Variação fonético-fonológica do desvozeamento das plosivas e as
atitudes linguísticas no hunsrückisch no Sul do Brasil, Claudia Camila Lara: 1- Qual o objetivo de estudo? R= O objetivo de estudo deste artigo é analisar o fenômeno linguístico do desvozeamento variável das plosivas bilabiais, alveolar e velar no português brasileiro falado na comunidade de Glória, interior do município de Estrela no Rio Grande do Sul. Também foram realizados estudos sobre as atitudes linguísticas em relação ao desvozeamento das plosivas. 2- Em três pontos, explique a base teórica. R= A pesquisa de Lara traz estudos sobre o desvozeamento das plosivas vozeadas /b d g/, produzidas como [p t k] na fala, a partir disso, foi levado em consideração a teoria da Sociolinguística Variacionista de Labov combinada ao estudo de atitudes linguísticas. Também foram utilizados os estudos de Schneider e Gewehr-Borella, que contém o desvozeamento das plosivas no contato do português com o alemão entre suas investigações, sob diferentes perspectivas teóricas e metodológicas. 3- Qual a metodologia para geração e análise dos dados? R= Este estudo teve como metodologia de apoio analítico dois enfoques sociolinguísticos: a análise de regra variável que possibilitou a captação do padrão de variação na comunidade e pelo estudo de atitudes linguísticas apresentou o status das variantes desvozeadas na fala. Esses dois processos pretendem determinar as atitudes linguísticas em relação ao Pt-Hr e entender a conduta linguística dos falantes, como também compreender a sua relação com os padrões variáveis locais. Lara utilizou os dados de vinte e quatro entrevistas sociolinguísticas para realizar seus estudos, seguindo a linha de pensamento de Labov. Já para o estudo de atitudes linguísticas se baseou em Kaufmann, Vandermeeren e Labov. O
1 Trabalho apresentado à disciplina Sociolinguística para obtenção de nota parcial.
E-mail: danielle.anderle@unioeste.br e @samara.goncalves@unioeste.br questionário “As atitudes linguísticas no Português em contato com o Hunsrückisch”(LARA, 2017, p. 144-155), estava dividido em seis blocos com perguntas voltadas em alcançar o perfil, comportamento e a realidade linguística dos entrevistados. 4- Descreva e discuta os resultados da análise. R= Na pesquisa verificou-se os condicionadores que influenciaram a variável dependente, que seria o desvozeamento das plosivas. Analisou-se 19.317 contextos de palavras com plosivas sonoras a partir de um questionário realizado com 24 informantes, obteve-se 507 situações que houveram desvozeamento, que representa 2,6% do total dos dados. O resultado alcançado para a baixa aplicação do processo está de acordo com a literatura, segundo Gewehr-Borella. Optou-se por apresentar a ordem de seleção das variáveis pela mais significativa: 1º escolaridade; 2º idade; 3º tonicidade da sílaba; 4º gênero; 5º número de sílabas; 6º contexto precedente; 7º contexto seguinte. Os resultados de cada fator foram distribuídos em tabelas com todos os dados coletados: A tabela 1 contém os dados da escolaridade, que apresentou maior frequência de aplicação do fenômeno linguístico estudado, com peso relativo de 0,91. Sendo assim, os entrevistados com menor grau de escolaridade tendem a favorecer o desvozeamento das plosivas, já os com maior grau de escolaridade, que possuem maior contato com a cidade desfavorecem a aplicação da regra variável. Em seguida, a tabela 2 apresenta os dados da idade, onde pessoas com mais de 47 anos comandam o desvozeamento das plosivas, com peso de 0,88. Esses dados confirmam a ideia de que os mais velhos seguem práticas sociais locais. Na tabela 3, estão presentes dados sobre a tonicidade das sílabas. As sílabas pretônicas(0,81) e a tônica(0,72) fomentaram a aplicação da regra variável, já a sílaba postônica(0,12) foi desfavorecedora. O fator da tonicidade não confirmou a hipótese totalmente, de que somente a tônica favorece o desvozeamento igual o Pr, pois no Hr a pretônica também desfavorece. A tabela 4 possui o material do fator gênero, onde foi possível notar que mulheres tendem a aplicar mais a regra variável do que os homens. De doze mulheres, 8 continuam na zona rural e apenas 4 trabalham na cidade. Já os homens, 3 continuam no interior e 9 saem para trabalhar, logo, os homens têm mais contato com novas culturas e linguagens, do que as mulheres. A tabela 5, contém os dados de número de sílabas, as palavras trissílabas(0,61) e as