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Direito do Trabalho I
Em proveito alheio: aquilo que são as atividades que são feitas para satisfazer as
necessidades de outrem.
Livre: Voluntariamente prestado, são afastadas as atividades que são forçadas, exclui-se o
trabalho escravo, também não vai interessar ao direito do trabalho, aquele que não é forçado,
mas é pouco voluntário (pena de trabalho comunitário). Só vai interessar ao Direito do Trabalho
aquele em que o Individuo tem a possibilidade formal de aceitar ou rejeitar.
Renumerado: Não interessa aquele trabalho que é prestado sem receber algo em troca. Só
interessa ao Direito do Trabalho, o trabalho em que o individuo trabalha com a expectativa de
receber uma contrapartida económica- Trabalho interessário. Não interessa um trabalho
gratuito, que é prestado em regime de voluntário.
Hetero-regulado/ Juridicamente Subordinado: O Trabalho prestado pelo trabalhador tem
que ser organizado e dirigido pelo beneficiário dessa atividade.
Empregador e Trabalhador estão numa posição desigual dentro da relação: um obriga-se a
prestar uma atividade renumerada e outro dirige esta atividade. Assim, o empregador possui
poder de direção (Art. 97º CT) e poder disciplinar (Art. 98º CT) sobre trabalhador, enquanto o
trabalhador tem o dever de obediência ao empregador (Art. 128º/1/e) CT) que, caso não seja
cumprido pode ser punível.
Em suma, o direito do trabalho regula uma relação em que se estabelece entre o trabalhador
e empregador, relação por força da qual o trabalhador se compromete a prestar a sua
atividade de acordo
00000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000
00000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000
0000com as ordens e instruções que lhe serão dadas pela contraparte, em troca de uma
perceção de uma reenumeração.
Por outro lado, o séc. XIX foi o apogeu da ideologia liberal – liberdade de constituição de
empresas, autonomia do indivíduo e igualdade dos sujeitos. Segundo esta ideologia, os
sujeitos eram capazes de tomar as suas decisões e eram iguais entre si, o que facilitou a
criação de contratos de trabalho – através da sua igualdade, os sujeitos autonomamente se
comprometiam com o trabalho, afastando o Estado de qualquer interação.
A industrialização e o liberalismo geraram contratos desiguais entre as pessoas, e
do ponto de vista social geravam-se contratos em que os indivíduos se comprometiam
em trabalhar sem condições de segurança, sem rendimento, de sol a sol, etc.,
criando-se condições de vida e de trabalho dramáticas. Foi a partir deste momento
que surgiu a necessidade de reação, que se manifestou através da união
(primeiras formas de associativismo democrático), com greves, sindicatos, etc.,
para tentar travar a desigualdade.
Houve ainda uma consciencialização do Estado de que este era um setor em que
não se podia agir livremente (se os sujeitos deste mercado negociassem livremente, iriam
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4. CARACTERÍSTICAS
Este é um ramo do Direito com uma natureza mista, pois o Direito do Trabalho
compreende normas que regulam muitas matérias, entre elas as relações entre
trabalhadores e empregadores, que é Direito Privado, mas não só, também
abrange matérias que tocam interesses públicos (ex.: segurança social), portanto
não podemos caracterizar como direito puramente privado.
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Assim, este ramo é muito heterogéneo, não se podendo identificar como um ramo
puramente de direito privado. O mesmo se passa com a divisão entre direito pessoal e
patrimonial.
Na génese do contrato de trabalho está presente uma dimensão patrimonial, em que há
obrigações para as duas partes com um valor económico, mas esta troca não é igual a outra
qualquer, porque os sujeitos obrigam-se a realizar uma atividade pessoalmente (o objeto do
contrato é a força do corpo humano, e não um bem material, como uma casa).
O DT é também um ramo autónomo face ao Direito Civil. Isto porque o DC sempre foi
caraterizado como um ramo onde vigoram duas ideias fundamentais: liberdade e igualdade.
Estas modalidades entram em choque com o DT pela sua origem (por não haver igualdade e
liberdade, surge o DT, ou seja, o DT surge por uma falha do Direito Civil, para marcar que a
relação assimétrica dos sujeitos não permitia que estes dois valores fundamentais do direito
civil vigorassem na relação contratual de trabalho). Assim, a legislação legal do Direito do
Trabalho não está incluída no Código Civil, mas esta autonomia formal não é aquilo que
marca o ramo do DT como autónomo do Direito Civil.
P.e., o direito civil, por partir do pressuposto da igualdade das partes, as suas regras têm uma função
dispositiva ou supletiva (pois as partes são livres para negociar), enquanto as normas de DT têm
natureza imperativa (não servem para substituir, mas sim para impor os mínimos mesmo que as partes
queiram regular de forma diferente) – as normas têm uma natureza tendencialmente distinta das de DC.
Isso significa que o contrato (acordo formal entre as partes) vai ter um papel menos
importante no DT do que no DC, pois no DT as partes são livres de celebrar contratos,
mas a disciplina do mesmo é feita pelo legislador (apesar de haver matérias que as
partes podem regular), enquanto no direito civil não só as partes celebram os contratos como
também disciplinam a relação e os termos do contrato.
Por fim, este ramo tem caraterísticas especiais no que toca às fontes (modos de produção de
normas
jurídicas). O DT tem uma fonte que mais nenhum tem – a convenção coletiva de trabalho. No
DT, um
contrato não só é disciplinado por normas estaduais do Código do Trabalho, mas
também por normas criadas coletivamente entre instituições patronais
(empregadores ou associações de empregadores) e associações representativas
dos trabalhadores (sindicatos), ou seja, existem condições de trabalho que são
fixadas por lei e outras fixadas coletivamente através das convenções coletivas do
trabalho, que funcionam como normas.
Isto porque neste ramo, havendo grande tendência para o conflito, esta forma de
regulamentação faz com que este diminua, por haver representação e aceitação das duas
partes.
