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Versão traduzida para a língua portuguesa do artigo: Durigan, G., Munhoz, C.B., Zakia, M.J.B., Oliveira, R.S.

, Pilon, N.A., do Valle,


R.S.T., Walter, B.M.T.; Honda, E.A.; Pott, A. (2022). Cerrado wetlands: multiple ecosystems deserving legal protection as a unique and
irreplaceable treasure. Perspectives in Ecology and Conservation, 20(3):185-196. https://doi.org/10.1016/j.pecon.2022.06.002

Nota: A citação do artigo deverá sempre ser feita com base no original em língua inglesa.

Perspectives in Ecology and Conservation 20 (2022) 185–196

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Ensaios e Perpectivas
Áreas úmidas do Cerrado: múltiplos ecossistemas que merecem
ser protegidos como um tesouro único e insubstituível
Giselda Durigan a,∗ , Cássia Beatriz Munhoz b , Maria José Brito Zakia c , Rafael S. Oliveira d ,
Natashi A.L. Pilon d , Raul Silva Telles do Valle e , Bruno M.T. Walter f , Eliane A. Honda a , Arnildo Pott g
a
Instituto de Pesquisas Ambientais, Laboratório de Ecologia e Hidrologia, Floresta Estadual de Assis, Caixa Postal 104, 19802-970, Assis, SP, Brazil
b
Universidade de Brasília, Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de Botânica, Asa Norte, Campus Darcy Ribeiro, 70910-900, Brasília, DF, Brazil
c
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Programa de pós Graduação em Ciência Florestal, Rua José Barbosa de Barros, 1780, 18610-307, Botucatu, SP, Brazil
d
Universidade Estadual de Campinas, Departamento de Biologia Vegetal, Instituto de Biologia, Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Caixa Postal 6109, 13083-865, Campinas,
SP, Brazil
e
WWF Brasil, CLS 114 Bloco D, 35, Asa Sul, DF, 70377-540, Brasília, DF, Brazil
f
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Herbário CEN, Caixa Postal 02372, 70770-900, Brasília, DF, Brazil
g
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Instituto de Biociências, Programa de Pós-graduação em Biologia Vegetal, Av. Costa e Silva, s/n, Bairro Universitário, 79070-900,
Campo Grande, MS, Brazil

DESTAQUES RESUMO GRÁFICO

• As áreas úmidas funcionam como os “rins


do planeta”, garantindo o abastecimento e
a qualidade da água.
• Há diferentes tipos de vegetação nas áreas
úmidas do Cerrado, e todos desempenham
papéis ecológicos equivalentes.
• Todos os tipos de áreas úmidas do
Cerrado devem ter o mesmo status de
proteção legal.
• A elevação máxima do lençol freático
define o limite, a biota e o
funcionamento das áreas úmidas.
• Todas as ações humanas que ameacem
a hidrologia das áreas úmidas do
Cerrado devem ser regulamentadas.

INFORMAÇÕES RESUMO

Article history: Áreas úmidas são ecossistemas na interface entre ambientes terrestres e aquáticos, sujeitos a inundações por
Received 24 December 2021 águas rasas ou possuem solos temporariamente a permanentemente encharcados e biota especializada.
Accepted 13 June 2022 Apesar de sua grande importância em escala global e local, esses ecossistemas não têm sido efetivamente
Available online 24 June 2022 protegidos no Brasil. As áreas úmidas do Cerrado são particularmente negligenciadas e incompreendidas,
devido ao seu funcionamento hidrológico distinto, aos mapas imprecisos e à multiplicidade de tipos de vege-
Palavras-chaves: tação (por exemplo, campo úmido, vereda, palmeiral, floresta úmida, mata de galeria), que formam mosaicos
Savanas neotropicais complexos e dinâmicos. As denominações regionais das áreas úmidas muitas vezes apresentam diferenças
Ecossistema ripário sutis, ou redundâncias, dificultando sua diferenciação objetiva mesmo por especialistas. No entanto,
Legislação ambiental independentemente das diferenças na vegetação, todas as áreas úmidas do Cerrado armazenam e filtram

∗ Corresponding author.
E-mail addresses: giselda.durigan@sp.gov.br (G. Durigan), cbrmunhoz@gmail.com (C.B. Munhoz), zeze.zakia@gmail.com (M.J. Zakia), rafaelsoliv@gmail.com (R.S. Oliveira),
natashipilon@gmail.com (N.A. Pilon), raulvalle@wwf.org.br (R.S. Valle), bruno.walter@embrapa.br (B.M. Walter), eahonda@gmail.com (E.A. Honda), arnildo.pott@gmail.com
(A. Pott).

2530-0644/© 2022 Published by Elsevier B.V. on behalf of Associação Brasileira de Ciência Ecologica e Conservação. This is an open access article under the CC BY-NC-ND
license (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
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Water resources o excesso de água da chuva de toda a bacia, liberando-a ao longo do ano para alimentar córregos perenes e,
Vegetation types consequentemente, os principais rios brasileiros. Assim, defendemos que: i) todas as áreas úmidas do Cerrado
Freshwater ecosystem sejam unificadas na legenda dos mapas oficiais em larga escala, que respaldam a legislação am-biental; ii) todos
os tipos de vegetação em áreas úmidas no Cerrado devem receber tratamento unificado na legislação, alinhado
com outras áreas úmidas do Brasil; iii) a delimitação das áreas úmidas para cumprimento da lei deve ser feita in
loco, utilizando indicadores objetivos (hidrológicos, edáficos e bo-tânicos). Propomos que todas as áreas onde a
elevação máxima do lençol freático seja inferior a 50 cm de profundidade sejam mapeadas e protegidas como
áreas úmidas. Esse é o fator crítico que determina os solos hidromórficos e a flora especializada, que
diferenciam essas áreas úmidas dos tipos de vegetação adjacente.

