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H. M. Ward - 22 - O Arranjo (Rev)
H. M. Ward - 22 - O Arranjo (Rev)
Tudo ocorreu para este momento, esta noite. O plano está pronto
para ser executado. O sexy bilionário Sean Ferro está ao meu lado e na
minha cama. Enquanto a tensão erótica entre nós se aprofunda, vejo o
homem que ele poderia ser — o homem que ele está se tornando. Sean me
tem em todos os sentidos possíveis e jura me proteger dos meus inimigos.
Mas há uma coisa que ele não pode salvar, uma coisa que está se
fragmentando dentro de mim e desmoronando. Meu coração está
morrendo no meu peito enquanto meus demônios me atormentam sem
aviso prévio. A escuridão está desaparecendo dos olhos de Sean e
reaparecendo nos meus. O monstro dentro de mim está se alimentando,
pronto para levantar a cabeça enquanto eu espero em horror, enojada com
a mulher que estou me tornando.
Há um vazio nos olhos de Sean quando ele não percebe que estou
assistindo. Ele olha fixamente, perdido em pensamentos, perdido no
passado. A mansão Ferro é uma pilha de escombros. Ele tem sorte de ter
perdido a mãe — era possível que ele pudesse ter perdido toda a sua
família naquela única explosão. Fico feliz que ele não tenha que suportar
essa dor. Pela primeira vez, estou feliz por não ter crescido com irmãos.
Eu não posso imaginar puxá-los para isso. Desculpar-se não consertaria
uma coisa maldita.
Teremos sorte de sairmos dessa com vida. Eu não sou uma idiota.
Eu sei que as probabilidades estão contra nós. Mas quando não há outro
lugar para ir, nenhum outro plano de ação para nos libertar, temos que
nos defender e reagir.
Mel senta em frente a mim, seus pés enfiados sob a sua bunda,
com as mãos nas coxas, os olhos queimando um buraco no lado do meu
rosto. Ela está inclinada um pouco para frente, pronta para atacar. Suas
sobrancelhas se unem e eu não agüento mais.
1Stain Stick - Um bastão que contém produtos de limpeza usados para remover manchas
do tecido.
— Não, — ela diz, com naturalidade. — Eu não revivo coisas que
não posso mudar. Eu vejo esse olhar em seus olhos — você está pensando
em algo que você não queria fazer. Acabou, Avery. Concentre-se no que
está por vir.
— Eu também, — admito.
Mel pergunta — Black? Certo? Aposto cem dólares que ela pensou
que não havia um traço do seu passado em qualquer lugar.
Sean nega com a cabeça e olha por cima do ombro, com os olhos
sinceros sob a luz âmbar do poste. — Não, ela nunca me disse.
Henry bate de volta. — Claro que não! Olhe para ele! Ele tem tantos
sentimentos quanto um robô! — Mel bate em Henry na parte de trás da
cabeça — com força. Ele continua e estreita o olhar para ela, gritando: —
Maldito inferno, mulher!
Mel está pisando nos nerds enquanto ela tenta dar outro giro. —
Você tem olhos, mas não vê merda3.
3Elausa uma gíria jack shit que significa merda e por isso que ele faz um trocadilho com
Jack Shat.
Mel bateu nele novamente. — Você acha isso engraçado? Você acha
que eu ainda não descobri o que aconteceu entre você e Sean? Acorde,
cara pálida! — Mel vai bater na parte de trás da cabeça dele novamente,
mas ele se esquiva, balançando em seu assento. Justin finalmente
consegue rastejar para a parte de trás do furgão com o outro cara caindo
depois.
Mel sorri, olha para mim, depois para Sean e depois para Henry. —
Vocês dois se conheciam, eram amigos mesmo.
Mel me golpeia e olha para Sean. — Sean não matou Amanda. Não
houve assassino.
Henry está mais intrigado agora. Ele olha para Sean. Sua voz
assume uma suavidade que eu não ouvi antes. — Do que ela está falando?
Sean fica tenso. — Nada. Ela não sabe nada. — Ele olha para mim,
pensando que eu disse a Mel.
Mel lambe minha mão, e quando eu não me movo, ela afunda seus
dentes na parte carnuda da minha palma. Eu grito. Então, Mel se move
rapidamente e me coloca no chão do furgão. — Amanda se matou, idiota.
Então toda vez que você culpa Sean, você soa como um idiota de merda.
