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Dissertação Planejamento Estratégico em Organizações Públicas de Pernambuco
Dissertação Planejamento Estratégico em Organizações Públicas de Pernambuco
RECIFE, 2019
UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO E DIREITO DE PERNAMBUCO
COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL
RECIFE - PE
2019
MURILO HENRIQUE ALVES BAIHÉ
BANCA EXAMINADORA:
___________________________________________________________
Prof. Dr. José Luiz Alves
Examinador Interno - UPE
___________________________________________________________
Profª. Dra. Simone Ferreira Teixeira
Examinadora Interna - UPE
___________________________________________________________
Prof. Dr. Igor Lapsky
Examinador Externo – UPE
AGRADECIMENTOS
This research aims to identify the challenges of implementing the strategic planning process in public
organizations of the Government of Pernambuco. The strategic planning is a management tool that
began to be adopted by the Brazilian public sector from the decade 1980 and disseminated with greater
intensity in the years 2000. In the Government of Pernambuco, there was a first contact with strategic
planning in 2003, in the scope of the Progestão program, however, this study analyzed only the second
experience of the Government with the strategic planning that was initiated from 2015 with the
formation of a team of government managers with exclusive assignments to develop strategic planning
in a the internal consulting model of SEPLAG for the other State organizations. The data were
collected through interviews, questionnaires and focal groups, listening to both the SEPLAG team and
the sector management, as well as the representatives of the eight partner organizations that were
responsible for the implementation of the planning. As a result of the study, 27 challenges were
mapped into six main categories: (I) planning and management culture; (II) Strategic alignment of the
Government; (III) server resistance; (IV) political factors; (V) financial resources and (VI) leaders of
organizations.
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 14
1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................. 19
1.1 ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO PÚBLICA .................................................................................... 19
2 METODOLOGIA ........................................................................................................... 94
2.1 NATUREZA E TIPO DA PESQUISA ............................................................................................ 94
INTRODUÇÃO
A gestão pública tem passado por grandes transformações nas últimas décadas em
decorrência das grandes mudanças econômicas, tecnológicas e sociais pelas quais o mundo
passou e vem passando atualmente. As demandas se avolumaram, tornaram-se mais
complexas e cresceram as pressões sociais por mais e melhores serviços públicos.
O crescimento acelerado das atribuições do Estado sem uma contrapartida em
melhoria da capacidade da gestão das suas organizações, levou as instituições públicas a se
tornaram alvo de desconfiança por parte cidadãos devido à ineficiência, a baixa qualidade e o
excesso de burocracia na prestação dos serviços públicos.
Diante desse cenário crítico, se fazia necessário uma resposta à altura por parte dos
Governos, era preciso dotar o Estado de uma maior capacidade de gerar resultados, era
necessário encontrar novos métodos e ferramentas de gestão que fossem capazes de
transformar uma cultura de gestão rígida e burocrática em uma cultura mais dinâmica,
inovadora e empreendedora, tornando o setor público mais responsivo às demandas sociais.
É nessa busca por novas soluções gerenciais que pudessem aumentar a capacidade de
gestão do setor público, que o planejamento estratégico passa a ser adotado, impulsionado
pela nova onda de reformas gerenciais do Estado que ocorreu a partir da década de 1980, com
o movimento chamado de Nova Gestão Pública.
De agora em diante, para simplificar o texto, o termo planejamento estratégico
também poderá ser abreviado como “Pest”.
Os primeiros registros da utilização do Pest em organizações públicas brasileiras
datam da década de 1980, com o planejamento do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social – BNDES em 1983.
Há pelo menos três décadas, percebeu-se que uma gestão pública sem planejamento
superior que a envolva, dificilmente conseguiria promover as mudanças profundas em termos
da eficácia e da efetividade das políticas públicas em seu conjunto e obter resultados em certa
medida mais eficientes para o conjunto da ação estatal (CARDOSO JR, 2015).
O planejamento estratégico é algo que deve ser feito antes da ação, ou seja, uma
tomada antecipada de decisão. Trata-se de um processo de decidir o quê fazer e como fazê-lo,
antes que se processe uma ação. Planejamento é necessário quando a consecução do estado
futuro que desejamos envolve um conjunto de decisões interdependentes, isto é, um sistema
de decisão (ACKOFF, 1982).
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1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
mundo contemporâneo, o Estado como regime político assumiu a forma de estado social e,
como aparelho ou organização, a de estado gerencial (BRESSER-PEREIRA, 2017).
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe - CEPAL (2017) afirma que
o Estado deve ser orientado para o desenvolvimento inclusivo e sustentável, ter a capacidade
de formular e implementar estratégias para alcançar metas econômicas, sociais e ambientais,
apoiando-se sobre instituições públicas eficientes e eficazes que operam com probidade,
transparência e um alto grau de prestação de contas. Deve ter a capacidade de formular e
implementar estratégias envolvendo atores dentro e fora do Estado.
Complementando as atribuições definidas pela CEPAL, Weaver e Rockman (1993
apud BID, 2007, p. 132), propõe uma lista com dez principais atividades do Estado:
1. Definir e manter prioridades entre as muitas demandas conflitantes;
2. Direcionar recursos para onde eles sejam mais eficazes;
3. Inovar quando as políticas existentes tiverem falhado;
4. Coordenar objetivos conflitantes num todo coerente;
5. Ser capaz de impor perdas a grupos poderosos;
6. Representar interesses difusos e desorganizados além daqueles que são
concentrados e bem organizados;
7. Assegurar a implementação efetiva das políticas governamentais uma vez que elas
tenham sido decididas;
8. Assegurar a estabilidade das políticas para que elas tenham tempo para surtir efeito;
9. Assumir e manter compromissos internacionais nas áreas de comércio e defesa
nacional para assegurar o bem-estar duradouro do Estado;
10. Administrar cisões políticas para que a sociedade não degenere em guerra civil.
O Estado organiza o seu poder político por meio do Governo, que é o grupo dirigente
do Estado. O Governo implica uma atividade de ordem superior referida à direção suprema e
geral do Estado em seu conjunto, dirigida a determinar os fins da ação do Estado
(MARINELA, 2014).
Governar é a condução política dos negócios públicos, expressão política de comando,
de iniciativa, de fixação de objetivos do Estado. É a atividade política discricionária,
representando uma conduta independente do administrador, sem responsabilidade profissional
pela execução, que é o papel natural da administração (MARINELA, 2014).
O Governo tem como característica principal a face política de comando, de iniciativa,
de fixação de objetivos do Estado e da manutenção da ordem jurídica vigente (MATIAS-
PEREIRA, 2012).
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gerencial que ganhou pujança, sendo adotado como horizonte de mudança (ABRUCIO, 1997;
FILGUEIRAS, 2018)
Esse apelo gerencial só passou a ganhar força efetivamente a partir dos anos 70,
quando tem início a crise do Estado, que levará à crise também da sua burocracia. Em
consequência, nos anos 80, inicia-se uma grande revolução na administração pública de vários
países em direção a uma administração pública gerencial (ABRUCIO, 1997; BRESSER-
PEREIRA, 1996).
Para Bresser-Pereira (2017), a reforma gerencial foi uma decorrência inevitável e um
mecanismo de legitimação do Estado social, conquista definitiva das sociedades modernas. A
constituição do Estado social implica um grande aumento do tamanho da organização estatal,
que por sua vez exige que a sua gestão seja mais eficiente. A reforma gerencial, ao contribuir
para essa maior eficiência ou redução de custos, tem um papel importante na legitimação das
ações do Estado.
Para responder ao esgotamento do modelo burocrático, foram introduzidos, em larga
escala, padrões gerenciais na administração pública, inicialmente e com mais vigor em alguns
países como Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos, movimento que
recebeu o nome de New Public Management – NPM ou Nova Gestão Pública – NGP. No
Brasil, esse movimento foi chamado de reforma gerencial ou modelo gerencial e teve seu
marco principal em 1995 com a publicação do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do
Estado (REZENDE, 2002; BRESSER-PEREIRA, 1996; ABRUCIO, 1997; POLLIT, 2002).
A Nova Gestão Pública apresentou-se com o objetivo de fazer a Administração
Pública operar com a lógica gerencial da administração privada e assim ganhar mais
eficiência, reduzir custos e obter maior qualidade na prestação dos serviços públicos
(ABRÚCIO, 1997; MOTTA, 2013; FILGUEIRAS 2018).
Foram três forças que direcionaram as reformas do serviço público a partir da
redemocratização da década de 1980 (VAZ, 2006, p.37):
1. A necessidade racionalização do uso de recursos crescentemente escassos;
2. A demanda por um novo patamar de qualidade dos serviços;
3. E a pressão da sociedade por participação, transparência e controle social sobre as
ações dos agentes públicos.
Pollitt (2002) aponta dois motivos mais fortes para as reformas administrativas:
I. Economizar, cortar custos de bem-estar social frente às decrescentes possibilidades de
criação de novos impostos;
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1.3 ESTRATÉGIA
A origem da estratégia na esfera militar está entre as mais antigas literaturas contínuas
do mundo:
Strategos referia-se, inicialmente, a um papel (um general no comando do exército).
Posteriormente passou a significar “a arte do general”, ou seja, as habilidades
psicológicas e comportamentais com as quais exercia o seu papel. Ao tempo de
Péricles (450 a.C), passa a significar habilidades gerenciais (administração,
liderança, oratória, poder). E ao tempo de Alexandre (330 a.C), referia-se à
habilidade de empregar forças para sobrepujar a oposição e criar um sistema
unificado de governo global (EVERED, 1980 apud QUINN, MINTZBERG, 2001,
p. 20).
Carl Von Clausewitz, general prussiano que lutou nas guerras napoleônicas e tonou-se
diretor da escola de guerra da Prússia em 1818, enfatizou a diferença entre estratégia (o plano
geral) e tática (o planejamento de uma parte específica do plano geral, como uma batalha).
Também introduziu a ideia de objetivos estratégicos globais denominados por ele de “grande
estratégia” (CRAINER, DEARLOVE, 2014).
Até 1850 o termo estratégia foi associado apenas a interpretações militares, e mesmo
na revolução industrial pouca importância teve para os negócios, tendo em vista que, os
mercados estavam em formação e a demanda era crescente. Com a formação de mercados de
massa, a demanda por mudanças significativas nas empresas e nos mercados fez surgir à
necessidade do conhecimento estratégico associado aos negócios, de uma forma ou de outra,
todas as empresas tiveram que se interessar por estratégia, a fim de entender a melhor forma
de se organizar e concorrer no novo mercado (DECOURT, 2012).
Do campo militar e político, a estratégia migrou para o organizacional buscando fazer
frente às contínuas mudanças econômicas, sociais, políticas em um mercado cada vez mais
instável, competidor e ávido por eficiência e resultados (PEREIRA, 2006; MOTTA, 1997).
O conceito de estratégia começou a ser usado em administração na década de 1950,
com intuito de incutir nas empresas uma nova perspectiva de futuro, buscando alternativas de
onde e como expandir sua atuação e melhorar seu desempenho. As exigências de uma nova
época não eram mais compatíveis com a visão tradicional da empresa, de garantir a
sobrevivência por meio de objetivos limitados e ações adaptativas e de curta duração
(MOTTA, 1997).
Em seguida, a discussão sobre o tema foi bastante destacada por volta de 1960, com
autores como Igor Ansoff e Alfred Chandler, e consagrada nas últimas décadas do século XX,
por autores como Henry Mintzberg e Michael Porter (SILVA, GOLÇANVES, 2011).
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Para Chandler (1962), a estratégia é a determinação dos objetivos e das metas básicas
em longo prazo de uma organização, bem como a adoção de cursos de ação e alocação de
recursos necessários à consecução dessas metas.
Ansoff e McDonnell (1993, p. 70) definem estratégia como um conjunto de regras de
tomada de decisão para orientação do comportamento de uma organização. Os autores
apresentam quatro tipos distintos de regras:
1. Padrões pelos quais o desempenho presente e futuro da empresa são medidos, em
termos qualitativos, esses padrões são chamados de objetivos e em termos
quantitativos são chamados de metas;
2. Regras para desenvolvimento da relação com seu ambiente externo: que produtos
serão desenvolvidos, onde e para quem os produtos serão vendidos, como a empresa
conquistará alguma vantagem sobre seus concorrentes;
3. Regras para o estabelecimento das relações e dos processos internos na organização:
chamadas de conceito organizacional;
4. Regras pelas quais a empresa conduzirá suas atividades do dia a dia: chamadas de
políticas operacionais.
Mintzberg (2001) afirma haver várias definições para a palavra estratégia e apresenta a
definição do termo por meio de cinco P’s – plano, pretexto, padrão, posição e perspectiva.