Introdução
“Áreas úmidas são ecossistemas na interface entre ambientes aquáticos Quadro 1– A proteção legal das áreas úmidas do Cerrado
e terrestres; podendo ser continentais ou costeiras, naturais ou artificiais, A Lei de Proteção da Vegetação Nativa (nº 12.651, de maio de
permanentemente ou periodicamente inundadas por águas rasas, ou 2012) não conseguiu padronizar e tratar sistematicamente as áreas
consistir de solos encharcados. As águas que as caracterizam podem variar úmidas no Brasil, o que suscita diferentes interpretações e
desde água doce até água leve ou altamente salina. As áreas úmidas implementações por parte dos Estados brasileiros.
abrigam comunidades específicas de plantas e animais, adaptadas à sua A lei define áreas úmidas como “pantanais e superfícies terrestres
cobertas de forma periódica por águas, cobertas originalmente por
dinâmica hidrológica” (Junk et al., 2013). Por sua extrema importância
florestas ou outras formas de vegetação adaptadas à inundação” (art.
para a prestação de serviços ecossistêmicos, essas áreas têm sido 3º, inciso XXV). Contudo, não estabelece regras claras para essas áreas.
consideradas como “os rins da paisagem” ou “supermercados ecológicos”, Algumas áreas úmidas são tratadas como Áreas de Preservação
o que as coloca como prioridade global para conservação e restauração Permanente (APPs), como manguezais (art.4º, VII), áreas no entorno
(Mitsch and Gosselink, 2011). Portanto, sua degradação pode levar ao de nascentes e olhos d´água perenes (art.4º, IV), ou em torno de
colapso de sistemas ecológicos e socioeconômicos inteiros. Além disso, as veredas (art.4º, XI). Outras áreas úmidas são tratadas como Áreas de
áreas úmidas abrigam alta biodiversidade, contendo espécies raras ou Uso Restrito (AURs), como é o caso dos “pantanais”, onde é permitida
ameaçadas, exclusivas desses ambientes (MEA, 2005). Numerosas espécies a “exploração ecologicamente sustentável” (art. 10). Existe ainda a
de animais aquáticos e terrestres, incluindo agentes polinizadores, possibilidade de o Governo identificar, caso a caso, áreas úmidas que
dependem das áreas úmidas para alimentação, abrigo e/ou reprodução devam ser especialmente protegidas, declarando-as APPs (art.6, IX),
(Gibbs, 2000). que podem requerer desapropriação.
Em muitos países, o conceito de área úmida é bem compreendido, e Recentemente, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu,
seus ecossistemas frágeis recebem a devida atenção, visibilidade, uma aplicando o princípio in dubio pro natura, que, dada a sua
inquestionável importância ambiental, todas as áreas úmidas devam
delimitação clara e proteção legal (e.g., http://wetlands.org; https://
ser entendidas como protegidas, sejam APPs ou AURs,
www.nrcs.usda.gov/wps/portal/nrcs/detailfull/national/water/wetlands).
independentemente de sua nomenclatura (Resp. 1787748/RS, Min.
A relevância das áreas úmidas foi mundialmente consolidada com a Con- Rel. Herman Benjamin, DJe, IX.14.2020). Essa interpretação, no
venção de Áreas Úmidas de Importância Internacional, conhecida como entanto, ainda está longe de ser uniforme na jurisprudência e na
Convenção de Ramsar, instituída em fevereiro de 1971 na pequena cidade prática administrativa. O tratamento das veredas, por exemplo,
iraniana de Ramsar (Matthews, 2013). O Brasil é signatário da Convenção permanece muito controverso. Em alguns Estados, com base na
de Ramsar, que foi incorporada ao seu arcabouço legal em maio de 1996. interpretação literal do art.4º, XI, e na ausência de regras locais, a
No Brasil, entretanto, a expressão “área úmida” raramente é mencionada conversão de veredas é permitida, pois entende-se que a lei protege
nas políticas ambientais, na legislação, na academia e na mídia, refletindo apenas a faixa marginal de 50 m ao redor do espaço
a incompreensão de seu significado. As áreas úmidas têm recebido permanentemente alagado. Em outros Estados, seja por existirem
diferentes tratamentos jurídicos e graus de proteção no Brasil, regras mais explícitas ou por interpretarem a lei de forma mais
dependendo dos tipos de vegetação que as ocupam, e seu tratamento integrativa, tanto as veredas quanto a faixa ao seu redor, que
também varia entre os Estados e até mesmo entre os setores dentro de possuem mera função de tampão, são consideradas APPs. Existe uma
uma mesma organização (Maltchik et al., 2018). Esforços recentes têm proposta de mudança na lei no Congresso Nacional, com o objetivo
de formalizar esta última interpretação; no entanto, esta solução
sido dedicados a categorizar os tipos de áreas úmidas no Brasil,
resolveria o problema de apenas um tipo de área úmida – a vereda –
demonstrar sua importância e a necessidade urgente de políticas públicas
deixando vários outros (ver Tabela 1) descobertos.
visando sua conservação (e.g., Junk et al., 2013; Cunha et al., 2015). No Como argumentamos neste artigo, todas as áreas úmidas têm a
entanto, a multiplicidade de tipos de vegetação ocupando áreas úmidas no mesma importância ambiental, embora abriguem diferentes tipos de
Brasil e a incompletude da literatura sobre sua ecologia e conservação vegetação e, portanto, devem ter o mesmo grau de proteção que as
exigem esforços adicionais para preencher as lacunas. Como AURs, conforme decisão do STJ. Nos casos em que estejam fora das
consequência, as leis ambientais também permanecem incompletas APPs, as áreas úmidas devem ser incluídas nas Reservas Legais
quando se referem a áreas úmidas no Brasil (Grasel et al., 2019). exigidas para cada propriedade rural. No entanto, para que essas
Neste ensaio, tratamos especialmente das áreas úmidas do Cerrado, diretrizes sejam efetivas, é fundamental a correta identificação das
porque: i) o Cerrado é a maior entre as savanas Neotropicais, abrangendo áreas úmidas em escala local.
cerca de 22% do território brasileiro e abrigando as cabeceiras da maioria
das bacias hidrográficas do país (Lima and Silva, 2007); ii) as recentes
mudanças no uso da terra em grande escala nesse bioma aumentaram a
degradação de áreas úmidas, a um nível sem paralelo em outros biomas
brasileiros (Latrubesse et al., 2019); iii) as áreas úmidas do Cerrado são As florestas situadas em áreas úmidas do Cerrado não são tratadas
pouco compreendidas em relação a outras áreas úmidas do país, como o adequadamente pelas leis ambientais, sendo apenas parcialmente
Pantanal ou a planície de inundação do rio Amazonas (Silva et al., 2000; protegidas por uma estreita faixa de Área de Preservação Permanente
Pott and Pott, 2004; Junk et al., 2018); a legislação existente falha em (APP) ao redor de nascentes ou ao longo das margens dos cursos d'água.
proteger de forma clara e adequada todos os tipos de áreas úmidas do Como a largura dessa faixa é medida a partir da margem do córrego na
Cerrado (ver quadro Table 1 para os tipos de vegetação). estação seca (a “menor largura”,

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G. Durigan, C.B. Munhoz, M.J. Zakia et al.
Table 1
Vegetation types (phytophysiognomies) occupying wetlands in the Cerrado and their main attributes (based upon: Guarino and Walter, 2005; Ramos et al., 2006; Lima et al., 2015; Barbosa et al., 2019; and Nogueira et al., 2022).

Formação* Tipos de vegetação Nomenclatura brasileira Descrição da vegetação Famílias, gêneros e espécies representativas Regime hidrológico
Wet grassland; Campo limpo Cobertura contínua do solo rica em Cyperaceae (e.g. Bulbostylis, Cyperus brasiliensis, Solo encharcado temporária ou
espécies de graminoides, ervas e Rhynchospora emaciata, R. robusta), Eriocaulaceae sazonalmente pela elevação das
Campo Wet herbaceous úmido; Campo
subarbustos, sem arbustos espessos, (Eriocaulon, Paepalanthus flaccidus, Syngonanthus águas subterrâneas (lençol
grassland; Moist úmido arvoretas ou árvores. nitens), Lentibulariaceae (Utricularia), Orchidaceae freático próximo à superfície).
grassland (Bletia catenulata, Cleistes, Habenaria), Poaceae
(e.g. Andropogon virgatus, Paspalum lineare,
Sacciolepis myuros, Sacharum asperum,
Trichanthecium parvifolium), Polygalaceae
(Polygala), Xyridaceae (Abolboda poarchon, Xyris
jupicai, X. tortula).

