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A IMPORTÂNCIA DAS BRINCADEIRAS NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

INTRODUÇÃO

Desde que temos notícia, desde a época da Antigüidade, o homem


sempre brincou.
Pôr mais de 2000 anos em que predominaram a produção de bens
rurais, até o final do século XVIII, o brincar constituía uma atividade comum a
adultos e crianças. Ainda hoje em várias regiões do mundo onde predominam
sociedades rurais, esse brincar coletivo, elemento da cultura, do riso e do
folclore, continuam vivos. Nestes contextos, o brincar tem como característica
ser, sobretudo corporal, socializado e prescindir de objetos e/ou brinquedos.
Com o advento da sociedade industrial no final do século XVIII, início
do século XIX, na qual predominava a produção de bens em grande escala, a
atividade lúdica modifica-se. Torna-se fragmentada passa a fazer parte
especificamente da vida das crianças e ao mesmo tempo afasta-se do sentido
"pedagógico" e da escola, perdendo os objetivos educacionais.
Estes fenômenos são acompanhados do surgimento do brinquedo
industrializado, a institucionalização da criança, um movimento da mulher para
o mercado de trabalho que, aliado à falta de espaço e segurança nas ruas das
grandes cidades, transforma o brincar em uma atividade mais solitária e que
acontece em função do apelo ao consumo de brinquedos.
Estamos virando mais uma página da nossa história, adentrando o
século XXI, inseridos na sociedade pós-industrial que se caracteriza pela
produção de serviços, informática, estética, símbolos e valores.
Neste contexto globalizado vivenciamos grandes contradições, grandes
avanços nas comunicações, uma aceleração descontrolada de informações e
descobertas. O aumento da longevidade do ser humano graças aos avanços
da medicina, aumento crescente do desemprego e como conseqüência mais
tempo livre para os adultos e menos tempo para as crianças. O incremento da
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violência, crescente poluição de lixo, visual e sonora, tem acarretado a


mudanças de hábitos, menos recreação e visível piora na qualidade de vida.
Na infância e na adolescência, é primordial estimular a atividade
recreativa como forma de crescimento e desenvolvimento da personalidade.
Em todos os aspectos da natureza humana (físico, mental e moral-social), o
brincar é um fenômeno universal que tem atravessado fronteiras e épocas,
passando por várias transformações, e, cada vez mais, perpetuando-se na sua
essência.
Precisamos criar um novo modelo baseado no tempo livre na
companhia das crianças. Vivemos uma época caracterizada pela flexibilidade,
a emotividade conjugada com a racionalidade, os valores do feminino, a
criatividade, a individuação, a estética.
Além das pesquisas realizadas sobre o brincar voltadas para as áreas
da saúde e da educação, surge, por um lado, no mundo todo, uma
preocupação com o resgate do brincar, nas diferentes regiões do mundo,
enquanto patrimônio lúdico-cultural.
Esta tendência leva a um movimento de valorização de brincadeiras
tradicionais regionais, contextualizadas nas diversas culturas e épocas,
afirmando-se o brincar como um fenômeno universal de grande.
Constatamos então, que a ludicidade é tudo quanto diverte e entretém
o ser humano e envolve uma ativa participação. Uma atividade de trabalho
pode tornar-se lúdica uma vez que a atitude de quem a exerce esteja
caracterizado pelo prazer, espontaneidade, liberdade e fim intrínseco. Estudar
é tanto mais proveitoso quanto mais jogo ele for para nós.
A ludicidade se processa tanto em torno do grupo como, das
necessidades individuais, recrear é educar, pois permite criar a satisfazer o
espírito estético do ser humano, oferece ricas possibilidades culturais. Orientar
através do lúdico é suscitar prazer pôr atividades recreativas tais, que o ser
humano passa desenvolver ao máximo o potencial que traz ao nascer. É lidar
com crianças, adolescentes ou adultos, estimulando-os a um contínuo
aperfeiçoamento.
Com isto queremos a verdadeira finalidade da educação, que é de
desenvolver e fortificar o corpo sob o ponto de vista estático e dinâmico,
contribuir para o aperfeiçoamento total do indivíduo.
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As três instituições: “Igreja, Família e o Estado”, responsáveis pela


educação, devem valer-se do processo natural de recreio como meio eficaz de
muitos dos seus ensinamentos e têm também responsabilidade em propiciar
meios adequados à realização de atividades recreativas.
A Escola deve agir como facilitador ao ser humano em seu
desenvolvimento. A participação na experiência acumulada pelos
antepassados, dando-lhes conhecimentos básicos indispensáveis ao
desenvolvimento da personalidade com o sentido de que cada um dê à
sociedade sua mais alta contribuição.
Através de atividades lúdicas surge o espírito de união, de colaboração
e de responsabilidade.
Sabemos que é possível ao ser humano adquirir e construir o saber,
brincando. Brincando aprendemos a conviver, a ganhar ou perder, a esperar
nossa vez e lidamos melhor com possíveis frustrações. Vários estudos
comprovaram que o desenvolvimento infantil é um processo que depende das
experiências anteriores das crianças, do ambiente em que vive e de suas
relações com esse ambiente.
Deve-se considerá-la como um sujeito em desenvolvimento que
explora as situações e formulam significados, assumindo ações. O processo de
desenvolvimento ocorre de forma diferente em cada criança e cada uma
alcança determinados estágios em momentos também diferentes.
Conhecendo os principais estágios do desenvolvimento infantil a
diferença existente entre as crianças é possível estabelecer alguns princípios
gerais que orientam a metodologia a ser adotada na execução das atividades
da Educação Infantil.
Em primeiro lugar, as atividades devem ser centradas nos interesses
das crianças e organizadas de modo a respeitar as condições de realização de
cada uma delas.
Em segundo lugar as atividades da educação infantil serão sempre
globalizadas, isto é, não existirão horários estanques com objetivos específicos
a serem alcançados por um único tipo de atividade, como a hora da linguagem
ou da música, etc.
O trabalho organizado seguindo esta metodologia deverá ser definido
em conjunto com os professores e equipe técnica de cada unidade, oferecendo
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um fio condutor para as atividades realizadas com as crianças, garantindo um


significado concreto e a possibilidade de um trabalho que integre as diversas
áreas de conhecimento. É relevante resgatar o “lúdico” no contexto escolar, de
modo que esse processo trabalhe com a diversidade cultural e desperte a
vontade e aprender. Práticas pedagógicas lúdicas nos conduzirão a mudanças
significativas para o contexto educacional.
OBJETIVOS

Geral

● Identificar e descrever os conhecimentos produzidos acerca da


utilização dos brinquedos e das brincadeiras, na assistência educacional
à criança. Ressaltar, a importância do respeito às diferenças individuais
de cada criança, de suas possibilidades de novas aprendizagens,
através das brincadeiras interativas e dos brinquedos lúdicos.

Específicos

● Identificar, no levantamento bibliográfico, aspectos positivos


relacionados à educação e o desenvolvimento da personalidade da
criança, a significação de suas relações com as brincadeiras e o
brinquedo, aliadas as variadas formas de aprendizado.

● Descrever, a partir da bibliografia levantada, a relação e a


responsabilidade dos professores, quanto à utilização do brinquedo e
das brincadeiras no processo de aprendizado e na educação e
desenvolvimento da personalidade da criança como ser humano e como
cidadão inserido no contexto social.

● Identificar a influência da presença da família na aplicação do brinquedo


e das brincadeiras, influenciando a criança a melhor absorver o conceito
de vida familiar, partilha, solidariedade, etc..
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METODOLOGIA

Tipo de estudo

O presente trabalho visa desenvolver estudo para demonstrar como


estrategicamente é possível trabalhar a aprendizagem infantil, em consonância
com a diversidade de brinquedos e brincadeiras promovendo as relações
interativas, em todos ambientes e principalmente, em sala de aula.

Para atender os objetivos propostos, este estudo foi realizado através


de pesquisas bibliográfica exploratórias, qualitativas, descritivas, utilizando-se
do método de Compilação Bibliográfica, valendo-se, também, dentro destas
bibliografias do histórico do trabalho e da observação sobre os resultados,
juntando os dados coletados que apontarão os resultados pretendidos no
trabalho.

Entendemos ainda que a pesquisa bibliográfica pode contribuir para


divulgar um conhecimento específico em relação ao assunto e contribuir para o
incentivo de mudanças no cotidiano pedagógico-escolar, inovando conceitos e
incrementando práticas.

Coleta de dados

A coleta de dados foi realizada através de um levantamento bibliográfico


cujas fontes foram: artigos científicos indexados e livros que traziam como
tema principal o brinquedo simples, o brinquedo terapêutico, a brincadeira com
estes, e os efeitos que geram no contexto da criança, no seu mundo de
conhecimento peculiar e no mundo do conhecimento pedagógico.
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Para a busca bibliográfica de artigos indexados no meio eletrônico foi


utilizado a Scientific Eletronic Library Online - SciELO, uma biblioteca eletrônica
que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros
indexados. A razão pela escolha da utilização de periódicos, deu-se pela
credibilidade e cientificidade da temática abordada por vários autores diferentes
e a opção pelo banco de dados SciELO, deu-se pelo fácil acesso, englobando
pesquisas nacionais, disponíveis na íntegra.

Utilizamos para essa busca, os descritores ou palavras-chave:


“brinquedo terapêutico”, “educar e brincar”, “brincadeira”, “educação”. O
período em que ela se deu foi de janeiro a agosto. Foram selecionados nesta
etapa, 15 artigos que apresentavam como tema e contexto o brinquedo e a
relação do brincar que além de teses e livros compuseram nosso estudo.

Análise dos dados

Quanto a analise dos dados, procuramos agrupar ou categorizar em 4


capítulos e subcapítulos que, de acordo com os nossos objetivos, facilitou a
descrição dos resultados encontrados. Esses capítulos e subcapítulos são:

Capítulos 1: O brinquedo fazendo parte da vida.


Subcapítulos: O brincar através dos tempos;
Capítulos 2: O lúdico e suas razões.
Subcapítulos: O lúdico trabalhado na escola;
O lúdico e a idade da criança;
Recursos do lúdico;
Desatando as mãos.
Capítulos 3: O brincar expressando educação.
Subcapítulos: Brincar: direito e oportunidade sociocultural;
Brincadeira como pilar da educação;
A essência do brinquedo;
A brincadeira e o jogo na escola;
Brinquedoteca: um espaço de brincar e aprender.
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Capítulos 4: A identidade do jogo e da brincadeira.


Subcapítulos: As brincadeiras;
Os jogos;
Escolarização e brincadeira na Educação Infantil;
Interação do Ser Humano.
CAPÍTULO 1. O BRINQUEDO FAZENDO PARTE DA VIDA

1.1. O brincar através dos tempos

A utilização do brinquedo por crianças remonta a antiguidade. Ferreira


(1990) afirma que vários tipos de brinquedos foram encontrados em tumbas
funerárias datadas de 2000 a.C., nas ruínas da Babilônia, China e civilizações
antigas. No Brasil, os primeiros brinquedos que se têm notícias, foram
fabricados pelos índios para seus filhos.
Tanto em épocas passadas como atualmente, o brinquedo coloca a
criança na presença de reproduções: o cotidiano, a natureza, as construções
humanas e a criança expressam, nesse brincar, seu mundo cotidiano envolto
por crenças, valores e ideologias próprias, que podem ser reais ou imaginárias.
Entre as funções do brinquedo estão a ocupação, o divertimento e o
dispêndio de energia, além de ser caminho para projetar o futuro, conhecendo
tarefas, perigos e também a realidade social.
Alguns brinquedos permitem às crianças se divertirem enquanto ao
mesmo tempo as ensinam sobre um dado assunto. Brinquedos muitas vezes
ajudam no desenvolvimento da vida social da criança, especialmente aquelas
usadas em jogos cooperativos. São de vital importância no desenvolvimento e
na educação da criança em crescimento, por estimular sua imaginação, sua
capacidade de raciocínio e sua auto-estima. Carrinhos em miniatura, bonecas,
bolas, ursos de pelúcia, ioiôs e action-figures, são exemplos de brinquedos. O
ato de brincar em si, geralmente exige um brinquedo, que pode ser um objeto
tangível ou intangível.
Desde tempos antigos, os brinquedos tiveram um importante papel nas
vidas das crianças. Por milhares de anos atrás, crianças brincaram com
brinquedos dos mais variados tipos. Bolinhas de gude foram usadas por
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crianças no continente africano há milhares de anos atrás. Na Grécia Antiga e


no Império Romano, brinquedos comuns eram barquinhos e espadas de
madeira, entre os meninos, e bonecas entre meninas. Durante a Idade Média,
fantoches eram brinquedos muito comuns entre as crianças (MASSETTI,
1997).
Até o final do século XIX, a maioria dos brinquedos era fabricada em
casa, ou fabricada artesanalmente. Atualmente, a grande maioria dos
brinquedos é fabricada em massa, e comercializados. A partir da segunda
metade do século XX, vários países criaram leis que proíbem a venda de
brinquedos considerados perigosos - por exemplo, por conterem materiais
tóxicos ou partes que se soltam facilmente - ou que não possuem claros avisos
- por exemplo, não recomendado para menores de três anos de idade por
conter materiais que podem ser engolidos pela criança. Tais leis também dão
ao governo o direito de recolher do mercado todos os produtos que não
atendem às especificações necessárias.
A criança que não brinca, não se aventura em algo novo, desconhecido
e quando ela brinca, está revelando ter aceitado o desafio do crescimento, a
possibilidade de errar, de tentar e arriscar para progredir e evoluir (LEBOVICI,
1985).
O brinquedo tem um importante valor terapêutico influenciando no
restabelecimento físico e emocional tornando o processo de hospitalização
menos traumatizantes, mais alegres descontraído, fornecendo melhores
condições para recuperação da criança.

