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RIMA da Abertura da Barra de Saquarema

1. INTRODUÇÃO

Os Ecossistemas lagunares presentes ao longo da costa do Estado do Rio de Janeiro


apresentam uma riqueza biológica incomparável, inserida em uma paisagem de beleza sem
igual. São sistemas de interface que por um lado servem de filtro à dispersão oceânica dos
materiais de orígem continental e por outro lado fornecem nutrientes para a manutenção de
cadeias tróficas que abrangem toda a margem continental. É largamente propalada a noção de
que o equilíbrio ecológico das lagoas costeiras afeta diretamente atividades pesqueiras ao
longo de toda a costa. Além de fornecer alimento para as cadeias tróficas costeiras, as lagoas
também servem de criadouro natural para muitas espécies de interesse econômico como
crustáceos e peixes de diversos níveis das cadeias tróficas.
Em razão de sua beleza e riqueza, as lagoas do Estado do Rio de Janeiro constituem
sistemas sujeitos à ocupação turística descontrolada. Principalmente após a construção da
Ponte Costa e Silva, que abriu acesso fácil e rápido à região dos lagos para a população da
megalópole do Rio de Janeiro, observou-se um ritmo de desenvolvimento ímpar. A ocupação
humana através da instalação de loteamentos imensos, e de atividades comerciais e turísticas
suscetíveis de degradar o ambiente não foi acompanhada de um plano de infra-estrutura capaz
de reduzir os efeitos desta degradação. Hoje, quase 30 anos após o início deste processo,
observamos lagoas eutroficadas, assoreadas, com a qualidade da água muito baixa, a
diversidade biológica reduzida e sujeitas a mortandades de peixes.
No caso da Lagoa de Saquarema (Figura 1.1), embora a urbanização tenha sido menos
rápida que em Piratininga ou em Cabo Frio, atualmente a ocupação desordenada começa a
atingir limites intoleráveis. É possível, por exemplo, que a construção de casas na praia de
Itaúna, destruindo a vegetação de restinga seja responsável pelo fechamento definitivo do
canal da Lagoa de Saquarema. Assim, urgem contra-medidas para interromper a taxa de
degradação ambiental na região. Entre estas medidas foi proposta pela Fundação SERLA, em
trabalho de Rossmann (1996) a construção de um guia correntes junto à pedra da Igreja de
Nossa Senhora de Nazaré, do lado de Itaúna. Este guia correntes (cujo projeto é descrito mais
adiante) perenizará a comunicação entre a Lagoa de Saquarema e o mar. O projeto passou a
ser conhecido pela população como Barra Franca de Saquarema
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RIMA da Abertura da Barra de Saquarema

43° 42°30 ’ 42°

0 30
22°30 ’ km
Estado do Rio de Janeiro

Rio de
Niterói
Janeiro
23°
Oceano Atlântico

Rio

Rio
0 2

Ri

Jun
o

Mo
km
Bacaxá

Seco
diá
le
Tin

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Grosso

gu
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Ma

Bacaxá
Rio

Rio

dos

o
Ri
Rio
Saco
de Saco
Urussanga Saco de
Jardim Boqueirão Fora
Lagoa de
Jaconé Canal Salgado Saquarema

Oceano Atlântico
Figura 1.1: Localização do sistema lagunar de Saquarema

Até há alguns anos, a Lagoa de Saquarema tinha uma ligação que se não era perene, era
muito constante com o mar. Atualmente observamos que a lagoa praticamente não se abre
mais para o mar (Figura 1.2) e a sedimentação mais fina já começa a ocupar as regiões mais
remotas do sistema (como veremos ao longo deste trabalho).

Figura 1.2: Imagem da barra da Lagoa de Saquarema fechada (praia de Itaúna).


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Não obstante, ainda é possível salvar Saquarema. Esta lagoa não sofreu tanto com a
eutroficação cultural e embora parte da estrutura ecológica tenha mudado, principalmente no
tocante à fauna piscícola, acredita-se que esta estrutura ainda é recuperável e a construção da
Barra Franca é a solução para levar a vida de volta a Saquarema. Contudo há pressa ! Não se
pode deixar a lagoa atingir níveis de modificação ecológica e fisiográfica como em
Piratininga pois neste caso este sistema será irrecuperável.
Neste trabalho, serão relatados os estudos que foram feitos na Lagoa de Saquarema por
uma equipe multidisciplinar qualificada, abordando os aspectos físicos, químicos, biológicos
e sociológicos. A partir destes estudos foi possível estabelecer um diagnóstico ambiental da
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lagoa e estimar os impactos positivos e negativos da abertura definitiva da barra. Afim de se


estabelecer o grau dos impactos com a maior precisão, foram utilizados ainda sistemas de
modelagem matemática capazes de prever estes impactos semi-quantitativamente, e em
alguns casos quantitativamente.
Como em todo modelo previsional, existe neste trabalho uma margem de erro que
variará em função da qualidade das informações que serviram de base para o diagnóstico.
Assim, o acompanhamento da evolução física, química e biológica do sistema após a
construção da barra se faz necessário. Na conclusão do traballho será sugerida a realização de
um programa de monitoramento da lagoa com a complementação e calibração da modelagem.

