Processo 31570 Defesa Previa Transitar em Velocidade Superior A Meaacutexima Permitida em Ateeacute 20 20220629213259

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***NÃO USAR ESSA FOLHA NO RECURSO***

Passo a passo para protocolar seu recurso:

1 - Imprima seu recurso.

2 - Assine na última folha aonde consta seu nome (nome do requerente).

3 - Tire cópia simples dos seguintes documentos e anexe ao recurso.


Documentos necessários:

A - Cópia da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) ou RG e CPF do requerente.

B - Cópia da notificação recebida ou extrato do veículo que conste a multa a ser recorrida.

C - Cópia do documento (CRLV ou CRV) do veículo multado.

D - Outras provas documentais necessárias.

4 - Levar o recurso devidamente assinado, junto com todos os documentos anexados ao órgão de trânsito
responsável, ou envie pelos Correios através de AR (Aviso de Recebimento).

***NÃO USAR ESSA FOLHA NO RECURSO***

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ILUSTRÍSSIMOS SENHORES JULGADORES

Eu, PHILIPE SILVA FARIAS, portador do RG 1235457878 BA, inscrito no CPF 011.105.895-30,
domiciliado Rua Alexandre Fleming, 222 - Góes Calmon, CEP. 45605-370 na cidade de Itabuna,
BA, venho, respeitosamente, com fulcro na Lei 9503/1997 c/c Resoluções 299/2008 e 619/2016
do CONTRAN, apresentar tempestivamente, DEFESA PRÉVIA contra o Auto de Infração de
Trânsito número S029579154 lavrada contra o veículo de placa PJL2854.

DOS FATOS

Fui autuado por supostamente Transitar em velocidade superior a máxima permitida em


até 20%, infração prevista no artigo 218, I do Código de Trânsito Brasileiro, porém está
penalidade não deve prosperar, pois sempre prezei pela condução segura e o respeito às
normas de trânsito, conforme os ensinamentos do capítulo III do CTB.

Ainda, o referido auto de infração está eivado de vícios e irregularidades insanáveis, desde a
sua lavratura até a sua efetiva notificação, o que será demonstrado a seguir.

Por fim, deverá a presente autuação ser cancelada e todos os seus efeitos anulados, evitando
assim a ocorrência de prejuízos indevidos.

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DOS DIREITOS

O direito de ingressar com a defesa desta multa está esculpido no Art. 282 Caput, § 4º do
Código de Trânsito Brasileiro.

Art. 282 - Aplicada a penalidade, será expedida notificação ao


proprietário do veículo ou ao infrator, por remessa postal ou por
qualquer outro meio tecnológico hábil, que assegure a ciência
da imposição da penalidade.
[...]
§ 4º Da notificação deverá constar a data do término do prazo
para apresentação de recurso pelo responsável pela infração,
que não será inferior a trinta dias contados da data da
notificação da penalidade.
[...]

Para reforçar, temos a Resolução 619/16 do CONTRAN que em seu Art. 9º diz:

Art. 9 - Interposta a Defesa da Autuação, nos termos do § 4º do


art. 4º desta Resolução, caberá à autoridade competente
apreciá-la, inclusive quanto ao mérito.
§ 1º Acolhida a Defesa da Autuação, o Auto de Infração de
Trânsito será cancelado, seu registro será arquivado e a
autoridade de trânsito comunicará o fato ao proprietário do
veículo.
[...]

Acolhida as premissas de admissibilidade e constatada as irregularidades do auto de infração,


este deverá ser arquivado conforme dispõe o Código de Transito Brasileiro em seu Art. 281:

Art. 281 - A autoridade de trânsito, na esfera da competência


estabelecida neste Código e dentro de sua circunscrição, julgará
a consistência do auto de infração e aplicará a penalidade
cabível.

Parágrafo único. O auto de infração será arquivado e seu


registro julgado insubsistente:

I - se considerado inconsistente ou irregular;


II - se, no prazo máximo de trinta dias, não for expedida a
notificação da autuação.

Ademais, dispõe o Art. 53 da Lei Federal 9.784/99 - Lei do Processo Administrativo, que:

Art. 53 - A Administração deve anular seus próprios atos,

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quando eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por
motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos.