Sean arrasta o feixe de luz pela sala e sussurra por cima do ombro:
— Sistema de alarme.
Mel olha para o pulso e sorri. — Então, o que você está dizendo é
que eu deveria vendê-lo?
Henry caminha até ela, levanta o seu pulso com cuidado e
pressiona o dedo no bracelete. — Se você o vender por seis dígitos, você
seria uma idiota — como você diz tão delicadamente. Vale milhões.
Sean está vestindo jeans escuro com aquele suéter preto sexy que
se agarra ao peito e abraça os músculos dos braços. Juntamente com
seus sapatos chutadores de merda, ele parece um fodão. Ele empurra o
cabelo para trás enquanto olha ao redor da sala, deixando seus olhos
pousarem em mim. Sua expressão suaviza. — Agora vamos cavar as
coisas dela e ver o que encontramos.
Eu olho para Constance como se ela fosse louca. — Você quer que a
gente deixe você aqui?
Ela balança a cabeça. — Você não pode me levar. Ele saberá que foi
você e sua verdadeira missão aqui será arruinada. Sean sabe o que ele
está fazendo. Deixe-me. Volte quando você abater aquele filho da puta.
Seu pedido faz meu sangue gelar. Ela quis dizer isso, cada palavra.
— Não podemos deixar você para trás.
— Você pode e vai. — Constance não diz outra palavra. Ela arqueia
uma única sobrancelha para mim, uma dispensa, minha deixa para sair.
Sean folheia as páginas e acena com a cabeça. Ele pega, tira fotos
de cada página e me diz: — Coloque de volta.
— Avery, ela não virá. — Ele para e olha para mim, aqueles olhos
azuis implorando para eu não fazer um grande negócio com isso. — A
melhor maneira de ajudá-la é terminar isso e voltar para ela.
— Sean...
A voz de Constance vem pela porta. — Você ainda não vai ganhar
um centavo.
Capítulo Cinco
Nós saímos e voltamos para o furgão antes que alguém chegue em
casa. A moto de Sean está estacionada em um estacionamento fechado de
luxo a poucos quarteirões de distância. Parece mais um hangar de avião
do que uma garagem pessoal. Ele para, entra com uma chave codificada, e
depois nos leva para uma sala de concreto com controle de temperatura.
Sean sai do furgão e acende as luzes. À medida que se ilumina, percebo
que estamos em uma sala do tamanho de um campo de futebol e cheia, de
parede a parede, com veículos caros, incluindo um avião bimotor,
motocicletas e carros de corrida.
4Geek é uma gíria da língua inglesa cujo significado é alguém viciado em tecnologia, em
computadores e internet. O conceito de geek é algo semelhante ao conceito de nerd:
aquele que tem um profundo interesse por assuntos científicos e tecnológicos, gosta de
estudar, é muito inteligente e às vezes é pouco sociável.
5 Land‘s End é uma varejista americana de roupas e decoração para casa. GAP é a maior
Mel empalidece: — O que? Sua mãe estava lá? Ela está morta!
Eu vou para a frente da sala e paro para olhar para um poste. Tem
tiras de couro em três pontos, um dos quais se parece com uma coleira.
Na frente disso está uma barra sobre rodas. Tem cerca de um metro de
altura, ajustável e tem um grampo no topo. Vai com o poste, mas não
consigo descobrir o que faz.
— Não.
Mel rasteja por baixo, encontra uma costura no couro, puxa-a para
o lado e enfia a mão dentro do barril. Ela imediatamente puxa o braço
para fora novamente, jogando um maço de dinheiro no chão. Seu rosto se
ilumina. — Nem fodendo! Black escondeu seu dinheiro aqui?
Isso me faz sentir um pouco melhor, mas ainda faz minha pele se
arrepiar ao saber que estou relacionada com pessoas tão más. Não há
garantias na vida. Nenhuma. Não me incomodaria tanto se eu soubesse
em quem eu estava me transformando, mas minha identidade escorregou
entre meus dedos no dia em que conheci Sean. Não é culpa dele. É apenas
o momento. Eu teria sido enredada em tudo isso com ou sem Sean. De
certo modo, a insanidade me trouxe amizades mais fortes que o sangue —
que é o que Mel quer dizer.
— Saia. Eles estão vindo nessa direção com Vic Jr. no reboque. Eu
deveria estar aqui para eles, então dê o fora agora.
