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Sinopse

Tudo ocorreu para este momento, esta noite. O plano está pronto
para ser executado. O sexy bilionário Sean Ferro está ao meu lado e na
minha cama. Enquanto a tensão erótica entre nós se aprofunda, vejo o
homem que ele poderia ser — o homem que ele está se tornando. Sean me
tem em todos os sentidos possíveis e jura me proteger dos meus inimigos.

Mas há uma coisa que ele não pode salvar, uma coisa que está se
fragmentando dentro de mim e desmoronando. Meu coração está
morrendo no meu peito enquanto meus demônios me atormentam sem
aviso prévio. A escuridão está desaparecendo dos olhos de Sean e
reaparecendo nos meus. O monstro dentro de mim está se alimentando,
pronto para levantar a cabeça enquanto eu espero em horror, enojada com
a mulher que estou me tornando.

Se eu continuar com isso, se eu causar a morte dessas pessoas, não


haverá mais nada de mim. Mas se eu não lutar de volta, eu morro. Eu não
quero mais lutar, mas há uma pequena razão para me encorajar, um
segredo que eu conheço há algum tempo me dando forças para ver isso.
Capítulo Um
Uma simulação na casa de Miss Black parece uma boa ideia,
assumindo que a coisa toda não vai para o inferno. Se ela está
escondendo registros sobre a fonte de sua renda em sua casa, eles estarão
mais trancados do que um cofre. Uma parte minha entende que isso é
incrivelmente estúpido, mas não há como voltar atrás. Deus, eu me sinto
doente.

Nós nos empilhamos no furgão com os dois nerds, Mel, Marty e eu


atrás, Henry franzindo a testa no banco do passageiro ao lado de Sean.
Vagarosamente percorremos uma vizinhança suburbana, passando por
casas com jardins planejados, luzes solares arrastando-se ao longo de
canteiros centrais que levam às convidativas portas da frente. Calçadas de
cimento mudam para pedra, como as calçadas mudam de concreto para
pavimentos de tijolos com padrões intrincados. Estamos na área de classe
alta agora. Sean dirige para cima e para baixo pelas ruas, procurando por
um endereço e examinando o bairro.

Eu não quero estar aqui. Pensamentos vibram dentro de mim como


morcegos bêbados, saltando do meu cérebro e aterrissando com um
BAQUE no meu estômago. Eu não quero fazer isso, mas não tenho
escolha. Não há como esconder, não há como apagar as últimas semanas
e fingir que elas nunca aconteceram. Se eu não fizer isso agora, sou uma
mulher morta. Isso faz meu estômago revirar e minha garganta apertar,
mas não tenho alternativas. Matar ou morrer não é o tipo de situação que
achei que poderia acontecer comigo. Nem em um milhão de anos. Eu
entendo porque meus pais não me contaram, por que eles guardaram seu
segredo — então eu poderia viver sem medo, ignorantemente curtindo
minha infância. Se eu não tivesse descoberto como eles tentaram se
esconder, como eles passaram anos correndo, constantemente vigiando
seus ombros, apenas para morrer de qualquer maneira, eu poderia ter
tomado esse caminho em vez disso. Eu poderia não ter escolhido matar
alguém para me proteger. Assassinato nunca deve ser a primeira escolha,
mas pode ser uma realidade sombria quando a vida o ultrapassa.

Há um vazio nos olhos de Sean quando ele não percebe que estou
assistindo. Ele olha fixamente, perdido em pensamentos, perdido no
passado. A mansão Ferro é uma pilha de escombros. Ele tem sorte de ter
perdido a mãe — era possível que ele pudesse ter perdido toda a sua
família naquela única explosão. Fico feliz que ele não tenha que suportar
essa dor. Pela primeira vez, estou feliz por não ter crescido com irmãos.
Eu não posso imaginar puxá-los para isso. Desculpar-se não consertaria
uma coisa maldita.

Teremos sorte de sairmos dessa com vida. Eu não sou uma idiota.
Eu sei que as probabilidades estão contra nós. Mas quando não há outro
lugar para ir, nenhum outro plano de ação para nos libertar, temos que
nos defender e reagir.

Marty se senta ao meu lado, cauteloso, empoleirado na roda —


bem, enquanto eu me sento no chão com os joelhos contra o peito, a
cabeça inclinada contra o lado do furgão. Seu cabelo loiro escuro está
empurrado para trás, afastado de seus olhos. Há uma lata vazia de gel em
algum lugar. Possivelmente pela primeira vez desde que nos conhecemos,
posso ver todo o seu rosto. As características angulares de sua bochecha e
queixo, juntamente com as linhas de preocupação que comprimem a pele
lisa entre as sobrancelhas e os cantos dos olhos, revelam que ele seja mais
velho do que eu por vários anos. Quando seu cabelo era uma cortina
pendurada em seu rosto, ele parecia mais jovem, inocente.

Marty olha para mim enquanto atravessamos a escuridão em


direção à casa de Black. Aqueles olhos castanhos quentes veem as coisas
que Sean perde. Eu sei que ele sente que vou implodir, que há muito
remorso fervendo dentro de mim, enchendo minha mente com veneno.
Isso corrompe, tornando meu humor rançoso.
Eu não tenho ideia de como Marty anda por aí com sangue nas
mãos, como ele pode olhar no espelho e ver qualquer coisa além de um
assassino. Eu matei. O ato de extinguir outra vida não é algo que
desapareça, e não importa se foi justificado. Ainda me mancha de uma
maneira que é impossível tratar. Um pequeno Stain Stick1 não limpará
meu passado. Nada limpará.

Minha mente salta para as memórias de Amber, mas sai


rapidamente, não querendo se fixar nela. Não importa, no entanto. O
centro do meu peito se enche de concreto, e mal posso engolir. Há um
rastro de corpos no meu caminho, tantas vidas perdidas. Mesmo que não
seja minha culpa, ainda assim parece — é como se eu a matasse com
minhas próprias mãos. Amber morou comigo. Ela tem uma família em
algum lugar que a amava e agora ela se foi.

Andamos lentamente por outra rua do bairro de Eastern Long


Island, vizinhança de Black, passando por casas aninhadas em meio
hectare e cercadas por árvores imponentes. Enquanto passamos, uma
placa amarela onde se lia CAVALOS NA PISTA chama minha atenção.

Mel senta em frente a mim, seus pés enfiados sob a sua bunda,
com as mãos nas coxas, os olhos queimando um buraco no lado do meu
rosto. Ela está inclinada um pouco para frente, pronta para atacar. Suas
sobrancelhas se unem e eu não agüento mais.

Eu finalmente levanto a cabeça da parede Do furgão e olho para


Mel, — O quê? Por que você está me encarando desse jeito?

Mel inclina a cabeça, fazendo seus brincos de argola de ouro


balançarem. — Pare de pensar.

Eu franzo a testa involuntariamente, em seguida, olho para ela e


pergunto: — Você está me dizendo que não pensa em nada? Como
qualquer coisa? Nunca?

1Stain Stick - Um bastão que contém produtos de limpeza usados para remover manchas
do tecido.
— Não, — ela diz, com naturalidade. — Eu não revivo coisas que
não posso mudar. Eu vejo esse olhar em seus olhos — você está pensando
em algo que você não queria fazer. Acabou, Avery. Concentre-se no que
está por vir.

Eu evito o olhar dela e me vejo olhando para o perfil de Sean


novamente. — O passado não funciona assim, Mel. Está sempre lá. Não
vai embora só porque eu quero sair.

— Se você deixar, esse peso vai se ajustar em torno de seus ombros


e esmagará seu pescoço até que sua garganta se feche, apertada demais
para respirar. É quando você pula de uma ponte ou passa pela via
expressa implorando a Deus para ser atingida por um caminhão. Lute,
Avery. Afaste-se. Sobreviver não significa merda nenhuma se o seu
cérebro está fodido demais para aproveitar a vida.

Mel tem uma expressão sombria no rosto. Ela está vestindo um


agasalho escuro com o capuz solto sobre a cabeça, seus brincos de ouro
brilhando na escuridão.

Eu me afasto, desesperada para estar em outro lugar. Sean e Henry


sentam-se rígidos e silenciosos na frente. Cavanhaque e Justin estão
espremidos em um canto, parecendo mais pálidos que o normal. Marty
olha pela janela silenciosamente. Uma motosserra não conseguia cortar a
tensão no veículo.

Eu me contorço e olho para Sean. — Por que estamos circulando a


casa dela? Já descemos esta rua quatro vezes.

Henry suspira e olha para trás sobre o ombro de tweed marrom


para mim. — Estamos procurando anomalias, outras possíveis residências
que ela possa usar em conjunto com sua casa principal. Como esta, ele
aponta enquanto dirigimos por uma pequena casa branca. — Está
registrada em nome de Cecelia Black, que era sua mãe.
Mel diz: — Como você sabe disso? Eu nem sei o primeiro nome de
Black. Como você descobriu quem era sua mãe? — Mel olha para mim e
acrescenta: — Eu achava que Black era um nome falso.

— Eu também, — admito.

Sean se detém em um sinal de parada e se vira, olha para mim e


explica: — Henry possui um talento excepcional para pesquisa —
especialmente informações enterradas por anos, para as quais
supostamente não restam registros.

Henry zomba: — Sempre há um registro. Que idiota pensaria que


não haveria? — Ele pega um pedaço de fiapo de seu colete preto e
observa-o cair em suas calças, faz uma careta e repete o movimento.

Mel pergunta — Black? Certo? Aposto cem dólares que ela pensou
que não havia um traço do seu passado em qualquer lugar.

— Ela limpou tudo há anos, — diz Sean, balançando a cabeça, —


mas sempre há alguém que se lembra — alguma fonte negligenciada que
conhece a verdade.

— E se você encontrar a dita pessoa, — Henry continua sacudindo


a ponta do dedo, — e oferecer um incentivo financeiro para lembrar-se de
coisas esquecidas, é incrível a informação que você pode obter. — Ele sorri
ao olhar de volta para trás, para nós. Seu olhar encontra Mel e ele pisca
para ela.

— Grande coisa, — Mel deixa escapar, franzindo a testa. — Você


acenou com o seu dinheiro e descobriu o nome dela. Então derrame, o que
é isso?

Henry está praticamente tonto. Ele segura o encosto do banco,


girando completamente e sorrindo para nós. — Você não poderia
adivinhar! É como se a mulher quisesse ser Rumpelstiltskin!2

2Rumpelstiltskin — é antagonista do conto de fadas de origem alemã, O Anão Saltador.


Mel não acha graça. Seu rosto é desprovido de expressão. Ela diz
categoricamente: — Qual é o nome dela?
Capítulo Dois
Henry faz um som irritado no fundo da garganta. —
Honestamente, você não é nada divertida. Seu nome completo é Razelleia
Vita Black.

Eu questiono: — Sean, você sabia disso? — Eles tiveram uma coisa


por um tempo, então ele provavelmente sabia. Eu não pergunto muito
sobre esse relacionamento. Isso é passado e ele não é mais o mesmo
homem.

Sean nega com a cabeça e olha por cima do ombro, com os olhos
sinceros sob a luz âmbar do poste. — Não, ela nunca me disse.

Isso é estranho. Black falou sobre Sean como se o relacionamento


deles fosse próximo. Talvez a intimidade fosse unilateral e vivida
principalmente na mente maluca de alguém. Eu pergunto um pouco mais.
— Eu pensei que vocês eram amigos em algum momento. Como você a
chamava?

— Querida, — Mel bufa, estende a mão e chuta meu joelho, rindo.

Sean revira os olhos. — Não foi assim. Nós mantivemos as coisas


formais. Não houve uso dos primeiros nomes, e prefiro não falar disso na
presença de vocês.

Eu não respondo. Em vez disso, concentro-me no perfil esculpido


de Sean e na extensão de seu cabelo escuro. Embora tenha sido há muito
tempo, ainda me faz sofrer por ele. Não de uma maneira suja, mas de uma
maneira esmagadora e horrivelmente triste. Sean não esteve perto de
ninguém por muito tempo. Deve ter sido horrível passar por tanto tempo
estando isolado.
— Malditos lunáticos, vocês dois. — Henry cuspiu as palavras,
subitamente desprovido de sua marca registrada, seu tom de provocação.
Raiva visivelmente rola sobre ele, e alfineta. — O que as mulheres vêem
em você? Como Amanda poderia escolher viver com pessoas como você?

O furgão fica subitamente em silêncio enquanto o queixo de Sean


trava. Seu aperto no volante se intensifica, até as juntas dos seus dedos
empalidecerem. Mel fica boquiaberta com o choque, enquanto eu me sento
dolorosamente ciente de quão forte aquele ataque o atingiu. Ainda assim,
Sean não responde.

Henry geme e balbucia: — Como é possível você procurar calor ou


conforto nesse homem, Avery? Suas amantes anteriores estão piores pelo
desgaste de estar com ele. Amanda tem sorte que morreu na mão dele, ou
estaria em um hospício como sua outra vítima — quero dizer amante. Só
vai mostrar... ow! Henry interrompe seu discurso e olha para Mel, que
subiu sobre os nerds para prender a parte de trás da sua cabeça no banco
do passageiro.

— Que diabos dá a você o direito de cagar na miséria de outras


pessoas? — Mel repreende quando ela golpeia a cabeça dele novamente. —
Você tinha tesão por Amanda, mas ela escolheu Sean. Deixe isso para
trás. O homem perdeu a esposa! Você acha que ele não sente?

Henry bate de volta. — Claro que não! Olhe para ele! Ele tem tantos
sentimentos quanto um robô! — Mel bate em Henry na parte de trás da
cabeça — com força. Ele continua e estreita o olhar para ela, gritando: —
Maldito inferno, mulher!

Mel está pisando nos nerds enquanto ela tenta dar outro giro. —
Você tem olhos, mas não vê merda3.

— Quem é ele? Eu conheço um Jack Shat, mas isso é tudo. —


Henry brinca.

3Elausa uma gíria jack shit que significa merda e por isso que ele faz um trocadilho com
Jack Shat.
Mel bateu nele novamente. — Você acha isso engraçado? Você acha
que eu ainda não descobri o que aconteceu entre você e Sean? Acorde,
cara pálida! — Mel vai bater na parte de trás da cabeça dele novamente,
mas ele se esquiva, balançando em seu assento. Justin finalmente
consegue rastejar para a parte de trás do furgão com o outro cara caindo
depois.

— Não há como você saber, — Henry retorna.

— Bem, eu sei. — Mel olha para ele.

Henry ri levemente segurando a mão como um historiador em uma


sala de aula. — Esclareça-nos, madame. Por favor, apenas conte o que
aconteceu entre nós?

Mel sorri, olha para mim, depois para Sean e depois para Henry. —
Vocês dois se conheciam, eram amigos mesmo.

— Qualquer um podia ver isso. — Henry suspira.

— Eu não terminei, — Mel estala. — Vocês dois eram próximos até


que Amanda veio correndo para Sean pedir ajuda. Ele não roubou sua
garota. Na verdade, ele fez tudo o que pôde para manter a distância —
mas você ficou desconfiado e enlouqueceu com eles. Você arruinou seu
relacionamento com Amanda, não Sean. Então você despejou sua merda
em seu trabalho e a sabotou. Amanda descobriu e qualquer chance de
ganhá-la de volta desapareceu. É sua própria culpa, você a perdeu, então
pare de culpar Sean por seus erros idiotas. E pelo amor de Cristo,
podemos simplesmente esclarecer as coisas de uma vez por todas?

Sean balança a cabeça levemente e assobia para Mel, — Não...

Eu alcanço Mel, avisando: — Mel, espere

Mel me golpeia e olha para Sean. — Sean não matou Amanda. Não
houve assassino.

— Do que você está falando? — Henry torce em sua cadeira para


olhar Mel.
— Mel, não... — Eu tento cobrir a sua boca com as mãos, mas ela
me empurra para longe. Marty se inclina para frente, intrigado. Os caras
da tecnologia se pressionam na porta do furgão, parecendo prestes a fugir.

Eu consigo envolver minhas mãos em volta do seu rosto, cobrindo


sua boca. Eu assobio para ela: — Não se atreva! Não é seu segredo para
contar!

Henry está mais intrigado agora. Ele olha para Sean. Sua voz
assume uma suavidade que eu não ouvi antes. — Do que ela está falando?

Sean fica tenso. — Nada. Ela não sabe nada. — Ele olha para mim,
pensando que eu disse a Mel.

Eu nego com a cabeça. — Sean, eu não contei nada a ela.

— Disse a ela o que? — Henry esbraveja.

Mel lambe minha mão, e quando eu não me movo, ela afunda seus
dentes na parte carnuda da minha palma. Eu grito. Então, Mel se move
rapidamente e me coloca no chão do furgão. — Amanda se matou, idiota.
Então toda vez que você culpa Sean, você soa como um idiota de merda.

— O quê? — Henry olha para Sean, exigindo uma resposta. — Os


jornais disseram que você fez isso. Ninguém sequer sugeriu suicídio
durante o seu julgamento.

Sean aperta a ponte do nariz e fecha os olhos por um momento. —


Eu queria assim. Se as pessoas soubessem que ela fez isso de propósito,
que ela escolheu tirar a vida de nosso bebê, elas teriam sido cruéis. Isso
teria quebrado o coração de seus pais. Isso teria devastado qualquer um
que a conhecesse. — Sean olha para Henry, e fica claro que ele nunca
contou nada a Henry porque ele ainda pensava no cara como um irmão.

Há completo silêncio. Os dois nerds olham para o teto e gesticulam


os polegares como se quisessem estar em qualquer outro lugar. As
sobrancelhas de Marty levantam com o choque, mas ele não pronuncia
uma palavra. Ninguém se atreve a falar. É como se ele jogasse um
cobertor enorme sobre nós, deixando-o assentar lentamente ao nosso
redor.

O rosto de Henry se contrai quando ele estrangula sua calça. —


Você nunca disse — Sean, por quê?

Sean está em silêncio, olhando para frente.

Mel suspira e responde baixinho: — Porque ele se importa com


você, idiota. Enquanto você passou a última década tentando arruiná-lo,
Sean estava escondendo a verdade de você, porque ele sabia o quanto isso
te machucaria. Se esse homem é seu inimigo, preciso de novos amigos.
Puta merda — Sean te protegeu e você nem sabia.

Estou esmagada por Mel, ainda presa ao chão. — E como você


descobriu todas essas coisas, Melanie?

Ela sorri. — Eu tenho contatos.

Eu dou a ela uma olhada. — O seu contato é um homem


corpulento de meia-idade que trabalha para...? — Mel enfia as mãos sobre
a minha boca para me calar. Eu recuo e chuto para ela, acidentalmente
acertando o nariz de Justin com o meu sapato.

— Hey! — Justin me empurra para longe. — Preste atenção.

— Relaxe, Nerd. É apenas uma ferida na carne. — Mel olha para


ele, deslocando seu peso para me libertar. — Se você diz isso, você está na
merda. Nem pense nisso.

Sean solta um longo suspiro na frente do furgão. — Gabe disse a


você.

— Hey! — Melanie se vira para ele, chocada. — Como você sabe


disso?

Sean se contorce e lança um olhar para ela. — Agora que todo


mundo sabe de tudo — incluindo dois membros petrificados da minha
equipe de tecnologia — podemos, por favor, continuar com isso?
Henry está pálido, toda a cor se esvaindo de seu rosto. — Eu não
fazia ideia. Meu Deus! Sean, o que você deve ter vivido — tudo por ela. —
Ele fica lá, atordoado.

— Isso não está aberto para discussão, — afirma Sean. — Temos


um trabalho a fazer, então vamos fazer isso. A casa da mãe primeiro,
depois a casa principal. Eu vou estacionar em volta do quarteirão. —
Estamos sentados no semáforo há muito tempo.

Henry fica sem palavras, enquanto Sean avança e depois gira o


volante enquanto se aproxima de um ponto no meio-fio.

Depois de um momento, Henry respira: — Nada me chocou tanto


quanto o que acabou de dizer. Eu não te conheço bem, não é mesmo?

