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Transmissão de Dados
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Dr. Douglas E. Comer é um especialista em protocolos TCP/IP, redes de computador e Internet reco-
nhecido internacionalmente. Um dos pesquisadores que contribuiu para a formação da Internet (fi-
nal dos anos 1970 e início da década de 1980), foi membro do Internet Architecture Board, grupo
responsável por direcionar o desenvolvimento da Internet. Foi também presidente do comitê técni-
co CSNET e membro do comitê executivo CSNET.
Comer atua como consultor no design de redes de computador. Além de palestras em universida-
des, Comer ministra cursos locais para profissionais de rede ao redor do mundo. Seu sistema ope-
racional, Xinu, e implementações do sistema de protocolos TCP/IP (ambos documentados em seus
livros) foram utilizados em produtos comerciais.
É professor de ciência da computação na Purdue University, onde leciona e faz pesquisas em redes
de computadores, inter-redes e sistemas operacionais. Além de ser autor de uma série de livros téc-
nicos best-sellers que foram traduzidos em dezesseis idiomas, ele trabalha como o editor norte-
americano do jornal Software — Practice and Experience. Comer é um membro da ACM (Associa-
tion for Computing Machinery).
www.cs.purdue.edu/people/comer
ISBN 978-85-60031-36-8
CDU 004.7
Comunicação Local
Assíncrona (RS-232)
5.1 Introdução
Como são dispositivos digitais, os computadores usam dígitos binários (bits) para representar da-
dos. Assim, transmitir dados através de uma rede de um computador a outro significa enviar bits
através do meio de transmissão subjacente. Fisicamente, os sistemas de comunicação usam cor-
rente elétrica, ondas de rádio ou luz para transferir informações. Este capítulo explica como uma
dessas formas, a corrente elétrica, pode ser usada para transferir informações digitais em peque-
nas distâncias. Ele mostra como os bits podem ser codificados e discute o mecanismo usado pela
maioria dos computadores para enviar caracteres entre o teclado e o computador. O capítulo se-
guinte explica porque o mecanismo aqui descrito não pode ser usado para distâncias longas e des-
creve como a comunicação de longa distância é implementada.
Além de discutir a transmissão básica, este capítulo introduz as duas propriedades primárias de
uma rede que podem ser medidas quantitativamente: largura de banda e atraso. Discute a motiva-
ção para usar medidas quantitativas e explica o relacionamento entre a largura de banda e a capa-
cidade da rede. Os capítulos posteriores explicam como medidas similares podem ser aplicadas a
sistemas de rede completos.
truído para aceitar e interpretar o sinal que o hardware remetente gera. Este capítulo examinará o
assincronismo que permite que um remetente transmita a qualquer momento e que requer que o
receptor interprete o sinal; o capítulo seguinte descreverá o hardware síncrono de comunicação.
voltagem
+
0 tempo
1 0 1 0 0 1
Figura 5.1 Ilustração de como as tensões positiva e negativa podem ser usadas para transmitir bits através
de um fio. Neste exemplo, o remetente aplica uma tensão negativa para enviar um bit 1 ou uma
tensão positiva para enviar um bit 0.
sociação das Indústrias Eletrônicas (Electronic Industries Association, EIA) e o Instituto dos Enge-
nheiros Elétricos e Eletrônicos (Institute for Electrical and Eletronic Engineers, IEEE) publicam es-
pecificações para equipamentos de comunicação em documentos conhecidos como padrões. As
normas respondem a perguntas sobre uma tecnologia particular de comunicação – um padrão es-
pecifica o sincronismo dos sinais e os detalhes elétricos da tensão e da corrente. Se dois vendedo-
res seguirem um dado padrão, seus equipamentos interoperarão. Por exemplo, o Apêndice 2 mos-
tra os bits atribuídos a cada caractere pelo padrão ASCII.
Um padrão em particular produzido pela EIA emergiu como a maneira mais freqüentemente acei-
ta para transferir caracteres através de fios de cobre entre um computador e um dispositivo como
um modem, um teclado ou um terminal. O padrão RS-232-C da EIA, comumente abreviado como
RS-2321, especifica os detalhes da conexão física (por exemplo, que a conexão deve ter menos de
50 pés de comprimento) assim como os detalhes elétricos (por exemplo, que as duas tensões usa-
das para transmitir dados variam de –15 volts a +15 volts). Já que o RS-232 é projetado para o uso
com dispositivos como modems e terminais, ele especifica a transmissão de caracteres. Embora
possa ser usado para enviar caracteres de oito bits, o RS-232 é configurado freqüentemente de mo-
do que cada caractere consista em sete bits de dados.
