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Informática na educação especial: tecnologias, sistemas computacionais e


experiências realizadas na reabilitação cognitiva

Article · January 2002

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Nizam Omar
Universidade Presbiteriana Mackenzie
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Informática na educação especial: tecnologias, sistemas
computacionais e experiências realizadas na reabilitação cognitiva
Giuliano Araujo Bertoti1, Nizam Omar2
1
Divisão de Ciência da Computação – Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA)
Praça Marechal Eduardo Gomes, 50 - 12228-900 – São José dos Campos – SP - Brasil
gbertoti@bol.com.br

2
Faculdade de Computação e Informática – Instituto Presbiteriano Mackenzie
Rua da Consolação, 930 – 01302 – 907 – São Paulo – SP - Brasil
omar@mackenzie.br

Resumo. Atualmente muitos profissionais, como psicólogos e fonoaudiólogos, estão usando


a informática como ferramenta para auxiliar a reabilitação cognitiva de portadores de
deficiências cognitivas ou comunicativas conseqüentes de paralisia cerebral, derrames ou
outras causas. Este artigo tem como objetivo apresentar as tecnologias da informática e da
psicologia que integradas, são usadas por terapeutas na intervenção e tratamento de
pacientes portadores de deficiências cognitivas. Logo após apresentaremos um modelo de
Sistema Tutor Inteligente que auxiliará o terapeuta, fornecendo a cada paciente um
tratamento personalizado de acordo com seu estado de saúde e suas características,
possibilitando assim o desenvolvimento do seu potencial cognitivo, criativo e humano.

Palavras-chave: Reabilitação Cognitiva, Sistemas Tutores Inteligentes, Interação Humano-


Computador.

Hoje em dia psicólogos podem substituir os


1. Introdução métodos manuais de exercícios apresentados
Reabilitação Cognitiva é um processo terapêutico acima por sistemas computacionais. A
que visa recuperar ou estimular as habilidades informática possibilita ao terapeuta a obtenção de
funcionais e cognitivas do homem após algum uma melhor análise das disfunções cerebrais,
tipo de dano cerebral, apoiando-se na capacidade proporcionando um terreno mais sólido para a
plástica do cérebro de substituir circuitos criação de programas de reabilitação preparados
cerebrais lesionados ou disfuncionantes por especificamente para o déficit de cada paciente e,
circuitos vizinhos intactos, através de estímulos por conseguinte, ampliando as possibilidades de
comportamentais. Após uma análise médica que uma melhor estimulação dos mecanismos
identifica o insulto neuronal em termos cerebrais, tanto em quantidade como em
anatômicos e fisiológicos, feita por um qualidade [Vendrell 1998]. Basicamente, a
neurologista, e uma avaliação das deficiências utilização dos computadores na avaliação e
efetivamente provocadas pela lesão, realizada por reabilitação neuropsicológica baseia-se em quatro
um neuropsicólogo, o paciente começa a ser características:
treinado pelo psicólogo e outros profissionais • A possibilidade de apresentações
(fonoaudiólogos, por exemplo) através de múltiplas, visuais e auditivas;
exercícios projetados para trabalhar deficiências
específicas. Estes exercícios podem ser apoiados • A capacidade para realizar medidas
por formulários impressos, vídeos, fitas de áudio precisas, permitindo a avaliação da
ou qualquer outro meio capaz de representar correção ou não das respostas, e a
situações do cotidiano, nas quais o paciente é medição do tempo de reação;
incentivado a se concentrar, interagir, raciocinar,
• A capacidade para armazenar e processar
tomar decisões, entender o discurso corrente e
os dados, com a possibilidade
expressar sentimentos e pensamentos [Costa
subseqüente de uma rápida avaliação e
2000].
interpretação;

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• Esta possibilidade de obter informação Saúde e Segurança Conforto e Localização
imediata sobre o rendimento do paciente Estresse, Dores de Posição física, layout do
abre as portas da interação humano- cabeça, Perturbações equipamento, etc.
computador e, portanto, situa o musculares, etc.
computador não como um simples Usuário
instrumento intermediário, mas como um Capacidade e processos cognitivos, motivação,
instrumento conceptual novo para satisfação, personalidade, experiência, etc.
formação e aplicação de técnicas de
reabilitação. Tabela 1 – Fatores em IHC [Adaptado de Rocha
2000].