Dentro do que são as fontes tradicionais, todos os ramos são influenciados pela constituição
(é fortemente constitucionalizado), mas o DT, apesar de não ser exceção, tem a
particularidade de ser o ramo mais impregnado/influenciado pela CRP, pois é difícil criar
diplomas nesta área que não contemplam temas que estão na CRP (Art. 53º ss. – direitos
fundamentais dos trabalhadores), sendo esta frequentemente convocada. O DT contempla as
suas bases essenciais sistematizadas na CRP, o que não acontece com todos os ramos de
direito, especialmente direito privado. A CRP é a norma primária na produção das normas
laborais (reserva relativa da AR em matéria dos trabalhadores). Para alem disso, a
legislação laboral tem de ser de alguma forma elaborada tendo como participantes
as associações sindicais e comissões de trabalhadores, juntamente com a AR e o
Governo (Art. 54º/5/d e 56º/2/a CRP), com pena de essas normas serem
consideradas inconstitucionais.
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5. TENDÊNCIAS RECENTES
Atualmente, de alguma forma, temos de ter a perceção que o DT tem a tendência para a
diversidade
normativa – tem-se o contrato de trabalho comum regulado pelo CT e depois têm-se uma
serie de diplomas que regulam contratos especiais de trabalho. A maioria das relações são
reguladas pelo CT, mas há exceções (p.e. contrato de trabalho desportivo).
É chamar atenção para os desafios que o direito do trabalho enfrenta, pois, a realidade
mudou muito deste o séc. 19.
1) Alargamento do âmbito subjetivo - Tendência expansiva- ele desde o séc. 19
para agora é um ramo que vai chegando a cada vez mais ramos do trabalho, no séc.
19 eram apenas os operários fabris que tinham contratos de trabalho agora existe
uma realidade mais heterogénea. Isto vai trazer problemas que vão surgir, porque a
realidade dos problemas de cada atividade não são sempre os mesmos.
2) Influencia na modelação normativa de outras relações de trabalho - O direito
do trabalho também começou a servir de padrão para se aplicar a outras relações
subordinadas que não são de trabalho, o legislador percebeu que existem muitos
atividade de trabalho autónomo em que o trabalhador est á numa posição de
dependência económica perante quem presta o trabalho, ou seja, alguém vê os seus
rendimentos de forma exclusiva para quem realiza a sua atividade, mesmo que tenha
autonomia, p.e gerir horário, materiais, etc. O direito do trabalho vai escolher
algumas normas e vão se aplicar a estes trabalhadores, é como se estes estivessem
perante uma proteção intermédia, perante estas pessoas não se aplica o código do
trabalho, mais sim apenas algumas normas, isto é visível no artº10 CT.
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trabalho. Atualmente há cada vez mais normas laborais dispositivas e não imperativas.
A ideia de tentar tornar o DT mais flexível consiste em sacrificar as suas origens.
novas funções da convenção coletiva de trabalho.
CONTRATO DE TRABALHO
As relações que interessam ao DT estão estabelecidas pelo contrato de trabalho. O que é
necessário para este existir, como se distingue do contrato de prestação de serviço e quais
são os desafios recentes relativos à era digital que este enfrenta?
Contrato de trabalho (Art. 11º CT) – contrato pelo qual uma pessoa singular se obriga,
mediante retribuição, a prestar a sua atividade a outra ou outras pessoas, no âmbito de
organização e sob a autoridade destas.
Nesta noção de contrato de trabalho encontram-se todas as caraterísticas vistas
anteriormente de uma relação de trabalho. Esta noção não engloba contratos de trabalho
especiais.
Prestação de atividade – exercício de uma atividade (dispêndio de um certo conjunto
de energias físicas e psíquica ao serviço de outrem para satisfazer as suas
necessidades.
NOTAS: Por vezes pode estar-se numa situação em que não se esta a trabalhar, mas está-se
disponível. Isso não significa que não se esteja a trabalhar segundo a noção de contrato de
trabalho (o empregador dá uma atividade para desenvolver durante o dia, mas quando esta
termina, o trabalhador fica sem atividades, porém está a trabalhar porque ainda esta a cumprir
o trabalho, pois este à disposição do empregador). Para além disso, o trabalhador não
suporta o risco eventual de frustração do resultado pretendido pela outra parte. O
compromisso do trabalhador é realizar a atividade, não é chegar a um determinado
resultado pretendido pelo empregador, pois quem tem os fatores que permitem
controlar isso é o empregador.
Retribuição – o trabalhador compromete-se com a atividade com a expetativa de
receber uma recompensa pecuniária
Subordinação jurídica – modo como o trabalhador se compromete a prestar a sua
atividade sob a autoridade e direção da entidade empregadora. A manifestação disto é
o poder de direção e o dever de obediência do trabalhador (Art. 128º/1/e CT).
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Esta distinção porem nem sempre é clara – o jurista tem muitas vezes que qualificar qual o
tipo de contrato em causa, pois não é fácil perceber numa situação concreta de que contrato
se trata. O nome que as partes dão ao contrato não é o que vai determinar o contrato
celebrado, pois se assim fosse, não era necessária esta discussão. Esta distinção é
importante para saber qual a legislação que se vai utilizar para disciplinar o contrato (utiliza-
se o CC ou o CT, sendo que é completamente diferente pelo facto de o CC ser mais liberal, e
o CT mais rígido). Para esta distinção é a subordinação ou autonomia jurídica que
conta, porém isto nem sempre é fácil, pois:
Nem sempre a ideia de subordinação nem sempre surge na realidade social com a
mesma intensidade, pois é um conceito gradativo (existem profissões em que não há
dúvida que há subordinação jurídica, p.e. o trabalho fabril), porém, em profissões como
advogado, medico, arquiteto, etc., as coisas já não são tao simples, pois é possível que
haja alguém que preste estes serviços sem ninguém organizar diretamente a atividade,
pois estes profissionais têm a chamada autonomia técnica, ou seja, quanto mais
qualificadas são as profissões, o trabalhador tem que trabalhar com independência e
não pode estar subordinado a pressões de outrem. Assim, nestes setores não é tão
óbvia a subordinação jurídica. Estas profissões podem ser reguladas por um contrato de
trabalho, pressupondo a subordinação, mas esta não vai ser tao rígida, pode existir ou
não, e se existir vai ser visível nos aspetos de organização, e não tanto nos aspetos
técnicos. Assim, esta dificuldade de distinção recai na natureza da atividade
prestada, podendo a subordinação jurídica admitir-se como tendo vários
níveis, uns mais rígidos e outros mais moderados ou quase nulos.
