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A dança no processo de educação escolar.

O artigo “A dança na escola” de Isabel A. Marques, se inicia com uma


discussão extremamente interessante sobre currículo. Onde especificamente
poderíamos colocar a dança dentro do já pré-determinado currículo escolar? Qual
profissional estaria mais qualificado para ministrar as aulas desta matéria? Que
tipo de formação a própria Universidade deve dar a este profissional para que ele
possa desenvolver um bom trabalho? Devemos ensinar do clássico ao moderno,
do balé à dança de rua? A dança deve ser ensinada para os homens também, ou
é coisa de mulher? Seriam as pessoas que não se encaixam nos “padrões” de
peso um estorvo ou um desafio? O que fazer com a mentalidade retrógrada de
algumas camadas da população brasileira que possuem certos tipos de
preconceitos históricos em relação ao trabalho corporal?
No estudo das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner encontramos a
Inteligência Sinestésica, isto é a inteligência do movimento. Este estudo comprova
que em algumas pessoas o movimento facilita e até mesmo maximiza o
aprendizado dos que apresentam este tipo de inteligência desenvolvida (ou a ser
desenvolvida), assim como alerta que o processo de ensino e aprendizagem deste
tipo de pessoa pode ficar comprometido se não trabalhado corretamente. Segundo
o artigo, a dança que encontramos hoje na escola não está devidamente
associada ao trabalho pedagógico e sim atrelado a práticas que podem acalmar o
aluno, ou às famosas festinhas (quadrilhas, concursos, etc...), não repercutindo
necessariamente em um planejamento metodológico com metas específicas.
Acredito também que a dança faz parte do campo das artes e, portanto,
assim como a pintura, a escultura e outros tipos de atividades artísticas, a arte do
movimento deve fazer parte integrante do currículo. Neste momento, paramos
para pensar em investimentos institucionais da escola dentro do campo das artes.
Sabemos muito bem que o governo não dá suporte material ao desenvolvimento
deste campo e afins, enquanto que as instituições privadas em sua grande maioria
e com raras exceções, está mais preocupada com um tipo de ensino voltado para
a continuidade dos estudos no nível superior. Ao mesmo tempo a Universidade
não dá embasamento teórico suficiente na formação do aluno que trabalhará os
aspectos artísticos das diversas culturas humanas, portanto não dá embasamento
para o profissional que irá construir os conhecimentos de seus alunos através
desta.
Através das artes, da dança, podemos entrar em contato com nosso lado
mais íntimo, com nossas emoções mais arraigadas. Não seria uma solução para
um país que está passando por um paradigma educacional, em que o ensino está
trazendo mais tecnologias para seu auxílio, trazermos também a dança como
forma de expressar de maneira crítica o nosso lado emocional através do
simbolismo da arte, sem intermediação da fala? A arte pela conceituação e pelo
movimento para demonstrar as transformações que estão ocorrendo em nossos
tempos simplesmente pela linguagem corporal, pelo espaço ocupado e pelo ritmo.
Ao aluno, conhecer o próprio corpo é estar em contato com seus limites
motores, o que o ajuda a construir seu próprio repertório. Para isso se faz
necessário segundo a autora “...a seleção dos conteúdos para uma aula de
dança, assim como a elaboração de um planejamento, tornam-se incompatíveis
com o que tradicionalmente aprendemos nos cursos de didática e prática de
ensino, ou seja, as "listas de conteúdos por série e faixa etária" e o planejamento
"em colunas". Ou seja, a pluralidade das conexões artístico-educativas possíveis
em dança não seriam viabilizados somente pelas estratégias e métodos
escolhidos pelo artista-docente, mas, relacionados a eles, também implícitas na
escolha dos conteúdos a serem trabalhados com os alunos(as). Proponho que
esta seleção seja uma articulação entre os conteúdos acima mencionados e o
contexto vivido, percebido e imaginado dos alunos(as). Portanto, sugiro que
pensemos em uma articulação múltipla entre o contexto vivido, percebido e
imaginado pelo/do aluno(a) e os sub-textos, textos e contextos da própria dança
(in Marques, 1996)6. Ou seja, a seleção de conteúdos para as aulas de dança
estaria ancorada na criação de uma "rede de textos"... tecida especialmente para
cada situação educativa.”

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