Cobertura contínua do solo rica em Flora da vegetação rasteira muito semelhante à Solo inundado temporária
Wet shrubby Campo sujo úmido; ou sazonalmente pela
espécies de graminoides, ervas e do Campo limpo úmido e parte da Vereda,
grassland; Wet Várzea (in part**);
subarbustos, arbustos espessos diferindo por arbustos dispersos (e.g. elevação do lençol, ou
herbaceous- Brejo (in part) dispersos e arvoretas; árvores raras ou Chamaecrista, Duguetia furfuracea, Jacaranda temporariamente inundado
shrubby ausentes (cobertura do dossel < 5%). caroba, Miconia albicans), arvoretas e árvores pelo transbordamento do
(e.g. Casearia sylvestris, Ilex brasiliensis) curso d’água.
grassland
oriundas da vegetação adjacente como a Mata de
galeria inundável.
Cobertura contínua do solo rica em
Earth mound Campo com espécies de graminoides, ervas e Dois componentes complementares, florística e Matriz mal drenada,
grassland; Earth murundus; Campo subarbustos (a matriz) com estruturalmente distintos: i) as áreas planas em torno temporária ou sazonalmente
mounds; Termite de murundus;
montículos de terra conspícuos e bem dos montículos com flora herbáceo-subarbustiva alagada ou inundada pela
drenados (os murundus), geralmente como nos campos úmidos; ii) os montículos, elevação do lençol freático,
savanna*** Covoal; Monchão associados a cupins, com (ou
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espacialmente restritos, mas conspícuos e bem enquanto os montículos são


raramente sem) arvoretas e árvores no drenados, com arvoretas e árvores (e.g. Alibertia permanentemente bem
topo. edulis, Bowdichia virgilioides, Cecropia pachystachya, drenados.
Curatella americana, Lafoensia pacari, Syagrus,
Vochysia divergens, V. elliptica), ervas e arbustos (e.g.
Bromeliaceae, Fabaceae e Poaceae) característicos de
savana seca.

Palm swamp Vereda; Várzea (in Camada contínua de graminoides, Composição do estrato rasteiro muito semelhante aos Solo encharcado temporária,
sazonal ou permanentemente

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Savana ervas e subarbustos, com palmeiras campos limpo e sujo úmidos, diferindo pela presença
part)
(12-15 m de altura) dispersas ou de palmeiras. A mais comum é o buriti Mauritia pela elevação do lençol
Brejo (in part) freático.
aglomeradas, e poucas espécies flexuosa, mais densa na parte baixa do terreno, onde o
arbóreas e arbustivas (cobertura do alagamento é mais severo e os arbustos mais
dossel 5-10%). A distribuição de frequentes; a palmeira menos comum e menor é a
espécies associada à severidade do buritirana, Mauritiella armata, que ocupa as porções
alagamento resulta em diferentes melhor drenadas. Alguns arbustos são comuns (e.g.
comunidades na borda, no meio e no Ludwigia nervosa, Macairea radula, Miconia albicans,
fundo. M. chamissois, Piper aduncum) e espécies arbóreas da
Mata de galeria inundável podem ocorrer (e.g.
Byrsonima umbellata, Calophyllum brasiliense,
Cecropia pachystachya, Dendropanax cuneatus,
Protium heptaphyllum, Richeria grandis, Tapirira
guianensis, Xylopia emarginata).
G. Durigan, C.B. Munhoz, M.J. Zakia et al.
Table 1 (Continued)

Formação* Tipos de vegetação Nomenclatura brasileira Descrição da vegetação Famílias, gêneros e espécies representativas Regime hidrológico
Mauritia palm Buritizal Palmeiras (8-15 m de altura) em Totalmente dominado por Mauritia flexuosa, Temporária ou
grove; Mauritia povoamentos mais densos embora algumas árvores (e.g. Calophyllum permanentemente
(cobertura do dossel 10-50%) do brasiliense, Cecropia pachystachya, Dendropanax encharcada pela elevação do
palmland que nas Veredas; espécies herbáceas cuneatus, Protium heptaphyllum, Xylopia lençol freático e por
e arbustivas de sub-bosque escassas emarginata), arvoretas ou arbustos (e.g. Jacaranda drenagem deficiente.
ou frequentemente ausentes devido caroba, Miconia chamissois) possam ocorrer em
às enormes folhas e inflorescências densidade menor do que na Vereda.
de Mauritia.

Swamp gallery Floresta higrófila; > Floresta perenifólia (cobertura do Dossel dominado por árvores como Calophyllum Permanentemente alagadas
Floresta dossel > 70%), geralmente associada brasiliense, Dendropanax cuneatus, Ferdinandusa devido ao lençol freático
forest Mata de galeria a corpos d'água, com sub-bosque speciosa, Guarea macrophylla, Hedyosmum
brasiliense, Richeria grandis, Protium spruceanum,
superficial, essas florestas
inundável; Mata de arbustivo-herbáceo, geralmente podem ser inundadas
cercada por campos úmidos (limpo Virola, Xylopia emarginata. Arvoretas e arbustos (e.g.
brejo; Mata alagada
Miconia, Piper) geralmente ocorrem nas bordas e no sazonalmente por
ou sujo). sub-bosque. Fabaceae raras ou ausentes. transbordamentos de cursos
d’água
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Floodplain forest Ipuca; Impuca Mancha ou fragmento de floresta As espécies mais frequentes são Sazonalmente inundada pela
(cobertura do dossel > 50%) em Calophyllum brasiliense, Leptobalanus elevação do lençol freático e
uma discreta depressão parvifolius, Tachigali vulgaris, e Vochysia pela água da chuva. A
sazonalmente inundada (0,40 a divergens. planície campestre ao redor
1,20 m abaixo da planície é periodicamente inundada
campestre circundante), não devido à má drenagem e ao
conectada a cursos d'água. Sub- transbordamento do rio.
bosque ausente, exceto nas
bordas. Exclusiva das planícies da

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bacia do médio rio Araguaia, nos
estados de Tocantins e Mato
Grosso.