“Quando disponibilizam lápis e papel, as crianças


representam com riquezas suas experiências dentro do hospital. É
através dos brinquedos que a criança expressa seus sentimentos,
fala de suas enfermidade, refere-se a ameaça da desintegração
física e perturbações psicológicas, e sua capacidade de brincar
avalia o adulto de acordo com o ambiente hospitalar” (MENDEZ E
COLS, 1996. p. 99).

Reforçando as possibilidades de utilização do brinquedo terapêutico,


Martins (2001) baseia-se também na função catártica e nos princípios da
ludoterapia, porém com algumas variações. O autor comenta que o brinquedo
terapêutico é um processo de brinquedo não diretivo que dá à criança a
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liberdade de expressar-se não verbalmente. Descreve ainda a diferença entre


ludoterapia e brinquedo terapêutico, conforme segue:
Ludoterapia: técnica psiquiátrica usada em crianças com distúrbios
emocionais, neuróticos ou psicóticos. Cada sessão pode ser conduzida ou
enfermeiro especializado, num ambiente muito bem controlado. Sua meta é
promover a compreensão da criança sobre seu próprio comportamento e
sentimento.
O terapeuta deve refletir as expressões verbais e não verbais da criança,
bem como interpretá-las para ela. Normalmente as sessões de ludoterapia são
de uma hora e podem continuar por vários meses.
Brinquedo Terapêutico: situação de utilização do brinquedo que pode
ser usada pela enfermeira, para qualquer criança. A sessão pode ser realizada
em uma sala de brinquedos, no quarto da criança ou em qualquer área
conveniente.
Ressalte-se que o brinquedo é utilizado como recurso capaz de
proporcionar ás crianças atividades estimulantes e divertidas, que transmitam
calma e segurança, constituindo-se em uma estratégia para o enfrentamento
da hospitalização.

“Brincar constitui-se ora em hipo estimulação ora em hiper


estimulação. É considerado terapêutico, permite o desdobramento
da personalidade da criança através do brinquedo, interpretando
papeis, elaborando emoções e situações complexas, difíceis de
aceitar e compreender” (FORTUNA, apud, etal, GALLINO,
op.cit,.p.83).

Quando a criança brinca, ela libera sua capacidade de criar e reinventar


seu próprio mundo libera sua afetividade, explora seus próprios limites e
proporciona a oportunidade de levá-la ao encontro de si mesma. Através da
brincadeira a criança expressa sues conflitos constituindo numa forma natural
de autoterapia.
Estudiosos da área afirmam também que a participação nas atividades
de brincar pelas crianças hospitalizadas estaria entre os fatores que
acelerariam a sua recuperação, contribuindo para a diminuição de sua
permanência no hospital.
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Poucas e diferentes respostas denunciam pontos diversos acerca da


desvantagem ou vantagem da utilização do brinquedo como recreação na
escola ou do seu papel no brincar. No entanto, o ato de brincar acaba
tornando-se um motivo de ironia, de ridicularização e franco desprezo, não só a
criança, mas também de quem brinca. O que ocorre, na realidade, o
desenvolvimento da abordagem lúdica esbarra em dificuldade com relação
entre o status rebaixado do brincar em nossa cultura e o status que se ocupam
disto na vida comum, sendo o ato de brincar algo sem importância. Que se só
realizam as brincadeiras quando já cumpriu todos seus deveres e onde aqueles
que trabalham brincando são igualmente, vistos e rotulados como
desqualificados quanto à brincadeira que estimulam, podendo este conduzir o
profissional ao isolamento, tratamento prejudicial na carreira profissional, com
planos de cargos inferiores aos demais profissionais.
Por sua vez adultos ansiosos em distrair a criança de seu sofrimento às
vezes não respeitam o tempo e a vontade do brincar da própria criança, e acaba
estimulando demasiadamente tornando a brincadeira em chorão ou briga.
Lembramos que o brincar não produz sentimento de ansiedade culpa,
como se o sentimento de sofrimento fosse desvalorizado pelo brincar. Muitos
profissionais e familiares sentem-se ofendidos por brincar num lugar sério, com
situações graves, e que parecem ser desconsiderado as pela atividade lúdica.
Brincar com a criança é diferente de ser a criança. Um dos grandes problemas
é que muitos adultos transgridem o papel da criança, criando uma certa
artificialidade divertindo-se como se fosse uma criança, correndo o risco de
ocupar o lugar da criança, restringindo o espaço da própria criança na
brincadeira.
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CAPÍTULO 2. O LÚDICO E SUAS RAZÕES

Lúdico é qualquer atividade que executamos e nos de prazer, que


tenhamos espontaneidade em executá-la. Quando fazemos porque queremos,
pôr interesse pessoal.
Isto se refere tanto à criança quanto para o adulto, e ai que
começamos a perceber a possibilidade, a facilidade de se aprender, quando
estamos brincando, pois na atividade lúdica como na vida há um grande
número de fins definidos e parciais, que são importantes e sérios, porque
consegui-los é necessário ao sucesso e, conseqüentemente, essencial à
satisfação que o ser humano procura, a satisfação oculta, neste caso seria o de
aprender.
A recreação (lúdico) é uma ocorrência de todos os tempos, é parte
integrante da vida de todo o ser humano, mas também é um problema que
surge e deve ser estudado e orientado como um dos aspectos fundamentais da
estrutura social.
Se pesquisarmos sobre as manifestações da vida humana através dos
tempos, encontramos jogos e danças fazendo parte integrante de cerimônias
guerreiras, religiosas, cívicas e afetivas. A vida das crianças no lar era uma
oficina e centro de recreio e muitas vezes víamos envolvidos na mesma
atividade, jovens, crianças e adultos. Pesquisando os sistemas educacionais e
a evolução social das grandes nações civilizadas, verifica-se o crescente
interesse não só pela recreação de crianças e jovens, como pela orientação de
atividades recreativas para adultos.
Os fins que os adultos chegam na execução de seus trabalhos são
mais complexos e mais remotos, mas não necessariamente mais sérios em si
do que os das crianças. A medida em que as crianças forem crescendo, seus
fins vão se tornando mais complexos e mais remotos. Estes fins determinam
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nossa ativa participação e nosso empenho na execução das atividades, mas


nem sempre são conscientes e bem definidos, mas corresponde a uma
necessidade intima do ser humano.
O fim primordial para a criança e o adolescente é a necessidade de
crescer, o impulso do desenvolvimento físico, mental e emocional. Nesta fase é
difícil distinguir jogo e trabalho. Constata-se então, que a ludicidade é tudo
quanto diverte e entretém o ser humano e envolve uma ativa participação. Uma
atividade de trabalho pode tornar-se lúdica uma vez que a atitude de quem a
exerce esteja caracterizado pelo prazer, espontaneidade, liberdade e fim
intrínseco. Estudar é tanto mais proveitoso quanto mais jogo ele for para nós.
A ludicidade se processa tanto em torno do grupo como, das
necessidades individuais, recrear é educar, pois permite criar a satisfazer o
espírito estético do ser humano, oferece ricas possibilidades culturais. Orientar
através do lúdico é suscitar prazer pôr atividades recreativas tais, que o ser
humano passa desenvolver ao máximo o potencial que traz ao nascer.
É lidar com crianças, adolescentes ou adultos, estimulando-os a um
contínuo aperfeiçoamento. Com isto queremos a verdadeira finalidade da
educação, que é de desenvolver e fortificar o corpo sob o ponto de vista
estático e dinâmico, contribuir para o aperfeiçoamento total do indivíduo.
O lúdico pode e deve ser trabalhado na Escola em todo os seus níveis,
desde o jardim de infância até o colegial e nível universitário.
Na fase do jardim da infância as atividades de brincar se confundem
com as aprendizagens da vida. As instalações e professores devem propiciar
as crianças um meio acolhedor e natural, ou seja, uma rede de ensino que vise
o bem estar da criança. Professor e pais destes alunos devem manter relações,
no sentido de que observações de uns e outros se completam para um
desenvolvimento sadio da criança.
Na infância e na adolescência, é primordial estimulante de crescimento
e desenvolvimento da personalidade a atividade recreativa. Em todos os
aspectos da natureza humana (físico, mental e moral-social);
As três instituições: “Igreja, Família e o Estado”, responsáveis pela
educação, devem valer-se do processo natural de recreio como meio eficaz de
muitos dos seus ensinamentos e têm também responsabilidade em propiciar
meios adequados à realização de atividades recreativas.
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A Escola deve agir como facilitador ao ser humano em seu


desenvolvimento. A participação na experiência acumulada pelos
antepassados, dando-lhes conhecimentos básicos indispensáveis ao
desenvolvimento da personalidade com o sentido de que cada um dê à
sociedade sua mais alta contribuição; Através de atividades lúdicas surge o
espírito de união, de colaboração e de responsabilidade.

2.1. O lúdico trabalhado na escola

O fim primordial para a criança e o adolescente é a necessidade de


crescer, o impulso do desenvolvimento físico, mental e emocional. Nesta fase é
difícil distinguir jogo e trabalho.
É evidente que a Escola não pode ignorar ou manter-se à parte da
recreação dos alunos, qualquer que seja o nível escolar. Em aula o professor
deve promover uma atmosfera de prazer, atitude esta que se verifica quando
fazemos uma coisa porque q queremos fazer, assim facilitando a aquisição de
conhecimento sistematizado.
A Escola não tem a única finalidade de dar, em cada grau, os
conhecimentos básicos que constituem seus objetivos específicos, mas
promover o desenvolvimento da personalidade plena integração no meio social.
A ludicidade na escola facilita a convivência entre alunos, e entre
professores e alunos. Numa atividade espontânea encontra também os
professores excelentes ocasião para observar as reações de seus alunos e
conhecê-los mais intimamente. Enquanto a criança e o jovem, pela prática
adquirem habilidades e criam atitudes de bem se recrear em grupo, a escola
funciona como orientadora pré - vocacional das atividades que constituem a
ludicidade na fase adulta (MARCELINO, 1987).
O lúdico pode e deve ser trabalhado na Escola em todo os seus níveis,
desde o jardim de infância até o colegial e nível universitário.
Na fase do jardim da infância as atividades de brincar se confundem
com as aprendizagens da vida. As instalações e professores devem propiciar
as crianças um meio acolhedor e natural, ou seja, uma rede de ensino que vise
o bem estar da criança.
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2.2. O lúdico e a idade da criança

