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Trabalho SubmissaoId 1209 12095cca54c2db279
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2 - DESENVOLVIMENTO
Assim, diante desta problematização apontada por Rodrigues (2003), nos implica a pensar e
correlacionar proibicionismo com luta de classes, que é tão intrínseco e fundante nesta
sociedade capitalista, onde a guerra as drogas possuem o seu público alvo o segmento mais
pauperizado da classe trabalhadora, onde possui além do recorte de classes, o recorte de
raça/etnia.
É importante salientar que este Estado não se afirmar apenas para esta população
enquanto instituição de coerção legitimada por interesses dominantes, mas se apresenta
dentro de uma perspectiva moralizadora e simbólica, com discursos de criminalização das
drogas, endossadas por uma parcela burguesa desta sociedade.
Durante o Brasil colônia, a aguardente e o tabaco era a principal droga de circulação e
ingestão no Brasil, usada como moeda de troca, onde juntos adquiram 48% dos escravos que
chegaram vivos na América Portuguesa entre 1701 e 1810.
A droga era compreendida como “qualquer conjunto de riquezas exóticas, produtos de
luxo destinados ao consumo, ao uso médico e também como adubo da alimentação”
(AVELAR,2014, p.23). Estas cumpriam também o papel de facilitar as trocas no território latino-
americano.
Segundo Avelar (2014) na mesma proporção que a cana de açúcar crescia em território
brasileiro, os negros escravizados utilizavam a maconha ou como era conhecida
“pito de Angola” ou “fumo de Angola” para rituais religiosos ou como forma de resistência,
objetivando “estabilizar” a relação entre os senhores e os escravizados. Os senhores
compreendem inclusive que a aguardente servia como estimulante para trabalhos mais
árduos.
Durante este período, o Estado Brasileiro busca formas de coibir a embriaguez pública
através de prisões de pessoas que fossem flagradas em uso de álcool, porem há diversos
registros que apontam números significativos de escravizados presos. “As elites pretendiam
transformar a capital do Império num lugar em que os transeuntes se comportassem de acordo
com um modo de viver “civilização”, como o das grandes cidades europeias [...]”
(AVELAR,2014, p.23).
O referido autor salienta que todo esse movimento à época, promoveu um processo
de repressão que fora utilizado para o aprisionamento de escravos que circulavam nas ruas
do Brasil colônia.
Assim, esse contexto de repressão não se finda no Brasil colônia, apenas se adensa,
atingindo um possível status de guerra, onde conforme Avelar (2014) destaca que a proibição
é uma forma de recuar o reconhecimento dos direitos individuais, onde provoca e intensifica
a segregação e nega os direitos aos não brancos.
Parcela esta que historicamente fez uso de substâncias e legitimava o mesmo, pois
até 1911
[...] o vício era limitado à classe média, passou a se espalhar pela cidade, entre
as classes sociais “perigosas”, ou seja, entre os pardos, negros, imigrantes e
pobres, sendo motivo de preocupação para o governo e mais uma vez
evidenciando o caráter classista [racista] que influenciou o proibicionismo no
Brasil (LAIKOVSKI, 2015, p.8).
As décadas seguintes são marcadas por contexto de controle penal, sendo ora
entendido como tratamento, ora como crime. O que marca essas décadas são os contextos
políticos e econômicos que se configuram a época e estão correlacionados ao entendimento
desta política. Que ficam evidentes diante da construção que fora estabelecida no Brasil ao
longo dos anos anteriores, com inclusive influência norte-americana.
A Constituição de 1988 revoga os dispositivos de censura, mas mantém os anseios de
uma política punitivista, baseado em controle penal e moral, construído e fomentado nesta
sociedade, após anos de exposição, à doutrina do inimigo. O que nos marca o entendimento
que a política de drogas no Brasil, esteve associada intrinsecamente a uma construção de
moralidade, voltada ao terror da droga e inimigo social e, que o tratamento se equivale a
punição, ou que todos devem ser tratados através de um enclausuramento, pois são
considerados incapazes.
Assim, este trecho nos aponta que precisamos ir além da aparência do processo, mas
perceber que associada a política de drogas se construiu uma seletividade penal, baseada em
leitura de classes, território e estereótipo, onde que nos direciona para um contexto racial que
vemos apontando ao longo deste trabalho.
Até então, percebemos que estas práticas proibicionistas possuem prática
preconceituosa e políticas de exclusão social, porém essas práticas não se restringiam as
fronteiras brasileiras, pois seu processo foi influenciado pela política antidrogas
norteamericana.