Na reabilitação cognitiva o computador pode


1.1. Interação Humano-Computador interagir com o paciente por meio de diversas
interfaces como a comunicação áudio-visual, a
Interação humano-computador (IHC) é a
realidade virtual e outras menos usadas.
disciplina preocupada com o design, avaliação e
implementação de sistemas computacionais Na Realidade Virtual a interação paciente-
interativos para uso humano e com o estudo dos computador é feita através de equipamentos como
principais fenômenos ao redor deles [Rocha capacetes de visualização e luvas eletrônicas, que
2000]. Os objetivos dessa disciplina estão além de terem um custo muito elevado e serem
contidos em um conceito denominado por Jakob difíceis de encontrar, são equipamentos pesados e
Nielsen [Nielsen 1993] de aceitabilidade de um incômodos. Esses equipamentos são utilizados
sistema. para dar a pessoa à sensação de imersão, interação
e envolvimento, que são as três idéias básicas da
A aceitabilidade de um sistema é a combinação
Realidade Virtual. A principal idéia é a imersão,
de sua aceitabilidade social e sua aceitabilidade
onde o usuário não fica em frente ao monitor, mas
prática. Como um exemplo de aceitabilidade
imerso em um mundo tridimensional artificial
social, podemos mencionar os sistemas atuais de
completamente gerado pelo computador. A seguir
controle das portas de entrada em bancos que,
apresentaremos uma série de fatores que devem
apesar de serem benéficos socialmente para
ser considerados no uso da realidade virtual:
impedir assaltos, não são aceitos socialmente
porque levam a pessoa a esbarrar na porta
trancada diversas vezes antes de conseguir entrar;
a aceitabilidade prática trata dos tradicionais
parâmetros de custo, confiabilidade, Característica Característic Características
compatibilidade com sistemas existentes, etc., s do Usuário as do Sistema das Tarefas
como também da categoria denominada
“usefulness”, que refere-se ao sistema poder ser CaracterísticasApresentação Movimento no
usado para atingir um determinado objetivo. Pessoais das Imagens AV
Novamente essa categoria é uma combinação de Estabilidade Contraste; Controle de
duas outras: utilidade e usabilidade. Utilidade postural; Nível de movimento;
deve verificar se a funcionalidade do sistema faz Estado deiluminação; Velocidade do
o que deve ser feito e usabilidade é a questão Saúde; Resolução; movimento.
relacionada a quão bem os usuários podem usar a Medicação. Atraso na
funcionalidade definida [Rocha 2000]. geração e
Experiência do atualização das Imagem Visual
Para garantir a aceitabilidade de um sistema Usuário imagens; Campo de vista;
devemos considerar uma série de fatores Exposição Intermitência; Conteúdo da
humanos: anterior Distância cena;
Histórico de interocular. Movimento da
problemas imagem;
anteriores Regiões
Fatores Ambientais visíveis;
Fatores
Barulho, Aquecimento, Fluxo da visão.
Organizacionais
Ventilação,
Treinamento, Luminosidade, etc.
Políticas, Organização
do Trabalho, etc.

