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Estudar pode ser chato, aprender, não

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Aprender é um momento mágico que acontece quando a


informação vira conhecimento. Isso é uma transformação que
ocorre dentro do cérebro humano. É um click! Aquelas palavras
encadeadas que procuravam dar sentido a um conjunto de
informações, de repente, click! Viraram conhecimento.

Esse momento mágico é que devia ser o objetivo de qualquer


escola. Ensinar a aprender. Ensinar a transformar informação em
conhecimento e conhecimento em ação, que é o próximo passo.

Qual o objetivo do ensino regular? Preparar a pessoa para viver


em sociedade, com um conjunto de conhecimentos que permita a
ela se inserir nesse ambiente, relacionar-se, produzir, consumir,
enfim, viver!

Várias são as funções básicas para que isso seja possível. Uma
delas é a comunicação, o uso da linguagem para exprimir idéias e
sentimentos e compreendê-los. Outra é a matemática. A
correlação quantitativa das coisas e eventos. Outra mais, a
história. O relato dos “quês” e “porquês” que trouxeram o mundo
em geral e o nosso país em particular até aqui.

Temos, ainda, as Ciências, tratando da natureza, do ser humano e


das suas inter-relações nos níveis químico, físico e biológico. E o
nosso ambiente? A Geografia, a ecologia, e as relações sociais.

Esse entendimento, que deveria ser primário, talvez não seja


reconhecido pelos alunos como o objetivo do aprendizado. Talvez,
para eles, o mais correto seria dizer: eu estudo para passar, ou
estudo para me formar, ou estudo para ter um emprego e ganhar
dinheiro.

A finalidade básica do aprendizado foi esquecida e, mais do que


isso, foi deturpada. O estudo virou uma obrigação desagradável,
como também o trabalho. Não precisa ser assim. Tanto um
(estudo) quanto outro (o trabalho) devem ser atividades
prazerosas. O aprender nunca é chato. Estudar, sim, pode ser.

Imaginem um indiozinho há 500 anos. Quando ele saía com o pai,


para aprender a caçar ou pescar, o que era isso? Uma atividade
lúdica cuja finalidade era bem clara e que, concretizada, habilitaria
o jovem índio para o futuro.

Essa correlação se perdeu atualmente em função da variedade e


complexidade das informações e conhecimentos que temos
disponíveis para nós e que precisam ser usadas para produzirem
informações, ações e conhecimentos que poderemos usar e vender
para o nosso sustento.

Alunos, pais e professores devem descobrir como fazer para que


os jovens sintam, como o jovem índio, que aquele aprendizado
tem valor e, além disso, é gostoso.
Essa deve ser a nossa busca.

Nossos jovens que estão hoje na faixa do vestibular, em torno dos


18 anos, trabalharão cerca de 50 anos até a aposentadoria, se até
lá ainda existir essa figura. Nesses 50 anos, trocarão de profissão,
em média, meia dúzia de vezes. Serão técnicos do assunto A,
depois gerentes, depois o assunto A vai virar B, a tecnologia criará
C, que derivará em D e, assim, sucessivamente.

O aprendizado na faculdade estará tão datado quanto um litro de


leite no mercado. Teremos prazo de validade para o nosso
conhecimento, que estragará se não for consumido a tempo, ou
reciclado.

Temos a oportunidade agora com a Internet. As informações estão


lá. Nunca antes pudemos estabelecer uma correlação tão forte
quanto agora, entre o que podemos aprender e como podemos
aplicar em nossa vida. Muitas das profissões hoje em dia (e cada
vez mais) são substancialmente baseadas em informações e o seu
tratamento. É o mundo dos bits (jornalismo, direito, tradução,
pesquisas, economia, administração..,). Essas profissões serão
quase que totalmente exercidas via Internet. Nas outras, que
tratam do mundo físico (medicina, engenharia...) o componente
informação será cada vez maior.

Precisamos aprender sobre processos e projetos, independente de


“para quê”. Precisamos aprender sobre clientes e fornecedores,
independente de quais sejam eles. A metodologia e a tecnologia
empregadas vão ser as do momento. Não podemos nos apegar à
nossa profissão original, porque não sobreviveremos. Vamos
procurar sempre o porquê das coisas e saber que o “o quê” e o
“como” são circunstancias.

Vamos aprender sobre pessoas, relacionamentos e comunicação.


Entender o que motiva e o que afasta. Entender que apenas duas
emoções movem a humanidade. O amor (prazer, satisfação,
felicidade) que faz com que procuremos nos aproximar e o medo
(dor, raiva) que faz com que procuremos nos afastar.

Aprender o que é natural e o que é cultural. Os dois são


importantes. Comer é natural. Comer com talher é cultural.
Necessidades fisiológicas são naturais. Usar o banheiro é cultural.
Sexo é natural. Com camisinha é cultural. Entender que o cultural
é vinculado ao tempo em que a ação se situa. Os conceitos de
certo e errado e bem e mal são culturais e depende do que a
sociedade combinou por meio de constituição, leis, portarias,
regulamentos, códigos, acordos etc.

Quando será que nossos jovens vão aprender dessa maneira?

Paulo Barreira Milet é Bacharel em Matemática com MBA em


Adm. Pública pela FGV-Rio. Especialista em e-learning é o
Diretor- Geral da Eschola.com.

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