* Campo é dominado por espécies de plantas herbáceas, com árvores ausentes ou muito escassas. Savana possui árvores dispersas sobre o estrato herbáceo-arbustivo. Floresta é dominada por espécies arbóreas.
** “Em parte” porque “Várzea” e “Brejo” referem-se apenas à porção permanentemente inundada destes tipos de áreas úmidas.
*** O Campo com murundus se encaixa melhor como Campo do que como Savana, de acordo com nossas definições
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conforme Art. 4º (I), Lei 12.651), extensas áreas de matas sazonal ou características das áreas úmidas, sendo o principal descritor para
permanentemente alagadiças permanecem fora da APP. Adicionalmente, diferenciar os tipos de áreas úmidas (Junk et al., 2013). A estrutura e a
manchas isoladas de áreas úmidas que não estejam associadas a corpos composição da vegetação nas áreas úmidas são fortemente de-
d'água estão totalmente desprotegidas. Igualmente inadequada é a pendentes dos processos hidrológicos. A água que caracteriza a maio-
delimitação legal da APP em torno das veredas, com base na distância ria das áreas úmidas do Cerrado vem do lençol freático superfi-
horizontal a partir da área permanentemente alagada. De fato, essa estreita cial, ou pouco profundo, em contraste com as áreas úmidas do Pantanal ou
faixa de APP inclui apenas uma pequena parte dos trechos sazonalmente das florestas de várzea na Amazônia, onde as inundações resultam do
alagados de uma vereda, que muitas vezes podem se estender muito além transbordamento dos rios durante a estação chuvosa (Silva et al., 2000;
da APP e não devem ser tratados separadamente ou negligenciados. As Pott and Pott, 2004; Junk et al., 2018; Cunha et al., 2015). Geralmente,
áreas úmidas campestres localizadas às margens dos corpos d'água do como as áreas úmidas do Cerrado não estão sujeitas a inundações e
Cerrado são muitas vezes mal interpretadas como “resultado de aportes de sedimentos trazidos pela água dos rios, esses ecossistemas
desmatamento” por órgãos ambientais e por profissionais que atuam no possuem substratos altamente estáveis.
direito ambiental. Essas áreas úmidas são, então, consideradas como O lençol freático de uma área úmida do Cerrado é alimentado pela
passivo ambiental, ficando os proprietários inadvertidamente obrigados a infiltração das águas pluviais em toda a bacia hidrográfica. O
plantar espécies arbóreas onde nunca existiram florestas, sob o pretexto escoamento superficial é raro no bioma, restrito a locais de relevo
equivocado de “restauração de mata ciliar”. O plantio de árvores em áreas montanhoso ou com impedimento de drenagem; é quase inexistente nas
úmidas causa grandes perdas na rica flora herbáceo-arbustiva e na fauna áreas planas com solos arenosos e profundos, que compõem a maioria
associada, além de impactos hidrológicos. das terras do Cerrado. Parte da chuva que cai sobre a vegetação
Dentre os serviços ecossistêmicos prestados pelas áreas úmidas (MEA, evapora antes de atingir o solo, mas a maior parte nele infiltra; a
2005), dois são especialmente relevantes no Cerrado: i) elas funcionam água infiltrada que excede a absorção pelas raízes das plantas percola
como filtros e reservatórios de água doce, alimentando diretamente a lentamente e se acumula no fundo dos vales. Como as chuvas no
maioria dos córregos de primeira ordem em 8 das 12 grandes bacias Cerrado são caracterizadas por uma marcante sazonalidade, os
hidrográficas brasileiras (Lima and Silva, 2007), ), garantindo a qualidade pulsos hidrológicos condicionantes das áreas úmidas são também
da água e a perenidade dos rios na estação seca; e ii) armazenam sazonais e previsíveis. A elevação máxima do lençol freático e a
quantidades impressionantes de carbono em solos orgânicos (superiores a amplitude anual da sua profundidade variam consideravelmente
200 Mg C ha-1) (Wantzen et al., 2012; Franc¸ a and Paiva, 2015). Além dentro e entre locais (devido a fatores edáficos e topográficos) e entre
disso, esses ecossistemas desempenham papel fundamental na anos (devido as mudanças no volume e distribuição das chuvas).
socioeconomia local, servindo como meio de subsistência para várias Dado o lento movimento da água da chuva que infiltra
comunidades tradicionais (Schmidt et al., 2011; Junk et al., 2013; Borges et (Swa-rowsky et al., 2011), ), a elevação máxima do lençol freático no
al., 2016). Apesar de sua inegável importância para a conservação da Cerrado costuma ser registrada entre abril e maio, quando as chuvas
biodiversidade e provisão de serviços ecossistêmicos, a crítica realidade é já diminuíram (Manzione, 2018). Por outro lado, os níveis mais baixos
que, sem a devida proteção legal, as áreas úmidas do Cerrado do lençol freático ocorrem no início da estação chuvosa (outubro-
permanecem vulneráveis e podem ser livremente convertidas (drenadas novembro). As plantas aproveitam rapidamente as primeiras
ou não) para qualquer uso da terra, por mais desastroso que este seja chuvas e, somente após essa demanda ser atendida, o excedente
(Moreira et al., 2015; Pott et al., 2019; Brasil et al., 2021). Exemplos desses passa a recarregar o lençol freático (Oliveira et al., 2017). Parte dessa
usos têm sido mineração de areia, agricultura, silvicultura com espécies água segue infiltrando, alimentando os aquíferos profundos. O
exóticas (Pinus e Eucalyptus), pastagens com gramíneas africanas restante alimenta fontes de água superficiais, que, devido a esses
adaptadas a solos encharcados (por exemplo, Urochloa humidicola) e até processos de recarga, são perenes, ao contrário de outras extensas
mesmo urbanização. O represamento de água ou a escavação de poços savanas do planeta (Tooth, 2000). Em algumas áreas úmidas do Cerrado,
para dessedentação do gado, irrigação, piscicultura, paisagismo e camadas de impedimento (laterita, diferenciação textural do solo)
propósitos recreativos pode causar a perda direta de áreas úmidas e dificultam a drenagem, restringindo a infiltração da água das chuvas para
comprometer seus pulsos hidrológicos naturais. as reservas profundas e, proporcionalmente, alimentando mais os
corpos d’água superficiais. As áreas úmidas resultantes dessas camadas
Os diferentes tipos de áreas úmidas do Cerrado de impedimento podem ocorrer mesmo em platôs ou encostas, em
Diferentes tipos de vegetação ocupam áreas úmidas no bioma regiões onde a geomorfologia o permita.
Cerrado, variando de florestas a campos (principais tipos descritos na
Tabela 1 e ilustrados na Figura 1), muitas vezes formando mosaicos Fatores condicionantes das comunidades vegetais em áreas
complexos na paisagem. As diferenças apontadas por fitogeógrafos, úmidas do Cerrado
botânicos e ecólogos entre as fitofisionomias que ocupam as áreas úmidas Apesar das diferenças de textura (de arenosa a argilosa) e gênese
do Cerrado resultam em um amplo número de conceitos e denominações, (sedimentar, residual ou orgânica), os solos das áreas úmidas do
difíceis de reconhecer in loco mesmo por especialistas, o que dificulta a Cerrado são geralmente muito ácidos, com baixa disponibilidade de
interpretação das leis vigentes. Além do mais, existem transições graduais nutrientes e altos teores de matéria orgânica. Todos esses solos estão
entre porções desses mosaicos de áreas úmidas e o mosaico como um todo sujeitos à saturação de água e, portanto, a condições anaeróbicas, pelo
é dinâmico ao longo do tempo. Os muitos termos usados para se referir à menos temporariamente. O acúmulo e a lenta decomposição da
vegetação herbácea incluem campo úmido, campo alagado, campo com/ matéria orgânica resultante da saturação hídrica permanente formam solos
de murundus, várzea, brejo, e aqueles que se referem à vegetação lenhosa orgânicos escuros, às vezes turfeiras, podendo ultrapassar 1 m de
incluem vereda, buritizal, palmeiral, floresta higrófila, floresta pantanosa, profundidade, com grandes estoques de carbono (Wantzen et al.,
mata de brejo, mata de galeria inundável, floresta alagável, mata paludosa, 2012; Franç a and Paiva, 2015). Tais condições edáficas resultam em
mata úmida ou mata alagada. Esses termos geralmente descrevem flora altamente especializada (Justin and Armstrong, 1987; Rossatto
sistemas que guardam entre si apenas diferenças sutis, às vezes misturas et al., 2012; Villalobos-Vega et al., 2014; Silva et al., 2017).
de conceitos ou também mera sinonímia, com muita redundância e Apesar de alguns tipos de áreas úmidas do Cerrado serem
pequenos conflitos. permanentemente alagadas, em muitos casos as plantas precisam ser
adaptadas à hiperestacionalidade, devido a grande flutuação do lençol
Funcionamento hidrológico das áreas úmidas do Cerrado freático ao longo do ano. Há saturação de água especialmente no final da
estação chuvosa em tais ecossistemas, mas o solo permanece
O funcionamento hidrológico é o fator mais crítico que determina as