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Fatores Interação fundamentais como a seleção de figuras, busca de
Perceptuais e Usuário e AV ícones e outros, criando com isso uma realidade
de Movimento de particular para cada paciente.
Personalidade cabeça;
Adaptabilidade Postura.
e receptivida-
de; Neuroses
Tabela 2 – Fatores no uso da Realidade Virtual
1.2. Distúrbios
[Costa 2000].
Os distúrbios, atualmente objeto de estudo e
Na Comunicação Áudio-Visual a interação tratamento em reabilitação cognitiva, são os de
paciente-computador é feita através de periféricos visão, audição, motores e distúrbios particulares
como visor comum ou especial (por exemplo, de aprendizagem como: Afasia (perda ou
visores sensíveis ao toque), mouse e teclado alteração da linguagem) [Prestes 1998] &
(muitas vezes projetados para serem usados por [Azambuja 1998] & [Capovilla 1997], dislexia
deficientes), caixas de som e outros equipamentos (déficit no desenvolvimento do reconhecimento e
que são criados para tornar a comunicação entre o compreensão de textos escritos) [Garcia 1998] &
computador e o deficiente mais completa. Neste [Senaha 1998], agrafia (dificuldade significativa
tipo de interface o usuário não usa equipamentos no desenvolvimento das habilidades relacionadas
apoiados no corpo e não precisa fazer grandes com a escrita) [Garcia 1998], apraxia (desordens
movimentos para interagir com o sistema, como na execução dos movimentos com um propósito
na realidade virtual. A seguir apresentaremos uma definido) [Souza 1998] & [Luiz 1998], e outros.
série de fatores que devem ser considerados no
1.3. Objetivos
uso da comunicação áudio-visual:
Neste artigo apresentaremos tecnologias
desenvolvidas pela informática (seção 2.1) e pela
psicologia (seção 2.2) que integradas,
Caracterís Característica Características implementam diversos sistemas já desenvolvidos
ticas do s do Sistema das Tarefas (seção 2.3) que auxiliam terapeutas no tratamento
Usuário de pacientes portadores de deficiências
Tipo Apresentação Visualização cognitivas. Na seção 3 propomos um modelo de
das de imagens das imagens e Sistema Tutor Inteligente que utiliza as
deficiên com boa textos; tecnologias da informática e da psicologia
cias que resolução; Entrada de dados apresentadas para promover ao paciente um
ele Contraste e no sistema; tratamento personalizado, enquanto na seção 4
possui; nível de Escutar apresentaremos algumas conclusões.
Suas iluminação; os
habilidade Reproduçã arquivos
s. o de sons de áudio.
com boa 2. Tecnologias e Sistemas
qualidade; Computacionais
Necessidade de
recursos de Nesta seção apresentaremos as principais
interação tecnologias, desenvolvidas pelas áreas da
especiais. Informática e da Psicologia, e alguns sistemas
computacionais que utilizam essas tecnologias
para auxiliar terapeutas na reabilitação cognitiva
Tabela 3 - Fatores no uso da Comunicação de pacientes.
Áudio-Visual.

Considerando as características do usuário, do 2.1. Tecnologias da Informática


sistema e das tarefas (tabelas 2 e 3) de cada umas
Inteligência Artificial – É o conjunto de técnicas e
das interfaces citadas anteriormente, a
metodologias de programação usadas para tentar
Comunicação Áudio-Visual é a interface mais
resolver os problemas de forma mais eficiente que
utilizada por sistemas computacionais para a
soluções algorítmicas, e fazendo isso o mais
reabilitação cognitiva, podendo também utilizar
próximo possível de um ser humano [Lemos].
técnicas da Realidade Virtual nos seus aspectos