Assim, existe a presunção legal de laboralidade (Art. 12º/1 CT), um mecanismo que permite
facilitar a prova da existência de subordinação jurídica, principalmente nas situações em que
esta não se verifica da forma mais intensa. Esta presunção diz-nos que se presume que
existe contrato de trabalho quando na relação entre a pessoa que presta uma
atividade e outra ou outras que dela beneficiam se verifiquem algumas das
seguintes caraterísticas:
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Imaginem que há um prestador destes serviços que tem um acidente na estrada, aqui ele ser
um trabalhador independente ou dependente é relevante, pois se forem dependentes é
considerado um acidente de trabalho.
Ex.: Um Uber é titular do veículo para exercer o seu trabalho, no entanto é a aplicação que
permite conectar a oferta com a procura, e sem a aplicação não conseguem exercer a sua
atividade.
Atualmente, está muito em discussão criar uma proteção especial para estes prestadores, a
nível internacional, e a nível nacional, há uma proposta de uma nova presunção legal
de laboralidade especifica para estes trabalhadores (vai adicionar-se um artigo 12º/a)
ao CT).
Dentro daquilo que está no código, temos um conjunto de normas que regulam as relações
entre o trabalhador e o empregador. O contrato de trabalho não é só um, existem
modalidades de contrato de trabalho.
Dentro do contrato de trabalho comum, há várias espécies do contrato de trabalho que estão
desenvolvidas no Código.
Vamos encarar que dentro do Código do trabalho existem:
Desde os anos 80 do século passado, mas sobretudo no século XX este modelo tem a
concorrências de outras relações de emprego, que tem características que o modelo de
emprego standard não tem, que são as relações de emprego atípicas.
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Qual a consequência dos contratos que violam o artigo 140º do CT? No Direito Civil
seria Nulo (Art. 194º do CC) mas nesta situação a sanção não era adequada, pois se fosse
apenas esta, não incentivava os empregadores a fazer contratos a termo apenas
nas situações em que esse é permitido, portanto a sanção é que o contrato a termo
se transforma num contrato sem termo (Art. 147º/a); b)).
Para além deste requisito material, a lei tem ainda um requisito de validade formal, que
é: não podem celebrar contratos de trabalho a termo sem redigir o contrato, tem
de ser documento escrito (impõe a forma escrita). Art. 141º do CT
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Para além de duração mínima, a lei também não quer que um contrato a termo a tempo
certo exceda a duração de 2 anos (Art. 148º/1 do CT), e a consequência para a
violação da duração máxima é a transformação do contrato a termo para um
contrato sem termo- Art. 147º CT
EXTINÇÃ bvO/CADUCIDADE
A caducidade do contrato não se dá automaticamente, é necessário que o trabalhador
com 7 dias de antecedência ou o empregador com 15 dias tem de comunicar à
outra parte que querem caducidar o contrato de forma escrita (Art. 344º/1º do CT).
O efeito da falta de comunicação escrita da intenção de caducar o contrato é:
Renovação Automática;
OU
Conversão em contrato sem termo (em situações em que já tenha atingido as 3
renovações, ou atingido a duração do prazo inicial nas renovações…);
Caducidade Automática: há uma hipótese em que o contrato termina na data em que foi
estabelecido, se no momento de elaboração do contrato as partes terem explicitado
que não queriam renovação.
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Duração Máxima: 4 anos- Art. 148º/5 do CT- A consequência para a inobservância do prazo
é a transformação do contrato a termo em contrato sem termo- Art. 147º/2, b) do CT
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As ETT são empresas com negócios incomuns, pois cedem pessoas e não mercadorias,
sendo necessário haver cautela quanto a este tipo de negócio. Assim, para que possam
funcionar, precisam de uma licença de atividade e são fortemente fiscalizadas. Neste
âmbito, as ETT devem conseguir garantir segurança e estabilidade dos trabalhadores
para poder funcionar (p.e., se pretendem ganhar lucro, o que cobram às empresas
utilizadoras deve contemplar o valor do salário do trabalhador cedido e ainda um extra
que servirá de lucro).
Coloca-se também o problema do regime do pagamento dos créditos do trabalhador:
quem é que responde pelos créditos que o trabalhador não recebe (p.e. salários em
atraso)? . Quem tem obrigação de remuneração é a ETT, mas é esta que responde
nestes casos? Face a este problema, é estabelecido uma caução que a ETT tem que
prestar para prevenir estas situações.
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É daqui que surge a atipicidade deste contrato – na relação standard o trabalhador tem o
período normal de trabalho a tempo completo (geralmente 7 ou 8 horas, podendo diferenciar
dependendo da empresa), e neste contrato compromete-se a trabalhar por um período
semanal diferente (p.e. 5 ou 6 horas).
Distinguem-se 2 modalidades de trabalho a tempo parcial:
Trabalho a tempo parcial vertical – quando o trabalhador presta a atividade apenas
em alguns dias da semana (o número de horas que trabalha é inferior ao período
normal não porque trabalha menos horas por dia, mas sim porque há dias em que não
trabalha).
Trabalho a tempo parcial horizontal – quando o trabalhador presta a atividade
todos os dias da semana, mas menos horas por dia, daí trabalhar por tempo inferior ao
período normal.
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que afeta as trabalhadoras a nível da reforma, tendo repercussões graves a nível social e do
mercado.
2.5. TELETRABALHO
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Esta é uma modalidade cada vez mais comum nos dias de hoje devido à pandemia do COVID-
19 (apesar de que o tipo de trabalho que se adotou durante a pandemia não ter sido
tecnicamente teletrabalho). Para se ter uma situação de teletrabalho são necessários
2 elementos típicos:
Elemento tecnológico – o trabalho é exercido através de equipamentos informáticos.
Elemento geográfico – o trabalho desenvolve-se em local não determinado pelo
empregador.
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SUJEITOS
É necessário para o contrato de trabalho que os sujeitos tenham capacidade jurídica
(capacidade de exercício de direitos).