DOS PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A administração pública deve pautar suas ações e condutas voltadas ao bem comum, atento
aos princípios constitucionais escritos no Art. 37 da Carta Magna, sendo eles a legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência.

O princípio da legalidade na administração pública, diferentemente dos particulares, determina


que ela só possa fazer o que a lei permitir e da forma prescrita em lei. Nos dizeres de Lenza
(2012, p. 978) "Deve andar nos ´trilhos da lei´ corroborando a máxima do direito inglês: rule of
law, not of men. Trata-se do princípio da legalidade estrita, que, por seu turno, não é absoluto!
Existem algumas restrições, como as medidas provisórias, o estado de defesa e o estado de
sítio".

Já no princípio da impessoalidade, o legislador constituinte visou coibir conduta que


possibilitasse, de forma arbitrária, a satisfação de interesses próprios do agente público, caso
fosse ele movido por vaidade ou abuso de poder. Nos dizeres de Ferrari (2011, p. 244) "pois
nele pode se ver tentado a substituir o interesse coletivo por considerações de ordem pessoal,
determinando o que se chama de desvio de finalidade ou abuso de poder, na medida em que o
desrespeito à lei abre espaço para oportunizar o favorecimento ou a perseguição".

Quanto ao princípio da moralidade ele diz respeito a condutas honestas, limpas, éticas,
condizentes com o interesse público, não sendo confundidas com a moral comum, esse
princípio é integrado com o da legalidade, devendo se atentar aos motivos ou interesses dos
agentes.

Sobre o princípio da publicidade temos que a administração pública não pode atuar de forma
oculta, devendo informar os seus atos e dar ciência aos cidadãos de suas condutas. Só a
publicidade permite evitar os inconvenientes presentes nos processos sigilosos, de modo que,
no que diz respeito à atividade da Administração Pública, ela é indispensável, tanto no que diz
respeito à proteção dos direitos individuais, como quanto no que tange aos interesses da
coletividade, ao controle de seus atos.

Por fim temos o princípio da eficiência, ensina Emerson Gabardo, apud Ferrari (2011, p. 246)
"por eficiência se deve entender a racionalização da ação, a preocupação com a maior
eliminação de erros possível, e que, por ser um termo multifacetado e até ambíguo, muitas
vezes é utilizado em sentido extremamente restrito".

Acerca da relevância da aplicação dos Princípios, temos, segundo Celso Antônio Bandeira de
Melo, (Curso de Direito Administrativo, 2012) que:

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"Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma
norma qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não
apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo
sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou
inconstitucionalidade".

DO AUTO DE INFRAÇÃO INCORRETO OU INCOMPLETO - INOBSERVÂNCIA AO


MANUAL BRASILEIRO DE FISCALIZAÇÃO DE TRÂNSITO.

A fim de padronizar em todo o território nacional os procedimentos referentes à fiscalização de


trânsito, foi criado o Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito a ser seguido pelos agentes
autuadores no momento da lavratura das multas, desenvolvido por um grupo técnico e de
especialistas nessa área.

A lavratura do auto de infração precisa seguir alguns requisitos obrigatórios previstos no


Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito - Volume I, editado pela Resolução 371/2010 do
CONTRAN, e posteriormente atualizada pela Resolução 497/2014, a Resolução 561/2015
introduziu o Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito - Volume II.

Dentre esses requisitos, podemos destacar os critérios básicos a serem seguidos no momento
de enquadrar a infração, a descrição detalhada e completa do fato ocorrido no campo
observações e a medida administrativa exigida para cada multa, sendo que a não observância
a esses preceitos é considerada falta grave, devendo o auto de infração ser cancelado.

No caso de não cumprimento de medida administrativa exigida pelo CTB, como a remoção do
veículo, deverá ser registrado o motivo no campo de observações sob pena de irregularidade
do AIT. Ex.: Reboque indisponível.

Para poder instruir melhor o presente recurso se faz necessário que seja juntado
pelo órgão autuador cópia do auto de infração em discussão, e assim, sejam apreciadas
e apontadas às irregularidades existentes, devendo o órgão julgador avaliar as falhas e
promover o seu cancelamento.