A idade não deve ser visto como marco de referência, pois o processo
de desenvolvimento é contínuo e sempre influenciado pelas ocorrências do
meio. O crescimento físico, desenvolvimento mental e maior, ou melhor,
capacidade de entrar em relações com os outros varia conforme a natureza de
cada uma, as condições do ambiente em que vive e as experiências no meio
familiar, entre os companheiros de brincar e na escola.
Dos 4 e 6 anos o crescimento da criança é mais ou menos rápido, tanto
físico como em sua coordenação, a habilidade manual da criança esta em
aumento e concorre para aquisição de conhecimento. Nesta fase sua
imaginação é viva e é freqüente a confusão entre fantasia e realidade,
evitamos assim que fiquem fabulando, dando-lhe oportunidade de encontrar
meios indicados para constituir, isto é, para expressar seu modo imaginário,
transportá-lo a condições visíveis e concretas, que ela mesma possa
reconsiderar e modificar. (SANTINI, 1998).
Nesta idade a criança já pode falar a linguagem correta e
desembaraçada. Elas apreciam muito ouvir histórias, desejando que se repita a
mesma diversas vezes sem modificá-las em nada, a linguagem deve ser
simples e animada, com diálogos que se repetem, ação continuada e
cumulativa, rapidez de ação, frases rimadas e ritmas.
Pode ser trabalhada história com musicas, e quem conta, tem que o
fazer com animação e ritmo. As cantigas ouvidas e repetidas constituem prazer
para esta idade, assim como canções religiosas e de festas de São João.
Lembramos que as crianças desta idade são muito egocêntricas e seu
interesse pelo meio social limita-se à satisfação de suas necessidades, entra
em choque quando encontra resistência à execução de um desejo seu. Tem
muita pequena compreensão do ponto de vista alheio.
Seus direitos começam a entrar em choque com os direitos de pessoa
de igual tamanho, vencendo às vezes e cedendo em outras, vai estabelecer
relações entre direitos e deveres. Sendo desta forma, os professores devem
estar bem esclarecidos sobre o processo gradativo que o ser humano
atravessa para viver em sociedade.
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As atividades que for de maior interesses aos pequeninos do jardim,


devem ser estimuladas pela professora como oportunidade de exercício de
desprendimento do eu e união com o todo, atividades como as brincadeiras de
roda, ou brincadeiras que deixem duas crianças em destaques exibindo-se ou
comandando as de mais, as atividades com materiais sonoros (cornetas, aptos,
flautinha) são brinquedos que prendem a atenção das crianças.
Pode também, ser trabalhado teatro com histórias até mesmo do
cotidiano da criança. Nisto tudo pode envolver a música, que deixa o clima
muito mais animado para as crianças.
Os jogos coletivos também podem ajudar no desenvolvimento da
consciência do ser social, isto irá estimulá-los a aprenderem a se organizar e a
cooperar, devendo evitar os jogos que elimina os jogadores quando erram,
pois, atraídos pôr algum motivo forte, de outros, sente-se rejeitados e tristes
porquê não querem que ele brinque. Através destas atividades pouco a pouco
as crianças vão permanecendo ainda mais tempo na roda, ou seja, se
concentrando mais na atividade, aguardando sua vez de agir e reconhecendo a
vez dos outros.
Ele será capaz de auxiliar o próximo se tiver necessidade. Se o adulto
souber brincar com as crianças, aceitando as situações que o jogo lhe impõe,
como se fosse uma criança mais experimentada, assim sua presença será
desejada pelos pequeninos e facilitará a ação de conjunto.
O adulto deve procurar compreender cada criança e promover
oportunidades para que cada uma encontre um motivo de alegria. O professor
deve ser afável com as crianças, alegre, bem humorado e ter iniciativa
suficiente para infundir confiança e verdadeiro respeito.
Preencher o tempo livre da criança com brincadeiras assume um papel
muito importante para o futuro delas, é a forma da qual as crianças se utilizam
para lidar com o mundo das fantasias, percebemos aí, que a vida da criança
deve ser uma vida lúdica. Temos que o brinquedo é a mais refinada forma de
educação, pois é através dos brinquedos que nos tornamos aptos a viver em
sociedade e num mundo culturalmente simbólico.
Hoje percebemos que o tempo livre da criança é preenchido com
intermináveis deveres de casa, são atividades programadas promovidas pelos
pais ou pelos colégios. Com isso fica claro que a criança que a criança vive
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antecipadamente uma vida de adulto, isto é, claro para uma criança de classe
média, já para as crianças de classe baixa resta o trabalho de casa e quando
consegue um tempo livre a rua como seu quintal.
É difícil de descobrir qual estão em melhores condições, mas se torna
dever do estado, da instituição e educadores promover o lúdico na vida da
criança para que assim possa promover seu bem estar. (MALUF, 2004).

2.3. Recursos do lúdico

Como educadores, devemos saber o grande valor das organizações


sociais de recreação e a importância que atividades recreativas bem orientadas
tem na vida da criança, mas apesar de nosso entusiasmo, muito pouco tem
sido feito para que bons projetos pedagógicos com o lúdico sejam efetivados
em nossas escolas. Não devemos pensar nas condições materiais de nossas
salas, embora reconhecendo que para certas atividades recreativas
dependemos de espaço e, às vezes, de objetivos caros.
O professor deve fazer da aula uma boa hora de convivência. A escola
deve favorecer o desenvolvimento de várias atividades criadoras,
desenvolvendo na criança sua capacidade de auto–expressão, tais como:
música, artes manuais, educação física, clubes literários, de teatro e outros. As
instituições devem também funcionar, fora dos horários escolares, como um
verdadeiro centro recreativo.
Quantas vezes ficamos em duvida sobre a maneira como brincar com
as nossas crianças e como às vezes deixamos de brincar, pôr falta de
segurança para orientar os brinquedos tão bem quanto orientamos os materiais
de estudo. Aos pouco perceberemos que não é tão difícil e até nosso
conhecimento pode ir se enriquecendo com esta forma de aprendizado.
(MALUF, 2004).
Conteúdo – Seria efetuado a partir do cotidiano local, podendo ocorrer
mesmo na atual organização curricular, ou seja, mesmo sem as condições
ideais;
Forma – Respeitando o ritmo dos alunos, mas não ignorando as
diferenças na apropriação de saber entre professores e alunos, uma vez que
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esse reconhecimento é necessário para a própria superação dessas


diferenças;
Abrangência – Sua abrangência poderia ser efetuado ultrapassando o
âmbito dos alunos regularmente matriculados, mas se estendendo a família da
criança, usando como possibilidade de influência de conteúdo, calendário e
programações;
Espaço – Pode-se ultrapassar os limites dos muros dos prédios
escolares, estendendo-se a outros equipamentos da comunidade próxima;
Elemento Humano - Envolve um grupo de educadores, englobando
professores, funcionários, administradores, lideranças culturais informais;
Recursos Materiais – Utilizando os parcos que lhe são destinados,
aliados a solução alternativa da comunidade local, não significando deixar de
exercer pressão para obtenção de recursos do poder público (isto no caso de
escolas públicas). Pode ser usado como material instrução ou de recreação.

2.4. Desatando as mãos

Dizer que não podemos propiciar atividades lúdicas para o bem educar
é um erro, pois a criatividade do professor deve ser à base de tudo. Podem ser
ocupados todos os espaços das instituições e todo material (sucata) acessível
que estiver em nosso alcance, isto pode ser aplicado não só em instituições
públicas como também nas privadas.
O aluno pode se utilizar papel, lápis, giz de cera, fichas de cantos
folclóricos de regionais, assim podendo valorizar a cultura da criança. As
brincadeiras como esconde-esconde, pega-pega, corrida do saco e
brincadeiras de roda, também é de grande valor, assim como, trabalhar a argila
e fazer com que as crianças confeccionem seus próprios brinquedos.
O cotidiano da literatura também é de grande interesse e pode
despertar o interesse pela leitura. De interessante ainda pode ter uma horta em
que as crianças possam aprender o valor de se cultivar a terra e aprender
quais os alimentos são mais nutritivos e pode ajudar no seu crescimento.
É interessante que tenha um parquinho ao ar livre com atividades
leves, levando em conta a idade e o desenvolvimento de cada criança. Na
verdade o que não se pode dizer é que não podemos trabalhar o bem educar
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pôr falta de material e/ou pôr falta de verba. Com os variados eletrônicos, as
coisas simples pode ter um grande encantamento para as crianças.
Os pais e familiares irão ver-se envolvidos com as atividades da
criança, a medida em que eles forem fazendo parte da confecção de seus
brinquedos, como? Quando, seria a pergunta correta, quando seus filhos
começam a pedir a mãe o jornal velho a caixinha de gelatina e todos os demais
materiais que temos em casa e não vamos mais utilizar, que é a sucata, e que
pode ser aproveitado nas atividades escolares, e aos poucos os pais vão
trabalhar juntamente aos seus filhos e se sentirão interessados nas atividades
de seus filhos, que é de grande valia ao aprendizado destes. Desta forma,
aprender vira prazer, e o que é prazeroso é muito mais fácil de ser assimilado.
Deve-se manter um cantinho para criança, ou seja, um cantinho da
criança, pois a ela deve ser estimulada a se organizar e a cuidar de seu
material e dos brinquedos.
É importante que em um canto da sala tenha prateleiras onde elas
possam guardar seu material, seu brinquedo (principalmente aqueles que
foram fabricados pôr elas), e uma prateleira só para os livros. O adulto deve
criar junto à criança a melhor maneira de dispor esse material, da forma que dê
um fácil acesso de manuseio de cada utilitário. (MALUF, 2004).
25

CAPÍTULO 3. A BRINCADEIRA EXPRESSANDO EDUCAÇÃO

O brincar é um fenômeno universal que tem atravessado fronteiras e


épocas, passando por várias transformações, mas perpetuando-se na sua
essência.
Desde que temos notícia, desde a época da Antigüidade, o homem
sempre brincou. Pôr mais de 7000 anos em que predominaram a produção de
bens rurais, até o final do século XVIII, o brincar constituía uma atividade
comum a adultos e crianças.
Ainda hoje em várias regiões do mundo onde predominam sociedades
rurais, esse brincar coletivo, elemento da cultura, do riso e do folclore,
continuam vivos. Nestes contextos, o brincar tem como característica ser,
sobretudo, corporal, socializado e prescindir de objetos e/ou brinquedos.
Com o advento da sociedade industrial no final do século XVIII, início
do século XIX, na qual predominava a produção de bens em grande escala, a
atividade lúdica modifica-se: ela torna-se segmentada, passa a fazer parte
especificamente da vida das crianças; ao mesmo tempo torna-se "pedagógica"
entrando dentro da escola com objetivos educacionais.
Estes fenômenos são acompanhados do surgimento do brinquedo
industrializado, a institucionalização da criança, um movimento da mulher para
o mercado de trabalho que, aliado à falta de espaço e segurança nas ruas das
grandes cidades, transforma o brincar em uma atividade mais solitária e que
acontece em função do apelo ao consumo de brinquedos.
Estamos virando mais uma página da nossa história, adentrando o
século XXI, inseridos na sociedade pós-industrial que se caracteriza pela
produção de serviços, informática, estética, símbolos e valores. Neste contexto
globalizado vivenciamos grandes contradições: grandes avanços nas
comunicações, uma aceleração descontrolada de informações e descobertas; o
aumento da longevidade do ser humano graças aos avanços da medicina; um
26

aumento crescente do desemprego e como conseqüência mais tempo livre;


incremento da violência, e, uma visível piora na qualidade de vida; crescente
poluição de lixo, visual e sonora, o que tem levado a mudanças climáticas. Há,
ao mesmo tempo, uma necessidade e um movimento do ser humano para o
resgate das suas raízes mais profundas, das suas razões de ser e existir; uma
"fome" de autodesenvolvimento para não sermos devorados pelos
incomensuráveis estímulos que o cotidiano nos apresenta.
Todos esses fatores traduzem-se em uma crise de valores. O que é
primordial hoje?
Na visão de Domenico di Masi, renomado sociólogo italiano, hoje são
luxos, não mais os bens materiais, mas o silêncio, o espaço, a autonomia, a
segurança social, a criatividade. Precisamos criar um novo modelo baseado no
tempo livre.
Vivemos uma época caracterizada pela flexibilidade, a emotividade
conjugada com a racionalidade, os valores do feminino, a criatividade, a
individuação, a estética.