O RS-232 define comunicação assíncrona serial. A comunicação é chamada de serial 2 porque os
bits viajam no fio um após outro, como no exemplo anterior. O RS-232 permite que um remetente
transmita um caractere a qualquer momento e que atrase por um tempo arbitrário antes de enviar
outro. Além disso, a transmissão de um dado caractere é assíncrona porque o remetente e o recep-
tor não se coordenam antes da transmissão. Entretanto, uma vez que começa a enviar um carac-
tere, o hardware remetente transmite todos os bits um após outro, sem atraso entre eles. Mais im-
portante, o hardware RS-232 nunca deixa zero volts no fio – quando o transmissor não tem nada
para enviar, ele deixa o fio com uma tensão negativa que corresponda ao bit valor 1.
Já que o fio não retorna a zero volts entre cada bit, um receptor não pode usar a falta de tensão pa-
ra marcar o fim de um bit e o começo do seguinte. Em vez disso, o remetente e o receptor devem
concordar com o comprimento de tempo exato em que a tensão será mantida para cada bit. Quan-
do o primeiro bit de um caractere chega, o receptor inicia um temporizador e usa-o para saber
quando medir a tensão para cada um dos bits sucessivos. Como um receptor não pode distinguir
entre uma linha inativa e um bit inicial 1, o padrão RS-232 requer que um remetente transmita um
bit extra de valor 0 antes de transmitir os bits de um caractere. O bit extra é conhecido como bit de
começo (start bit).
Embora o período inativo entre o fim de um caractere e o bit inicial do caractere seguinte possa du-
rar um tempo arbitrariamente longo, o padrão RS-232 especifica que o remetente deve deixar a li-
nha ociosa por um tempo mínimo. O tempo escolhido como mínimo é o tempo necessário para en-
viar um bit. Assim, pode-se pensar em um bit fantasma 1 adicionado a cada caractere. Na termi-
nologia RS-232, o bit fantasma é denominado bit de parada (stop bit). O diagrama de forma de on-
da na Figura 5.2 ilustra como a tensão em um fio varia quando um caractere é enviado usando RS-
232. Embora o caractere mostrado no exemplo contenha somente sete bits, o RS-232 adiciona um
bit de começo e um bit de parada ao transmitir. Assim, a transmissão completa requer nove bits.
A figura mostra que o RS-232 usa 15 volts negativos para representar bits 1 e 15 volts positivos
para representar bits 0. Na terminologia RS-232, uma tensão negativa coloca o fio em estado
MARK e uma tensão positiva coloca o fio em estado SPACE. Os termos raramente são usados em
hardware moderno3.
1
Embora o padrão posterior RS-422 forneça ligeiramente maior funcionalidade, os equipamentos que usam o RS-232 per-
manecem tão prevalentes que a maioria dos profissionais ainda usa o nome mais antigo.
2
A alternativa é comunicação paralela, que usa fios múltiplos e permite que um bit viaje em cada fio em um dado momen-
to; os computadores típicos têm portas de E/S seriais e paralelas.
3
A terminologia usada no padrão RS-232 originou-se dos sistemas de telégrafo.
82 Redes de Computadores e Internet
voltagem
+15
0 tempo
-15
inativo início 1 0 1 1 0 1 0 final inativo
Figura 5.2 A voltagem em um cabo quando um caractere é transmitido usando RS-2324. Um bit de início
notifica o receptor de que um caractere está começando, e cada transmissão de bit dura exata-
mente o mesmo tempo.
4
Para um exemplo de uma codificação alternativa à utilizada pelo RS-232, veja a codificação Manchester (usada com a
Ethernet), descrita no capítulo 8.
Capítulo 5 – Comunicação Local Assíncrona (RS-232) 83
O hardware RS-232 pode usar erros de enquadramento. Em particular, os teclados ASCII incluem
freqüentemente uma tecla BREAK. A tecla BREAK não gera um caractere ASCII. Em vez disso,
quando um usuário a pressiona, o teclado coloca a conexão de saída em estado 0 por muito mais
tempo do que leva para enviar um único caractere (por exemplo, 2 segundos). Quando detecta que
a linha se moveu para o estado 0, o receptor assume que um caractere começou a chegar e come-
ça a extrair bits individuais. Entretanto, depois que todos os bits do caractere chegaram, o recep-
tor espera a linha retornar ao estado 1 (isto é, espera um bit de parada). Se não encontrar um bit
de parada como esperado, o receptor relata um erro de enquadramento, que pode ser usado pelo
sistema receptor. Por exemplo, algumas aplicações usam a tecla BREAK como uma maneira de
abortar uma aplicação – sempre que um usuário pressiona BREAK, o sistema relata um erro de en-
quadramento à aplicação que está usando o teclado. A aplicação interpreta o erro como uma requi-
sição para abortar.
5
Conectores físicos usados com o RS-232 possuem 25, 15 ou 9 pinos, e são conhecidos pelos nomes de DB-25, DB-15 ou
DB-9.