XIII Simpósio Brasileiro de Informática na Educação – SBIE – UNISINOS 2002 186


Representação e Processamento de LIBRAS, intitulado Língua de Sinais Brasileira:
Conhecimento - A manifestação inteligente Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngüe.
pressupõe aquisição, armazenamento e inferência Neste livro, os sinais da LIBRAS encontram-se
de conhecimento. Para que o conhecimento possa indexados pela ordem alfabética dos 9.500
ser armazenado é essencial que se possa verbetes em Português e em Inglês a eles
representá-lo. Grande parte do esforço em correspondentes [Duduchi 2000].
Inteligência Artificial tem se concentrado em
Braille – O Braille é um processo de escrita em
buscar ou aperfeiçoar formalismo para
relevo para leitura táctil, inventado por Luís
representação do conhecimento. Os estudos sobre
Braille (1809-1852). Compõe-se de 63 sinais
Representação do Conhecimento, estão, em boa
formados por pontos, a partir de um conjunto
parte, ligado à hipótese de representação do
matricial idêntico a uma sena de dominó. Com o
conhecimento de Brian Smith, ou seja, de que
Braille representam-se os alfabetos latino, grego,
qualquer processo inteligente realizado por uma
hebraico, cirílico e outros, bem como os alfabetos
máquina deve conter uma estrutura que permita
e outros processos de escrita das línguas orientais;
uma descrição proporcional do conhecimento
escreve-se o texto vocabular, tanto no modo
exibido pelo processo, e que, independentemente
integral como no estenográfico, a matemática, a
de uma semântica, tenha um papel formal causal e
geometria, a química, a fonética, a informática, a
essencial na geração do comportamento que
música, etc [CERTIC].
manifesta tal conhecimento [Lira].
Cloze – A técnica de Cloze foi criada por Taylor
Multimídia e Hipermídia – Utilização e
(1953) e consiste em eliminar palavras de um
integração de diversos tipos de mídias, como
texto escrito, substituindo-as por um espaço vazio
textos, gráficos, sons, imagens, vídeos, etc, para a
sublinhado, que será preenchido pelo leitor com a
comunicação entre o computador e o usuário,
palavra que ele julgar mais adequada. Essa
permitindo a hipermídia navegação não-linear.
técnica pode ser utilizada como diagnóstico,
Estas tecnologias são muito úteis para facilitar a
identificando a capacidade do leitor de integrar a
comunicação com os pacientes, adaptando essa
informação impressa que recebe e o
comunicação de acordo com suas limitações.
conhecimento que tem da estrutura da língua, e
Simulação - Os softwares de simulação são como procedimento de treino, visando
ótimas opções para a resolução de problemas. desenvolver algumas habilidades relevantes para
Neles os sujeitos vão criar situações, fazer a compreensão, a generalização e a transferência
planejamento, tomar decisões e fazer opções, de aprendizagem para situações de leitura de
desenvolvendo a inteligência lingüística, lógico- qualquer natureza [Joly].
matemática, espacial, interpessoal e naturalista
[Veloso 1998]. 2.3. Sistemas Computacionais
Recursos de Interação Especiais – Periféricos FALAS (Ferramenta Alternativa de Aquisição
ou softwares que auxiliam indivíduos com Simbólica) - Esta ferramenta objetiva empregar
deficiências motoras, visuais e auditivas na recursos de multimídia e técnicas de inteligência
interação com o computador. Dentre eles estão: artificial com o objetivo de aprimorar os sistemas
Simuladores de teclado e mouse (SASE, de AAC (Comunicação Alternativa e
Handikeys, StickeyKeys, Acess-DOS, Filch, Aumentativa) existentes principalmente nos
Help-U-Type, MouseKeys, Simulador de seguintes aspectos, a fim de proporcionar uma
Teclado, ERA e KENIX são alguns exemplos), maior autonomia a seus usuários:
softwares para deficientes visuais que utilizam - Adaptação do sistema às preferências do
magnificadores de tela ou ampliação dos usuário (como sua velocidade de
caracteres na tela do computador para aqueles que varredura, símbolos mais utilizados) e
possuem perda parcial da visão, e recursos de seu nível de conhecimento do sistema
áudio, teclado e impressora em Braille para os simbólico em questão e do próprio
com perda total da visão e softwares para sistema computadorizado sendo
deficientes auditivos que usam a Língua de Sinais utilizado;
Brasileira como interface [Campos 1998].
- Prestação de auxílio individualizado no
2.2. Tecnologias da Psicologia aprendizado dos símbolos utilizados,
através do acesso ao significado viso-
LIBRAS - A Língua de Sinais Brasileira
auditivo real ou aproximado dos
(LIBRAS) é parte da educação escolar do surdo
mesmos, possibilitando o uso de
brasileiro, tendo sido compilada recentemente
tabuleiros de comunicação “normais”
com o lançamento do primeiro dicionário de