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Fig. 1. Principais tipos de vegetação que podem ocupar áreas úmidas no bioma Cerrado (ver Tabela 1 para informações detalhadas).

extremamente seco e o lençol freático muito profundo por longos A elevação máxima do lençol freático (ou profundidade mínima
períodos, tornando particularmente difícil reconhecer esses tipos de do lençol) é o principal fator limitante para a colonização das áreas
áreas úmidas sazonais (Junk et al., 2013). Dentro de uma área úmida, úmidas do Cerrado, por espécies dos terrenos secos da vizinhança
quanto maior a amplitude de variação na profundidade do lençol (Ribeiro et al., 2021). Em todos os terrenos onde a profundidade do
freático e no nível de encharcamento, maior será sua diversidade lençol freático estiver a menos de 50 cm de profundidade, pelo
florística. Esses fatores geralmente diferem entre as bordas e o fundo menos durante o período de sua elevação máxima, haverá flora
das áreas úmidas no Cerrado, resultando em gradientes florísticos especializada de áreas úmidas e as plantas sensíveis ao alagamento
associados (Meirelles et al., 2002; Oliveira et al., 2009). serão incapazes de colonizar (Pilon, 2016; Ribeiro, 2020). Se esse

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solos orgânicos resulta em altas emissões de metano (Turetsky et al.,


ritmo de elevação anual for alterado, por causas naturais ou 2011), um gás de efeito estufa mais nocivo que o CO2, que é
antropogênicas, os limites da área úmida também mudarão, conforme normalmente emitido pela queima da biomassa acima do solo. O
discutido adiante. rebaixamento do lençol freático também pode desencadear invasões
Das cerca de 12.600 espécies vegetais do Cerrado, cerca de 20% estão biológicas. Áreas que anteriormente eram alagadiças passam a ser
associadas a fitofisionomias características de áreas úmidas (Mendonca vulneráveis à colo-nização por gramíneas agressivas que são
et al., 2008). Existem famílias inteiras cujas espécies ocorrem amplamente dissemi-nadas no Cerrado como plantas daninhas ou
predominantemente ou exclusivamente em áreas úmidas, diferindo invasoras (exemplos: Andropogon gayanus, Hyparrhenia rufa,
ligeiramente entre os tipos de vegetação (exemplos na Tabela 1 e Melinis minutiflora, M. repens, Urochloa brizantha, U. decumbens),
Figura 2). Essas espécies são muitas vezes consideradas indicadoras uma vez que essas espécies não toleram solos saturados (Tannus and
desses ambientes. Essa especialização resulta em altos graus de Assis, 2004; Oliveira et al., 2009). AOutro exemplo de consequência
endemismo e em grande número de espécies raras e ameaçadas de negativa do rebaixamento do lençol freático é o aumento da
extinção (e.g. Eriocaulon burchellii, Microlicia ordi-nata, Mesosetum colonização de campos úmidos por espécies arbustivas e arbóreas
alatum, Polygala bevilacquai, Xyris goyazensis, X. paradisiaca) nativas adaptadas a ambientes bem drenados, resultando no chamado
(Martinelli et al., 2014). adensamento lenhoso (“woody encroachment”) (Giotto, 2015; Gonç alves
The absence or rarity of taxa that are otherwise abundant and A et al., 2021). ). Apesar de levar a transformações notáveis nas
ausência ou raridade de táxons que em áreas bem drenadas do Cerrado comunidades vegetais e na paisa-gem, o adensamento da vegetação
são abundantes e ricos em espécies, como Fabaceae (Leguminosae), lenhosa tem sido mal interpretado por muitos como uma “melhoria” do
também contribui para a distinção florística das áreas úmidas neste ecossistema. Naturalmente, todas as mudanças mencionadas
bioma. Também é notável a ausência de algumas gramíneas exóticas também impactam a fauna nativa que habita as áreas úmidas ou
invasoras (e.g., Urochloa decumbens, U. brizantha), ue não sobrevivem utiliza os recursos disponíveis em seu interior (Stanton et al., 2018).
em terrenos alagados. Esse conjunto de ameaças, hoje bem compreendidas, decorre da
história das áreas úmidas do Cerrado, que têm sido alvo de políticas
Áreas úmidas do Cerrado: uma história de ameaças, públicas predatórias e ambientalmente insustentáveis nas últimas
negligência e políticas de conservação ineficazes décadas. Exemplo disso foi o programa Provárzeas (Programa
O funcionamento do ecossistema em áreas úmidas do Cerrado é Nacional de Uso de Várzeas Irrigáveis), que foi planejado nas décadas de
fortemente dependente dos pulsos hidrológicos naturais. Consequen- 1970 e 1980 e lançado nacionalmente em 1981 (Decreto 86.146), para
temente, qualquer fator que modifique o regime de flutuação do lençol estimular a produção agrícola em áreas úmidas, apesar de violar as
freático levará à degradação, perda de diversidade e de serviços ecossis- diretrizes do Código Florestal de 1965. Para tanto, o programa
têmicos, principalmente pela redução dos estoques de carbono do solo e incentivou os proprietários rurais, com apoio financeiro, técnico e
alteração da produção de água. A drenagem de áreas úmidas modifica administrativo do governo, a drenar e cultivar várzeas em suas terras. As
diretamente o regime hidrológico com impactos imediatos. Assim, primeiras iniciativas no Cerrado foram implantadas no estado de Minas
