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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPLOGIA

SOCIAL

DANIELA SANTOS DA SILVA

Atividade final da disciplina “Antropologia Visual”

ministrada pelo Drº Luiz Gustavo Pereira de Souza Correia

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A pesquisa de campo e seus recursos para a cultura afro-brasileira
Daniela Santos da Silva

Introdução
A tarefa de escrever este ensaio não é menos complexa, nem menos importante do que
as etapas até aqui desenvolvidas do curso de mestrado em antropologia, ao contrário, essa
atividade é ela mesma parte integrante do método escolhido como estratégia para a pesquisa
que se desenrola já que segundo Laplantine a descrição etnográfica é a realidade social
apreendida a partir do olhar, uma realidade social que se tornou linguagem que se inscreve
numa rede de intertextualidade” e que, com certeza, muito mais nesse texto que nos meus
diários de campo, mas nestes também, a descrição de que se fala e que tentamos pôr em prática
“consiste menos em transcrever e mais em construir”. E falo aqui da construção do que se
entende por “mundo social”, já que o cotidiano não é construído por nossas experiências
privadas, particulares. Não é vivido independentemente dos demais indivíduos sociais, ao
contrário, é compartilhado, é construído nas relações estabelecidas com outros atores a partir
da comunicação.
Daí a necessidade do uso de um método de pesquisa que privilegiasse a interação com
o campo que se ia construindo (já que hoje eu não mais consigo entender o campo com algo
dado a priori), e era necessário, antes de qualquer coisa, fazer uma caracterização (e não uma
delimitação) do que seja neste momento o campo de pesquisa. A etnografia fornece mais do
que técnicas, estratégias que nos permitem fazer essa caracterização-construção de um campo
já que esse tipo de conhecimento só pode ser percebido pelo pesquisador a partir da observação
direta e imediata das interações entre os atores sociais, das ações práticas dos atores e o sentido
que eles atribuem aos objetos, às situações, aos símbolos que os cercam, pois é nesses
pormenores que os atores constroem seu mundo social (GUESSER, 2003).
Isso implica necessariamente um contato insistente com o campo a fim de tentar
apreender uma realidade que é fruto da constante atividade de interpretação dos sentidos das
ações que são empreendidas no dia-a-dia, ou seja, a realidade social é construída na prática do
cotidiano das relações não sendo portanto um dado pré-existente. Já a atividade em curso nesse
momento além de ser uma “luta contra o esquecimento” é uma tentativa (não ingênua) de:

Reconstruir uma explicação precária da realidade observada. Precária não no sentido


pejorativo, ou seja, com a conotação de parcialidade, de insuficiência, mas de relativa
humildade científica, admitindo-se que as explicações servem para dar conta das
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significações interacionais de um determinado grupo, em determinado contexto
histórico e cultural, e tão somente, não podendo explicar realidades totalizantes, de
grande abrangência (GUESSER, 2003, p. 163).

Essa experiência consiste na inserção no campo por meio da possibilidade de emprestar


o corpo em contato com a dinâmica afetiva. Não sendo consideradas as narrativas produzidas
como dados que estavam encobertos e o pesquisador conseguiu apreende-los. Os dados não
estão no campo, mas são gerados pela relação de confiança que se estabelece no meio. O campo
pode ser entendido como fonte de confrontos e conflitos. Ao falar da etnografia como atividade
perceptiva, Laplatine chama atenção para diferença que há entre ver e olhar. O ato de ver remete
a esfera da atividade biológica, seria o contato imediato com o mundo que não precisa de
nenhuma reparação, não havendo estranhamentos ou minúcias dos detalhes do que é visto. Já o
olhar designa inquietude e questionamentos, seria o demorar no que é visto, recaindo a
concepção de temporalidade. Não havendo conotação jurídico-policial, mas de atenção
flutuante.

Olhar consiste numa reiteração daquilo que se encontra diante de nós e a visibilidade,
enquanto forma primeira de conhecimento, afeta-nos ao mesmo tempo em que nos
sentimos afetados por aquilo que (a) percebemos. Trata-se de uma visibilidade não
ótica, mas também tátil, olfativa, auditiva e gustativa que nos conduz a deixar de opor
o “diante” e o “atrás, o “fora” e o “dentro”, para compreender a natureza dos laços
que ligam um “diante” que nós incorporamos e um “atrás” a partir do qual se efetua a
atividade sensitiva como assim intelectual (LAPLANTINE, 2004, p. 20).

