
lado, a baixa porcentagem de identificação consistente com as definições
teóricas da proposta.
Uma possível hipótese para dar sentido a estas tendências sem dúvida está
relacionada com as possibilidades do docente em traduzir as ferramentas em
termos de desempenhos específicos das crianças. Esta tradução, que corresponde
ao que a investigação em ciências humanas chama de "operacionalização",
resulta crucial, sobretudo quando se trata de pensar uma ação pedagógica a
34
partir de uma concepção de desenvolvimento, ou de noções como a de
ferramentas como é o caso da Experimentação ou da Inferência.
Classificação 75 81,8 74
35
Diferentemente das outras, a Experimentação foi assinalada dentro de uma
faixa etária adequada: para as professoras a Experimentação aparece entre 0 e 2
anos. As porcentagens de respostas adequadas são altas para os três países:
73,8% na Argentina, 81,8% no Brasil e 82,9% na Colômbia.
36
experimental exclusivament alguns casos, algumas ações ou
propriamente e às como sinônimo respostas seqüência
dita (isto é: propriedades de extrair contem lógica de
identificação, perceptivas do conclusão, de elementos passos. No
controle e objeto, isto é, dedução ou que são parte entanto, nã
variação de fazendo como sinônimo da definição, se conside
diferentes referência às de hipótese. É mas que que essa
fatores; e ações da uma das resultam habilidade
sistematicidade). criança mais ferramentas insuficientes manifeste
do que a um menos para afirmar crianças
processo de compreendidas uma pequenas.
organização . compreensão sugere hav
mental. global. A uma distân
Apresenta as maioria entre a
mais altas considera formulaçã
percentagens que é a conceitual
de definição ferramenta uma
adequada, mais ferramenta
especialmente complexa, sua
na Colômbia precisando incorporaç
(80,7). das outras às práticas
para se concretas c
manifestar. as crianças
37
Ilustração "quando as "quando se diz " quando peço "quando a "a chegada
crianças fazem à criança para à criança para criança faz colégio", o
massa com que escolha as me dar a massa perguntas "que a cria
farinha e água, figuras de tal de modelar, e sobre um tenha
têm a cor e as de ao lado tema capacidade
experiência de outras cores" também há um proposto" ou para organ
conhecer vários ou "quando colbon, ela "quando uma tarefas e
estados da recebem caixas sabe criança desempenh
matéria". coloridas, diferencia-los e pergunta las num
blocos lógicos, me dá a massa sobre a sua tempo dad
as crianças os de modelar" ou descendência
separam e "quando as passada ou
colocam nos crianças vêem presente"
lugares passar uma
indicados”. senhora suja e
mal vestida
associam-na
com uma
louca"
Este quadro revela de maneira sintética uma certa homogeneidade: nos três
países verificam-se dificuldades comuns na formulação de definições para as
ferramentas, sobretudo Inferência, Experimentação e Formulação de
Hipóteses. A mesma tendência ocorre com a ordem de aparecimento das
ferramentas. A maior parte das professoras tende a considerar o aparecimento de
quase todas as ferramentas como acontecendo tardiamente.
38
mesmas dificuldades tomam formas distintas e circulam entre os diversos
núcleos. É possível que esse fato ocorra devido ao tipo de definições utilizadas
que, por serem empiristas, aproximadas e muito descritivas, não permitem
pensar as condutas como desempenhos específicos da criança.
39
Finalmente, o eixo horizontal do quadro permite ao leitor verificar em que
medida as professoras refletem sobre as ferramentas de maneira analítica e
combinada, e não isoladamente, isto é, considerando cada ferramenta
isoladamente.Os resultados apontam para a manutenção da visão fragmentada:
as ferramentas não aparecem articuladas entre si.
Resultados do pós-teste
A grande maioria das educadoras dos três países situam o surgimento de quatro
das cinco ferramentas (a exceção sendo experimentação) de maneira muito
tardia, na faixa entre os 3 e 6 anos.
40
Gráfico no. 17 : Diferença nas porcentagens de respostas adequadas entre o
pré e pós testes quanto ao item definição de ferramentas.19
Experimentação 63,4 12 47
Uma análise global dos dados revela altos índices de modificação nas respostas
e, portanto, um grande impacto na reelaboração das cinco ferramentas para a
Argentina e Colômbia. O maior aumento aconteceu com a Inferência. Os dados
brasileiros demonstram mais irregularidades e menos transformações: neste
caso, as ferramentas Formulação de Hipóteses e Planejamento não registram
modificações.
Uma análise mais detalhada das respostas para cada ferramenta traz os seguintes
resultados.
41
As demais ferramentas mostram altos índices de modificação. A Formulação de
Hipóteses e a Experimentação aumentam tanto na Argentina quanto na
Colombia. Entre as brasileiras o aumento foi menor20.