No Direito do Trabalho sabe-se à partida que o empregador não colocará questões a este
nível, então incide a atenção sobre o trabalhador. Este deve preencher alguns
requisitos:
MAIORIDADE – Para a lei civil, é menor quem ainda não tenha completado 18
anos de idade, o que significa que até aí não se tem capacidade jurídica para se
ser sujeito de relações jurídicas, ou seja, para um menor celebrar um contrato
terá de ser através do seu representante (para o CC, o menor não tem maturidade
para o fazer em seu nome).
À luz do DT, a definição de “menoridade” é um pouco diferente, não se prendendo
tanto com a maturidade do sujeito. Existe, sim, preocupação com a incapacidade
jurídica do menor, mas mais ligada ao facto de o exercício de trabalho poder
comprometer o seu desenvolvimento físico, psíquico, bem como a sua
educação e formação (p.e., trabalhar em detrimento dos estudos ou de lazer). Assim,
em vez de considerar o contrato nulo como aconteceria no direito civil, o CT consagra
uma solução gradualista quanto ao contrato de trabalho com menores,
compreendendo 3 etapas em que se tem em conta a idade do menor e o seu
nível de escolaridade (Art. 70º ss. CT):
O menor com 14/15 anos que frequente a escolaridade obrigatória ou com
16/17 que não tenha concluído a escolaridade obrigatória tem incapacidade
para celebrar um contrato de trabalho, a não ser com autorização dos seus
representantes.
DECLARAÇÃO DE VONTADE
Um contrato de trabalho surge de um acordo das vontades entre o trabalhador e o
empregador, então há que garantir que estas são sãs, ou seja, que não têm vícios. Isto
significa que a vontade negocial das partes deve ter sido formada de forma livre e
esclarecida. Isto pode acontecer em 3 situações:
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Erro (p.e., um trabalhador celebra um contrato com um empregador que tem uma loja
num determinado local, mas na verdade esta não existe – o trabalhador pode anular o
contrato por erro).
Dolo (p.e., o trabalhador declarou na entrevista de emprego que falava 3 línguas, o
que era essencial para o exercício da sua profissão. O empregador, ao aperceber-se,
pode anular o contrato com base em dolo).
Coação (p.e., o trabalhador foi ameaçado a dar a sua declaração de vontade, sendo
este negócio nulo).
O período experimental é para ver quais são as qualidades umas da outra e quando não
querem ficar apenas denunciam o CT na parte experimental.
Na verdade, para o DT estas situações não são tão importantes, pois existe o período
experimental, que serve para as partes poderem avaliar as caraterísticas uma da outra com
mais detalhe, podendo desvincular-se do contrato caso estas não correspondam às suas
expectativas, não havendo um grande risco neste âmbito.
OBJETO
O objeto de um contrato de trabalho é a atividade que o trabalhador se obriga a prestar. Este
tem que verificar 3 caraterísticas para ser considerado válido:
Atividade determinável – no contrato tem que haver uma descrição, mesmo que não
muito concreta, do tipo de atividade que o trabalhador se obriga a prestar (p.e., o
trabalhador não se pode obrigar a fazer o que o empregador bem entender,
nomeadamente porque isso seria contrário à dignidade humana).
Atividade fisicamente possível – o trabalhador deve obrigar-se a realizar uma
atividade fisicamente possível, mas para além disso, há que avaliar a atividade no
âmbito do trabalhador em questão (p.e., o trabalhador pode ter uma patologia que não
lhe permita realizar a atividade a que se propõe, não lhe sendo esta fisicamente
possível).
Atividade lícita, não contrária à ordem pública nem aos bons costumes – a atividade
deve ser lícita (p.e., o trabalhador não se pode obrigar a prestar uma atividade de
trafico de substâncias ilícitas).
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Assim, numa situação em que o empregador coloca questões sobre a vida privada
dos candidatos ilicitamente, ou seja, em contextos onde não deveria ter colocado,
estes têm o direito de se negar a responder. Porém, a questão que se coloca é a de
que uma recusa a uma pergunta, mesmo que ilicitamente colocada, pode fazer
com que o empregador consiga deduzir a resposta e preferir não arriscar naquele
candidato. Neste âmbito, alguma doutrina sustenta que deve ser concedido o direito
à mentira do candidato ao emprego, possibilitando a estes que, em vez de ter
como única alternativa recusar-se a responder, pudessem mentir ao empregador
em resposta a uma pergunta ilicitamente colocada, prevenindo atos
discriminatórios na escolha do candidato (mentir é, de facto, um ato ilícito, mas quem
agiria ilicitamente primeiro seria o empregador). Por outro lado, há aqueles que defendem o
contrato de trabalho como um contrato de confiança, não devendo esta ser rompida pelo
direito à mentira.
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mecanismo da livre denúncia são exceções ao Art. 53º CRP (despedimento com justa
causa).
Se as normas forem mais neutras na sua redação, não revelando a sua natureza (p.e. o
Art. 263º/1 CT, relativo ao subsídio de Natal, apenas estabelece que “O trabalhador tem
direito a subsídio de Natal de valor igual a um mês de retribuição”), pode procurar-se
esta informação numa norma adjacente, ou seja, que esteja consagrada no
mesmo capítulo que a norma em questão (p.e. o Art. 339º CT, relativo à cessação
do contrato de trabalho, estabelece que o regime do capítulo em que se encontra não
pode ser afastado, o que significa que as normas seguintes têm natureza
absolutamente imperativa).