2. EQUIPE TÉCNICA ENVOLVIDA

• Dr. Julio Cesar de Faria Alvim Wasserman, Oceanógrafo,


• Albano Ribeiro Alves, Oceanógrafo
• Dr. Dieter Muehe, Geógrafo
• Dr. Christóvam Barcellos, Geógrafo,
• Dr. Bastiaan Knoppers, Oceanógrafo
• Ms.C.Turíbio Tinoco da Silva, Biólogo
• Renato Gomes Sobral Barcellos, geógrafo,
• Elisamara, Oceanógrafa
• Dra. Cristina Bassani, Bióloga
• Ms.C.Wanda Maria Monteiro Ribas, Bióloga,
• Dr. Abílio Soares Gomes, Biólogo

3. A BARRA FRANCA

A lagoa de Saquarema vem sofrendo com o processo de eutrofição cultural, fenômeno


que é consideravelmente agravado pela tendência natural de fechamento da barra. Este
processo é muito comum e vem sendo observado e estudado na maioria das lagunas da
chamada Região dos Lagos (leste fluminense). No sistema lagunar de Piratininga/Itaipú por
exemplo (Wasserman, 1999) revisaram os estudos realizados na laguna nos últimos 10 anos e
observaram que as intervenções não prescedidas por estudos intensivos causaram impactos
negativos no desenvolvimento do sistema, principalmente na lagoa de Piratininga. Entre estas
intervenções podemos citar a abertura do canal de Camboatá (anos 1946 pelo DNOCS), que
diminuiu a periodicidade das aberturas da barra do Tibau e em seguida a abertura da barra de
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Itaipú (em 1979 pela Veplan Residência) que impediu definitivamente a abertura de
Piratininga. Mais recentemente, algumas ações como a instalação de uma comporta no canal
de Camboatá (em 1992) se mostraram ineficazes em melhorar a qualidade da água (Cunha,
1996).
O sistema lagunar de Maricá/Guarapina, embora esteja mais preservado, também sofre
com a eutroficação cultural (Knoppers et al. 1991). Vários trabalhos indicam a necessida de
maior aeração nesta lagoa que também está sujeita a eventos periódicos de mortandade de
peixes (Kjerfve et al., 1990; Machado e Knoppers, 1988; Machado, 1989). A abertura do
canal de Guarapina (Ponta Negra) aparentemente melhorou a qualidade da água nesta laguna,
ou pelo menos modificou o padrão de sedimentação orgânica na lagoa (Knoppers et al.,
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1999). Contudo a comunicação com a laguna de Maricá, através do canal de ligação e de um


complexo de lagoas intermediárias é muito restrita e não tem permitido uma boa renovação
das águas desta última laguna (Kjerfve et al., 1990). O resultado deste processo é a ocorrência
de mortandades de peixe muito frequentes por ausência de oxigênio (Machado et al., 1988;
Machado, 1989) ou por uma moléstia desconhecida que causa infecção generalizada nos
peixes (Carmouze et al., 1994).
Araruama é um sistema lagunar completamente diferente dos outros em razão do clima
presente na região (muito mais seco) que gera salinidades de até 60 (Kjerfve et al., 1996). Em
estudo sobre o metabolismo da lagoa de Araruama [Landim de Souza, 1993; Landim de
Souza et al., 1995) observaram que embora a carga de nutrientes possa em algumas épocas ser
bastante elevada, a produção fitoplanctônica é sempre baixa o que é causado pelo excesso de
salinidade. Em relatório à empresa Andrade Gutierrez sobre a laguna de Araruama,
Wasserman et al (1996) mostrou que no período do verão, quando a população de Cabo Frio
pode aumentar até 5 vezes, a parte laguna logo adjacente à cidade de Cabo Frio pode sofrer
um processo de eutroficação acelerado e repentino com desenvolvimento da alga Ulva
lactuta. Esta floração algal é devida ao fato de no verão, além do aporte massivo de
nutrientes, existe um aporte considerável de água doce que faz baixar a salinidade para 35
(próxima à da água do mar) e permite então o desenvolvimento algal. Após o verão, estas
algas morrem e causam danos consideráveis à qualidade ambiental.
A lagoa de Saquarema é a laguna que apresenta estado de degradação menos avançado
em relação às outras da Região dos Lagos (Carmouze, 1989; Carmouze, 1992). Os vários
trabalhos que alí foram realizados indicam que a abertura periódica da laguna ainda era capaz
de manter um bom nível de renovação das águas da laguna. (Costa-Moreira, 1989)
demonstrou que além da importante renovação das águas da laguna durante os períodos de
abertura do canal, a Lagoa de Saquarema tinha, principalmente em seu saco mais interior
(Mombaça) um aporte de água doce importante. Algumas medidas deste autor mostraram
salinidades próximas de zero no fundo deste saco. A observação dos valores de pluviosidade
de (Costa-Moreira, 1989) indicam que este autor trabalhou em um ano excepcionalmente
chuvoso, o que não ocorreu no período amostrado para o presente trabalho, onde as
salinidades no fundo da lagoa não foram inferiores a 15.
A maior parte dos trabalhos realizados anteriormente foram feitos em uma Lagoa de
Saquarema que se abria periodicamente, permitindo a entrada de espécies piscícolas nobres, e
tornando a lagoa muito piscosa durante quase todo o ano. A abertura da laguna era um
processo natural quer ocorria nos períodos de fortes chuvas, quando o aumento da altura da
água fazia aumetar a pressão sobre a barra que acabava cedendo. Com a abertura, as correntes
de maré mantinham o sistema aberto por um período relativamente prolongado. O
funcionamento da abertura da barra que é explicado por SERLA (1996 ; veja maiores detalhes
na parte de dinâmica sedimentar da praia de Itaúna) teve seu equilíbrio rompido e atualmente
apenas o emprego de máquinas de terraplanagem tem permitido esta abertura. A abertura com
máquinas é rapidamente assoreada e a laguna se fecha novamente.
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A obra da Barra Franca é composta da construção de guia correntes na praia de Itaúna