Mel bate Henry na parte de trás da cabeça novamente, — não, seu


idiota. Você não conhece, e já que não estamos na Oprah, vamos nos
mexer. Vocês dois podem se beijar e fazer as pazes mais tarde. Isso seria
algo que valeria a pena ver, estou certa? — Mel arqueia as sobrancelhas
para os caras da tecnologia, Marty e eu, enquanto Sean aperta os olhos
fechados, canalizando paciência suficiente para não matá-la.
Capítulo Três
Os caras da tecnologia tocam a campainha. Quando ninguém
responde, eles se afastam e abrem um painel ao lado da casa. Eles
colocam algo em um fio e acenam para Sean. Marty segue para a parte de
trás da propriedade, observando para ter certeza de que não seremos
emboscados.

Sean, Henry, Mel e eu entramos na pequena casa com cheiro de


mofo pela porta dos fundos. Dois raios de luz cortam a escuridão
enquanto Henry e Sean acendem as lanternas ao mesmo tempo. Algo está
apitando. Henry corre na direção do som, Mel logo atrás dele. Eu fico com
o Sean.

— O que estamos procurando? — Eu pergunto, varrendo meus


olhos ao redor da sala. Este cômodo tem mobília velha e cheira a
naftalina.

Sean arrasta o feixe de luz pela sala e sussurra por cima do ombro:
— Sistema de alarme.

A voz de Mel vem ao virar da esquina, colocando sua cabeça por


trás de uma parede de tinta amarela com pássaros empalhados, sentados
em galhos que se projetam para fora da parede. — Consegui. Venham por
aqui.

Nós entramos em um armário em um pequeno corredor que deve


ter sido um banheiro em algum momento. Agora ele está cheio de câmeras
de segurança e um zumbido do computador discretamente na parede
oposta.

Henry se agarra a mim. — Venha aqui e coloque o colar em cima da


unidade.
Eu entrego a ele meu bracelete e ele remove o cordão, colocando-o
em cima da enorme máquina, mas não fica parado. Ele rola de volta.
Henry franze a testa, olha para a fita e aperta a mão na testa quando não
encontra nenhuma. — Falha de design. Estes devem ter um adesivo.

Sean diz: — Podemos parar e pegar a fita antes de irmos para a


casa principal. Por enquanto, faça isso. — Ele pega um lápis e coloca a
conta na frente dele. Ele fica parado. — Você terá que ficar aqui para se
certificar de que ele não escorregue e caia.

— Entendido. Eu planejei isso de qualquer maneira. — Henry acena


com a cabeça e aponta para a tela mostrando o sistema de segurança. —
Veja.

A imagem na tela é reproduzida para trás, nos mostrando deixando


a casa ao contrário, enquanto a indicação do tempo continua para frente.
É surreal.

— Vai parecer totalmente normal. Podemos andar por aí como


quisermos, mas a gravação mostrará apenas a casa vazia. — Henry se
senta no painel de controle, usa o teclado para puxar o vídeo gravado de
dentro e o apaga. — A única prova que estávamos aqui agora se foi. — Ele
olha para Sean. — Enquanto ninguém aparecer, isso funciona bem.

— Eu preciso levar o bracelete quando eu sair?

Henry concorda com a cabeça. — Sim, se for possível. Eu só tenho


dois protótipos.

— Você não pode fazer outro? — Mel pergunta.

Henry revira os olhos e lhe dá uma expressão de desprezo. — Não,


eu não posso fazer outro. Não há tempo ou materiais suficientes. Além
disso, esse pequeno bracelete custou quase cem mil para produzir.

Mel olha para o pulso e sorri. — Então, o que você está dizendo é
que eu deveria vendê-lo?
Henry caminha até ela, levanta o seu pulso com cuidado e
pressiona o dedo no bracelete. — Se você o vender por seis dígitos, você
seria uma idiota — como você diz tão delicadamente. Vale milhões.

Seus olhos se encontram e ele continua a segurar a mão dela por


um momento. Mel estremece e pisca rapidamente, antes de desviar o
olhar. Porra, isso é engraçado. Eles tiveram um momento. Mel não vai
gostar disso.

Sorrio para mim mesma e pergunto a Sean: — E agora?

Sean está vestindo jeans escuro com aquele suéter preto sexy que
se agarra ao peito e abraça os músculos dos braços. Juntamente com
seus sapatos chutadores de merda, ele parece um fodão. Ele empurra o
cabelo para trás enquanto olha ao redor da sala, deixando seus olhos
pousarem em mim. Sua expressão suaviza. — Agora vamos cavar as
coisas dela e ver o que encontramos.

— Vou vasculhar o disco rígido e ver o que aparece. — Henry


desliza para uma pequena cadeira na frente do computador e começa a
clicar em teclas, puxar arquivos e digitalizá-los rapidamente em busca de
informações.

Sean sai do quarto e desce o corredor. Nos deparamos com outro


ambiente, cheio de móveis cor de rosa e cheiro de mofo. Sean pede que a
gente suba as escadas. Quando chegamos ao patamar superior, ele se vira
e gesticula em direção à porta do quarto. Está trancado. Ele pega um
pequeno dispositivo, empurra-o no buraco da fechadura e aperta um
botão. O som revelador do parafuso raspando aberto atinge meus ouvidos.

Sean empurra a porta lentamente e olha para dentro antes de


congelar em seu lugar. Ele está segurando a porta meio aberta, meio
fechada, imobilizado. Raiva pisca em seus olhos apenas para dissipar
quase imediatamente. A raiva em seu rosto se transforma em outra coisa,
algo irreconhecível.

— Mãe, — pergunta ele. — O que você está fazendo aqui?


Capítulo Quatro
Eu passo ao redor da porta e espreito por Sean para vê-la.
Constance Ferro está sentada, toda desalinhada, em um manto vermelho
chamuscado. Correntes envolvem seus pulsos e tornozelos, estendendo-se
até os anéis presos na parede. Eu não posso processar o que estou vendo.
Ela morreu. Seu funeral foi realizado. Constance está morta. Eu vi seu
braço decepado. Eu observei Sean tentar salvá-la dos escombros quando
sua casa explodiu.

Eu pisco, olhando boquiaberta para ela. — Que diabos?

Constance não é a mesma. Ela está pálida, fraca e parece


igualmente chocada ao nos ver. — Sean? Como você me achou? Como
você soube que eu estava viva? — Sua voz é rouca, não é mais alta que
um sussurro.

Ele olha para a mãe, sem palavras.

Eu ando até ela. — Quem fez isto com você?

Ela arqueia uma sobrancelha para mim enquanto eu estudo a


corrente tentando encontrar uma maneira de libertá-la. — Você ainda está
por aí? Sean, é um prazer ver que o seu gosto pelas mulheres continua
sem valor, mesmo no mais obscuro dos tempos. — O tom dela carece de
sua bravura habitual, mas a velha Constance ainda está lá, se formando
sob a superfície.

— Avery é minha noiva, e você vai falar com ela respeitosamente, —


diz Sean, sua voz monótona, sem um traço de malícia ou raiva.

Constance ri levemente como se estivesse tomando chá da tarde. —


Fala sério, Sean. Você não pode se casar com ela. Você sabe quem é o pai
dela?
— Sim, eu sei.

Ela empalidece. — Bem, Então. Eu suponho que sim se você quiser


trazer mais assassinos ao mundo...

Sean se vira e sai do quarto. Seus passos desaparecem enquanto a


escadaria sombria o engole inteiro.

Eu olho para Constance como se ela fosse louca. — Você quer que a
gente deixe você aqui?

Ela ri novamente como se fosse uma piada cósmica. — Você não


pode me libertar. Essas restrições são fixadas na parede, e a chave da
fechadura está com seu meio-irmão encantador. Diga-me, vocês tiveram
uma reunião? Havia balões e bolo?

Eu me ajoelho e entro no rosto dela. — Não. Na verdade, Vic já


tentou assassinar Sean e eu. O bastardo quer me matar, então fazer
coisas indescritíveis com o meu cadáver. Então, não, nós não somos
melhores amigos e independente do que ele fez com você — eu sei que ele
está planejando coisa pior. Diga-me, Connie, quer que a gente deixe você
aqui para ele? Ou você quer sair?

Seus olhos envelhecidos ficam vítreos e ela engole em seco. Eu acho


que ela vai dizer algo legal, mas, em vez disso, ela sussurra: — Você não
vai ganhar um centavo do dinheiro de Ferro.

Eu não respondo à declaração. Minhas sobrancelhas levantam e


meus braços se dobram sobre o peito. — Você quer morrer aqui? Parece
que Vic Jr. preparou tudo perfeitamente. Ele gosta de atormentar as
pessoas, e com o mundo pensando que você está morta e enterrada, ele
pode tomar seu tempo.

Ela balança a cabeça. — Você não pode me levar. Ele saberá que foi
você e sua verdadeira missão aqui será arruinada. Sean sabe o que ele
está fazendo. Deixe-me. Volte quando você abater aquele filho da puta.

Seu pedido faz meu sangue gelar. Ela quis dizer isso, cada palavra.
— Não podemos deixar você para trás.

— Você pode e vai. — Constance não diz outra palavra. Ela arqueia
uma única sobrancelha para mim, uma dispensa, minha deixa para sair.

Eu faço um som estrangulado no fundo da garganta e saio do


quarto. Eu encontro o Sean na parte inferior da escada, sentado no último
degrau, com a cabeça entre as mãos.

Eu coloco minha mão em suas costas e me inclino em seu ombro,


respirando seu perfume. — Então aconteceu isso.

— Ela está viva, mas eu não posso salvá-la. Se eu a levar, Vic


saberá que estávamos aqui. Se eu a deixar, ele vai torturá-la. Como eu
posso ir embora? Ela é minha mãe, Avery. — Sean olha para mim, seus
olhos azuis cheios de dor.

— Eu não tenho certeza se importa o que você faça, ela se recusa a


sair. Eu tentei fazer com que ela viesse. Ela me expulsou. — Eu tento não
rir, mas não posso evitar. — Ela é algo a mais, não é?

O canto da boca de Sean se levanta e ele sorri tristemente,


balançando a cabeça. — Ok, nós terminamos isso.

— Você vai deixá-la? Sean, eu não tenho sentimentos quentes e


confortantes por ela, mas ela é sua mãe. Sean? Sean! — eu sussurro —
grito enquanto ele corre de sala em sala, sem mencionar sua mãe
novamente. É perturbador a rapidez com que ele aceita essa mudança de
eventos, mas ele aceita. Com foco recém-descoberto, ele procura nas
salas, levantando cuidadosamente papéis e abrindo gavetas, examinando
seu conteúdo no escuro. De vez em quando, ele faz uma pausa e acende
sua lanterna em alguma coisa e depois continua.

Eu ando pelo quarto com ele e reviro as coisas. Encontro um


caderno em uma mesa de cabeceira de mármore. Na frente tem uma lista
de itens de mercearia regular, mas na parte de trás tem endereços de
entrega. É estranho.
Há um registro por página:

Cenouras - 5th Avenue.

Rigatoni - Dix Hills.

Salsa - Upper East Side.

Eu franzo a testa enquanto olho para isso.

Sean se aproxima e para perto de mim, olhando por cima do meu


ombro. Ele está perto o suficiente para seu perfume encher minha cabeça.
Eu gostaria de poder envolver meus braços ao redor dele e nunca deixar
ir. Eu mostro-lhe o livro.

— Ou ela é louca, ou isso é um código.

Sean folheia as páginas e acena com a cabeça. Ele pega, tira fotos
de cada página e me diz: — Coloque de volta.

Eu faço o que ele diz, e quando coloco o livro na gaveta, eu pego um


abridor de cartas de metal. Ninguém merece ficar sozinho e indefeso com
Vic Jr. Eu enfio no meu bolso e continuo procurando coisas de Black.
Quando terminamos de explorar os quartos do andar de cima, Sean passa
pelo quarto de sua mãe e fecha a porta. Eles não se falam.

Isso me incomoda. — Você nem vai tentar tirá-la de lá?

— Avery, ela não virá. — Ele para e olha para mim, aqueles olhos
azuis implorando para eu não fazer um grande negócio com isso. — A
melhor maneira de ajudá-la é terminar isso e voltar para ela.

— Mas e se ele a mover? E se ele a machucar?

Sean segura meus ombros. — Ele já fez. Havia um corpo na


mansão. Não era minha mãe, então outra pessoa está morta. Se a
libertarmos, ele saberá que estamos vindo para ele. Eu não posso arriscar,
Avery. Se eu tiver que escolher quem salvar, minha mãe ou você, não
tenho dúvidas — nenhuma. — Suas mãos estão nos meus ombros e ele
me obriga a olhá-lo no rosto.

— Sean...

— Avery, eu escolho você. — Suas mãos demoram por um momento,


e há uma tristeza que tudo consome em seus olhos, que quebra meu
coração. Ele pisca e desaparece. O homem assustador vestido de preto
está de volta. Seus olhos escurecem e ele se afasta de mim, desaparecendo
pelas escadas.

Eu engulo em seco e olho para a porta dela, agora trancada


novamente. Eu puxo o abridor de cartas do meu bolso e caminho em
direção ao quarto antes de me ajoelhar na base da porta. Eu empurro o
objeto de metal através da fenda perto do chão e ouço deslizar pela metade
da sala antes de parar de repente. Pelo menos agora ela pode causar
algum dano por conta própria.

A voz de Constance vem pela porta. — Você ainda não vai ganhar
um centavo.
Capítulo Cinco
Nós saímos e voltamos para o furgão antes que alguém chegue em
casa. A moto de Sean está estacionada em um estacionamento fechado de
luxo a poucos quarteirões de distância. Parece mais um hangar de avião
do que uma garagem pessoal. Ele para, entra com uma chave codificada, e
depois nos leva para uma sala de concreto com controle de temperatura.
Sean sai do furgão e acende as luzes. À medida que se ilumina, percebo
que estamos em uma sala do tamanho de um campo de futebol e cheia, de
parede a parede, com veículos caros, incluindo um avião bimotor,
motocicletas e carros de corrida.

Seguimos Sean e todos ficaram boquiabertos, chocados. Henry


vagueia dos carros, na direção das motos, com as mãos estendidas num
gesto, dê-me, com os olhos arregalados. — Um ciclone Ariel de 1958, —
ele engasga. É maravilhoso. Perfeito. — Seu olhar se distancia ainda mais,
e ele vagueia, olhando enquanto engole em seco. — Isso é um tanque de
alça da Harley-Davidson de 1907? — Ele está praticamente babando
quando se endireita, torce a cintura, e olha direto para o rosto de Sean.
Apontando, ele diz: — Eu tentei comprar esta moto em leilão. Ofereci US $
700 mil por isso, mas alguém me superou.

Sean sorri. — Você deveria ter ido um pouco mais alto. US $


715.000 era o número mágico.

Henry faz um barulho estridente e pede para acariciar a moto. Mel


e eu nos encaramos como se fossem loucos — até que ela vê um carro
esportivo vermelho-cereja perto da parte de trás do hangar. — Puta
merda! Isso é um Bugatti?

Sean sorri e enfia as mãos nos bolsos. — Sim, o Veyron.


Ela grita — Puta merda! — E pula em direção a ele para colocar o
rosto na janela do carro. Ela grita de volta para nós. — Por que você não
contou a ninguém que tinha todas essas coisas?

Sean encolhe os ombros. —A mesma razão pela qual eu não ando


por aí falando sobre a ilha. Não conto a todo mundo tudo que eu possuo.
Não é uma boa maneira de conquistar as pessoas.

Henry o rodeia, alarmado, atirando-lhe perguntas. — Qual ilha?


Onde? Aposto que a minha é maior.

Mel ri quando ela volta, meio pulando. — Problemas de cara rico.


Minha ilha é maior que a sua, — ela imita em uma voz cantada. — Ha!
Quem quer uma moto feia e velha que nem consegue andar?

Eu sorrio e viro, notando Justin e Garoto Geek4, ambos imaginando


se eles podem pilotar uma moto com a bandeira americana pintada no
tanque de gasolina, guidão longo e cromo cintilante. Eles olham para cima
e perguntam a Sean: — Isso é real?

Sean assente e enfia as mãos sob os braços, sorrindo timidamente.


— Sim, eu gosto de filmes antigos e é uma peça americana icônica.

Sean está em seu elemento no momento todas as preocupações


esquecidas. É doce e mostra um lado dele que eu nunca vi. Parece
estúpido, mas, além das poucas vezes em que ele ganhou um monte de
dinheiro, esqueci que ele é rico. Ele raramente ostenta sua riqueza, e
tenho certeza que o suéter que ele usa é da Land's End ou do GAP5. Eu
nunca suspeitei que Sean possuísse uma inestimável coleção de veículos
porque ele não age como um idiota convencido.

Falando de idiotas convencidos, Henry bate Sean no ombro e fica


ao lado dele. —Eu não tinha ideia de que você foi quem roubou isso de

4Geek é uma gíria da língua inglesa cujo significado é alguém viciado em tecnologia, em
computadores e internet. O conceito de geek é algo semelhante ao conceito de nerd:
aquele que tem um profundo interesse por assuntos científicos e tecnológicos, gosta de
estudar, é muito inteligente e às vezes é pouco sociável.
5 Land‘s End é uma varejista americana de roupas e decoração para casa. GAP é a maior

varejista especializada em roupas dos Estados Unidos.


mim. Eu adoraria ter tempo para realmente examinar a peça mais tarde,
se você quiser mostrá-la.

É um ramo de oliveira, uma oferta de paz. Sean poderia dizer a


Henry para se foder, mas ele não fez. Ele simplesmente balança a cabeça.
— A qualquer momento.

Sean entrega a Marty as chaves da moto que ele estava andando no


dia em que nos conhecemos. Marty pula na moto, dá o pontapé inicial e
concorda em comprar fita da loja antes de nos encontrar na casa de
Black. Marty gira o motor, deixando-o ecoar na sala cavernosa, antes de
sair e desaparecer na noite.
Capítulo Seis
Quando subimos de volta no furgão, todos se acomodam. Há um
pouco mais de espaço sem Marty ao meu lado, então eu chuto minhas
pernas. Justin está com Garoto Geek logo atrás do assento de Henry. Mel
está sentada à minha frente, espelhando minha pose e parecendo que está
imaginando dirigir aquele Bugatti.

Sean nos conduz de volta ao bairro em que estávamos antes,


lentamente vagando pelas ruas, matando o tempo até que Marty nos
encontre.

Ainda há muita conversa animada sobre a coleção quando ele


interrompe: — Preciso dizer algo. Isso pode mudar as coisas, então vocês
precisam saber. Minha mãe, Constance, estava sendo mantida na casa da
mãe de Black.

— A residência que acabamos de deixar? — A voz de Justin trai seu


choque.

— Sim, — Sean responde sombriamente.

Mel empalidece: — O que? Sua mãe estava lá? Ela está morta!

— Eu também pensei que ela estava morta, — Sean diz, com


naturalidade, suas mãos nunca vacilando enquanto ele continua a nos
guiar em direção à casa de Black. —Aparentemente, o corpo na mansão
não era ela.

Eu me lembro do braço, o anel naquele dedo esbelto feminino.


Estou de costas para Mel novamente. — Por que o anel da sua mãe estaria
na mão de outra mulher?
Sean suspira, esfregando o rosto com uma das mãos enquanto gira
o volante com a outra. Ao virarmos a esquina, ele confessa: — Ela era
amante da minha mãe.

Todo mundo faz um som de descrença, questões surgindo de cada


boca, exceto da minha. Todos falam de uma vez só, gritando um sobre o
outro.

Sean silencia o furgão com um olhar severo no espelho retrovisor.


— Eu não sei por quanto tempo ou por que ela não disse nada
publicamente. Pergunte a ela quando toda essa merda acabar.

Eu pisco rapidamente, imaginando como Sean mantém isso tão


bem. Se ela fosse minha mãe, eu não a teria deixado lá. Eu não poderia
ter ido embora. Eu olho pela janela e vejo Marty passar na moto de Sean.
Ele acena para nós, sem saber da nossa conversa, sem saber que
Constance Ferro está viva.

