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1º Congresso Português de Building Information Modelling

24 e 25 de novembro de 2016, Universidade do Minho, Guimarães

IMPLEMENTAÇÃO DO CONCEITO BIM NA COBA

Pedro Serra , Carlos Canelhas , António Raposo , José Cidades

COBA Consultores de Engenharia e Ambiente S.A., Lisboa

Resumo
O grupo COBA, pelos vários campos de atividade e o elevado número de valências que agrega,
apresenta um interesse particular relativamente às metodologias BIM, sobretudo no que respeita
à gestão centralizada da informação do projeto. O presente artigo pretende apresentar os
trabalhos práticos de implementação BIM desenvolvidos até ao momento.
Inicialmente foi recolhida e analisada informação sobre BIM, de forma a identificar as mais-
valias desta metodologia, definindo-se de seguida um conjunto de objetivos a alcançar através
de uma estratégia de implementação gradual na empresa.
No primeiro projeto piloto foi desenvolvido o modelo estrutural de uma ETA, o que permitiu
formar uma equipa na utilização do software e estabelecer processos de extração da informação
do modelo. De seguida foram desenvolvidas a arquitetura e as estruturas de um edifício, tendo
sido criados vários objetos paramétricos e explorada a interoperabilidade entre os formatos
DGN e DWG. No último projeto piloto foi modelada uma central hidroelétrica, recorrendo a
modeladores em localização remota, na qual foram incluídas especialidades adicionais. Este
projeto serviu para aproximar os projetistas do modelo BIM, o qual foi já utilizado na
visualização e no apoio à tomada de decisão.
Espera-se num futuro próximo continuar o desenvolvimento das restantes especialidades,
aproximando os projetistas do modelo BIM através da utilização de plataformas de
visualização, formação interna e da introdução da modelação na fase de conceção das obras.

1. INTRODUÇÃO

O Building Information Modeling (BIM) é um processo de gestão da informação inerente às


diferentes fases do ciclo de vida da construção, suportado por um ambiente tecnológico comum,
o modelo 3D paramétrico. São já conhecidos os desenvolvimentos BIM a nível internacional,
área em que o Reino Unido se encontra claramente destacado, com um roadmap BIM imposto
pelo governo e com um plano de longo prazo que impõe a utilização BIM na indústria da
construção. É convicção da COBA que, em breve, esta imposição legal irá ser alargada a outros
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países e que as exigências dos donos de obra irão evoluir no sentido de aumentar o rigor nos
processos de partilha de informação digital e de gestão do ciclo de vida dos empreendimentos.
Foi esta espectativa que levou à introdução do conceito BIM na COBA, tendo sido identificada
a necessidade de criar conhecimentos sobre o tema que contribuíssem para incrementar a
competitividade da empresa.
Apesar dos fatores identificados, é necessário ter em conta que, nos mercados onde a empresa
atua, o BIM não se apresenta como uma necessidade imediata. No entanto, o contacto com a
tecnologia BIM permitiu reconhecer algumas vantagens que esta metodologia pode trazer,
nomeadamente: o aumento do nível de conformidade entre documentos que têm como origem
o modelo BIM, a deteção de problemas e incompatibilidades mais cedo durante o projeto, a
coordenação entre especialidades através do modelo 3D e a comunicação com o cliente.
O reconhecimento destas vantagens levou ao desenvolvimento de esforços no sentido de
implementar metodologias BIM na empresa que permitam sobretudo facilitar a coordenação
entre as várias especialidades e gerir a informação digital produzida.

2. IMPLEMENTAÇÃO

A implementação BIM implica sempre um investimento em aquisição de software, melhoria de


hardware, formação de pessoal e quebras de produtividade iniciais. Com vista a minimizar os
custos associados a esta fase, em especial na formação e nas quebras de produtividade, foi
constituída uma pequena equipa que tinha como principais objetivos:

 Adquirir competências de modelação que permitissem garantir a autonomia na produção


de modelos BIM paramétricos nas especialidades mais relevantes à empresa (estruturas,
arquitetura e equipamentos);
 Estudar a regulamentação internacional de modo a incorporar as boas práticas atualmente
reconhecidas na indústria para organização da informação digital associada ao BIM;
 Estabelecer processos de trabalho associados à produção de informação a partir do modelo
paramétrico, conforme os usos a definir;

O carácter disruptivo da alteração de metodologia de trabalho na empresa torna essencial


encontrar um conjunto alargado de usos a dar aos modelos paramétricos, tão imediatos quanto
possível, sem colocar demasiadas exigências à modelação e ao grau de desenvolvimento dos
objetos. Foram então considerados três usos essenciais à produção de modelos BIM:

 A produção de peças desenhadas através da elaboração de cortes dinâmicos no modelo;


 A obtenção de quantidades automaticamente a partir do modelo;
 A elaboração de imagens renderizadas a partir do modelo.