(Figura 3.1) e da dragagem do canal que se formará entre o guia correntes e a Pedra da Igreja
de Nossa Senhora de Nazaré. A obra visa a perenização da cominição entre a laguna e o mar,
permitindo inclusive a entrada na lagoa de pequenas embarcações de pesca e lazer.
A construção do guia correntes é essencial para duas funções: 1) assegurar a
estabilidade hidráulico-sedimentológica do canal da barra e 2) funcionar como molhe de
proteção, garantindo que durante as ressacas não haverá propagação de ondas de grande
energia para o recinto interno, evitando danos à cidade de Saquarema. Está prevista a
construção de um piso de 3 metros de largura no topo do guia correntes que servirá como
local para passeios e pescaria. A linha central do guia correntes (Figura 3.1) representa o piso
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e é indicativo da porção da estrutura de enrocamento que fica fora da água. Nesta mesma
figura, a linha externa representa aproximadamente o limite do talude de enrocamento no
fundo.
O Guia correntes segue o contorno do costão rochoso existente, de maneira que o canal
formado tem uma largura d de 80 m. Esta conformação objetiva modificar o menos possível a
forma da costa. Após (ou durante) a obra de construção do guia correntes, está prevista a
realização de dragagem no novo canal de maneira que este atinja a área hidráulica mínima de
160 m2. Nesta dragagem será utilizada uma draga flutuante e o material dragado será
obrigatoriamente devolvido à praia de Itaúna (veja parte da sedimentologia da praia de Itaúna
para maiores detalhes.

Canal dragado, garantindo no


trecho, área hidráulica mínima
de 160 m² em relação ao
Ponte velha a ser NMM.
removida ou ampliada,
garantindo área
hidráulica mínima de
160 m², em relação ao
NMM.

Canal dragado, garantindo no


trecho área hidráulica mínima
de 160 m² em relação ao
NMM.

80 m

80 m

–5 m

80 m
Guia-correntes (quebramar), com piso
de 3,0 m de largura no topo. Linha –5 m
grossa indica topo que fica fora da –10 m
água, linha externa indica limite do
talude do enrocamento embaixo –10 m
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d’água.

3.1: Planta baixa do Guia Correntes instalado na praia de Itaúna às margens do costão rochoso
onde está a igreja de Nossa Senhora de Nazaré
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4. REPRESENTAÇÃO GEOGRÁFICA DA ÁREA DE ESTUDO

Os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) são sistemas computadorizados, capazes


de capturar, armazenar, recuperar, manipular, analisar e representar dados espaciais
(geográficos) e realizar associações com dados alfanuméricos. São voltados, primordialmente,
para a gestão da informação, permitindo simular cenários de uma realidade complexa,
gerando soluções alternativas, em tempo real. São importante ferramentas de apoio à tomada
de decisões.
Alguns tratamentos de imagens e mapas foram realizados afim de identificar os
impactos da abertura da barra no sistema lagunar.
As Figuras 4.1 e 4.2 mostram o contorno da lagoa segundo levantamento feito com
base em imagem de satélite, realizado em 1996, e segundo o Projeto de Alinhamento da Orla
(PAL), de 1979.
Verifica-se uma considerável discrepância entre os limites estabelecidos pelo
levantamento de 1996 e o Projeto de Alinhamento da Orla, de 1979, principalmente na área
oeste da lagoa. Estes limites são mais coerentes com o observado pela imagem de satélite de
1998, mostrada na Figura 4.2

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Figura 4.1: Contorno da lagoa segundo levantamento de 1996 e Projeto de


Alinhamento da Orla (PAL).
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Figura 4.2: Contorno do trecho oeste da lagoa segundo levantamento de 1996 e


Projeto de Alinhamento da Orla (PAL) e imagem de satélite de 1998.

