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ESPAÇO ABERTO

Paulo
Hartung A arte da
Economista,
Presidente- liderança
Executivo Da IBÁ,
Membro do Agenda atual coleciona desafios e
Conselho oportunidades ímpares, demandando o
Consultivo do
protagonismo de líderes estratégicos na
RENOVABR, Foi
Governador Do tarefa de construção de uma nova era
Estado Do Espírito histórica
Santo (2003-
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Por Paulo Hartung


05/09/2023 | 03h00

3 min de leitura

Oportunidades e desafios de alta intensidade constituem tempos que ensejam a ação


de lideranças estrategistas. Aprendi essa máxima no dia a dia de trabalho, seja nos
oito mandatos eletivos que exerci, seja na iniciativa privada. São encruzilhadas
temporais que demandam performances de indivíduos que consigam perceber com
nitidez a realidade e suas contingências e que, a partir daí, sejam capazes de
vislumbrar um horizonte comum, cujo alcance se viabilize pelo desenho de um mapa
de caminhada. E tanto o destino que se projeta quanto o caminho a percorrer
precisam ser objetos de comunicação e mobilização constantes, além de se
ajustarem às intercorrências do percurso sem que se perca o rumo.
Ou seja, liderança e estratégia são irmãs siamesas. Não há estratégia eficaz nem
liderança de verdade sem que as habilidades a elas ligadas se encontrem na forja do
espírito daqueles que se propõem a liderar. Um líder só lidera efetivamente se
conseguir formular travessias conjugando visão acurada sobre o hoje, o ontem e o
que pode ser, considerando a gramática de valores, anseios e potencialidades de um
povo, informando, motivando e norteando os movimentos, sem cessar. Outro desafio
do líder é formar um time que dialogue e se complemente em seus talentos e
vocações. E, nesse particular, não há inteligência artificial que possa substituir o mix
de razão, criatividade e sensibilidade que configura a dignidade humana e sustenta a
nossa distinção para escrever a História.

Falando em tempos propícios à ação de líderes estrategistas, estamos num desses


momentos. O mundo e o Brasil de hoje se encaixam naquelas ocasiões de intensa
pressão que requerem personagens que sejam capazes de amalgamar sonhos,
possibilidades e projetos, energizando os deslocamentos rumo à transformação. Não
por acaso, está à disposição de leitores em todo o planeta o seminal livro Liderança –
Seis estudos sobre estratégia, de Henry Kissinger, narrando a trajetória de seis
personagens de destaque no século 20.

Preparando o terreno para contar histórias que algumas ajudou a escrever como
agente político, Kissinger dá uma verdadeira aula sobre a liderança, destacando
“coragem e caráter” como “atributos vitais” de um líder, assim como seu papel de
“educador” e também de aprendiz. Não se trata de um livro sobre o passado, mas
sobre o que nos foi legado como patrimônio consistente acerca do papel de
lideranças estratégicas no processo de evolução civilizacional. Dadas as marcas
desafiantes e sísmicas da atualidade, é, pois, leitura mais que atual – obrigatória.

O mundo está numa fronteira atípica. Convulsionado pela emergência climática que
ameaça sua própria viabilidade. Acha-se emaranhado numa ambiguidade tecnológica
que lhe concede reinventar processos produtivos e laços sociais, mas que também
permite ressuscitar monstros do passado extremista. Isso além de somatizar os
abalos nas movimentações do xadrez geopolítico, que muitos insistem em chamar
“desglobalização”, mas que, em verdade, traduzem um reajuste de forças entre os
protagonistas EUA e China, com tremores de eco planetário.

Parte dessa cena global, o Brasil acumula problemas históricos, como pobreza, baixa
qualidade da educação básica e déficits na atenção à saúde, entre outros, além de
precisar complementar o ciclo de reformas que desate as correntes que impedem o
País de realizar seu potencial de desenvolvimento sustentável e prosperidade
compartilhada. Além dos desafios, estamos diante de uma oportunidade inédita, o
florescimento da economia verde como paradigma planetário de produção e
consumo. Aqui, exigem-se lideranças que rompam com a trágica tradição nacional de
desperdiçar oportunidades.

Potência agroambiental, o Brasil tem um regime de chuvas privilegiado, que


possibilita até três safras agrícolas anuais, e ainda contamos com uma gigantesca
área territorial que nos permite avançar na produção sem necessidade de derrubar
florestas nativas. Também estamos à frente do mundo na produção de energia
elétrica limpa, com cerca de 87% da geração provinda de fontes renováveis. Nossos
biomas são extremamente ricos, com a maior floresta tropical do planeta, a maior
biodiversidade, 12% da água doce do mundo e com possibilidade de extração de
metais essenciais para a transição energética, como lítio, cobre e níquel.

Nesse cenário, é preciso que tenhamos líderes com disposição para o conhecimento,
ânimo para o debate, perspicácia para ler o passado, argúcia para enxergar o
presente e grandeza para vislumbrar o futuro. Há muito o Brasil atravessa um
deserto quanto ao surgimento de líderes que inspirem, pautem e ensejem
vanguardas socioeconômicas e político-culturais. Uma demanda que, se não bastasse
a nossa soma gigantesca de dívidas seculares, é radicalmente potencializada pelo
tsunami multifatorial que redesenha o planeta – aqui e acolá, pois a agenda dos dias
atuais coleciona desafios e oportunidades ímpares, demandando o protagonismo de
líderes estratégicos na tarefa de construção de uma nova era histórica.

*
ECONOMISTA, PRESIDENTE-EXECUTIVO DA IBÁ, MEMBRO DO CONSELHO
CONSULTIVO DO RENOVABR, FOI GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO (2003-2010/2015-2018)

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