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Descoberta a natureza da norma que foi contradita pela cláusula, esta assume-se como
válida caso a norma seja dispositiva ou afaste a norma relativamente imperativa
com conteúdo mais favorável ao trabalhador, é válida. Caso a cláusula viole a
norma absolutamente imperativa ou afaste a norma relativamente imperativa com
conteúdo menos favorável ao trabalhador, é inválida, e é nestes casos que se vai
colocar a 2ª questão, relativa à invalidade parcial:
A lei laboral não concorda com a lei civil neste âmbito. Se o Art. 292º CC fosse
aplicado no CT haveriam graves consequências – tanto o trabalhador como o
empregador poderiam argumentar que se soubessem da invalidade da cláusula no
momento da celebração do contrato, não o teriam celebrado, havendo então
vontade hipotética de ambos no sentido da invalidade total do negócio, o que
seria disfuncional para o DT (o trabalhador ficaria sem contrato e as normas
que teriam sido violadas seriam normas que o iriam proteger, não estando a
cumprir a sua função). Assim, no DT consagra-se uma solução diferente desta
no Art. 121º/2 CT – quando há invalidade parcial, esta fica circunscrita à cláusula
viciada e há uma manutenção obrigatória do contrato, corrigindo-se o vício da
cláusula pelo que está estipulado legalmente. De facto, no Art. 121º/1 CT
consagra-se a mesma solução que no Art. 292º CC, ou seja, ambas as soluções são
reproduzidas no DT, mas esta solução é irrelevante para a grande maioria dos casos,
não devendo ser considerado no âmbito do estudo.
Note-se que nem sempre é necessário fazer toda esta análise para que se considere um
contrato de trabalho totalmente inválido logo à partida (p.e., o contrato é inválido quando o
objeto do contrato é ilegal, ou quando o contrato é celebrado com um menor de 13 anos,
etc.).
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Liberdade Religiosa;
Reserva da vida privada;
Direito à Imagem;
Direito ao Desenvolvimento da personalidade;
NOTA: Numa relação de trabalho, o trabalhador não tem que pôr de lado estes
direitos, mas será que o facto de estar sobre ordens de outrem implica que estes direitos
não possam ser exercidos em toda a sua extensão? A este propósito podemos colocar várias
questões relativas à vida extra laboral do trabalhador (p.e. expressão política e religiosa), e
nestas matérias pode entrar a argumentação de que o exercício pleno destes direitos pode
“manchar” a imagem da empresa. Em regra, e como princípio, as condutas extra laborais são
à parte da relação contratual de trabalho e não podem ser controladas pelo empregador
(havendo algumas exceções, como o caso dos desportistas, que têm códigos de atuação que
se adequam à preparação física e psíquica que têm que ter antes de exercerem qualquer
atividade). Não existe uma lei que regule os factos extra laborais neste sentido,
mas no que toca a situações mais específicas pode haver controlo legal, p.e.:
Pode o empregador utilizar meios de vigilância à distância para controlar o desempenho
do trabalhador? O Art. 20º CT consagra um direito pessoal juntamente com direitos do
trabalhador que proíbem este ato (os artigos 14º ss. CT contemplam este tipo de
direitos).
Pode o empregador fixar regras sobre a aparência física do trabalhador,
nomeadamente o uso de símbolos políticos ou religiosos? Esta questão tem
levantado muita discussão, principalmente noutros países, pretendendo saber-se até
que ponto é que o empregador pode pedir uma certa neutralidade neste
âmbito. Coloca-se a discussão ainda sobre o facto de que o empregador tem, por
regra, o poder de impor esse tipo de regras na sua empresa, mas o trabalhador
também tem, dentro dos seus direitos fundamentais, a consagração de liberdade
religiosa e política, o que faz crescer a questão de poder haver um condicionamento da
liberdade a este nível.
A PRESTAÇÃO DE TRABALHO
Vamos caracterizar a atividade laboral:
Como se define a prestação de trabalho: fazer o que?
O local da prestação de trabalho: onde?
O tempo da prestação: quando e quanto?
Entende-se que a relação de trabalho é uma relação dinâmica e não pode ficar
refém daquilo que ficou acordado pelas partes, sendo que existem vicissitudes que
podem alterar as circunstâncias de trabalho (Ex: alguém que fica doente e precisa de
ser substituído dentro de uma função que está ligada as competências do trabalhador que o
vais substituir). Logo, ao executar uma atividade fica acordado aquilo que foi acordado e
aquelas que estão ligadas (pode desempenhar outras funções que estejam ligadas desde que
tenha qualificação para isso).
Exemplo: Alguém que é técnico de reparação tem de conduzir um veículo para chegar até
ela.
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Fica definido o essencial no CT, no entanto existem funções satélites(são funções afim
próximas ou funcionalmente ligadas)-
Existe um desvio:
Mobilidade funcional( Art. 120º CT)
Pode encarregar o trabalhador de uma maneira temporária funções diferentes das
que estão estabelecidas:
é necessário que exista um interesse das empresas (não pode ser para o sancionar);
ter carácter temporário(não pode ser para sempre);
não pode modificar a posição substancial do trabalhador;
Art. 120º- se desempenhar funções inferiores vai receber o mesmo e se forem acima vai
receber mais (logo não é disso que se trata)
Tem de existir um mínimo de conexão (não pode ser uma atividade complemente estranha
a atividade do trabalhador);
Ele tem uma certa dignidade e imagem profissional, mas não pode dar funções que
possam colocar em causa essa sua dignidade profissional
(Exemplo: alguém que trata da contabilidade do hotel vai lavar as casas de banho da
receção)
2. O local da prestação
Quem define o local de trabalho para a prestação da atividade?
Este é um aspeto que de resulta do acordo das partes(contratualmente definido). Não sendo
um aspeto que seja unilateralmente definido por um único.
Há que conjugar uma questão de trabalhado com uma questão de família, amigos, etc., logo
não é um fato que fica à partida definido apenas pelo empregador.
Ele é tão importante como a atividade uma vez que alterar o local pode modificar altamente
as vantagens e desvantagens do contrato.
O local de trabalho é definido por acordo das partes que podem:
Exteriorizar expressamente o local
Pode não se expressar de uma forma explicita, mas implicitamente (um café no sitio X e o
empregador começa a desempenhar funções nesse mesmo local);
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Definido o local de trabalho aos vários níveis pode ser transferido o trabalhador pelo
empregador sem o seu acordo (deixar as balizar geográficas definidas)?
Existe o princípio que diz que não pode ser alterado, só com o acordo de ambas as
partes.