O mundo acha que ela morreu na explosão. Seu funeral foi


televisionado ininterruptamente, e uma multidão de enlutados colocou
flores ao pé do mausoléu Ferro. Por fim, as portas da frente tornaram-se
inacessíveis, e qualquer um que tentasse se aproximar tinha que percorrer
as flores até a cintura que cercavam o túmulo de Constance. Ela poderia
ser muito desagradável, mas o público não pensa assim. Eles lamentaram
a morte dela como uma princesa perdida. Era fascinante de uma maneira
surreal.

Quando chegamos à casa de Black, repetimos nosso processo de


antes. Os caras da tecnologia tocam a campainha. Quando não há
resposta, eles se movem pela lateral da casa e mexem em um fio.
Aparentemente, essa é a linha telefônica. O dispositivo que eles inserem,
contém um chip de computador projetado para redirecionar todas as
chamadas para o número de celular de Justin, caso o sistema de alarme
dispare para obter ajuda. Ele pode então fingir ser o que precisamos. Esse
chip na linha é um plano de segurança à prova de falhas.
Quando entramos, olho em volta. A casa de Black é moderna e
elegante. Tudo é vidro e cromo, em tons contrastantes de cinza. Há
algumas peças finas — uma espreguiçadeira antiga, uma escrivaninha
francesa, mas nada caro o suficiente para trair sua renda declarada. À
primeira vista, esta é a casa de uma mulher de classe média alta vivendo
sozinha.

Sean me empurra para um longo corredor alinhado por um espelho


e entra no quarto principal. Ele me empurra até o armário onde Mel está
colocando seu bracelete em um computador e colando-o no lugar. O
monitor pisca por um segundo enquanto ela deposita o cordão na
máquina.

Henry localiza o vídeo da nossa entrada e apaga. — Vá em frente, —


diz ele, sem olhar para cima. — Apenas dez minutos dessa vez. Mais do
que isso, é abusar da nossa sorte.

Eu saio com Mel e Sean. Marty está examinando o perímetro,


observando a casa de Black, checando seus detalhes de segurança. Se ela
chegar, ele contará a Henry, que nos dirá, e nós fugiremos. Eu ainda não
gosto disso — vagar pela casa dela parece um convite para levar um tiro.

Mel desaparece em um quarto e Sean em outro. Eu pego a última


porta no final do corredor. Quando eu abro a porta para o quarto, desejo
que não tivesse. É um ginásio equipado com pisos de madeira escura,
mantas grossas e postes cromados com cordas de couro penduradas no
topo. Instalado em uma parede é algo que parece pertencer a uma câmara
de tortura. Ele tem correias e grampos presos diretamente a ele e uma
variedade de pontas de metal removíveis em uma mesa próxima. Eu me
encolho. Sean estava nisso com ela? Ele esteve aqui? Nesta mesma sala?
Black o apresentou a todas essas coisas escuras e dolorosas de sexo? Eu
não sei.

Ignorando tanto quanto possível as engenhocas em torno de mim,


eu vou em direção ao fundo da sala para uma pequena cama e mesa de
cabeceira. Nervosa, eu puxo o botão de vidro com muita força e,
acidentalmente, puxo a gaveta inteira da moldura. Ela faz barulho quando
cai no chão, derramando seu conteúdo. Uma garrafa de lubrificantes para
aos meus pés. Eu xingo sob a minha respiração, enquanto empurro de
volta na gaveta junto com preservativos e marcadores permanentes.
Enquanto me estico para deslizar a gaveta de volta aos trilhos, noto algo
estranho. O interior da gaveta é raso, mas o exterior da gaveta é profundo.
Eu a coloco no chão e empurro os cantos do interior da gaveta. Ela se
inclina.

— Fundo falso, — murmuro para mim mesma e removo todos os


itens da parte de cima da gaveta.

Então eu empurro novamente e pego um canto enquanto ele


levanta. Sob o tabuleiro, há uma corrente com três chaves douradas e
finas. Parecem joias. Eu levanto na minha mão e viro-as. As chaves são
grandes o suficiente para serem reais, mas algo sobre elas me lembra os
pingentes de chaves da Tiffany que vi os outros usarem nos últimos anos.
Procuro uma marca ou o carimbo de 14K, mas não há nada. Olhando em
volta, me pergunto o que eles desbloquearão e por que estão escondidas.
O que quer que elas desbloqueiem, não está aqui. Retiro as chaves do
esconderijo e, em seguida, devolvo a gaveta à mesa de cabeceira.

Eu vou para a frente da sala e paro para olhar para um poste. Tem
tiras de couro em três pontos, um dos quais se parece com uma coleira.
Na frente disso está uma barra sobre rodas. Tem cerca de um metro de
altura, ajustável e tem um grampo no topo. Vai com o poste, mas não
consigo descobrir o que faz.

A voz de Mel me assusta. — Você quer uma demonstração?

— Não.

Mel ri, empurra a coisa para frente e trava as rodas. — Ajustável e


há um controle remoto em algum lugar. Você é amarrada ao poste,
trancada para não se mover, e a outra pessoa usa o controle remoto com o
brinquedo correto no final para provocar ou fazer você gozar. Eu tive um
cliente que estava nessa merda. Ele tinha um vibrador chocante que
gostava de usar.

Meus olhos se arregalam quando minhas partes de menina se


encolhem. — Oh Deus! Machucava?

Ela encolhe os ombros. — Não realmente, mas não é minha coisa.


Bem, se eu fosse a pessoa que mandava, poderia ser uma história
diferente. Black está em alguma merda desarrumada! Isso é um barril
para montar?

Mel caminha até um grande cilindro cônico com um anel de


vedação na frente. É revestido em couro e fica suspenso horizontalmente,
elevado do chão por uma estrutura hidráulica de ferro. — Merda. Essa
coisa custou uma fortuna! — Mel passa a mão pelo comprimento, depois
bate o punho contra ele, esperando ouvir um som oco. Em vez disso,
parece que algo está lá dentro. Ela olha para mim: — Quer saber o que
tem aqui?

Mel rasteja por baixo, encontra uma costura no couro, puxa-a para
o lado e enfia a mão dentro do barril. Ela imediatamente puxa o braço
para fora novamente, jogando um maço de dinheiro no chão. Seu rosto se
ilumina. — Nem fodendo! Black escondeu seu dinheiro aqui?

Eu olho embaixo e sorrio. — Ela colocou em um lugar que ninguém


iria olhar.

— Ela esqueceu de nós. Esse tipo de coisa faz a maioria das


pessoas querer fugir. Eu não. Estive lá. Fiz isso. Literalmente. — Mel
alcança o interior novamente e retira mais dinheiro. Na terceira vez, ela
pega uma bolsa preta também. Ela se senta e abre. — Droga. Eu poderia
viver do conteúdo dessa bolsa pelo resto da minha vida.

— O que é isso? — Eu me inclino, tentando ver.


Mel dobra o tecido aberto e oferece para mim antes de se inclinar e
selar o alçapão no fundo do barril.

Eu abro o pequeno saco e olho para dentro. Algo brilha na


escuridão. Eu ponho a sacola na palma da minha mão e uma coleção de
pedras cai. — Diamantes! Há umas três dúzias aqui.

— E eles são grandes, — Mel acrescenta, endireitando.

— Quem teria pago a ela em diamantes?

Mel me dá uma olhada. — Quem você acha? O que significa que


Black tem feito merda que ela não deveria fazer por um tempo. Eu me
pergunto se ela estava nessa merda enquanto o pai de Vic estava vivo. —
Mel para de cobiçar as pedras na minha mão e olha para mim. Eu coloco
as pedras de volta na sacola e ela murmura: — Ele não é seu pai, você
sabe, e aquele idiota júnior não é seu irmão. Sangue é apenas uma merda
que corre em suas veias, Avery. Não deixe ninguém te dizer o contrário.

Isso me faz sentir um pouco melhor, mas ainda faz minha pele se
arrepiar ao saber que estou relacionada com pessoas tão más. Não há
garantias na vida. Nenhuma. Não me incomodaria tanto se eu soubesse
em quem eu estava me transformando, mas minha identidade escorregou
entre meus dedos no dia em que conheci Sean. Não é culpa dele. É apenas
o momento. Eu teria sido enredada em tudo isso com ou sem Sean. De
certo modo, a insanidade me trouxe amizades mais fortes que o sangue —
que é o que Mel quer dizer.

Eu deixo cair a cabeça e sinceramente digo a ela: — Obrigada, Mel.


Você está tão perto de uma irmã quanto eu poderia conseguir.

Ela oferece um sorriso irônico e ri: — Você só queria que fosse


bronzeada!

Arqueando uma sobrancelha para ela, eu cruzo meus braços sobre


o peito. Ela é tão maluca. — Eu acho que você quer dizer negra.
— Isso também. Então você poderia usar brincos de argola e ser
uma fodona como eu. Mas você não pode. Você é a irmã mais nova, a nerd
e muito pálida. Tudo bem, — Mel cobre minha mão com a dela. — Eu vou
cuidar de você.
Capítulo Sete
Sean
Nada. Miss Black mantém seus segredos próximos e seus inimigos
mais próximos. Eu pensei que a conhecia bem, mas nunca a considerei
capaz de tráfico humano. Sequestrar e escravizar pessoas estão tão longe
de seus objetivos originais de vida, que eu me pergunto se ela mentiu para
mim o tempo todo que eu a conheci. Não me surpreenderia agora.

O instinto de sobrevivência é mais forte quando uma pessoa está


prestes a atingir o fundo do poço. Miss Black não é o tipo de mulher de
descer sem lutar. Mesmo assim, isso é tão perturbadoramente errado que
eu não sei como processá-lo. Isso me faz pensar quem é o oponente mais
formidável aqui — Black ou Vic Jr.? Enquanto ser atingido por aquele
bastardo sugeriria a Vic, o envolvimento silencioso de Black me faz pensar
se ela é o cérebro por trás de toda a operação. Nesse caso, desequilibrada
ou não, devemos ser mais cautelosos com ela como nossa adversária.

Minha mente volta para minha mãe, chamuscada e acorrentada.


Seu rosto imundo e unhas quebradas não escaparam da minha
observação. Ela estava dentro ou perto da mansão quando a explosão
ocorreu. Sujeira e fuligem cobriam suas unhas e antebraços, como se ela
estivesse cavando através dos destroços. Ela perdeu alguém significativo
para ela naquele dia. Agora o mundo acha que ela está morta e Black
pretende vendê-la. Ela não será comprada pelo seu corpo — qualquer
pessoa interessada em adquirir Constance Ferro é sua inimiga. Minha
mãe ofendeu tantas pessoas que é impossível escolher quem poderia ser,
mas tenho alguns palpites. O bom é que ela ainda está trancada naquele
quarto. Ninguém aproveitou a chance para comprá-la. O ruim é que ela
ainda está trancada naquele quarto. É possível que eles estivessem
enrolando para alinhar sua venda.
A compaixão de Avery quase me fez parar e levar a mãe conosco e
que se dane as conseqüências. Independentemente das coisas ruins que
mamãe fez, essa é uma maneira horrível de morrer — sendo vendida como
propriedade e perdendo toda a sensação de segurança e a sua autoestima.
Só isso poderia enlouquecê-la.

Eu rolo os papéis em uma mesa do corredor e ouço Marty se


aproximar. Ele está em silêncio, mas há sinais reveladores na maneira
como ele se move, nos ruídos da casa. Uma tábua do assoalho geme
suavemente e eu não me viro enquanto falo. — Hora de ir?

— Saia. Eles estão vindo nessa direção com Vic Jr. no reboque. Eu
deveria estar aqui para eles, então dê o fora agora.

— Consegui.

Marty corre pelo corredor, repete a mensagem para as meninas e


depois desaparece nas sombras.

Eu quero libertar minha mãe, mas isso significa revelar que


estamos chegando. Isso arrisca Avery, e eu não posso fazer isso. Eu já
imaginei o cenário uma e outra vez em minha mente, tentando encontrar
uma alternativa, mas eu saio de mãos vazias. Não há como liberar minha
mãe sem nos denunciar. Eu não posso comprometer Avery. Eu não vou
perdê-la. Eu tenho que protegê-la. Mesmo assim, Peter vai me matar se
algo acontecer com minha mãe. Jon vai... Bem, é difícil prever como ele
vai reagir. Jon ainda está chateado com o mundo e esconde com um
sorriso.

Enquanto me movo pelo corredor, encontro-me com as meninas.


Mel arqueia uma sobrancelha para mim e bufa. — Você estava em merda
antes de conhecer Black, não é?

Avery suspira e sussurra: — Não pergunte isso a ele! Eu nunca


perguntei isso a ele!

— Bem, pergunte a ele! Ele está bem aqui.


Eu reprimo o grunhido que está crescendo no fundo da minha
garganta. — Senhoras, precisamos pegar Henry e sair. Lamento, não há
nada. Não acredito que estamos saindo de mãos vazias.

— Nós não estamos. — Os olhos de Avery brilham, e ela inclina a


cabeça em direção a Mel.

— Encontramos um estoque de dinheiro e muito mais. Confira. —


Ela segura um saquinho e joga para mim. Eu devagar, olho de relance, em
seguida, abro a bolsa e olho para dentro. Pedras claras brilham.

— Diamantes? — Estou surpreso que Black os mantenha aqui. —


Onde estavam estes?

— Em um touro de treinamento, juntamente com um estoque de


dinheiro. — Mel segura um punhado de notas de cem dólares.

— Você pegou?— Eu assobio, repreendendo-a. Eu não posso evitar


porque foi uma jogada incrivelmente imprudente e infantil. — Remover
essas coisas pode sair pela culatra. E se ela perceber que eles estão
faltando?

— Devia haver um milhão lá dentro, junto com um monte de outros


saquinhos de joias. Ela não vai sentir falta de um, a menos que tenha
inventariado antes desta noite. Mel encolhe os ombros. — Além disso, isso
pode fazer uma grande diferença para uma garota como eu. Eu ganhei
isso e, se eu não for liquidada hoje à noite, estou recomeçando. Esta bolsa
vai me ajudar.

Avery estende a mão, pega a mão de Mel e aperta-a


tranquilizadoramente.

Estamos demorando muito e sinto meus nervos se desgastarem. —


Essa é uma história linda, mas precisamos dar o fora daqui. Onde está
Henry?

— Ainda na sala de informática, — Mel diz, mas quando entramos


na frente da porta, ele se foi.
Eu xingo e enfio minhas mãos pelo meu cabelo. Preciso tirar esse
idiota daqui antes que ele seja pego, mas eu não sei onde ele foi. Eu
mando um texto para Marty e continuo empurrando as meninas em
direção à porta.

Meu celular vibra:

MARTY: ESCONDA. ELES ESTÃO AQUI.

— Merda. Algo dentro de mim estala e se encaixa no lugar. Eu


estou no piloto automático. Eu levo as garotas para o porão. Assim que a
porta dos fundos se abre, somos engolidos pela escuridão, seguros para
observar vários pares de pés se arrastando, cada um fazendo um som
distinto. O barulho de click-clack dos saltos de Black é fácil de identificar.
As solas grossas de couro dos sapatos de Vic fazem um barulho silencioso.
Os outros homens se arrastam atrás deles, totalizando oito.

Um raio prateado de luar corta a janela do porão, iluminando o


rosto de Avery. Seus grandes olhos castanhos olham para mim, quase em
pânico. Ela sussurra: — O que faremos?

Eu balancei minha cabeça e coloquei um dedo nos meus lábios.


Conhecendo Black, ela tem o lugar inteiro grampeado. A menos que Henry
tenha deixado o sistema de segurança no modo caos, ela nos verá.
Câmeras estão escondidas nos cantos superiores das paredes do porão.
Eu os vi na sala de segurança quando entramos na casa.

Mel gesticula em direção às pequenas janelas que levam ao


gramado lateral. Ela inclina a cabeça e move os olhos de uma forma que
me diz exatamente o que ela está pensando.

Eu aceno em silêncio e me aproximo, sussurrando tão baixo que


mal faz barulho. — Eu vou te impulsionar. Mel primeiro, depois Avery.

Avery se vira para mim com as sobrancelhas juntas. — E você?

— Eu vou ficar bem. Apenas vá. — Minha voz diz a ela que isso não
está aberto para debate, então ela não discute.
Mel solta o trinco e aponta para um ponto nos arbustos. —
Encontre-me lá, Avery. Sean, nos vemos de volta na casa de Henry.

Eu aceno com força e a levanto com facilidade. Mel desliza pela


pequena janela e rola na grama. Ela se endireita e se agacha quando
desliza para as sombras.

Eu passo em direção a Avery, o coração batendo forte enquanto o


medo tenta se firmar. Eu o empurro e engulo em seco. Enquanto aperto
suas coxas e a levanto, ela olha para mim, implorando.

— Não me faça te deixar aqui. Sean, eu não posso.

— Você pode. Eu ficarei bem, especialmente se eu não precisar me


preocupar com você. Encontre-me no Henry. Eu vou te ver em breve. Vá.
— Eu a seguro até a borda da janela, esperando enquanto ela agarra e
rasteja para o gramado. Ela rola de lado e olha para mim, preocupação
enchendo seus olhos escuros.

Ela alcança de volta pela janela e toca minha bochecha com os


dedos. É uma carícia suave, do tipo que eu tinha medo antes de conhecê-
la. — Seja cuidadoso.

Seus olhos contam uma história diferente, rodopiando com


ansiedade tão intensa que é impossível se esconder. Seu pescoço está
rígido, com todos os músculos tensos. Sua mão treme um pouco, mas eu
não comento. Ela é mais forte do que ela pensa e, quando pressionada,
Avery se transforma em tigre. Ela acha que é uma flor frágil, condenada a
murchar com a menor dificuldade. Ela não poderia estar mais errada. Sua
capacidade de explorar coisas novas comigo — como o tanque, por
exemplo — mostra que ela é capaz de manter a força quando está mais
vulnerável. Pessoas assim são raras. Ela não sabe a extensão de sua
força, ainda não. Quando chegar o momento, ela descobrirá. As comportas
que retêm essa verdade vão se esticar e rachar. Só então Avery saberá
quem ela é e do que ela é capaz, e nenhum minuto antes.
Eu pego a sua mão e beijo as pontas dos dedos dela, sussurrando,
— VÁ.

Eu me afasto e fecho a janela enquanto Avery se desvanece na


paisagem preta e escura. Mel é habilidosa com sua faca, então se elas
forem vistas antes de saírem da propriedade, espero que ela ganhe.
Contanto que uma arma não esteja envolvida.

Eu não posso pensar nisso. Meu estômago se agita


desconfortavelmente, e eu me movo para o fundo da sala procurando um
lugar para me esconder. É quando eu ouço o pequeno sussurro.

— Pssst. — Eu olho em volta na escuridão, não vendo nada, mas


reconheço a voz — a chamada ridiculamente feminina e formal. É o Henry.

— Aqui, seu imbecil. — Henry se inclina para fora da escada e


acena para mim. Eu me agacho embaixo assim que as luzes se acendem e
inundam a sala. Henry abaixa o olhar, piscando enquanto se ajusta ao
brilho que escorre sob as escadas.

A sala está inacabada na maior parte. O pequeno espaço sob as


escadas tem uma prateleira de concreto para suportar a escada íngreme
acima. Henry empurra a cabeça para o lado e sobe, mudando para abrir
espaço para mim. Eu não me encaixo tão facilmente como ele. Eu tenho
que me mexer no lugar, de barriga para baixo no cimento frio, com o meu
ombro sobreposto ao de Henry.

Ele olha para mim, murmurando: — Da próxima vez eu sou o


detrás.

Eu o soco levemente no rim, e ele estremece. — Cale a boca, — eu


assobio.

Vozes caem do patamar acima, seguidas pelo som de passos


rangendo na escada, até que vários homens estão no chão do porão. Eu
posso ver seus tornozelos quando eles passam.
Eles estão conversando um com o outro e eu não reconheço
nenhuma das suas vozes. — Por que estamos mantendo a cadela? Isso vai
explodir na cara dele.

