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ARGUMENTAÇÃO E RETÓRICA

ELEMENTOS DO PROCESSO COMUNICATIVO

mensagem
Emissor Recetor

canal

contexto

feedback

A comunicação é um processo complexo que inclui:


 um emissor que transmite uma mensagem;
 um canal adequado;
 capacidade de dialogar, isto é, de exprimir os nossos modos de sentir, os ideais e valores
que julgamos preferíveis e ser recetivo à expressão dos ideais e valores dos outros;
 capacidade de persuadir e convencer os outros das nossas preferências e pontos de vista,
isto é, argumentar.

IMPORTÂNCIA DA ARGUMENTAÇÃO / DE COMUNICAR

Comunicar implica, para além de uma dada mensagem, todo um modo de ser e de estar com
os outros.
A argumentação desempenha um papel importante na comunicação que deve ter em conta
vários aspetos:
 a expressividade oral do argumentador (orador);
 a eficácia da linguagem:
 a adaptação ao auditório.

OS ELEMENTOS DO PROCESSO ARGUMENTATIVO

Podemos, em argumentação, distinguir os seguintes níveis:


1. a opinião do orador, ela pertence ao nível do verosímil, quer se trate de uma tese, de
uma causa, de uma ideia ou de um ponto de vista. Essa opinião existe, enquanto tal,
antes de ser formulada como argumento. Não se destina forçosamente a tornar-se
num argumento: pode ter-se uma opinião e guardá-la para si próprio, não procura
convencer os outros, ou simplesmente informá-los de que se adere;
2. o orador, o que argumenta, em seu nome ou em nome de outrem (nesse último caso,
o contrato de comunicação deve ser explícito; é o exemplo típico do advogado, que
argumenta em nome do seu cliente). O orador é aquele que, dispondo de uma
opinião, se coloca em posição de a transportar até um auditório e de lha submeter,
para que ele a partilhe, isto é, dela faça sua;
3. o argumento defendido pelo orador, trata-se de uma opinião formulada para
convencer; a opinião introduz-se, então, num raciocínio argumentativo. O argumento
pode ser apresentado por escrito (num recado, numa carta, num livro, numa
mensagem informática), pela palavra, direta ou indireta (por exemplo, a rádio ou o
telefone), pela imagem;
4. o auditório, que o orador quer convencer a aderir à opinião que lhe propõe, pode
tratar-se de uma pessoa, de um público, de um conjunto de públicos, ou mesmo, num
caso limite, do próprio orador, quando ele procura “autoconvencer-se”;
5. o contexto de receção, trata-se do conjunto das opiniões, dos valores e dos juízos que
um dado auditório partilha, que são prévios ao ato de argumentação e que vão
desempenhar um papel na receção do argumento, na sua aceitação, na sua rejeição
ou na adesão variável que vai suscitar.
Phillipe Breton
“A argumentação na comunicação”
Publicações Dom Quixote, 1998
O PAPEL DO AUDITÓRIO

Se o alvo da argumentação é o auditório que se quer cativar, influenciar e pôr em movimento,


o orador deve prestar-lhe especial atenção, tornando-se importante um conhecimento prévio a
seu respeito.
O auditório constitui-se como fator determinante como elemento condicionador do processo
argumentativo:
 orador e auditório têm de comungar a mesma linguagem. Na argumentação, usa-se a
linguagem natural, comum a todos.

A preponderância do auditório na teoria da argumentação é salientada por Perelman, que


considera ser a linguagem da argumentação pretensa de uma comunidade unida por laços de
sangue, pelo cultivo de dados saberes ou pelo uso de técnicas comuns. Os termos utilizados, o
modo como se definem e o sentido que possuem só se compreendem em função dos hábitos,
formas de pensar e tradições daqueles que usam a linguagem com que se constroem os
argumentos.

ADESÃO DO AUDITÓRIO

Na maior parte dos casos, o auditório é constituído por pessoas distintas do sujeito que fala,
podendo ser apenas uma ou várias pessoas:
 o auditório é individual, quando é constituído apenas por uma pessoa, com a qual se
estabelece o diálogo. Exemplo: conversa entre pai e filho, entre amigos ou entre um
polícia e um cidadão que acabou de multar;
 uma turma de alunos, as pessoas que assistem a uma conferência, a um comício
político ou a uma homília religiosa são exemplos de auditórios particulares;
 pode acontecer também que a argumentação vise um auditório universal. Neste caso,
o que se afirma pretende ser válido para a Humanidade inteira. Exemplo: as teses
filosóficas e outras que procuram solucionar os grandes problemas com que a
Humidade se confronta.
O orador tem como objetivo influenciar o auditório, provocando ou aumentando o grau de
adesão dos sujeitos às teses que lhe apresenta. Perelman designa por “persuasão” a influência que
o orador exerce sobre o auditório particular. Designa-se por “convencimento” se se exerce sobre
um auditório universal.
Um discurso convincente dirige-se, pois, segundo este pensador, à Humanidade inteira,
distinguindo-se do discurso persuasivo, que se dirige a um auditório particular.

ELEMENTOS NECESSÁRIOS PARA CONSTRUIR UMA BOA ARGUMENTAÇÃO

1. Conhecimento do tema ou assunto a defender, recorrendo à informação e documentação


necessária;

2. Conhecimento do auditório, pois é em função deste que devemos organizar toda a


argumentação;

3. Apresentação dos argumentos de forma clara e numa sequência tal que combine
adequadamente os argumentos mais fortes e pertinentes com os mais fracos de modo a
manter o auditório interessado e conseguir a sua adesão;

4. Encadeamento coerente dos argumentos, usando conectores lógicos, de modo a realçar a


validade e adequação à tese que se quer defender;

5. Uso de conectores linguísticos a fim de manter a fluidez do discurso;

6. Utilização de uma linguagem precisa, evitando o uso de termos equívocos e


inconsistentes;

7. Estabelecimento de estratégias que permitam direcionar o encadeamento das provas e


dos argumentos no sentido de provocar a adesão do auditório (procurando não descurar o
cumprimento das regras lógicas), para o que deve:

 destacar as incompatibilidades ou contradições de argumentação do adversário;


 pôr em relevo as crenças genericamente aceites pelo auditório e a experiência
pessoal, quer do orador, quer do auditório;
 socorrer-se da opinião de alguém cuja autoridade e prestígio sejam reconhecidas
pelo auditório;
 usar analogias e comparações;
 repetir os argumentos mais fortes sob a forma de frases-chave;
 recorrer ao uso de figuras de estilo e efeitos linguísticos.

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