A etnografia é uma experiência concreta de imersão total do pesquisador. Ao invés de


unidade, os gestos e falas entram em contato com ambiguidades que fortalecem o objeto de
estudo. A alteridade faz parte do processo de inserção, por meio dela os estranhamentos são
produzidos. A fotografia pode compor o processo de inserção no campo de pesquisa para
facilitar e enriquece a produção das informações vistas. A relação que existe entre o pesquisador
e o campo levanta questões sobre a maneira de representar o outro. A imagem fotográfica não
é tomada como espelho ou como verificação da realidade, mas como sendo resultado das
escolhas subjetivas da pesquisa ao poder escolher as pessoas ou lugares fotografados. Ao
possibilitar o suporte visual, compreende-se como meio de trocas e de armazenamento de
memorização sobre os encontros produzidos pelos estranhamentos. O reconhecimento do lugar
por meio de imagens são escolhas tomadas pela representação de si ao “outro”, refletindo o tipo
de relação que tem o pesquisador com seu objeto. Assim, a utilização de recursos estéticos
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audiovisuais não tem função simples de ilustração de resultados de pesquisa, mas como
instrumento de ampliação de conteúdos para pesquisa com múltiplas funções.

O reconhecimento do lugar por meio de imagens do campo, a posição dos elementos e


dos objetos, os contatos das primeiras pessoas encontradas e a utilizações visual permitem
avaliar os recortes etnográficos captados pela fixação das imagens. Através do que é mostrado,
ajudam a construir outra imagem que representa além das qualidades estéticas, uma dimensão
etnográfica. O cruzamento de olhares entre o pesquisador e o campo por meio de fotografias
guardadas em conjunto, expressa o movimento facilitados pelas técnicas digitais. A sequencia
de eventos registrados incita uma montagem documental por meio de eventos observados
temporalmente. São diversos documentos em séries, memorizados por traços de gestos em
movimento. Por meio da re-observação das fotografias evocam-se os traços captados em
campo. O uso instrumental do registro fotográfico é uma maneira de alargar os olhares para o
campo de pesquisa.

Para a pesquisa em construção, os negros tem papel importante para cultura, ele
aglomerou-se no Brasil através de seu trabalho e um modo de vida específico por meio do
sistema econômico vigente. Também deixou a sua cultura por meio de aspectos importantes
para formação brasileira. Ao chegar de várias localidades da África com a escravidão, por isso
representa-los por meio de fotografias é uma possibilidade e recurso metodológico a fim de
fortalecer o campo de pesquisa. Busca-se exteriorizar seus traços culturais, usando suas
manifestações como forma de disputa e resistência para estruturas de controle social. Pela sua
diversidade deve-se a miscigenação constitutiva desde os primeiros momentos da colonização.
Os encontros e desencontros de povos, suas formas de dominação, de conflito e de influências
mútuas marcam fortemente a nossa formação social. O estudo de suas representações pode
atribui ao negro um papel fundamental. Levando em consideração a transformação dos padrões
de sua cultura e resistência social, suas músicas, símbolos e religião, ao que passou a ser
conhecido por folclore. A cultura afro-brasileira no passado já foi considerada perigosa e muito
diferente do universo do branco, hoje é possível narrar acerca de suas expressões de modo a
produzir visibilidade.

O que apareceu logo após a escravidão no Brasil foi uma aglomeração de grupos que
representam uma organização específica na sociedade. Com eles surgem novos valores que
tentaram aproveitar a cultura afro-brasileira, substituindo uma ideologia de fundo que
consideravam inferiores, os negros passam a ter expressividade com caráter e intenção de
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igualar à cultura dominante. Nesse lugar de disputa, encontramos influências de branquitudes
que nos remete ao modo de organização política do Estado. Essa luta parece ainda está presente
diante de nós, por isso tratamos de deixar visível o máximo possível as qualidades que os
movimentos e gestos herdados pela cultura afro-brasileira nos trazem. O estudo de danças de
cultura popular é o modo que encontramos para procurar o lugar desse conjunto de
representações do folclore deixado pelos negros.