O preenchimento do auto de infração segundo o Manual de Fiscalização referente a multa por


transitar em velocidade superior a máxima permitida em até 20%, infração prevista
no artigo 218, I do Código de Trânsito Brasileiro encontra-se irregular, vejamos quando
enquadrar essa infração e o que deve constar no campo de observações.

Quando Autuar: Veículo transitando em velocidade superior à


máxima permitida em até 20%, medida por instrumento ou
equipamento hábil, do tipo móvel, portátil ou estático.

Campo Observações: Informar se o local esta sinalizado de

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acordo com a legislação vigente.

É ilegal o auto de infração lavrado por desrespeitar a sinalização quando não há sinalização no
local, conforme determina o Art. 90 do CTB c/c Resolução 371/10 do CONTRAN.

Observem que o agente autuador não descreve no próprio auto de infração se há de fato
sinalização no local e qual tipo de sinalização, que no caso deveria ser a placa modelo R-19 e
informação complementar de "fiscalização eletrônica".

Está claro a falta de informações obrigatórias no presente auto, ocasionada pela desídia do
agente, as determinações constantes nas resoluções do CONTRAN devem ser respeitadas e
seguidas corretamente, sendo a falta do seu preenchimento falha grave passível de
cancelamento do auto.

Para auxiliar Vosso entendimento, trago julgado do TRF 3ª Região sobre o tema, que corrobora
a irregularidade acima apontada:

AGRAVO LEGAL. ATO ADMINISTRATIVO. MULTA DE TRÂNSITO.


AUSÊNCIA DA INDICAÇÃO DOS MOTIVOS QUE FUNDAMENTAR
SUA IMPOSIÇÃO. PRECEDENTES. 1. O agravo interposto pela
União Federal não inova o tema, tampouco se insurge contra os
precedentes sobre os quais se fundaram a decisão monocrática,
que concluiu, confirmando a sentença de primeiro grau, pela
invalidade da autuação, diante da legislação estabelecida para
a imposição de multas no Código de Trânsito Brasileiro (lei
9.503/97) e o Regulamento do Código de Trânsito Nacional. 2.
Ausente no auto lavrado a motivação do ato, consistente
na infração de expor em risco a integridade de qualquer
indivíduo pela noticiada ultrapassagem forçada. A
infração sequer foi minimamente descrita, limitando-se o
agente de trânsito a indicar o ordenamento violado, não
tendo o cuidado de descrever os fatos, considerando a
gravidade da infração. 3. Precedentes que embasaram a
decisão agravada: STJ: Primeira Turma: REsp n. 200500020903.
Rel. Min. Luiz Fux; RESP 200502091547 Rel Min. Luiz Fux, DJ:
03/09/2007 Pg:123; Quinta Turma: ROMS 200401368530,
Laurita Vaz, DJe 03/11/2009. 4. Agravo não provido. (TRF-3 - AC:
200 MS 0000200-58.1999.4.03.6002, Relator: JUÍZA
CONVOCADA ELIANA MARCELO, Data de Julgamento:
07/03/2013, SEXTA TURMA)

Embora se saiba que o agente é detentor da fé-pública, esta não deve ser solitariamente
suficiente para se praticar atos em desrespeito à Lei, portanto, uma vez que o mesmo deixa de
cumprir aquilo que lhe é determinado, seu ato perde a validade na sua essência, restando clara
a irregularidade do presente auto de infração.

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Para corroborar o que se alega, vejamos decisão acertada da JARI em recurso apresentado sob
as mesmas circunstâncias:

Auto de Infração: 116100E006106715


Resultado: AUTO DE INFRAÇÃO INCONSISTENTE OU IRREGULAR,
ESTAR ILEGÍVEL NO TODO OU EM PARTE.

ANÁLISE: Conforme análise, constatou-se que o auto de infração


é irregular por não estar devidamente preenchido, visto que o
Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito - Volume I,
através da Resolução 371/10, expressamente recomenda
a descrição da situação observada e, se possível, a
descrição do trecho percorrido, ambas no campo de
observação do auto.Na descrição, consta somente o
preenchimento do campo "condutor não identificado /
veículo em movimento", como se observa na fl. 05 deste
processo. Assim, em conformidade com o artigo 281 do CTB -
Código de Trânsito Brasileiro, arquiva-se o auto de infração.