A restinga de Saquarema vem sendo ocupada por construções, principalmente


residenciais, principalmente a partir da década de 1980. Essa ocupação mantém uma margem
de algumas centenas de metros tanto do oceano quanto da lagoa, com exceção do trecho
situado próximo ao Boqueirão, ocupado na década de 1980, onde as construções estão
próximas das margens da lagoa.
A Figura 4.3 mostra a evolução da ocupação urbana na área da restinga de
Saquarema.

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Figura 4.3: Ocupação urbana da restinga segundo períodos.


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As áreas do município segundo uso do solo foram calculadas em ambiente SIG. A


Tabela 4.1 mostra as áreas cobertas por cada tipo de ocupação e sua proporção em relação à
área total do município.
Grande parte (44%) da área do município é usada com pastagem. A área urbana total
corresponde a cerca de 33% da superfície do município.
A cobertura vegetal do território municipal é mostrada na Figura 4.4.

Tabela 4.1: Área total do município (em km2) segundo uso do solo.
Uso do solo Área (km2) Proporção da área total do
município (%)
Pastagem 157,24 44,5
Vegetação secundária 53,79 15,2
Corpos d´água 32,98 9,3
Restinga 30,82 8,7
Área urbana 23,96 6,8
Área inundável 21,73 6,1
Mata atlântica 19,38 5,5
Área urbana de média densidade 7,41 2,1
Praia 2,60 0,7
Área urbana de baixa densidade 2,13 0,6
Solo exposto 0,64 0,2
Área de reflorestamento 0,38 0,1
Área agrícola 0,19 0,1
Total 353,19 100,0

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Figura 4.4: Cobertura vegetal do município de Saquarema.


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Observa-se a predominância de áreas com vegetação secundária, dominada por


pastagens e campos alterados. Importantes parcelas do município permanecem cobertas pela
vegetação de mata atlântica. A participação de cada tipo de vegetação na área total do
município é mostrada na Tabela 8.2. Outras vegetações importantes na paisagem do
município são a restinga e o brejo.

A Tabela 4.2 mostra as áreas de vegetação característica do município e a área


inundável de cada tipo de vegetação.

Tabela 4.2: Área total e área inundável do município segundo tipo de vegetação.
Cobertura vegetal Área total Proporção da área Área inundável Proporção
(km2) total do município (km2) inundável
(%) (%)
Vegetação secundária 102,61 29,05 0,57 0,56
Mata atlântica 101,00 28,60 0,26 0,26
Mata atlântica alterada 57,19 16,19 2,85 4,98
Brejo - Tifal 30,52 8,64 17,80 58,32
Restinga 24,04 6,81 0,25 1,04
Outros 37,83 10,71 0,00 -
Total 353,19 100,00 21,73 6,15

Os tipos de vegetação potencialmente atingidos são o brejo, que sofre alagamento


periódico das águas da lagoa, e em menor proporções a mata atlântica e a restinga, atingindo
cerca de 21 km2 no total. A Figura 4.5 mostra a mancha de área inundável sobre a imagem de
satélite.

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Figura 4.5: Área inundável da zona oeste da lagoa de Saquarema.


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A área classificada como inundável é localizada principalmente na margem noroeste da


lagoa, abrangendo uma faixa de cerca de 200 m a oeste e 1000 m a norte da lagoa. Nestas
áreas foram observadas em campo a existência de brejo, pastagens e algumas residências.
A partir deste estudo foi possível estabelecer o risco de inundação na laguna através de
estudo em SIG. A esta altura é preciso ressaltar a diferença que existe entre o que está sendo
chamado de “área inundável” (Figura 4.5) e “área de alagamento” (Figura 4.6). A primeira
foi obtida através da interpretação de imagens de satélite pela Fundação CIDE, que classifica
a área inundável como aquela ocupada por vegetação de brejo e que na banda 1 do satélite
Landsat, característica de presença de água, conseguiu detectar a presença de água nessas
áreas. Trata-se na verdade de uma área de vegetação de brejo de umidade elevada. Área de
alagamento é aquela calculada para um eventual aumento do nível da lagoa que pode ocorrer
após a abertura da barra
A Figura 4.6 mostra os limites obtidos para a cota de alagamento de 60 em torno da
Lagoa de Saquarema.

Figura 4.6: Estimativa da área total de alagamento da lagoa após a abertura da barra em
condições excepcionais.
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A área total alagável no caso de um aumento de 60 cm do nível da lagoa seria de cerca


de 7,7 km2. Observa-se que a maior área alagável situa-se ao norte da lagoa, coincidente com
a área inundável, estabelecida pela interpretação de imagem de satélite (CIDE, 1998). As
áreas de pasto seriam alagadas em parte se sua superfície, por se situarem também na margem
norte da lagoa. Tanto a área urbana quanto a área florestada seriam pouco atingidas pelo
alagamento.
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5. Formações superficiais e unidades da paisagem