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(não computadorizados) de forma mais 2.1 e 2.2) e nos sistemas computacionais
eficaz [Silveira 1996]. (apresentados na seção 2.3) iremos propor a
seguir um modelo de Sistema Tutor Inteligente
ENSCER - O ENSCER (Sistema Informatizado e
para o domínio da reabilitação cognitiva.
Integrado para Ensino e Avaliação do Progresso
Pedagógico e Neural de Crianças Portadoras de Na tabela abaixo estão caracterizadas as pessoas
Deficiência Mental) é um software com jogos que irão interagir com o STI:
educativos destinados a estimular e avaliar o
desempenho escolar e a atividade neurológica de Pessoas Objetivos no STI
crianças portadoras de deficiência mental. O Paciente Usuário do sistema, portador
software dá noções de Português, Matemática, de algum distúrbio.
História, Geografia, Estudos Sociais, Educação Terapeuta Psicólogo, fonoaudiólogo, ou
Artística e Ciências. Faz isso lançando mão de outro profissional responsável
jogos educacionais que costumam prender a pelo tratamento do paciente.
atenção das crianças com uma série de recursos Especialista Neuropsicólogo, psicólogo, ou
audiovisuais, como charadas, quebra-cabeças e outro profissional responsável
histórias em quadrinhos com personagens pelo conteúdo que deverá ser
infantis. Além dos módulos dessas disciplinas, o ministrado no tratamento de
programa também tem uma seção específica um determinado paciente.
dedicada ao desenvolvimento sensório-motor e
Tabela 4 – Pessoas e seus objetivos na interação
fornece uma avaliação impressa do desempenho
das crianças nos exercícios. O software permite com o STI proposto.
também um diagnóstico refinado da atividade
neuronal no exato momento em que as crianças Abaixo descreveremos os cinco módulos que
executam uma determinada tarefa na tela do fazem parte do STI:
computador, enquanto aprendem e se divertem.
Na eletroencefalografia tradicional, o registro é
feito com a criança em repouso, quando seu 3.1. Módulo do Paciente
cérebro não tem de realizar nenhuma tarefa
O comportamento de um STI deve ser
definida, e dentro de um hospital, num ambiente
dinamicamente construído [Omar 2000] tendo
estranho (às vezes, hostil) ao aluno portador
como base às características do paciente. Esse
de problemas neurológicos; O ENSCER contorna
comportamento permite ao sistema fornecer um
essas duas desvantagens [FAPESP 2001].
tratamento personalizado a cada usuário.
RastreaMorfos - O sistema de busca morfológica
Neste módulo as características do paciente
de sinais RastreaMorfos contém o banco de
fornecidas ao STI pelo terapeuta, como
milhares de sinais animados do Dicionário
habilidades, conhecimentos, distúrbios de
Enciclopédico Ilustrado Trilíngüe precisamente
aprendizagem, deficiências motoras, visuais e
indexados conforme suas características
auditivas, serão representadas em tabelas. A
morfológicas. Ele permite ao consulente surdo
seguir apresentaremos um exemplo de uma
localizar qualquer sinal do Dicionário com base
tabela, contendo as características iniciais do
nas características morfológicas, quirêmicas,
paciente (círculos sem preenchimento), as
desses sinais. Tais características são
características alcançadas a cada evolução do
selecionáveis a partir de menus de busca
tratamento (círculos com linhas) e as
amigáveis [Duduchi 2000].
características do “paciente curado” (círculos
preenchidos):

3. Um Modelo de Sistema Tutor Característica1 Característica2 Característica3


Inteligente para a Reabilitação
Cognitiva 10

Um Sistema Tutor Inteligente (STI) é um sistema


20
computadorizado de ensino que modela
características relacionadas à aprendizagem
30
humana, sendo adaptativo quando consegue
ajustar seu comportamento de acordo com o
40
estado mental da maioria dos usuários que o
acessa [Omar 2000]. Com base nas tecnologias da
informática e da psicologia (descritas nas seções

XIII Simpósio Brasileiro de Informática na Educação – SBIE – UNISINOS 2002 188


50 do conteúdo contido no domínio. Esse
conhecimento é obtido a partir de:
60
Estratégias de tratamento, desenvolvidas por
70
terapeutas a partir de pesquisas sobre deficiências
cognitivas;
80 Memória de casos, armazenando em um banco
de dados no STI todas as informações sobre cada
90 tratamento. Com isso o terapeuta possuíra dados
validando, ou não, cada estratégia de tratamento.
100
3.5. Módulo de Interface
Tabela 5 – Exemplo de representação de um Este módulo é responsável pela comunicação
paciente. entre o paciente e o STI, que será feita através de:
Em um paciente surdo, por exemplo, as Periféricos comuns, como monitores, mouses e
características 1, 2 e 3 poderiam corresponder a: teclados;
habilidades na fala, na escrita e conhecimentos Recursos de interação especiais, descritos na
em Língua Brasileira de Sinais. seção 2.1.
3.2. Módulo do Objetivo O terapeuta, após uma avaliação do paciente,
Neste módulo o terapeuta definirá os seguintes definirá quais periféricos o paciente irá utilizar
dados sobre o tratamento: para interagir com o STI.