DECISÃO: Tendo em vista a análise acima apresentada,


ACOLHO o Recurso de Defesa da Autuação; de consequência,
desconsidero o auto de infração. Arquive-se. Data Parecer:
17/08/2016

Demonstrada todas essas irregularidades, não resta outra alternativa senão o cancelamento do
presente auto de infração.

DA AUSÊNCIA DAS INFORMAÇÕES OBRIGATÓRIAS NA NOTIFICAÇÃO

O artigo 9º da Resolução 798/20, DETERMINA algumas informações OBRIGATÓRIAS que devem


constar na NOTIFICAÇÃO DE AUTUAÇÃO (NA), vejamos.

Art. 9º Para sua consistência e regularidade, o auto de infração


de trânsito (AIT) e a notificação de autuação (NA), além do
disposto no CTB e na legislação complementar, devem conter,
NO MÍNIMO, as seguintes informações:
I - imagem com a placa do veículo;
II - velocidade regulamentada para o local da via em km/h;
III - velocidade medida do veículo, no momento da infração, em
km/h;
IV - velocidade considerada, já descontada a margem de erro
metrológica, em km/h;
V - local da infração, onde o equipamento está instalado ou
sendo operado, identificado de forma descritiva ou codificado;
VI - data e hora da infração;

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VII - identificação do instrumento ou equipamento utilizado,
mediante numeração estabelecida pelo órgão ou entidade com
circunscrição sobre a via;
VIII - data da última verificação metrológica; e
IX - números de registro junto ao Inmetro e de série do
fabricante do medidor de velocidade.
Parágrafo único. O órgão ou entidade com circunscrição sobre a
via deve dar publicidade, por meio do seu site na rede mundial
de computadores, antes do início de sua operação, da relação
de todos os medidores de velocidade existentes em sua
circunscrição, contendo o tipo do equipamento, o número de
registro junto ao Inmetro, o número de série do fabricante, a
identificação estabelecida pelo órgão e, no caso do tipo fixo,
também do local de instalação.

Podemos notar que é impossível identificar alguns desses itens na notificação.

Assim, diante da ilegibilidade dessas informações obrigatórias, deverá ser cancelada a presente
infração a fim de que seja arquivado o procedimento administrativo em questão.

DA NULIDADE POR INOBSERVÂNCIA A LEGISLAÇÃO - RESOLUÇÃO CONTRAN


798/2020

As autuações de excesso de velocidade devem seguir as determinações da Resolução


CONTRAN 798/2020. Vamos então analisar as irregularidades presentes na lavratura do Auto de
Infração.

RESOLUÇÃO Nº 798, DE 2 DE SETEMBRO DE 2020.

Art.1° Esta Resolução dispõe sobre requisitos técnicos mínimos


para a fiscalização da velocidade de veículos automotores,
elétricos, reboques e semirreboques.

Art. 4º Os medidores de velocidade devem observar:


I - requisitos metrológicos:
a) ter seu modelo aprovado pelo Instituto Nacional de
Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), atendendo à
legislação metrológica em vigor e aos requisitos estabelecidos
nesta Resolução;
b) ser aprovado na verificação metrológica pelo Inmetro ou
entidade por ele delegada; e
c) ser verificado pelo Inmetro ou entidade por ele delegada,
com periodicidade mínima de doze meses, conforme
regulamentação metrológica em vigor.
II - requisitos técnicos:

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a) registrar a velocidade medida do veículo em km/h;
b) registrar a contagem volumétrica de tráfego;
c) registrar a latitude e longitude do local de operação; e
d) possuir tecnologia de Reconhecimento Óptico de Caracteres
(OCR).

Podemos notar que não consta a contagem volumétrica de tráfego, sendo que essa é uma das
informações mínimas que devem constar no auto de infração. Tal irregularidade acarreta a
nulidade do AIT, conforme rege artigo 281 do CTB.