a conservação das áreas úmidas e a manutenção de suas funções Gerais, onde o que se entendia como “várzeas” eram justamente
dependem de um controle rigoroso das mudanças no uso da terra em as áreas úmidas do Cerrado aqui descritas, particularmente
toda a bacia hidrográfica e não apenas dentro das zonas sob saturação as veredas e os campos úmidos. Esses ecossistemas, ao contrário
das verdadeiras várzeas alimentadas pelo transbordamento dos
hídrica.
rios, não estão sujeitos a pulsos de fertilização por inundações anuais;
Mudanças na vegetação podem ter grandes efeitos na vazão anual de
seus solos altamente ácidos, pobres em nutrientes e suscetíveis à
uma bacia hidrográfica. Evidências de bacias pareadas mostram que o
erosão são impróprios para o cultivo. A ocupação catastrófica de áreas
aumento ou diminuição na biomassa acima do solo, em mais de 20% da
úmidas se expandiu para outras regiões do Cerrado, replicando
área de uma bacia hidrográfica, causará uma diminuição ou aumento na
amplamente a degradação oficialmente estimulada desses frágeis
vazão (fluxo anual da bacia), respectivamente(Bosch and Hewlett, 1982;
ecossistemas, prejudicando severamente sua biodiversidade e seus serviços
Brown et al., 2005). Quanto maior a interceptação da chuva pelas copas
ecossistêmicos.
das árvores e quanto maior a transpiração, menos água irá recarregar as
O Brasil é signatário da Convenção de Ramsar há um quarto de
reservas subterrâneas, nascentes e rios (Honda and Durigan, 2016).
século, mas isso não tem contribuído para esclarecer e difundir o
Portanto, os sistemas de silvicultura ou lavoura-pecuária-floresta baseados
conceito de áreas úmidas, nem para valorizá-las no Cerrado, bioma
em espécies arbóreas de rápido crescimento, e até mesmo plantações de conhecido como o “berço das águas” ou o “a caixa d’água do
alta densidade de árvores nativas onde a antiga vegetação nativa era Brasil”. Dos 27 sítios Ramsar oficiais do país, apenas dois (Parque
campo ou savana, inevitavelmente levarão ao rebaixamento do lençol Nacional do Araguaia/TO e APA Carste de Lagoa Santa/MG) estão
freático nas áreas úmidas (Jackson et al., 2005; Ferraz et al., 2019). A aber- inseridos no bioma Cerrado, ambos localizados em suas fronteiras
tura e superexploração de poços nas zonas de interflúvio, seja para irri- (MMA, 2021), sem que haja sítios reconhecidos na área central do
gação de culturas ou abastecimento humano, também levam ao rebai- bioma. Os tomadores de decisão e a população em geral não percebem que
xamento do lençol freático, colocando em risco as funções ecológicas das os campos com murundus, os campos úmidos com ou sem buritis, ou
áreas úmidas (Salem et al., 2017; Sun et al., 2019). A impermeabilização da mesmo as matas de brejo, dentre as muitas denominações aqui
superfície da bacia por infraestrutura e urbanização, e práticas apresentadas na Tabela 1, se enquadram perfeitamente no conceito
inadequadas de manejo na agricultura ou pecuária, levam à compactação internacionalmente aceito de áreas úmidas e não deveriam ser tratados
do solo, reduzindo a infiltração e recarga de águas subterrâneas, causando separadamente pela lei, ou por políticas de conservação. Esses tipos de
picos de vazão e até mesmo enchentes durante a estação chuvosa (Honda vegetação ocupam uma grande área do Cerrado e raramente são
and Durigan, 2017), provavelmente resultando em prejuízos ambientais e mapeados quando não possuem cobertura arbórea. No Distrito
econômicos. Infelizmente, os instrumentos legais que poderiam impedir o Federal, as áreas úmidas foram estimadas em 3,4% do território (Franç a
rebaixamento do lençol freático (por exemplo, Plano Diretor Municipal et al., 2008). Na Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins,
ou Zoneamento Ecológico-Econômico) não têm sido eficazes. correspondem a 4,8% (Cristo et al., 2016). Proporções semelhantes são
Danos indiretos aos ecossistemas das áreas úmidas decorrentes do provavelmente comuns em todo o bioma. Bozelli et al. (2018)
rebaixamento do lençol freático raramente são percebidos. Por exemplo, estimaram que as áreas úmidas ocupam cerca de 20% do Brasil.
sob condições naturais em campos úmidos, um evento de fogo elimina Embora a Convenção de Ramsar tenha determinado que os países
apenas a biomassa acima do solo (Schmidt et al., 2017) que se recupera signatários mapeassem suas áreas úmidas, isso ainda não foi
imediatamente por rebrota, seguida de floração intensa (Araújo et al., alcançado no Brasil, especialmente para pequenas manchas, como
2013). Se, no entanto, o incêndio foi precedido pelo rebaixamento do len- aquelas que compõem a maioria das áreas úmidas do Cerrado.
çol freático, condições climáticas extremas podem permitir que a matéria No que diz respeito ao marco legal, é fundamental definir
orgânica acumulada no solo continue queimando durante meses claramente as áreas úmidas e facilitar sua identificação e delimitação em
(Maillard t al., 2009), comprometendo severamente a resiliência do propriedades rurais e áreas urbanas. Deve-se reconhecer que
ecossis-tema. Esse processo de degradação é agravado porque a queima de