As formações superficiais são constituídas por materiais inconsolidados, resultantes da


degradação das rochas. Estas formações podem ser resultado da deposição de materiais
transportados pelos rios, vento e mar, formando os chamados depósitos sedimentares, ou
então ser resultado da própria erosão in situ da rocha, formando os solos. No processo de
formação dos solos e depósitos sedimentares vários fatores ambientais devem agir de maneira
significativa para modelar as feições superficiais. A pluviosidade, a intensidade dos ventos e
das ondas, a presença de vegetação, o tipo de rocha-mãe e a urbanização constituem fatores
ambientais.
Na região dos Lagos, como foi dito na Introdução des relatório, a ocupação humana,
embora muito antiga, vem se intensificando nos últimos 30 anos, principalmente depois da
construção da ponte Costa e Silva (Rio-Niterói), que descortinou toda uma região trufada de
belas praias e lagoas pouco habitadas à grande massa populacional da cidade do Rio de
Janeiro e arredores. A ausência total de estruturação e planejamento da ocupação urbana
causou severa degradação ambiental.
Caracterização da Lagoa de Saquarema
A bacia do sistema de jaconé/Saquarema cobre uma área de 244,6 km2. É composta de
três bacias principais de W para E, a bacia do Mato Grosso-Tinguí, a bacia do rio Seco e a
bacia do rio Padre. A primeira bacia drena para a laguna de Urussanga enquanto a laguna de
Fora recebe águas da bacia do rio Padre. O rio Seco que atualmente tem uma descarga muito
pequena, desagua na laguna de Boqueirão. A laguna de Jaconé é ligada ao sistema lagunar de
saquarema através de um longo canal que atualmente encontra-se desativado ou com fluxo
muito pequeno. Anteriormente o canal passava por uma área alagadiça que, devido à presença
das macrófitas tinha circulação restrita. Atualmente o desenvolvimento urbano da região vem
destruindo os bancos de macrófitas em alguns locais o canal passou a ter uma maior área
hídrica. Isto não parece ter influenciado de maneira significativa o fluxo de troca entre as
lagunas. A Tabela 5.1 mostra as áreas das bacias de drenagem dos principais rios da região.

Tabela 5.1: Principais bacias de drenagem do sistema lagunar de Saquarema.


Nome da Bacia Área (km2)
Bacia do rio Roncador e Mato Grosso 30,0
Bacia do rio Tinguí 27,2
Bacia do rio Sem Nome 3,5
Bacia do rio Jundiá 53,0
Entre as bacias dos rios Jundiá e Seco 8,4
Bacia do rio Seco 13,6
Entre as bacias dos rios Seco e Padre 3,5
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Bacia do rio do Padre 11,3


Entre as bacias dos rios do Padre e da Areia 1,7
Bacia do rio da Areia 9,7
Entre a bacia dos rios da Areia e a Ponte de Saquarema 2,6
Entre a Ponte de Saquarema e a bacia do rio Salgado 7,5
Bacia do rio Salgado 38,2
Entre as bacias dos rios Salgado e Roncador 8,0
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6. Origem e evolução da Lagoa de Saquarema

Os trabalho recentes de Turcq et al (1999) indicam que existem dois sistema distintos
nas lagunas, formados em períodos muito diferentes. O primeiro sistema, composto pelas
lagunas principais (Saquarema, Araruama, Maricá, etc.) foi chamado de interno e teria sido
formado conjuntamente com o cordão arenoso interno. Este sistema foi datado de 123000
anos BP, sendo pois muito mais antigo que o estabelecido por outros autores. Turcq et al.
(op.cit.) também reconheceu o que ele chamou de sistema externo, composto pelas lagunas
que se situavam entre os dois cordões arenosos (por exemplo, Lagoa Vermelha). Este sistema,
bem mais recente, corresponde àquele definido por outros autores como o mais recente e que
teria se formado há 3900 anos BP.

7. Processos de erosão e sedimentação da Lagoa de Saquarema

Em lagunas costeiras as taxas de sedimentação também podem ser bastante elevadas,