Existem:
Transferência coletiva, se fecha num sítio e abre noutro os trabalhadores que
estavam a trabalhar no estabelecimento de Coimbra vão ter uma ordem para ir
trabalhar para a figueira;
Transferência individual onde a transferência é por outros motivos que não o
encerramento da empresa (preciso que vás trabalhar para o estabelecimento Y);
O que os destinge é o que está na base da transferência.
Impacto que tem na esfera do trabalhador, não pode causar um prejuízo sério na esfera
do trabalhador.
Os prejuízos não são de aspetos patrimoniais(porque isso pode acontecer e ai o empregador
tem de compensar-Ex: gastar mais com despesas de mobilização).
Pode invocar fatores relacionados com as responsabilidades que tem que podem ter vários
aspetos: família monoparental, pode ter crianças, podem ter mãe ou pai a quem presta
cuidados de saúde...
Pode ter haver por questões de saúde que não pode conduzir durante tantas horas seguidas
Podem estar relacionados com os estudos
Podem ser de ordem pessoal, social....
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Direito do Trabalho I
O problema destas clausulas é que foram começadas a ser utilizadas de forma excessiva e
para proteger o trabalhador estas clausulas podem ser colocadas no contrato, mas
caducam no fim dos 2 anos.
Isto não resolve tudo e pelo contrário é fruto de uma evolução onde estas clausulas eram
utilizadas de forma excessiva e para travar isto foi necessário colocar o prazo. Mas não
estamos livres desta situação.
Existe quem entende que estas clausulas tem de ter um conteúdo determinado, uma vez que
caso contrário é nulo.
Não é apenas tempo de trabalho o tempo em que esta a prestar a atividade, mas também o
tempo em que ele se encontra adstrito/está a disposição, mas não está a
trabalhar(Ex: os médicos, os bombeiros, etc.) e esse tempo em que está a disposição pode
ser no local de emprego ou em casa.
Não significa que tenham de ser remunerados da mesma maneira entre quando está a
trabalhar e à espera.
Todas as interrupções contam como tempo de trabalho(Ex: ir à casa de banho, não
poder trabalhar porque a máquina está avariada)
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Direito do Trabalho I
regime em que acorda com os trabalhadores que tem períodos mais intenso do período
normal de trabalho e outros em que não. Desde que se respeitem os períodos médios:
Tem de estar previstos na convenção coletiva;
Por acordo individual;
Por decisão do empregador quando ser verificam requisitos;
Assim, com esta medida o empregador não pode recorrer ao trabalho suplementar.
Esta situação tem de ser dada ao conhecimento dos empregadores logo desde o início.
Outras modalidades (as modalidades de horário não são todas definidas pela lei, podendo
haver outras diferentes destas ou até haver misturas de certas modalidades).
O horário de trabalho pode ser alterado pelo empregador (Art. 217º CT). Neste caso, o
legislador reforça o poder de direção do empregador para que o possa fazer sem acordo com
os trabalhadores, porém, o empregador:
deve consultar previamente os trabalhadores e a sua entidade representativa (Art. 217º/2
CT);
deve comunicar a sua decisão com, pelo menos, 7 dias de antecedência (Art. 217º/3 CT);
existe impossibilidade de alteração unilateral de horários que tenham sido individualmente
acordados (Art. 217º/4 CT);
está obrigado a pagar uma compensação ao trabalhador caso a mudança de horário lhe
implique um acréscimo de despesas (Art. 217º/5 CT).
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Direito do Trabalho I
Parcial (Art. 219º/1/b) CT)– o trabalhador obriga-se a trabalhar mais horas por dia e por
semana, mas as horas a mais que se obriga a prestar estão fixadas no
contrato, não podendo ser ultrapassadas (p.e., o trabalhador obriga-se a prestar
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mais 1h por dia e mais 5 h por semana, fixando estes períodos no contrato, havendo
flexibilidade, mas não tanta como na modalidade anterior).
Limitada (Art. 219º/1/c) CT) – o trabalhador não se obriga a prestar mais horas,
mas abdica da previsibilidade do horário (o empregador fixa diferentes
localizações para as horas de trabalho dependendo das suas necessidades diárias, mas
o número de horas mantém-se).
As horas que se prestam a mais em regime de isenção de horário não contam como horas de
trabalho suplementar. Sendo este regime mais agressivo, não pode ser aplicável a todos
os trabalhadores, e os que estiverem sujeitos a este devem ter algum tipo de
compensação. Assim, esta figura:
apenas pode ser fixada através de acordo escrito entre o empregador e o
trabalhador (Art. 218º/1 CT);
apenas pode ser fixada em determinadas situações materiais (Art. 218º/1/2 CT):
exercício de cargos de administração/direção, funções de confiança ou apoio a
titular desses cargos;
execução de trabalhos preparatórios ou complementares (p.e. para trabalhos
que só podem ser exercidos depois do encerramento da empresa, deve haver
trabalhadores com essa flexibilidade para as poder exercer);
teletrabalho e outros casos de exercício regular da atividade fora do
estabelecimento, sem controlo direto do empregador;
outras previstas em IRCT;
dá direito a compensação no salário do trabalhador, que corresponde a 1h de
uma hora de trabalho suplementar por dia (Art. 265º CT);
não deve prejudicar o direito ao descanso semanal obrigatório, feriados,
descanso complementar ou descanso diário (Art. 219º/3 CT, prevendo-se algumas
exceções, p.e. para trabalhadores com cargo de direção, que podem renunciar esta
tutela).
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São dias de especial significado no plano político, histórico, cultural, religioso, etc.
que se comemoram nacionalmente ou a nível local e que determinam o
encerramento/suspensão de todas as atividades. Existem:
Feriados obrigatórios (fonte legal – Art. 234º/1 CT)
Feriados facultativos (fonte convencional – Art. 235º CT)
No dia de feriado o trabalhador não tem o dever de comparecer nas instalações da
empresa para trabalhar, mas note-se que o feriado é um dia de não trabalho que é
remunerado.
4. Férias
Tempo de interrupção na prestação de trabalho que tem como objetivo
proporcionar ao trabalhador a recuperação física e psíquica, condições de
disponibilidade pessoal, a integração na vida familiar e a participação social e
cultural. É a forma que o trabalhador tem de se abster do espaço laboral e ter uma maior
liberdade.