Percebam, caros julgadores, que a citada Resolução não menciona um tipo específico de
equipamento mas que TODOS OS EQUIPAMENTOS DOTADOS DE REGISTRADOR DE IMAGEM
DEVEM REGISTRAR A CONTAGEM VOLUMÉTRICA DE TRÁFEGO!

Assim, por restar clara a ilegalidade do equipamento utilizado, nos debruçamos sobre o Código
do Processo Penal para, de forma análoga, pedir pelo cancelamento do citado auto de infração:

"Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do


processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em
violação a normas constitucionais ou legais. (Redação dada pela
Lei nº 11. 690, de 2008)

§ 1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas,


salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre
umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por
uma fonte independente das primeiras."

Podemos notar que não consta a contagem volumétrica de tráfego, sendo que essa é uma das
informações mínimas que devem constar no auto de infração. Tal irregularidade acarreta a
nulidade total do auto de infração de trânsito, haja vista que a imagem capturada não pode ser
utilizada como prova por derivar de ato ilegal, conforme vimos nos artigos acima citados.

DO PRINCÍPIO BIS IN IDEM

Senhores julgadores, tem-se claro que no presente caso o requerente sofreu aplicação de duas
penalidades pelo suposto cometimento de um único ato infracional.

Sabe-se que existe um princípio jurídico denominado "non bis in idem" o qual significa: não ser
duplamente punido pelo mesmo delito. Esse princípio é aplicado em diversos ramos do direito.
No direito penal: ninguém pode ser condenado duas vezes pelo mesmo delito; direito tributário:
nenhum tributo pode incidir duas vezes sobre o mesmo fato gerador; e também deve ser
aplicado nas questões que envolvam o trânsito.

Nesse sentido destacamos o ensinamento de Arthur Vieira de Rezende e Silva:

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"Entre os muitos anexins que usualmente são citados nos
tribunais encontramos com freqüência non bis in idem, axioma
de jurisprudência em virtude do qual não se pode ser punido
duas vezes pelo mesmo delito". (ARTHUR VIEIRA DE REZENDE E
SILVA- Frases e Curiosidades Latinas, Cachoeira do Itapemirim,
1ª ed., 1926, pág. 506)

Verifica-se que as duas supostas infrações ocorreram no mesmo dia e local, e com diferença
pífia de tempo entre elas, portanto, é inconcebível ser penalizado duplamente pelo mesmo ato,
conforme prevê o Princípio "bis in idem".

CITA-SE ISTO PARA LEMBRAR QUE FOGE A LÓGICA A DUPLICIDADE DO MESMO EFEITO PARA
UMA SÓ CAUSA.

Para que torne claro o que significa infração continuada, oportuno destacar o artigo do
advogado e assessor jurídico do CETRAN/PR, Dr. Marcelo José Araújo, vejamos:

"Infrações continuadas e o Código de Trânsito

Imagine que seu veículo está estacionado de forma irregular,


sem sua presença, e um agente lavra uma autuação por tal
irregularidade. Passados alguns minutos outro agente,
percebendo a ocorrência dessa irregularidade promove outra
autuação, e assim sucessivamente. Por não estar presente o
condutor, a autuação seria lavrada à sua revelia, devendo ser
notificada via postal, não havendo qualquer obrigação do
agente em deixar uma das vias no pára-brisa, e mesmo que o
faça, qualquer pessoa poderia retirá-lo, de forma que outro
agente não tomasse ciência da autuação anterior. Pergunta-se:
valem todas as autuações, ou apenas a primeira? Ou ainda, de
tempos em tempos poderia ser lavrada outra? Antes que
alguém use como argumento o tal "bom-senso", alerto que em
minha opinião ao se falar em trânsito só existe "bom-senso"
enquanto apenas uma pessoa fala para si mesmo, conforme
seus próprios critérios, pois a partir do momento que houver
duas, certamente não haverá consenso absoluto...