Identificados os usos a dar ao modelo foi realizada uma análise aos recursos humanos
disponíveis e verificou-se existir um conjunto de colaboradores com alguns conhecimentos de
modelação 3D em Microstation e com capacidade para, de forma autónoma, desenvolverem
modelos BIM na plataforma escolhida – o AECOsim Building Designer. Estes recursos estavam
afetos na sua maioria ao Núcleo de Recursos Naturais da empresa, departamento com uma das
componentes de produção mais importantes da COBA. Procurou-se então criar as condições
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para o desenvolvimento mais ou menos autónomo de modelos BIM por parte da equipa, numa
abordagem de experimentação com apoio de recursos on-line e guias de modelação da Bentley.
Esperava-se com esta abordagem reduzir os custos de implementação através de um
investimento reduzido na formação, mas garantindo uma transição gradual e orgânica, em
primeiro lugar dentro do próprio núcleo, e mais tarde transversal a toda a empresa.
Com base nesta estratégia deu-se início ao desenvolvimento de um conjunto de projetos piloto,
mais representativos do trabalho realizado habitualmente pela empresa.

3. PROJETOS PILOTO

Devido à elevada componente de trabalho autónomo a que a estratégia idealizada obriga, estes
projetos iniciais serviram sobretudo para desenvolver os conhecimentos sobre os programas
utilizados, e compreender exatamente o alcance dos objetivos definidos para a implementação
BIM na empresa.
O primeiro projeto piloto centrou-se na modelação da especialidade de Estruturas da Estação
de Tratamento de Águas apresentada na Figura 1. O objetivo principal para o projeto era o
desenvolvimento dos processos associados ao sistema de produção (desenvolvimento do
modelo por parte do modelador e obtenção automatizada dos desenhos e das quantidades).

Figura 1 – Modelo estrutural da Estação de Tratamento de Água

Ao nível da modelação verificou-se que o conjunto de ferramentas paramétricas, apesar de


limitado, permite modelar uma parte importante da estrutura (vigas, lajes, pilares, paredes, etc.).
Existe contudo uma série de objetos que não são habituais nos projetos de edificação e cuja
parametrização geométrica não é imediata (nem é a sua classificação nos vários sistemas de
classificação da indústria AEC). É, por exemplo, o caso do betão de enchimento dos
decantadores (Figura 2), que foram construídos recorrendo às ferramentas de modelação 3D
não paramétricas. Estas questões e as respetivas soluções foram sendo registadas num manual
de modelação interno para posterior consulta.
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Figura 2 – Modelo e desenho parcial de um decantador com betão de enchimento

Com o objetivo de reduzir as perdas de produtividade na implementação de metodologias BIM,


procurou-se minimizar as alterações aos processos de trabalho já existentes na empresa. Ao
nível do desenho, isto significa exportar os desenhos obtidos do modelo do formato DGN para
DWG. Este processo permite por um lado manter os processos de edição e montagem de
desenhos já existentes (e assim reduzir as necessidades de formação e perdas de produtividade
associadas), mas obriga a um cuidado maior na etapa de edição de desenho, devido à perda de
interatividade que se verifica entre o modelo BIM e o desenho exportado (Figura 3).

Figura 3 – Desenho obtido do modelo paramétrico, exportado para DWG

Relativamente às quantidades de materiais, o AECOsim permite exportar tabelas em Excel com


os vários objetos que compõem o modelo e os respetivos materiais, mas com uma capacidade
de edição da tabela limitada. Por este motivo optou-se por realizar um passo intermédio,
utilizando uma template de exportação simplificada, ligada à lista de quantidades de trabalho
com a formatação utilizada habitualmente. Todas estas transferências de informação foram
sendo registadas e organizadas num fluxograma apresentado no final (Figura 10).
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O projeto seguinte envolveu um edifício de apoio do aproveitamento hidroelétrico, tendo sido


desenvolvidos os modelos de arquitetura, de estruturas e de arranjos exteriores (Figura 4).
Esperava-se nesta etapa melhorar os processos de trabalho explorados no projeto anterior e criar
uma base de trabalho alargada para a especialidade de arquitetura. Durante este projeto a equipa
adquiriu os conhecimentos necessários para a criação de objetos paramétricos nativos do
AECOsim recorrendo ao Parametric Cell Studio, o que representou um avanço importante para
a criação e manutenção de uma biblioteca paramétrica própria.