Como plano, a estratégia é feita de forma deliberada, é um curso de ação
conscientemente engendrado, uma diretriz para lidar com uma determinada situação. Sendo
preparada previamente às ações para as quais se aplicam.
Como pretexto, a estratégia pode ser apenas uma “manobra” específica com a
finalidade de enganar o concorrente ou o competidor, enfocando a estratégia em aspectos
mais dinâmicos e competitivos.
Como padrão, a estratégia é um fluxo de ações, é a consistência no comportamento,
quer seja pretendida ou não. Podendo ser resultantes ou não de planos realizados. Quando há
ausência de intenções em realizar determinada estratégia, os padrões como estratégias
emergentes.
Como posição, a estratégia é uma maneira de posicionar a organização em seu
ambiente, como uma força de mediação ou harmonização com entre a empresa e o seu
ambiente externo.
Como perspectiva, o conteúdo da estratégia não é apenas uma posição escolhida, mas
uma maneira enraizada de ver o mundo. Nesse aspecto, a estratégia é para a organização o
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evitar surpresas por parte dos oponentes, desenvolver a logística necessária para apoiar
suas investidas, além de usar coalizões de maneira eficiente.
Hafsi e Martinet (2008) comparam a estratégia a uma arte feita de arbitragens e
ponderações entre critérios diversos nos quais se fazem escolhas e compromissos que
permitem realizar uma trajetória de desenvolvimento singular, conservando ao mesmo tempo,
graus de liberdade suficientes e riscos aceitáveis.
Mintzberg (2004) chama atenção para um tipo de estratégia não abordado pela
literatura de planejamento, a estratégia emergente – na qual o padrão realizado não foi
expressamente pretendido pela organização, mas surgiu de forma natural durante a execução
da estratégia deliberada. Poucas estratégias podem ser puramente deliberadas (se é que
alguma pode) e poucas, puramente emergentes. Uma sugere aprendizado zero, a outro
controle zero. No mundo real, todas as estratégias precisam misturar as duas de alguma forma,
algumas organizações perseguem o que o autor chamou de estratégias guarda-chuva, em que
as linhas gerais são deliberadas ao passo que os detalhes são deixados para emergir dentro
delas.
No caso da estratégia emergente, não cabe falar em formulação, mas em formação,
porque as estratégias podem se formar sem serem formuladas. Elas podem nascer de qualquer
pessoa, de pequenas ideias, de lugares e momentos inesperados. Qualquer pessoa da
organização pode se revelar um estrategista se tiver uma boa ideia, liberdade e recursos para
segui-la. Às vezes, isso pode ser ruim para organização, à vezes não, exatamente como em
comportamentos que são planejados com cuidado (MINTZBERG, 2004).
A formação da estratégia deve ser um processo contínuo, as estratégias intencionadas
correntes sempre estarão sendo desafiadas por novas estratégias emergentes, que poderão
acabar se tornando as novas estratégias intencionais ou então virem a ser acomodadas dentro
da estratégia intencionada em curso. Logo, em se tratando de estratégias emergentes e
deliberadas, o modo clássico de desenvolver estratégia em um processo periódico e formal de
planejamento estratégico, já não é mais suficiente para lidar com as novas situações
(MARIOTTO, 2003).
A estratégia é o conjunto de decisões fixadas em um plano ou emergente do processo
organizacional, integradas num todo interdependente. Portanto, a estratégia pode ser tanto
cursos de ação definidos a priori como um conjunto de resultados definidos a posteriori
(MOTTA, 1997).
Silva e Gonçalves (2011) arrematam o assunto afirmando que na coleção de
estratégias possíveis, há as deliberadas, as emergentes e a não decisão completa o conjunto,
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ou seja, a decisão estratégica não é apenas o que a organização pretende fazer, mas também o
que a organização decide não fazer.
Com base na visão dos autores citados, a estratégia pode ser entendida como um meio
de mobilizar as forças de uma organização da forma mais eficiente possível para a consecução
de determinados fins da maneira mais eficaz.
A estratégia deve ser forte sem deixar de ser flexível, deve ser definida previamente
sem deixar de abrir espaço (e até incentivar) a criação de estratégias emergentes durante a
execução, ela deve ser maleável, claramente definida e orientar todos os esforços da
organização.
É preciso entender que a estratégia não tem um conceito único, ela pode ser
interpretada de diversas formas, como plano, posição, perspectiva, padrão, pode incluir a
definição de metas, políticas, providências, devem mobilizar recursos, liderança, sistemas.
Toda organização, seja pública ou privada, que pretenda ser bem sucedida, deve
investir tempo e recursos para a criação, manutenção e atualização de boas estratégias. Deve
ampliar sua visão para uma visão estratégica do seu ambiente, deve promover o alinhamento
dinâmico dos seus componentes objetivos (estrutura, produtos e serviços) e subjetivos
(comprometimento, visão de mundo, valores, posicionamento) a fim de alcançar melhores
resultados.
estamos fazendo o que concordamos que devemos fazer e se estamos alcançando os efeitos
que queremos? (BRYSON, 2009).
Estas questões socráticas permeiam a dinâmica organizacional continuamente, fazem
parte da estratégia organizacional, não são apenas questões definidas pontualmente e mantidas
imutáveis por longos períodos, mas elementos maleáveis que se moldam de acordo com as
mudanças do ambiente interno e externo da organização.
Deve-se criar nas organizações a ideia de planejamento e avaliação como dimensões
contínuas e sistemáticas de ações e reações a provocações ambientais e não mais como algo
ocasional, rotativo e de periodicidade regular: anual, bianual etc. (MOTTA, 1997).
O ponto de partida do planejamento é a premissa de que o ambiente está em constante
mutação e turbulência, exigindo um processo contínuo de formulação e avaliação de
objetivos, baseado em fluxo de informações sistemáticas sobre as transações entre ambiente e
organização, que determinam possíveis variações no senso de missão socioeconômica da
empresa (MOTTA, 1997).
O planejamento estratégico busca retirar a organização de uma condição passiva e
reativa para uma condição proativa de ir buscar as vantagens competitivas e não apenas
esperar elas aconteçam. Foi o que Motta (1997) defendeu ao afirmar que o planejamento se
volta para o alcance de resultados por meio do processo contínuo de antecipar mudanças
futuras, tirando vantagens das oportunidades que surgem, examinando os pontos fortes e
fracos da organização, estabelecendo e corrigindo cursos de ação a longo prazo.
O planejamento pode ser classificado também como um processo de reflexão, de
tomada de decisão sobre a ação, de busca de equilíbrio entre meios e fins, entre recursos e
objetivos, visando ao melhor funcionamento de empresas, instituições e setores de trabalho
(PADILHA, 2001).
A palavra planejamento nada mais é do que um método integrado, formal e
sistemático de tomar decisões que buscam assegurar que as organizações possam alcança o
seus objetivos (CHIAVENATTO, 2011)
Almeida (2005) acredita que é por meio do planejamento estratégico que uma
organização procura ordenar suas ideias, caminhos a serem seguidos, suas ações para que,
sem desperdícios de recursos, caminhem na direção almejada.
Yamaguti (2006) define planejamento estratégico como uma técnica administrativa
que, por meio da análise ambiental da organização, cria a consciência das suas oportunidades
e ameaças dos seus pontos fortes e fracos para o cumprimento da sua missão e, por meio desta
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ambiência instável
Percepção
sobre controle Possibilidade de Possibilidade de
Falta de controle
de fatores domínio domínio parcial
externos
Por previsibilidade Por visão
Tratamento do Por crença acentuada
de alguns fatores antecipatória e
futuro na imprevisibilidade
ambientais prospectiva
Perspectiva Crescer, inovar e Inovar, adaptar,
gerencial Crescer adaptar-se ao sobreviver e limitar o
básica ambiente crescimento
Pressões crescentes
Influência de Relativamente imune para Dependente de
fatores sociais a pressões sociais responsabilidade critérios sociais
social
Fonte: Adaptado de MOTTA (1997, p. 89)
A gestão estratégica é apontada por vários autores como o último estágio de evolução
do planejamento estratégico. Para entendimento deste trabalho, será utilizada a abordagem de
Motta (1997), na qual ele afirma que administração estratégica e planejamento estratégico são
conceitos que se confundem no dia a dia da vida organizacional, sendo sinônimos quanto à
sua utilidade.
A administração estratégica surge não tanto para introduzir novidades, como de fato
veio a ocorrer, mas para reafirmar mudanças na prática do planejamento estratégico, já
proposto anteriormente. Embora o conceito de planejamento estratégico já englobasse toda a
visão estratégica que se queria incorporar à empresa, inclusive o conceito de globalidade, os
preconceitos quanto ao uso do planejamento obstaram o emprego adequado da ideia
(MOTTA, 1997).
O conceito de administração estratégica busca recuperar e reforçar a ideia de
globalidade na perspectiva organizacional. Amplia o pensamento estratégico para as áreas
funcionais, ajudando assim a eliminar e diminuir a visão segmentada e setorial na criação do
futuro organizacional e a ênfase burocrática do sistema de planejamento (MOTTA, 1997).
A administração estratégica surgiu na década de 80 como uma abordagem sistemática
da gestão de mudanças, que envolve o planejamento das potencialidades, procurando
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Pfeiffer (2000) afirma que independente das caraterísticas individuais de cada setor, as
funções básicas do planejamento estratégico são as mesmas: facilitar e melhorar a
comunicação entre os membros da organização e os seus parceiros; facilitar e estimular a
participação dos stakeholders; conciliar os diversos interesses internos e/ou externos e
garantir a implementação de medidas.
Embora existam distinções importantes a serem feitas, a gestão no setor privado e no
setor público são mais semelhantes do que diferentes. Em qualquer organização complexa, a
definição de propósitos, objetivos, planejar, organizar, selecionar gerentes, gerenciar e
motivar pessoas, controlar e medir resultados e usar uma variedade de técnicas analíticas
gerenciais de resolução de problemas são essenciais. Esses elementos são relevantes em
qualquer organização complexa e são aspectos comuns de um processo de gestão universal ou
genérico, seja no setor privado ou público (MURRAY, 1975).
A gestão seria como um processo universal, sob o ponto de vista do processo, a gestão
pode ser definida como qualquer atividade ou comportamento preocupado principalmente
com os meios para realizar fins prescritos. Embora os fins do setor empresarial e do setor
público sejam diferentes, muitas vezes os meios para atingir esses fins são bastante
semelhantes (MURRAY, 1975).
Sistemas de gestão estratégica são potencialmente aplicáveis a organizações públicas
porque independentemente da natureza da organização em particular, os gerentes devem
coordenar pelo menos alguma tomada de decisão entre níveis e funções e se concentrar na
implementação das estratégias para cumprir sua missão (BRYSON, 2017).
Johanson (2009) vai ao encontro desse pensamento ao afirmar que não interessa em
qual setor está inserida a organização, estratégia é propósito, direção e objetivo em qualquer
setor, e isso é importante tanto no setor público, quanto no setor privado.
O planejamento estratégico no setor público consiste em examinar a situação atual e a
trajetória futura de uma organização ou comunidade, definindo objetivos, desenvolvendo a
estratégia para atingi-los e avaliando resultados. O planejamento estratégico permeia a cultura
de uma organização, criando quase um sentido intuitivo dos objetivos a alcançar e das
prioridades implicadas (OSBORNE, GAEBLER,1994).
As abordagens de planejamento estratégico desenvolvidas no setor privado podem
ajudar os governos e as agências públicas a se tornarem mais eficazes, fornecendo um
conjunto de conceitos, procedimentos e ferramentas que podem ajudar o setor público a lidar
com as recentes mudanças dramáticas em seus ambientes (BRYSON, 1987).
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Atualmente, inúmeras instituições, tanto do setor privado como público, lançam mão
do planejamento estratégico com o objetivo de delinear rumos para o futuro (FREITAS
FILHO, 1989). O desenvolvimento das técnicas de planejamento estratégico permite atender
às solicitações da sociedade por maior eficácia e eficiência na gestão organizacional,
especialmente no caso da gestão pública (MARCELINO, 2002).
As organizações públicas podem se engajar em planejamento estratégico por vários
motivos, seja porque todo mundo faz isso; seja porque são forçados a fazer isso; acham que
fazer planejamento estratégico ajuda a marcar sua organização como profissional e legítima;
mas talvez um argumento mais plausível seja o de que as organizações podem se engajar em
planejamento estratégico porque acham útil como uma maneira de saber o que devem fazer,
como devem fazê-lo, com quem, onde, quando e por que (BRYSON, 1987).
A etimologia de estratégico remete à arte da guerra – exército (stratos) e condução
(ageîn), no setor público, esse conceito deve ser aplicado, metaforicamente, à guerra contra o
subdesenvolvimento, com a mobilização, pelo Estado, de recursos humanos e materiais para a
transformação estrutural da sociedade e economia com vistas ao desenvolvimento do país
(CANDEAS, 2015).