— Consegui.
— Eu vou ficar bem. Apenas vá. — Minha voz diz a ela que isso não
está aberto para debate, então ela não discute.
Mel solta o trinco e aponta para um ponto nos arbustos. —
Encontre-me lá, Avery. Sean, nos vemos de volta na casa de Henry.
— Você não foi pago pelo seu cérebro, Gragg. Pegue o barril e
levante no três. Um. Dois. Três.
— Estes não são para Ferro — eles são para a irmã mais nova de
Vic.
— O que há com ele ser tão obcecado por ela? Ela é uma distração
— reclama Gragg.
Henry anda atrás de mim. — Obrigado por sua ajuda lá atrás, seu
bruto.
— Henry, — eu aviso.
Ele bate o zumbido pela janela e sai pela noite. A coisa dispara para
o alto e zumbe sobre a casa antes de se lançar em nossa direção. Se Avery
ainda estiver a pé, talvez seja possível chegar até ela primeiro.
— Você pode falar com ela através do drone? Quero dizer, se você a
encontrar, como ela saberá que é você?
— Talvez, mas uma vez que elas olhem para ele — bem, você vai
ver. — Henry voa a coisa cerca de cento e cinquenta metros — baixa o
suficiente para não interferir com a aeronave, mas alta o suficiente para
que não possa ser vista do chão. Alguns minutos depois, está sobre a casa
de Black, caindo como uma pedra do céu. Ele para, paira acima do solo e
gira lentamente perto das árvores onde Avery deveria encontrar Mel, mas
elas já se foram.
Capítulo Oito
AVERY
Mel me empurra para frente. Nós temos rastejado pelos arbustos
por muito tempo. Estou cansada e meu corpo parece feito de tijolos. Eu
gostaria de poder dormir por alguns dias, comer uma tonelada de sorvete
e que toda essa situação acabasse. Mas não isso.
Mel ri. — Aquilo foi tão engraçado! Você deveria ver o olhar no seu
rosto!
Mel acena para mim. — Essa merda não mora aqui. O pior que você
encontrará é o Jersey Devil7.
Eu não posso evitar. Eu ri. — Eu acho que ele mora em Jersey, Mel.
Ela bufa: — E o que? Esta não pode ser sua casa de verão?
— Não é verão!
6Pine barrens – Espécie vegetal dominada por gramíneas, arbustos baixos e pinheiros
pequenos e médios.
7Jersey Devil - Criatura lendária que diz habitar o Pine Barrens do sul de Nova Jersey. A
criatura é freqüentemente descrita como um bípede voador com cascos, mas há muitas
variações.
Quando ela diz baby, meu coração doí, como se a descendência do
demônio fosse meu filho. Eu imagino que seja mal interpretado e chore
enquanto tenta me encontrar, mas não consegue. Eu pisco rapidamente,
perseguindo a historia. Que raio foi aquilo? Compaixão por um bebê
demônio? Eu estou ficando louca. Devo estar.
Eu sigo Mel, embora não tenha ideia de onde estamos ou para onde
ela está indo. Eu acho que ela está perdida, mas não estou totalmente
certa. Está muito escuro. O luar cria um padrão rendado no chão da
floresta, mas é difícil ver muito mais.
Com o coração batendo forte, eu puxo com força e ela cai de volta
comigo no chão. Aliviada, eu suspiro e deito no chão da floresta por um
momento antes de me levantar. Quando levantamos, nos aproximamos e
espiamos pela borda.
Seu rosto se contrai e ela olha para mim como se houvesse uma
cabra no meu rosto. — O que dizer agora? Quem diabos roubaria areia? É
areia!
— Não é.
— Sim, provavelmente é.
Seus olhos cortam para o lado enquanto ela olha para mim e depois
volta para o buraco. — Então, quando nós conseguimos um contrato para
um livro, e eles adaptarem a história em um filme, nós vamos dizer que
isso era uma cova coletiva.
— Sim, porque não? Pense nisso. Ela começa a falar com as mãos,
pintando o ar com o movimento das palmas das mãos. — Temos intrigas,
mistério e um lunático que envergonha aquele cara da serra elétrica.
Eu franzo a testa. Ela está certa. Essa coisa toda está mais confusa
do que qualquer filme que eu já vi. — Tudo bem, é um túmulo de
demônio.