As férias são um direito fundamental (Art. 59º/1/d) CRP; Art. 31º CDFUE), um direito
universal (assiste a todos os trabalhadores independentemente do trabalho prestado ou da
assiduidade) e, tendencialmente, um direito indisponível (o trabalhador não pode
renunciar o seu tempo de férias por acordo unilateral ou com o empregador, excetuando-
se a situação em que o pode fazer nos termos do Art. 238º/5 CT).
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No âmbito dos tempos de não trabalho, coloca-se atualmente uma questão sobre o
direito do trabalhador à desconexão. Esta questão surge do facto de hoje em dia se ter
uma sociedade cada vez mais tecnológica em que a utilização de telemóveis, computadores,
redes sociais e outras formas de comunicação cresce exponencialmente. Com isto, uma
cultura de híper-conectividade foi-se alicerçando nas empresas, numa lógica de que o
trabalhador que está constantemente conectado (p.e., atende o telemóvel ou responde a um
email fora do horário de trabalho) é mais empenhado/esforçado/motivado do que aqueles
que não o fazem, acabando por ser promovida uma “invasão” do tempo privado dos
trabalhadores. Isto faz com que haja uma diluição cada vez maior na fronteira entre
tempo de trabalho e de descanso, e entre vida privada e vida pessoal, estando em
causa uma violação do direito do trabalhador ao repouso, ao descanso e ao lazer,
com efeitos psíquicos nefastos nos mesmos, não lhes permitindo desconectar do
emprego apesar de estarem em tempo privado, o que, por vezes, pode constituir
assédio laboral, caso estas práticas sejam reiteradas.
A lei consagra já uma resposta a este problema, havendo, porém, divergências:
Alguns autores defendem o direito à desconexão do trabalhador, como é o caso do
ordenamento jurídico francês. De facto, esse direito já está subentendido no direito ao
repouso/lazer/descanso, então, pensa-se que, em vez de ser consagrado este novo
direito, devem procurar-se mecanismos que façam cumprir os direitos já
existentes no âmbito do mundo da tecnologia.
Em Portugal, consagra-se o dever patronal de abstenção de contacto (Art. 199º-A
CT), segundo o qual o empregador se deve abster de contactar o trabalhador
em períodos de não trabalho, a não ser que se trate de uma situação de força
maior, caso contrário, o empregador pratica uma contraordenação. São feitas
algumas críticas a este dever:
A conduta proibida por este dever é o contacto paternal, mas a lei não regula
situações em que não se exige resposta do trabalhador (p.e., o
empregador envia um email ao trabalhador, mas não exige que este responda
nem que exerça qualquer atividade no seu tempo de não trabalho), ficando em
aberto se estas condutas violam ou não este dever (de facto, estas condutas
podem importunar o trabalhador da mesma forma, apesar de a administração
pública ter já emitido uma orientação segundo a qual considerava o contrário,
sendo esta muito criticada apesar de não ser vinculativa)-
Entende-se, assim, que são as empresas e as convenções coletivas que devem concretizar
este direito e os seus limites no seu âmbito privado.
Retribuição
A retribuição é um direito do trabalhador que tem uma função social, pois está funcionalizada
para cumprir uma função alimentar e satisfazer as necessidades básicas dos trabalhadores e
do seu agregado familiar (numa compra e venda ou num arrendamento também se têm
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preços, prestações e rendas, mas não são prestações que desempenhem esta mesma
função), estando muitos dos aspetos relativos à retribuição ligados a este ponto.
Modalidades de retribuição
A retribuição é classificada segundo 2 critérios:
Critério do tipo de prestação/modo de pagamento:
prestação pecuniária (em dinheiro);
prestação não pecuniária (em espécie) – esta é uma modalidade limitada, pois
deve preservar-se a liberdade de escolha do trabalhador sobre os bens que
consome (se a retribuição lhe for paga em espécie em bens que este não
consome, terá de os revender para poder conseguir usufruir do seu valor) e ter em
conta que a retribuição comporta uma função social para com o trabalhador,
devendo verificar os requisitos do Art. 259º CT.
Critério da unidade de cálculo (Art. 261º CT):
prestação certa – calculada em função do tempo de trabalho (é a modalidade mais
simples, a mais difundida e aquela que dá mais segurança ao trabalhador por este
poder ter a certeza do que vai receber).
prestação variável – calculada em função do rendimento, da produtividade e dos
objetivos alcançados pelo trabalhador, constituindo um incentivo à produtividade,
mas comportando, por outro lado, maiores riscos, devido à maior pressão exercida
sob o trabalhador
prestação mista – tem uma parte certa/fixa e outra variável, sendo também uma
modalidade bastante comum.
Montante/valor da retribuição
A fixação do montante da retribuição deve ser feita pelo acordo entre as partes,
segundo o princípio da liberdade contratual (Art. 405º CC), devendo obedecer sempre a
2 parâmetros normativos:
Princípio da retribuição mínima mensal (Art. 273º CT, 59º/2/a) CRP) – a lei fixa
um patamar mínimo para a retribuição (podendo as partes fixar um valor superior
por acordo), sendo este atualizado anualmente (está hoje em vigor o DL 109-B/2021,
que fixa o salário mínimo nos 705€). O salário mínimo tem caráter nacional, é
intercategorial e interprofissional, não podendo haver quaisquer setores sem ter um
salário mínimo fixado (o que não significa que não haja um salário nacional mínimo
diferente noutros setores, como no setor privado). Para a atualização desse patamar
mínimo, é convocada a CPCS (Concertação Social), constituída pelo Governo, por
entidades representativas dos empregadores e dos trabalhadores, para que haja
consenso entre as duas partes representadas. A fixação de um valor mínimo visa
garantir que a retribuição é suficiente para assegurar ao trabalhador as suas
necessidades básicas.
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Princípio do trabalho igual, salário igual (Art. 270º CT, e Art. 59º/1/a) CRP) – é
proibida a atribuição de um salário desigual aos trabalhadores por
discriminação baseada em critérios não previstos na ordem jurídica (principio
da não discriminação pela raça, orientação sexual, género, religião, idade, etc.), bem
como o arbítrio, não devendo haver diferenciação de trabalhadores baseada em fatores
irrazoáveis (a lei admite fatores como a quantidade de trabalho que se presta, a
natureza da atividade, a qualidade do trabalho, a antiguidade, habilitações académicas,
etc., mas não fatores arbitrários).