Na dinâmica desses grupos encontramos combustível necessário para agir diante de


padrões que recriminam e rejeitam o que foi deixado pela cultura afro-brasileira, independente
da trajetória adotada por eles que institucionalizam suas crenças, valores e tudo que os nomeiam
e deixa explícito suas manifestações, ao ponto de fazer surgir uma categoria que está ligada a
superação do conflito que existe entre o branco, o índio e o negro. Esse modo de entender o
homem nos deixam em volta de uma vida plural. Nela é possível está próximo de uma
possibilidade de caminhos com mais respeito e dignidade diante do outro que encontramos no
dia-a-dia, na vida cotidiana. Esse aprendizado é importante, já que estamos falando de conflitos
que trazem diferenças que não damos conta de superar, levando-nos a exercer um modo de vida
dominante e violento diante do outro que é impossível de ser negligenciado.

O lugar de fala é o lugar de exercício que nos ajudam a construir outro universo
potencializado por igualdades e superação de diferenças. Ao escolher a temática desse trajeto
de pesquisa, o estudo do reisado em Sergipe suscita uma busca pelos modos de representações
do negro, trazendo a reboque o seu papel e lugar que lhe é admitido pela história que o cerca
cheia de sentidos. Ele é considerados um dos mais ricos a apreciados folguedos, quando já foi
associado ao verão sergipano, em suas propagandas e divulgação de eventos dessa estação do
ano e também de festas populares. Porque trata-se de grupos formados por famílias que contam
como a apreensão desses passos nos transmitem uma volta ao passado histórico contemplado
pelo negro e sua importante contribuição para a diversidade que há na cultura brasileira,
devendo à miscigenação construtiva de relações sociais desde os primeiros momentos da
colonização. Esses encontros e desencontros marcam fortemente o estudo de folguedos como
seus passos de danças, gestos e rituais com papel fundamental de representa-los a fim de
enfatizar sua cultura.

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Fundamentação

As expressões culturais africanas foram sendo negligenciadas ou submetidas a


processos de adaptação ou remodelação para coexistir em uma sociedade que as discriminava
por suas origens africanas e sua condição de escravos. Suas formas de religiosidade foram
reprimidas e levaram a enfrentamentos danosos, e mesmo quando passaram a ser toleradas,
permaneceram, até o presente, estigmatizadas, resultado do profundo racismo contra o negro
na nossa sociedade. A condição de escravo está associada à identificação genérica como negros,
tidos como raça inferior. Como não brancos, estavam destituídos de religião, cultura e até da
própria condição humana, sendo passíveis de escravização.

O estudo do reisado busca suscitar, nessa brincadeira aparentemente inócua, as origens


desses povos e o modo como entendem sua condição passada e presente. Um dos mais ricos e
apreciados folguedos, principalmente no nordeste, o reisado está entre os mais importantes
festejos sergipanos. Trataremos de dar uma atenção especial à estratégia do catolicismo de
catequizar e converter, por meio das irmandades, os povos africanos. No contexto desta
estratégia, nem tudo que pertencia à cultura a ser reprimida era rejeitado, sendo muitos de seus
traços preservados e reinterpretados segundo a teologia dominante. Assim, a integração dos
negros numa sociedade que era a negação de seu modo de vida original permitiu a preservação
de aspectos de sua religiosidade. Esta tensão produz representações que remetem a um contexto
histórico onde se misturam a rejeição desses povos com o aproveitamento de sua criatividade.
Nestas manifestações festivas religiosas é possível, ainda nos dias de hoje, ter acesso a um
passado que, sob novas formas, permanece. Sua reconstituição é um modo de falar sobre a
formação da nacionalidade brasileira e, nela, do papel destacado do negro.

Ao falar sobre representações, abordaremos também o uso de imagens na pesquisa de


campo com interesse de fazer aparecer esse homem negro que buscamos ao entrar em contato
com esse passado que o discriminava. A fotografia pode ser entendida como um recurso que
acompanha a metodologia de pesquisa, ao fazer saltar aos olhos tudo o que a etnografia tenta
mostrar em sua narrativa. Alguns consideram não consensual e é cheia de ambiguidades por
parte de pesquisadores a aceitação do visual como método ou possibilidade de estruturar na
linguagem as narrativas que dão vida a essa realidade. Alguns cientistas sociais sente-se
temerosos e não conseguem juntar esse tipo de material à sua pesquisa de campo. Esse uso é
um modo importante para interpretar a experiência humana traduzida pela descrição que a cerca
nos relatos e contatos com a pessoas que fazem parte do que se pretende observar fielmente.
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Para antropologia, a fotografia é um meio de representar e definir a partir de uma
disciplina que a compreende como instrumento que possibilita a manutenção de um regime de
verdade. Ela é considerada um dos principais meios de reunir esse conhecimento acerca da
verdade, contribuindo no passado, para fazer surgir o estereótipo de criminosos, loucos e
pobres, estigmatizando o homem e seus modos de vida. Esses seguimentos excluídos da
sociedade, concebe a antropologia um meio de mostrar o selvagem e o exótico enquanto Outro.
Isso é conhecido pelo fato de nos ajudar a criar um posicionamento em relação ao Outro em
relação a nós. Ao construir alteridades, as imagens criaram muitas realidades para esses
estereótipos, devendo em grande parte à objetividade que liga-se a imagem no século XIX.