— Psh, agora isso é ridículo. Demônios não podem cavar. Eles não
são cães sobrenaturais. Nossa, Avery!
Mel rosna e tenta sair de novo, mas só cai de volta no buraco. Ela
levanta e xinga novamente. Quando termina com sua birra, ela olha em
minha direção, acrescentando: — Graças a você, estamos presas no fundo
de um maldito buraco! Eu não estou interessada em jogar a versão ao vivo
do Frogger agora.
Mel olha para mim enquanto tira a areia dos braços. — Não é
engraçado.
8Pitfall
— Jogo onde o jogador deve mover seu personagem, conhecido como Pitfall Harry,
através de uma floresta tipo labirinto em uma tentativa de recuperar 32 tesouros em um
período de 20 minutos. Nesse tempo ele deve derrotar a densa floresta, com suas cobras,
morcegos e insetos.
Eu olho em volta, — Bem, nós poderíamos saltar em alguns troncos
e esperar que não caíssemos em um jacaré por engano. — Eu faço um
som de Tarzan que soa mais como um bode.
Mel olha para mim, irritada no começo, e então começa a rir. Ela se
dobra e coloca as mãos nos joelhos enquanto ri com tanta força que não
consegue respirar. — Puta merda! Isso soou como o jogo! Era como se
você fosse metade cabra e metade Tarzan. — Ela se endireita e aponta
para mim: — Faça de novo.
Eu faço o barulho mais uma vez, desta vez mais alto. Meu último
balido sai engasgado quando quase me engasgo de rir.
Mel solta um longo suspiro pela boca e olha para mim. — Se não
estiver algum babaca tentando nos matar, é tudo diversão e risos...
— Sim.
Assim que ela está ao meu lado e nós olhamos em uníssono, uma
luz brilhante reflete diretamente acima de nós, cegando-nos. O zumbido é
alto quando cai perto de nós muito rápido. Ele para no nível dos olhos e
paira no ar à nossa frente.
O drone está embrulhado com uma foto minha. Eu pisco com força,
esperando que meu rosto e corpo desapareçam do lado da máquina. É a
foto minha que eu dei a Henry antes de saber que ele era louco. Era para
ficar na carteira dele. Eu não deveria estar colada aos lados de um drone.
— Aposto que ele tem seu próprio jato invisível. Dane-se a Mulher
Maravilha.
Ela ri. — Eu aposto que isso fez com que seus britânicos se
juntassem. A propósito, você não quer ver o que está no lado de baixo
desse drone. Ele é um sacana doente. — Seus lábios se contraem como se
ela quisesse sorrir com carinho. É quase admiração. Não, isso não está
certo. Há um olhar deslumbrado no olho dela combinado com o sorriso
quase bobo.
— Sim, você faz! Você tem aquele sorriso tímido no seu rosto,
aquele que é totalmente apaixonado e bobo! Como você pode gostar dele?
Ele é louco.
Ela não discute desta vez. — Eu não sei. Ele é gostoso, engraçado e
um pouco doente. Além disso, quem é você para criticar? Você está
namorando o cara mais distorcido do mundo.
Eu aceno para Sean com as pontas dos meus dedos. — Hey! Como
vai você'?
— Foda-se, idiota.
— Imbecil.
Henry enfia as mãos nos bolsos e ri, jogando a cabeça para trás
como se Sean fosse engraçado. Soa forçado e sarcástico. — Até parece.
Eu rio e bato minhas mãos sobre minha boca. Mel olha para mim,
então eu corro para a borda onde Sean joga a corda por cima da borda.
Colocando minhas mãos ao redor da corda grossa, digo a ela: — Ele
parece com você.
— Não. Ele deseja poder soar tão incrível quanto eu. Mas ele não
pode.
Henry acena com o dedo indicador no ar, joga o quadril para fora e
balança a cabeça — imitando Mel. — Ele faz isso. Ele é muito mais incrível
do que eu, e eu adoraria transar com o filho da puta.
Eu sorrio para Sean quando ele me puxa para cima. Eu grito para
Henry: — Você deveria ter escutado Sean. Mel vai rasgar seu rosto quando
ela sair.
Henry estende a mão para ela. — Ela não poderia machucar uma
borboleta. Seu auge acabou. Ela está caída, e indo para um declínio
induzido pela gravidade, estou certo, amor?