3.1. Brincar: direito e oportunidade sociocultural

É dentro desse contexto que o brincar oferece-nos a possibilidade de


tornarmo-nos mais humanos, abrindo uma porta para sermos nós mesmos,
poder expressar-nos, transformar-nos, curar, aprender, crescer. O brincar surge
como oportunidade para o resgate dos nossos valores mais essenciais
enquanto, seres humanos; como potencial na cura psíquica e física; como
forma de comunicação entre iguais e entre as várias gerações; como
instrumento de desenvolvimento e ponte para a aprendizagem; como
possibilidade de resgatar o patrimônio lúdico-cultural nos diferentes contextos
sócio-econômicos.
O brincar como desafio deste novo século no uso do tempo livre; o
brincar como possibilidade criativa.
Além das pesquisas realizadas sobre o brincar voltado para as áreas
da saúde e da educação, surge, por um lado, no mundo todo, uma
preocupação com o resgate do brincar, nas diferentes regiões do mundo,
enquanto patrimônio lúdico-cultural. Esta tendência leva a um movimento de
27

valorização de brincadeiras tradicionais regionais, contextualizadas nas


diversas culturas e épocas, afirmando-se o brincar como um fenômeno
universal de grande relevância para a caracterização e conhecimento dos
grupos sociais e diversidades culturais dos vários povos do mundo.
Por outro lado, inicia-se um debate sobre o uso do tempo livre, e o
brincar começa a ocupar posição de destaque. Preocupa, não somente o
tempo livre das crianças e a subseqüente criação de espaços e tempos para o
brincar; como também o tempo livre dos adolescentes, pensando no uso
saudável e produtivo das energias que surgem neste período; no tempo livre do
adulto, cujo tempo de ócio vem aumentando, o que, gera ansiedade e uma
crise de valores; e o tempo livre da terceira idade, já que a longevidade tem
aumentado e o mercado de trabalho oferece poucas oportunidades de
colocação neste período de vida.
O brincar tem sido estimulado e aparece, a partir de variadas
propostas e exemplos potenciais e multiplicadores:
• jornadas de jogos e brincadeiras;
• ruas de lazer: brincadeiras de rua estimulando a participação de várias
gerações;
• brinquedotecas;
• ônibus itinerantes;
• malas de brincadeiras;
• oficinas de criatividade: modelagem, tecelagem, bricolagem, pintura,
expressão corporal, musicalização, origami, confecção de livros, marcenaria,
construção de brinquedos com sucata e outros materiais, confecção de
bonecas, entre outros;
• contadores de histórias;
• teatro;
• na área de informática, estímulo e incremento dos jogos eletrônicos;
• concursos;
• aumento do leque de ofertas de recreação em clubes, hotéis e áreas ligadas
ao turismo;
• exposições de brinquedos artesanais/populares;
• feiras de brinquedos;
• museus de brinquedos;
28

• jornadas de audiovisuais;
• exposições itinerantes;
• incremento e aumento de estudos, pesquisas, registros, coletâneas e
publicações sobre o brincar;
• cursos, seminários, workshops, oficinas e palestras, visando a formação de
profissionais especialistas nas áreas de lazer, recreação, educação, saúde
mental e turismo (SANTINI, 1998).

3.2. A brincadeira como pilar da educação

Para complementar nossa análise, parece-nos fundamental nos


determos na importância do brincar para a Educação do ser humano.
Tomando por base os quatro pilares da Educação propostos por
Jacques Delors para a UNESCO (Comissão Internacional para a Educação no
século), vejamos qual é a contribuição que o brincar pode dar para o
desenvolvimento dos mesmos.
* Aprender a conhecer - Nesta proposta o brincar tem se mostrado um
instrumento extremamente eficiente desde as metodologias propostas por
educadores como Decroly, Montessori, Piaget que usaram o recurso do lúdico
para estimular a aprendizagem; até os especialistas em jogos contemporâneos,
inúmeros no mundo todo e no Brasil, que levaram para a escola, variadas
propostas para utilização do brincar dentro e fora da sala de aula, com o intuito
de estimular o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças.
* Aprender a fazer - Há uma tendência no mundo todo, a tornar mais próximas
à área de educação para o trabalho e a área de economia. 0 desenvolvimento
da economia depende da força dos trabalhadores que dependem, por sua vez,
do investimento e preocupação dos governos com a educação e formação dos
seus cidadãos. No âmbito da profissionalização, o brincar tem se constituído
em um recurso motivacional muito interessante, utilizado tanto nos cursos
técnicos e acadêmicos, quanto dentro das próprias empresas e instituições. 0
fazer, em qualquer âmbito das nossas vidas, e sobretudo, no trabalho, deveria
ter como ingrediente principal o prazer. Brincar e prazer integram a mesma
categoria.
29

*Aprender a conviver - Os jogos e as brincadeiras são exemplos de vivência


muito eficientes para facilitar e formar nos indivíduos valores de cooperação,
trabalho em equipe, respeito pelas diferenças individuais e desenvolvimento de
projetos. Há inúmeras propostas para se trabalhar estes conceitos, sobretudo a
nova tendência dos Jogos Cooperativos, criada no Canadá e na Bélgica e
começando a ser difundidas no Brasil, cujo intuito é o de estimular a
cooperação, contrapondo-a a acirrada competição em que tem se transformado
o cotidiano na vida do ser humano.
* Aprender a ser - O brincar constitui-se na linguagem por excelência das
crianças, através da qual eles podem expressar-se e comunicar-se com o
outro. Através do brincar a criança expressa seu ser integral colocando corpo,
mente, sentimentos e espírito em evidência. O brincar constitui um excelente
canal e oportunidade para o ser humano expressar e comunicar, de forma
espontânea, as suas crenças, atitudes, criatividade e valores. Nesse sentido
ele deve ser incentivado nos diferentes grupos.

3.3. A essência do brinquedo

Habitualmente, o brinquedo é visto como uma forma de atividade


espontânea, que tem função autônoma. Não é fácil englobar, em uma única
forma a essência do brinquedo.
Não se brinca a não ser por iniciativa própria ou por livre adesão. Um
brinquedo obrigatório perde o caráter de brinquedo; é, evidentemente, outra
coisa qualquer. O brinquedo é definido pelo próprio participante como fictício,
como não real, como estranho à vida efetiva (é de brincadeira, não é a sério);
todavia, é capaz de absorver inteiramente o indivíduo, que se afasta da
realidade.
Mesmo sendo uma atividade espontânea, o brinquedo desenvolve-se
dentro de limites e de lugar estabelecido e, sobretudo segundo normas
próprias. Não há um brinquedo sem as regras do jogo. Huizinga menciona, por
fim, um último caráter que se refere à sociabilidade da atividade lúdica. A maior
parte dos brinquedos tem caráter coletivo e a participação coletiva em um
brinquedo cria determinadas ligações afetivas que são típicas e importantes.
30

Os bons brinquedos são geralmente aqueles que a criança pode usar


de várias maneiras. Os brinquedos que mais ajudam as crianças a se
desenvolverem, são aqueles adequados aos seus interesses e às suas
necessidades de aprendizagem.
À medida que a criança vai se desenvolvendo física e mentalmente, a
margem de escolha de brinquedos aumenta. Aos poucos ela começa a
manifestar preferências por brinquedos socialmente considerados como mais
adequados para seu sexo (classificação imposta pelos adultos). Muitas
crianças se apegam a algum brinquedo, que passa a ocupar um lugar especial
em sua vida e em seu desenvolvimento.
Os brinquedos podem suscitar na criança longos momentos de
contemplação e êxtase. Acreditamos que os brinquedos representam um
mundo imenso, infinito, cheio de promessas e surpresas. São as riquezas do
imaginário infantil, através deles as crianças liberam os seus sentidos, em
todos os sentidos.

3.4. A brincadeira e o jogo na escola

Segundo Maluf (2004) "O lúdico é o parceiro do professor". Brincar


hoje nas escolas está ausente de uma proposta pedagógica que incorpore o
lúdico como eixo do trabalho infantil. Aproximando-se da realidade do brincar
nas escolas, se percebe a inexistência de espaço para o desenvolvimento
cultural dos alunos.
Esse resultado, apesar de apontar na direção das ações do professor,
não deve atribuir-lhe culpabilidade. Ao contrário, trata-se de evidenciar o tipo
de formação profissional do professor que não contempla informações nem
vivências a respeito do brincar e do desenvolvimento infantil em uma
perspectiva social, afetiva, cultural, histórica e criativa.
É rara a escola que invista neste aprendizado. A escola simplesmente
esqueceu a brincadeira, na sala de aula ou ela é utilizada com um papel
didático, ou é considerada uma perda de tempo. E até no recreio, a criança
precisa conviver com um monte de proibições, como também, ocorre nos
prédios, clubes, etc.
31

Há um bom tempo, as escolas não valorizam o brincar. Valorizar neste


caso significa cada vez mais levar o brinquedo para a sala de aula e também
munir os profissionais de conhecimentos para que possam entender e
interpretar a brincadeira, e, assim, utilizá-la para que auxilie na construção do
aprendizado da criança.
Para que isso aconteça, o adulto deve estar muito presente e
participante nos momentos lúdicos. Quem trabalha na Educação de crianças
deve saber que podemos sempre desenvolver a motricidade, à atenção e a
imaginação de uma criança.
Em qualquer época da vida de crianças e adolescentes e porque não
de adultos, as brincadeiras devem estar presentes. Brincar não é coisa apenas
de crianças pequenas, erra a escola ao subsidiar sua ação, dividindo o mundo
em lados opostos: de um lado o jogo da brincadeira, do sonho, da fantasia e do
outro: O mundo sério do trabalho e do estudo. Independente do tipo de vida
que se leve, todos adultos, jovens e crianças precisam da brincadeira e de
alguma forma de jogo, sonho e fantasia para viver.
A capacidade de brincar, abre para todos: crianças, jovens e adultas,
uma possibilidade de decifrar enigmas que os rodeiam. A brincadeira é o
momento sobre si mesmo e sobre o mundo, dentro de um contexto de
faz-de-conta. Nas escolas isto é comumente esquecido.
Observamos então que na escola não há lugar para o
desenvolvimento global e harmonioso em brincadeiras, jogos e outras
atividades lúdicas. Ao chegar à escola a criança é impedida de assumir sua
corporeidade, passando a ser submissa através de horas que fica imobilizada
na sala de aula.
Sendo assim, para o aluno se auto-realizar é quando ele atinge seus
objetivos preestabelecidos com o máximo de rendimento e o mínimo de
investimento de energia. Então o conceito de auto-realização tem a ver com a
eficácia pessoal.

“Então quando o professor organizar suas atividades de aula, deve


selecionar aquelas mais significativas para seus alunos. Em seguida
o professor deve criar condições para que estas atividades
significativas sejam realizadas. Destaca-se a importância dos alunos
trabalharem na sala de aula em grupos, interagindo uns com outros,
e este trabalho coletivo facilitará o próprio autodesenvolvimento
32

individual. Cabe ao professor em sala de aula estabelecer


metodologias e condições para desenvolver e facilitar este tipo de
trabalho”. (Huizinga 1993 p. 30)

A identidade do grupo tem como resultado a integração de atividades


mais amplas e profundas, como do tipo de liderança, respeito aos membros,
condições de trabalho, perspectivas de progresso, retribuição ao investimento
individual, compreensão e ajuda mútua, aceitação. São estas as qualidades
que devem ser trabalhadas pelos professores e este deve estar atento
principalmente ao componente com o qual o corpo dialoga através do
movimento: a afetividade. A afetividade é um valor humano que apresenta
diversas dimensões: amor, respeito, aceitação, apoio, reconhecimento, gratidão
e interesse. Brincadeira e aprendizagem são consideradas ações com
finalidades bastante diferentes e não podem habitar o mesmo espaço e tempo.
Isto não está certo.
O professor é quem cria oportunidades para que o Brincar aconteça,
sem atrapalhar as aulas. São os recreios, os momentos livres ou as horas de
descanso. No entanto constata-se que é através das brincadeiras que a criança
representa o discurso externo e o interioriza, construindo seu próprio
pensamento.
O adulto transmite à criança uma certa forma de ver as coisas.
Quando apresentamos várias coisas ao mesmo tempo, ou então por tempo
insuficiente ou excessivo, estamos desestimulando o estabelecimento de uma
atitude de observação.