Os artefatos culturais, a construção de uma cultura na perspectiva do olhar estrangeiro,


é o marco mais importante para a fotografia na pesquisa de campo. Ela acompanha as narrativas
escritas em diários e entrevistas. Com a imagem é possível nos depararmos com a realidade
retratada a partir do olhar de quem observa. Essa subjetividade de cada sujeito que se depara
com o que é mostrado é uma abertura que faz a metodologia de pesquisa se tornar mais
abrangente e fiel aos seus interesses em fazer do Outro um lugar de estranhamentos. Suas
condutas, expressões, gostos e modos de viver é o material que a pesquisa precisa lidar ao tentar
reconstituir o homem e seu trajeto. Com isso cabe afirmar que:

A fotografia é uma poderosa evidência da realidade porque a realidade é a verdadeira


matéria-prima da imagem fotográfica. No processo de criação da imagem, a câmera
captura um rascunho, um esquema da realidade da mesma forma como ele é
apreendido pela visão. A relação da imagem fotográfica com o real provém de um
processo de indigitação e de seleção de fragmentos de realidade (BITTENCOURT,
1994, p. 227).

Com a imagem o pesquisador consegue criar uma relação com o real, que através dos
fatos, a fotografia motiva e inspira o olhar que tanto se busca explorar do expectador. Ele se faz
presente como uma peça importante que denota personagens e figuras ao campo um feixe de
experiências retratada. O papel de deixar estático no tempo o que é dito tem poder de fazer
sobreviver o objeto. A fotografia já é por ela mesma um objeto de si e uma gama de condições
de tempo e espaço do que se observa. É possível retirar o véu, o encoberto, desvendando as
coisas da realidade que a cerca, os momentos ocorridos, ao trazer de volta a imagem de lugares,
coisas, fatos históricos e sociais, ou seja sua memória relacionada ao período em ocorreram,
enquadra e torna o tempo essência, uma unidade que o olhar de quem se depara com o vivido.
Bittencourt ressalta que:
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Ao apreender imagens e preservá-las no tempo, a fotografia perverte o fluxo do tempo.
Este é o paradoxo no qual a fotografia se encontra. Por outro lado, ao preservar um
instante, a imagem aponta não só para uma memória que lhe é intrínseca, mas evoca
especialmente uma memória que lhe é externa, a memória do espectador
(BITTENCOURT, 1994, p. 228).

A maneira como percebemos as situações é o que torna a imagem da fotografia uma


percepção capaz de transformar o objeto numa dimensão visual, entrando suas formas e
sentidos. O que existe entre fotografia e realidade capturada é uma nova leitura do tempo. Essa
relação não pode ter fonte de dado, sendo que outros universos culturais indicam possibilidade
de outras múltiplas leituras. O que se depara diante de nós é uma interpretação que existe na
eventualidade do reconhecimento de imagens como sendo associada a realidade buscada no
campo de pesquisa. A mensagem entendida é orientada pelo sentidos, ou seja, estamos no plano
da sensação, em que o estético participa motivando o espectador a encontrar esse lugar do Outro
como diferença do nós. Isso só é possível porque somos orientados no plano da percepção,
aprendemos a olhar as coisas desde cedo e nela sintetizar a experiência humana por meio de
códigos que são decifrados culturalmente em cada ocasião.

Essas características representam conceitos que se difere de signos por ter como
arcabouço uma sintaxe exterior ao seus próprios sistema de signos. Nela é possível conceber as
imagens como mensagens e seu uso um instrumento etnográfico, no quais liga-se ao real e sua
leitura constrói ponte entre significantes e significados. Através disso, é capaz de produzir
sentido, elaborado pelo contexto desconhecido pelo espectador. Quem se depara com o visual
é responsável pela escolha, na medida que ignora outros significantes, sendo pura arbitrariedade
porque aprendemos como interpretar. Cabendo a cultura levar adiante esse processo de
aprendizagem e interpretação do mundo, estabelecendo normas e variações de interpretações
diversas de como os indivíduos cria a sociedade no qual ele é agente e mediador.