Depois que Sean me puxa para cima, empurro meus joelhos para
cima e fico de pé, limpando a areia dos meus membros. Ele olha para mim
com ternura, colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. —
Graças a Deus você nunca faz como lhe é dito. — Ele beija minha testa e
parece respirar mais aliviado.
Estou respirando muito rápido e minha voz está tremendo. Ela vai
ouvir, então eu faço a única coisa que faria esses sons parecerem
razoáveis. Eu fungo e deixo escapar: — Eu quero o trabalho. O trabalho de
cafetina que você ofereceu antes.
— Eu não sabia que Sr. Ferro voltou para casa. Quando isso
aconteceu?
— Eu não sei! Ele foi embora mais cedo e disse que sua vida aqui é
tóxica. Miss Black, eu realmente não quero falar sobre ele.
Eu esmago meus lábios e tento não gritar com ela. — Dê-me uma
chance. Eu vou te mostrar o quão valiosa posso ser. Não estou mais
interessada em homens. Eu nunca vou me apaixonar por outro cara
enquanto eu viver. Não tenho mais nada para fazer, nenhuma outra fonte
de renda. Miss Black, por favor... — Eu imploro, adicionando uma
respiração irregular no final para soar como se eu não tivesse terminado
de chorar.
Sean olha para mim por baixo dos cílios. — Eles dizimaram minha
casa e tentaram erradicar toda a minha família. Eles têm minha mãe
acorrentada e planejam fazer o mesmo com você — ou pior. Sabemos que
Vic tem planos para você, então você me diz — quem vai viver? Eu vou
ceder a você sobre isso, mas deixar qualquer uma dessas pessoas irem
Mel acena com a cabeça, não diz nada. Uma calma gelada toma
conta do quarto, enquanto todos nós estamos lá, nenhum de nós pronto
para fazer isso. Mel finalmente diz: — Preciso tomar banho e me trocar.
Espero que esta seja a última vez que tenhamos que ficar na frente de
Black para qualquer coisa.
Capítulo Doze
Mel caminha até uma prateleira no fundo da despensa coberta com
uma sacola de plástico. Ela abre o zíper do lado e passa por alguns
vestidos antes de escolher algo simples. É um vestido de cocktail preto
com um decote baixo, de alcinhas e uma saia de tulipa que cai no meio da
coxa em Mel. Em mim, ficaria nos joelhos.
— Obrigada, Mel.
Mel se foi sem outra palavra. Nós não podemos nem ouvir seus
passos enquanto ela vagueia pelo corredor. Essa mulher é meio gata.
Corro atrás dela, gritando: — Mel, espere.
Sua voz é profunda e gentil. — Isso vai mudar você, Avery. Se você
chegar ao outro lado, a mulher que olha de volta para você no espelho não
existirá mais.
— É um risco necessário. — Eu digo as palavras, mas elas soam
vazias. Sean está certo, mas não posso aceitar. Eu não quero nem pensar
nisso.
— Você só diz isso porque não tem ideia do que é viver do outro
lado.
Ele está na minha cara, sibilando: — Você acha que isso não me
incomoda? Você acha que essa decisão não me dividiu?
— Você não deveria tê-la deixado lá. — Eu tento me virar, mas Sean
agarra meu braço com força e me puxa na frente dele.
Rosnando, ele fecha os olhos nos meus, seu corpo pronto para lutar,
— Eu a deixei lá porque é totalmente possível que toda essa merda caia
desse jeito por causa dela — que ela é um deles.
Eu tento puxar meu braço para longe e pisar em seus pés, mas
Sean segura meu pulso com mais força. Eu acabo por arremessar minha
escova de cabelo nele, mas ele desvia, deixando a coisa cair no chão. As
luzes amarelas acima pulsam lentamente como um gerador ligado. Sean
me empurra de volta para a parede fria e me prende no lugar. Seu olhar
está faminto, desesperado.
Eu fecho meus olhos e viro meu rosto para longe dele. Ele me solta
e eu pulo com carga total, correndo para ele, empurrando-o de volta para
a pia, então ele tropeça para trás. Eu pego o ferro quente e o seguro em
seu rosto, prendendo-o com as costas arqueadas para trás até que seus
ombros tocam o balcão.
Eu não sei porque eu faço isso. Algo dentro de mim está gritando
com ele, dizendo a ele como me sinto. Minha mão se move quando eu
grito: — Eu não sou fraca!