Ambos os setores, público e privado, precisam travar suas “guerras” para cumprir suas
missões, a guerra travada no setor público não é pelo lucro financeiro, mas pela melhoria da
sociedade como um todo. O planejamento estratégico é uma ferramenta que ajuda tanto as
organizações públicas como as privadas a se prepararem e lutarem melhor as guerras que
precisam enfrentar diariamente.
Llewellyn e Tappin (2003) relacionam o surgimento do conceito de estratégia no setor
público à necessidade de uma gestão melhor e mais transparente. Puppim (2006)
complementa, afirmando que o processo de planejamento tornou-se um processo de decisão
política que depende de informações precisas, transparência, ética, temperança, aceitação de
visões diferentes e vontade de negociar e buscar soluções conjuntamente que sejam aceitáveis
para toda a sociedade e principalmente para as partes envolvidas.
Segundo Moore (2002), o corpo docente da Kennedy School of Gogerment definiu
estratégia organizacional adaptada ao setor público como uma ideia que ao mesmo tempo:
(1) Estabelece o propósito ou a missão geral de uma organização (considerados em
termos de valores públicos importantes);
(2) Oferece um levantamento das fontes de apoio e legitimidade que se empregarão
para sustentar o compromisso de sociedade com a organização; e
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(3) Explica como a organização terá de se organizar e operar para cumprir os seus
objetivos enunciados.
O Tribunal de Contas da União (2015), ao recomendar o uso do planejamento
estratégico em organizações públicas, explica que para o cumprimento de sua missão, a
organização precisa estabelecer objetivos, definir a estratégia de atuação e dimensionar os
recursos necessários para garantir a eficácia de suas ações, com a entrega do resultado
esperado pela sociedade. Essas atividades formam a essência do planejamento estratégico,
cujo produto é um plano contendo os elementos que nortearão as ações da organização por um
determinado período, ou seja, a estratégia da organização para alcançar os objetivos
estabelecidos.
Para Moore (2002), a estratégia no setor público, para gerar valor, exige que o
administrator público alinhe de forma coerente, três elementos:
(a) a estratégia deve ser substantivamente valiosa, que gere produtos de valor, a baixo
custo em termos de dinheiro e autoridade;
(b) a estratégia deve ser legítima e politicamente sustentável, de modo que atraia apoio
político suficiente;
(c) a estratégia precisa ser operacional e administrativamente factível, no sentido de
que as atividades possam realmente ser implementadas pela organização com a ajuda de
outros atores.
O planejamento estratégico é uma das tecnologias gerenciais em ascensão na
administração pública, envolve práticas já legitimadas no setor privado e tem sido aplicado
com particular e crescente desenvoltura na esfera local de Governo. Apesar de o planejamento
possuir, no setor público, longa trajetória e instrumentos consolidados em instrumentos legais,
o planejamento estratégico inspirado em conceitos empresariais tem figurado como referência
inovadora (MATIAS-PEREIRA, 2012).
Pfeiffer (2000), ao analisar a aplicação do planejamento estratégico ao nível
municipal, alega que o planejamento estratégico visa substituir o pensamento estático da
administração pela ideia dinâmica do gerenciamento. O planejamento teria como propósito:
Por um lado, concentrar e direcionar as forças existentes dentro de uma
organização, de tal maneira que todos os seus membros trabalhem na mesma
direção;
Por outro lado, busca analisar o entorno da organização e adaptá-la a ele da
melhor forma, para que seja capaz de reagir adequadamente aos desafios que
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sobre os recursos e os distribuiria de acordo com plano se metas determinados por políticos
ou burocratas. Havia completa ausência de democracia na determinação do plano. Aqui
identificamos o perfil controlador do planejamento, um pouco da ideia que ainda permanece
no Brasil, onde o planejamento tem função controladora e é dominado por políticos e
burocratas, além do caráter governamental e econômico.
A partir das décadas de 1930, as esferas social e econômica são acopladas a vertente
espacial-urbanística do planejamento. Nesse período, além do avanço das ideias keynesianas
de forte intervenção estatal nas economias do mundo capitalista, começou a ganhar força
também a vertente de planejamento e políticas de desenvolvimento regional. Nessa época
ainda vigorava a lógica de planejamento como fazer planos para controlar o futuro, e um forte
papel governamental nas decisões do planejamento.
A partir dos anos 1950, surge a abordagem do mudling through que fomenta o debate
sobre a “compreensividade” e racionalidade controlada do planejamento. Nessa fase, o
planejamento era um processo incremental e não uma sequência linear de ações.
Reconheciam-se as limitações do planejamento em ter informações para prever e via-se no
planejamento um caráter de avançar pouco a pouco nas decisões e ações, e com isso lidar com
situações muitas vezes inesperadas e imprevisíveis, mas ele ainda era visto como um
instrumento técnico.
As transformações no conceito de planejamento continuaram a partir da década de
1970 em diante, o planejamento já não era mais tão visto como um instrumento técnico, mas
sim como um instrumento político para moldar e articular os diversos interesses envolvidos
no processo de intervenção de políticas públicas. O planejador passa a ser visto como um
mediador dos interesses da sociedade no processo.
Por fim, com o surgimento da chamada sociedade em rede, com um nível maior de
atores em constante interação, surge o planejamento colaborativo, um processo acoplado à
qualidade das interações entre os diversos atores envolvidos. O planejamento assim se
solidificou como um processo integrado às relações de confiança entre as diversas partes
interessadas e influenciadas pelas decisões. A ideia do aprendizado nas interações nos
processos de decisão passou a ser cada vez mais relevante.
De Toni (2014, p. 10), ao fazer um panorama histórico do planejamento no Brasil,
concluiu:
(1) O planejamento governamental no Brasil se confunde com a formação do Estado e
suas organizações, em especial, na construção de capacidade de produção e implementação de
políticas públicas;
55
17. O contexto atual de intensas mudanças faz com que as organizações tenham que
se adaptar rapidamente às alterações do ambiente em que atuam. No entanto, há
organizações que ainda atuam de maneira reativa, apenas respondendo às demandas
geradas por essas mudanças. Há gestores que ainda acreditam ser impossível definir
estratégias de ação devido à rapidez e à constância dessas mudanças.
18. Dentro desse cenário de instabilidade, o planejamento tem se tornado cada vez
mais importante e vital e deve ser construído de maneira flexível, com o
58
Em 2008, o TCU, por meio o acórdão nº 1603, itens 9.1.1 e 9.4.1, fortaleceu a
recomendação da disseminação do planejamento estratégico em organizações públicas
federais:
[...]
53%
mas devem ser apenas adotados como complementos e não como substitutos do planejamento
(MATUS, 1996).
escolher clientes dispostos a pagar mais, em organizações públicas o foco geral deve ser a
criação de valor para todas as partes interessadas relevantes (HANSEN, FERLIE, 2016).
Competitividade, market share e crescimento por meio de competição não são
elementos presentes na área pública (FERREIRA, et. al., 2013). As questões ligadas à
concorrência e às vantagens competitivas deixam de ser o foco, passando a ser a efetividade
dos serviços prestados à sociedade (SILVA, GONÇALVES, 2011).
Nesse sentido, Pereira (2006) complementa que pela ausência de competitividade nos
monopólios estatais e de outras formas de se mensurar desempenho, a percepção e o senso de
utilidade de adoção do planejamento estratégico, como usualmente aplicado em ambientes
competitivos, podem ser diferentes para o setor público.
Pfeiffer (2000) levanta que, apesar de não competir no mercado privado como regra, o
setor público está dentro de outros tipos de competições como, por exemplo, a competição
entre municípios quando passam a disputar economicamente entre si na tentativa de atrair
investimentos para aumentar a arrecadação fiscal.
Os quadros 3, 4 e 5 resumem a visão de três autores acerca das principais diferenças
entre os setores público e privado na ótica da gestão pública:
Arveson aponta uma semelhança entre os dois setores quanto ao resultado desejado de
“satisfação do cliente”, ressaltando que a definição de cliente é diferente nos dois casos.
Para vários autores, o conceito de cliente/consumidor deve ser substituído pelo de
cidadão, isto porque o conceito de cidadão é mais amplo, uma vez que a cidadania implica
direitos e deveres e não só liberdade de escolher os serviços públicos (STEWART, WALSH,
1992 apud ABRUCIO, 1997).
Segundo Abrucio (1997, p. 24) “O consumidor é, no mais das vezes, um cidadão
passivo”. A cidadania está relacionada ao valor de accountability, que demanda uma
participação ativa na escolha dos dirigentes, na etapa da elaboração das políticas e na
avaliação dos serviços públicos.
No quadro 5, Stewart e Ranson (1988) destacam as diferenças entre o modelo de
administração adotado na iniciativa privada e o adotado no setor público (apud ABRUCIO,
1997, p. 28):
O debate acerca dos setores público e privado é de longa data, muitos autores
defendam que a gestão do Governo deva ser mais parecida com a das empresas, embora os
Governos não possam alcançar o mesmo nível de eficiência de uma empresa privada, isso não
quer dizer que eles não possam se tornar mais empreendedores (OSBORNE, GAEBLE,
1994).
67
Talvez a mais fundamental distinção a ser feita entre a gestão pública e a privada
sejam as diferenças que derivam dos critérios legais. A atuação estritamente vinculada ao
critério legal é apontada como um forte limitador da autonomia dos gestores públicos (RING,
PERRY, 1985).
Em 1998, o Brasil definiu-se como um Estado Democrático de Direito, ou seja, adotou
o princípio básico do chamado estado de direito de vincular a administração pública às estritas
previsões legais, nesse caso, não existe plena autonomia da vontade quando está em pauta a
prática de um ato administrativo na esfera pública (DALLARI, 2000).
Na prática, isso quer dizer que enquanto para uma empresa privada é lícito fazer tudo
aquilo que a lei não proíbe, na gestão da coisa pública “só se pode querer o que sirva para
cumprir uma finalidade antecipadamente estabelecida em lei”. As leis são único instrumento
hábil para criar, modificar ou extinguir direitos em um Estado Democrático de Direito
(DALLARI, 2000, p. 114).
Ao fazer uma comparação com o setor privado, seria como se todos os atos formais de
uma empresa devessem obrigatoriamente estar descritos em um instrumento normativo antes
de serem executados, cada investimento feito, cada compra e venda realizada, cada
contratação, tudo demandaria uma autorização legal por trás. A autonomia para fazer um
planejamento estratégico no setor público é consideravelmente menor do que no setor
privado, o que impões várias restrições:
O que se percebe é que ainda há pouco espaço para a formação de estratégias no nível
da alta gerência dentro do setor público, sendo as escolhas cuidadosamente restringidas com
antecedência e o resultado examinado detalhadamente. As organizações públicas
provavelmente formulam estratégias em múltiplos níveis e são obrigadas por lei a executar a
estratégia desenvolvida pelos órgãos de supervisão ou legislativos que controlam os
orçamentos e políticas dos órgãos (BRYSON, 2010).
Nas organizações públicas, os dirigentes não gozam do mesmo nível de autonomia e
condições analíticas das empresas privadas e o processo decisório também não possui a
mesma racionalidade organizacional, pois não sofre os mesmos tipos de ameaças, nem busca
as mesmas oportunidades (MOTTA, 1979).
Em decorrência dos preceitos constitucionais, outra distinção exclusiva que surge com
grande poder de impacto na gestão pública é a obrigação legal de dar publicidade e
transparência aos atos praticados.
O dever do gestor público de dar publicidade e transparência aos seus atos é uma
norma constitucional, em seu Art. 37 e no inciso XXXIII do Art. 5, a Constituição Federal de
1988 prevê:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...].
[...]
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no
prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. (BRASIL, 1988, grifo nosso).
O plano fala sobre grandes escolhas políticas, deve dizer ao que se renuncia, define
ganhadores e perdedores no jogo de poder. Deveria ser um roteiro de intervenção, um
sinalizador do futuro e um menu para a ação dos governantes, indissociável dos sistemas de
gestão que lhe deveriam criar viabilidade organizacional, gerencial e institucional (DE TONI,
2014).
O planejamento estratégico no setor público é um instrumento político porque implica
impacto no equilíbrio de poder das organizações impondo uma nova dinâmica de poder que
pode ser inconsistente com as realidades da vida organizacional (BOYNE et al., 2004).
A dinâmica interna da maioria das organizações é constituída pela interação de grupos
rivais que estão competindo por poder e recursos. Como o planejamento estratégico pode
exigir uma visão única dos objetivos para sua realização, essas disputas podem se intensificar
ainda mais. No setor público, o teste de uma boa política é, portanto, se ela tem o apoio
suficiente para ser adotada, e não se ela realmente alcançará algum objetivo grandioso
(BOYNE et al., 2004).