principalmente naquelas onde a hidrodinâmica de marés é reduzida pelo fechamento
definitivo ou restrição da conecção com o mar (Kjerfve, 1986). É o caso da Lagoa de
Saquarema que recentemente viu intensificar-se o processo de assoreamento em seu canal e
embora poucos estudos tenham sido feitos, o processo de colmatação do sistema vem
progressivamente se acelerando. Devido a este fenômeno as lagunas costeiras do tipo
afogadas (Kjerfve, 1986) tendem a se fechar completamente assorear e finalmente se
transformar em grandes brejos. Trata-se de um processo natural mas que em princípio leva
milhares de anos para ocorrer, contudo a ação do homem, através do incremento do
desmatamento da vegetação da bacia de drenagem, ou ainda através do lançamento de esgotos
no sistema gerando forte produção primária acelera consideravelmente o processo.
No caso das lagunas da Região dos Lagos a aceleração do processo de colmatação vem
sendo observada. Na laguna de Piratininga por exemplo, após as obras da VEPLAN em
Itaipú, que resultaram no fechamento definitivo da conecção com o mar ocorreu uma
sedimentação média da ordem de 50 cm até 1995 (Wasserman et al., 1998), resultando em
uma taxa de 3,3 cm ano-1. Seguindo este rítmo a laguna terá desaparecido em apenas 10 anos.
Foi o caso da laguna de Itaipuaçú, que embora não tenha sofrido a influência recente das
importantes cargas de esgoto, tratava-se de um sistema mais frágil e o desmatamento deve ter
acelerado de maneira considerável a colmatação.
A colmatação de lagunas tem efeitos muito mais concretos do que a simples perda da
beleza natural da região. No caso de Itaipuaçú por exemplo, a colmatação da laguna
desvalorizou de maneira significativa as terras à sua margem. Basta comparar o preço de
terrenos na região de Itaipú e Piratininga (entre 100,00 e 200,00 Reais por metro quadrado)
com os preços dos terrenos em Itaipuaçú (talvez um décimo deste valor) para se ter uma
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noção desta desvalorização. Supondo-se que toda a região de Itaipuaçú disponha de 2 km2 de
terra comercializável e supondo que o preço do terreno aumentasse para 50,00 Reais com a
existência de uma laguna, chegamos a uma desvalorização fundiária de 80 milhões de Reais.
A colmatação da laguna de Saquarema certamente custaria muito mais!
Os indícios do processo de colmatação são bastante claros. Uma maneira de se estudar a
deposição é comparando mapas batimétricos atuais com mapas batimétricos mais antigos. Um
mapa batimétrico bastante atualizado (1999) e que apresenta relativa precisão foi elaborado
pelo CREA-RJ, Lagoa Viva, ALFEA, Movimento de Cidadania pelas Águas. Neste estudo, o
grande problema surgiu ao tentarmos encontrar um mapa de batimetria mais antigo. A
marinha (Diretoria de Hidrografia e Navegação) raramente faz este tipo de levantamento em
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lagunas semi-fechadas, já que estas apresentam interesse pequeno para a navegação. A


Fundação SERLA fez este levantanto em 1979 (ECP, 1979), ao qual tivemos acesso ao
documento escrito, embora o volume onde aparecem os mapas não tenha podido ser
encontrado. O único documento batimétrico a que tivemos acesso foi o mapa do IBGE, folha
de Araruama, na qual aparece um pequeno trecho da Lagoa de Saquarema com curvas
batimétricas. O mapa foi restituido de fotografias aéreas tiradas em 1959 e sua primeira
edição saiu em 1964. A batimetria talvez seja anterior a este período. É interessante notar que
na Figura 7.1, um trecho da folha de Araruama, as profundidade no centro do saco de Fora
atingiam valores superiores a 2 m, 100 cm superiores às atuais (Figura 7.2). Outro aspecto
importante é a ausência de áreas pantanosas, significando que a declividade das margens neste
período talvez fosse maior que atualmente. A partir destes dados estimamos uma taxa de
sedimentação de 1,25 cm ano-1, que corresponde a uma sobrevida de no máximo 40 anos para
o sistema lagunar de Saquarema.

Figura 7.1: Fragmento do mapa IBGE, folha de Araruama


representando a batimetria da Lagoa de Saquarema
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RIMA da Abertura da Barra de Saquarema

Figura 7.2: Mapa elaborado pelo CREA-RJ, Lagoa Viva, ALFEA, Movimento de Cidadania pelas
Águas em 1999, e digitalizado pela equipe do deste projeto, representando a batimetria da Lagoa de
saquarema. Azul > 1,0; verde 0,5 a 1,0; laranja < 0,5.

8. Geomorfologia da praia e ante-praia de Itauna

A praia de Itaúna é formada por um pequeno arco praial, de cerca de 1750 m de


comprimento, voltado para o sul e exposto à ação de ondas de tempestade. Limitada em suas
extremidades por afloramentos de rochas do embasamento cristalino, a compartimentação daí
resultante caracteriza a praia como de enseada, resultando no predomínio de transporte
sedimentar no sentido perpendicular à mesma. A baixa declividade do fundo marinho, quando
comparado com outras praias do litoral entre Rio de Janeiro e Arraial do Cabo, criou
condições muito favoráveis à prática do surfe, o que transformou a praia num ponto de
referência para este esporte com realizações de competições internacionais. Tal característica
alavancou significativamente as atividades de turismo, tornando a praia um ponto de
importância econômica para o município.
Em estudos de campo ficou evidente a fragilidade potencial da praia aos efeitos da
compartimentação. Não obstante, a praia vem mantendo o seu estoque de areia não
aparentando apresentar uma tendência de erosão. A construção de uma guia corrente irá,
teóricamente, aumentar o efeito de embaiamento, no entanto com uma largura de apenas 80 m
(6% do comprimento do arco praial) este efeito será provavelmente desprezível.
Um segundo aspecto a merecer atenção é o efeito de retenção de sedimentos pela
embocadura do canal. Localizado em profundidades de 5 m a 10 m, onde é eficiente a
mobilização e transporte de sedimentos por ação combinada de ondas e correntes
unidirecionais. Conforme ressaltado acima não há indicação clara da existência de um
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transporte significativo no sentido paralelo ao litoral, sendo que a praia, propriamente dita,
deve sofrer um transporte principalmente no sentido perpendicular à mesma. Não há também
indicação morfológica de acumulação sedimentar em uma ou outra extremidade do arco praial
de Itaúna o que permitiria deduzir uma direção residual de transporte. Esta questão somente
poderá ser respondida através de estudos adicionais. No caso de retenção sedimentar por
efeito do guia corrente, a boa prática é fazer com que as areias dragadas do futuro canal sejam
reincorporadas ao prisma praial.
Em resumo, apesar de permanecer algumas incertezas quanto aos efeitos da construção
de um guia corrente sobre a morfodinâmica da praia de Itaúna, é de esperar que, pela pequena
RIMA da Abertura da Barra de Saquarema