Ele retira toda a porcaria que eu coloquei na pia, e ela voa antes
que ele me levante. Seus olhos são tão profundos, tão perdidos. Ele me
coloca na bancada gentilmente. Uma queimadura vermelha irritada
reveste seu rosto onde a chapinha tocou sua bochecha.
— Eu sei que você não é fraca. Isso não é o que eu penso em tudo.
Por favor, me diga que você sabe disso.
— Eu não sei o que você pensa sobre nada. Você nunca me diz...
— Eu sei que você pode me trazer de volta porque eu fiz isso por
você. É possível.
— Sean, me prometa. Diga! Diga-me que você não vai voltar para o
monstro. Este é você. Aquele homem, o aterrorizante, não é você. Você se
importa. Você ainda se importa, eu sinto isso. — Sorrio baixinho para ele
e libero o aperto em seus pulsos antes de me inclinar. Desabotôo sua
camisa Oxford e pressiono meus lábios contra o peito dele. Sean não me
impede. Ele não me pede para não fazer isso. Aquele beijo gentil em seu
coração, sobre o que ele considera seu ponto fraco, diz muito. Eu levanto
a cabeça e olho nos olhos dele. — Prometa-me.
— Eu prometo.
Eu não tenho ideia do que ele está falando, mas o desejo de lutar
contra ele está se tornando difícil de ignorar. — Fazer o que?
Ele respira: — As expressões que você faz são lindas. Não feche os
olhos. — Ele me pressiona com força e, em seguida, puxa um pouco,
batendo em mim mais profundo desta vez.
Quando ele levanta o rosto, sua nuca está brilhando. Ele sorri para
mim. — Você é perfeita. — Ele se afasta das minhas pernas e fica em pé.
Então ele se inclina sobre mim, me beija levemente e levanta minha
calcinha. — A propósito, vou ficar com esta.
Eu chupo meu lábio e olho para ele. Sean sorri. — Você é perfeita,
completamente, perfeita para caralho. Nunca mude, senhorita Smith.
Meu coração não vai ouvir minha cabeça enquanto eu dirijo meu
carro velho em direção ao escritório de Miss Black. Esta é a última vez, a
última coisa que tenho que fazer para me libertar dela e de Vic Jr. Este
será o fim de tudo. Eu apenas tenho que sobreviver. A liberdade é um
objetivo atraente. As pessoas lutaram por isso, morreram por isso. Várias
gerações de pessoas tiveram pior do que eu. Eu não pretendo liderar uma
revolução. Não sou essa garota. Eu tenho certeza que eu não sou essa
garota também, mas neste momento, eu só tenho duas opções — morrer
ou lutar. Então eu agarro o volante até meus dedos doerem e desviar do
tráfego até que eu pare na frente de uma farmácia. As borboletas no meu
estômago têm asas afiadas e me cortam por dentro. Estou pronta para
vomitar novamente, mas não tem nada a ver com Black.
Ela dá um mega sorriso para mim. — Parabéns! Você vai ser uma
ótima mãe. Eu posso dizer o quanto você quer esse bebê. Não foi
planejado, foi?
— Você pode fazer isso, Avery. Você pode fazer isso —, eu canto,
não acreditando. Eu puxo o retrovisor, com a intenção de me dar uma
conversa de motivação mais elaborada. Ele sai na minha mão. Eu olho
para o clipe de plástico nas costas e viro o espelho na minha mão. O vidro
brilha para mim e começo a rir. Mesmo que Sean tenha reparado e
restaurado este carro de pára-choque a pára-choque, ele ainda tinha uma
parte original. Eu sorrio para mim mesma e afundo de volta no meu lugar.
Ele não diz nada sobre Mel ou Sean. Nada sobre o plano desta
noite, mas sei que ele vai me proteger. Eu aceno para ele quando as portas
se abrem, depois saio do elevador. Em passos lisos e longos, eu ando pela
sala, passando por mesas vazias, e caminho direto para o escritório de
Black sem bater.
Ela está em sua mesa, irritada, entrei sem ser convidada. — Avery,
suas maneiras poderiam ser trabalhadas.