A resistência política à implementação de um planejamento estratégico pode ser o
maior desafio a ser superado, os políticos podem resistir por duas razões principais: primeiro,
um ciclo de planejamento formal normalmente requer a especificação clara dos objetivos
organizacionais, isso causa resistência porque é mais fácil construir e manter coalizões se os
objetivos de uma política permanecerem vagos. Segundo, se os critérios de sucesso ou
fracasso forem mantidos confusos, pode ser mais fácil para os políticos colocarem um brilho
favorável em seu registro no cargo e, assim, colher recompensas eleitorais (BOYNE et al.,
2004)..
A imprecisão na definição dos objetivos impede a gestão de estabelecer um sentido
claro de direção futura. Isso pode ser explicado pela aversão ao risco, pois quanto melhor
forem definidos os objetivos, maiores os riscos e a incerteza sobre a possibilidade de alcançá-
los, essa prática surge da necessidade de acomodar o maior número de interesses (MOTTA,
1997).
No setor público as diretrizes políticas tendem a ser mal definidas também porque uma
estratégia claramente articulada pode servir como um dispositivo de mobilização da oposição
política (RING, PERRY, 1985).
Esses fatores podem levar a construção de objetivos formalmente bem definidos e
especificados para atender à demanda por mais planejamento e racionalidade na gestão,
embora, na prática, eles não sejam verificados como diretrizes prioritárias da gestão daquela
organização.
74
Brasil, por si só, não é percebido por seus funcionários como efetivo na construção de uma
organização proativa, não obstante se reconheça a sua importância para a organização”.
Houve descontentamento por parte da gerência com respeito aos aspetos formais do
processo de planejamento estratégico, que deveria privilegiar mais a prospecção, fomentando
a discussão de como deve ser o BACEN do futuro e o que a sociedade espera de sua atuação
(ALMEIDA, 2016).
O planejamento estratégico do Banco Central do Brasil privilegiou um processo
rígido, analítico, extremamente racional, estruturado, complicado, repleto de detalhes, com
separação entre pensamento e ação, dessa forma pode inibir a atividade de prospecção
organizacional e conduzir a perdas de oportunidades (ALMEIDA, 2000, 196).
Por fim, o autor sugere um direcionamento para solucionar o problema:
[...]
Conforme mencionado por um dos respondentes, o primeiro plano deles foi apenas
um documento que ficou por implementar; apenas no segundo ciclo de planejamento
o monitoramento passou a ser realizado. Outro respondente afirmou que o plano
nunca foi implantado efetivamente e um terceiro afirmou que os primeiros dois
planos foram apenas uma declaração, uma carta de intenções que nunca saíram do
papel; apenas no terceiro plano houve uma implementação de fato” (SILVA,
MARIO, 2015, p. 1417).
Outro indício da não execução do plano com a devida importância ao processo é que
apenas quatro dos 23 representantes, concordaram totalmente com o item “o plano
estratégico atualmente vem sendo monitorado e avaliado sistematicamente” (SILVA,
MARIO, 2015, p. 1418);
3. Falta de cultura de planejamento: apenas um respondente acredita que a cultura
já foi institucionalizada;
4. Resistência por parte dos servidores;
Foi verificado na pesquisa que quase todos os respondentes concordaram ou
concordaram totalmente que a alta administração se mostrava envolvida e apoiava o processo
de planejamento, contudo, apenas um respondente acreditou que a cultura de planejamento já
havia sido institucionalizada, isso é um indicativo de que o apoio da liderança, por si só, não
garante a institucionalização do planejamento na organização.
É importante destacar que os autores alertam para fato de que as pessoas que estão à
frente do processo “irão defender o fato de que houve melhoria nos resultados, mesmo que
essa melhoria não seja mensurada por indicadores de desempenho ou publicada aos diversos
stakeholders” (SILVA, MARIO, 2015, p. 1418).
Também é importante citar que 83% dos Tribunais afirmaram que o processo de
mudança organizacional teve como fator impulsionador o Programa Promoex. Como uma das
metas do Promoex era que 100% dos Tribunais implementassem ou revisassem o
planejamento estratégico até o final do Programa, e vinculava o repasse de recursos
financeiros ao cumprimento das metas, a adesão alta já era algo esperado (SILVA, MARIO,
2015).
Pereira (2006) realizou uma pesquisa sobre a implementação do planejamento
estratégico em duas organizações da Marinha do Brasil, uma hospitalar (organização A) e
uma industrial (organização B). Os principais desafios mapeados pelo pesquisador foram:
1. Equipe de planejamento reduzida e não preparada: foi constatado que a
elaboração do planejamento propriamente dito ficou a cargo de uma ou duas pessoas
no máximo, deixando a incumbência sempre como um encargo colateral, ou seja, não
fazia parte do trabalho principal dos envolvidos;
85
plausíveis para isso ocorrer refere-se à pouca atenção que tem sido direcionada à cultura atual
da empresa, que é um fator potente de impedimento a novas perspectivas de gestão:
O autor recomenda que a gestão estratégica precisa ser melhor delimitada quanto às
suas propostas e área de abrangência, deve aumentar a mensuração e controle dos resultados
obtidos, dar mais atenção à cultura vigente, identificando os pontos frágeis e os pontos de
apoio que devem estar interferindo na adoção do modelo, valorizando os empregados.
Dias, Magalhães e Barbosa (2006) realizaram ume estudo sobre o planejamento
estratégico em uma Instituição Federal de Ensino Superior. Os principais desafios apontados
pelos pesquisadores foram:
1. Ausência de cultura de planejamento;
2. Interferência política;
3. Burocracia muito forte;
4. Falta de sensibilização e estímulo a participação das pessoas e da comunidade;
5. Mudança política de governo federal;
6. Falta de conhecimento em planejamento dos dirigentes e servidores em
planejamento;
7. Descrença na importância do planejamento: receio de aplicar um modelo de
planejamento do setor privado;
8. Baixa capacidade técnica da equipe de planejamento;
9. Equipe de planejamento sem dedicação exclusiva: possuíam outras atribuições;
10. Estrutura organizacional de departamentos dificulta planejar como um todo;
11. Falta de integração entre as equipes: os grupos pensam de forma individual,
apresentando dificuldade de repassar conhecimentos técnicos para as outras pessoas;
12. Resistência de grupos consolidados que possuem poder informal;
13. Falta de continuidade dos planos anteriores;
88
Dificuldade em desdobrar a
Silva e Gonçalves (2011)
estratégia para toda a organização
Ausência de avaliação de
Coelho Júnior (2003)
resultados
Objetivos irrealistas Paulo (2016)
Falta de integração interna na Coelho Júnior (2003); Dias, Magalhães e Barbosa
organização (2006); Giacobbo (1997); Pascuci et al. (2016)
Marquezan, Diehl, Lisboa (2016); Rivera e Farias
(2001); Silva e Gonçalves (2011); Silva e Mario
Resistência à mudança
(2015); Coelho Júnior (2003); Giacobbo (1997);
Pascuci et al. (2016)
Resistência dos Baixo comprometimento das Streit (2011); Galas e Forte (2005); Coelho Júnior
servidores gerencias (2003); Fresneda et al. (2005)
Falta de comprometimento dos Silva e Gonçalves (2011); Coelho Júnior (2003);
servidores Pascuci et al. (2016)
Resistência ao Planejamento Pereira (2006); Dias, Magalhães e Barbosa (2006);
Estratégico Pascuci et al. (2016);
Giacobbo (1997); Pascuci et al. (2016); Dias,
Descontinuidade da gestão Magalhães e Barbosa (2006); Galas e Forte (2005);
Fresneda et al. (2005)
Dias, Magalhães e Barbosa (2006); Pascuci et al.
Diretrizes e objetivos vagos
(2016)
Fatores
Dias, Magalhães e Barbosa (2006); Pascuci et al.
políticos Disputa de poder
(2016)
Dias, Magalhães e Barbosa (2006); Pascuci et al.
Interferência política na gestão
(2016)
Falta de autonomia para definir
Pascuci et al. (2016)
metas
Falta de institucionalização do Silva e Gonçalves (2011); Dias, Magalhães e Barbosa
planejamento (2006)
Lideranças das Despriorização e não execução Galas e Forte (2005); Silva e Mario (2015); Pascuci et
organizações do plano formulado al. (2016); Silva e Gonçalves (2011)
Marquezan, Diehl, Lisboa (2016); Galas e Forte
Falta apoio da liderança
(2005); Silva e Gonçalves (2011); Giacobbo (1997)
Fonte: Elaborado pelo autor com base nas fontes citadas
De acordo com o Quadro 7, é possível perceber a preponderância de desafios da
categoria “Cultura de planejamento e gestão” em relação as outras três categorias. Esta
92
categoria trata dos aspectos técnicos da gestão que indicam a falta de capacidade de gestão
para formular, implementar e executar um processo de planejamento estratégico.
É importante esclarecer que um número maior desafios em uma determinada categoria
não significa, obrigatoriamente, que essa categoria tenha um impacto negativo maior no
planejamento, é possível que uma categoria com mais desafios demande menos esforços para
sua resolução do que uma categoria que apresentou menos desafios, entretanto, aborde temas
mais sensíveis e complexos de serem solucionados.
A categoria “Resistência dos servidores” aborda desafios de natureza humana, como a
falta de comprometimento, resistência à mudança e ao planejamento. Desafios que envolvem
o comportamento humano são mais complexos devido a sua natureza subjetiva. A resolução
de muitos dos desafios técnicos ficam condicionados diretamente à atitude dos servidores,
quando eles não estão comprometidos com o processo de planejamento, qualquer desafio se
torna mais difícil (ou até impossível) de ser superado pela organização.
A categoria “Fatores políticos” trata de desafios não só ao planejamento, mas à gestão
pública como um todo. Desafios como a disputa de poder, interferência política, falta de
autonomia são consequências do excesso de politização da gestão pública no Brasil que causa
diversos problemas. Quanto à descontinuidade na gestão, trata-se de um processo que ocorre
tanto pela alternância democrática de poder, que é salutar, quanto pelo excesso de coalizações
partidárias que são feitas e desfeitas durante os mandatos, gerando rupturas durante a gestão
das organizações públicas.
As decisões políticas favoráveis ou desfavoráveis ao planejamento determinam o
fracasso imediato ou a possibilidade de sucesso do processo. A categoria “Lideranças das
organizações” reflete a falta de apoio das lideranças ao planejamento, às vezes de forma
declarada, às vezes, velada. Este desafio é apontado por muitos autores como sendo um ponto
crucial ao sucesso do planejamento. A não execução do plano formulado ou a falta de
institucionalização do planejamento são consequências diretas da baixa ou nula participação
das lideranças no processo.
O elevado número de desafios a serem superados pode passar a impressão de que
adotar o planejamento estratégico no setor público é uma tarefa tão difícil que não compensa
o investimento de tempo e recursos nessa direção. Essa perspectiva é verdadeira em muitos
casos, alguns esforços de planejamento estratégico já iniciam condenados a fracassar antes de
dar os primeiros passos, são os casos em que vários dos desafios citados acima são
completamente negligenciados.
93
2 METODOLOGIA
Quanto ao aspecto descritivo, esse tipo de pesquisa tem como principal função
descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de
relações entre variáveis (GIL, 2016).
Percepção da
gerência da equipe
da SEPLAG
Os questionários são umas das mais conhecidas e usadas técnicas de coleta de dados
primários, são ferramentas de pesquisa por meio das quais as pessoas devem responder ao
mesmo conjunto de perguntas em uma ordem predeterminada (GRAY, 2012).
Em paralelo à aplicação do questionário, foi realizada uma entrevista com uma das
gerências da equipe da SEDMG. A entrevista adotou o formato semiestruturado em
profundidade (APÊNDICE A), uma vez que permite uma maior liberdade de expressão ao
entrevistado (GIL, 2016).
O grupo focal foi realizado logo em seguida, no dia 21 de dezembro de 2018, com
nove gestores governamentais da equipe de planejamento da SEPLAG. O procedimento
adotado no grupo focal seguiu as normas éticas previstas na legislação vigente, os gestores
governamentais, antes do início do grupo focal, foram cientificados a respeito dos propósitos
e métodos do estudo, conforme fixava Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
assinado por todos (APÊNDICE D).
Foi assegurado o sigilo da identidade dos participantes, sendo distribuído um crachá
com uma codificação alfanumérica entre G1 a G9 para escolha de cada um. O grupo focal
teve duração de 1h20” e foi conduzido pelo moderador por meio de um roteiro de perguntas
abertas (APENDICE B).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
1 1 1 1 1 1
2 2 2
1 1
Menos de 1 ano Entre 1 e 2 anos Entre 2 a 4 anos Entre 4 e 8 anos Acima de 8 anos
Gráfico 4 mostra que seis servidores (87%) possuíam acima de um ano de experiência
na organização no momento em que o planejamento foi iniciado. Sendo que metade (50%)
deles apresentaram experiência acima de quatro anos.