polissílabas(0,57) foram colaboradoras no processo. Verifica- se que as dissílabas(0,54) ficaram com o peso relativo em torno do ponto neutro(próximo de 0,50); e as monossílabas(0,25) desfavoreceram a aplicação da regra variável. A hipótese criada em relação ao número de sílabas, também não pode ser confirmada, imaginava-se que as palavras com mais sílabas desencadeariam a aplicação da regra variável, pois existia a aplicação do desvozeamento na sílaba pretônica, que aumentaria o número de sílabas da palavra. Dando sequência, a tabela 6, traz o contexto precedente traz com peso maior o fator vazio(0,64) como condicionador da aplicação da regra; o fator alveolares (a amalgamação de tepe, fricativa e a lateral alveolar) resultou no ponto neutro (0,50); as vogais central (peso relativo de 0,46), anterior e posterior (0,35) e a consoante nasal (peso relativo de 0,39) foram desfavorecidas do desvozeamento. A hipótese dessa vez foi confirmada, pois eventualmente a ausência de possibilidade de junção com segmentos/sílabas antecedentes resulta na impossibilidade de assimilar o vozeamento. Foram amalgamados os fatores alveolares, as consoantes alveolares tepe, lateral e fricativa. E por fim, na tabela 7, mostra os resultados do fator contexto seguinte, que apresentou os fatores alveolares como condicionantes da aplicação das regras, com peso de 0,65 e a vogal posterior com 0,58, já a vogal anterior e central foram desfavorecidas. No geral a análise de regra variável aplicada, mostrou variáveis linguísticas e extralinguísticas favorecedoras em todas as variáveis, mesmo que o número de ocorrências seja baixo, 2,6% do total. Também concluiu-se que a mudança linguística está ocorrendo, pois os mais jovens optam por não ter contato com as práticas sociais locais, logo não têm contato com o Hr. Para constatar que o desvozeamento das plosivas é baixo, foi utilizado a análise de regra variável e como complemento foi utilizado o estudo das atitudes linguísticas para identificar as razões da possível mudança linguística em curso e o desaparecimento do contato Pt-Hr. A construção na hora que sob a ótica da sociolinguística variacionista, Diego Minucelli Garcia: 1- Qual o objetivo de estudo? R= O objetivo do estudo é investigar (na hora em que, na hora que, a hora que, hora que), se há uma distribuição sociolinguística definida, caracterizando um fenômeno variável no sentido laboviano, ou se o uso dessas diferentes formas apenas reflete uma redução fonética que afeta a locução em processo de construcionalização. 2- Em três pontos, explique a base teórica. R= Traugott e Heine, dois teóricos que contribuíram muito na construção do artigo para esclarecer a mudança linguística; O linguista Labov, considerado o fundador da sociolinguística variacionista também sustentou os argumentos expostos no artigo e Roberto Gomes Camacho que realiza reflexão acerca das variedades linguísticas. 3- Qual a metodologia para geração e análise dos dados? R= Foram realizadas inúmeras pesquisas tanto no Brasil, quanto no exterior, baseadas em abordagens funcionalistas e vários estudos sob essa perspectiva demonstram que os advérbios e locuções adverbiais. Juntamente das pesquisas realizadas por: Hopper e Traugott, Braga, Lima-Hernandes e Oliveira. 4- Descreva e discuta os resultados da análise. R= A análise deste estudo foi realizada através de falas controladas sociolinguísticamente na região Nordeste do estado de São Paulo, totalizando 287 coletas analisadas com as quatro formas de na hora que. Segundo Labov, a língua é uma forma de comportamento social, e se desenvolve num contexto social conforme os seres humanos comunicam suas necessidades, ideias e emoções uns aos outros. Sendo assim, as análises feitas sobre o funcionamento da língua devem levar em consideração os fatores sociais nos quais se insere. Na análise realizada, os seguintes fatores foram considerados: 1) Gênero do informante: masculino, feminino; 2) Faixa etária: 7 a 15 anos, 16 a 25 anos, 26 a 35 anos, 36 a 55 anos, mais de 55 anos; 3) Nível de escolaridade: 1º ciclo do ensino fundamental, 2º ciclo do ensino fundamental, ensino médio, ensino superior; 4) Renda familiar: até 6 salários mínimos, de 6 a 10 salários mínimos, de 11 a 24 salários mínimos, acima de 25 salários mínimos. Na sequência, os dados foram submetidos ao programa estatístico Goldvarb, para a obtenção da distribuição percentual das ocorrências. No resultado da tabela 1, percebe-se que há