— Sei que sim. — Eu passo mais perto dela e encontro seu intenso
olhar. Black não é o tipo de mulher com quem você brinca. Ela vai limpar
o chão comigo se eu a irritar. Há uma linha tênue entre confiança e
arrogância. Espero que esteja do lado certo porque comer carpete não
parece atraente. — Você viu isso em mim desde o primeiro dia. Você sabia
do meu potencial e me chamou. Eu fui à idiota que negou isso.
Ela estreita os olhos para fendas e varre o seu olhar sobre mim.
Com uma unha bem cuidada, ela aponta para a balança. — Suba. Pare de
perder tempo. — Suas últimas três palavras não são afiadas. Eu posso
dizer que ela gosta de ter seu ego acariciado, então eu não vejo isso vindo
quando ela me surpreende.
Eu ajo. Ela tem que acreditar que é sincero ou não vai funcionar.
Eu não sou essa mulher. Eu não me sinto assim, mas sei que ela se sente
assim. Eu passo em direção a ela nos meus calcanhares e inalo
lentamente, deixando o ar fazer meu peito subir. Meus seios se esticam
contra a renda pura, enchendo o sutiã. Chego a um sussurro do rosto de
Black, perto o suficiente para beijá-la, mas sem tocá-la. Eu movo meus
lábios lentamente, com cuidado para mal escovar o lado de sua boca
quando falo.
Seu olhar cai para os meus lábios, depois para o meu sutiã e de
volta para minha boca. — A lealdade é rara
Black me olha com cautela, mas ela não se afasta. — O que você
está sugerindo?
— Nada que você não queira. — As palavras saem dos meus lábios,
lentamente, com certeza.
O jeito que ela olha para mim faz minhas bochechas queimarem.
Eu não escondo meu rosto. Eu apenas aceno. Não é de estranhar que ela
use meu sobrenome. Ela prefere a formalidade com aqueles que ela
respeita. Isso me distinguiu de Mel em sua mente. Não tenho certeza se
isso é bom, mas pelo menos agora eu sei o que a enfraquece. Isso pode me
ajudar a ganhar vantagem se eu perder hoje à noite. Eu farei qualquer
coisa, tentarei qualquer coisa para superar isso. Não gosto do pensamento
de Black acabar em um saco preto, mas é um mal necessário. Fechada,
sem vida e por trás de uma camada de plástico, é a única maneira de ficar
livre dela.
Mel suspira tão alto que ela cospe. Ela fala com as mãos, irritada.
— Sta. Black quer que fiquemos juntas esta noite. Ela está fazendo uma
introdução que tem conexões com pessoas que você vai querer como
clientes quando for uma cafetina. — Mel sabe que eu não estava ouvindo e
repete os fatos, então eu não sinto falta de nada. — Black montou a
introdução, e já lhe apresentou os termos. Tudo o que você tem a fazer é
aparecer com sua folha de especificações e acompanhá-lo, preenchendo-a.
Ah, e ela vem com a gente. — Mel move um dedo na direção de Black e me
lança um olhar sem esperança.
Black não deveria estar lá. Isso não faz parte do plano e causa um
grande problema para o resto de nós. — Desculpe-me, você está vindo? —
Eu olho para Black e sorrio para ela suavemente, abaixando a minha voz
para um sussurro gentil. — Isso não é realmente necessário, é? — Eu toco
seu braço com as pontas dos meus dedos e mal escovo sua pele.
Eu olho para Mel e sei que nós duas estamos pensando a mesma
coisa. Estamos ferradas.
Capítulo Dezessete
Nós deveríamos conversar com Gabe no caminho para a
propriedade de Vic Jr., finalizar qualquer mudança de último segundo
com Marty, e então nos encontrar com Sean e Henry assim que
estivéssemos dentro do prédio. Isso não é possível com o Black no
reboque.
— Bem feito.
Eu engulo em seco e não digo nada. Seu olhar retoma o olhar vazio
para frente. O carro enche com uma tensão palpável, quanto mais nos
aproximamos da casa de Vic. Quando chegamos, entramos no caminho
sinuoso e alinhado de árvores e nos dirigimos para a grande casa. É
afastado na propriedade, oferecendo isolamento e privacidade como um
bastardo doente como Vic precisa.
Gabe para o carro, dá a volta e abre a porta para Black. Ela desliza
para fora e se endireita. Mel sai em seguida, deixando-me sozinha no
carro. Gabe me oferece sua mão, e quando eu aperto a palma da mão na
sua, sinto o raspar de papel sendo pressionado na palma da minha mão.