Esse diagnóstico tende a favorecer a melhor superação dos desafios ao planejamento,
uma vez que a maior experiência traz mais conhecimento sobre as limitações e
potencialidades da organização, isso é fundamental em um processo dinâmico de mudança
proporcionado pelo planejamento estratégico.
O Gráfico 5 apresenta a situação quanto a experiência anterior em planejamento
estratégico por parte dos pontos focais:
Gráfico 5 – Experiência anterior em planejamento estratégico
1 1
acumulada do servidor, maior é a sua familiaridade com os desafios que surgem no processo,
e mais proativa pode ser sua intervenção para eliminar ou mitigar essas barreiras.
Quanto à capacitação técnica (curso livre, extensão, graduação ou pós-graduação) em
planejamento estratégico, foi observado que sete dos oito os servidores (88%) possuíam
alguma capacitação em planejamento estratégico.
Apenas um servidor não possuía capacitação anterior planejamento estratégico, mas se
capacitou durante o processo. Esse resultado minimiza a possível interferência negativa que a
formação diversa da área de administração (Gráfico 3) poderia causar. Mesmo com 75% dos
pontos focais não tendo formação superior em administração, todos buscaram capacitações
extras em planejamento estratégico.
para atender melhor ao processo, seus resultados tendem a ser mais expressivos e
sustentáveis.
O gráfico 6 apresenta o resultado para o questionamento sobre a existência de uma
equipe de planejamento estratégico formada na organização:
Gráfico 6 – Existência de equipe de planejamento estratégico
2
1
2
1
2 2
1 1
2
1
4
3
3 3
2 2
Após a análise dos dados coletados na pesquisa de campo, foi possível chegar a um
conjunto final de desafios mapeados no processo de planejamento estratégico do Governo de
Pernambuco. O Quadro 9 apresenta um resumo com os 27 desafios identificados, alocados em
seis categorias distintas. Na coluna da direita do Quadro 9, foram selecionados alguns recortes
de citações dos participantes da pesquisa que fundamentaram a criação de cada categoria:
Baixa capacidade de Eu acho que a metodologia, ela tava muito adequada para um
Cultura de 1 planejamento e gestão das contexto ultrapassado que não era mais a realidade [...] essa
planejamento organizações metodologia não pode mais ser o que era, não pode mais ser esse
e gestão Falta de capacitação em formato clássico tão longo [...] (Entrevista).
2
planejamento estratégico
113
Falta de flexibilidade da Eu acho que no geral a maturidade era baixa para o processo tá
3 [...] o nível de maturidade das pessoas era baixo, a gente sabia
gestão da SEPLAG
Metodologia do disso. (Entrevista) [...] então você teria que ter equipes mais
4 flexíveis, eu acho que teria que além de tudo romper essas
planejamento defasada
barreiras ali dentro (Entrevista).
Improvisação na
5 implementação da MODERADOR: havia muita improvisação com relação à
metodologia metodologia?
Equipes de planejamento
6 mal formadas pelas G5: Havia, a gente tentava estruturar, na hora de aplicar, a gente
organizações não sabia como ia ser, se tivesse que adaptar se adaptava na hora
Falta de monitoramento e e no meio do caminho a gente discutia e melhorava.
7 avaliação do processo
planejamento pela SEPLAG G6: [...] ainda não chegamos vamos dizer assim ao momento
ideal, que é ter uma equipe capacitada que não seja formada por
Falta de acompanhamento
uma pessoa, seja de fato uma equipe [...]
8 da organização após a
entrega do planejamento
G2: [...] a gente tem que avaliar o que tá acontecendo lá, ter
Dificuldade em definir o indicadores pra o nosso produto, avaliar o impacto da mudança,
9
que é estratégico pra gente poder mensurar, como é que essa metodologia está
sendo modelada, se está adequada ou não (Grupo focal).
10 Falta de comunicação
Resistência ao planejamento
11
estratégico G8: Tem uma resistência muito grande dos servidores, porque eu
acho que tem uma resistência natural [...] eu acho que é natural
do servidor público também, porque vai chegar uma equipe nova
Resistência à equipe da cobrando, sugerindo trabalho né, dando mais trabalho, enfim, a
12 gente via muito isso que no início até eles iam nas oficinas e
SEPLAG
participava, e todo processo naturalmente vai decrescendo a
participação né, vai diminuindo a participação do servidor [...]
(Grupo focal)
Descrença na efetividade e
Resistência
13 continuidade do
dos servidores Dificuldade de acreditar que o processo de Planejamento em
planejamento
realização "era para valer", tendo em vista o momento anterior
foi interrompido”(Questionário).
Menor engajamento de
14 comissionados e G6: é totalmente diferente quando você entrevista um servidor
terceirizados da casa e quando você simplesmente tá li com um comissionado
ou um servidor também mas que é de outra casa e tá ali a pouco
tempo, foi cedido sei lá o que, a gente sente mais verdade nas
coisas que são passadas [...] (Grupo focal).
15 Resistência à mudança
nenhuma resposta, nunca veio, sei lá, um vídeo, uma nota, uma
C.I [...] então acho que a gente nunca teve nenhum
empoderamento do governador (Grupo focal).
Com relação à categoria “recursos financeiros”, o fato dessa categoria ter sido
levantada na pesquisa de campo em Pernambuco e não ter sido identificada na pesquisa
bibliográfica dos casos de organizações brasileiras, pode ter sido porque a grande maioria dos
estudos em organizações públicas foram realizados antes de 2015, com apenas três deles
realizados em 2016, retratando processos de anos anteriores. Em Pernambuco, o processo de
planejamento estratégico foi concentrado entre 2016 a 2018, período em que a crise
econômica já havia deixado fortes impactos no Governo.
A categoria “Alinhamento estratégico do Governo” foi enfatizada na pesquisa de
campo em Pernambuco pela visão mais abrangente dos participantes da pesquisa em relação à
gestão do Estado como um todo, o que foi muito enriquecedor para o estudo. A partir de
agora, cada categoria será analisada e discutida em maior profundidade.
G3: Mas em geral assim, numa visão de síntese, a gente vê uma carência nas
organizações com relação a essa estrutura de planejamento, de domínio dos
processos num é [...]
[...] muitas vezes tem organização que tem uma maturidade, como a gente já
participou aqui, que vai na primeira reunião de monitoramento já roda bacana, já
flui, a galera já cobra beleza, está ok. Mas tem lugar que a gente vai que o pessoal
fica assim olhando para a gente, senta na mesa e fica olhando para gente, a gente vai
lá e ajuda né [...] (Grupo Focal).
Eu acho que no geral a maturidade era baixa para o processo tá [...] o nível de
maturidade das pessoas era baixo, a gente sabia disso (Entfrevista).
[..] quando chegava no final não sei se já era o desgaste do pessoal com o processo,
ou se era realmente a dificuldade de entender e consolidar aquilo tudo que foi feito,
quando chegava na parte dos indicadores, ou talvez tivesse a ver com a baixa
116
maturidade do pessoal também, mas eu acho que a parte dos indicadores era a
mais complicada de fazer.
[...] às vezes eles não conseguiam conectar muito bem esses indicadores com
tudo aquilo que foi planejado, eles não viam uma linha de raciocínio naquilo
[...] (Entrevista).
Talvez a SEPLAG devesse ter tido um olhar maior pra essa questão de
planejamento, com apoio, cobrança e direcionamento, a gente poderia ter trazido
mais resultado o governo poderia ter tido mais resultados num é, as estruturas lá
trabalhassem de uma maneira mais flexível, não fosse de uma maneira tão
rígida.
[...] então você teria que ter equipes mais flexíveis, eu acho que teria que além
de tudo romper essas barreiras ali dentro.
[...] eu acho que tem que se aproximar muito mais, é dos modelos que as startups
estão fazendo, trabalhar com coisas mais simples, tipo canvas, enfim, outros tipos de
metodologias e adequar isso aí para realidade do setor público que até hoje pelo
menos, não continuo pesquisando muito a matéria, mas eu acho que ninguém fez
isso ainda. Eu acho que deveria simplificar mais e deixar ela mais maleável as
mudanças, porque as mudanças eu acho que tão acontecendo mais rápido,
então o cenário ele muda muito, ele é muito mais instável (Entrevista).
G3: [...] assim ela não foi muito planejada de maneira muito estruturada, e
simplesmente as coisas foram acontecendo e a gente tendo que ajustar os rumos
com o carro andando assim, e acho que no começo isso, no final tudo traz um
grande aprendizado, acho que a equipe ganhou muita experiência, ganhou umas
portas na cara, caiu muitas vezes, fez besteiras, teve que voltar atrás, então gera o
aprendizado.
G5: Havia, a gente tentava estruturar, na hora de aplicar, a gente não sabia
como ia ser, se tivesse que adaptar se adaptava na hora e no meio do caminho a
gente discutia e melhorava.
G7: Péssima, tá ruim, tende a melhorar, tá melhor do que antes, nos tivermos duas
experiências esse ano, boas. Mas lá em 2015 a média era um ano ou mais, a média,
de todas.
G6: [...] a gente chega no final, a gente passa um tempão, quando chega no final do
processo, a organização já tá de saco cheio do processo de alguma forma, a
gente também, que já não tá aguentando ali, tem um que tá fazendo a dois anos,
misericórdia [...] (Grupo Focal).
Acho que era muito extensa. Acho que seria muito mais proveitoso se a gente
conseguisse implantar uma coisa muito mais rápida e pulasse pra outra
organização e pra outra e pra outra, se tivesse mais consolidado e voltando e fazendo
de uma maneira incremental essas organizações, é as que fossem tendo mais
maturidade para desenvolver o processo e aí fosse crescendo fosse fazendo de uma
maneira eu acho que talvez é, por produtos entregues eu acho que, não tão longa pra
fazer uma entrega mas fazer várias entregas pequenininhas, eu acho que facilitaria
muito a implantação e daria resultado muito mais rápido
[...]
G6: [...] a gente vê essa dificuldade de indiciamento de equipe, eu acho que hoje a
gente também tá construindo esse caminho, ainda não chegamos vamos dizer
assim ao momento ideal, que é ter uma equipe capacitada que não seja formada
por uma pessoa, seja de fato uma equipe, pra que se essa pessoa se ausente
tenham outras pessoas pra tocar, e isso realmente é fundamental, isso é uma
das coisas também que acaba que atrasa também, um dos fatores de atraso, de
aumentar se estender mais o planejamento do que o desejado, essa questão
dessas pessoas que tão a frente dentro da organização, ou por não terem a
qualificação adequada pra tá naquilo, não tem empoderamento, às vezes é um
técnico legal, mas aí não se sente a vontade de tá nesse papel de tá puxando e
cobrando, porque é uma situação difícil, ele é escolhido pelo cara, ao mesmo tempo
118
pode ser que ele esteja amanhã lhe cobrando, [...] se forem pessoas muito passivas
de repente não vão ser as mais adequadas vamos assim dizer, então eu acho que isso
é uma das grandes dificuldades [...] eu acho que é bem comum essa troca, ou
desistência, enfim, ou ausência, o cara as vezes chama, fica um fica outro, mas
aquele negócio, um ponto focal, e aí esse ponto focal não é pra ser ponto focal, é pra
ser pontos, é uma equipe. Eu acho que já está mais que comprovado por todo
mundo que uma pessoa não é suficiente, é mais do que insuficiente, é
superinsuficiente.
G4: Tem Secretaria que existe diretoria de planejamento e tem secretaria que se
nomeiam pontos focais e esses pontos focais não tem nenhuma experiência em
planejamento e ficam se sentindo assim meio acuados no sentido de tocar o
processo, de cobrar resultados, seja por causa do cargo as vezes que não vem lá de
cima necessariamente, é uma situação um pouco delicada, depende da secretaria
(Grupo Focal).
O processo de planejamento não foi monitorado nem teve seus resultados avaliados e,
consequentemente, não há casos de sucesso para servirem de modelo para as demais
organizações do Estado.
G2: [...] a gente tem que avaliar o que tá acontecendo lá, ter indicadores pra o
nosso produto, avaliar o impacto da mudança, pra gente poder mensurar, como
é que essa metodologia está sendo modelada, se está adequada ou não.
G7: colocar uma etapa de avaliação depois de um período para a gente voltar a
instituição, e trabalhar nesse sentido, realmente avaliar o planejamento se foi
executado.