Figura 4 – Modelos Estrutural e de Arquitetura do edifício de apoio

Este projeto serviu ainda para estabelecer um processo de trabalho para a obtenção de imagens
renderizadas (Figuras 5 e 6). Tal como ficou estabelecido para os desenhos técnicos, procurou-
se encontrar uma solução que minimizasse qualquer quebra de produtividade relativamente aos
mecanismos já implementados na empresa. Por este motivo foram testadas as opções de
exportação do modelo BIM para DWG, para posterior importação em 3dStudio Max. Apesar
de mais uma vez esta solução quebrar a interatividade entre os modelos, ela permite aumentar
o grau de detalhe dos objetos para o nível necessário à renderização (mas irrelevante para a
produção de desenhos e extração de quantidades) sem sobrecarregar o modelo BIM.

Modelo
BIM

Modelo
Render

Figura 5 – Em cima: modelo BIM original do edifício em DGN. Em baixo: modelo para
renderização em DWG
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Figura 6 - Esquema simplificada do fluxo de informação nos usos a dar ao modelo BIM (2)

O projeto piloto seguinte permitiu aumentar as rotinas de trabalho 3D, melhorar os processos e
aproximar o modelo das equipas de projeto. Iniciaram-se então os trabalhos de modelação da
Central Hidroelétrica apresentada na Figura 7.

Figura 7 – Modelos de Estruturas, Arquitetura e Equipamentos da central hidroelétrica

Este trabalho foi substancialmente diferente dos restantes, uma vez que o modelo foi realizado
em 3D por vários modeladores, um dos quais localizado externamente à COBA. Os modelos
BIM foram criados em paralelo, utilizados para coordenação entre especialidades (Figura 8) e
como veículo de comunicação entre modeladores internos e externos.
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Figura 8 – Utilização do modelo para visualização e apoio à tomada de decisão

Esta necessidade de partilha de informação colocou uma série de novos desafios. A necessidade
de transmitir alterações em diferentes modelos, e o facto de não existir uma regra clara sobre o
processo e os momentos de partilha de informação, provocaram problemas na interpretação dos
modelos por parte de cada um dos envolvidos. Surgiu assim a necessidade de definir um
documento orientador dos processos e regras na partilha de informação digital – um Project
BIM Execution Plan (BEP).
Os projetos apresentados permitiram criar uma base de trabalho sólida (biblioteca paramétrica
e conhecimentos de modelação) para os próximos desenvolvimentos, onde se espera aplicar as
várias ferramentas utilizadas em projetos reais.

4. DESENVOLVIMENTOS FUTUROS

É importante referir uma vez mais que o trabalho apresentado foi desenvolvido com uma
componente autónoma que não pode ser ignorada, o que limitou a possibilidade de quantificar
os reais ganhos em termos de produtividade na utilização de metodologias de trabalho BIM.
Mesmo sem uma quantificação exata, ficou já claro que a utilização de ferramentas BIM
representa enormes ganhos nos tempos de produção, nomeadamente nas alterações necessárias
numa fase de projeto base. Estes ganhos são obtidos nas fases de produção de desenhos e de
quantificação de trabalhos. Esta situação será seguramente apurada quando forem definidos os
objetivos para os projetos a desenvolver de seguida. A estratégia de implementação BIM na
empresa tem aliás de ser constantemente revista, em conformidade com as dificuldades e as
oportunidades que vão sendo identificados em cada projeto.
Para além da necessidade de definir o BEP, é importante extender o processo BIM ao projeto,
e aumentar a capacidade de modelação na empresa. Foi então elaborado um plano de formação,
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que se divide em três módulos distintos: produção, projeto e manutenção da biblioteca BIM.
(Figura 9).