Eu não digo nada e finjo ajustar a alça do soutien depois de levantar. Eu
me viro brevemente, ajusto meu soutien e enfio o pedaço de papel fora de
vista. Eu não posso ler agora. Ela vai ver.
Gabe percebe, mas não diz nada enquanto volta para o banco do
motorista e se afasta. Meu estômago se enche de chumbo e não consigo
fazer meus pés se mexerem. A morte espera por mim naquela casa. Eu
não posso ir.
Black se move em passos largos e rápidos em direção à enorme
porta da frente. Mel está atrás dela até perceber que não estou me
movendo. Eu mal posso respirar. Parece que tem um elefante sentado no
meu peito.
Não digo nada. Em vez disso, olho para a porta e sinto meu
estômago afundar em meus calcanhares. — Isso não está certo.
— Não me diga, mas não há muitas opções agora. Nós não podemos
abortar. Ela saberá que sabemos. Porra, Vic vai saber e ele virá atrás de
nós. Esta é a nossa única chance. Mova seus pés. Pare de pensar. Apenas
aja.
Eu dou um pequeno aceno e olho para ela. — É isso o que você faz?
Ele nos leva para dentro. — Sr. Campone estará com você em
breve. Por favor, fique à vontade. O homem recua, fechando as portas
atrás de si.
Isso não está certo. Marty deveria ter nos encontrado no caminho.
Esse foi o plano. Eu olho para Mel, que parece totalmente calma. Ela
caminha até as janelas e olha para o extenso gramado. Os enormes
holofotes iluminam áreas do pátio, acentuando uma piscina olímpica,
bangalôs e uma quadra de tênis. As árvores formam uma parede de
sombras escuras na parte de trás da propriedade.
Sta. Black passeia pela sala até uma escrivaninha velha e senta na
cadeira de couro de espaldar alto atrás dela. Ela se instala e passa os
dedos como se fosse dona do lugar.
Eu quero andar, mas não posso. Dou uma olhada para Black e vejo
seus olhos. Sinto meus lábios se transformarem em um sorriso nervoso.
Ela olha para longe de mim, seus olhos cortando para o lado rapidamente.
As borboletas no meu estômago se transformam em pedra e caem uma a
uma até que eu esteja tão enjoada que estou pronta para vomitar. Vou até
uma seção de estantes embutidas e puxo um livro velho e grosso da
estante. Eu abro e finjo ler, cuidadosamente puxando a nota de Gabe e
colocando-a no centro da página. Há duas palavras rabiscadas
apressadamente. Oito pequenas letras que me atravessam, me rasgando:
ELA SABE
Vic está vestido com uma calça preta que abraça o quadril e tem a
cabeça recém raspada. Seus olhos são duros e sem vida, o que parece
ainda mais inquietante quando combinado com o sorriso brincalhão em
seus lábios. Uma pontada gelada de pânico corre pelas minhas veias
quando ele olha em minha direção. Ele abre os braços com um sorriso
como se fosse me abraçar. — Mana! Bom te ver de novo. Você fugiu tão
rápido da última vez, que não conversamos sobre negócios.
Victor não esconde sua fúria. — Você está fodendo comigo? Você
sabe o que eu faço com as pessoas mentirosas de meia tigela, não é,
Black? Eu sei que você sabe, então o que é tão importante que você
arriscaria me irritar?
Black se levanta, anda diretamente em minha direção e passa os
dedos ao redor do meu bracelete.
Marty fica parado e não diz nada. Ele não é presunçoso, arrogante
ou qualquer coisa. Ele olha para frente como um soldado, enquanto Vic
Jr. dá um tapa, rindo de mim.
Um segundo tiro soa antes que eu perceba o que isso significa. Vic
sorri. — Você não dá tiros de advertência, não é, Masterson?
— Não senhor.
Meu peito parece estar rasgando em dois. Corro para a janela e olho
para fora. Dois corpos flutuam de bruços na piscina com fitas vermelhas
saindo de suas roupas pretas, tingindo a água cintilante. Eu posso
distinguir as longas filas dos casacos das trincheiras daqui. Os cintos
flutuam para a superfície da piscina enquanto as ondas do respingo inicial
se acalmam.
Um walkie-talkie no quadril de Marty faz um som estático quando
alguém fala em seu fone de ouvido. Marty acena para Vic Jr. — Está feito.