Para narrativa etnográfica é primordial preservar o que é visto, revelando os traços mais
importante da pesquisa de campo. Esse encontro entre texto e imagens cria uma atribuição que
para a antropologia se torna acessível aos indivíduos, permitindo a participação de espectadores
e leitores ao elaborar relatos sobre a realidade circunscrita. Deixa acessível o trabalho de campo
a partir de uma estrutura flexível dentro da própria narrativa. As fotografias produzidas em
campo assumem-se como produtos sociais de um modo de ver e ser visto, isso funciona como
referenciais nos quais os contextos de uma realidade é possível se achar coletiva.

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Conclusão

Contudo, tratamos do que existe entre pesquisa campo e seus recursos, comentando a
possibilidade de pensarmos a cultura afro-brasileira nesse meio pesquisado. Assumindo que é
possível dar-lhe lugar de destaque, ao tentar recuperar sua história e o papel do negro a partir
de sua representação. O audiovisual aparece como mediador da pesquisa de campo, podendo
explorar a etnografia, criando formas do expectador participar do relato, além de explorar o
estético que é possível ser captado na imagem. Isso enfatiza a utilização de equipamentos e
recursos técnicos, a fim de delimitar a importância da observação sendo mediada e não se
valendo da confiabilidade dos sentidos. A tecnologia é o recurso capaz de produzir essa síntese
que construímos da realidade. Com maior alcance, a reprodução de imagens é cada vez mais
frequente na pesquisa de campo.

Os antropólogos vivem debruçados pelos rituais, símbolos e mitos, através de análises


minuciosa, os elementos que compõe a cultura afro-brasileira nos permite compreender melhor
a organização social de nossa sociedade, seus valores que são orientados por padrões e
categorias do pensamento humano. A comunicação humana é capaz de fazer sobressair esses
valores que o olho consegue captar. Segundo Novaes:

Aquilo que nos distingue enquanto seres humanos é nossa capacidade de comunicação
através da linguagem, ao passo que a percepção da imagem, embora também ela
linguagem, é algo que supomos compartilhar com outros animais. Esta perspectiva
ignora o fato de que olhar não é apenas um fenômeno fisiológico, assim como imagens
fílmicas ou fotográficas não são apenas cópias do mundo visível. Olhar e produzir
imagens implica operações mentais complexas, ligadas a nossa vida psíquica e
cultural. Percebemos, sobretudo, aquilo que conhecemos do mundo, exatamente
aquilo que a linguagem procura estruturar e ordenar. Concebemos o mundo, o espaço,
o tempo, a pessoa, a própria noção de imagem, através de valores que guiam o nosso
olhar, nossa percepção e nossa representação, que não são, portanto, atividades
universais ou naturais (NOVAES, 2009, p. 19).

A cultura, a arte, os rituais são aspectos para os quais as câmeras fotográficas são
contribuinte, o negro pode ser explorado positivamente, dando ênfase para seus modos de vida
e tradição onde o diários de campo pode acompanhar uma boa sequencia de imagens a ser
traduzidas pelo espectador. O lugar desse passado marcado pela presença de aspectos
socioculturais do negro brasileiro permanece na caracterização da cultura popular, agregando
consigo influências de outros ritmos e gestos, isso torna patente outras diversas influencias.

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Referências Bibliográficas

BITTENCOURT, L. A fotografia como instrumento etnográfico. Tempo Brasileiro, Rio de


Janeiro, Anuário Antropológico/92, 1994.

CONORD. S. A função mediadora da imagem fotográfica. Iluminuras, Porto Alegre, v.14,


n.32, p.11-29, jan./jun. 2013.

GUESSER, A. H. A etnometodologia e a análise da conversação e da fala. EmTese, vol. 1, nº


1 (1), p. 149-168.

LAPLANTINE, F. A Etnografia como atividade perceptiva: o olhar. A descrição etnográfica.


São Paulo: Terceira Margem, 2004.

MOURA, C. História do negro brasileiro. São Paulo: Ática, 1989.

NOVAES, S.C. Entre a harmonia e a tensão: as relações entre antropologia e imagem.


Anthropológicas, v. 20(1+2): 9-26, 2009.

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