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Alguns exemplos de espécies indicadoras de áreas úmidas do Cerrado. Essas espécies foram selecionadas com base na sua ausência nos ecossistemas bem
Fig. 2.
drenados adjacentes, pela ampla distribuição geográfica (bancos de dados do Species Link e Flora do Brasil 2020), e também por serem facilmente reconhecidas em
campo.

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a Lei de Proteção da Vegetação Nativa (Lei 12.651) procurou proteger hidrológico (ver Tabela 1, Figura 1), são cruciais para direcionar o
as áreas úmidas. No entanto, a aplicação da lei tornou-se imprecisa, planejamento da restauração da vegetação nativa e para práticas de
incompleta e ineficaz por definir mal as áreas úmidas, tratando os uso sustentável. Nos âmbitos estadual e federal, as agências brasileiras
diferentes tipos de vegetação com regras distintas ou simplesmente de pesquisa e desenvolvimento agropecuário devem fornecer
ignorando algumas delas. subsídios e instruções para restringir o uso de áreas úmidas para fins
O fato das áreas úmidas não serem mapeadas por órgãos agrícolas, oferecendo alternativas de práticas de uso ecologicamente
governamentais no Brasil (por exemplo, Secretarias Estaduais do sustentáveis que sejam compatíveis com cada tipo de área úmida e
Meio Ambiente), exceto quando ocupam grandes áreas, agrava sua que considerem o tamanho das propriedades.
vulnerabilidade. Isso é ainda pior no Cerrado, onde grande parte da
vegetação nativa nas áreas úmidas não possui cobertura arbórea. (b) Inclusão das áreas úmidas legalmente desprotegidas na
Levantamentos que mapeiam a vegetação natural remanescente do Reserva Legal
Cerrado (por exemplo, Sano et al., 2010, Beuchle et al., 2015) não Embora defendamos que todas as áreas úmidas do Cerrado estejam
detalham áreas úmidas e raramente mapeiam tipos de vegetação com sob o mesmo status legal, essa unificação requer mudanças no texto
menos de 50% de cobertura arbórea. Assim, as perdas dos tipos de da lei vigente. Enquanto aguardamos por essas mudanças, indicamos
vegetação do Cerrado com cobertura arbórea naturalmente baixa, (no Quadro 1) como as áreas úmidas do Cerrado podem ser
como é o caso de muitas áreas úmidas, não são sequer quantificadas. protegidas pela legislação vigente. No entanto, também destacamos
Um estudo recente quantificou 25% das veredas do Cerrado como que essa proteção é incompleta, com muitas áreas ou tipos de áreas
degradadas ao longo de 34 anos (Brasil et al., 2021). A inexistência de úmidas permanecendo desprotegidas. Por isso, recomendamos que,
mapas que permitam identificar áreas úmidas não florestais, e mesmo caso não esteja protegida como APP, qualquer área úmida, com ou
savanas abertas em zonas de interflúvio, tem facilitado a degradação e sem vegetação arbórea, seja tratada como área prioritária para
dificultado a fiscalização e aplicação das penalidades cabíveis. Esta inclusão na Reserva Legal (RL) da propriedade ou para compensação
situação tende a melhorar, pois a plataforma MapBiomas (2020) de outras propriedades (servidão ambiental). Essa recomendação já
disponibilizou recentemente mapas de áreas úmidas do Cerrado, consta como um dos critérios para delimitação da RL (art.14 da Lei
agrupadas em uma única classe de legenda – ID 11: Áreas úmidas. 12.651):
Esses mapas podem ser a base para políticas públicas unificadas que Art. 14. A localização da área de Reserva Legal no imóvel rural deverá levar
venham a evitar a conversão de terras e prevenir a degradação de em consideração os seguintes estudos e critérios: I - o plano de bacia
todos os tipos de áreas úmidas do Cerrado. Isso inclui revisar as hidrográfica; II - o Zoneamento Ecológico-Econômico; III - a formação de
disposições da Lei de Proteção à Vegetação Nativa e alinhá-la com as corredores ecológicos com outra Reserva Legal, com Área de Preservação
leis estaduais do país. Permanente, com Unidade de Conservação ou com outra área legalmente
protegida; IV - as áreas de maior importância para a conservação da
biodiversidade; e V - as áreas de maior fragilidade ambiental.
Recomendações para viabilizar a conservação das áreas As áreas úmidas se enquadram especialmente nos itens III (são
úmidas do Cerrado geralmente ligadas a corredores ribeirinhos), IV (têm biodiversidade
excepcional e alto endemismo, com espécies peculiares que não
A proteção de áreas úmidas requer atuação em diversos domínios, ocorrem nas áreas secas) e V (são áreas criticamente frágeis, altamente
dentre os quais destacamos a necessidade de enquadramento legal suscetíveis à contaminação dos recursos hídricos, vulneráveis à erosão
adequado com critérios objetivos. Além disso, apresentamos e assoreamento e, sob risco de alta emissão de metano em caso de
recomendações relacionadas a políticas públicas, planejamento, distúrbios). Esses três critérios colocam as áreas úmidas como
comunicação, assistência técnica, capacitação, manejo sustentável e prioridade máxima na demarcação das RLs, caso não sejam
restauração. reconhecidas como APP (ver Quadro 1). Se classificadas como Áreas
de Uso Restrito, todas as áreas úmidas ainda podem fazer parte das
(a) Identificação e mapeamento em escala local usando critérios RLs, sendo permitido o uso sustentável, de acordo com a Lei 12.651.
objetivos: flora, solos e profundidade do lençol freático
Independentemente do tipo de vegetação nativa, o reconhecimento de (c) Regulamentação de intervenções que comprometem o
uma área úmida deve ser baseado na flora que a distingue de outros funcionamento hidrológico
tipos de vegetação (espécies, gêneros ou famílias de plantas Qualquer intervenção dentro de áreas úmidas ou a montante deve
indicadoras), nos solos hidromórficos e na maior elevação ser devidamente regulamentada quando ameaçar o funcionamento
(profundidade mínima) do lençol freático ao longo do ano. Em hidrológico. Assim, barramentos de cursos d'água que possam
imagens de sensoriamento remoto, as áreas úmidas destacam-se das submergir a vegetação ou que modifiquem o regime hidrológico de
áreas secas adjacentes pela coloração diferenciada, proporcionada pela áreas úmidas (comprometendo os pulsos de aumento e diminuição da
flora especializada e pelos solos orgânicos e úmidos. Embora essas profundidade do lençol freático) só devem ser permitidos em casos
características facilitem o mapeamento, mesmo de pequenas áreas, a excepcionais de utilidade pública. Novas obras de drenagem de áreas
delimitação exata do espaço úmido, pantanoso ou encharcado só pode úmidas devem ser estritamente proibidas, devido aos danos diretos
ser realizada no local. Considerando que a flora especializada ocupa aos recursos hídricos e às emissões de metano resultantes do
áreas onde a profundidade do lençol freático no final da estação revolvimento do solo. A drenagem pode rebaixar artificialmente o
chuvosa (geralmente abril-maio no Cerrado) é inferior a 50 cm lençol freático, constituindo-se em fator decisivo na degradação das
(Giotto, 2015; Pilon, 2016; Ribeiro 2020), propomos que a delimitação áreas úmidas. A outorga para perfuração de novos poços para
da área úmida seja feita in loco nesse período, adotando essa captação de águas subterrâneas no Cerrado, mesmo em zonas de
profundidade como critério. As áreas onde o lençol freático se elevar interflúvio, deve levar em conta se o nível do lençol freático nas áreas
acima de 50 cm de profundidade em qualquer época do ano não úmidas será comprometido.
podem ser convertidas para outros usos. Sem intervenções que
rebaixem artificialmente o lençol freático, essas áreas não são (d) Capacitação e conscientização
adequadas para cultivo, devido aos solos saturados, aos quais a A existência de áreas úmidas na paisagem, sua caracterização, sua
maioria das plantas cultivadas não consegue sobreviver. Segundo o grande importância e extrema fragilidade não têm merecido
Serviço de Conservação de Recursos Naturais/Natural Resources proporcional atenção da pesquisa, ensino, extensão e muito menos da
Conservation Service, dos Estados Unidos (USDA-SCS, 1972), a mídia no Brasil. São especialmente negligenciadas as áreas úmidas
recomendação clássica adotada em diversas regiões do mundo, e no cuja vegetação natural é um campo sem árvores, situação comum no
Brasil, é que não se deve cultivar solos onde o lençol freático possa se Cerrado e que ocorre também nos biomas Pantanal ou Pampa, que
elevar acima de 60 cm de profundidade, mesmo que essa elevação seja muitas vezes são mapeadas como passivo ambiental (Paula, 2019).
sazonal. Portanto, delimitar as áreas úmidas do Cerrado com base na Portanto, é necessário divulgar a existência e extrema importância das
profundidade de 50 cm quando do pico da elevação do lençol freático áreas úmidas, em particular daquelas com vegetação campestre, para
não implicaria em perda de área produtiva. evitar desastrosas intervenções de “restauração florestal”. A alta
Além dos mapas gerais que delimitam as áreas úmidas como um todo diversidade de plantas e animais que habitam essas áreas, contendo
para verificação do cumprimento da lei, os mapas em escala espécies endêmicas e ameaçadas, deve ser amplamente divulgada.
detalhada, que diferenciam tipos de vegetação e o funcionamento