“Se quisermos que a criança aprenda a observar, se quisermos que


ela realmente veja o que olha, temos que escolher o momento certo
para apresentar-lhe o objeto, motivá-la e dar-lhe tempo suficiente
para que sua percepção penetre no objeto. Teremos também que
respeitar o seu interesse. Insistir quando a criança já está cansada é
propiciar o aparecimento de certas reações negativas. Aprender a
ver é o primeiro passo para o processo de descoberta”.
(KISHIMOTO,1995b, 1994).

É o adulto quem proporciona oportunidades para à criança ver coisas


interessantes, mas é indispensável que respeitemos o momento de descoberta
da criança para que ela possa desenvolver a capacidade de concentração.
Assim como a criatividade da pessoa interage com à criança poderá torná-la
33

criativa, a paciência e a serenidade do adulto influenciarão também o


desenvolvimento da capacidade de observar e de concentrar a atenção.
Brincar juntos reforça laços afetivos. É uma maneira de manifestar
nosso amor à criança. Todas as crianças gostam de brincar com os
professores, pais, irmãos, e avós. A participação do adulto na brincadeira com
a criança eleva o nível de interesse pelo enriquecimento que proporciona, pode
também contribuir para o esclarecimento de dúvidas referentes as regras das
brincadeiras. A criança sente-se ao mesmo tempo prestigiada e desafiada
quando o parceiro da brincadeira é um adulto. Este, por sua vez pode levar a
criança a fazer descobertas e a viver experiências que tornam o brincar mais
estimulante e mais rico em aprendizado. (MALUF, 2004).
Pode-se afirmar que o brincar enquanto promotor da capacidade e
potencialidade da criança deve ocupar um lugar especial na prática
pedagógica, tendo como espaço privilegiado, a sala de aula.
Muito pode ser trabalhado a partir de jogos e brincadeiras. Contar,
ouvir histórias, dramatizar, jogar com regras, desenhar entre outras atividades,
constituem meios prazerosos de aprendizagem. A medida que a criança
interage com os objetos e com outras pessoas, construirá relações e
conhecimentos à respeito do mundo em que vive. Aos poucos, a escola, a
família, em conjunto, deveram favorecer uma ação de liberdade para a criança,
uma sociabilização que se dará gradativamente, através das relações que ela
irá estabelecer com seus colegas, professores e outros pessoas.
Para que isso aconteça, a criança não deve sentir-se bloqueada, nem
tão pouco oprimida em seus sentimentos e desejos. Suas diferenças e
experiências individuais devem, principalmente na escola, ter um espaço
relevante sendo respeitadas nas relações com o adulto e com outras crianças.
Brincando em grupo as crianças envolvem-se em uma situação imaginária
onde cada um poderá exercer papéis diversos aos de sua realidade, além de
que, estarão necessariamente submetidas a regras de comportamento e
atitude.
Santa Marli Pires dos Santos (1997) Diz: “Brincar é a forma mais
perfeita para perceber a criança e estimular o que ela precisa aprender e se
desenvolver”.
34

Se a escola não atua positivamente, garantindo possibilidades para o


desenvolvimento da brincadeira, ela ao contrário, age negativamente
impedindo que esta aconteça. Diante desta realidade, faz-se necessário
apontar para o papel do professor na garantia e enriquecimento da brincadeira
como atividade social da infância.
Considerando que a brincadeira deva ocupar um espaço central na
educação, entendo que o professor é figura fundamental para que isso
aconteça, criando os espaços, oferecendo material e partilhando das
brincadeiras. Agindo desta maneira, o professor estará possibilitando às
crianças uma forma de assimilar à cultura e modos de vida adultos, de forma
criativa, social e partilhada. Estará, ainda, transmitindo valores e uma imagem
da cultura como produção e não apenas consumo.
Devemos ter espírito aberto ao lúdico, reconhecer a sua importância
enquanto fator de desenvolvimento da criança. Seria importante, termos na
sala de aula um cantinho com alguns brinquedos e materiais para brincadeiras.
Na verdade qualquer sala de aula disponível é apropriada para as crianças
brincarem. Podemos ensinar as crianças também, a produzir brinquedos.
O que ocorre geralmente nas escolas é que o trabalho de construir
brinquedos com sucatas fica restrito às aulas de arte, enquanto professores
poderiam desenvolver também este trabalho nas áreas de teatro, música,
ciências etc, integrando aos conhecimentos que são ministrados.
É muito interessante ver uma criança transformar um simples copo de
plástico numa fantástica nave espacial com tripulantes e tudo. A sucata é um
recurso, se mostra como um lixo real e depois de transformada em algo
passamos a dar origem a objetos construtivos, expressivos. O brinquedo
(sucata) é assim denominado por se tratar de um objeto construído
artesanalmente com diversos materiais, como madeira, plástico, lata, borracha,
papelão e outros recursos extraídos do cotidiano.
A tensão entre o desejo da criança e a realidade objetiva é que da
origem ao lúdico acionado pela imaginação. Assim podemos afirmar que a
brincadeira, por abrir espaços para o jogo da linguagem com a imaginação se
configura como possibilidade da criança forjar novas formas conceber a
realidade social e cultural em que vive, além de servir como base par a
35

construção de conhecimentos e valores. Isto faz com que o brincar seja uma
grande fonte de desenvolvimento e aprendizagem.
É necessário que desde a pré-escola, as crianças tenham condições
de participarem de atividades que deixem florescer o lúdico.
Podemos observar mais atentamente:
*A importância da repetição ocorre durante a brincadeira, fato este que não
deve ser simplesmente ao prazer propiciado pelo exercício, mas trata-se acima
de tudo, de uma forma de assimilar o novo.
*O valor da imaginação e o papel a ela atribuído, querem no desenvolvimento
da inteligência das crianças, quer no processo de aprendizagem, do ponto de
vista da formação de conceitos (Compreender como ocorre o processo de
representação da criança e seu alcance, uma vez que ela consegue combinar
simultaneamente o pensamento, a linguagem e a fantasia).
*Na brincadeira a criança tem a oportunidade não apenas de vivenciar as
regras impostas, mas de transformá-las, recriá-las de acordo com as suas
necessidades de interesse e ainda entendê-las. Não se trata de uma mera
aceitação, mas de um processo de construção que se efetiva com a sua
participação. (GUERRA,1996).
A relação da brincadeira e o desenvolvimento da criança permite que
se conheça com mais clareza importantes funções mentais, com o
desenvolvimento do raciocínio da linguagem.
Vygotsky (1999) revela como o jogo infantil aproxima-se da arte, tendo
em vista necessidade da criança criar para si o mundo às avessas para melhor
compreendê-lo, atitude que também define a atividade artística. Sendo a
brincadeira resultado de aprendizagem, e dependendo de uma ação
educacional voltada para o sujeito social criança, devemos acreditar que adotar
jogos e brincadeiras como metodologia curricular, possibilita à criança base
para subjetividade e compreensão da realidade concreta.
É preciso que os professores se coloquem como participantes,
acompanhando todo o processo da atividade, mediando os conhecimentos
através da brincadeira e do jogo, afim de que estes possam ser re-elaborados
de forma rica e prazerosa.
Se os estímulos estiverem adequados ao estágio de desenvolvimento
em que a criança se encontra, as experiências vividas constituir-se-ão em
36

aprendizagens ricas e duradouras. No contexto escolar, propor brincadeiras


como aprendizagem, aproxima-se do trabalho. Evidencia-se que o brincar
transformado em instrumento pedagógico na Educação, vai favorecer a
formação da criança para cumprir seu papel social, e mais tarde de adulto.

5.5. Brinquedoteca: um espaço de brincar e aprender

A brinquedoteca é um espaço que visa estimular crianças e jovens a


brincarem livremente, pondo em prática sua própria criatividade e aprendendo
a valorizar as atividades lúdicas.
Por meio das brinquedotecas avaliamos nas crianças o seu
desenvolvimento, através do acompanhamento, da observação diária, no que
se refere a socialização, a iniciativa, a linguagem, ao desenvolvimento motriz e
buscamos através das atividades lúdicas o desenvolvimento das suas
potencialidades.
Uma brinquedoteca não significa apenas uma sala com brinquedos,
mais em primeiro lugar, uma mudança de postura frente à educação. É mudar
nossos padrões de conduta em relação a criança; É abandonar métodos e
técnicas tradicionais; é buscar o novo, não pelo modernismo, mas pela
convicção do que este novo representa; é acreditar no lúdico como estratégia
do desenvolvimento infantil.
A brinquedoteca tem como proposta o brinquedo. O objeto é a
necessidade de ampliar e preservar as possibilidades de vivência do lúdico. É
um espaço alegre, colorido, diferente onde crianças e jovens soltam a sua
imaginação, sem medo de serem punidas e cobradas. Ela pode ter várias
funções: pedagógica, social e comunitária.
Oferecer possibilidade de bons brinquedos e ao mesmo tempo,
brinquedos de qualidade é a função pedagógica.
Possibilitar que as crianças e jovens de famílias economicamente
menos favorecidas possam fazer uso de brinquedos, é a função social.
Favorecer crianças e jovens que jogam em grupos, a aprenderem a
respeitar as pessoas, a colaborarem com elas, a receberem ajuda, a tentar
compreendê-las, é a função comunitária.
37

Uma brinquedoteca pode ter diferentes finalidades no âmbito lúdico,


como por exemplo: brinquedotecas especializadas em atendimento a crianças
da primeira infância, outras somente para empréstimos de brinquedos.
Podemos dizer que é uma oficina de criação lúdica, onde crianças e jovens
experimentam, conhecem, exploram e manipulam diversos brinquedos,
construindo assim seu próprio conhecimento, desenvolvendo autonomia,
criatividade e liberando suas fantasias.
O mundo de brinquedos é a primeira idéia que surge para quem entra
na Brinquedoteca. Nelas existem brinquedos variados, novos, usados,
brinquedos de madeira, plástico, metal, pano, aquele da propaganda, um que
nossos pais brincavam, ou aquele tão desejado. Brinquedos que vão realizar
sonhos, desmistificar fantasias ou simplesmente estimular a criança a brincar
livremente. Quando uma criança entra na brinquedoteca, deve ser tocada pela
expressividade da decoração, pela alegria e a magia do espaço.
Sendo um ambiente para estimular a criatividade, deve ser preparado
de forma criativa, com espaços que incentivem a brincadeira de “faz de conta”,
a construção de brinquedos e a socialização. O que não podemos esquecer é
que qualquer que seja o tipo de brinquedoteca, o acervo de brinquedos, as
brincadeiras, vai proporcionar a criança e ao jovem, momentos criativos,
alegres, com muito prazer e aprendizado. (GOUVEA, 1969).
38

CAPÍTULO 4. A IDENTIDADE DO JOGO E DA BRINCADEIRA

Alguns autores utilizam as expressões jogos, brincadeira, brinquedo


como se fossem palavras sinônimas. Para vários autores, brincar e jogar
resulta num processo criativo para modificar, imaginariamente, a realidade e o
presente.
Segundo o dicionário Aurélio (1988), jogo é uma atividade física ou
mental organizada por um sistema de regras que define a perda ou ganho -
brinquedo, passatempo, divertimento. Passatempo ou loteria sujeito a regras e
no qual, às vezes se arrisca dinheiro. Regras que devem ser observadas
quando se joga.
Para Huizinga (1993) o jogo é uma atividade de ocupação voluntária
dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras
livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em
si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria, e de uma
consciência de ser diferente da "vida cotidiana".
O autor não enfatiza diferença entre jogo e brincadeira, caracterizando
os jogos pelo prazer, o caráter não sério, a liberdade, a separação dos
fenômenos do cotidiano, as regras, o caráter fictício ou representativo e sua
limitação no tempo e no espaço. O autor destaca como principais
características do jogo:

"Ser uma atividade livre, conscientemente tomada como não séria e


exterior a vida habitual, mas ao mesmo tempo capaz de absorver o
39

jogador de maneira intensa e total. É uma atividade desligada de


todo e qualquer interesse material, com a qual não se pode obter
lucro, praticado dentro de limites espaciais e temporais próprios,
segundo uma certa ordem e certas regras. Promove a formação de
grupos sociais com tendência a rodearem-se de segredo e a
sublimarem sua diferença em relação ao resto do mundo por meio
de disfarces ou outros meios semelhantes" (Huizinga 1993 p. 71).