apenas 1 ocorrência de na hora em que, evidenciando o apagamento frequente da segunda proposição na formação da locução conjuntiva. Na tabela 2, expõe e o uso das formas da construção pelos gêneros masculino e feminino. Os resultados indicam que na hora que e a hora apresenta a maior parte de suas ocorrências reproduzidas por mulheres, enquanto hora que possui pouco mais de 50% de suas ocorrências por falantes do gênero masculino. A tabela 3 apresenta a faixa etária dos informantes, e as porcentagens revelam que existe uma distribuição de valores muita aproximada entre as idades para as formas na hora que e hora que. Na hora que tem suas ocorrências concentradas na faixa que vai dos 16 aos 25 anos, mas em todas as outras faixas etárias há percentuais de ocorrência muito próximos, entre 15% e 19%. Na tabela 4, estão sendo analisados os resultados em relação à escolaridade: na hora que apresenta maior frequência de ocorrência (36,9%) na fala de indivíduos com o ensino médio completo, assim como a hora que, que apresenta 40,4% das ocorrências em dados de informantes com esse grau de escolaridade. Hora que, ao contrário, possui a maior parte de suas ocorrências em dados de falantes com o 1º ciclo do ensino fundamental, concluindo 36,6% das ocorrências. E na última tabela foi analisada a renda familiar dos informantes, concluiu-se que na hora que as classes com maiores rendas apresentam menor uso e com hora que está mais presente na fala das classes com maiores rendas. Em resumo, os resultados mostraram que não há diferenças sociolinguísticas marcadas na comunidade, mas há indícios de que as formas são microconstruções em mudança gradual rumo a uma construção mais ampla, possivelmente formada por N + que. Por fim, observa-se uma grande variedade do português analisado, e parecem estar correlacionadas a uma distribuição gradual por fatores sociais. 5- Relacione os dois estudos à tese da heterogeneidade da língua. Tendo em vista os dois artigos trabalhados, "A construção 'na hora que' sob a ótica da sociolinguística variacionista", de Diego Garcia, e o outro "Variação fonético- fonológica do desvozeamento das plosivas e as atitudes linguística no hunsrückisch no sul do Brasil", de Cláudia Lara. Pode-se perceber uma ligação entre ambos, os dois trazem dados relacionados à fonética e fonologia, trabalham a pronúncia e os sons das letras, porém um foca na sociolinguística e outro em questões morfológicas. Os dois artigos focam nas variações sociolinguísticas, que parte de diversos fatores, principalmente de questões sociais e culturais. A pesquisa realizada por Lara aponta sobre esses fatores, ela focou seus estudos no desvozeamento variável das plosivas bilabial, alveolar e velar do português brasileiro a partir do contato com a língua de imigração alemã, hunsrückisch. A autora ainda cita em seu artigo que é importante descobrir e analisar como a história de uma língua está relacionada com a história das gerações de seus falantes. Tanto o artigo de Lara, quanto o de Diego, analisam a fala de diferentes pessoas, levando em consideração idade, gênero, localização e vários outros fatores que auxiliaram em diversas descobertas sobre a variação linguística presente na sociedade. No texto de Cláudia Lara, os falantes desconsideram a variante com desvozeamento das plosivas, pelo fato dela ser considerada com um status social inferior às outras, sendo que muitos entendem isso como erro linguístico. Já no artigo de Diego Garcia, a análise realizada concluiu que as pessoas que falam a forma completa de Na hora estão em meio a um padrão mais alto da sociedade e quem fala Hora está em um nível mais baixo. Relacionando o conteúdo dos dois artigos com a tese de heterogeneidade da língua, percebe-se que a língua tem diferentes formas de ser falada. Segundo Labov, a língua está em constante mudança, conforme o tempo passa ela se modifica, logo ela é heterogênea. Cada falante acata mais um tipo de variante, que são definidas de acordo com diversos critérios, como por exemplo a cultura e o meio social que está inserido. Os autores mostram a heterogeneidade da língua, a partir de suas pesquisas pode-se perceber que não há certo ou errado na fala. Para concluir, é interessante pensar que mesmo com a teoria da heterogeneidade linguística ainda existem variantes consideradas desprestigiadas, pelo fato de possuírem um status estereotipado, que são alvos de comentários estigmatizados, segundo Labov.