No processo de articulação proibicionista nos EUA, setores
empresariais ligados a empresas têxteis de algodão e petrolífera, foram
importantes financiadores destas campanhas (HERER, 2014). Fatores
como a invenção do maquinário para o barateamento da colheita de
algodão, por exemplo, influenciaram as empresas têxteis a financiar a
proibição não só do uso recreativo, mas da existência da planta para
qualquer fim, na intenção de dominar o mercado. O mesmo se deu com
a indústria petrolífera, que necessitava da garantia do mercado
consumidor para viabilizar os altos investimentos necessários à
prospecção do de petróleo e seu refinanciamento em óleos e plásticos.
Eliminar a maconha, grande produtora de fibras e óleos, garantia o
domínio do mercado. (HERER, 2014 apud LUDARNON, 2015, p.15)
Olmo (1990) apud Rodrigues (2006, p. 152) destaca que a politica de Guerra as Drogas
é uma política genocida, pois os EUA transfere a
maior parte da responsabilidade para os países latinos produtores de
droga. A “tropicalização” do discurso repressivo, aliado ao fato de os
EUA se considerarem “polícia mundial” no controle dos
entorpecentes, trouxe graves consequências para essas regiões,
sentidas até hoje. A militarização do combate às drogas, a violência
policial, a opção por um direito penal simbólico, o aumento de penas
e imposição maciça da pena de prisão como estratégia de política
criminal podem ser apontados como fatores preponderantes a marcar
fortemente a política de drogas, a partir dos anos 80, no Brasil e na
América Latina em geral.
Rodrigues (2006) aponta ainda que mesmo o Brasil não se apresentar enquanto
produtor de entorpecentes, a sua posição geográfica de proximidade com os países
produtores e sua posição estratégica frente a estes países, fizeram com que o país também
sofresse forte influência dessa política externa norte-americana.
Martins (2013) destaca ainda que esta época é marcada pela transnacionalização do
combate à droga, através da criação de agências internacionais destinadas a controle e
repressão ao tráfico que irão influenciar as ações na América Latina e Brasil.
Anos de 1980, com a globalização do capital, reestruturação produtiva, divisão
internacional do trabalho, o mercado da droga também é atingido, onde transformou algumas
dessas substâncias em negócios transnacionais com reflexos sociais e políticos. Os discursos
do EUA centram-se no narco- dólares detecta-se uma perda de mais de 02 bilhões de dólares
com a venda de cocaína. (DELOMMO, 1998 apud Martins, 2013.) Desta forma, fica evidente
o papel do capital neste discurso de Guerra as Drogas, onde Carneiro (2015, p. 01) destaca
que:
Desta forma, este mesmo autor (2011) salienta que esta guerra se apresenta altamente
custosa, longa e com grande quantitativo de encarceramento dos segmentos pauperizados,
se apresenta como mecanismo de controle social das populações pobres, pois permitem à
polícia devassar a privacidade dos indivíduos em qualquer circunstância, sob o pretexto de
busca de drogas e controle de matérias-primas que são fundamentais na indústria
farmacêutica, garantindo a hegemonia dos remédios desta indústria contra o uso de plantas
tradicionais.
Assim, associado a esse modelo de repressão, o Brasil foi construindo sua política de
drogas, baseado diante da importação do modelo proibicionista, importado pelo EUA que
difundiram a Guerra as Drogas e estabeleceram parâmetros para a seleção de drogas
consideradas legais e ilegais. (MVUMBI, 2016).
Desta forma, construiu-se no Brasil, um modelo repressivo, que segundo MVUMBI
(2016, p. 29) “redundou na instauração de modelo genocida de segurança pública, centrado
na lógica bélica de eliminação/neutralização de inimigo”, com aprofundamento da Lei
11.343/2006 que se vale de um modelo abstêmio e repressivo-penal, correlacionado com essa
lógica bélica, entendida como política pública.
O artigo art. 28, § 2º da Lei 11.346/06, aponta que cabe ao juiz recorrer à “natureza e
quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a
ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do
agente” para determinar se se trata de posse para uso ou para comércio da droga.