— Você não foi pago pelo seu cérebro, Gragg. Pegue o barril e
levante no três. Um. Dois. Três.

Bufando Gragg geme: — Mesmo assim, movê-la é arriscado.

— Estes não são para Ferro — eles são para a irmã mais nova de
Vic.

Gelo atira nas minhas veias. Eu me esforço para ouvir mais,


enquanto eles sobem as escadas.

— O que há com ele ser tão obcecado por ela? Ela é uma distração
— reclama Gragg.

— Certo, e quanto mais cedo ela for, melhor, ele poderá se


concentrar. Então pare de falar e levante a porra do barril agora.

Gragg amaldiçoa e faz uma pausa antes de chegar ao patamar. —


Consegui. Pegue a garota, enfie-a aqui, entregue-a ao chefe e ganhe mais
dinheiro do que podemos gastar. Eu estou triste com isso. Parece apenas
uma perda de tempo.

— Desde quando ganhar enormes quantias de dinheiro é uma


perda de tempo? Levante o maldito barril e vamos dar o fora daqui. A
garota foi flagrada. Temos que agarrá-la antes que ela desapareça
novamente. Eu não vou levar uma bala por essa puta, e Vic não vai parar
até que ele a pegue, então vamos embora já.

Gragg protesta: — Sim, mas eu não entendo.

Várias vozes palavrões repreendem Gragg simultaneamente. Ele


para de fazer perguntas e, quando o resto dos homens está fora do porão,
a sala fica escura.
Henry sussurra: — Eles estão indo para minha mansão para levar
Avery.

Eu estava pensando a mesma coisa. Eu me afasto de Henry e caio


no chão, frenético para avisá-la. Correndo para a janela, eu espio para
fora. Marty está andando com outro homem. Merda. Eu não posso sair
desse jeito enquanto eles estiverem lá. Eu serei visto e fuzilado.

Henry anda atrás de mim. — Obrigado por sua ajuda lá atrás, seu
bruto.

Eu puxo meu cabelo como um animal enjaulado. Não posso


mandar uma mensagem para Marty e arriscar a vida dele. Ao mesmo
tempo, eu não posso chegar a Avery se eles não se mexerem. Eu quero
gritar, mas não posso. Meu coração dispara mais rápido quando penso no
que eles farão com ela. Empurrar seu corpo em um desses barris de
petróleo vai deixá-la doida. Ela terá que dobrar seu corpo em uma
pequena bola e uma vez que eles a selem dentro — foda-se. Isso vai
acabar com ela, para que não tenha atitude quando eles a despejarem na
frente de seu irmão imbecil.

— Temos que sair daqui, — eu rosno.

— Sim, eu ouvi. — Henry olha para os barris restantes. —Eles


levaram mais de um. Você percebe que isso significa que eles estão
planejando capturar vários de nós hoje à noite. É irônico, estamos todos
aqui, e Vic está indo em direção à mansão. Ele deve ter visto o artigo no
jornal e reconhecido Avery.

Eu me viro, sem paciência, e pego seu colarinho da camisa,


apertando com força. — Avery e Mel apenas decolaram nessa direção e, a
menos que as paremos, elas estão fodidas. Você entende isso?

Henry golpeia para mim. — Sim. Por favor, me liberte. — Eu o


coloco para baixo, e o homem alisa sua camisa. Ele olha para o chão e
depois para mim. — Há algo que eu posso fazer.
— Daqui?

— Sim, bem, talvez. Depende se meu drone está carregado. Henry


pega seu telefone, e a pequena tela brilha enquanto ele vira para um
aplicativo e o abre.

Eu quero estrangulá-lo. — Você negou possuir um drone.

— Pish, elegante. — Ele acena um pulso flácido para mim. — Eu


neguei dizendo que o drone tirando fotos de Avery era meu. Também
afirmei minha crença de que os drones são um saco e que não gosto de
ser forçado a registrar o meu com a FAA. Eu nunca disse que não tinha
um.

Eu quero matá-lo. Olhando para o lado de sua cabeça, eu rosno: —


Você disse exatamente isso.

Ele encolhe os ombros: — Eu exagerei, e você deveria estar feliz.


Minha mentirinha branca pode apenas salvar as garotas. — Ele bate em
uma série de comandos e então olha para uma câmera ao vivo do drone.
Está dentro de um prédio, pairando perto de uma janela. — Eu gostei
desse painel. É feito de vidro artesanal de uma propriedade em Suffolk,
você sabe.

— Henry, — eu aviso.

Ele bate o zumbido pela janela e sai pela noite. A coisa dispara para
o alto e zumbe sobre a casa antes de se lançar em nossa direção. Se Avery
ainda estiver a pé, talvez seja possível chegar até ela primeiro.

— Você pode falar com ela através do drone? Quero dizer, se você a
encontrar, como ela saberá que é você?

Ele enfia o queixo e reprime um sorriso. — Ela não poderá me


ouvir, mas ela saberá de mim.

— Como? — Henry se contorce, evitando o meu olhar. Eu não o


pressiono e mudo minha linha de questionamento. — E depois?
— Então nós os pegamos para seguir o drone longe da mansão.

— É mais provável que Mel o acerte com um bastão do que segui-lo.

— Talvez, mas uma vez que elas olhem para ele — bem, você vai
ver. — Henry voa a coisa cerca de cento e cinquenta metros — baixa o
suficiente para não interferir com a aeronave, mas alta o suficiente para
que não possa ser vista do chão. Alguns minutos depois, está sobre a casa
de Black, caindo como uma pedra do céu. Ele para, paira acima do solo e
gira lentamente perto das árvores onde Avery deveria encontrar Mel, mas
elas já se foram.
Capítulo Oito
AVERY
Mel me empurra para frente. Nós temos rastejado pelos arbustos
por muito tempo. Estou cansada e meu corpo parece feito de tijolos. Eu
gostaria de poder dormir por alguns dias, comer uma tonelada de sorvete
e que toda essa situação acabasse. Mas não isso.

— Eu acho que nós fizemos uma curva errada em algum lugar. —


Eu fico de pé e bato em uma árvore.

Mel ri. — Aquilo foi tão engraçado! Você deveria ver o olhar no seu
rosto!

— Estamos na merda de Pine Barrens6. Nós vamos cair em um


buraco e ser atacadas por ursos. Eu franzo a testa e olho em volta,
nervosa.

Mel acena para mim. — Essa merda não mora aqui. O pior que você
encontrará é o Jersey Devil7.

Eu não posso evitar. Eu ri. — Eu acho que ele mora em Jersey, Mel.

Ela bufa: — E o que? Esta não pode ser sua casa de verão?

— Não é verão!

— Psh. Esse é um bom motivo. Você precisa ampliar sua mente.


Desde quando um bebê demônio não pode voar para sua residência de
férias em outra estação que não seja verão? — Mel revira os olhos e
empurra um galho para trás, marchando.

6Pine barrens – Espécie vegetal dominada por gramíneas, arbustos baixos e pinheiros
pequenos e médios.
7Jersey Devil - Criatura lendária que diz habitar o Pine Barrens do sul de Nova Jersey. A

criatura é freqüentemente descrita como um bípede voador com cascos, mas há muitas
variações.
Quando ela diz baby, meu coração doí, como se a descendência do
demônio fosse meu filho. Eu imagino que seja mal interpretado e chore
enquanto tenta me encontrar, mas não consegue. Eu pisco rapidamente,
perseguindo a historia. Que raio foi aquilo? Compaixão por um bebê
demônio? Eu estou ficando louca. Devo estar.

Eu sigo Mel, embora não tenha ideia de onde estamos ou para onde
ela está indo. Eu acho que ela está perdida, mas não estou totalmente
certa. Está muito escuro. O luar cria um padrão rendado no chão da
floresta, mas é difícil ver muito mais.

Mel para de repente, balançando seus braços como uma louca. Eu


a agarro quando ela está prestes a cair para frente. Eu não vi isso nas
sombras, mas na borda está claro que há um buraco enorme na nossa
frente e se ela não recuperar o equilíbrio, nós vamos cair direto nele.

Com o coração batendo forte, eu puxo com força e ela cai de volta
comigo no chão. Aliviada, eu suspiro e deito no chão da floresta por um
momento antes de me levantar. Quando levantamos, nos aproximamos e
espiamos pela borda.

Os olhos de Mel se arregalam. — É uma merda em massa. Eu te


disse que era aquele demônio esquisito.

Ela parece preocupada, mas quando olho para o buraco, reconheço


o que é. — Não é um túmulo, Mel. É uma mina de areia. Algum idiota veio
aqui para roubar areia.

Seu rosto se contrai e ela olha para mim como se houvesse uma
cabra no meu rosto. — O que dizer agora? Quem diabos roubaria areia? É
areia!

— Eu sei, mas os locais de construção precisam de areia. É caro,


então eles vêm aqui, roubam a areia do Pine Barrens, onde ninguém mora
ou olha, e depois enchem o buraco com lixo quando acabam. Ela pisca
aqueles olhos dourados para mim como se eu estivesse mentindo. — Eu
não estou inventando isso. É fato.
— Parece uma vala comum para mim.

— Não é.

— A minha história é melhor.

— Sim, provavelmente é.

Seus olhos cortam para o lado enquanto ela olha para mim e depois
volta para o buraco. — Então, quando nós conseguimos um contrato para
um livro, e eles adaptarem a história em um filme, nós vamos dizer que
isso era uma cova coletiva.

— Um filme? — Eu quase rio.

— Sim, porque não? Pense nisso. Ela começa a falar com as mãos,
pintando o ar com o movimento das palmas das mãos. — Temos intrigas,
mistério e um lunático que envergonha aquele cara da serra elétrica.

Eu franzo a testa. Ela está certa. Essa coisa toda está mais confusa
do que qualquer filme que eu já vi. — Tudo bem, é um túmulo de
demônio.

— Psh, agora isso é ridículo. Demônios não podem cavar. Eles não
são cães sobrenaturais. Nossa, Avery!

Algo zumbe por cima e se arremessa, sacudindo as copas das


árvores. Pequenas luzes brilham e emite seus raios através dos galhos.
Isso me assusta, eu grito e pulo para Mel. Ela não estava pronta para isso.
Ela perde o equilíbrio e nós duas caímos para a frente e deslizamos para o
fundo do poço de areia.

Mel xinga uma série de palavrões que fazem meus ouvidos


zumbirem, e então me empurra para fora de seu corpo de bruços para que
ela possa ficar de pé. — Você não nos empurrou para um túmulo de
demônio.

Fecho os olhos por um segundo e explico: — Havia uma luz...


Mel não percebeu. Ela não olhou para cima, ninguém olha para
cima. — Você nos empurrou para dentro do buraco por causa de uma luz
de inseto? Qual é, Avery. Crie coragem. — Ela caminha para o lado e tenta
sair, mas não consegue. É muito íngreme e as paredes não são estáveis.
Toda vez que ela dá um passo para cima, a areia se solta e ela cai.

Eu me levanto e limpo a areia. — Não era um inseto. Era uma


daquelas coisas estranhas de helicóptero — um drone.

Mel rosna e tenta sair de novo, mas só cai de volta no buraco. Ela
levanta e xinga novamente. Quando termina com sua birra, ela olha em
minha direção, acrescentando: — Graças a você, estamos presas no fundo
de um maldito buraco! Eu não estou interessada em jogar a versão ao vivo
do Frogger agora.

— Eu acho que você quer dizer Pitfall8. E pelo menos não há


nenhum demônio que desça aqui conosco. Imagino como tolas devemos
ter parecido ao cair no buraco em câmera lenta, braços agitados, corpos
caindo uns sobre os outros antes de escorregar até parar no fundo. Meus
lábios se contorcem e eu bufo suavemente tentando engolir as risadinhas
se construindo dentro de mim, mas algumas saem.

Mel olha para mim enquanto tira a areia dos braços. — Não é
engraçado.

Eu não posso parar. Meu peito treme enquanto tento limpar o


sorriso do meu rosto e ficar séria. — Ok, estou bem. — Eu não estou. O
riso ainda está fervendo dentro do meu peito, mas não está mais no meu
rosto.

— Bom, — ela diz. — Qual é a melhor maneira de sair daqui?

8Pitfall
— Jogo onde o jogador deve mover seu personagem, conhecido como Pitfall Harry,
através de uma floresta tipo labirinto em uma tentativa de recuperar 32 tesouros em um
período de 20 minutos. Nesse tempo ele deve derrotar a densa floresta, com suas cobras,
morcegos e insetos.
Eu olho em volta, — Bem, nós poderíamos saltar em alguns troncos
e esperar que não caíssemos em um jacaré por engano. — Eu faço um
som de Tarzan que soa mais como um bode.

Mel olha para mim, irritada no começo, e então começa a rir. Ela se
dobra e coloca as mãos nos joelhos enquanto ri com tanta força que não
consegue respirar. — Puta merda! Isso soou como o jogo! Era como se
você fosse metade cabra e metade Tarzan. — Ela se endireita e aponta
para mim: — Faça de novo.

Eu faço o barulho mais uma vez, desta vez mais alto. Meu último
balido sai engasgado quando quase me engasgo de rir.

Mel está rindo, com a barriga curvada e abanando o dedo na minha


direção. — Isso é hilário! Quem sabia que lá no fundo você era uma garota
de cabra! — Mel tenta fazer um som de balido, mas sai mais como o ACK,
ACK, ACK de uma metralhadora.

— Bwuhahahaha! Sua cabra mora no gueto e está fortemente


armada. Sério Mel.

Que tipo de animal de fazenda soa assim? — Há lágrimas nos


cantos dos meus olhos de tanto rir. Eu os enxugo enquanto finalmente
nos controlamos.

Mel solta um longo suspiro pela boca e olha para mim. — Se não
estiver algum babaca tentando nos matar, é tudo diversão e risos...

— Sim, até que caíssemos em um buraco.

— Você sabe o quão embaraçoso isso é? Eu sou como uma ninja de


faca. Em uma briga de rua, eu ganho. Eu sempre ganho. Eu não posso
acreditar que estou presa em um buraco. Ela balança a cabeça e olha ao
redor.

— Comigo! Poderia ter sido muito pior. — Sorrindo, ela levanta o


olhar para encontrar o meu. — Sério, Mel. Eu não me importo de estar
presa em um buraco com você, mas Sean vai surtar.
Ela finalmente para de rir e caminha em minha direção em passos
longos e escorregadios enquanto a areia se move sob seus pés. — Por que
não podemos cair em um buraco com um homem quente? Aquele cara do
Pitfall era gostoso, mas ele era um pouco quadrado e retangular, se você
quer saber. — Ela diz isso tão inexpressivamente que eu começo a rir de
novo. — Sério. Nós não poderíamos cair em um desses buracos que já
foram cimentados e com uma escada?

— Nós não somos sortudas assim, Mel. — Eu me inclino contra a


parede lateral e deslizo para baixo. Eu puxo meus pés em direção ao meu
peito e inclino a cabeça para trás. O céu noturno parece com tinta
derramada com uma camada de brilho prateado para compensar as
estrelas.

Mel dá algumas voltas e depois se senta ao meu lado. — Se eu


morrer em um buraco, eu vou ficar chateada. — Ela cruza os braços sobre
o peito e inclina a cabeça para trás, fechando os olhos.

— Você vai dormir?

— Sim.

— E sobre bebês demônios e casas de veraneio?

Ela abana uma mão preguiçosa para mim. — Não é verão. O


carinha não está aqui.
Capítulo Nove
Mel cochicha ao meu lado enquanto eu olho para o céu pensando,
desejando que eu pudesse conter meus pensamentos, mas eles borbulham
e transbordam da minha mente como uma panela de água fervente. Eu
não posso parar isso. Imagens passam rapidamente pela minha cabeça
como um filme confuso. As cenas não se misturam e as linhas do tempo
espirais em um ciclo ilógico. Gritos silenciosos, pele escorregadia, um anel
de noivado de diamante, a sensação fria do aperto da arma na minha
mão, o chão duro na sepultura dos meus pais e sangue — derramando,
juntando, cobrindo minha pele pálida, me manchando. O medo se
intensifica e me sufoca até que eu não posso respirar. Eu pulo e afasto os
pensamentos da minha mente quando o barulho se aproxima. Parece uma
abelha gigante.

Ajoelho-me ao lado de Mel e balanço o ombro dela. — Ele está de


volta.

Assim que ela está ao meu lado e nós olhamos em uníssono, uma
luz brilhante reflete diretamente acima de nós, cegando-nos. O zumbido é
alto quando cai perto de nós muito rápido. Ele para no nível dos olhos e
paira no ar à nossa frente.

— Eu gostaria de ter um bastão, — Mel rosna para a máquina, —


eu o esmagaria! — Ela se inclina e levanta dois punhos de areia, pronta
para jogá-la nas quatro hélices giratórias.

— Espere! — Eu agarro seus braços, parando-a e me aproximo do


drone. Não é branco como o que vi há algumas noites. Este é em tons de
carne com listras marrons e — isso é um olho? Eu chego mais perto,
piscando duas vezes para o aparelho, antes que arrepios percorram minha
espinha e meu estômago azeda. — Diga que não é o que eu acho que é.
Mel se inclina, tomando cuidado para não se aproximar das
lâminas giratórias, permitindo que o drone se mova. Ela bufa: — Aquele
idiota maluco realmente tem tesão por você. Ele fez um drone Avery.

O drone está embrulhado com uma foto minha. Eu pisco com força,
esperando que meu rosto e corpo desapareçam do lado da máquina. É a
foto minha que eu dei a Henry antes de saber que ele era louco. Era para
ficar na carteira dele. Eu não deveria estar colada aos lados de um drone.

De cara séria, eu olho para ele com desprezo. — Aquele bastardo.


Ele me fez uma prostituta voadora!

Mel tenta não sorrir. Ela olha a engenhoca com cuidado, em


seguida, cospe: — Droga, ele é esquisito. Aposto que ele tem uma queda
pela Mulher Maravilha.

— Aposto que ele tem seu próprio jato invisível. Dane-se a Mulher
Maravilha.

— Isso é o que ele disse! — Ela ri e bate no seu joelho. — Porra, eu


sou engraçada!

O drone tenta decolar e depois volta quando não o seguimos. Faz a


mesma coisa mais quatro vezes, tentando nos fazer decolar depois. Eu
balancei minha cabeça e apontei, mas eles não parecem entender.

Mel arranca drone do ar, vira-o e diz lentamente diretamente para a


minúscula câmera na parte inferior, — Nós não podemos seguir. Nós
estamos presas em um buraco. — Então ela joga a coisa no ar, e ela cai
como uma pedra, quase batendo no chão antes de atirar na copa das
árvores novamente.

Ela ri. — Eu aposto que isso fez com que seus britânicos se
juntassem. A propósito, você não quer ver o que está no lado de baixo
desse drone. Ele é um sacana doente. — Seus lábios se contraem como se
ela quisesse sorrir com carinho. É quase admiração. Não, isso não está
certo. Há um olhar deslumbrado no olho dela combinado com o sorriso
quase bobo.

De olhos arregalados, eu aponto para ela. — Puta merda! Você


gosta dele!

— Eu não! — Ela zomba, fazendo uma careta como se fosse uma


acusação insana.

— Sim, você faz! Você tem aquele sorriso tímido no seu rosto,
aquele que é totalmente apaixonado e bobo! Como você pode gostar dele?
Ele é louco.

Ela não discute desta vez. — Eu não sei. Ele é gostoso, engraçado e
um pouco doente. Além disso, quem é você para criticar? Você está
namorando o cara mais distorcido do mundo.

Rindo sombriamente, eu desafio: — Sim, mas Henry é pior.

Ela sorri e pressiona as palmas das mãos juntas. — Sim ele é.


Capítulo Dez
Não faço ideia de quanto tempo passa, mas parece que são horas
quando Sean e Henry aparecem. Eles estão na borda com as mãos nos
bolsos — suas posições espelhadas. As pontas da cabeça de Sean para o
lado e os olhos de Henry estão arregalados, como se ele tivesse acabado de
perceber que precisava cavar um buraco em seu galpão imediatamente.