Vygotsky afirma que nem sempre o jogo possui estas características,


por que em certos casos "há esforço e desprazer" na busca do objetivo da
brincadeira. Neste caso, fazendo distinção entre jogo e brincadeira, pode-se
constatar que o desprazer em busca do objetivo é característico do jogo
enquanto que a brincadeira, por seu caráter descomprometido e desvinculado
de padrões e objetivos não submete seu praticante ao desprazer e ao
desconforto, pois o interesse por ela termina a qualquer momento. Alguns
estudiosos diferenciam os termos brinquedo, jogo e brincadeira, e mostram a
importância dessas atividades para o desenvolvimento do ser humano.
Para Bomtempo (1987), brinquedo significa tanto o objeto que serve
para a criança brincar como o ato de brincar; jogo é a atividade com regras
que definem uma disputa "que serve para a criança brincar" e brincadeira é, "o
ato ou efeito de brincar, entreter-se, distrair-se com um brinquedo ou jogo".
Segundo João Paulo Monteiro, tradutor do livro de Huizinga, Homo Ludens, em
outras línguas não há a diferenciação existente na nossa.
Mariotti (1996) destaca que o jogo é uma atividade mediante a qual a
criança constrói a realidade. Construir a realidade é sair do seu mundo interno
e subjetivo para começar descobrir e configurar a realidade objetiva e exterior.
Afirma ainda que, através do jogo a criança pode ser protagonista de diferentes
papéis, situação esta que futuramente vai traduzir-se na afirmação da
personalidade.
Os jogos são atividades que os participantes possuem uma maneira
formal de proceder e estão sujeitos a regras. Se direcionados e conduzidos de
maneira adequada, favorecem momentos de confraternização, participação e
integração, aliviando o cansaço físico e mental. Proporciona aos participantes,
entendimento das expressões como jogar, busca pela vitória, cooperação,
aceitação da derrota e equilíbrio durante a realização das atividades, com os
adversários de jogo ou companheiros.
40

Conforme Mariotti (1996), os professores primários devem utilizar-se


do jogo como meio para desenvolver as capacidades pessoais e sociais,
permitindo a criança manifesta-se com liberdade. Os jogos podem ter duas
classificações quanto às regras. Podem ser pequenos jogos ou grandes jogos.
Os pequenos jogos têm suas regras mais flexíveis, mais simples e em
menor quantidade, enquanto os grandes jogos têm regras totalmente fixas,
mais complexas e em maior quantidade. Em conseqüência disso, num
pequeno jogo o animador atua como orientador e num grande jogo, o animador
atua como árbitro.
Do ponto de vista da forma, pode-se definir o jogo em breves palavras
como uma ação livre, sentida como fictícia e situada à margem da vida
quotidiana, capaz, contudo, de absorver totalmente ao jogador. Uma atividade
desprovida de todo o interesse material e de toda utilidade, que acontece num
tempo e num espaço expressamente determinados, desenvolve-se
obedecendo a regras estabelecidas e suscita na vida as relações entre grupos
que deliberadamente, rodeia-se de mistério ou acentuam mediante o disfarce,
sua estranheza face ao mundo habitual.
Para Kishimoto (2001) tentar definir o jogo não é uma tarefa fácil
podendo a mesma ser entendida como, por exemplo, jogos políticos, jogos de
adultos, de crianças, xadrez, contar histórias, brincar de mãe e filha, quebra
cabeça etc...
A autora afirma ainda que no Brasil os termos jogo, brinquedo e
brincadeira ainda são empregados de forma indistinta, demonstrando um baixo
nível de conceituação neste campo. Enfatiza que cada contexto social constrói
uma imagem de jogo conforme seus valores e modo de vida, que se expressa
por meio da linguagem.
O brinquedo enquanto objeto é sempre suporte da brincadeira. É um
estimulante material para fazer fluir o imaginário infantil.
A brincadeira é a ação que a criança desempenha ao concretizar as
regras do jogo e mergulhar na ação lúdica. Pode-se dizer que é o lúdico em
ação. Brinquedo e brincadeira relacionam-se diretamente com a criança, e não
se confundem com o jogo.
Segundo Lorenzini (2002), percebe-se que há na verdade, a busca de
uma compreensão mais ampla da questão da brincadeira. Conforme o
41

dicionário Aurélio (1988), brincadeira é o ato ou efeito de brincar, brinquedo,


entretenimento, passa tempo, divertimento, gracejo.
Para Barreto (1998), brincadeira é a atividade lúdica livre, separada,
incerta, improdutiva, governada por regras e caracterizada pelo faz de conta. É
uma atividade bastante consciente, mas fora da vida rotineira e não séria, que
absorve a pessoa intensamente. Ela se processa dentro de seus próprios
limites de tempo e espaço de acordo com regras fixas e de um modo ordenado.
Segundo Luise Weisse (1989), através do brinquedo, a criança inicia
sua integração social, aprende a conviver com os outros, a situar-se frente ao
mundo que a cerca. Ela se exercita e se concentra brincando.
Mariotti (1996) afirma que no jogo espontâneo as crianças
protagonizam situações criativas e escolhem ser as promotoras e condutoras
das atividades que realizam. Segundo Lorenzini (2002), o jogo ou a brincadeira
tem uma força instintiva e o homem recapitula sua experiência por meio deles.
Nenhuma teoria do jogo é completamente aceita ou universal, porém todas
abrangem a noção de que essa atividade tem grande valor educacional. Para
Cavallari e Zacarias (1998) há diferença entre jogos e brincadeiras, e todas as
atividades recreativas, quaisquer que sejam, sempre serão ou uma brincadeira
ou um jogo, não fugindo a isso.
Os autores evidenciam os seguintes aspectos como sendo fatores
diferenciais entre os jogos e as brincadeiras: vencedor, final, regras, ápice,
evolução, modificações e conseqüências.

4.1. As brincadeiras

A principal e fundamental diferença entre jogos e brincadeiras é que


não há como se vencer uma brincadeira. Ela simplesmente acontece e segue
se desenvolvendo enquanto houver motivação e interesse por ela.
A brincadeira não tem final pré-determinado ela prossegue enquanto
tiver motivação e interesse por parte dos participantes. Pode terminar por
ocorrência de fatores externos a ela, como o término do tempo livre disponível,
a chuva, etc..
42

As brincadeiras são mais livres, podendo ter ou não regras. As


brincadeiras sem regras são individuais, enquanto que as brincadeiras em
grupo podem apresentar regras.
O grupo, só por existir, já sugere regras. As brincadeiras podem ter um
ponto alto a ser atingido, mas muitas vezes não têm. Elas nem sempre
apresentam uma evolução regular, por isso, nem sempre há maneiras formais
de proceder seu desenvolvimento.
Podem sofrer modificações durante o seu desenrolar, de acordo com
os interesses do momento e com a vontade dos participantes. As brincadeiras
por serem mais desvinculadas de padrões têm conseqüências imprevisíveis.

4.2. Os jogos

Se uma atividade recreativa permite alcançar a vitória, ou seja, pode


haver um vencedor, estamos tratando de um jogo. O jogo busca um vencedor.
Sempre tem seu final previsto, quer seja por pontos, por tempo, pelo número
de repetições, ou por tarefas cumpridas.
O jogo sempre terá regras. Não existe jogo sem pelo menos uma regra
que seja. Sempre terá um ponto alto a ser atingido, como por exemplo, marcar
um ponto ou cumprir uma tarefa. Todo jogo apresenta uma evolução regular,
ele tem começo, meio e fim, conseqüentemente, existem maneiras formais de
se proceder.Se for necessários fazer uma modificação nas regras do jogo, ele
deve ser interrompido e depois reiniciado.
Pode-se tentar prever algumas conseqüências ou conclusões dos
jogos. Segundo Carvalho (1999), os jogos e brincadeiras representam um elo
na construção de novos conhecimentos, estabelecendo um maior dinamismo e
criatividade no processo de ensino-aprendizagem. A autora acredita que é
necessário além de buscar um novo sentido para este processo, descobrir o
elo de ligação entre a sala de aula e a realidade social em que se encontram
inseridas as crianças, para que o ato de aprender deixe de ser apenas
memorização ou repasse de conteúdos para ser a construção do
conhecimento.
43

Segundo Lorenzini (2002), devido à evolução urbana, a brincadeira de


rua esta deixando de existir, o que limitará o acesso à experiência sensorial,
motora, social, cognitiva, afetiva e cultural, que era própria da infância em um
passado não muito distante. Para a autora, se as brincadeiras de rua estão
deixando de existir naturalmente, elas devem ser substituídas por atividades e
locais que sejam adequados as atuais possibilidades.
A autora enfatiza ainda que não pode ser esquecido é que as
necessidades da criança continuam sendo as mesmas. A principal
conseqüência desses acontecimentos foi que começaram a existir limitações
de tempo e espaço e as brincadeiras passaram a ser orientadas pelo adulto e
desenvolvidas em um grupo maior de participantes. Todo este processo de
mudanças culturais resultou em mudanças na educação formal: a escola se
tornou o principal agente de formação da criança.
A atividade diária, na residência, na escola, na rua e mesmo no
trabalho, pode e ser considerada como um jogo. Quase sempre há uma
competição ou uma imitação e sempre ocorre uma interação com o meio e um
aprendizado, enfim, sempre há jogo. O jogo é uma necessidade infantil, tem
uma finalidade educacional porque começa como exercício funcional. A criança
que joga, torna-se um adulto preparado. O jogo tem um papel amplo: leva a
criança a pensar (MACEDO, 1991).
Para Lorenzini (2002) ao tentar estabelecer a diferença entre jogos e
brincadeiras há apenas uma pequena nuança: o jogo é uma brincadeira com
regras e a brincadeira, um jogo sem regras. O jogo se origina do brincar ao
mesmo tempo em que é o brincar. É difícil estabelecer se uma atividade é uma
brincadeira, um pequeno jogo, ou um grande jogo. Para podermos definir,
temos que ver como esta atividade será desenvolvida no caso estudado e
assim chegar a uma conclusão. A importância de se fixar esta diferenciação é
que de acordo com a faixa etária que estivermos pretendendo animar,
poderemos escolher o tipo de atividades empregar, pois de acordo com suas
características, é notório que as brincadeiras atingem faixas etárias mais
baixas, enquanto pequenos jogos atingem faixas etárias intermediárias, e os
grandes jogos são propícios as faixas etárias mais elevadas.
O próprio recreacionista pode utilizar uma mesma atividade em forma
de brincadeira, pequeno jogo, ou grande jogo, adaptando-a ao público a ser
44

atingido. Para transformar uma brincadeira em jogo, um pequeno jogo em


grande jogo ou vice-versa, basta utilizar as regras de acordo com as
características da atividade.