G1: [...] outro ponto é que justamente a gente ainda não tem case de sucesso pra
apresentar e pra vender também essa solução, a gente tá chegando como uma
consultoria e pra vender a solução pra algumas ineficiências e ineficácias nas
gestões estaduais e hoje a gente não tem um case de sucesso, pra dizer: ó, antes era
assim, não funcionava, não tinha resultado, e agora a partir do planejamento, do
modelo de gestão, a gente tem um diferencial, enfim. Falta isso também, a gente ter
um acompanhamento como os colegas anteriormente falaram, para gente também ter
como vender esse produto né (Grupo focal).
A dificuldade de definir o que é e o que não é estratégico também foi apontado como
uma dificuldade do planejamento.
MODERADOR: Tinha lugar que era mais estratégico e outros que era mais
operacional?
G3: sim, a meu ver sim, até olhando os mapas você já sente isso né, o que tem
escrito. É uma pergunta que eu faço, tira a missão e a visão, os clientes e deixa só os
objetivos, se você olhar o mapa ele poderia ser de qualquer instituição? Pronto, já
respondeu, né verdade? A perspectiva resultados principalmente, poderia ser de
qualquer lugar, pronto ele não foi nada estratégico, ele foi tipo qualquer
organização você via aquilo ali? Não acho que é maioria também não, depende da
profundidade que você pôde chegar (Grupo focal).
G9: [...] tem uma resistência muito grande dos servidores, porque eu acho que tem
uma resistência natural, mas também tem uma falha no processo de comunicação
aí de explicar o que é o planejamento, a importância de eles participarem e tal,
de conduzi-los no processo mesmo da formulação das ações né?
G5: [...] a gente já sofreu inclusive crítica do tipo: ah, a gente está aqui hoje, mas
nem me disseram que era isso (Grupo focal).
[...] faltou conversa interna, eu acho que é preciso fazer quando você vai fazer
um processo como esse, você precisa fazer um convencimento de quem tá lá na
ponta, e talvez pra isso você precise mostrar que uma metodologia vai dar resultado
pra que ela consiga convencer e colocar isso como uma diretriz pra todo mundo
cumprir, então faltou isso, eu acho que isso aí era o básico pra todo trabalho, a partir
daí todo o resto poderia ter acontecido (Entrevista).
No questionário ainda foram levantados dois outros pontos que remetem à falta de
cultura de planejamento e gestão, o “elevado passivo de ações não concluídas oriundas de
anos anteriores” e a “A ocorrência frequente de situações emergenciais que são da
própria natureza da instituição, provocam desvios do foco e reorientação do processo”,
fatores que demonstram a incapacidade gerencial das organizações.
As equipes de planejamento estratégico não foram formadas em todas as organizações
parceiras (apenas em cinco das oito), quando formadas, nem todas possuíam o perfil adequado
e a dedicação exclusiva à função. Esse é um ponto crítico do processo, possuir uma equipe
120
formada com número e perfil adequados deveria ser um pré-requisito básico para que a
SEPLAG aceitasse a parceria com a organização. Nesse sentido, além da equipe formada,
uma série de outras premissas deveriam ser colocadas como obrigatórias para que a
organização demandante da parceria fosse aceita pela SEPLAG para iniciar o processo de
planejamento estratégico.
Nem sempre é fácil formar uma equipe no formato adequado, vários fatores podem
interferir nesse processo, Fresneda et al. (2010) levantaram que, frequentemente, uma vez
capacitados e com alguma experiência em planejamento, os servidores, por diversos motivos,
são alocados em outras posições da organização, dificultando o bom andamento da gestão da
estratégia. Também ocorre o ato do servidor desistir da execução das atividades de gestão
estratégica por excesso de carga de trabalho gerada pela não redistribuição das tarefas
operacionais anteriores ao assumir o processo. A substituição do servidor demanda um novo
processo de treinamento e adaptação que retarda o andamento do planejamento.
Pereira (2006) aponta que na implementação do planejamento em organizações da
Marinha, o processo ficou a cargo de uma ou duas pessoas no máximo, e o assunto sempre foi
tratado como um encargo colateral, isto é, não era o objeto principal de trabalho dos
envolvidos, como consequência, o planejamento se tornou mais um item da burocracia diária
dessas organizações do que um fator motivador de mudanças.
A equipe de planejamento deve ser formada por no mínimo duas pessoas com
dedicação integral ao processo, devem ter um bom nível de conhecimento técnico na área,
possuir os recursos necessários para gerenciar o processo e, o mais importante, terem o
empoderamento da principal liderança da organização para terem acesso facilitado às
informações dos setores e poder para cobrar o atendimento às diretrizes e prazos
estabelecidos.
Os líderes do setor público devem deixar claro para todos na organização o
empoderamento da equipe, declarando a todos que a unidade responsável pelo planejamento
tem um mandato claro de cima (BOLAND, THOMAS, WERFEL, 2018).
Com relação ao desafio da falta de capacitação em planejamento, Fresneda et al.
(2010) afirmam que como qualquer outro sistema, para que um sistema de gestão estratégica
funcione é necessário que todos que dele participem diretamente estejam capacitados e
comprometidos com a sua operação e obtenção de resultados. Em organizações com pouca
experiência em gestão estratégica é pré-requisito a formação de servidores envolvidos no
processo, por meio de grande investimento em capacitação intensiva em gestão estratégica.
121
Pfeiffer (2000) afirma que pouco se investiu na qualificação dos recursos humanos no
setor público, isso resultou em muitas repartições com funcionários demais, mas com escassez
de técnicos qualificados. Isso ocorre especialmente em cidades médias e pequenas. Esse fato
representa um problema sério para o planejamento estratégico, porque ele requer um certo
grau de capacidade analítica e algum conhecimento em organização, administração e
gerenciamento.
A falta de cultura de planejamento e gestão foi o desafio mais citado entre os autores
que relataram a implementação de planejamentos em organizações públicas brasileiras
(MARQUEZAN, DIEHL e LISBOA, 2016; COELHO JÚNIOR, 2003; SILVA e
GONÇALVES, 2011; GALAS e FORTE, 2005; FRESNEDA et al. 2005; ALCÂNTARA et
al. 2015; PASCUCI et al. 2016; SILVA e MARIO 2015; DIAS, MAGALHÃES e
BARBOSA, 2006).
Diversos autores também apontaram a falta de capacitação e de competência dos
servidores e gestores como um grande desafio a ser superado (STREIT, 2011; PEREIRA,
2006; RIVERA e FARIAS; 2001; BILAR e MOURA; 2014).
Outros autores levantam o excesso de burocracia como desafio a ser superado
(ALMEIDA, 2000; RIVERA e FARIAS, 2001; DIAS, MAGALHÃES e BARBOSA, 2006;
GIACOBBO, 1997; PASCUCI et al., 2016)
Com relação à dificuldade em construir indicadores de desempenho. O Gráfico 8
apontou que a existência de monitoramento de indicadores foi adotada apenas por quatro das
oito organizações, é preciso uma alta capacidade de gestão para monitorar resultados por meio
de indicadores, este ainda é um ponto a ser muito trabalhado pelo Governo de Pernambuco.
Por ser a fase mais técnica do processo, exigindo uma capacidade de análise e
processamento de dados maior, é comum ver planejamentos que não utilizam indicadores
inicialmente até desenvolveram a maturidade gestão adequada para isso. Essas organizações
adotam como estratégia de implementação uma postura mais incremental, ganhando
maturidade no processo para, em seguida, iniciar um monitoramento com indicadores
(FRESNEDA et al., 2010).
Segundo Alcântara (2015, p. 24), essa foi à estratégia adotada na implementação do
planejamento da PGE/BA para inserir a cultura de planejamento e gestão em uma organização
de tradição essencialmente jurídica: “temos convicção que a implementação gradativa foi a
melhor estratégia para consolidação da aliança entre o direito e a gestão”.
Quanto à dificuldade de definir o que é estratégico, Ansoff (1977) afirma que
problemas estratégicos são mais difíceis de serem identificados, portanto exigem uma atenção
122
G3: “Acho que já passou do tempo, a gente já tá atrasado, dessas instituições terem
realmente um cunho profissional nas suas ações, no que elas pensam, no que elas
planejam, no que elas executam, e eu acho que o planejamento ele deve trazer isso
entendeu?” (Grupo Focal).
125
Esta categoria foi levantada pelo grupo focal como o ponto crítico do processo de
planejamento em Pernambuco, inicialmente foi citada a falta de apoio do Governo ao
processo de planejamento e a descontinuidade dos ciclos de monitoramento – reuniões
bimestrais que eram realizadas para monitorar o andamento das metas estabelecidas pelo
Governo para todas as Secretarias.
G3: G3 também não acha, quando o governador não te empodera, [...] a gente
tentou, eu não sei como era essa interlocução no momento, gerência e secretário
executivo, mas a gente tentou mobilizar de alguma forma o líder máximo do
Estado né, pra ele empoderar a gente, pra que a gente entrasse com ainda mais
empoderamento nas instituições e nunca veio nenhuma resposta, nunca veio, sei
lá, um vídeo, uma nota, uma C.I dizendo: “olha galera, vocês tem que fazer isso
aqui, isso é importante pra estratégia do Estado” enfim, então acho que a gente
nunca teve nenhum empoderamento do governador.
G7: Agora não só a palavra né, a ação dele em não fazer mais ciclos de
monitoramento, vim só para pacto pela vida uma vez por mês já, então só isso
demonstra que planejamento e gestão não é prioritário na gestão.
[...] falta de apoio da gerencia máxima do estado, ter uma diretriz falando isso,
prova disso que a gente não conseguiu nem implantar dentro da própria
SEPLAG. Não tinha o patrocínio do governador, uma orientação que deveria
127
ser trabalhado dessa maneira, né e como eu acho também o contexto que se pegou
o cenário com tanto problema, tanta adversidade que aconteceu no período, a cabeça
das pessoas naturalmente não estava ali, era um período de crise e eu acho que era
um período próprio de transformação também, eu acho que juntou duas coisas
(Entrevista).
G5: [...] a gente não tem uma iniciativa nenhuma ação de governo acho que
voltada para isso ai, né, de aporte de planejamento, de ser estruturado realmente
uma metodologia que vai ser aplicada de que forma é, como é que ele tá pensando
objetivamente, pra que receber essa ferramenta de planejamento estratégico, isso
não tá formalizado, institucionalizado, divulgado, né, aí realmente fica difícil
esse trabalho, pra ele ser usado realmente como essa ferramenta nesse nível [...].
G3: [...] eu acho que é uma atividade muito relevante, principalmente pra um Estado
que tenta ter essa pegada assim né, essa cultura de gestão de planejamento, não
adianta fazer só aqui em cima e tá todo mundo lá embaixo no tiroteio, né então
assim, é importante, mas lembrando né que, de fato, esse alinhamento com a
estratégia governamental exista, por que eu acho que é um dos pontos mais
falhos do processo hoje [...] hoje tentar fazer vínculo com as metas prioritárias e tal,
isso é muito frágil, eu acho que falta muito ainda nesse aspecto, de você
realmente promover de fato o alinhamento das instituições trabalhadas com a
estratégia do governo, isso falta muito assim, ainda é muito incipiente, eu acho.
G2: [...] uma coisa que interfere negativamente pra isso acontecer, é a questão
de ser livre demanda, quem quiser, solicite ao estado isso e a gente vai lá
aportar [...] se isso fosse institucional, Estado, realmente como a gente estava
discutindo nas primeiras questões, estratégia do estado, aí a gente poderia criar
uma metodologia de acompanhamento porque a gente teria que ver se estava
em alinhamento estratégico com o Estado (Grupo Focal).
[...] então talvez você olhando em conjunto, tivesse que ter tido uma diretriz
superior, colocando os órgãos com obrigação de fazer isso e ter uma equipe
maior na ponta pra poder atender todos os órgãos [...].
[...] era muito mais importante para dizer que tinha do que pra de fato seguir
aquilo ali, ou comprar aquilo, eu acho que vinha um problema maior que isso
não foi trabalho nas instâncias maior do governo, então isso não foi uma
diretriz de governo, era uma diretriz de quem aceitava trabalhar aquilo ali,
então a pessoa estava mais interessada de ter um carimbo de que fez do que de fato
naquilo tá funcionando, num é, mas essa a sensação que passava (Entrevista).
No questionário, também foi citado o fato de que a “não realização periódica das
reuniões de monitoramento de governo enfraqueceu o modelo implementado”.
A falta de integração e diálogo entre os diversos níveis de Governo e entre o Governo
e o mercado privado também foram levantados como desafios dessa categoria.
128
G3: Mas eu acho que essa questão do modelo integrado [...] eu acho que já mostra
que o modelo é desintegrado porque se de fato fosse era pra gente justamente tá
implantando nessa época em conjunto com o PCG, PMG isso ser mais uma
ferramenta pra poder alcançar os resultados que o estado esperava entendeu, então
assim, se fosse de fato um modelo integrado né, e que essas coisas realmente se
conversassem [...] (Grupo focal).