Prescrição de créditos
A prescrição de créditos é uma figura que permite ao devedor opor-se ao exercício
de um direito quando esse não tiver sido exercido pelo credor durante um certo
tempo indicado por lei. Isto significa que o crédito que era exigível pelo credor
deixa de o ser pelo passar do tempo (não desaparece, podendo o devedor pagá-lo de
boa-fé, mas já não é exigível perante este). Neste âmbito, existem diferenças entre o CC
e no CT:
No CC há prazos gerais para as prescrições (Art. 310º CC) que contam a partir do
momento em que a obrigação vence (Art. 306º CC).
No DT, o crédito emergente do contrato de trabalho apenas prescreve
decorrido 1 ano a partir do dia seguinte ao da cessação do contrato (Art. 337º
CT). A solução é diferente no CT pois durante a vigência da relação, o trabalhador está
subordinado aos poderes do empregador e depende financeiramente deste, acabando
muitas vezes por se sentir inibido de o confrontar para exigir créditos por receio de
algum tipo de consequência negativa. Esta norma é criticada pelo seu caráter simétrico
(tanto vale para o trabalhador como para o empregador), pois o trabalhador também
pode ter créditos a pagar ao empregador (p.e., num caso em que estrague uma
máquina por negligência, incorrendo em responsabilidade civil), mas este está numa
posição de superioridade, não havendo qualquer impedimento ou receio da sua parte
que justifique não exigir o pagamento dos créditos.
VICISSITUDES CONTRATUAIS
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Ao exercer este direito com base nestes fundamentos e se estes forem eficazes, o
trabalhador mantém o vínculo laboral com o transmitente (antigo empregador) e, em caso de
impossibilidade de este receber a prestação de trabalho (se o antigo empregador não tiver
condições de receber o trabalhador, p.e., porque não tem outros estabelecimentos), dá-se a
caducidade do contrato.
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DESPEDIMENTO
O despedimento é a forma de cessação de contrato de trabalho desencadeada por
vontade do empregador. Existem várias modalidades de despedimento de acordo com o
critério da causa, classificação seguida pelo CT:
Se o despedimento for devido a causas objetivas (razões económicas, estruturais
ou de mercado), ou seja, que não estão relacionadas com o trabalhador, pode ter-se:
Despedimento coletivo;
Despedimento por extinção do posto de trabalho;
Despedimento por inadaptação;
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2) Culpa – O comportamento do trabalhador deve ter sido culposo, quer seja culpa
leve (negligência) ou grave (dolo);
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outra empregadora. Este comportamento, sendo extra laboral, não poderia constituir uma
justa causa de despedimento, mas dados os seus contornos, coloca-se a questão de se saber
se este não seria uma questão limite. Este caso remete-se para o acórdão do STJ de 7-3-2012
– era impossível a relação laboral subsistir, pois se viola o dever de respeito do trabalhador
face ao empregador);
Quanto aos requisitos PROCEDIMENTAIS, o empregador, por mais razões que tenha
para o despedimento, não pode simplesmente , por uma questão de princípios
basilares de aplicação da justiça, despedir diretamente e sem mais o trabalhador,
devendo seguir um processo disciplinar e obedecer aos princípios do poder
disciplinar. Este procedimento deve obedecer a algumas fases:
Fase de acusação (pode ser antecedido de um período de inquérito, para que se
tenha convicção de que o ato do trabalhador foi suficientemente sério para
desencadear o despedimento) – Consiste na elaboração de uma nota de culpa
pelo empregador, um documento em que este descreve os factos que, no
seu entender, legitimam o despedimento por justa causa. Simultaneamente,
o empregador deve ainda informar o trabalhador de que pretende despedi-
lo (Art 353º CT). Opcionalmente, o empregador pode suspender o trabalhador
preventivamente, caso entenda que a presença deste pode ser
inconveniente na empresa (Art. 354º CT). Independentemente desta
suspensão, o empregador continua a pagar a retribuição ao trabalhador
durante o decorrer do processo disciplinar.
Fase da defesa (Art. 355º CT) – Perante a acusação, o trabalhador tem o direito de
consultar o processo e apresentar um documento escrito em que expõe a sua versão
dos factos, podendo alegar diferentemente do empregador, e defender a sua
posição, porém, não é obrigado a fazê-lo, podendo simplesmente abster-se.
Fase de instrução (Art. 356º CT) – Pode haver interesse em realizar diligências
probatórias, para que se averigue se os factos se passaram realmente como as
partes dizem alegaram, nomeadamente através de testemunhas ou outro tipo de
provas, que vão ou não corroborar os factos.
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despedimento – Art. 387º CT e Art. 98º-B ss. CPT), havendo para tal um
prazo de 60 dias.
Se não for uma decisão inequívoca (p.e., o despedimento foi expresso oralmente), é
impugnada uma ação comum, que goza do prazo de 1 ano para ser intentada
(prazo geral de anulação de atos jurídicos).
A partir do momento em que o trabalhador intenta a ação judicial, esta pode vir a
estabelecer o despedimento em dois sentidos:
Despedimento ilícito e inválido – Quando o trabalhador alega em tribunal que o
despedimento padece de um vício que desencadeia a sua ilicitude, devendo invocar
fundamento para tal. Estes fundamentos estão fixados nos Art. 381º e 382º CT,
podendo ser materiais ou procedimentais (inexistência do processo disciplinar
ou falhas graves no mesmo (p.e. despedimento discriminatório, baseado em motivo
improcedente, sem parecer prévio da CITE nos casos em que este é requerido, etc.).
Quando o tribunal aprecia o caso dando razão ao trabalhador, sendo o
despedimento julgado ilícito e inválido, desencadeiam-se 3 efeitos:
Indemnização do trabalhador pelo empregador, pelos danos
patrimoniais e não patrimoniais decorrentes da ilicitude do despedimento
(Art. 389º/1/a) CT);
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