4.3. Escolarização e brincadeira na Educação Infantil

Nos tempos atuais, as propostas de educação infantil dividem-se entre


as que reproduzem a escola elementar com ênfase na alfabetização e números
(escolarização) e as que introduzem a brincadeira valorizando a socialização e
a re-criação de experiências.
No Brasil, grande parte dos sistemas pré-escolares tende para o
ensino de letras e números excluindo elementos folclóricos da cultura brasileira
como conteúdos de seu projeto pedagógico. As raras propostas de
socialização que surgem desde a implantação dos primeiros jardins de infância
acabam incorporando ideologias hegemônicas presentes no contexto
histórico-cultural.
Pretende-se analisar o papel da cultura como elemento determinante
do modelo de escola que prevalece, na perspectiva da nova sociologia da
educação, como a de Forquin (1996), adotado por Apple (1982, 1979, 1970) e
Moreira e Silva (1994) subsidiando pesquisas no campo de currículo.
Fatores de ordem social, econômica, cultural e política são
responsáveis pelo tipo de escola predominante. Desde tempos passados, a
educação reflete a transmissão da cultura, o acervo de conhecimentos,
competências, valores e símbolos. Não se pode dizer que a escola transmite o
patrimônio simbólico unitário da cultura entendido na acepção de sociólogos e
etnólogos, como o conjunto de modos de vida característicos de cada grupo
humano, em certo período histórico (FORQUIN,1996).
O repertório cultural de um país, repleto de contradições, constitui a
base sob a qual a cultura escolar é selecionada. Ideologias hegemônicas, fruto
de condições sociais, culturais e econômicas tendem a pressionar a escola
pela reprodução de valores nelas incluídas moldando o tipo de instituição. Os
conteúdos e atividades escolares que daí decorrem resultam no perfil da escola
e, no caso brasileiro, geram especialmente pré-escolas destinadas à clientela
de 4 a 6 anos dentro do modelo escolarizado.
45

As raízes desse processo encontram-se no longo período de


colonização portuguesa, preservadas pelo irrisório investimento no campo da
educação básica. A tendência para o ensino acadêmico, propedêutico, a
começar pela criação de cursos superiores voltados para altos estudos
destinados à elite portuguesa e o pouco empenho com a educação popular
marca a política implantada no campo educacional. Até hoje, os recursos
financeiros empregados no ensino superior (36.42% - US$2.694.802), superam
os da escola de 1º grau (23,74% - US$ 1.756.500), não universalizada até
nossos dias.
A pré-escola corresponde a 0,51% da despesa realizada pela União na
área de Educação, Cultura e Desportos, em 1993. (Boletim de Indicadores
Educacionais/Sistema Nacional de Indicadores Educacionais - n. 1, dez. 1994 -
Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, p.18.
Fruto de poucos investimentos, a educação da criança de 0 a 6 anos,
em 1989, chega apenas aos 16,9%, e as de 4 a 6 anos, 32% .(MEC, 1994) A
introdução da brincadeira no contexto infantil inicia-se, timidamente, com a
criação dos jardins de infância, fruto da expansão da proposta froebeliana que
influencia a educação infantil de todos os países. A difusão não é uniforme,
pois dependem de valores selecionados, apropriações de elementos da teoria
e forma como seus discípulos a traduzem.
A apropriação resume o modo pelo qual cada realidade interpreta um
dado teórico que reflete a orientação cultural de cada país.
Representada pelas brincadeiras interativas entre a mãe e a criança,
há outra modalidade, de natureza simbólica, de imitação de situações do
cotidiano, por gestos e cantos, o espaço propício para a ação iniciada da
criança, que permite a expressão e determinação.
Desta forma, proporciona subsídios para a compreensão da
brincadeira como ação livre da criança e o uso dos dons, objetos, suporte da
ação docente, conhecidos hoje como materiais pedagógicos, permite a
aquisição de habilidades e conhecimentos, justificando os jogos educativos.
Os objetivos desse nível de ensino. Adotar uma instituição da "moda",
que valoriza o lúdico como um apêndice, sem questionar as funções da
brincadeira enquanto proposta educativa é outro exemplo que mascara a
46

inconsistência de um projeto educativo baseado no brincar


(KISHIMOTO,1995b, 1994).
A divulgação da brinquedoteca no seio de creches e pré-escolas e o
desconhecimento de suas funções aparecem com inúmeras questões
relacionadas à natureza das duas instituições.
Pré-escolas particulares, que funcionam em sobrados, com salas
pequenas, geralmente de orientação acadêmica, procuram absorver idéias
relativas ao uso do brincar, criando brinquedotecas. Nesse caso, salas
abarrotadas de mesinhas e cadeiras para receber cerca de 20 crianças,
impedem a reorganização do espaço físico com a introdução de brinquedos e
cantos para brincadeiras. Criada em alguma sala disponível, a brinquedoteca é
a alternativa para sanar a dificuldade, e ao mesmo tempo, garantir a orientação
conteudística.
A brinquedoteca enquanto espaço distinto, fora da sala de aula é a
imagem que predomina no imaginário de uma profissional de creche: "Teria
uma coisa que eu li, que eu acho que seria interessante, uma brinquedolândia,
né? Um lugar prás crianças brincarem fora da sala de aula. Um espaço
também tampado, arejado, mas só com brincadeiras, com uma tia diferente.
Um tia que não fosse a deles..."(VEILLARD, 1996).
Pela visão do profissional, o brincar não pode integrar-se às
atividades educativas, ocupa lugar fora da sala, não sendo sua tarefa interagir
com a criança por meio da brincadeira, cabe a outro esse papel. As razões da
dicotomia entre o educar e o brincar indicam as dificuldades enfrentadas pelas
profissionais de compreender o lúdico: "Você ter pessoas, assim, que fossem
treinadas, e que tivessem sempre nessa questão da brincadeira. Porque eu
acho que a brincadeira é uma coisa muito difícil, porque eu tenho dificuldade
prá criar brincadeiras" (VEILLARD, 1996).
Um olhar para os currículos dos cursos de Magistério e de
Pedagogia, repletos de conteúdos que não qualificam o profissional para a
compreensão e inserção do lúdico no trabalho pedagógico demonstra a
dimensão do problema. Em decorrência, o desenvolvimento infantil não
privilegia um ser holístico, o brincar restringe-se ao exercício muscular,
conduzido por um professor de Educação Física: "(...)o professor de Educação
Física, ele já sabe que tipo de exercícios. Ele tem aquele jeito de bolar, assim,
47

uma brincadeira que as crianças exercitem os músculos(...) eu acho que ele tá


habilitado. E(...) seria uma pessoa só, que poderia trabalhar um dia com cada
turma na semana" (VEILLARD, 1996).
O rodízio de uso da sala por várias turmas permite que, pelo menos
uma vez por semana, as crianças tenham acesso aos brinquedos e
brincadeiras. Mas mesmo nessas ocasiões, nem sempre se garante o uso livre
dos brinquedos. Predominam atividades dirigidas pelos professores
selecionando brinquedos educativos ou delimitando o tipo de brinquedo
utilizado pela criança.
O brincar enquanto recurso para desenvolver a autonomia da criança
deixa de ser contemplado nesse tipo de utilização. Nas instituições em que se
permite o uso livre, cantos extremamente estruturados e fixos, impedem a
criação de projetos de brincadeiras por parte da criança.
A concepção de brincar como forma de desenvolver a autonomia das
crianças requer um uso livre de brinquedos e materiais, que permitam a
expressão dos projetos criados pelas crianças. Só assim, o brincar estará
contribuindo para a construção da autonomia. A pré-escola japonesa dá um
exemplo muito claro de como é possível acreditar na criança, dar espaço para
que cada uma crie seu projeto de brincadeira na companhia de seus
pares.(KISHIMOTO, 1996).
A prática pedagógica nas creches e pré-escolas parece referendar
grandes espaços, vazios de brinquedos e objetos culturais que estimulem o
imaginário infantil e permita a expressão de temáticas de faz-de-conta.
Predominam, sempre, salas e corredores desprovidos de objetos em que se
pode apenas correr, pular, rolar, trombar com outros.
Muitas vezes, uma bola ou alguns brinquedos dispersos estimula a
posse e a manipulação, sem vinculação com qualquer intenção de brincar da
criança ou, ainda, o oposto, salas repletas de mesas e cadeiras em que se
desenvolvem atividades coletivas, consideradas "pedagógicas", sob a
supervisão do professor.
Os brinquedos estão geralmente guardados em estantes ou
armários, longe do acesso das crianças. Quando disponíveis, não há
preocupação em adequá-los à faixa etária, se estão em bom estado, se há
quantidade suficiente, se estimulam ações lúdicas que propiciem a expressão
48

do imaginário. A produção de brinquedos voltada para finalidades externas,


como presentes para os pais, não subsidia a representação simbólica. A ação
motora que integra toda brincadeira é vista como independente da cognição,
afetividade e sociabilidade, portanto, sem relação com o desenvolvimento da
linguagem e oportunidades de exploração.
Os brinquedos aparecem no imaginário dos professores de educação
infantil como objetos culturais portadores de valores considerados
inadequados. Por exemplo, bonecas Barbies devem ser evitadas por carregar
valores americanos. Bonequinhos guerreiros, tanques, armamentos e outros
brinquedos, com formas bélicas, recebem o mesmo tratamento por estarem
associados à reprodução da violência. Brincadeiras de casinhas com bonecas
devem restringir-se ao público feminino. Brincadeiras motoras, com carrinhos e
objetos móveis, pertencem mais ao domínio masculino. Crianças pobres
podem receber qualquer tipo de brinquedo, porque não dispõem de nada.
A pobreza justifica o brincar desprovido de materiais e a brincadeira
supervisionada.
Escolas representadas por diversas etnias começam a introduzir festas
folclóricas, com danças, comidas típicas, como se a multiculturalidade pudesse
ser resumida e compreendida como algo turístico, pelo seu lado exótico,
apenas por festas e exposições de objetos típicos, não contemplando os
elementos que caracterizam a identidade de cada povo.
Enfim, são tais atitudes que demonstram preconcepções
relacionadas à classe social, ao gênero e à etnia, e tentam justificar propostas
relacionadas às brincadeiras introduzidas em nossas instituições de educação
infantil. Da mesma forma, a concepção de que o brincar deve restringir-se a
espaços como o playground, ou a uma sala como a brinquedoteca, mostra o
quanto o brincar está ausente de uma proposta pedagógica que incorpore o
lúdico como eixo do trabalho infantil.
Cabe à escola a tarefa de tornar disponíveis o acervo cultural que
dará conteúdo à expressão imaginativa da criança, abrir o espaço para que a
escola receba outros elementos da cultura que não a escolarizada para que
beneficie e enriqueça o repertório imaginativo da criança.
Vygotski (1988) revoluciona a Psicologia ao mostrar que a cultura
forma a inteligência e que a brincadeira de papéis é a atividade predominante
49

do pré-escolar que favorece a criação de situações imaginárias, de


reorganização de experiências vividas; Bruner (1996) reforça essa perspectiva
ao mostrar que a educação deve entrar na cultura.
Pesquisas efetuadas em creches e pré-escolas demonstram que os
materiais privilegiados pelas instituições infantis continuam sendo os gráficos e
os educativos.(Kishimoto, 1996, 1996, Canholato, 1990, Pinnaza, 1989),
referendando mais uma vez valores relacionados às atividades didáticas,
predominando o modelo escolar, marginalizando a expressão, criatividade e
iniciativa da criança. A cultura brasileira repleta de festas e folclore
sistematicamente está ausente dos domínios escolares. É essa seletividade a
que se refere Furkin (1996), ao apontar como a educação relaciona-se com
aspectos da cultura.
A inversão desse modelo pode efetuar-se por um processo político de
introdução dos elementos folclóricos no contexto da educação, à semelhança
do Japão, que nos anos 70, ao perceber o desaparecimento das brincadeiras
tradicionais, fruto da intensa industrialização e urbanização do país, introduz
medidas políticas visando recuperá-las, a partir da inserção de brinquedos e
brincadeiras nos currículos infantis.(KISHIMOTO, 1995c, 1996)
Outro aspecto ausente das discussões de profissionais de educação
infantil é a interação criança-criança e criança-adulto por meio da brincadeira.
Qual o papel do adulto como representante da cultura, responsável
pela educação infantil?
Qual o significado de objetos do mundo cultural para o
desenvolvimento infantil?
Pode-se construir conhecimento a partir de brinquedos e brincadeiras?
Pode-se desenvolver a linguagem?
Brincadeiras em grupo servem para socializar crianças, levar a
compreensão de regras?
Brincadeiras de faz-de-conta contribuem para a formação do símbolo?
Crianças que expressam suas representações mentais se
desenvolvem?
Quais os tipos de brinquedos mais adequados a cada faixa etária?
Como devem ser utilizados os diferentes brinquedos?
50

Como introduzir brinquedos e brincadeiras dentro de propostas


pedagógicas?
Tais questões certamente preocupam profissionais motivados em
oferecer uma educação infantil de qualidade.