dimensão da obra e sua posição paralela a uma das extremidades do arco praial, seus efeitos,
em termos de erosão ou progradação da linha de praia, sejam desprezíveis.

9. Hidroquímica Lagunar

O estudo hidroquímico da água da lagoa foi feito em uma só campanha, o que não
permite estabelecer um quadro das variações temporais nas concentrações. Neste caso, um
estudo a longo prazo é justificado na forte variação que se pode observar neste tipo de
ambiente, em função da pluviosidade, insolação, intensidade dos esgotos urbanos, etc. Muitos
trabalhos de longa duração já foram feitos na Lagoa de Saquarema, considerando tal
variabilidade, dos quais pudemos suprir a impossibilidade de se fazer uma amostragem
durante um período mais longo. A Figura 9.1 mostra os valores obtidos na campanha de 2 de
abril, plotados contra a salinidade

20
25
18
20 16
Condutividade (mS/cm)

Condutividade (mS/cm) 14
15 12
10
10 8
6
5 4
2
0
0
20 22 24 26 28 30

Temperatura (oC)

12,0 1600

1400
10,0
1200
NIT e NH4-N (ug/L)

8,0
pH e OD (mg/L)

1000
NH4-N
6,0 800
NIT
600
4,0
pH 400
2,0
OD 200

0,0 0
0 5 10 15 20 25 0 5 10 15 20 25

Condutividade (mS/cm) Condutividade (mS/cm)

600 45

PT 40
500
PO4-P 35
COP (mg/L) e Chl.a (ug/L)
PT e PO4-P (ug/L)

400 30
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POC

25 Chl.a
300
20
200 15
10
100
5
0 0
0 5 10 15 20 25 0 5 10 15 20 25

Condutividade (mS/cm) Condutividade (mS/cm)

Figura 9.1. a distribuição dos teores dos principais parâmetros químicos com a condutividade
RIMA da Abertura da Barra de Saquarema