HÁ INFRAÇÕES, COMO VIMOS NO EXEMPLO ACIMA, QUE PODEM


PERDURAR NO TEMPO DE FORMA CONTINUADA, E ASSIM
PERMANECEREM CASO A AUTORIDADE OU SEUS AGENTES NÃO
OBSTEM ESSA CONTINUIDADE. SÃO O QUE PODERÍAMOS
CHAMAR DE "INFRAÇÕES CONTINUADAS". Essa expressão, aliás,
não é encontrada na Legislação de Trânsito em vigor (nem na
anterior), mas foi mencionada num dos Projetos do Código de
Trânsito Brasileiro (Projeto 3710-C/93, art. 258, §4º), cuja
redação era de que "em se tratando do cometimento de
infrações continuadas, a aplicação da penalidade poderá ser

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renovada a cada 6(seis) horas". Segundo esse dispositivo, (que
não foi aprovado), no exemplo citado acima somente poderia
haver outra autuação depois de seis horas, e aquelas lavradas
nesse ínterim seriam arquivadas. Da forma como está hoje a
legislação, absolutamente nada impediria de agentes distintos,
ou do mesmo agente, lavrar continuamente autuações numa
infração continuada, salvo seu "bom-senso", cuja opinião já
expusemos.

Em nossa opinião, NO CASO DE UMA INFRAÇÃO CONTINUADA, O


AGENTE QUE VERIFICASSE SUA OCORRÊNCIA DEVERIA LAVRAR
APENAS UMA AUTUAÇÃO, e imediatamente tomar as
providências para que ela não permaneça. Assim, no caso do
estacionamento irregular seria a remoção imediata do veículo, e
jamais, como ocorre em alguns países (e algumas pessoas
queriam por aqui), prender a roda com trava, que seria uma
forma de manter a ocorrência da infração, e não saná-la. Outro
exemplo que tem ocorrido é quanto aos radares eletrônicos.
Nada impede que a autoridade instale radares continuamente
ao longo de uma via, e a pessoa numa velocidade praticamente
constante leve infinitas autuações. Quem instala um, instala
dez...e não me venham com "bom-senso"! Já vimos casos em
Curitiba de infrações de velocidade numa mesma via com
diferença de poucos minutos. No caso da velocidade, quando é
um agente com radar (autuado logo à frente), ou até mesmo a
Lombada Eletrônica, com pórtico visível, luzes, sirenes, etc., a
pessoa que venha a ser flagrada imediatamente deixa de
contém a velocidade e encerra a infração (que é o grande
objetivo), MAS COM O RADAR ELETRÔNICO, QUEM PASSOU NO
PRIMEIRO PASSA NOS OUTROS E SÓ DESCOBRE QUASE UM MÊS
DEPOIS. SEM FALAR EM "BOM-SENSO" OU NA FALTA DELE, SERÁ
QUE A LEI QUER PUNIR CONTINUAMENTE, OU PUNIR PORQUE
OCORREU, E NÃO DEIXAR QUE CONTINUE UMA
IRREGULARIDADE?" (destaques nossos)

Portanto, pode-se concluir que as infrações cometidas pela Requerente foram continuadas,
perdurou no tempo... onde supostamente estava transitando em faixa da esquerda exclusiva e
logo após, alguns minutos de diferença ela foi novamente autuada, pela mesma conduta, na
mesma via.

O Poder Judiciário já se manifestou em caso semelhante, vejamos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO ANULATÓRIA DE INFRAÇÃO


DE TRÂNSITO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. MULTAS APLICADAS
EM RAZÃO DO MESMO FATO. BIS IN IDEM.
Estão presentes a verossimilhança das alegações e o risco de
dano grave, requisitos para a concessão da tutela antecipada,

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uma vez que as provas dos autos indicam ter a recorrente sido
cobrada em duplicidade pela mesma multa relativa à infração
que cometeu, em claro bis in idem vedado pelo ordenamento
jurídico brasileiro, e que a existência de um auto de infração
pendente de pagamento certamente obstará a renovação do
Licenciamento do Veículo. (Agravo de Instrumento Nº
70030187165, Vigésima Segunda Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Rejane Maria Dias de Castro Bins, Julgado
em 30/07/2009)

Nesse sentido também já foi decidido administrativamente. Vejamos duas decisões proferidas
em sede de recurso administrativo pela Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização de
Londrina (CMTU):