4.4. A interação do Ser Humano

O jogo é tão antigo quanto à cultura, pois é parte dela. E é neste


contexto que os jogos florescem como uma ampla rede de significados.
Assim sendo o jogo se constitui como forma de:
* linguagem(ens);
* produção simbólica;
* produção estética.
Abordando a arte na perspectiva infanto-juvenil, necessariamente
temos que nos remeter ao lúdico, ou seja, o jogo. Até porque, tais
manifestações se encontram profundamente entrelaçadas.
Schiller chega a erigir um paradigma do humano ao afirmar que: o
homem só é pleno quando joga (1990).
Assim preferimos tratar a arte infantil ou como processo criador - na
expressão – ou como jogo - comportamento também criador e estético. Note-se
que, com o lúdico começam a aparecer as primeiras produções criadoras da
infância, onde o lúdico e a criação se interconectam.
Por outro lado, tanto um como os outros têm características
semelhantes. São ações, têm espontaneidade, são prazerosos e se estruturam
através da forma. Todavia, se tais manifestações se entrecortam, as mesmas
suscitam indagações entre os educadores e adultos quanto a sua eficácia, se é
que assim poderíamos dizer. Daí advêm indagações do tipo:
* O jogo é bom para a criança?.
* A arte é boa para a criança?.
* E dentro de um espírito utilitarista indaga-se:
* Para que serve o jogo e a arte?
* O que a criança ganha com isto?
A arte e o jogo ficam assim, colocados como adorno ou alegoria, e
nada mais, como se quem os elaboram estivesse sob os efeitos de um piloto
51

automático acionado, e que, desacionado, não se memorizam, não se


resgatam, não se processam na mente. Ao mesmo tempo a arte passa a ser
vista apenas como algo a ser contemplado, fruído no outro - na obra do outro -
sem admitir que não vejo o outro senão pela experiência que realizo, colho e
processo.
Julgamos também que se menospreza a capacidade conceitual ou
racional que se aplica na elaboração técnica das artes ou dos jogos. Mas, sem
reduzir ao caráter do conceitual ou racional em que se revestem os processos
de produção da arte, poderíamos também indagar: onde fica a estética, que
também perpassa os discursos conceituais na educação.
Parece-nos que há um preconceito quanto às considerações do
estético, quando se sabe que todas as ações humanas estão permeadas pela
forma estética. Ou seja, em outras áreas do conhecimento se releva o valor da
estética, como no ensino da língua, da geografia e outras tantas ciências.
Porque então se perguntar do valor da arte?
Parece-nos, no entanto, que não há uma falsa compreensão do que seja o
estético em geral, pois admitir essa pergunta seria o mesmo que se interrogar
para que serve o conhecimento. Ocorre que, numa sociedade de extremado
culto ao valor utilitário e imediatista do saber, a educação estética fica
desarticulada face aos maiores interesses pelo conhecimento e criação que
objetivem a produção econômica.
Por outro lado, não se destaca nas diversas disciplinas escolares o
estético ali contido. Não se ressalta a estética criadora da literatura, não se
propugna por um ensino criador literário, não se sublinha a estética do desenho
geométrico, da expressão cênica, da apreciação estética dos relevos
geográficos, e assim por diante. O estético na verdade parece ficar locado
apenas nas obras de arte, no seu conjunto histórico, o que fica distante do
aluno.
Talvez estas indagações é que tenham levado o nosso sistema
educacional a não o considerar de forma equilibrada e séria dentro do currículo
escolar, tanto quanto sua experiência em arte e no seu próprio jogo. Ao mesmo
tempo é necessário que se reconheça que a educação por essência tem como
preocupação a criação de novos saberes e assim de novas estéticas. Para
52

reforçarmos este caráter da estética presente na educação, observemos esta


referência dada por Walter Garcia ao pensar o sentido da palavra educação:
“No sentido primitivo, a palavra educação tem suas origens nos verbos
latinos educãre (alimentar, amamentar, criar), com significado de algo que se
dá a alguém, e educere, que expressa a idéia de conduzir para fora, fazer sair,
tirar de. Nesta acepção, educação representa um ato a desenvolver, de dentro
para fora, algo que está no indivíduo.... O sentido educere sugere a libertação
de forças latentes e que dependem de estimulação para virem à tona.
Estes dois sentidos têm marcado as teorias e práticas pedagógicas
de tal forma, que podemos afirmar, sem medo de incorrer em imprecisões, que
os conceitos de educação tradicional e de educação nova, estão fortemente
impregnados desta ambigüidade semântica.
Com efeito, podemos observar que a educação tradicional tem entre
seus componentes mais importantes, o fato de que os grandes problemas
estão voltados para o professor, para o programa, para a disciplina, enfim, para
algo que é exterior ao educando.... A educação nova se identifica, pois, mais
diretamente com o sentido de educere, uma vez que os limites da ação
educativa representam algo eminentemente pessoal e dependem das
possibilidades de cada um, conforme os estímulos adequados que
receba.”(GARCIA,1975).
A dimensão dada por W. Garcia nos leva a entender que a expressão
artística reside na concepção de educere, sem que com isso não se encontre
dentro de educare outros parâmetros da educação estético, como aqueles
valores já consagrados pela história da arte, e que assim estabelecidos,
passam a constituir algo já externado e que poderá se consubstanciar em
conteúdos de um educare. Além do que, educar além de comportar o formar e
informar, também compreende criar.
53

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização desta pesquisa justificou-se pelo fato de apesar das


várias propostas e ações existentes no âmbito da Educação, como projetos
educacionais, simpósios, seminários, programas de governo, percebe-se que
os resultados continuam insatisfatórios, o que demonstra a necessidade de
mudanças no contexto educacional, sendo assim, o professor torna-se um dos
principais, senão o mais importante protagonista dessa mudança. Portanto, sua
formação e sua prática têm sido motivos de estudos.
Sendo assim, deve aceitar que a brincadeira e o lúdico apresentam
valores específicos para todas as fases da vida humana. Na idade infantil e na
adolescência a finalidade é essencialmente pedagógica. A criança e mesmo o
jovem opõem uma resistência à escola e ao ensino, porque acima de tudo ela
não é lúdica, não é prazerosa.
Estudos demonstram que através de atividades lúdicas, o educando
explora muito mais sua criatividade, melhora sua conduta no processo de
ensino-aprendizagem e sua auto-estima. O indivíduo criativo é um elemento
importante para o funcionamento efetivo da sociedade, pois é ele quem faz
descoberta, inventa e promove mudanças.
54

Almeida (1998) nos diz: “A função da pedagogia” dos conteúdos “é dar


um passo à frente no papel transformador da escola, mas á partir de condições
existentes. Assim, a condição para que a escola sirva aos interesses populares
é garantir a todos um bom ensino, isto é, a apropriação dos conteúdos
escolares que tenham ressonância na vida dos alunos”.
A escola passou a difundir um ensino enciclopédico, imaginando
quanto mais conteúdos passassem, mais os alunos se desenvolveriam, o que
não é verdade. Para serem assimiladas, as informações devem fazer sentidos.
Isso se dá quando elas incidem, no que Vygotsky (2001) chamou de zona de
desenvolvimento proximal, a distância entre aquilo que a criança sabe fazer
sozinha (o desenvolvimento real) e o que é capaz de realizar com ajuda de
alguém mais experiente (o desenvolvimento potencial). Assim, o bom ensino é
o que incide na zona proximal.
Neste sentido, o verdadeiro da educação lúdica, só estará garantido
se o professor estiver preparado para realizá-lo e ter um profundo
conhecimento sobre os fundamentos da mesma. Assim podemos perceber que
o lúdico apresenta uma concepção teórica profunda e umas concepções
práticas, atuantes e concretas.
Não podemos desconhecer as relações existentes entre o lazer, a
brincadeira, a escola e o processo educativo, eles são pares ou encadeados..
A versatilidade do lúdico, isto é, a possibilidade de variar de acordo com os
momentos, facilita uma participação ativa e tranqüila das crianças.
O lúdico tem sido pouco explorado como forma de ensino na
Educação Infantil, mas a exigência deste trabalho é necessária para inovação e
o crescimento da educação. Despertar o desejo pelo ensinar com consciência,
pois ensinar exige organização e dedicação, o educador esta sempre dando o
primeiro passo e é ele que irá servir de facilitador do aprendizado e com este
trabalho estou buscando a melhor forma de despertar o interesse da criança
pelo conhecimento, acreditando que este possa ser o ‘caminho’.
No entanto, ainda hoje, na visão do educador a brincadeira e o
estudo ocupam momentos distintos na vida das crianças. O recreio foi feito
para brincar e a sala de aula para estudar. Cabe a outro profissional o papel de
interagir com o aluno em uma brinquedoteca, e o parque, é apenas um
55

momento de descanso dos afazeres escolares ou para distrair a turma, muitas


vezes com brinquedos inadequados à idade e longe do alcance das crianças.
O lúdico perde com isso seus referenciais e seu real significado,
acompanhando as exigências de uma sociedade tecnológica, que exige um
homem cada vez mais capaz de responder ao mercado de trabalho, onde a
competitividade é a realidade, cada vez mais cedo, e um indivíduo produtivo é
o que se espera.
Esta pesquisa possibilitou verificar a distância que existe entre o
discurso e a prática concreta em sala de aula. Vale ressaltar que, se não
houver uma continuidade nos estudos, não haverá uma contínua construção do
conhecimento.
Devemos continuar afirmando que ao brincar, as crianças de alguma
forma “sabem” que estão se expondo porque, ali, elas atuam representando as
situações que as afligem. Pode ser brincar de casinha, criação e prática de
histórias e contos de fadas, desenho, pintura, modelagem, etc..
Como coloca toda a sua energia, atenção e emoção na brincadeira, a
criança sabe que está como que “transparente” ao olhar do outro. Brincar é
uma forma de linguagem tão clara para ela que pensa ser, o seu significado,
compreensível também para os outros.
É por essa razão que, às vezes, ela pode pedir para que não mostre
seus desenhos aos pais. Pode ser, um desenho que ela fez de sua família, no
qual ela desenhou o pai afastado no canto da página e em tamanho menor. A
sua obra pode estar denunciando dificuldades de relacionamentos na família,
as quais ela não se sente autorizada a abordar e com as quais não sabe lidar.
Desse modo, não pode expressá-las e pede a cumplicidade para mantê-las em
segredo. Ela não está contando uma história adequada através da fala, como
faria um adulto, mas reproduz uma cena bastante conhecida sua. Cabe a nós
investigar, averiguando tratar-se de identificação com personagens de outras
histórias, como dos filmes na tv ou de histórias em quadrinhos ou se retrata a
sua própria personalidade.

A maioria das crianças adere facilmente à prática das expressões de


suas qualidades e pensamentos e adquire, confiança suficiente para se expor,
brincando livremente. Outras, porém, por várias motivações esquivam-se
56

dessas atividades, preferindo brinquedos cujo grau de exposição é muito


menor, em que as regras e o comportamento são previamente determinados,
reduzindo bastante o grau de sua exposição. Mas, pela porta da criatividade o
que importa é que o contato com a emoção aconteça.

O processo vai dando-se à medida que a criança compartilha sua


dor, anseios e experiências traumáticas de uma maneira mais livre de crítica,
sem autocensura. Permite que a criança se autodirija praticamente o tempo
todo, sentindo-se livre para realizar a atividade que preferir e expressar-se do
modo que lhe for mais conveniente, consciente de que não será criticada por
nada que se refira ao seu modo de ser.

Elas se sentem satisfeitas por saberem que tudo é permitido, razão


porque aquele espaço passa a ser sinônimo de liberdade de expressão. A
participação dos pais nesta fase é bem mais ativa é necessária do que se
pensa. Os pais não podem ser apenas observadores, precisam facilitar a
interação, seja oferecendo idéias no início, seja em algumas fases da criação
(por exemplo, a criança pode estar disposta a ditar a história ao invés de
escrevê-la de próprio punho).

A participação dos pais é fundamental para o sucesso, porque eles


estão, invariavelmente, ligados ao quadro de desenvolvimento da criança. É
que a criança, em geral, é reflexo da dinâmica familiar. Daí a importância do
envolvimento dos pais, para que se possa orientar a criança, recebendo dela
os requisitos necessários. Ao perceber valorizada sua produção dentro da
família, principalmente, a criança vai ganhando autoconfiança e maior
desenvoltura, vai melhorando e se apropriando de si próprio, num clima de
criatividade e entusiasmo pela atividade que desenvolve.

Lúdico é qualquer atividade que executamos e nos de prazer, que


tenhamos espontaneidade em executá-la. Quando fazemos porque queremos,
pôr interesse pessoal. Isto se refere tanto à criança quanto para o adulto, e ai
que começamos a perceber a possibilidade, a facilidade de se aprender,
quando estamos brincando, pois na atividade lúdica como na vida há um
grande número de fins definidos e parciais, que são importantes e sérios,
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porque consegui-los é necessário ao sucesso e, conseqüentemente, essencial


a satisfação que o ser humano procura, a satisfação oculta, neste caso seria o
de aprender.
A recreação (lúdico) é uma ocorrência de todos os tempos, é parte
integrante da vida de todo o ser humano, mas também é um problema que
surge e deve ser estudado e orientado como um dos aspectos fundamentais da
estrutura social.

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