[...] então você teria que ter equipes mais flexíveis, eu acho que teria que além de
tudo romper essas barreiras ali dentro, as pessoas têm cada equipe está cercada
de um muro, a própria SEPLAG está cercada de um muro, o governo está
cercado de outro muro, acho que falta diálogo, e aí eu acho que flexibilizava isso
daí, acho que as equipes teriam que passar o rodar mais [...]
Foi apontado também a falta de integração entre servidores “G7: Sim, e os problemas
dos comissionados era uns e dos terceirizados eram outros, não existiam os problemas
da instituição como um todo” (Grupo Focal).
Os relatos desta categoria apontam a falta de priorização do processo de planejamento
estratégico por parte do Governo, os relatos indicam que o planejamento não fez parte da
agenda política nem foi institucionalizado.
A falta de apoio político do Governo torna a tarefa de planejar consideravelmente mais
difícil de ser realizada no setor público, em que tudo gira em torno de decisões políticas.
Alguns autores enfatizam que modernizar a cultura das organizações desperta forte resistência
política (REZENDE, 2002; ABRUCIO, 1997; ABRUCIO, PEDROTI, PÓ, 2010) e que o
planejamento estratégico acaba sendo visto de forma mais positiva por funcionários que por
políticos eleitos (BOYNE et al., 2004).
Pfeiffer (2000, p. 10) reafirma a importância do alinhamento do poder político do
Governo para que o planejamento gere resultados, sem o forte apoio político, o planejamento
estratégico também não vai resolver nenhum problema. “Esse caráter político, inerente à
129
G2: Acho que o governo tinha tudo pra usar, como qualquer governo, o
processo de planejamento estratégico não só como ferramentas de aporte de
gestão em órgãos e secretarias e demais entes que a gente trabalha, mas ele é
também uma ferramenta estratégica para o governo, para o governo
descentralizar a sua estratégia, fazer esse alinhamento pra que todo mundo possa
convergir pra um objetivo maior que o estado trabalho pra população (Grupo
Focal).
A falta de integração interna e externa faz com que os Governos percam diversas
oportunidades que só podem ser criadas a partir da sinergia das suas estruturas. Antes era
possível supor a realização intramuros das atividades governamentais, hoje, cada vez mais, a
experiência contemporânea destaca a necessidade de fortalecer a integração da ação
governamental e extragovernamental, dada o predomínio do caráter transversal das iniciativas
(MARINI, 2008).
Para fazer os resultados acontecerem, é preciso tanto alinhar as organizações
governamentais com a agenda estratégica do Governo, como também promover articulações
com entidades externas (MARINI, 2008).
Vencer os desafios da falta de integração é uma tarefa que exige um trabalho contínuo,
o Governo de Pernambuco deve concentrar esforços para eliminar os obstáculos que fazem
suas unidades trabalharem de forma isolada. As iniciativas fragmentadas, os esforços
fracionados, a falta de sinergia, o baixo ou escasso diálogo entre as estruturas de Governo
geram grandes prejuízos se não forem trabalhados proativamente.
Segundo Candeas (2014, p. 231-232), o compromisso político permanente e a
institucionalidade sólida são dois dos três eixos de sustentação de um projeto estratégico.
Segundo o autor, para que projetos estratégicos sejam viáveis e efetivos, é preciso ter
simultaneamente três eixos de sustentação:
1. Visão estratégica de longo prazo (dimensão de nação): metas, tanto quantitativas
quanto qualitativas, com base em valores e aspirações nacionais, refletindo o desejo
consensual da sociedade, tendo em conta cenários prospectivos desejados;
2. Compromisso político permanente (dimensão de governo): engajamento efetivo, de
preferência formalizado, da classe política dirigente e das elites econômicas,
intelectuais e burocráticas, de forma a superar as descontinuidades de governos,
grupos de interesse e ideologias.
3. Institucionalidade sólida (dimensão de Estado): configurando um verdadeiro projeto
de Estado implementado por canais de planejamento e gestão em todos os níveis de
governo, com eficiência garantida por meio de métodos e técnicas modernas, com
orçamento assegurado e previsível no médio e longo prazos, até a maturação ou
realização das metas específicas.
A falta de qualquer um dos três eixos torna o projeto estratégico incompleto e inviável
no longo prazo, causando os seguintes problemas: improvisação; dificuldades na tomada de
decisão; descontinuidade de gestão; descoordenação setorial e de orçamento; processo
resumido a documentos formais, referências bibliográficas sem eficácia no plano concreto de
131
andamento do planejamento, seja por ação ou omissão, quaisquer atitudes que visem retardar,
desvirtuar ou até impedir o avanço do processo.
A resistência dos servidores é apontada com algo natural da cultura do setor público e
pode se apresentar de diversas formas diferentes, no caso de Pernambuco, conforme os
relatos, houve atrasos nas etapas; resistência à mudança; resistência ao planejamento por
perceberem que teriam mais trabalho do que a carga habitual; resistência à cobrança dos
monitoramentos; resistência à equipe da SEPLAG ou por resistência à própria liderança da
organização.
G8: Tem uma resistência muito grande dos servidores, porque eu acho que tem
uma resistência natural, mas também tem uma falha no processo de comunicação
aí de explicar o que é o planejamento, a importância deles participarem e tal, de
conduzi-los no processo mesmo da formulação das ações né, tem uma falha de
comunicação e tem uma resistência muito grandes deles mesmo, eu acho que é
natural do servidor público também, porque vai chegar uma equipe nova cobrando,
sugerindo trabalho né, dando mais trabalho, enfim, a gente via muito isso que no
início até eles iam nas oficinas e participava, e todo processo naturalmente vai
decrescendo a participação né, vai diminuindo a participação do servidor, e
como foi falado anteriormente pela g7, disse que na hora do plano operativo tem
muita dificuldade, por isso também, tem o entusiasmo no início e depois quando
eles vão percebendo que vai dar mais trabalho, que vai ser monitorado que vai
ser cobrado [...]
G3: Eu acho que depende muito da organização que você vai trabalhar, tem lugares
que a gente vai, tipo… as pessoas na hora das entrevistas, a gente tem uma etapa de
entrevistas, o que você acha disso: “sim”, “não”, “foi”. Respostas curtas, você já vê
que a pessoa dali já não tá topando, não tá afim, não gosta, e às vezes é
característica de uma instituição, a instituição às vezes não gosta da SEPLAG,
tem lugar que a gente vai e as pessoas tão super abertas, tão super afim, graças a
deus que vocês vieram, e tem lugares com esse tipo de perfil que eu falei,
instituição que às vezes não gosta da SEPLAG, não gosta do gestor
governamental, né, se sente ameaçado, enfim inferiorizado sei lá o que é, e não
quer participar, tem lugar que não gosta do gestor máximo, não gosta porque ele
solicitou aquilo, então assim, eu acho que vai variar dependendo do tipo de realidade
de cada instituição, quando não gosta é por esses fatores, ou que acha que vai ser
mais cobrado, ou porque acha que vai ter mais trabalho, tem de tudo (Grupo
Focal).
Foi apontada uma maior resistência por parte dos servidores que não possuíam vínculo
efetivo com a organização, segundo os relatos, os servidores comissionados e terceirizados
apresentaram menor participação e menor profundidade nas análises durante as entrevistas e
oficinas do planejamento. Em consequência, questões estratégicas importantes podem não ter
sido levantadas prejudicando a qualidade final do processo.
G6: Pra gente que tá aqui no planejamento é totalmente diferente quando você
entrevista um servidor da casa e quando você simplesmente tá li com um
comissionado ou um servidor também mas que é de outra casa e tá ali a pouco
tempo, foi cedido sei lá o que, a gente sente mais verdade nas coisas que são
passadas, e as vezes quando começa o cara tá ali a um ano, dois anos, é cargo
comissionado aí tudo é lindo, tudo funciona é uma coisa maravilhosa, não tem
problema nenhum, as áreas se comunicam, ai quando daqui a pouco você entrevista
outras pessoas, você faz: “como assim? Eu estou em duas organizações ai, porque
essas pessoas não podem trabalhar no mesmo lugar”.
G3: [...] quando você perguntou como seria a participação dos servidores e tal, é
muito diferente quando é comissionado e servidor, o quão raso vai ser tudo tem
muito a ver com isso, você lidar com servidor às vezes você, em alguns momentos,
em alguns lugares pode lidar com mais desmotivação e tal, mas o conteúdo em geral
é muito melhor daquilo que você faz e eu acho que dá a sensação de que você vai
embora e alguma coisa vai continuar sabe?”.
G7: Só complementando G3, a gente passou agora uma experiência, essa instituição
ela tinha metade comissionado, metade terceirizado, não tem quadro próprio, e aí
você via que na hora do levantamento de problemas que eles debatiam dentro lá da
oficina o que era de fato um problema, o que para uns era problema, então isso
também foi uma dificuldade enorme.
G3: vale a pena citar que no questionário dessa instituição não saiu nenhuma
fraqueza, você já viu isso? Nunca na história desse país. Nenhuma fraqueza, tudo
era força.
G7: Sim, e os problemas dos comissionados era uns e dos terceirizados eram
outros, não existiam os problemas da instituição como um todo (Grupo Focal).
Embora não seja algo que inviabilize o processo de imediato, a resistência dos
servidores pode drenar a eficácia do processo lentamente até chegar o momento em que o
processo é descontinuado por falta de adesão. Grande parte da resistência dos servidores ao
planejamento é um reflexo de outros desafios, principalmente a falta de engajamento e
participação das lideranças da organização. A disposição das lideranças em participar do
processo, mobilizar e engajar os servidores é de fundamental importância.
Em Pernambuco, embora a participação das lideranças tenha sido baixa, conforme
apontou o Gráfico 11 (apenas três organizações (38%) considerou a participação da liderança
como de forma integral), os mecanismos de construção participativa do planejamento foram
bem avaliados por 100% dos pontos focais.
O gráfico Gráfico 12 reafirma essa constatação ao apresentar um cenário positivo em
relação à participação dos servidores da organização no planejamento, seis organizações
(75%) alegaram que a participação foi alta ou extremamente alta.
É preciso entender que a resistência ao planejamento estratégico por parte dos
servidores, dificilmente será totalmente eliminada, contudo, com um esforço maior para
estimular a participação dos servidores no processo e a melhoria da comunicação entre todos
os níveis da organização, os servidores passam a se sentir parte de uma construção coletiva e
tendem se engajar mais.
Fatores políticos
[...] eu acho que a questão fica muito prejudicada além da questão da maturidade
baixa, fica muito prejudicado pelo contexto político, diferente de uma organização
privada que o objetivo daquela organização independente de que esteja na cadeira,
vai ser aumentar o lucro, ele vai tá focado em questões que sempre vão ser as
mesmas, as pessoas podem mudar o formato o caminho para alcançar aquilo alí, mas
o objetivo final tende a ser o mesmo, e eu acho que pela questão política do setor
público nem sempre a gente observa isso, nem sempre o objetivo final de quem
tá na cadeira no momento é o mesmo do outro, muitas vezes existem objetivos
diferentes até do objetivo da população, pra existência daquele órgão, e acho
que isso aí impacta muito, além da questão da maturidade, então maturidade ser
baixa, piora ainda mais a situação.
137
G6: [...] a gente vive numa realidade onde a maioria dessas secretarias tem
rotatividade muito grande, o cara cai de paraquedas não entende nem onde ele
tá, então às vezes a gente pega um planejamento onde o cara está ali há um mês, não
sabe onde vem pra onde vai, então não é um cara desse que vai formular a melhor
estratégia.
No questionário foi levando que “A rotatividade de gestão faz com que algumas
pessoas acreditem que as iniciativas não são da empresa, mas do atual grupo que dirige
a organização” e “Houve também muita rotatividade nos técnicos. Ficou claro um
desnível técnico no processo como todo”.
As interferências de fatores políticos fazem parte da natureza do setor público, vários
autores apontaram essas interferências como um desafio a ser trabalhado (BOYNE et al.,
2004; REZENDE, 2002; ABRÚCIO, PEDROTI e Pó, 2010; BRYSON, 2010; MOTTA, 2013;
MINTZBERG, 1998; ABRUCIO; 1997).
Pfeiffer (2000) levanta o fato de que no setor público há administradores de temas
políticos sob controle dos políticos, e não gerentes de assuntos municipais. São os políticos,
principalmente, que evitam o que pode fazer de um plano, um plano estratégico: a priorização
e a seleção de determinadas opções para as ações a serem executadas. Os políticos preferem
fazer muitas intervenções visíveis, mesmo de pequeno porte, buscando satisfazer um maior
número possível dos seus clientes, em lugar de intervenções estratégicas que são capazes de
provocar mudanças estruturais.