Eu aceno para Sean com as pontas dos meus dedos. — Hey! Como
vai você'?

Ele bufa e oferece um sorriso torto. — Como diabos vocês acabaram


em um buraco?

Mel olha para mim, resmungando: — A cara pálida, aqui, nos


empurrou quando o drone do bastardo doente voou sobre nós.

Sean e Henry estão prestes a dizer algo, mas Mel os interrompe.


Agitando um dedo indicador no ar, ela estreita um olho em uma fenda e
rosna: — E você não dá a mínima para isso. É escuro e estranho aqui à
noite. Há reações piores para ser atingido no rosto por uma máquina
voadora robótica.

Meu queixo afrouxou, eu fico boquiaberta para ela. — Você me


repreendeu!

— Certo, — Mel olha para mim e ergue a palma na direção dos


caras, — é por isso que seria redundante neste momento fazer mais
repreensão. Eu já cuidei disso. Além disso, eu não gosto quando gritam
com você.

— Mas está tudo bem para você fazer isso?

Ela cruza os braços sobre o peito e inclina a cabeça para o lado. —


Com certeza.
Eu reviro os olhos e olho para Sean: — Salve-me. Por favor. Eu
levanto meus braços para ele como uma criança, e ele sorri, balançando a
cabeça.

— Segure-se. — Ele pega um rolo de corda e amarra em torno de


uma árvore.

Henry está na borda e pergunta: — Areia é a sua criptonita,


Melanie? Você finalmente encontrou um inimigo que não pode vencer? —
Ele ri para si mesmo.

— Foda-se, idiota.

Ele olha friamente para ela. — Desculpa esfarrapada para uma


assassina.

— Quem diabos disse que eu sou uma assassina?

— Obviamente, você não é. Estou um pouco desapontado. — Ele


sorri para Mel. Eu recuo esperando as chamas saírem de sua boca. — Se
você fosse, você não estaria presa em um buraco.

— Imbecil.

— Eu prefiro desfrutar a visitado seu buraco.

Os lábios de Mel se torcem em desgosto. — Sim? Bem, tire isso e


vamos ver o que acontece.

Henry ri enquanto Sean joga a corda por cima da borda e o lembra:


— Ela vai sair daquele buraco, e você vai querer não ter dito uma palavra.

Henry enfia as mãos nos bolsos e ri, jogando a cabeça para trás
como se Sean fosse engraçado. Soa forçado e sarcástico. — Até parece.

Eu rio e bato minhas mãos sobre minha boca. Mel olha para mim,
então eu corro para a borda onde Sean joga a corda por cima da borda.
Colocando minhas mãos ao redor da corda grossa, digo a ela: — Ele
parece com você.
— Não. Ele deseja poder soar tão incrível quanto eu. Mas ele não
pode.

Henry acena com o dedo indicador no ar, joga o quadril para fora e
balança a cabeça — imitando Mel. — Ele faz isso. Ele é muito mais incrível
do que eu, e eu adoraria transar com o filho da puta.

Eu sorrio para Sean quando ele me puxa para cima. Eu grito para
Henry: — Você deveria ter escutado Sean. Mel vai rasgar seu rosto quando
ela sair.

Henry estende a mão para ela. — Ela não poderia machucar uma
borboleta. Seu auge acabou. Ela está caída, e indo para um declínio
induzido pela gravidade, estou certo, amor?

Depois que Sean me puxa para cima, empurro meus joelhos para
cima e fico de pé, limpando a areia dos meus membros. Ele olha para mim
com ternura, colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. —
Graças a Deus você nunca faz como lhe é dito. — Ele beija minha testa e
parece respirar mais aliviado.

No momento em que estou fora da corda, Mel a segura e escala a


lateral do buraco, arremessando seu corpo sobre a borda antes de pular e
correr para Henry. Ele está perfeitamente imóvel, com as mãos nos bolsos
e uma expressão indiferente no rosto. Sua fachada serena quebra
exatamente quando ela está prestes a pular nele. Ele solta um grito e
corre, agitando os braços, para a floresta. Mel corre atrás dele, jurando
uma tempestade.

Sean olha para mim. — Eu preciso pará-la?

— Não, ela gosta dele.

Os olhos de Sean se arregalam. — Eu odiaria ver como seria se ela


o odiasse.

— Eu sei, certo? — Eu suspiro e me inclino em Sean.


Ele envolve seus braços em volta de mim e beija o topo da minha
cabeça enquanto me diz o que ouviu no porão de Black. — Eles sabem que
você está na casa de Henry. Nós não podemos voltar lá.

Eu me encolho com o pensamento do barril. Não, é mais que isso.


Isso me assusta, atirando pedaços de gelo em minhas veias, cortando todo
o caminho até o meu coração. Juro que ele para de bater por um
momento. Eu me afasto e viro para Sean. — Então não podemos esperar.
Precisamos nos dirigir diretamente ao Vic Jr. e terminar isso.

— Há uma providência primeiro. Você precisa ligar para Black e


aceitar o trabalho.

O nó na minha garganta cresce para um tamanho gigantesco, me


estrangulando por dentro. Há tanta pressão em mim que parece que um
movimento errado vai esmagar meu corpo na calçada. Um passo em falso
e eu estou morta. Não, é pior que isso — meu irmão doente tem um barril
com meu nome nele.

Eu aceno e sussurro: — Se ele me pegar... Se isso não der certo...

Sean me puxa para o peito dele, envolvendo seus braços fortes em


volta de mim. — Eu não vou deixá-lo te machucar. Não agora, nem nunca.
Depois desta noite, Vic Jr. vai se arrepender de ter fodido com um Ferro.
Capítulo Onze
O telefone toca e Black responde: — Avery, estou surpresa em
ouvir você.

Estou respirando muito rápido e minha voz está tremendo. Ela vai
ouvir, então eu faço a única coisa que faria esses sons parecerem
razoáveis. Eu fungo e deixo escapar: — Eu quero o trabalho. O trabalho de
cafetina que você ofereceu antes.

— E o Sr. Ferro? Eu pensei que você tivesse terminado com o


negócio de encontros? — Sua voz é sedosa e suave. Eu posso imaginá-la
sentada em sua mesa com um sorriso no rosto. O jogo de gato e rato
sempre a divertiu. Ela vai brincar comigo por um tempo antes de tomar
sua decisão final.

Minha garganta está apertada, e estou tremendo, eu respondo


sucintamente: — Ele me deixou. — Minha voz soa vazia. — Você disse que
ele faria isso. Você me disse... — Eu fungo e suspiro, — Você me disse que
ele iria embora, e ele fez.

— Eu não sabia que Sr. Ferro voltou para casa. Quando isso
aconteceu?

— Eu não sei! Ele foi embora mais cedo e disse que sua vida aqui é
tóxica. Miss Black, eu realmente não quero falar sobre ele.

— Então ele foi em seu jato esta noite?

— Eu acho que sim. — Eu sei que sim. Correção — eu sei que o


jato dele mapeou o plano de vôo deles e decolou com um passageiro esta
noite. Se ela verificar, ela poderá confirmar minha história. — Eu preciso
desse trabalho, Miss Black. Ainda está aberto?
Ela faz uma pausa, suspira profundamente e responde. — Sim,
mas considerando o seu comportamento — o modo como você ignora
todas as regras e recusa a minha supervisão — Avery, essa posição não é
para você. Algumas mulheres foram feitas para liderar, enquanto outras
trabalham melhor na retaguarda.

Eu esmago meus lábios e tento não gritar com ela. — Dê-me uma
chance. Eu vou te mostrar o quão valiosa posso ser. Não estou mais
interessada em homens. Eu nunca vou me apaixonar por outro cara
enquanto eu viver. Não tenho mais nada para fazer, nenhuma outra fonte
de renda. Miss Black, por favor... — Eu imploro, adicionando uma
respiração irregular no final para soar como se eu não tivesse terminado
de chorar.

— Nunca implore, — ela repreende. — Isso mostra fraqueza.

— Sim, Miss Black. — O silêncio passa entre nós, estendendo-se


para sempre.

Começo a pensar que ela se afastou do telefone quando respondeu:


— Esteja aqui às onze horas da noite. Você pode me servir esta noite.
Estou falando com um cliente em potencial. Se assinar, ele paga
antecipado. Entramos, pegamos seu contrato e preferências, fotos e depois
fazemos a ligação. Ele quer uma garota nos braços em menos de vinte e
quatro horas. É assim que funciona. Tem certeza de que você está pronta
para isso?

Meu coração bate como se eu nunca quisesse mais nada. Miss


Black é mestre em manipular. Não é de admirar que ela seja tão boa
nisso. Se não soubesse no que estava entrando, eu teria aparecido com
um sorriso no rosto, grata por sua ajuda. Eu sôo o mais sincera possível
quando respondo: — Sim, Deus, sim! Obrigada, Miss Black. Eu não vou te
decepcionar.

— Não, você não vai.


Eu desligo e me viro para Mel. Henry está atrás dela, vasculhando
caixas abandonadas no porão do dormitório. Nós não tínhamos outro
lugar para ir — pelo menos em nenhum lugar onde Black não saberia
procurar. E se Sean for descoberto, eles perceberão que eu sei o que está
acontecendo.

Mel está me observando com seus olhos dourados, balançando a


cabeça, em silêncio até eu desligar. Então ela joga os braços em volta de
mim e aperta com tanta força que meus olhos quase saltam da minha
cabeça. — Isso foi perfeito pra caralho. Não há como ela suspeitar de
alguma coisa. — Assim que me libera, o celular de Mel toca. Ela acena
para todos ficarem em silêncio e responde: — Hey, o que se passa?

A voz aveludada de Miss Black entra no quarto pelo telefone. — Eu


preciso de você esta noite.

— Eu já tenho planos... — Os lábios de Mel se inclinam nos cantos.

— É de seu interesse para aparecer aqui. Eu tenho um cliente


interessado em seu perfil. Eu preciso de você para garantir a negociação.
Você sabe como Avery pode ficar.

Mel interrompe, repetindo: — Sinto muito, Miss Black, mas tenho


outros planos hoje à noite.

Ela rosna, suas palavras gotejando com ameaças não ditas, — eu


vou fazer valer a pena, e, se você olhar para o outro lado, acredito que
podemos chegar a um acordo mutuamente benéfico. Se você ignorar seus
deveres, porém, enviarei Gabe atrás de você e não gostará dos métodos de
persuasão dele. Eu sugiro que você apareça aqui às onze da noite em
ponto.

Mel empalidece um pouco. — Sim, Miss Black. Eu estarei lá. Hey,


qual é o plano? Algum cara quer alugá-la ou o quê? — Mel tenta
convencer Black a falar e espera ansiosa — esperando que ela diga
alguma coisa.
Black não é uma tola, no entanto. — Venha e veja por si mesma, —
diz ela. — Há muito mais dinheiro a ser feito se você estiver disposta a
cruzar a linha, Melanie. Não se atrase. — A ligação cai.

Mel coloca o celular de volta no bolso e olha para mim. — Eu não


gosto disso. Muitas coisas podem dar errado. Eu me sentiria muito melhor
se Vic Jr. tivesse uma arma na sua cabeça o tempo todo.

Sean está tenso, com a mandíbula bem fechada e os braços grossos


cruzados sobre o peito. Seu queixo está baixo, e ele está pensando, sem
dizer muito até aquele momento. — Há muitas variáveis, eu concordo,
mas assim que você e Avery estiverem dentro e ao alcance de seu sistema
de segurança, podemos invadir. Ninguém vai desistir disso.

Uma caixa cai, e nós olhamos para ver um Henry assustado


segurando algumas contas de Mardi Gras.9 — O que?

Mel se agarra a ele. —Você está ouvindo? É isso. Temos sucesso ou


morremos. Não há nada no meio.

— Sim, sim, eu estou bem ciente. — Ele enche o bolso com as


contas e vai ficar ao lado de Mel. — Marty já está no local para nos dar
uma vantagem. Ele pode garantir que todos estejam contidos na sala
correta na hora certa.

Eu me sinto mal, mas tenho que perguntar. — Vamos matar todas


essas pessoas? Ninguém vai embora?

Sean olha para mim por baixo dos cílios. — Eles dizimaram minha
casa e tentaram erradicar toda a minha família. Eles têm minha mãe
acorrentada e planejam fazer o mesmo com você — ou pior. Sabemos que
Vic tem planos para você, então você me diz — quem vai viver? Eu vou
ceder a você sobre isso, mas deixar qualquer uma dessas pessoas irem

9Mardi Gras – eventos de carnaval em New Orleans.


embora hoje deixa a possibilidade de perder mais vidas no futuro. Eu
prefiro não correr esse risco.

Mel pergunta: — E quanto a Black? Ela nem vai estar lá.

— Ela morre. — A voz de Sean é fria e decidida. — Nós a


encontraremos depois disso e terminaremos.

Mel acena com a cabeça, não diz nada. Uma calma gelada toma
conta do quarto, enquanto todos nós estamos lá, nenhum de nós pronto
para fazer isso. Mel finalmente diz: — Preciso tomar banho e me trocar.
Espero que esta seja a última vez que tenhamos que ficar na frente de
Black para qualquer coisa.
Capítulo Doze
Mel caminha até uma prateleira no fundo da despensa coberta com
uma sacola de plástico. Ela abre o zíper do lado e passa por alguns
vestidos antes de escolher algo simples. É um vestido de cocktail preto
com um decote baixo, de alcinhas e uma saia de tulipa que cai no meio da
coxa em Mel. Em mim, ficaria nos joelhos.

Mel inclina a cabeça para o lado, indicando que eu deveria escolher


alguma coisa. — Vá em frente. Eu sei que você não tem um esconderijo
em algum lugar.

— Obrigada, Mel.

— Certo. — Seu tom é sombrio, intenso, — certifique-se de que você


possa correr em qualquer coisa que escolher. Eu também quero amarrar
uma faca em você. — Ela lança um olhar para Sean e ele concorda. Mel
não estava perguntando. É como se ela suspeitasse que as coisas não
sairão como planejado, e de nós duas, eu sou o elo mais fraco. Henry pode
comprar sua saída do problema. Mel é uma lutadora de rua. Sean é Sean.
Marty é um agente ultrassecreto. Gabe é um policial. Eu não tenho
habilidades defensivas reais, e o centro do meu peito dói porque eu não
estaria aqui com essas pessoas se eu fizesse isso. Se eu pudesse me
defender, seria uma pessoa diferente.

Mel se foi sem outra palavra. Nós não podemos nem ouvir seus
passos enquanto ela vagueia pelo corredor. Essa mulher é meio gata.
Corro atrás dela, gritando: — Mel, espere.

Eu saio correndo do depósito e a encontro no final do corredor,


esperando. — O que?
— Eu nunca fiz nada assim antes. — Eu corro ao lado dela e
suspiro. — Com a faca, qual é a melhor maneira de usá-lo para derrubar
alguém?

— Avery, se você puxar a faca, você atinge para matar. Não há


outra opção. Você não pode usá-la como uma ameaça ou acabará com
uma bala na sua cabeça.

Eu engulo em seco e sinto meu intestino se contorcer. Torcendo


minhas mãos, olho-a nos olhos e sacudo as pontadas de medo que sobem
pelas minhas costas. Eu jogo minhas mãos para os lados, recusando-me a
ter medo. — Eu não tenho a intenção que seja uma ameaça. Eu preciso
saber. O que devo fazer?

Os olhos de tigre de Mel passam por mim como se decidissem algo.


Ela estende o seu pente na mão direita, fingindo que é uma faca. — Você
terá que segurá-la assim. Haverá mais força em seus golpes. Você não
pode segurar uma coisa maldita. Se a lâmina atingir o osso — ao redor da
caixa torácica inteira — você perde. É simples assim. Use seu corpo, não
apenas seu braço. — Ela me mostra algumas maneiras de afastar alguém.
— Mas quando a merda bate no ventilador e você tem segundos para
viver, você aponta para os pontos fracos, atingindo-os com força e rapidez.
— Ela aponta para alguns pontos nas minhas pernas onde a faca faria o
maior dano, então demonstra como evitar o jato de sangue se eu matar
alguém. — Você pode ter mais de um atacante, e se você receber sangue
quente em seus olhos, você está morta. Entendeu? — Suas palavras soam
cortadas, como se a conversa em si fosse dolorosa.

Eu concordo. — Mel, eu sou...

Ela avança em mim e eu volto para a parede com um baque. — Se


você se desculpar, eu vou te esbofetear. A censura e a culpa não
importam. É uma guerra e você é o prêmio. Se eles viverem, você não. Não
há porra nenhuma para se lamentar.
Mel recua e olha para o lado. Depois de um momento de silêncio,
ela abre a boca como se quisesse dizer mais, mas pensa melhor. Mel fecha
a boca e desce pelo corredor escuro, desaparecendo de vista.
Capítulo Treze
Eu pego um vestido, perfume, maquiagem e qualquer outra coisa
que preciso para me preparar esta noite. Eu vou ser bem sucedida ou
morrer na roupa que escolher para esta noite. Eu quero me sentir
poderosa, então tiro o vestido que fala comigo. Ele é branco e justo
chegando logo abaixo do meu joelho. O tecido estica para que eu possa me
mover. O decote da frente desce suavemente e flui sobre meus ombros em
um V profundo, estendendo-se além das minhas costas. Alças duplas
mantêm o tecido solto firmemente no lugar.

Depois de puxá-lo, deslizando através dos quadris apertados, eu


viro e pulo. Sean está de pé na porta do banheiro das garotas, com os
olhos escuros. O olhar intenso em seu rosto faz minha pele arrepiar. Ele
não se move. Ele permanece no limiar, congelado.

— Sean? — Eu digo seu nome suavemente e caminho descalço em


direção a ele, parando um passo antes de tocá-lo.

Os músculos do pescoço e da mandíbula estão tensos apesar de


sua postura casual. Se eu não o conhecesse melhor, acharia que estava
com medo. Sean inclina a cabeça para o lado, encostando-a no batente da
porta. — Eu poderia te esconder.

Eu me viro e caminho de volta para o balcão onde tenho minha


escova de cabelo, secador de cabelo e maquiagem espalhada. Eu levanto a
escova e passo pelo meu cabelo molhado. — Eu não quero viver assim,
Sean, pulando a cada som. Como está eu mal durmo.

Sua voz é profunda e gentil. — Isso vai mudar você, Avery. Se você
chegar ao outro lado, a mulher que olha de volta para você no espelho não
existirá mais.
— É um risco necessário. — Eu digo as palavras, mas elas soam
vazias. Sean está certo, mas não posso aceitar. Eu não quero nem pensar
nisso.

— Você só diz isso porque não tem ideia do que é viver do outro
lado.

Virando meu calcanhar eu olho para ele, irritada. — Sim eu tenho.


Eu já matei alguém. Lembra? Talvez não tenha sido nada para você, mas
ainda me deixa doente.

Ele caminha em minha direção, seu corpo firme se elevando sobre o


meu. — É o que eu quero dizer. Você o matou com uma arma e se sente
assim. Imagine se você matar com as suas próprias mãos. Essa sensação
nunca desaparece. Irá assombrá-la pelo resto da sua vida.

Volto-me para o espelho e passo a escova por outra mecha de


cabelo, desembaraçando-o enquanto vou. — É um risco necessário.

Raiva brilha em seus olhos. — Isso é besteira.

Algo dentro de mim se rompe e eu me viro para ele, apontando a


escova em seu rosto enquanto eu vomito palavras afiadas. — Besteira?
Besteira! Você sabe o que é besteira? Deixando uma pessoa de quem você
gosta presa nas mãos de dois sociopatas!

Sean se encolhe como se eu o tivesse esbofeteado. — Minha mãe?


Você está chateada por isso?

— Eu não estou chateada. Estou enojada. Eu não consigo imaginar


deixar meus pais para trás por qualquer motivo — até mesmo para te
salvar. E se eu fosse forçada a tomar uma decisão tão nauseante, com
certeza teria sido mais destruído com isso!