Classificação 66 0,5 21
20
As definições integram de maneira mais completa diferentes elementos característicos destas ferramentas,
sugerindo uma série de operações cognitivas desenvolvidas pelas crianças ao enfrentarem situações. O quadro-
sintése apresentado ao final inclui exemplos de definições.
42
as crianças nas salas de aula. A seguir, destacamos o grau de mudança de
compreensão de cada ferramenta, em relação com as demais.
43
O panorama geral deste gráfico indica claras diferenças entre os três países. Em
algumas ferramentas, o impacto da intervenção foi pequeno. No caso da
Classificação, este resultado é evidente: Argentina e Colombia mostram
diferenças pequenas, sendo que para o Brasil não houve qualquer modificação.
A Formulação de Hipóteses praticamente não apresenta transformações na
Argentina e, no Brasil, verifica-se até uma diminuição das respostas adequadas.
Apenas os dados da Colombia confirmam um impacto moderado do curso.
Resultados similares aparecem no caso da Experimentação: nos três países as
percentagens são muito baixas sendo que na Colombia, houve até uma
diminuição. No caso do Planejamento os dados do pós-teste são favoráveis:
Argentina e Colombia apresentam porcentagens mais altas e o Brasil aponta
uma relativa estabilidade.
44
variáveis e mais definida em esta de processo
procedimentos conceituais termos de ferramenta. mentais com
de tipo que raciocínio, que As definições previsão e
sistemático na perceptuais. envolve a sugerem uma antecipação
atividade da Por exemplo: passagem de série de que são
criança. Por "Habilidade elementos operações necessárias
exemplo: "A da criança conhecidos cognitivas atividade
capacidade da para para chegar e que a criança organizada
criança para encontrar comprender desenvolve visa conseg
organizar sua semelhanças outros, para enfrentar um objetivo
ação de maneira e diferenças desconhecidos uma situação. "Atingir um
que possa entre dois : ”Forma de ”Ter idéias, meta atravé
conhecer uma objetos raciocínio que formular de um
situação e permitindo permite a possibilidade conjunto de
resolvê- agrupá-los criança s antes de ações que
la”.(Colombia). ou separá-los deduzir algo resolver um implica
segundo sua desconhecido, problema, processos d
condição". caracteriza-se formular-se antecipação
por uma perguntas, previsão.
situação que colocar à
não está prova um
presente, conhecimento
passando-se para ver se é
de alguns verdadeiro ou
elementos que não"
estão (Colombia).
presentes para
algo que não
conhecemos”
(Colombia).
45
(0 a 2 anos)
46
Com base neste quadro, é possível tentar uma hierarquização das ferramentas
observando os resultados obtidos para os três núcleos do questionário: definição,
condutas ilustrativas, idade de aparecimento.
47
compreensão docente desta ferramenta. Por outro lado, esta mesma consistência
parece fazer da inferência uma porta de entrada para o exercício de articular o
pólo conceitual, com as definições, e a operacionalização através de condutas
particulares, para finalmente chegar ao tema da idade de aparecimento.
Conclusões
48
participantes dos três países. É certo que esta homogeneidade não é absoluta,
especificidades se faxendo presentes em cada país. Ainda assim, como vimos
repetidamente, as semelhanças predominam.
- Finalmente é importante insistir numa dificuldade que parece ser própria das
educadoras, para identificar condutas ilustrativas de cada ferramenta, articulando
os núcleos de definição e de conduta infantil.
49
de reflexão docente, a partir de uma concepção de criança que resgata a
autonomia cognitiva infantil.
50
Uma comparação global dos dados obtidos no pré e pós-teste parece confirmar a
propriedade de um olhar sobre o trabalho escolar, que enfatiza a prática
investigativa e o exercício da observação sistemática pela educadora que atua
com a criança. Os resultados indicam que as professoras parecem avançar para
além de uma abordagem generalista e desconectada da experiência direta,
aproximando-se mais de um fazer reflexivo e organizado. Tanto no nível das
concepções quanto das ferramentas, o questionário mostra que a intervenção
provoca, nas educadoras, uma apreciação da criança que tende a ser mais
conseqüente com aquilo que ela, criança, efetivamente pode fazer. E isto permite
que se elabore um modelo "melhor" de criança.
Uma vez confirmadas a consistência dos resultados das concepções assim como
das ferramentas, vale a pena retornar à idéia-mestra que sustenta todo o modelo
da intervenção: é a partir da práxis que as educadoras podem revisar e re-
elaborar suas concepções. Não se trata de defender uma concepção demasiado
empirista, mas apenas reconhecer que as mudanças conceituais precisam ser
ilustradas pela prática, sem o que os processos de transformação se tornariam
muito lentos e onerosos. Não se pode, portanto, sobrevalorizar o conhecimento
que se expressa de modo predominante no plano discursivo. É, sim, necessário
resgatar a práxis como espaço de uma intervenção privilegiada.
51
maior número de educadoras participantes (225), e um nível baixíssimo de
abandono, estes resultados apresentam maior confiabilidade.
52