O destaque marca o punitivismo com relação a segmento mais pauperizado da
população, demonstrando o elitismo da justiça brasileira. Já o artigo 33, que versa sobre o
porte de drogas para o comércio, onde caberá a autoridade judicial se valer de valores
subjetivos para compreensão do que é tráfico, onde região de abordagem, maneira de se
vestir, cor da pele, características de classe social, tipo de linguagem “influenciam” ( e não
deveriam) em sua análise.
De acordo com Maíra Fernandes (2017), ex-presidente do Conselho Penitenciário do
Estado do Rio de Janeiro em entrevista à Revista Consultor Jurídico, destaca que:
Nas autuações por tráfico de drogas é difícil reverter o depoimento dos policiais, afinal,
eles têm fé pública. Mas a situação fica ainda mais complicada se o acusado for negro
e pobre, onde essas prisões têm tudo a ver em relação ao lugar onde houve a
apreensão da droga. Como a lei não distingue precisamente uso de tráfico, uma mesma
quantidade de droga apreendida no Complexo do Alemão [na Zona Norte do Rio] e na
Rua Farme de Amoedo [em Ipanema, na Zona Sul do Rio] pode gerar um registro de
tráfico no primeiro caso e um de uso no segundo. Então, tem muito a ver com o CEP, a
cor, com o nível social do abordado”, diz a advogada.
Quando pensamos no recorte de classe, não há como deslocar a situação racial, onde
ainda hoje, a população negra ainda ocupa os lugares mais vulneráveis da sociedade.
Desta forma, corroborando com Borges (2018), pensamos quando abordamos que as
Guerra as Drogas possui um direcionamento classista e racial, quando problematiza: Quem
define se uma pessoa é usuária ou traficante? e diante de toda discussão apresentada:
quais as chances de uma pessoa negra, com uma pequena quantidade de substância
ilícita ser considerada traficante ou usuária? Quais as influências sociais, políticas,
sociais, territoriais, raciais e de gênero para a definição desta diferenciação? E assim
respondemos com a autora: Todas as influências.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERENCIAS:
AVELAR, Lucas – Uso se branco, abuso se preto. Revista de História da Biblioteca
Nacional “ Dossiê Drogas”. Ano 10 nº 111. Novembro, 2014. Rio de Janeiro.
BRASIL. Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas.(Lei 11.343/2006)
Prescreve medidas para a prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários
e dependentes de drogas]; estabelece normas para repressão à produção não BORGES,
Juliana. O que é encarceramento em massa? Belo Horizonte- MG. Letramento:
Justificando,2018.
CARNEIRO, Henrique – As necessidades humanas e o proibicionismo das drogas no século
XX. Revista outubro, IES. São Paulo. V.6.2002.
CHAVES, Marjorie Nogueira- Para além da cor: questão social e genocídio da juventude
negra. VII Jornada Internacional de Políticas Públicas. Universidade Federal do
Maranhão.2015
DÁVILA, Jerry . Diploma da Brancura: política social e racial no Brasil - 1917-1945;
tradução Cláudia Sant'ana Martins. São Paulo. Editora UNESP. 2006.
LAIKOVSKI, Giana Carla – O uso de drogas e o proibicionismo. VII Jornada Internacional
de Políticas Públicas. Universidade Federal do Maranhão.2015.
LUNARDON, Jonas Araújo. “Ei, polícia, maconha é uma delícia!” – O proibicionismo das
drogas como uma política de criminalização social. Programa de Pós Graduação em
Ciência Política. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2015
MARTINS, Márcio André Conde. A Geopolitica das drogas nas Américas e a Política
Antidroga Brasileira. Revista RIDB, Ano 2. 2013.nº14.
MVUMBI, Betuel Virgilio- Drogas e Democracia: Reflexões sobre as políticas nacionais e
internacionais de controle. Dissertação (Mestrado- Mestrado em Direito. Universidade de
Brasília, 2016.
RODAS, Sérgio. 74% das prisões por tráfico têm apenas policiais como testemunhas do
caso. Fonte: https://www.conjur.com.br/2017-fev-17/74-prisoes-trafico-apenas-
policiaistestemunhas. Acesso em 10/05/2018.
RODRIGUES, Luciana Boiteux de Figueiredo. Controle penal sobre as drogas ilícitas: o
impacto do proibicionismo no sistema penal e na sociedade. Tese ( Doutorado) –
Programa de Pós-Graduação em Direito. São Paulo, 2006.
SOUZA, Daniel de Oliveira. A questão do “consumo de drogas”: contribuições para o
debate. Revista Serviço Social e Saúde. Nº02, v11. julho-dezembro/2012