Ele está na minha cara, sibilando: — Você acha que isso não me
incomoda? Você acha que essa decisão não me dividiu?

— Não, você mal olhou para ela!


Os olhos de Sean suavizam. Sua voz fica moderada, equilibrada. —
Ela está viva, Avery. Isso chocou o inferno fora de mim. Então, novamente,
não. Você sabe por que eu fui capaz de ir embora?

— Você não deveria tê-la deixado lá. — Eu tento me virar, mas Sean
agarra meu braço com força e me puxa na frente dele.

Rosnando, ele fecha os olhos nos meus, seu corpo pronto para lutar,
— Eu a deixei lá porque é totalmente possível que toda essa merda caia
desse jeito por causa dela — que ela é um deles.

Meu queixo cai quando eu fico boquiaberta com ele, incapaz de


falar.

Sean puxa meu braço, estalando — Não me olhe assim.

Meus lábios rapidamente se curvam em um sorriso de escárnio. —


Sean, como você pode dizer isso?

— Como você não percebeu? Ela é uma cobra e sempre foi. A


natureza humana não é tão complicada, Avery. Minha mãe fará o que
sempre fez — cuidar de si mesma. Ela não dá a mínima para você, eu ou
qualquer outra pessoa a não ser ela mesma. Essa é uma verdade que
aceitei há muito tempo. É algo que você parece não entender, e eu não vou
deixar você descobrir da maneira mais difícil que minha mãe é uma cadela
sádica.

Eu tento puxar meu braço para longe e pisar em seus pés, mas
Sean segura meu pulso com mais força. Eu acabo por arremessar minha
escova de cabelo nele, mas ele desvia, deixando a coisa cair no chão. As
luzes amarelas acima pulsam lentamente como um gerador ligado. Sean
me empurra de volta para a parede fria e me prende no lugar. Seu olhar
está faminto, desesperado.

— Diga-me que você confia em mim. Em tudo, não apenas sexo. —


Ele inclina seu corpo no meu, me esmagando. Ele está tão quente, tão
tenso. Seu cheiro enche meus pulmões enquanto tento me afastar e
empurrá-lo, mas estou presa. Seu olhar de safira não sai do meu rosto,
mesmo que eu tente olhar para outro lugar. Quando eu não respondo, ele
levanta o braço e pressiona o antebraço no meu peito e, em seguida,
desliza para a base do meu pescoço.

Ele me observa, sabendo que eu odeio a sensação de estar presa. O


suor se forma na minha testa e está ficando mais difícil respirar sob seu
peso. — Avery, diga isso. Eu preciso saber de qualquer maneira.

Eu fecho meus olhos e viro meu rosto para longe dele. Ele me solta
e eu pulo com carga total, correndo para ele, empurrando-o de volta para
a pia, então ele tropeça para trás. Eu pego o ferro quente e o seguro em
seu rosto, prendendo-o com as costas arqueadas para trás até que seus
ombros tocam o balcão.

— Não é legal fazer as pessoas dizerem coisas que elas querem


manter privadas. — De onde vem isso? O que diabos eu estou fazendo? É
como se minha bússola emocional explodisse e arruinasse minha
capacidade de pensar.

O choque de Sean se esvai depois de um momento. Quando ele olha


para longe do bastão quente logo acima de seu cílio e olha para mim, mal
respirando. — Quando outras pessoas dependem de você, os fatos fazem a
diferença. Se eu soubesse como a noite iria acontecer, eu não iria te
pressionar, mas eu não sei nada. A menos que você vá me queimar, eu
sugiro que você coloque isso para baixo agora.

Eu não sei porque eu faço isso. Algo dentro de mim está gritando
com ele, dizendo a ele como me sinto. Minha mão se move quando eu
grito: — Eu não sou fraca!

As costas de Sean estão dobradas em um ângulo não natural,


tornando difícil para ele se libertar sem cair. Quando a chapinha vem para
ele, ele arrasta a perna para o lado e me deixa desestabilizada. Aquele
segundo lhe dá a vantagem. O ferro escaldante esfrega sua bochecha por
meio segundo antes dele arrancar a tomada da parede e jogá-lo pela sala.
Ele bate e cai no chão em algum lugar na área dos chuveiros.

Ele retira toda a porcaria que eu coloquei na pia, e ela voa antes
que ele me levante. Seus olhos são tão profundos, tão perdidos. Ele me
coloca na bancada gentilmente. Uma queimadura vermelha irritada
reveste seu rosto onde a chapinha tocou sua bochecha.

— Eu sei que você não é fraca. Isso não é o que eu penso em tudo.
Por favor, me diga que você sabe disso.

— Eu não sei o que você pensa sobre nada. Você nunca me diz...

Ele pressiona um dedo nos meus lábios, me silenciando. Ele se


inclina para perto, a boca sem fôlego. — Você é a mulher mais forte que
conheço. Você é uma sobrevivente. Você não deixa ninguém ditar sua
vida. Nunca desiste. Você nunca se renderá. Eu suspeito que seu mantra
é algo sobre brilhar e morrer enquanto luta por suas crenças. Avery, a
última coisa que eu pensaria de você, é que você é fraca. — Sua voz é
suave, calmante e perfeita. Suas palavras provocam arrepios na minha
pele, cada uma caindo como uma gentil carícia.

Meus olhos ficam vidrados e eu pisco algumas vezes e pergunto: —


Então por quê?

— Porque o que? Diga-me o que você está perguntando, baby,


porque eu não sei. Eu vou te contar qualquer coisa. Pergunte-me.

— Por que você me escolheu? — Eu grito. — Você poderia ter tido


qualquer pessoa.

Há uma pausa e depois Sean solta um longo suspiro e pressiona a


testa na minha. Olhando nos meus olhos, ele sussurra: — Eu me
pergunto o mesmo sobre você. Por que você me escolheu? Você poderia ter
qualquer pessoa.

— Ao mesmo tempo que isso é lisonjeiro, não é uma resposta. Sean,


por favor. Conte-me. Eu preciso saber.
— Eu escolhi você — eu quero você — porque você está em um
ponto na vida em que tudo está mudando. Eu admiro sua coragem, seu
otimismo e sua esperança. A maneira como você sorri e ri como se nada
dessa merda estivesse acontecendo é notável. O mundo pode estar indo
para o inferno ao seu redor — e está — e você ainda sorri. Por tudo isso,
você ainda se importa. Isso é o que me assusta, Avery. Esta noite é
diferente. Você está entrando nessa confusão sabendo que você terá que
matar. É diferente. Isso apagará esse sorriso e ele nunca mais voltará.

Meus lábios pressionam repetidamente em uma expressão nervosa


entre um sorriso triste e esperança. — Eu acredito em você. Eu sei que
isso poderia acontecer. Eu sei que vou mudar e quero que você esteja lá
comigo. Você passou por isso e voltou. Sean, você pode me salvar de
várias maneiras.

— Avery, não com isso.

— Eu sei que você pode me trazer de volta porque eu fiz isso por
você. É possível.

— Avery... — Seus lábios são uma respiração da minha.

— Eu confio em você, em tudo.

Eu enrosquei meus dedos no cabelo na nuca e inclinei a cabeça


para trás enquanto o puxava para mim. Quando sua boca pousa na
minha, eu o beijo suavemente, lambendo seus lábios em movimentos
suaves e firmes, fechando os olhos e saboreando tudo sobre ele. Suas
mãos fortes deslizam pelas minhas costas, pressionando contra a pele nua
acima do meu vestido. Ele varre a mão sob o tecido e cobre minha bunda,
puxando-me para ele enquanto o beijo se aprofunda.

Sean geme dentro da minha boca, e eu gostaria que tivéssemos


mais tempo, tempo para lutar, tempo para ficar enrolado nos lençóis e
tempo para explorar toda a maravilha que é Sean Ferro. Mas nós não
temos. É possível que um de nós sobreviva, enquanto o outro morre hoje à
noite. Estou dolorosamente ciente de que talvez não tenha a chance de
segurá-lo novamente. Sean deve estar pensando a mesma coisa, porque
ele move as mãos para baixo dos meus lados e para a bainha do meu
vestido, empurrando-o até as minhas coxas para que ele possa ficar mais
perto de mim. Seu beijo se aprofunda e percebo que esse é o Sean que eu
queria tanto. É o homem perdido entre a escuridão e a luz — o homem
sempre lutando para ser livre. Eu o tenho aqui neste momento. Eu tenho
os toques delicados, combinados com os movimentos fortes que fazem
meu coração bater forte.

Meu corpo se aquece, reagindo ao seu toque. Sua língua na minha


boca me faz ronronar, e eu inclino a cabeça para trás querendo mais, mas
Sean se afasta. Ele me segura com força por um momento, esmagando
meu rosto em seu peito, apoiando em minha cabeça.

— Se eu te perder... eu não posso, -— suas palavras são quase


inaudíveis, e então elas sufocam.

Eu agarro seus pulsos, puxando-os para o balcão, e deslocando meu


peso até que eu esteja prendendo-o lá. Obrigando seu rosto e aqueles
olhos tristes a encontrar os meus. — Você não vai me perder. Não essa
noite. Nunca. E se algo acontecer, se nos separarmos por um tempo...

Sean sacode a cabeça: — Avery, não...

— Sean, me prometa. Diga! Diga-me que você não vai voltar para o
monstro. Este é você. Aquele homem, o aterrorizante, não é você. Você se
importa. Você ainda se importa, eu sinto isso. — Sorrio baixinho para ele
e libero o aperto em seus pulsos antes de me inclinar. Desabotôo sua
camisa Oxford e pressiono meus lábios contra o peito dele. Sean não me
impede. Ele não me pede para não fazer isso. Aquele beijo gentil em seu
coração, sobre o que ele considera seu ponto fraco, diz muito. Eu levanto
a cabeça e olho nos olhos dele. — Prometa-me.

— Eu prometo. Para todo o sempre. Eu vou agüentar, mas você tem


que fazer o mesmo. Você não pode entrar no abismo. Ele vai ligar para
você, e você tem que dizer não. Se eu não estiver aqui, me prometa que
você continuará, continue sorrindo. — Sua respiração está quente,
derramando sobre mim enquanto ele fala. Seu tom está em meio termo, e
me pergunto se esta era a voz dele antes que sua vida fosse invadida por
sombras.

— Eu prometo.

Eu o observo por um momento, e quando seus lábios caem sobre os


meus, eu separo meus lábios e deixo que ele me beije profundamente.
Suas mãos seguram minhas costas enquanto ele me puxa para ele,
pressionando seu corpo contra o meu. Enquanto ele prova minha boca,
girando sua língua com a minha, eu arqueio minhas costas, empurrando
contra ele, desejando que eu pudesse ter mais. Não há tempo para isso.
Mel virá nos procurar a qualquer momento. Aliás, já estou atrasada.

Eu paro de pensar e deixo de lado a preocupação que está fazendo


minhas entranhas se contorcerem de medo. Pego as calças, soltando a
fivela antes de desabotoar a calça jeans e abaixar o zíper. Os lábios de
Sean se movem para o meu pescoço enquanto eu libero seu comprimento
duro. Eu o levo na minha mão e sinto sua pele quente ao meu alcance.
Deslizo minha mão sobre ele de novo e de novo, antes de puxá-lo em
direção ao V no topo das minhas pernas. Eu empurro o fio-dental fora do
caminho e guio-o para o lugar certo.

Sean tira a cabeça do meu pescoço e me observa guiá-lo. Seus


lábios se separam enquanto ele solta o suspiro mais pecaminoso que eu
poderia imaginar. Nós nunca somos tão gentis, tão suaves. Eu não quero
que ele se contenha. Assim que ele está no lugar certo, eu pego sua bunda
com as duas mãos e bato nele. Seu eixo desliza dentro de mim e eu
suspiro, jogando minha cabeça para trás. Sean permanece quieto
enquanto eu envolvo meus tornozelos em torno de sua cintura e pressiono
contra ele, empurrando meus quadris para os dele, fodendo-o com força.

Depois de um momento, eu grito com um pequeno clímax e me


agarro a ele, pulsando quando volto para baixo. É quando Sean assume.
Ele balança contra mim lentamente, pressionando mais profundamente,
espalhando minhas pernas ainda mais antes que ele me tire do balcão e
se incline contra a parede. Olhando nos meus olhos, ele impulsiona,
empurrando, segurando-se lá.

Ele sussurra em meu ouvido, sorrindo maliciosamente, — deixe-me


fazer isso. — Ele move seus quadris lentamente, me provocando, me
fazendo querer mais.

Eu não tenho ideia do que ele está falando, mas o desejo de lutar
contra ele está se tornando difícil de ignorar. — Fazer o que?

Ele empurra para dentro de mim e sussurra em meu ouvido: — Eu


quero fazer você gozar. Deixe-me. — Sua voz é profunda, um tom de
comando que me faz pensar no que ele quer fazer. Eu concordo, e ele me
move de novo, de volta para o longo balcão na parte de trás dos chuveiros.
Quando a escola estava em funcionamento, as meninas se sentavam em
frente a esse longo espelho para fazer o cabelo. Sean me coloca de volta no
balcão e, em seguida, agarra meus tornozelos, me puxando para a borda.
Meu vestido rola até a minha cintura, mostrando minha pequena
calcinha. Sean coloca os polegares ao redor dela e a arranca. Levanta até o
nariz e inala. A intimidade da ação faz com que borboletas surjam dentro
de mim. Elas voam dos meus dedos das mãos até os dedos dos pés, me
fazendo sentir leve e amada. Então Sean oferece um sorriso de lobo, enfia
minha calcinha no bolso e segura meus tornozelos sobre minha cabeça.
Ele empurra para baixo sua boxer e libera seu pau, antes de pressioná-lo
contra o meu núcleo.

Eu respiro fundo e gemo. Ele está duro, quente e eu o quero tanto


que me contorço. Sua mão desce na minha bunda, fazendo-a arder. —
Não se mova.

Eu tento ficar quieta enquanto ele me provoca duramente, movendo


seu pau sobre minhas partes sensíveis, mas não escorregando para
dentro. Eu gemo e tento cavar minhas unhas na bancada, implorando a
ele. Sua voz me faz abrir os olhos. — Avery, olhe no espelho enquanto eu
te fodo.

Eu olho para ele por um momento e viro a cabeça para o lado. Eu


posso vê-lo, me ver. Meus tornozelos estão em seus ouvidos, pressionados
em seu aperto firme. Ele empurra em mim lentamente, tomando seu
tempo sobre isso. Minha boca se abre em um ―O‖, e quando eu me
esqueço do espelho e olho para ele, há uma picada aguda na mão dele me
batendo.

— Só olhe no espelho, — ele rosna, empurrando mais forte desta


vez.

É tão difícil manter meus olhos abertos, mas eu faço. Eu olho


através de cílios baixos enquanto ele me fode na bancada, empurrando
com força e profundamente. O olhar em seu rosto, o modo como suas
costas se arqueiam com cada impulso é divino. Eu quero lamber cada
centímetro dele. Os olhos de Sean estão em mim enquanto eu mantenho
meus olhos no espelho.

Ele respira: — As expressões que você faz são lindas. Não feche os
olhos. — Ele me pressiona com força e, em seguida, puxa um pouco,
batendo em mim mais profundo desta vez.

Eu arrulho, sentindo o sorriso no meu rosto antes de vê-lo. Eu o


adoro. O olhar diz isso. Meus cílios estão abaixados e os cantos da minha
boca estão inclinados para cima. Minhas mãos estão perto do meu
pescoço, as pontas dos dedos enrolando um cacho.

Sean balança em mim, desenvolvendo um padrão que me deixa


louca. É quase como se ele estivesse me provocando de propósito, mas seu
pau está dentro de mim. Mesmo assim, quero mais. Eu gostaria de poder
senti-lo mais profundo. Eu choramingo, e ele desloca meus tornozelos e os
pressiona para trás, me dobrando ao meio. Ele os pressiona para o balcão
e sorri. — Você é flexível.

— É uma coisa boa também.


— Sim, é. — Ele beija a ponta do meu nariz, antes de perguntar: —
Você se importaria de segurá-los?

Eu não posso evitar, eu sorrio. — Então você pode fazer o que?

— Foder você sem sentido.

— Acho que sim. — Eu seguro meus tornozelos ao lado da minha


cabeça e então tudo muda. Quando ele empurra neste momento é muito
mais profundo, pressionando de uma maneira deliciosa que me faz gritar.
Eu imploro por mais, e ele me dá, empurrando mais forte, me fodendo
mais profundo. Ele balança em mim, uma e outra vez, me provocando,
puxando para o meio e depois empurrando com força. Ele me fode assim
enquanto eu vejo meu rosto no espelho. Minhas pálpebras estão pesadas e
minha boca está em constante O implorando por mais. Eu não tenho ideia
do que estou dizendo, mas eu resmungo e choramingo quando ele me fode
e, quando eu não aguento mais, ele entra em mim rapidamente até eu
sentir algo profundo dentro de mim. O orgasmo me atinge com força e
rapidez. Antes que eu perceba o que aconteceu, Sean cai de joelhos e
enterra o rosto entre as minhas pernas, lambendo o meu gozo em traços
lentos e molhados. Eu grito, segurando o balcão. Minhas pernas tremem e
caem porque não posso mais segurá-las no lugar. Enquanto meu corpo
pulsa, Sean pressiona sua língua dentro de mim, lambendo, saboreando e
me tocando até que eu esteja completamente satisfeita.

Quando ele levanta o rosto, sua nuca está brilhando. Ele sorri para
mim. — Você é perfeita. — Ele se afasta das minhas pernas e fica em pé.
Então ele se inclina sobre mim, me beija levemente e levanta minha
calcinha. — A propósito, vou ficar com esta.

Eu me sinto tão viçosa e leve. Eu tenho um sorriso idiota no rosto


quando pergunto: — Por quê?

— Para me lembrar que o sexo com você é melhor assim.


Eu me apoio em um cotovelo e pergunto: — E se eu quiser ter
medo sem sentido e foder duro? Quem eu deveria pedir para me fazer
então?

Sean corre para mim, fazendo cócegas em mim e me pega como se


eu não pesasse nada. — Eu sempre peço para te foder. Eu farei o que você
quiser, do jeito que você quiser. Eu só estou dizendo que esse tipo de sexo
não está fora da mesa. Na verdade, transar com você em uma mesa seria
muito divertido também. — Ele me balança e depois me coloca de pé.
Minhas pernas parecem gelatinosas, e eu balanço por um momento,
segurando sua cintura e desejando poder enterrar meu rosto em sua
virilha por um bom tempo.

Eu chupo meu lábio e olho para ele. Sean sorri. — Você é perfeita,
completamente, perfeita para caralho. Nunca mude, senhorita Smith.

— Eu não sonharia com isso, Sr. Jones.


Capítulo Quatorze
Sean se veste, me olhando com uma expressão perversa no rosto.
Ele puxa sua calça jeans preta, remexe-se no suéter apertado e coloca um
casaco preto por cima. Eu sorrio para ele e puxo o tecido em sua cintura.
— Onde você conseguiu isso?

Sean sorri de maneira infantil. — Marty. Ele disse que um dos


clientes regulares de Vic usa essa coisa e eu ficaria menos perceptível
nisso. Henry também tem um. Você gosta disso?

— Talvez se você estivesse nu por baixo. — Eu sorrio para ele e


beijo seus lábios suavemente. Eu me afasto, desejando que tivéssemos
mais tempo.

— Vejo você mais tarde.

— Você sabe que sim. — Eu sorrio enquanto ele se afasta, sentindo


meu peito se contrair até que eu não possa respirar. Nós dois agimos
como se as coisas dessem certo, mas se eu aprendi alguma coisa, é que
não há promessas na vida.



