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Bambu para toda obra: 29/04/2004 Folha publica reportagem sobre moradia projetada e

erguida pelo Instituto do Bambu Em 25 de Abril, a Folha Construção publicou uma "Free-
Lance" sobre a casa construída com Bambu.
Leia abaixo a reportagem de Bruna Martins Fontes

BAMBU PARA TODA OBRA


Popular na Ásia, o bambu está à mostra há milênios em telhados, templos e pontes. No Brasil, é
por trás das paredes que a gramínea revela seus segredos, como a resistência e o conforto térmico.
Ainda tímida nas pranchetas dos arquitetos, é pela mão dos engenheiros que ela entra na obra. Um
grupo da Universidade Federal de Alagoas uniu-se ao Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro
e Pequenas Empresas) para erguer dois protótipos em que o bambu está em pilares, paredes e na
estrutura do telhado. Na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), ele substitui o aço em
pilares e vigas e toma o lugar da brita no concreto. "As pessoas perguntam se, como pilar, viga ou
telhado, ele agüenta", conta a arquiteta Celinna Llerena, da Ebiobambu (Escola de Bioarquitetura e
Centro de Pesquisa e Tecnologia Experimental em Bambu). Para especialistas, sim. O bambu resiste
à tração (alongamento) como o aço, mas não tem o mesmo desempenho para suportar peso. Mesmo
assim, pode ser usado na estrutura. O engenheiro Edson de Mello Sartori, 43, consultor do Instituto
do Bambu, fez paredes, pilares e vigas com a planta. O custo da obra foi 40% menor do que se fosse
feita em alvenaria. Mas o uso da planta exige cuidados, como tratá-la com biocidas. "O amido do
bambu reage com o cimento, que não endurece", aponta Armando Lopes Moreno Junior, 39,
professor da Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp.

MÉTODO CONSTRUTIVO ARTESANAL E FALTA DE INDUSTRIALIZAÇÃO


DIFICULTAM O USO.
Apesar de bastante elogiado por sua performance como estrutura, o bambu ainda freqüenta
muito pouco os canteiros. Na opinião de especialistas no material, essa ausência pode ser explicada
porque a gramínea está fora do circuito industrializado. "Não há uma cadeia organizada de plantio e
de distribuição", pontua Armando Lopes Moreno Junior, professor da Faculdade de Engenharia Civil
da Unicamp. Quem já levantou casas com o material concorda. "O sistema construtivo é muito
artesanal", comenta Alejandro Luiz Pereira da Silva, diretor-presidente do Instituto do Bambu, que
fez um protótipo de 40 m2 em Maceió. Para racionalizar o processo, uma segunda experiência do
grupo alagoano conta com pilares, vigas e painéis pré-moldados em uma casa de 22 m2 que deve ser
inaugurada no próximo dia 13. Essas estruturas têm "esqueleto" de bambu preenchido com o que
eles batizaram de "microconcreto", material que, em vez de brita, leva borracha reciclada e bambu
picado. "Estamos testando um sistema construtivo em moldes industriais para viabilizar a construção
em maior escala", explica Edson de Mello Sartori, consultor técnico do Instituto do Bambu.

ESTRUTURA
Para os mais conservadores, o bambu pode começar a entrar em campo no lugar da madeira."As
fôrmas podem ser substituídas por tábuas de bambu, conhecidas como 'esterillas' ", sugere a arquiteta
Celinna Llerena, da Ebiobambu (Escola de Bioarquitetura e Centro de Pesquisa e Tecnologia
Experimental em Bambu). Para fazer as tábuas, abre-se o bambu como se fosse uma esteira, que é
colocada para secar. Pontaletes (peças de escoramento) de lajes, canais de irrigação e contenções de
encostas são outros usos que Llerena indica. Khosrow Ghavami, professor do Departamento de
Engenharia Civil da PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), complementa que
também é possível estruturar lajes. Como nos painéis, várias esteiras de bambu recebem varas da
planta na transversal e são recheadas com o concreto. "É um material muito versátil", comenta
Ghavami, que já elaborou até colunas cilíndricas com a planta. Para fazer um bom uso, entretanto, é
preciso ser criterioso na escolha do bambu. "Para cada espécie há uma finalidade determinada,
devido às características de tamanho, grossura e espessura de parede", comenta Llerena. Segundo a
arquiteta, os bambus atingem a altura máxima aos seis meses e estão maduros depois de três anos.

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