O manual do meio ambiente da FEEMA (1979), compatível com as diretrizes do


CONAMA, descreve os procedimentos, as normas e a legislação do sistema de licenciamento
de atividades poluidoras (SLAP). Inclui os critérios e limites máximos das concentrações
aceitáveis de compostos químicos para a manutenção da qualidade da água em função do seu
uso. Outras informações sobre a qualidade da água encontram-se em FEEMA (1987).
Conforme o manual e as análises de OD e nutrientes inorgânicos dissolvidos deste estudo, os
rios Bacaxá e Mole estão contaminados com efluentes domésticos e o Rio do Padre está
lévemente contaminado. O Rio Bacaxá representou o rio mais contaminado do sistema
lagunar, com águas anóxicas e odores de H2S («ovo podre»). O principal composto
nitrogenado da fração inorgânica dissolvida foi o amônio, produto primário da decomposição
da matéria orgânica. O amônio no Rio Bacaxá atingiu 1,5 mg/l e no Rio Mole 0,6 mg/l,
valores acima dos critérios estabelecidos para abastecimento público, preservação de flora e
fauna natural e propagação de espécies destinadas à alimentação humana (FEEMA, 1979). As
concentrações de OD, nutrientes, carbono orgânico dissolvido, fósforo total e feopigmentos
nos rios impactados atingiram patamar de alguns rios contaminados com efluentes domésticos
das lagoas de Araruama, Maricá, Piratininga e Itaipú (Knoppers et alii, 1999).
As águas da lagoa apresentaram valores baixos de nutrientes inorgânicos dissolvidos e a
faixa de DBO junto aos teores altos de OD durante o dia. A lagoa ainda permanece intacta
desde estudos do final dos anos 80. Entretanto, os efluentes domésticos aportados pelos rios
Bacaxá e Mole devem contribuir com a eleveção gradativa do estado trófico. Nota-se nas
desembocaduras dos rios mais impactados a proliferação de macroalgas bentônicas, que
devem incorporar parte dos nutrientes inorgânicos dissolvidos dos rios. Observou-se ao longo
do tempo aumento das macroalgas bentônicas ao redor das desembocaduras dos rios,
principalmente na lagoa de Fora, e os teores médios a altos de carbono orgânico particulado,
fósforo total e clorofila a, corroboram produtividade primária elevada.
Conforme os teores de carbono orgânico particulado e clorofila a, os quatro
compartimentos da lagoa de Saquarema são classificados como eutróficos ou seja
permanecem em estado “bem nutrido”. Embora este estudo momentâneo deve ser considerado
como altamente restrito para o estabelecimento do estado trófico, os resultados se enquadram
dentro dos padrões encontrados nos estudos mais aprofundados no final da década de oitenta
(Carmouze et alii., 1991; Knoppers et alii., 1991). Naquela época, a lagoa de Urussanga
obteve uma média anual de 55 µgChl.a/l e uma variação sazonal de 5 a 180 µgChl.a/l. A
lagoa de Fora apresentou uma média de 28 µg/l e uma variação de 5 a 48 µg/l, evidenciando
uma mudança sazonal entre estado mesotrófico e eutrófico. Pelo critério da concentração
máxima, ambas as lagoas estavam eutróficas. Os máximos teores ocorreram no final do verão
e em período similar a estudo.
A abertura permanente do canal de maré é constantemente considerada como uma das
soluções para mitigar o efeito da eutrofização dos nossos sistemas lagunares. Parte do válido
princípio de que o aumento da diluição das águas de um corpo receptor pela troca de águas
marinhas mitiga a acumulação da matéria e diminui assim o estado trófico. Isto beneficia a
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qualidade da água. Por outro lado, mudanças do balanço hídrico podem acarretar mudificaçõs
da flora e fauna e assim o rendimento pesqueiro. As obras de engenharia na década de
quarenta e cinquenta no sistema lagunar de Piratininga -Itaipú e Maricá-Guarapina
ocasionaram grandes modificações do seu balanço hídrico, estado trófico e a flora e fauna
(apud autores citados em Knoppers et alii, 1999). A pesca do camarão e da tainha
(outono/inverno) na lagoa de Guarapina voltou e aumentou após a abertura permanente do
canal de maré, processo que se pode repetir em saquarema. Estas obras podem contudo
prejudicar o funcionamento do sistema, como é o caso da lagoa de Piratininga. O problema
principal é de aferir a modificação do balanço hídrico com as características bioqeoquímicas e
ecológicas do sistema, sem perda de benefício dos seus usos.
RIMA da Abertura da Barra de Saquarema

Estudos anteriores do balanço hídrico do sistema lagunar de Saquarema revelaram uma


taxa de renovção média anual de aproximadamente duas semanas na lagoa de Fora e seis
semanas na lagoa de Urussanga. Durante o ano de estudo, o canal de maré permaneceu aberto
durante aproximadamente duas semanas e vezes no ano. Em média, cada ciclo de maré
elevava o nível da lagoa de Fora com 0,03 m e da lagoa de Urussanga com 0,01 m (Knoppers
et alii, 1991). Naquela época, as cargas alóctonas de nutrientes polos rios sustentaram menos
que 5% da produtividade primária média anual (Knoppers et alii, 1994). O restante da
produtividade era mantida pela regeneração dos nutrientes na coluna de água e na interface
água-sedimento. Estas condições foram propícias para manter o nível eutrófico moderado da
lagoa.
Entretanto, estudos na lagoa de Guarapina e Maricá demonstraram alta variabilidade
temporal das taxas de renovação das massas de água em virtude do aporte fluvial e da
variabilidade sazonal do nível médio da maré. Tempos de residência das massas de água na
lagoa de Guarapina variaram de 10 a 25 dias e na lagoa de Maricá de 35 a 90 dias (Knoppers
et alii., 1999). Esta variabilidade temporal/sazonal controlou claramente o estado trófico. Uma
abertura permanente de um canal neste sistema eutrófico com variabilidade sazonal deve
acompanhar aspectos de modelagem biogeoquímica e ecológica.
Conclui-se neste estudo que:
1) Alguns rios do sistema lagunar estão impactados com efluentes domésticos além das
normas legislativas para uso doméstico. Outros rios apresentaram características quasi-
naturais. As águas da lagoa se classificam como eutróficas, mas ainda permanecem em
estado de equilíbrio metabólico.
2) Os parâmetros físico-químicos apresentaram variação espacial marcante entre os quatro
compartimentos geomorfológicos da lagoa. A lagoa de Urussange é polihalina e mantém
duas vezes mais matéria orgânica e fitoplâncto em comparação a lagoa de Fora com águas
polihalinas, evidenciando mecanismo de controle do tempo de residência e o estado
trófico pela troca, seja efêmera, com o mar.
3) O capítulo sobre a modelagem mostra como os eventos excepcionais tais como
enxurradas, variações de maré de sizígia e maré meteorológicas podem influenciar a
físico-química da laguna. A partir da abertura do canal estes parâmetros vão influenciar de
maneira significativa o estado trófico, a flora e a fauna. Um aferimento entre estes
processos só pode ser alcançado perante modelagem físico-ecológico após coleta de
maiores informações.

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