Meu coração não vai ouvir minha cabeça enquanto eu dirijo meu
carro velho em direção ao escritório de Miss Black. Esta é a última vez, a
última coisa que tenho que fazer para me libertar dela e de Vic Jr. Este
será o fim de tudo. Eu apenas tenho que sobreviver. A liberdade é um
objetivo atraente. As pessoas lutaram por isso, morreram por isso. Várias
gerações de pessoas tiveram pior do que eu. Eu não pretendo liderar uma
revolução. Não sou essa garota. Eu tenho certeza que eu não sou essa
garota também, mas neste momento, eu só tenho duas opções — morrer
ou lutar. Então eu agarro o volante até meus dedos doerem e desviar do
tráfego até que eu pare na frente de uma farmácia. As borboletas no meu
estômago têm asas afiadas e me cortam por dentro. Estou pronta para
vomitar novamente, mas não tem nada a ver com Black.

Eu esfrego a mão sobre o meu estômago em um movimento suave.


Não me escapou que eu me senti cansada e enjoada nas últimas semanas.
Parece estar piorando, não melhora. Eu não sou idiota. Sei o que isso
significa. Eu sei que não é stress. Mas eu quero a prova. Preciso saber
com certeza.

Saio do carro, entro na loja, ando pelo corredor e pego um teste de


gravidez na prateleira. Com o coração martelando, meio querendo que seja
verdade e meio temendo o pensamento de passar a noite com um bebê na
barriga, eu vou em direção ao caixa. No momento da saída, meus olhos
estão vidrados.

A caixa tem trinta e poucos anos, cabelos ruivos desgrenhados,


enrolados em um coque e presos por um lápis. Ela sorri para mim. —
Você está bonita.

Eu olho para ela. — Obrigada. — Meu rosto está comprimido de


preocupação.

Ela tem pena de mim, inclinando a cabeça para o lado, dizendo: —


Há um banheiro nos fundos. Normalmente é reservado apenas para
funcionários, mas é seu se você quiser. Ninguém vai te incomodar por lá.
Somos só a Tina e eu esta noite.

— Obrigada. Sou grata por isso.

Ela assente secamente, abaixa a cabeça e caminha com passos


decididos em direção à parte de trás da loja. Eu a sigo com o meu item
escondido em um saco plástico. Nós passamos por uma porta e depois
para uma sala de descanso. Há um pequeno banheiro na parte de trás.
Ela acende a luz e sorri gentilmente para mim.
— A vida é um desafio para se viver e ainda mais difícil de planejar.
Você pode fazer isso, no entanto. Aguenta aí. Ela aperta meu ombro e eu
quase começo a soluçar, apenas conseguindo me segurar sem responder.

Eu aceno para ela, entro no banheiro e fecho a porta. Eu tenho que


estar grávida. Eu estou completamente louca. A gentileza está me fazendo
soluçar, e se eu ver outro comercial de loção de bebê, vou comprar ações
da Kleenex. Eu não espero. Não demoro e olho para a caixa. Rasgo a
embalagem, leio as instruções e, depois de fazer tudo certo, espero.

Dobro meus braços no peito e começo a me olhar no espelho. Meu


polegar está entre meus lábios e estou pronta para mastigar minhas
unhas. Eu quero pular, gritar e rir de uma vez. Enquanto fico lá e vejo a
caixa de controle acender meu coração bate mais forte. Eventualmente,
minhas mãos envolvem o meu meio, e eu seguro com força, esperando,
observando. Há um buraco no centro do meu peito que vai se encher de
calor se for positivo. Eu posso sentir isso. Acidente ou não, eu quero esse
bebê. Eu nunca teria coragem de planejar uma gravidez e dar boas-vindas
a uma pequena vida nesse mundo. Nem em um milhão de anos.

Meu estômago azeda enquanto espero e assisto. São dois minutos


de tortura. Dois minutos de sonhos, coisas que eu jamais diria que eu
nunca sonhei antes. Minhas unhas cravam em meus braços quando eu
me afasto do teste. Até agora não há segunda linha, nada. Eu não posso
ficar olhando, assistindo e vendo nada acontecer. Talvez eu não esteja
grávida. Talvez seja o estresse ficando totalmente louco. Eu quero chorar.
Sinto que perdi o bebê que nunca tive. Uma lágrima desce pela minha
bochecha, bagunçando minha maquiagem.

— Pare de chorar, — eu me repreendo em voz alta. — Há outras


coisas mais urgentes acontecendo esta noite. Foco, Avery! — Eu respiro
profundamente, endireito a coluna e viro para pegar o teste e jogá-lo no
lixo.

Quando olho para o pedaço de plástico, há uma segunda linha.


Estou grávida.
Capítulo Quinze
Eu suspiro, e isso se transforma em um grito feliz. Eu rio, pego a
vareta que eu fiz xixi e pulo para cima e para baixo. Eu quero contar a
alguém, mas não posso dizer ao Sean ainda. Temos que passar a noite
primeiro. Há uma boa chance de eu não sair disso e ele sim. Ele
sobreviverá porque ele sempre sobrevive. Eu acredito nisso. Eu tenho que
acreditar ou fico louca pensando na alternativa. Eu não poderia deixá-lo
passar pela perda de um filho novamente. Ele vai morrer por dentro. O
monstro irá consumi-lo totalmente desta vez.

Eu puxo a porta e viro para a funcionária. — Estou grávida. —


Minha voz está trêmula e minhas mãos tremem. Eu ainda estou
segurando a vareta como se ela fosse uma barra de ouro.

Ela dá um mega sorriso para mim. — Parabéns! Você vai ser uma
ótima mãe. Eu posso dizer o quanto você quer esse bebê. Não foi
planejado, foi?

Eu balanço a cabeça. — De modo nenhum. Eu estou tomando


pílula. Não tenho certeza do que aconteceu.

Ela encolhe os ombros. — A vida acontece inesperadamente às


vezes.

Eu amo essa música. Eu aceno para ela. — Sim.


Capítulo Dezesseis
Puta merda. Tem um bebê dentro de mim. Um bebê! Isso não pode
estar acontecendo. Estou tão animada que não consigo pensar. Eu vôo
para Black e percebo que preciso desacelerar e focar. Ela não pode saber
disso. Nunca. Eu preciso ser uma empresária fria, assim como ela. Se
Black não acreditar em mim, se ela não estiver certa de que eu terminei
com Sean e farei qualquer coisa que vier pela frente, eu estou ferrada —
todos nós estamos. Eu solto mais um grito, excitada pelo bebê, e bloqueio
o pensamento no fundo da minha mente junto com um monte de outras
coisas que eu não posso lidar agora.

Esta parte do plano pesa nos meus ombros, me esmagando. Eu


paro na frente do prédio de escritórios de Black.

— Você pode fazer isso, Avery. Você pode fazer isso —, eu canto,
não acreditando. Eu puxo o retrovisor, com a intenção de me dar uma
conversa de motivação mais elaborada. Ele sai na minha mão. Eu olho
para o clipe de plástico nas costas e viro o espelho na minha mão. O vidro
brilha para mim e começo a rir. Mesmo que Sean tenha reparado e
restaurado este carro de pára-choque a pára-choque, ele ainda tinha uma
parte original. Eu sorrio para mim mesma e afundo de volta no meu lugar.

Minha vida tomou uma tangente selvagem, voando para um


território que eu nunca ousaria olhar, levando-me a entrar em uma zona
de guerra como a presa e o prêmio. Não é de admirar por que a mamãe
sempre foi frenética. Eles esconderam isso de mim tão bem, que eu nunca
tive uma pista. Papai sempre fazia questão de estarmos sob o radar e
mamãe era uma mãe. O que mais uma criança poderia pedir?
Inclinando-me para frente no meu assento, coloco o espelho no
painel e passo minha mão pela minha barriga uma última vez pensando
que é uma garota. Deve ser. Eu posso sentir isso, o que não faz sentido.

Eu digo para o bebê, pela primeira vez e possivelmente a última: —


Você e eu não vamos fugir. Nós não vamos nos esconder. Nós estaremos
livres de tudo isso. Eu prometo isso a você.

Determinação que eu não sabia que possuía, flui pela minha


espinha, endireitando-me, enchendo-me de coragem. Eu sobreviverei. Eu
vou passar por isso. Eu tenho que fazer isso. Por ela.



Quando as portas do elevador se abrem, Gabe está lá. Ele está de


terno preto e camisa branca. Uma gravata escura está amarrada em volta
do pescoço e seus sapatos bem gastos são recém-engraxados. Ele acena
para mim e aperta um botão com um dedo musculoso, levando-nos ao
andar de cima.

— Boa noite, senhorita Stanz.

— Hey, Gabe. — Eu estou com os ombros para trás, olhando para


frente.

Ele não diz nada sobre Mel ou Sean. Nada sobre o plano desta
noite, mas sei que ele vai me proteger. Eu aceno para ele quando as portas
se abrem, depois saio do elevador. Em passos lisos e longos, eu ando pela
sala, passando por mesas vazias, e caminho direto para o escritório de
Black sem bater.

— Olá, Sta. Black. — Eu falo com autoridade, com a confiança que


eu não senti até alguns momentos atrás.

Ela está em sua mesa, irritada, entrei sem ser convidada. — Avery,
suas maneiras poderiam ser trabalhadas.

— Assim como as suas. — Estou segurando minha bolsa na minha


frente e inclino meu queixo para cima.
Black oferece um meio sorriso e levanta-se. Um vestido vermelho
abraça sua forma esbelta, escavando no pescoço, e seguindo seu corpo até
abaixo do joelho. Uma corrente grossa de ouro está pendurada no
pescoço, com três chaves decorativas penduradas no final. Cada uma tem
um tom diferente de ouro — amarelo, branco e ouro rosa. Uma chave é
simples, lisa, enquanto a outra tem diamantes brilhando ao longo do eixo.
Elas são as chaves de sua mesa de cabeceira, o conjunto escondido na
gaveta secreta. Seus lábios estão pintados de vermelho sangue.
Juntamente com suas feições angulares, maquiagem escura dos olhos e
cabelos escuros, ela está impecável. Nada é melhor que isso. Miss Black
sempre parece melhor que todos. Ela se orgulha disso.

Ela arqueia uma sobrancelha perfeitamente depilada enquanto


caminha em minha direção, os braços delgados dobrados sobre o peito
amplo. — Nós ganhamos coragem? — Ela para na minha frente, olha para
o meu rosto a menos de trinta centímetros de distância.

— Talvez ela estivesse lá o tempo todo. — Tenho o cuidado de não


sorrir e reprimir minhas emoções, escondendo-as. Elas vão me foder
demais. Eu tenho que ser fria, copiá-la fielmente. Ela precisa pensar que
eu gosto dela, que eu quero ser como ela. Ela precisa acreditar de todo
coração.

Black ri levemente. — Eu teria visto isso.

— Sei que sim. — Eu passo mais perto dela e encontro seu intenso
olhar. Black não é o tipo de mulher com quem você brinca. Ela vai limpar
o chão comigo se eu a irritar. Há uma linha tênue entre confiança e
arrogância. Espero que esteja do lado certo porque comer carpete não
parece atraente. — Você viu isso em mim desde o primeiro dia. Você sabia
do meu potencial e me chamou. Eu fui à idiota que negou isso.

Black inspira lentamente, como se estivesse usando um cigarro.


Seus olhos estão fixos nos meus, me esmagando sob o seu olhar. — A
bajulação é imprópria.
— Fatos, — eu corrijo, — estão longe de lisonja, Miss Black.

Ela estreita os olhos para fendas e varre o seu olhar sobre mim.
Com uma unha bem cuidada, ela aponta para a balança. — Suba. Pare de
perder tempo. — Suas últimas três palavras não são afiadas. Eu posso
dizer que ela gosta de ter seu ego acariciado, então eu não vejo isso vindo
quando ela me surpreende.

Larguei o vestido e subi na balança. Ela me mede, escreve, e depois


senta na beira da mesa sem me dar permissão para me vestir. Então eu
fico lá, com pouca roupa, olhando para os saltos polidos, vermelho foda-
me.

Sua voz é profunda, direta e atada com um tom de aviso. Ela


equilibra a caneta entre os dedos indicador e médio, movendo-a para cima
e para baixo. Um movimento inquieto. Ela nunca se comportou assim.
Espero que ela fale e fique quieta, absorvendo a tensão em sua mandíbula
e a maneira como ela tenta parecer relaxada, mas ela não consegue. Eu
não teria percebido quando a conheci, mas faço agora. Ela está
preocupada.

— Eu tenho um problema, Avery. Um dilema muito sério. Como eu


vou saber, estar totalmente confiante de que você fará o que eu pedir sem
perguntas hoje à noite? No passado, você provou ser imprudente e, com
esse cliente, não pode ser. Você tem que me obedecer completamente sem
qualquer discernimento, sem qualquer razão. Eu não acho que você é
capaz disso. Sua aparência, sim, é perfeita. Ele prefere uma mulher com
quadris mais largos, mesmo em um papel consultivo. Mas sua disciplina é
totalmente deficiente.

Eu não discuto com ela. Eu sinto todo o plano saindo de minhas


mãos, indo em direção a uma queda livre. Tem que ser agora, esta noite.
Tudo está no lugar. Por um momento, acho que ela sabe que estávamos
em sua casa. Talvez Connie tenha dito a ela. Talvez ela tenha notado o
abridor de cartas que faltava. Droga.
No passado, meus pensamentos teriam tocado no meu rosto como
um filme, mas não hoje à noite. Eu fico ali, ombros retos, relaxados, mas
confiante. Um pensamento passa pela minha cabeça. É um pouco insano,
mas percebi isso antes, e é impossível ignorar agora. A maneira como os
olhos de Black permanecem nos meus quadris e no inchaço dos meus
seios. Eles permanecem lá por muito tempo. Seus lábios se separam e ela
pisca lentamente, pensando em algo que ela não pode ter — algo que ela
quer fazer, mas sabe que não deveria.

Eu ajo. Ela tem que acreditar que é sincero ou não vai funcionar.
Eu não sou essa mulher. Eu não me sinto assim, mas sei que ela se sente
assim. Eu passo em direção a ela nos meus calcanhares e inalo
lentamente, deixando o ar fazer meu peito subir. Meus seios se esticam
contra a renda pura, enchendo o sutiã. Chego a um sussurro do rosto de
Black, perto o suficiente para beijá-la, mas sem tocá-la. Eu movo meus
lábios lentamente, com cuidado para mal escovar o lado de sua boca
quando falo.

— Talvez você nunca tenha percebido onde minha lealdade


realmente reside. — Eu puxo um pouco para trás, o suficiente para ela
chamar minha atenção. Quando nossos olhares se fecham, meu pulso
ressoa em meus ouvidos.

Seu olhar cai para os meus lábios, depois para o meu sutiã e de
volta para minha boca. — A lealdade é rara

— Estou ciente disso.

Black me olha com cautela, mas ela não se afasta. — O que você
está sugerindo?

— Nada que você não queira. — As palavras saem dos meus lábios,
lentamente, com certeza.

Black está fascinada, me observando de perto, respirando com


tanta força que seu peito incha, fazendo seus seios escovar os meus por
um momento antes de expirar. Black persiste, lutando contra isso. Ela
sabe que eu estou morta, depois de hoje à noite. Eu suspeitava que ela me
queria, mas eu não tinha ideia do quanto. Ficar tão perto por tanto tempo
está atormentando-a, mas ela parece não conseguir se recompor. Eu
abalei a mulher com o coração de pedra.

Eu me arrisco de levantar a mão e pegar uma mecha de seu cabelo


escuro, deixando-a cair em uma onda suave por seus olhos. Eu a varro de
volta suavemente, mal tocando sua pele e ela estremece. Finalmente a
peguei. Eu entendo-a. Sexo é poder, mas ela não tem interesse em
homens. Agora não. Seu interesse por Sean nunca foi sobre ele — era eu.
Ela me queria para si mesma. Isso muda as coisas. Eu posso usar isso.
Isso pode nos salvar.

Eu tenho essa chance. Tenho que ter. Há muitas vidas na linha, e


não apenas a minha. Eu me inclino e fecho a distância entre nós, roçando
meus lábios nos dela. Ela para de respirar, congela. A caneta cai dos seus
dedos e rola sob a mesa. Eu abro meus olhos e me concentro em seus
lábios, fingindo que ela é Sean. Penso em como ele me deixa excitada e
esqueço-me de mim por um momento. De olhos fechados, eu me inclino e
pressiono meus lábios completamente nos dela, acariciando a costura do
seu lábio com a minha língua. Black estremece e suspira antes de se
desfazer. Sua mão encontra minha bochecha e eu me forço a pensar nessa
mão como sendo a de Sean. Eu finjo que ela é ele, inclino-me em sua
palma e a beijo mais profundamente. Ela ronrona na minha boca e
emaranha as unhas no meu cabelo enquanto ela se levanta e pressiona
seu corpo no meu.

Uma voz e uma batidinha de dedos na porta aberta soam atrás de


mim. — Isso é um novo requisito de trabalho? — Mel pergunta, meio
brincando.

Tremendo, Black se afasta rapidamente. Seus olhos brilham com


uma suavidade que eu nunca vi nela. Eu não sou aquela que quebra o
beijo. Eu não sou aquela que se afasta. Ela faz e praticamente anda atrás
de sua mesa como um gato assustado. Mel a pegou tão desprevenida que
Black parece incapaz de falar, então eu falo.

— Sim, venha aqui. — Eu estendo meus braços para ela e sorrio.

Mel bufa e acena a mão para mim. — Se não se importa, eu prefiro


homens.

Eu encolho meus ombros e minto, — isso é o que eu pensava até


muito recentemente. — Eu me viro e olho para Black por cima do meu
ombro com uma serena confiança que eu com certeza não sinto. Minha
mente estava ficando louca e meu corpo estava confuso. Adicione um
comercial de loção para bebês e eu vou agir completamente insana de
todas as maneiras possíveis de uma só vez.

Mel me dá um olhar ‗Que Diabos é Isso‘ quando Black está com os


olhos no chão. Eu dou de ombros como se não fosse um grande negócio e
depois dei a ela um olhar que dizia para esquecer isso. — Mudando de
lado? — Há um duplo significado para a pergunta dela, uma nitidez que
me preocupa.

Black recupera o controle de si mesma novamente. Ela levanta a


cabeça rapidamente e repreende Mel. — Escolher os lados não é
necessariamente uma mudança, não quando ela não tem escolha. Peço
desculpas por ignorar esse aspecto das coisas. Não vai acontecer de novo.

O queixo de Mel cai e eu sorrio. — Não se desculpe. Nunca. Você é


melhor que isso. Melhor do que todos nós.

Os olhos de Mel se arregalam quando a testa dela se enruga, mas


Black não vê. Seus olhos estão em mim, trancados com os meus. Eu
apenas tomei a melhor decisão ou a pior possível. Ainda é cedo para dizer.

Black me observa, seus olhos suaves e sua expressão ilegível. Eu


não tenho ideia do que ela está pensando, mas quando ela sai e olha para
Mel, ela voltou a ser como era antes. — Senhoras, o cliente desta noite
tem gostos incomuns. Fico feliz em ver que você está disposta a ir além,
Miss Stanz.

O jeito que ela olha para mim faz minhas bochechas queimarem.
Eu não escondo meu rosto. Eu apenas aceno. Não é de estranhar que ela
use meu sobrenome. Ela prefere a formalidade com aqueles que ela
respeita. Isso me distinguiu de Mel em sua mente. Não tenho certeza se
isso é bom, mas pelo menos agora eu sei o que a enfraquece. Isso pode me
ajudar a ganhar vantagem se eu perder hoje à noite. Eu farei qualquer
coisa, tentarei qualquer coisa para superar isso. Não gosto do pensamento
de Black acabar em um saco preto, mas é um mal necessário. Fechada,
sem vida e por trás de uma camada de plástico, é a única maneira de ficar
livre dela.