- Quais características do paciente devem Esses cinco módulos apresentados deverão


sofrer tratamento; interagir entre si, para que o STI promova um
- Quando o tratamento deve parar. tratamento personalizado a cada paciente e os
objetivos do terapeuta sejam atingidos. A seguir
O terapeuta poderá redefinir esses dados a apresentaremos as funcionalidades que o STI
qualquer momento do tratamento, de acordo com deverá disponibilizar ao paciente, terapeuta e
a evolução do paciente. especialista:
3.3. Módulo do Domínio 1. Receber informações sobre o atual estado de
saúde do paciente - O terapeuta, após uma
Também chamado base de conhecimento, este
avaliação do paciente, irá fornecer ao STI dados
módulo armazena todo o conteúdo que o tutor
sobre: O estado de saúde do paciente (módulo do
deverá ministrar. Além disso, deve facultar ao
paciente), os objetivos a serem alcançados
sistema a possibilidade de raciocinar sobre a
(módulo do objetivo), as estratégias do tratamento
estrutura do conteúdo a ser ministrado, ou seja,
(módulo de tutoria) e quais recursos serão usados
deve incluir metaconhecimento [Kawasaki 2000].
na interação do STI com o paciente (módulo de
Neste módulo, o conteúdo que deverá ser interface).
ministrado ao paciente pelo STI será representado
2. Receber, de acordo com os dados do
por regras dadas pelo especialista. Este conteúdo
paciente, o conteúdo que deverá ser ministrado
poderá ser de dois tipos:
- De acordo com as informações coletadas pelo
Curricular - conteúdo definido a partir do terapeuta sobre o paciente, o especialista irá
conhecimento do especialista ou geralmente definir o conteúdo que será ministrado pelo STI
aceito à semelhança dos Parâmetros Curriculares para o paciente (módulo do domínio).
Nacionais para uma disciplina curricular da
3. Interagir com o paciente, usando os recursos
Educação Infantil ou Ensino Fundamental;
de interação apropriados - Após os módulos do
Tratamento - conteúdo definido através de STI receberem todas as informações necessárias,
estudos e experiências no tratamento e na inicia-se o tratamento.
reabilitação de pacientes com um determinado
4. Avaliar o progresso do paciente, fornecendo
distúrbio.
feedback - A cada progresso do paciente o STI
3.4. Módulo de Tutoria deverá informar ao terapeuta as evoluções no
tratamento.
Este módulo contém conhecimento para que o
paciente se recupere das suas deficiências através 5. Armazenar na sua memória de casos os
sucessos e fracassos de cada tratamento - O