Processo: 116579 - Data do protocolo: 08/11/2005


Análise defesa prévia (Michele M Cassiano - agente municipal):
Conforme análise ao auto de infração 276670-B-153016,
lavrado por autoridade de trânsito - agente municipal,
constatamos que trata-se de infração continuada, tendo em
vista a imposição do auto de n.º 276670-B-152823, referente a
mesma infração, com diferença de apenas um minuto entre
uma e outra.
Decisão: Tendo em vista a analise acima apresentada, acato e
defiro o recurso de defesa prévia, de conseqüência,
desconsidero o auto de infração. Arquive-se.
Londrina, 07/12/2005
ALVARO GROTTI JUNIOR
Diretor de Trânsito

E novamente:

Processo: 128616 - Data do protocolo: 19/06/2006


Análise defesa prévia (Michele M Cassiano - agente municipal):
Conforme análise ao auto de infração de n. 276670-B-164679,
lavrado por autoridade de trânsito, constatamos que trata-se de
infração continuada, uma vez que houve a imposição do auto de
n.º 276670-B-164309, com apenas dois minutos de diferença.
Decisão: Tendo em vista a analise acima apresentada, acato e
defiro o Recurso de Defesa Prévia, por conseqüência,
desconsidero o auto de infração. Arquive-se.
Londrina, 05/09/2006
ALVARO GROTTI JUNIOR
Diretor de Trânsito

Diante de todo o exposto, não restam dúvidas de que a infração em tela apresenta-se como
infração continuada, e portanto, deve ser arquivada e todos os seus efeitos.

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DA AUSÊNCIA DE SINALIZAÇÃO OBRIGATÓRIA

É ilegal o auto de infração lavrado em fiscalização ocorrida em via com velocidade máxima
diferente da disposta no Art. 61 do CTB, e que não esteja devidamente sinalizada, conforme
determina o Art. 10º e seguintes da Resolução 798/20 do CONTRAN c/c Art. 90 do CTB:

Art. 90. Não serão aplicadas as sanções previstas neste Código


por inobservância à sinalização quando esta for insuficiente ou
incorreta.

§ 1º O órgão ou entidade de trânsito com circunscrição sobre a


via é responsável pela implantação da sinalização, respondendo
pela sua falta, insuficiência ou incorreta colocação.

Para que se comprove tal fato, é imprescindível que o agente autuador declare, no próprio auto
de infração, a distância existente entre a sinalização e o equipamento registrador de imagens,
fato este que não vemos no auto em tela.

DA INSUFICIENCIA DA SINALIZAÇÃO

É ilegal o auto de infração lavrado em fiscalização ocorrida em via na qual exista acesso entre a
sinalização (Placa R-19) e o equipamento medidor e registrador de imagens, conforme
determina o § 2º, Art. 11º da Resolução 798/20 do CONTRAN.

Ocorre que o agente autuador não especificou, no auto de infração, a existência da sinalização
existente, e sequer observou sua localização, conforme determina a Resolução acima citada.

Sendo assim, pede-se pelo afastamento da fé-pública do agente por restar comprovado que o
respectivo auto de infração não atende os requisitos mínimos de validade.

IRREGULARIDADE NA NOTIFICAÇÃO DA INFRAÇÃO DE TRÂNSITO

Determina o Código de Trânsito Brasileiro e o CONTRAN através de suas Resoluções, que


somente será considerada válida a notificação do cometimento de uma infração de trânsito
quando esta for expedida em no máximo 30 dias, contados da data do cometimento da suposta
infração.

O órgão autuador deverá notificar o infrator quanto ao cometimento da infração de maneira


eficaz e segura, comprovando o envio desta. Atualmente o meio seguro a ser utilizado nos
Correios é a carta registrada com aviso de recebimento (A.R.) e não a carta comum sem
possibilidade de rastreio, pois a correspondência enviada de maneira incorreta impossibilita
saber se ela foi realmente postada e entregue e também não é possível saber a data correta de

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postagem.

Resta claro que o DNIT falhou ao notificar a infração de trânsito cometida, visto não possuir
qualquer documento que comprove o seu envio, pois de acordo com o Art. 282 do CTB, o
infrator/proprietário do veículo deve ser notificado da penalidade por meio que assegure a sua
ciência.

