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Apresentação do texto História Oral e Mídia: Memórias em movimento

Introdução + capitulo 1 (Entre o jornalismo e a História)

Introdução

No campo da História, a escrita da História Oral ainda enfrenta desafios que nos últimos 20 anos
vem sendo enfrentados. Ela possibilita novas formas da prática de pesquisa histórica, o livro é
baseado nessa renovação e no seu destino.

Nesta obra estão reunidos ensaios da produção social da memória em diferentes mídias. Ele aborda
as principais tendências da vídeo-história e enfatiza as diferentes estratégias metodológicas
presentes nas fontes orais e visuais.

No Primeiro capítulo Marialva Barbosa reflete sobre as semelhanças e diversidades na entrevista no


trabalho do jornalista e do historiador que se utilizam do recurso da História Oral. O tempo corrente
do jornalista e o tempo distante do historiador; os trabalhos de memória e dinâmica da lembrança e
do esquecimento são problematizados.

Todos os 6 autores foram convidados a refletir os desafios da escrita da História Oral; na obra soma-
se as experiencias ampliando esse tipo de prática historiográfica.

Entre o jornalismo e a História:

A entrevista como articulação do tempo

(Marialva Barbosa)

 Para a História Oral a entrevista é parte do processo metodológico, para o jornalismo a


entrevista ocupa papel de destaque.
 O jornalista pode produzir seu material a partir de três processos: observação direta,
procura em documentos e realização de entrevistas. A entrevista jornalística possui quatro
questões conceituais: o diálogo memorável, caráter documental, a polissemia de vozes e a
dicotomia público x privado. Para o jornalista a entrevista se apresenta como um
testemunho, na maioria das vezes no presente. Para a História ela é uma possibilidade de
acesso ao passado, tornando-se um documento. Em ambos os casos se envolvem questões
relativas à memória.
 Joelle Rouchou: importância dos jornalistas de ouvir variadas versões, dando um caráter da
entrevista como agente de apuração do noticiário. Sugere a entrevista como principal
agente do jornalismo e da história oral, mas alerta para suas distinções:
“O jornalista, ao editar a reportagem, remontando-a de acordo com os chamados critérios de
noticiabilidade e as premissas das textualidades jornalísticas, entre elas a de despertar o interesse do
leitor, irá fazê-lo com os fatos que considera os mais interessantes. Assim, a ordem linear e cronológica
não é respeitada pela transcrição do texto.”

 Ouvir vários lados de um acontecimento é um critério do jornalismo. Outra questão é tornar


o discurso que é privado em público “invadindo a privacidade do entrevistado”. Nesta fase
final do processo do jornalismo, a entrevista quando publicada ganha caráter documental.
“O jornalismo não se procura ser lugar de memória, mas sim construir narrativas para a história”
DIALOGO MEMORAVEL E FEITO TESTEMUNHO

Na entrevista jornalística a memória valorizada é ultra-presente enquanto na História Oral é


obrigatoriamente uma memória do passado. Mas em ambos os casos existe uma “testemunha”.

A operação de construir uma narrativa de um acontecimento envolve 6 condições fundamentais: a


confiabilidade presumida; o “eu estava lá”; o “acredite em mim”; a possibilidade de suspeitar da
testemunha; a possibilidade da testemunha de rejeitar seu testemunho; o testemunho torna-se um
fator de segurança das relações constitutivas do seu vínculo social.

Ambos as pesquisas contam com a presença da entrevista e testemunho, a diferença que na


entrevista jornalística a memória é de um passado presente enquanto na história oral é de um
tempo longínquo que busca reconstruir ou reconfigurar o que foi vivido.

Na entrevista jornalística o aspecto principal é ouvir o outro e os diversos discursos, praticando a


confiabilidade. Na metodologia da História Oral é necessária uma pesquisa bibliográfica prévia sobre
o entrevistado e a construção de um roteiro que envolvem 3 aspectos: os marcos das histórias das
instituições por onde o testemunho passou; sua produção nesses períodos e os dados da conjuntura
e contextos históricos envolvidos. Normalmente as entrevistas de história oral duram muito tempo e
sem muitas interrupções.

Na construção da História Oral a questão da invasão de privacidade é ainda mais contundente


porque há um envolvimento maior do entrevistador com o entrevistado.

Na História Oral são oferecidas várias possibilidades de entrevistas como a história de vida, história
temática e tradição oral. Já no jornalismo a entrevista pode se categorizar em 4 tipos: informativa,
opinião, perfil e expressa. (pag 17)

A escolha do entrevistado no jornalismo tem a ver com os atrativos dele, a forma que ele vai seduzir
o destinatário. Já no processo da História oral o testemunho tem que estar à par do objeto central
da pesquisa.

A autora conclui que apesar de guiar as entrevistas às testemunhas o resultado sempre será diverso.

Tempo contemporâneo: tempo da memória ou da aceleração?

Hoje vive-se uma sensação de aceleração do tempo estimulada pelo presente estendido desde o
passado. Isso faz necessário cada vez mais um acervo de memórias. Regime de historicidade
marcado pelo presentismo.

Essa aceleração do tempo cria novos regimes de memória. Para Andreas Huyssen o boom da
memória está ligado as mudanças do mundo contemporâneo, diante dessa situação a memória
torna-se objeto de consumo. Outro novo aspecto é o lugar que a memória ocupa e se materializa, se
dá ênfase ao relato individual alterando os critérios de relevância do passado.

Nas instituições há uma proliferação dos centros de memória, construindo uma identidade
institucional produzindo sua própria legitimação e reafirmando sua identificação. Isso faz parte de
uma estratégia de poder, considerando que o mundo contemporâneo deve associar a memória e a
amnesia em seu contexto cultural.

Uso e abusos da memória


Há sempre uma tensão entre lembrança e esquecimento nos atos da memória. Assim tanto as
entrevistas jornalistas quanto na metodologia histórica estão submetidas ao uso e abuso da
memória.

A lembrança carrega um ato originário positivo, enquanto o esquecimento carrega um ato negativo.
A memória se define como uma luta contra o esquecimento, ainda que ela só exista por conta dele.

No processo memorável o esquecimento pode se dar pela ação de esquecer ou não considerar os
indícios de algo do passado. Há também um esquecimento profundo, que de tanto marcar, volta em
forma de lembrança.

Paul Ricoeur alerta também que a forma coletiva de esquecer pode ser um tipo de abuso da
memória. Ele alerta sobre memórias impedidas, manipuladas, memoria obrigada ou o esquecimento
comandado. (pag 23)

A história oficial organiza muitas vezes o próprio esquecimento.

No jornalismo o esquecimento é parte do pressuposto, já que outros atores serão confrontados. Na


História Oral as técnicas do historiador como mediador impedirá possíveis esquecimentos que não
são admitidos.

Considerações finais

O objetivo do texto foi mostrar como a entrevista como processo metodológico da História Oral
aproxima-se e se distancia do jornalismo. Mesmo com a distinção do tempo passado e presente-
passado, as duas abordagens constam com o diálogo memorável que faz do testemunho o sujeito do
que diz.

A oralidade, ou seja, a voz que diz tem que ser destacada pois nelas carregam as emoções sentidas.
Isto inclui o ritmo, as pausas, os sons, a respiração, a ação, a explosão e os gestos corporais. A
vocalidade deve ser considerada fundamental para a interpretação e construção de uma narrativa
tanto no jornalismo como na História.

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