Algo no fundo da minha mente grita, forçando um tremor nos meus


braços. Minha pele se arrepia em uníssono, das pontas dos dedos ao
pescoço, em uma onda rápida. É preciso tudo o que tenho para manter as
emoções longe do meu rosto, para permanecer estóica — forte. Mas eu
sinto isso mesmo assim. O sangue em minhas mãos, o homem que atirei o
homem que descansa na floresta. Sua localização é desconhecida. Sua
família nunca mais o viu. Ele desapareceu sem deixar vestígios, e eu fui à
responsável. Sei que foi autodefesa, mas isso não faz nada pela minha
consciência. Eu poderia e deveria ter tentado encontrar outro caminho. O
homem teria vivido. Eu poderia ter sobrevivido. Matar nunca é justificado
e, no entanto, aqui estou me preparando para massacrar as pessoas que
tentam me matar. É um movimento preventivo. Isso é justificado. Mas
parte de mim sabe que não é. A parte de mim que é empurrada para o
meu armário mental, trancada para sempre, banida da luz do dia porque
eu não posso encarar esses fatos, grito de angústia. Eu não gosto de quem
eu me tornei. É tarde demais para mudar o rumo. Se eu fizer, meus
amigos morrem comigo.
Black pisca para mim, esperando por uma resposta a uma
pergunta que eu não ouvi. Mel arregala os olhos e levanta as
sobrancelhas, me dando uma cara de 'responda a ela, sua idiota'.

Em algum momento, os esqueletos no meu armário se


transformaram em demônios. Eles não estão sem vida, esperando para
serem descobertos. Eles estão se formando logo abaixo da superfície,
sempre ali, ansiosos por uma chance de me arruinar. Eu não sou tola. Sei
que filtrar as coisas que fiz só vai me fazer desmoronar. Se eu tiver que ser
uma maldita sociopata para viver esta noite, eu serei, eu farei. Eu não
penso duas vezes. Vou me matar para ter certeza de que meu bebê tenha
uma chance de viver. Eu vou destruir qualquer chance que eu tiver de
conciliar quem eu sou com o que eu fiz, se isso significar que Sean será
capaz de segurar sua filha. Eu me pergunto se é assim que Constance
acabou do jeito que ela é, se ela chegou muito perto da beira do declive
escorregadio e uma vez caída, não poderia subir. A corrida para o fundo
não é gloriosa. Não é nobre. É desprezível e eu faço parte disso. Eu não
sou melhor que Constance. Não melhor que Black. Eu engulo em seco
enquanto esses pensamentos passam pela minha mente. Eles vêm em
uma explosão rápida que mal consome o tempo necessário para expirar.

Eu me protejo, enquanto tento impedir a onda de horror que cresce


dentro de mim. — Não tenho certeza se entendi isso. Você pode dizer isso
de outra maneira?

Mel suspira tão alto que ela cospe. Ela fala com as mãos, irritada.
— Sta. Black quer que fiquemos juntas esta noite. Ela está fazendo uma
introdução que tem conexões com pessoas que você vai querer como
clientes quando for uma cafetina. — Mel sabe que eu não estava ouvindo e
repete os fatos, então eu não sinto falta de nada. — Black montou a
introdução, e já lhe apresentou os termos. Tudo o que você tem a fazer é
aparecer com sua folha de especificações e acompanhá-lo, preenchendo-a.
Ah, e ela vem com a gente. — Mel move um dedo na direção de Black e me
lança um olhar sem esperança.
Black não deveria estar lá. Isso não faz parte do plano e causa um
grande problema para o resto de nós. — Desculpe-me, você está vindo? —
Eu olho para Black e sorrio para ela suavemente, abaixando a minha voz
para um sussurro gentil. — Isso não é realmente necessário, é? — Eu toco
seu braço com as pontas dos meus dedos e mal escovo sua pele.

Black fica rígida, parando no meio da respiração, com os pulmões


enchendo o peito. Isso força seus seios a inchar e empurrar o tecido
vermelho de seu vestido. Seus olhos escuros encontram os meus e ela
solta a respiração lentamente. — Não, não é. Na verdade, eu não planejei
acompanhá-la. No entanto... — sua voz se esvai enquanto seu olhar
permanece trancado no meu com uma expressão ilegível. Isso é
arrependimento? Eu não posso dizer.

Mel oferece: — Eu posso lidar com ele, se necessário. Além disso,


Gabe estará por perto, então você só precisa ir se quiser.

— E eu quero. — Há um caráter decisivo em seu tom, que fecha a


conversa.

Eu olho para Mel e sei que nós duas estamos pensando a mesma
coisa. Estamos ferradas.
Capítulo Dezessete
Nós deveríamos conversar com Gabe no caminho para a
propriedade de Vic Jr., finalizar qualquer mudança de último segundo
com Marty, e então nos encontrar com Sean e Henry assim que
estivéssemos dentro do prédio. Isso não é possível com o Black no
reboque.

Sento-me no fundo da limusine e troco olhares nervosos com Mel.


Nenhuma de nós diz uma palavra enquanto nos dirigimos para a costa sul
de Long Island. Gabe não olha para nós, não tem nenhum sinal de tensão
no banco da frente. Eu me pergunto há quanto tempo ele está disfarçado
porque estou pronta para vomitar.

Eu torço a pulseira de ouro em volta do meu pulso e esfrego a conta


preta redonda entre meus dedos. Os de Mel coincide com os meus, mas
ela não se incomoda. O movimento atrai os olhos de Black e ela olha para
os meus dedos, a pedra e depois para o meu rosto.

— Você tem o bracelete ajustado, eu vejo.

O que? Eu olho para a faixa de ouro. É idêntico ao antigo, com uma


exceção: é do tamanho certo. Eu esqueci que meu bracelete original era
tão grande que eu tive que usá-lo no meu tornozelo. Black percebe
pequenos detalhes como esse, detalhes que Henry ignorou ao fazer as
pulseiras.

Eu sorrio como se fosse uma boa lembrança e largo a conta. — Sim,


ele se encaixa muito melhor agora. Não cai.

Black inclina a cabeça, estende a mão e espera que eu ofereça meu


pulso. Mel cuidadosamente nos ignora. Se as pulseiras não chegarem
dentro da casa de Vic, então estamos todos fodidos. Meu coração bate
quando eu ofereço meu pulso para a mulher. Ela pega minha mão e
examina o ajuste, balançando a cabeça e soltando meu braço.

— Bem feito.

Eu engulo em seco e não digo nada. Seu olhar retoma o olhar vazio
para frente. O carro enche com uma tensão palpável, quanto mais nos
aproximamos da casa de Vic. Quando chegamos, entramos no caminho
sinuoso e alinhado de árvores e nos dirigimos para a grande casa. É
afastado na propriedade, oferecendo isolamento e privacidade como um
bastardo doente como Vic precisa.

Meu coração bate em minhas costelas e minhas mãos ficam


escorregadias de suor. Eu me concentro na missão, tentando permanecer
calma. Se eu perder minha merda, não vou poder pensar. E é evidente que
vou precisar estar alerta hoje à noite. O carro puxa para dentro do círculo
em frente à casa. A fachada é de ardósia e pedra cinzenta. As luzes
inundam a pedra, acentuando as linhas arquitetônicas do prédio. Árvores
altas e estreitas formam pináculos nos canteiros de flores, e no centro do
círculo há uma enorme fonte, grande o suficiente para nadar. Tem quatro
níveis onde a água escorre para uma base enorme, que mais parece uma
piscina no solo do que um adorno de paisagismo.

Gabe para o carro, dá a volta e abre a porta para Black. Ela desliza
para fora e se endireita. Mel sai em seguida, deixando-me sozinha no
carro. Gabe me oferece sua mão, e quando eu aperto a palma da mão na
sua, sinto o raspar de papel sendo pressionado na palma da minha mão.
Eu não digo nada e finjo ajustar a alça do soutien depois de levantar. Eu
me viro brevemente, ajusto meu soutien e enfio o pedaço de papel fora de
vista. Eu não posso ler agora. Ela vai ver.

Gabe percebe, mas não diz nada enquanto volta para o banco do
motorista e se afasta. Meu estômago se enche de chumbo e não consigo
fazer meus pés se mexerem. A morte espera por mim naquela casa. Eu
não posso ir.
Black se move em passos largos e rápidos em direção à enorme
porta da frente. Mel está atrás dela até perceber que não estou me
movendo. Eu mal posso respirar. Parece que tem um elefante sentado no
meu peito.

Mel engancha o braço no meu e se inclina, sussurrando: — Você


pode fazer isso.

Não digo nada. Em vez disso, olho para a porta e sinto meu
estômago afundar em meus calcanhares. — Isso não está certo.

— Não me diga, mas não há muitas opções agora. Nós não podemos
abortar. Ela saberá que sabemos. Porra, Vic vai saber e ele virá atrás de
nós. Esta é a nossa única chance. Mova seus pés. Pare de pensar. Apenas
aja.

Eu dou um pequeno aceno e olho para ela. — É isso o que você faz?

— Sim, há uma razão pela qual eu pratico com facas, Avery. A


memória muscular é mais rápida que qualquer outra coisa. Não pense.
Apenas aja.

Black está na porta, olha para nós lentamente caminhando em


direção a ela e toca a campainha.

Eu sussurro: — Tudo bem. Quando Marty estiver aqui, tudo ficará


bem. Ele levará a pulseira para a sala de segurança e Sean virá para mim.

— Certo. Marty já resolveu tudo. Quando o encontrarmos, a parte


mais difícil dessa merda vai acabar. O resto depende de Marty, Sean e
Henry. Então você e eu damos o fora.

Eu aceno e olho para ela. — No caso de não conseguirmos...

Mel me interrompe: — Nós vamos conseguir. Tudo bem, então não


há necessidade de nenhum sentimento agora. Foco. Temos que prender
Black e Vic por tempo suficiente para Marty colocar Sean e Henry dentro.
Nós podemos fazer isso.
— Black pode pôr tudo a perder.

Mel olha para Black. — Eu sei.

— Bem, então o que faremos?

— Nós improvisamos e lutamos como o inferno. — Antes de


estarmos ao alcance da voz de Black, Mel libera meu braço, finge estar
ajustando meu vestido, puxa a saia e alisa o corpete. — E lembre-se,
sobreviver justifica qualquer coisa. Não pense. Apenas aja.

Eu me viro para a porta da frente e sinto um dedo gelado percorrer


minha espinha quando a porta gigantesca se abre, e a luz se derrama na
soleira da porta. A voz escorregadia de Miss Black enche minha cabeça, —
Aqui é Sta. Black para ver Victor. Eu tenho uma reunião.
Capítulo Dezoito
Somos levadas por corredores por um homem que eu nunca vi
antes. Eu olho em volta, procurando por Marty, mas não o vejo. O pânico
tenta arranhar o meu intestino e entrar na minha garganta, mas eu o bato
de volta. Isso não significa nada. Enquanto andamos pela casa, Mel e eu
seguimos Black em silêncio. O mordomo — com um terno preto elegante
— abre uma porta para uma sala com enormes janelas em uma das
extremidades, painéis de madeira do chão ao teto, com entalhes grossos e
molduras ricamente esculpidas.

Ele nos leva para dentro. — Sr. Campone estará com você em
breve. Por favor, fique à vontade. O homem recua, fechando as portas
atrás de si.

Isso não está certo. Marty deveria ter nos encontrado no caminho.
Esse foi o plano. Eu olho para Mel, que parece totalmente calma. Ela
caminha até as janelas e olha para o extenso gramado. Os enormes
holofotes iluminam áreas do pátio, acentuando uma piscina olímpica,
bangalôs e uma quadra de tênis. As árvores formam uma parede de
sombras escuras na parte de trás da propriedade.

Sta. Black passeia pela sala até uma escrivaninha velha e senta na
cadeira de couro de espaldar alto atrás dela. Ela se instala e passa os
dedos como se fosse dona do lugar.

Eu quero andar, mas não posso. Dou uma olhada para Black e vejo
seus olhos. Sinto meus lábios se transformarem em um sorriso nervoso.
Ela olha para longe de mim, seus olhos cortando para o lado rapidamente.
As borboletas no meu estômago se transformam em pedra e caem uma a
uma até que eu esteja tão enjoada que estou pronta para vomitar. Vou até
uma seção de estantes embutidas e puxo um livro velho e grosso da
estante. Eu abro e finjo ler, cuidadosamente puxando a nota de Gabe e
colocando-a no centro da página. Há duas palavras rabiscadas
apressadamente. Oito pequenas letras que me atravessam, me rasgando:

ELA SABE

Sinto minhas costas endurecerem enquanto fecho o livro com o


bilhete ainda dentro e coloco de volta na prateleira. Antes que eu possa
dizer qualquer coisa para Mel, as portas se abrem e Vic entra com dois
homens atrás dele.

Vic está vestido com uma calça preta que abraça o quadril e tem a
cabeça recém raspada. Seus olhos são duros e sem vida, o que parece
ainda mais inquietante quando combinado com o sorriso brincalhão em
seus lábios. Uma pontada gelada de pânico corre pelas minhas veias
quando ele olha em minha direção. Ele abre os braços com um sorriso
como se fosse me abraçar. — Mana! Bom te ver de novo. Você fugiu tão
rápido da última vez, que não conversamos sobre negócios.

Eu me forço a cuspir com calma o nome dele. — Victor.

Mel olha para o homem lentamente e examina seus lacaios. São


três a três, supondo que Black esteja do nosso lado. Eu posso dizer que
ela está se perguntando a mesma coisa. Quanto mais ficamos sem avistar
Marty, pior eu me sinto. Significa que nada deu certo e já estamos mortas.

Vic se vira para Miss Black e ri amargamente. — Eu não me lembro


de você ter sido convidada aqui hoje à noite.

Seus dedos se juntam e ela olha para ele, completamente calma. —


Prazer em ver você também, Victor. Há um assunto que precisamos
abordar antes de qualquer outra discussão esta noite.

Victor não esconde sua fúria. — Você está fodendo comigo? Você
sabe o que eu faço com as pessoas mentirosas de meia tigela, não é,
Black? Eu sei que você sabe, então o que é tão importante que você
arriscaria me irritar?
Black se levanta, anda diretamente em minha direção e passa os
dedos ao redor do meu bracelete.

Ela puxa e o fecho aparece, quebrando a corrente de ouro. — Isso


não é meu. Você pode querer investigar antes que a noite avance. Eu
odiaria ver você gastar um bom dinheiro em algo que não virá a ser
concretizado. — Ela balança o bracelete de ouro sobre a palma da mão
antes de largá-lo.

Vic levanta, olha para a pedra. — Senhoras, se importam em


compartilhar o que você tem aqui? — A resposta é exigida. Sua voz não
tem o tom questionador. Os olhos de Vic vão para o pulso de Mel e,
quando ele vê a pulseira combinando, ele estala os dedos e empurra a
cabeça em direção a ela. — Pegue.

Seus homens caminham até Mel e arrancam a pulseira de seu


pulso. Mel não revida, não reage. Tudo está indo para o inferno quando a
porta se abre e Marty entra. Ele está vestido de uniforme preto com uma
arma presa ao quadril. Há um fio que se conecta a um walkie-talkie no
bolso traseiro. Quatro homens o cercam e está claro que ele está no
comando, o que me surpreende. Eu pensei que Marty se misturasse aqui.

A voz de Marty soa dura e firme. — Desculpe interromper, mas é


necessário. — Ele está em alerta como um soldado reportando para o
dever.

A esperança preenche meu peito quando o olhar de Marty pousa


em mim. Tudo ficará bem agora. Eu finalmente posso respirar, e a certeza
envolve meus ombros e levanta meu queixo. Ele vai pegar o Sean para
mim. Ele também conhece meu plano de backup. Eu posso fazer isso. Ele
pode me ajudar. Eu posso fazer isso e tudo vai dar certo. Graças a Deus.
Eu nunca estive tão feliz em ver alguém em toda a minha vida.

Vic balança os dois braceletes no ar e pergunta aos homens: —


Você sabe o que são?
Marty se aproxima para pegar as jóias das mãos de Vic. — Sim
senhor. Este é o dispositivo que eu descrevi. Está alojado na conta.

Mel percebe isso antes de eu fazer. Enquanto meu coração afunda e


a negação grita dentro de mim, ela grita: — Seu filho da puta!

Mel continua a vomitar maldições desagradáveis para ele enquanto


um guarda se lança contra ela, tentando contê-la. Ela o corta quando ele
tenta prender o braço dela atrás das costas dela. Um grito primal sai de
sua garganta enquanto ela gira ao redor, facas na mão, golpeando
qualquer um que se aproxime dela. Mais dois homens se aproximam, e os
três a forçam ao chão antes que ela possa causar algum dano sério. Eles a
derrubaram sem qualquer esforço. Ela é arrastada da sala, prometendo a
Marty uma morte dolorosa. Sua voz desaparece no corredor e, de repente,
fica em silêncio.

— Marty, — eu digo, minha voz trêmula. Coração batendo, olho


para ele e sinto minha mandíbula apertar. — Eu pensei que você se
importasse.

Vic assiste com prazer. Black está inexpressiva, como de costume,


ainda atrás da mesa, como se fosse apenas mais um dia no escritório.

A voz de Marty é fria. — Você pensou errado.

Com os olhos estreitados em fendas finas, eu grito para ele, —


Como você pôde fazer isso? Depois de tudo o que passamos. Por que você
não me matou antes? Por que esperar até agora? Por que fingir ser meu
amigo?

Marty olha para o lado de Vic. Vic sorri e gesticula alegremente: —


Vá em frente e diga a ela. É uma história maravilhosa, um presente. Tanto
potencial. É bom ver do que você é feito, Masterson.

Marty se aproxima de mim e olha para baixo, seus olhos dourados


duros. Vic me contratou. Essa parte era verdade — tudo isso — mas
houve uma pequena omissão, e é a única razão pela qual você ainda está
viva.

Meu queixo lentamente cai quando eu coloco as peças juntas.


Marty me salvou apesar de Vic me querer morta. Por quê? Por que
arriscar?

Black fala, parecendo entediada: — Victor, seu pai, contratou


Marty, mas sua lealdade sempre esteve em outro lugar, antes mesmo que
Victor, o pai, fosse morto a tiros. Você está viva porque Vic Jr. queria
assim. Marty é um mercenário, Avery. Ele trabalha para o seu irmão.

Eu digo a palavra NÃO, mas nenhum som sai.

Marty fica parado e não diz nada. Ele não é presunçoso, arrogante
ou qualquer coisa. Ele olha para frente como um soldado, enquanto Vic
Jr. dá um tapa, rindo de mim.

— A expressão no seu rosto é linda pra caralho. Eu não posso


esperar para ver o que vem a seguir. — Ele faz uma pausa, levanta um
dedo e acrescenta: — Espero por isso.

O som de um tiro quebra a noite.

Ele vira a cabeça na direção de Marty e pergunta: — O que foi isso?

Marty balança a cabeça. — Mais um.

Um segundo tiro soa antes que eu perceba o que isso significa. Vic
sorri. — Você não dá tiros de advertência, não é, Masterson?

— Não senhor.

Meu peito parece estar rasgando em dois. Corro para a janela e olho
para fora. Dois corpos flutuam de bruços na piscina com fitas vermelhas
saindo de suas roupas pretas, tingindo a água cintilante. Eu posso
distinguir as longas filas dos casacos das trincheiras daqui. Os cintos
flutuam para a superfície da piscina enquanto as ondas do respingo inicial
se acalmam.
Um walkie-talkie no quadril de Marty faz um som estático quando
alguém fala em seu fone de ouvido. Marty acena para Vic Jr. — Está feito.

— Finalmente! Dois Ferros para baixo. Eu sempre começo com o


mais difícil de matar. Isso torna o resto do jogo muito mais fácil. — Ele
solta uma gargalhada perturbada e então se aproxima de mim, bate a mão
no meu ombro. Eu tento me afastar dele, do seu toque, mas ele não me
deixa ir. — Você gosta de jogos, Avery? Porque eu escolhi alguns, só para
você — e agora não há ninguém para te salvar. Nem Sean. Nem Mel. E
com certeza, nem Marty. Ninguém. — Ele envolve seus lábios ao redor das
últimas duas palavras e sorri sadicamente no meu rosto.

Terror corre através das minhas veias, mas eu não consigo me


mexer. Eu não posso falar. Minha mão está no meu estômago enquanto o
horror me atinge com força.

Vic se aproxima e sussurra em meu ouvido: — Somos só você e eu,


irmãzinha.

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