Art. 282 - Aplicada a penalidade, será expedida notificação


ao proprietário do veículo ou ao infrator, por remessa
postal ou por qualquer outro meio tecnológico hábil, que
assegure a ciência da imposição da penalidade.

A notificação desta infração não foi emitida ou enviada corretamente, mesmo o endereço para
envio da notificação cadastrado junto ao Detran entando correto e atualizado.

Ainda que o órgão autuador alegue que emitiu a notificação, deverá comprovar que expediu e
postou nos correios em até 30 dias após o cometimento da suposta infração ou o auto de
infração será considerado precluso com fulcro no artigo 281 inciso II do CTB e artigo 4º da
resolução 619/16:

Art. 281 (CTB) - A autoridade de trânsito, na esfera da


competência estabelecida neste Código e dentro de sua
circunscrição, julgará a consistência do auto de infração e
aplicará a penalidade cabível.
Parágrafo único. O auto de infração será arquivado e seu
registro julgado insubsistente:
I - se considerado inconsistente ou irregular;
II - se, no prazo máximo de trinta dias, não for expedida
a notificação da autuação. (Redação dada pela Lei nº
9.602, de 1998)

Art. 4º (resolução 619/16) À exceção do disposto no § 5º do


artigo anterior, após a verificação da regularidade e da
consistência do Auto de Infração de Trânsito, a autoridade de
trânsito expedirá, no prazo máximo de 30 (trinta) dias
contados da data do cometimento da infração, a
Notificação da Autuação dirigida ao proprietário do
veículo, na qual deverão constar os dados mínimos
definidos no art. 280 do CTB.
§ 1º Quando utilizada a remessa postal, a expedição se
caracterizará pela entrega da notificação da autuação
pelo órgão ou entidade de trânsito à empresa
responsável por seu envio.
§ 2º Quando utilizado sistema de notificação eletrônica, a
expedição se caracterizará pelo envio eletrônico da notificação
da atuação pelo órgão ou entidade de trânsito ao proprietário

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do veículo.
§ 3º A não expedição da notificação da autuação no prazo
previsto no caput deste artigo ensejará o arquivamento
do Auto de Infração de Trânsito.
(...)

Conforme exposto acima, o princípio da Legalidade, de forma clara e cristalina, estabelece uma
rígida interpretação de que o administrador público deve obedecer estritamente o que reza a
lei, não oportunizando flexibilidade em inovar com subjetividade.

Citamos o conceituado jurista Helly Lopes Meirelles, que leciona:

"a legalidade, como princípio de administração significa que o


administrador público está, em toda sua atividade funcional,
sujeito aos mandamentos da lei, e as exigências do bem
comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de
praticar ato inválido e expor-se a responsabilidade disciplinar,
civil e criminal, conforme o caso".

Demonstrada essa irregularidade, pugna pelo cancelamento e arquivamento do presente auto


de infração.

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DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto requer:

1) Seja juntado cópia do auto de infração em discussão para a correta instrução da presente
defesa, conforme determina o Art. 37 da Lei Federal 9.784/1999.

2) Sejam devidamente analisadas TODAS as irregularidades aqui apontadas, conforme


determina o Art. 281 do Código de Trânsito Brasileiro c/c Art. 9 da Resolução 619/2016 do
CONTRAN e Art. 53 da Lei Federal 9.784/1999, inclusive quanto ao mérito;

3) Seja reconhecida a irregularidade e ilegalidade do ato administrativo, declarando a nulidade


do auto de infração em tela, e assim, determinar o seu cancelamento e arquivamento.

4) Seja MOTIVADA e FUNDAMENTADA Vossa decisão, analisando TODO o exposto,


separadamente, na sua forma e matéria, garantindo o amplo direito de defesa assegurado pela
Constituição Federal, e que tal decisão seja enviada na íntegra para o endereço do requerente.

Nesses termos, peço o deferimento.

Itabuna (BA) 29 de junho de 2022

__________________________________________________
PHILIPE SILVA FARIAS
CPF Nº. 011.105.895-30

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