138
A existência de uma ação no PPA contribuiu de certa forma para que a iniciativa não
fosse descontinuada na mudança de dirigentes que ocorreu em 2007, uma vez que o
projeto estava inserido no PPA e, com isso, houve uma garantia de recursos para a
sua implantação (FRESNEDA et al., 2010, p. 13).
[...]
Em Pernambuco, tais medidas não foram adotadas, não foi identificada na pesquisa
qualquer iniciativa no sentido de garantir a continuidade do planejamento estratégico a médio
e longo prazo nem de mitigar os feitos dos fatores políticos no processo.
G3: Eu acho que o perfil da liderança que tá lá faz toda a diferença, se o cara de
cima não quer ver, o que eu tô dizendo, se ele chamou só pra inglês ver, só por uma
obrigação legal, ou só ou só ou só ou só ou só, não foi interesse dele, não importa, a
gente pode girar estrelinha lá, a gente vai sair e não vai rodar, agora se o cara quiser
vai rodar [...] eu acho que é a minoria que participa como deveria.
[...]
Acho que tem outro componente, o componente político né, que também é fogo, a
galera né chama a gente mas porque quer pendurar um mapa na parede [...] acaba
que isso se reflete embaixo, porque as pessoas sentem né? Você vai pra reunião o
cara não tá prestando atenção, tá no celular num sei o que, então muitas vezes pode
acontecer também não é sempre não, não é maioria, mas é outro componente, o cara
chamou você pra ele ficar bem na fita dizer que tem um planejamento e
pendurar um mapa na parede, né e aí também não é uma situação bacana.
Eu acho que a gente teve falta de suporte do líder máximo [...] (Entrevista).
O ponto mais crítico levantado nessa categoria foi à falta de apoio da própria liderança
da SEPLAG, ou seja, a organização que coordena o processo planejamento do Governo e
passou a construir os planejamentos dos órgãos do Estado, além de não adotar o planejamento
estratégico como ferramenta da sua gestão, também não tinha o apoio da sua liderança para
desenvolver o processo em outras organizações.
Também foi apontada a resistência velada da liderança em alguns casos, tendo como
uma das causas à própria metodologia defasada de planejamento adotada pela SEPLAG em
desarmonia com a dinamicidade do ambiente atual e as necessidades da organização:
140
G2: Isso torna o trabalho da gente contraditório porque é essa ideia que a gente tá
vendendo.
E acho que na parte mais de cima na parte acho que mais estratégica da
organização era o mais difícil que era onde a gente tinha a maior barreira e não
era, como a gente não tinha uma relação o tempo inteiro com eles, era difícil
entender até a existência daquela barreira, perceber a existência daquela barreira,
que de fato aquilo alí não comprou, isso não era fácil de perceber e entender, não era
tão transparente.
Era velada, porque eu acho que a posição do secretário e muito parte disso era
culpa nossa também, porque muitas vezes o secretário ele está lá interessado e tá
cheio de coisa e tem que dá resultado e aquilo ali iria demorar muito para dar
resultado ele sabia disso, então talvez se o processo tivesse sido construído de uma
maneira diferente que fosse dando logo pequenos resultados ele comprasse aquilo
mais fácil (Entrevista).
[...] sabemos que o planejamento estratégico depende de outros fatores que não são
só técnicos e que por mais que todos os esforços; de toda a aplicação do ferramental
teórico da área de gestão for atualizado; só haverá efetividade se a liderança do
órgão saber reconhecer e assumir o planejamento como instrumento de gestão para
construção de resultados positivos para a organização e para a sociedade.
Como pode ser visto, a falta de patrocínio surge de diversas formas, desde delegar
atividades indelegáveis, como não dar prioridade ao planejamento, não se engajar ou retardar
processos que dependam da sua validação.
A quantidade de citações sobre essa categoria e o diagnóstico de que apenas 38% das
lideranças participaram integralmente do processo é extremamente preocupante, pois o baixo
comprometimento dos níveis superiores é refletido no baixo comprometimento e motivação
dos servidores da organização (Coelho Júnior, 2003).
A participação da liderança é tida por vários autores como um fator fundamental para
o sucesso de um planejamento estratégico. Este é um desafio recorrente na realidade das
organizações públicas brasileiras (MARQUEZAN, DIEHL e LISBOA, 2016; GALAS e
FORTE, 2005; SILVA e GONÇALVES, 2011; GIACOBBO, 1997).
Segundo Galas e Forte (2005), o grau de envolvimento e apoio da alta direção da
organização foi considerado o principal fator para o sucesso na implantação do sistema de
gestão estratégica na Embrapa.
Para Marquezan, Diehl e Lisboa (2016) o principal catalisador do processo de
implementação de um planejamento estratégico é o patrocínio da alta gestão.
Boland, Thomas e Werfel (2018, on-line) da Boston Consulting Group – BCG
afirmam:
“A estratégia é, em última instância, responsabilidade do líder", segundo um ex-alto
funcionário do governo. “Você não pode delegar responsabilidade por liderar
mudanças.” Líderes do setor público devem conduzir pessoalmente o esforço para
definir prioridades estratégicas, construir a adesão, alinhar recursos, comunicar a
estratégia de forma consistente e responsabilizar as pessoas pela execução do plano.
E devem deixar claro para todos na organização que a unidade responsável pelo
planejamento estratégico tem um mandato claro de cima.
Ao mesmo tempo, embora muitos líderes governamentais tenham sólida expertise
em políticas, um grande número tem pouca experiência em estratégia e
gerenciamento que resulta da administração de uma organização grande e complexa.
Como resultado, não é incomum que eles deleguem a responsabilidade pelo
processo de planejamento estratégico, e nem sempre investem pessoalmente na
execução. Essa falta de engajamento no topo se reduz, levando a membros da equipe
marginalmente engajados que não estão comprometidos com o desenvolvimento e a
implementação da estratégia da organização.
Recursos financeiros
143
G1: Por que então não houve esse empoderamento né, também é bom contextualizar
que justamente 2015, 2016, o cenário até macro, o cenário econômico mudou, o
cenário de restrição fiscal, então o próprio modelo que foi construído não tava
rodando no nível mais estratégico com o a figura do próprio governador, então
talvez o tempo da gente implementar, multiplicar esse modelo né, talvez não foi o
adequado.
G6: [...] quando a gente tá dentro de uma instituição a primeira coisa que ela pensa e
que obviamente não é só isso, que planejar é só precisa ter recursos, não, tem
muitas outras coisas que dá pra fazer sem recursos, e que é questão realmente
só de gestão mesmo (Grupo focal).
Eu elencaria assim os desafios, o cenário, não estava positivo pra isso, eu acho
que o cenário econômico fiscal, não era positivo, esse foi um dos maiores
desafios [...] (Entrevista).
4 CONCLUSÃO
importante para inibir a intenção por parte das lideranças em adotarem o planejamento
estratégico em suas organizações.
É importante destacar que apesar da quantidade de desafios levantados no estudo, o
processo de planejamento estratégico teve a sua qualidade reconhecida, no questionário, sete
dos oito pontos focais avaliaram como “muito satisfeito” a qualidade do acompanhamento da
equipe da SEPLAG durante o processo, apenas um avaliou como “parcialmente satisfeito”.
Quando questionados sobre a satisfação com relação à qualidade final do
planejamento estratégico, 100% dos pontos focais avaliaram como “muito satisfeito”,
apontando uma alta qualidade do planejamento estratégico realizado em parceria com a
SEPLAG.
A mesma impressão foi levantada no grupo focal, foi colocado que apesar de todas as
dificuldades, a qualidade final do planejamento era boa. Entretanto, a visão do entrevistado
coloca uma perspectiva diferente quanto à qualidade do processo de planejamento: “Eu acho
que a qualidade metodológica deles foram ótimas, agora a aplicação e o resultado disso
foi praticamente nulo o retorno que se teve, então você entregou um negócio
metodológico bonito, mas que não serviu”.
Com essa opinião, pode-se deduzir que o planejamento estratégico formulado era de
boa qualidade formal, conforme avaliado pelos pontos focais e pelo grupo focal, entretanto,
com a visão complementar da gerência da equipe, verificou-se que o processo era “bonito”,
mas de baixa efetividade na prática.
Essa percepção leva ao questionamento da efetividade do processo, o planejamento
estratégico realizado em Pernambuco foi formalmente bem feito mas sem efetividade alguma
na prática? Como não foi objetivo dessa pesquisa levantar os resultados alcançados após a
execução do planejamento, essa questão foi sugerida para ser explorada em estudos futuros.
A capacidade do Governo de Pernambuco de cumprir a sua missão e entregar
melhores resultados à sociedade passa, invariavelmente, pela melhoria da sua capacidade de
planejar suas ações. Não planejar por mera formalidade, mas planejar para criar culturas de
planejamento e gestão proativas em todas as organizações estaduais, despertando o
pensamento estratégico, a inovação das práticas e a sinergia das estruturas da gestão estadual.
Quando o planejamento estratégico é trabalhado da forma correta, torna-se uma
ferramenta poderosa de modernização da gestão das organizações públicas, Pernambuco já
deu o primeiro passo, o passo mais difícil que é iniciar o processo.
A partir da análise e discussão dos desafios identificados nesta pesquisa, com a
profunda reflexão sobre suas causas e consequências, diversas oportunidades de melhoria
150
podem ser levantadas e várias medidas corretivas podem ser adotadas, com isso, o processo
de planejamento estratégico poderá obter ganhos de qualidade, eficiência, eficácia e
efetividade e, consequentemente, melhorar os resultados das organizações públicas estaduais
e do Governo de Pernambuco como um todo.
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2. Como você avalia a forma como essa política foi planejada, estruturada em Pernambuco a
partir de 2015?
4. Como você avalia a capacidade técnica das equipes de planejamento estratégico ou dos
responsáveis pelo processo (quando não havia equipe) nas organizações parceiras?
10. Como você avalia a efetividade do planejamento estratégico como ferramenta de gestão
para melhoria dos resultados das organizações públicas de Pernambuco?
11. Quais são as suas sugestões para dar mais eficácia ao processo de implementação do
planejamento nas organizações do Estado?
164
2. Como vocês avaliam a forma como essa política foi estruturada em Pernambuco a partir de
2015 (forma de seleção das secretarias, tamanho da equipe de gestores, apoio e alinhamento
institucional).
7. Foi identificada alguma forma de resistência na formulação do planejamento por parte dos
servidores da organização parceira? Especifiquem as mais comuns.
10. Como vocês avaliam a qualidade final dos planejamentos estratégicos concluídos?
11. Quais são as suas sugestões para dar mais eficácia ao processo de implementação do
planejamento nas organizações do Estado?
165
Para realização deste trabalho, será utilizado como método a pequisa bibliográfica e documental, a aplicação de
questionários com perguntas abertas e fechadas de múltipla escolha no modelo virtual, além da realização de
uma entrevista e um grupo focal.
Esclarecemos que manteremos em anonimato, sob sigilo absoluto, durante e após o término do estudo, todos os
dados que identifiquem o sujeito da pesquisa, usando apenas para divulgação, os dados inerentes ao
desenvolvimento do estudo. Informamos também que após o término da pesquisa, serão destruídos todo e
qualquer tipo de mídia que possa vir a identificá-lo, não restando nada que venha a comprometer o anonimato de
sua participação agora ou futuramente.
O presente estudo espera contribuir para a melhoria da gestão do Governo de Pernambuco, melhorando o
processo de planejamento estratégico das organizações do Estado e, consequentemente, melhorando a qualidade
dos serviços públicos ofertados à população.
O (A) senhor (a) terá os seguintes direitos: a garantia de esclarecimento e resposta a qualquer pergunta; a
liberdade de abandonar a pesquisa a qualquer momento sem prejuízo para si; a garantia de que em caso haja
algum dano a sua pessoa (ou o dependente), os prejuízos serão assumidos pelos pesquisadores ou pela instituição
responsável.
Nos casos de dúvidas e esclarecimentos, ou críticas, em qualquer fase do estudo, procurar o pesquisador Murilo
Henrique Alves Baihé pelo tel.: (81) 997348265, email: murilo.seplag@gmail.com.
Caso suas duvidas não sejam resolvidas pelos pesquisadores ou seus direitos sejam negados, favor recorrer ao
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Pernambuco, localizado à Av. Agamenon Magalhães, S/N,
Santo Amaro, Recife-PE, telefone (81) 3183-3775 ou ainda através do e- mail: comite.etica@upe.br.
Assinatura do Sujeito (ou responsável) Murilo Henrique Alves Baihé – CPF: xxx.xxx.xxx-xx