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Também é necessário esclarecer que as áreas úmidas campestres mínimo de segurança da borda das áreas úmidas para evitar a
no entorno das matas de galeria não devem ser transformadas em invasãodos ecossistemas naturais. Essa recomendação também se
“aceiros para proteger a floresta contra incêndios”, pois a refere às exceções legais para pequenas propriedades (Art. 61-A,
eliminação da vegetação herbácea nativa dessas áreas e a construção §13, IV), onde é permitido o plantio de espécies exóticas dentro
de estradas ao seu redor são uma das principais causas da das APPs. Paraespécies de Pinus, por exemplo, 250 m de
degradação das áreas úmidas do Cerrado (Brasil et al., 2021). Essas distância das áreas úmidas seria o mínimo recomendado
faixas de solo nu ao redor das áreas úmidas resultam em erosão, (Durigan et al., 2020).
perda de diversidade e culminam em um desastre completo para a A adição de fertilizantes em terras vizinhas favorece a proliferação
própria mata de galeria ao longo dos anos. As formações campestres de gramíneas exóticas invasoras (Bustamante et al., 2012), além da
ao redor de florestas em áreas úmidas são evolutivamente adaptadas eutrofização dos corpos d’água adjacentes. Isso pode causar, entre
ao fogo e, se “protegidas” (de fato, pretensamente protegidas), outros efeitos, florescimento de algas invasoras e expansão de
tendem a sucumbir ao adensamento de plantas lenhosas (Ribeiro et populações de macrófitas dominantes nativas (por exemplo, Typha) e
al., 2021). exóticas (por exemplo Hedychium coronarium, Hydrilla verticillata,
Profissionais de assistência técnica e ambiental devem ser Panicum repens, Urochloa arrecta) que afetam negativamente a biota
treinados para identificar áreas úmidas em escala local e para aquática (Thomaz, 2002).
recomendar sua proteção, seja como Área de Proteção Permanente,
Área de Uso Restrito e/ou Reserva Legal. (i) Restauração de ecossistemas em áreas úmidas do Cerrado
(e) Definição, validação e regulamentação de alternativas Qualquer intervenção de restauração precisa ser baseada nas
de exploração sustentável características da vegetação pré-existente – o ecossistema de
Faltam estudos que validem a sustentabilidade ecológica e a referência. O planejamento da restauração, portanto, deve considerar
viabilidade econômica da exploração de áreas úmidas, que sejam a flora especializada e o funcionamento hidrológico de cada tipo de
alinhadas ao conceito de “uso sábio” adotado pela Convenção de área úmida apresentada na Tabela 1. O erro mais comum nas áreas
Ramsar sobre Áreas Úmidas (MEA, 2005). Extrativismo vegetal, úmidas do Cerrado tem sido plantar árvores onde antes elas não
apicultura e meliponicultura, entre outras atividades de baixo existiam. Os raros estudos sobre restauração de áreas úmidas no Brasil
impacto, se bem manejadas, podem ser compatíveis com a mostraram que, em condições hidrológicas preservadas, o potencial
conservação da biodiversidade e manutenção dos serviços de regeneração natural da vegetação herbácea geralmente é alto (Pilon
ecossistêmicos. Diferentes tipos de vegetação de áreas úmidas de et al., 2019; Durigan et al., 2020). Entretanto, quando plantas exóticas
Cerrado proporcionam diferentes oportunidades para serem invadem a área faz-se necessária uma intervenção ativa. A
utilizadas de forma sustentável. A Lei de Proteção da Vegetação restauração, portanto, deve começar com a erradicação e controle das
Nativa tem regras diferenciadas para APP e AUR, e as disposições espécies invasoras, seguida de monitoramento para verificar o
legais relativas à exploração sustentável de ecossistemas naturais ou potencial de regeneração natural da vegetação nativa. O plantio de
restaurados dependem também do tamanho da propriedade rural, e mudas, touceiras ou sementes de espécies localmente adaptadas só é
isso deve ser considerado. recomendado se o ecossistema tiver perdido sua capacidade de se
regenerar naturalmente, e somente se as invasoras forem controladas.
(f) Limitação da área para silvicultura dentro de bacias Na maioria dos casos de degradação de áreas úmidas, o problema
hidrográficas central é a modificação do regime hidrológico, especialmente o
Plantações de árvores de espécies exóticas ou nativas, em áreas rebaixamento do lençol freático. A restauração da cobertura vegetal
anteriormente ocupadas por campo ou savana sob clima característica de áreas úmidas somente poderá ser realizada após a
estacional aumentam consideravelmente a interceptação da chuva correção da causa da mudança hidrológica.
pelas copas e a extração de água do solo, comprometendo o
funcionamento das áreas úmidas (Brown et al., 2005; Jackson et Conclusões
al., 2005). Portanto, a silvicultura deve ser restrita a uma proporção
máxima de 20% das bacias anteriormente cobertas por campos ou Diferentes tipos de vegetação ocupam áreas úmidas no bioma
savanas e que tenham pelo menos uma área úmida. Essa Cerrado, mas todas elas possuem a mesma função ecológica vital e de
recomendação deve orientar as políticas de ordenamento do território importância crítica, que é filtrar e armazenar a água da chuva e
(como o zoneamento econômico-ecológico ou os planos diretores abastecer continuamente os corpos d'água superficiais. Além de
municipais) em regiões ainda não ocupadas por plantações florestais. proteger e regular o abastecimento de água, as áreas úmidas
Em sistemas de produção integrados baseados em consórcio de sustentam elevada diversidade de plantas, animais e microrganismos,
árvores com plantas herbáceas (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta e também dão suporte às populações humanas e suas atividades
– ILPF ou Sistema Agroflorestal – SAF), a área basal de vegetação econômicas. A biota especializada das áreas úmidas não ocorre nos
arbórea não deve ultrapassar 15 m2 ha-1. Para não comprometer a ambientes bem drenados circundantes, proporcionando alto grau de
recarga das águas subterrâneas (Honda and Durigan, 2016), tesse endemismo. Além da singularidade de suas funções e biodiversidade,
limite representa a fronteira entre savana e floresta dentro do esses ecossistemas são todos extremamente frágeis, exigindo
Cerrado (Abreu et al., 2017). instrumentos sólidos de proteção.
(g) Prevenção e controle de processos erosivos em toda a As leis brasileiras nunca deram tratamento jurídico adequado às
áreas úmidas do Cerrado, ou mesmo do país como um todo (Junk et
bacia al., 2013; Grasel et al., 2019), dificultando ou até impedindo as de-
O cultivo da terra por si só não implica em violação das leis cisões e ações para sua proteção. É injustificável que os diferentes
ambientais, mas, frequentemente, práticas inadequadas podem tipos de áreas úmidas não sejam todos tratados igualmente pelas leis
desencadear processos erosivos em toda a bacia, gerando sedimentos e ambientais, como já reconhecido pelo Superior Tribunal de Justiça
produtos químicos que se acumulam nas áreas úmidas. A agricultura brasileiro. A recente unificação das áreas úmidas do Cerrado nos
por meio de plantio direto, mantendo os resíduos orgânicos sobre o mapas da plataforma MapBiomas reforça e esclarece esse argumento e
solo, deve ser incentivada para minimizar os processos erosivos e para será de extrema importância para decisões e ações relacionadas à sua
aumentar a infiltração da água da chuva. Os órgãos governamentais e conservação.
de assistência técnica devem conhecer, compreender e divulgar a
importância das áreas úmidas para estimular práticas adequadas e Se a dificuldade de delimitar áreas úmidas em escala local tem sido
coibir as nocivas. um obstáculo à sua proteção, consolidar como fator determinante o
critério lençol freático a uma profundidade menor que 50 cm na sua
(h) Prevenção e controle de invasões biológicas máxima elevação, associado à presença de flora específica de áreas
O cultivo de espécies de plantas exóticas tolerantes a ambientes úmidas e solos hidromórficos, permitirá uma verificação in loco fácil
úmidos (por exemplo, Leucaena leucocephala, Pinus spp., Urochloa e objetiva e, portanto, a identificação e delimitação precisa das áreas
humidicola) deve ser evitado ou suprimido dentro de um raio úmidas a serem protegidas no Cerrado.

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Conflict of interest França, A.M.S., Sano, E.E., Sousa, A.O., Fonseca, R., 2008. Sensoriamento Remoto na
identificação e quantificação de áreas úmidas no Distrito Federal. X Simpósio
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The authors declare that they have no known competing finan- Gibbs, J.P., 2000. Wetland loss and biodiversity conservation. Conserv. Biol. 14,
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