Você está na página 1de 4

Tribunal de Justiça do Estado da Bahia

PODER JUDICIÁRIO
ITABUNA
3ª VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS - ITABUNA (MAT) - PROJUDI

RUFFO GALVÃO, 12, 1º ANDAR, CENTRO - ITABUNA


itabuna-3vsj@tjba.jus.br - Tel.: 73 3613-1322

Processo Nº: 0010192-36.2017.8.05.0113

Parte Autora:
LOURENCO DE OLIVEIRA SANTOS

Parte ré:
MAGAZINE LUIZA SA

SENTENÇA

Vistos etc.

Dispensado o relatório.

Alega a parte autora que adquiriu (não diz quando) um Multiprocessador All in One no
estabelecimento da ré, esta que substituiu o produto em razão do vício que surgiu no primeiro
dia de uso. Não obstante, alega que o aparelho em substituição também apresentou vícios e a
assistência técnica se nega a efetuar o reparo sob a alegação de que a peça avariada não está
coberta pela garantia.

Dessa forma, pretendeu restituição do valor pago e a substituição do produto, bem


como uma indenização por danos morais.

A ré, em sua defesa, arguiu em preliminar ilegitimidade passiva, atribuindo a


responsabilidade ao fabricante e decadência do direito, alegando que o produto apresentou
defeito quando já decorrido o prazo da garantia legal, e sem qualquer prova quanto ao prazo de
garantia existente entre o fabricante e o consumidor. Pugna pela improcedência.

DECIDO.
Rejeito a preliminar de ilegitimidade passiva, uma vez que o caso em apreço versa sobre
responsabilidade por vício de qualidade do produto, por força do qual todos os fornecedores,
inclusive o comerciante, respondem solidariamente pela reparação dos danos suportados pelo
consumidor (art. 18, CDC).

Quanto a prejudicial de mérito da decadência, passo a examinar.

Verifico que a compra do produto se deu por financiamento, como se vê no contrato de


Cédula de Crédito Bancário, anexado pela parte autora no evento 01, em data de 14/03/2014, e
que não foi contratado o seguro de garantia estendida.

O autor não informa o prazo da garantia contratual e nem a data da reclamação perante
o fornecedor do produto, de modo a obstar eventual decadência do direito, conforme preceitua o
§ 2º, I, do art 26 do CDC, in verbis:

§ 2° Obstam a decadência:

I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de


produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de
forma inequívoca.

Como sabido, na repartição do ônus da prova, segundo a sistemática processual


vigente, compete ao autor o ônus de provar os fatos constitutivos e ao réu, aqueles extintivos,
modificativos e impeditivos do direito postulado (art. 373, CPC).

Faculta-se ao juiz excepcionar a regra geral indicada, se, diante de uma relação
consumerista, as alegações do consumidor/autor, mesmo desacompanhadas da prova desejável,
quanto aos fatos constitutivos, mostra-se verossímil, isto é, tem a aparência de verdade,
segundo o que lhe informa a razoabilidade, o bom senso e regras ordinárias de experiência.

No entanto, esta não é a providencia que se reclama in casu.

A Professora Cecília Matos assim leciona:

¿Iniciada a instrução probatória, as partes ¿ tanto o consumidor como o fornecedor ¿


devem apresentar todas as provas possíveis para fundamentar suas pretensões ou
embasar sua posição jurídica que seja favorável.

Após a coleta de provas, constatada a incerteza pela insuficiência do material probatório


oferecido, o juiz determinará a realização de provas que entenda necessárias,
analisando a possibilidade de aplicação das regras da experiência.

Ainda que o consumidor não ofereça nenhuma prova, o fornecedor poderá rechaçar a
pretensão inicial, trazendo toda prova pertinente a fundamentar suas alegações e
formar a convicção do julgador. Neste caso, pela ausência de dúvidas, não há que se
falar em aplicação das regras de ônus da prova ou inversão.
Havendo dúvidas e constatando que as afirmações do consumidor são verossímeis e que
o fornecedor não fez prova que as contrariasse ou as provas produzidas não ilidiram a
presunção, o juiz avaliará o grau de probabilidade dos fatos verossímeis não provados,
podendo onerar o fornecedor por sua omissão ou desinteresse em realizar a prova¿.
(CECILIA MATOS, in ¿O ônus da prova no Código de Defesa do Consumidor¿, publicado
na Revista de Direito do Consumidor, Volume 11, julho a setembro de 1994, página 161,
RT, São Paulo, 1994.A autora é Promotora de Justiça e Mestra em Direito Processual
pela USP)

A jurisprudência pátria apoia o entendimento deste Juízo, no sentido de que o princípio


da inversão do ônus da prova não autoriza a dispensa de prova possível de ser realizada pelo
consumidor, mas, sim, aplica-se àqueles que possuem provas mínimas de possibilidade de
desenvolvimento regular do processo.

Neste sentido, o autor não conseguiu demonstrar o fato constitutivo do seu direito, qual
seja, não comprovou o prazo da garantia contratual, não provou quando o produto apresentou
vícios, que foi enviado à assistência técnica e que houve recusa para efetuar os reparos
necessários, de modo que não há elementos de provas suficientes ao acolhimento dos pleitos
indenizatórios formulados, sendo certo que, pelas regas de experiência, a garantia contratual
para produtos da espécie é, em regra, de doze meses, vindo o autor a Juízo apenas em
05/11/2017, quando superado, e muito, o referido prazo, sendo de rigor asseverar a
improcedência do seu pedido.

Com isto, acolho a preliminar de decadência e JULGO IMPROCEDENTES os pedidos


formulados na inicial.

Sem custas ou honorários nesta fase.

P.R.I.

Itabuna/BA, 09 de dezembro de 2017.

JACQUELINE LINS SILVA ZAIDAN

JUÍZA LEIGA

ANTONIO HENRIQUE DA SILVA

JUIZ DE DIREITO
Assinado eletronicamente por: ANTONIO HENRIQUE DA SILVA
Código de validação do documento: 5f27a8f8 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.

Você também pode gostar