XIII Simpósio Brasileiro de Informática na Educação – SBIE – UNISINOS 2002 189


STI deverá ter uma memória para armazenar os Após a etapa 8 o paciente volta a interagir com o
sucessos e fracassos obtidos em cada tratamento, STI (etapa 7) e assim por diante.
para que erros não se repitam e acertos nas
estratégias de tratamento sejam reutilizados.
4. Resultados e Conclusões
A seguir apresentaremos as etapas do tratamento
de um paciente, com surdez e problemas na Muitos sistemas computacionais desenvolvidos
escrita, usando o STI: para auxiliar terapeutas na reabilitação cognitiva
não consideram as características pessoais de
Etapa Pessoa Ação cada paciente, fornecendo a todos eles o mesmo
1 Terapeuta Avalia seu paciente tratamento. Atualmente a informática e a
percebendo que este psicologia possuem diversas tecnologias e
possui problemas na recursos (alguns deles descritos nas seções 2.1 e
escrita decorrentes da 2.2) que poderão ser empregados no
surdez. desenvolvimento do Sistema Tutor Inteligente
2 Terapeuta Informa ao STI as proposto na seção 3. Este STI contribuirá para a
características do paciente reabilitação de diversos pacientes com diferentes
(módulo do paciente), estados de saúde, fazendo com que o tratamento
como surdez e problemas possa ser conduzido por terapeutas com pouca
na escrita. experiência.
3 Terapeuta Informa ao STI os
objetivos do tratamento
(módulo do objetivo), 5. Bibliografia
como por exemplo, o
paciente se reabilitar [Azambuja 1998] Azambuja, Deborah; A
totalmente dos problemas Utilização dos Computadores na
na escrita. Reabilitação das Afasias. Tecnologia em
4 Terapeuta Verifica a memória de (Re)Habilitação Cognitiva, 1998.
casos armazenada no STI. [Campos 1998] Campos, Márcia B.; Silveira,
Se existir algum caso Milene S.; Tecnologias para a Educação
semelhante a este, o Especial. RIBIE 1998.
terapeuta poderá utilizar [Capovilla 1997] Capovilla, F. C.; Comunicação
os dados do tratamento. Alternativa e Facilitadora para as
5 Especialista Define o conteúdo que o Afasias: Histórico de Pesquisa e
paciente deve aprender Aplicação. Ciência Cognitiva: Teoria,
para se recuperar, como Pesquisa e Aplicação, V.1, n.1.
por exemplo, Língua [CERTIC] CERTIC da UTAD; Centro de
Brasileira de Sinais, Engenharia de Reabilitação em
criação de histórias Tecnologias de Informação e
escritas etc. Comunicação.
6 Terapeuta Define as estratégias de http://mecbraille.utad.pt/braille.html
aprendizado para que o [Costa 2000] Costa, R. M. E. M.; Carvalho, L. A
paciente consiga assimilar .V.; Aragon, D.F.; Novas Tecnologias na
o conteúdo. Como Reabilitação Cognitiva; Simposio de
exemplo de estratégia Informática en Salud, 2000.
podemos citar o ensino da http://www.sis.org.ar/sis2000/tecnologias_
LIBRAS através da reabilitacao.pdf
multimídia. [Duduchi 2000] Duduchi, Marcelo; Capovilla,
7 Paciente Interage com o STI. Fernando C.; Raphael, Walkíria D.; Luz,
8 Terapeuta Atualiza os dados do Renato D.; Rozados, Daniela; Língua de
paciente (módulo do Sinais Brasileira: Sistema
paciente) do objetivo Computadorizado de Busca Morfológica
(módulo do objetivo) e das de Sinais (RastreaMorfos). Tecnologia
estratégias de reabilitação em (Re)Habilitação Cognitiva, 2000.
(módulo de Tutoria) a [Fernandes 1998] Fernandes, Clovis T.; Aspectos
cada progresso do de Aprendizagem Via World Wide Web.
paciente. Tecnologia em (Re)Habilitação Cognitiva,
Tabela 6 – Etapas do Funcionamento do STI 1998.

XIII Simpósio Brasileiro de Informática na Educação – SBIE – UNISINOS 2002 190


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Antigas Dicotomias. Núcleo de Neuropsicologia Cognitiva. Tecnologia em
Informática Aplicada à Educação – NIED (Re)Habilitação Cognitiva, 1998.
– UNICAMP. [Silveira 1996] Silveira, Milene S.; FALAS:
http://www.proinfo.gov.br/biblioteca/publi Ferramenta Alternativa de Aquisição
cacoes/Educa%E7%A6o%20Especial%20e Simbólica. RIBIE 1996.
%20Recursos%20da%20Inform%E1tica.p [Souza 1998] Souza, Ângela M. C.; Agnosias
df Visuais, Apraxias e Afasias e sua
[García 1998] García, Jesus N., Manual de Interferência no Processo de
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[Rocha 2000] Rocha, H.V. & Baranauskas,
M.C.C.; Design e Avaliação de Interfaces
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Computação 2000, IME-USP, São Paulo.
http://www.ic.unicamp.br/proj-ihc/DAIHC

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