Figura 9 – Divisão do plano de formação BIM

Para além da revisão dos objetivos definidos inicialmente, os projetos desenvolvidos revelaram
um conjunto de oportunidades de melhoria nos processos de trabalho internos, que merecem
ser exploradas. Todos os processos expostos estão sujeitos a serem revistos, melhorados ou até
descartados na eventualidade de se encontrarem alternativas mais produtivas ou que permitam
enfrentar novos desafios sem comprometer a integridade dos resultados já estabelecidos.
Das várias etapas documentadas relativamente à extração de informação dos modelos (Figura
10), será interessante eliminar por completo a necessidade de exportar os desenhos para
Autocad. Utilizando o modelo BIM como origem da informação 2D, a criação e manutenção
de um desenho base parece desnecessária, sendo possível fazer a transição diretamente dos
cortes dinâmicos para os layouts, sempre em ambiente AECOsim. Este processo resulta num
menor número de ficheiros a gerir, permite manter a interatividade total entre modelos e layouts,
e possibilita a utilização da meta-informação existente no modelo para anotação dos desenhos
(pelo menos de forma mais eficaz). Esta alteração permite ainda utilizar processos de gestão de
documentação com recurso às ferramentas existentes no software.
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Figura 10 - Esquema simplificada do fluxo de informação nos usos a dar ao modelo BIM (3)

Sendo o BIM uma metodologia de trabalho que tem por base a partilha de informação digital
iremos continuar a desenvolver o BEP, pondo em prática algumas das regras que foram
identificadas como fundamentais no último projeto piloto. Esta etapa pode até ser estendida a
outros programas como o Revit, utilizando o IFC ou o i-model como formatos de transferência
de informação. Parece-nos também relevante diminuir a distância entre as entidades, pondo em
prática sistemas informáticos de partilha de informação digital como o ProjectWise.
Com uma base de trabalho sólida para as estruturas e a arquitetura, é necessário desenvolver os
objetos e as técnicas de modelação para os equipamentos mecânicos, hidráulicos e elétricos.
Este trabalho já foi iniciado, estando a ser abordadas as questões do nível de detalhe geométrico
dos elementos e a sua inclusão nos processos apresentados. Contribui também para este desafio
as definições criadas no plano de formação.
Cada especialidade tem as suas especificidades no que diz respeito à modelação paramétrica.
A modelação de estradas, acessos e topografia, exige ferramentas de modelação específicas,
encontradas em softwares como o InRoads ou o Civil 3D, programas que já são utilizados na
empresa. Será importante incorporar estes programas nos fluxos de informação alcançados.
Com a inclusão de mais especialidades nos vários modelos e com o aumento da complexidade
dos projetos, será importante utilizar, de maneira formal, as ferramentas de Clash-Detection, e
encontrar rotinas e metodologias de trabalho que facilitem a coordenação do projeto.
É necessário aproximar as equipas de projeto do modelo BIM, usando-o como ferramenta, tanto
para coordenar as várias especialidades, como para projetar. Para o efeito é necessário
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identificar uma ferramenta que dê acesso à informação digital (o AECOsim, um i-model


acessível através do Microstation ou do Navigator, ou pdfs 3D). É ainda necessário munir os
projetistas das ferramentas para realizarem parte do seu trabalho em BIM, através da aplicação
do plano de formação e da modelação de níveis de detalhe baixos, utilizando objetos
paramétricos mais evoluídos construídos, por exemplo, com o Generative Components (Figura
11).

Figura 11 – Objeto paramétrico criado em Generative Components, do maciço de


envolvimento do circuito hidráulico de uma central hidroelétrica

A utilização do modelo paramétrico como forma de documentação do projeto permite aumentar


a produtividade e a qualidade dos entregáveis obtidos, desde que exista uma base de trabalho
prévia de preparação da biblioteca paramétrica e de edição de templates. Reconhecendo que
este trabalho nunca está concluído, acreditamos ter ultrapassado esta etapa no que diz respeito
às estruturas e à arquitetura, existindo agora uma biblioteca paramétrica e rotinas de trabalho
que permitem avançar na produção de modelos BIM. No entanto, esta é apenas uma das
vantagens da utilização deste tipo de tecnologias, sendo necessário evoluir a aplicação do BIM
ao projeto. É necessário aproximar as equipas de trabalho ao modelo para coordenação, utilizar
a modelação como ferramenta para projetar, e construir um processo de gestão da informação
de uma forma mais eficaz.

4. REFERÊNCIAS

[1] Bentley, GenerativeComponents V8i Essentials 08.11.08 – Bentley Institute Course Guide,
Bentley Systems Inc, 2010.
[2] N. Davies, Practical Architectural Modelling with AECOsim Building Designer, 1st ed.
Pennsylvania: Bentley Institute Press, 2008.
[3] C. Eastman, BIM Handbook, a guide to Building Information Modeling for Owners,
Managers, Designers, Engineers, and Contractors, John Wiley & Sons Inc., 2011
[4] PAS 1192-2:2013, “Specification for information management of the capital/delivery phase
of construction projects using building information modelling,” The British Standard
Institution (BSI), 2013.

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