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ELABORAÇÃO DE UMA CARTILHA SOBRE O USO DE PLANTAS ALIMENTÍCIAS

NÃO CONVENCIONAIS (PANCS) EM CENTROS URBANOS PARA UM ESTILO DE


VIDA MAIS SAUDÁVEL
PREPARATION OF A BOOKLET ON THE USE OF NON-CONVENTIONAL EDIBLE
PLANTS (NCEP) IN URBAN CENTERS FOR A HEALTHIER LIFESTYLE
ELABORACIÓN DE CARPETA SOBRE EL USO DE PLANTAS ALIMENTICIAS NO
CONVENCIONALES (PANCS) EN CENTROS URBANOS PARA UN ESTILO DE VIDA
MÁS SALUDABLE
Gabrielli Duarte dos Santos1,2
Luciana Da Cruz Cortes1,2
Regiane dos Santos Dias1,2
Zefa Valdivina Pereira1,2

RESUMO
As Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) possuem excelentes fontes de
nutrientes, vitaminas e sais minerais, além de propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e
ações terapêuticas. Assim, o objetivo deste trabalho consistiu em elaborar uma cartilha
abrangente que fornecesse informações sobre as PANCs e os benefícios de seu uso na
culinária do dia a dia, ao mesmo tempo em que oferecesse orientações para o estabelecimento
de hortas domésticas em ambientes urbanos para o cultivo dessas plantas. Nesse sentido, a
cartilha reúne 10 PANCs nativas do Cerrado, reconhecidas por seu potencial farmacêutico,
sendo elas: Almeirão roxo (Lactuca canadensis L.), Bertalha (Basella alba L.), Capuchinha
(Tropaeolum majus L.), Caruru (Amaranthus deflexus L.), Major-Gomes (Talinum
paniculatum (Jacq.) Gaertn.), Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata Mill.), Peixinho (Stachys
byzantina K.Koch), Serralha (Sonchus oleraceus L.), Taioba (Xanthosoma taioba E.G.Gonç.)
e Vinagreira (Hibiscus sabdariffa L.).

Palavras-chave: cultivo, benefícios, usos, consumo.

ABSTRACT
1
Universidade Federal da Grande Dourados; 2 Programa de Educação Tutorial
d) gabrielliduartedossantos@gmail.com; luciana.cortes077@academico.ufgd.edu.br;
regiane.dias070@academico.ufgd.edu.br; zefapereira@ufgd.edu.br

1
Non-Conventional Edible Plants (NCEP) have excellent sources of nutrients, vitamins and
mineral salts, in addition to antioxidant, anti-inflammatory properties and therapeutic actions.
Therefore, the objective of this work was to develop a comprehensive booklet that provides
information about NCEPs and the benefits of their use in everyday cooking, while also
providing guidance for establishing home gardens in urban environments for cultivating these
plants. In this regard, the booklet brings together 10 native NCEPs from the Cerrado region,
recognized for their pharmaceutical potential, namely: Almeirão roxo (Lactuca canadensis
L.), Bertalha (Basella alba L.), Capuchinha (Tropaeolum majus L.), Caruru (Amaranthus
deflexus L.), Major-Gomes (Talinum paniculatum (Jacq.) Gaertn.), Ora-pro-nóbis (Pereskia
aculeata Mill.), Peixinho (Stachys byzantina K.Koch), Serralha (Sonchus oleraceus L.),
Taioba (Xanthosoma taioba E.G.Gonç.) and Vinagreira (Hibiscus sabdariffa L.).

Keywords: cultivation, benefits, uses, consumption.

RESUMEN
Las Plantas Alimenticias No Convencionales (PANCs) tienen excelentes fuentes de
nutrientes, vitaminas y sales minerales, además de propiedades antioxidantes,
antiinflamatorias y acciones terapéuticas. Así, el objetivo de este trabajo fue elaborar un
folleto completo que brindara información sobre las PANCs y los beneficios de su uso en la
cocina cotidiana, al mismo tiempo que ofreciera pautas para el establecimiento de huertos
familiares en entornos urbanos para el cultivo de estas plantas. En ese sentido, la cartilla reúne
10 PANCs autóctonas del Cerrado, reconocidas por su potencial farmacéutico, a saber:
Almeirão roxo (Lactuca canadensis L.), Bertalha (Basella alba L.), Capuchinha (Tropaeolum
majus L.), Caruru (Amaranthus deflexus L.), Major-Gomes (Talinum paniculatum (Jacq.)
Gaertn.), Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata Mill.), Peixinho (Stachys byzantina K.Koch),
Serralha (Sonchus oleraceus L.), Taioba (Xanthosoma taioba E.G.Gonç.) y Vinagreira
(Hibiscus sabdariffa L.).

Palabras clave: cultivo, beneficios, usos, consumo.

INTRODUÇÃO
Na história da humanidade, o conhecimento e o uso de plantas têm sido guiados por
necessidades práticas e predileções culturais. Nesse sentido, a urbanização e a perda de espaço
dos sistemas agrícolas tradicionais para o agronegócio enfraqueceram a relação entre o ser
humano e a terra com uma redução no cultivo e uso de alimentos locais e dependência de
produtos industriais gerando assim, para muitas espécies, a erosão genética e perda de
conhecimento associados a elas. Desse modo, mesmo em regiões de grande biodiversidade
como o Brasil poucas espécies são inseridas na alimentação. Estima-se que aproximadamente

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apenas 103 espécies de plantas são responsáveis por 90% do abastecimento mundial de
alimentos, embora existam cerca de 27 mil espécies de plantas com potencial alimentar, essas
plantas subutilizadas geralmente não possuem valor de mercado sendo denominadas Plantas
Alimentícias Não-Convencionais – PANCs (LEAL; ALVES; HANAZAKI, 2018).
Essa terminologia foi cunhada em 2008 pelo biólogo e professor Valdely Ferreira
Kinupp. Dependendo da região, uma planta pode receber essa designação, uma vez que seu
cultivo pode ser comum em uma área e não tão frequente em outra (JESUS, et al., 2020). Esse
conceito abrange tanto plantas selvagens quanto espécies cultivadas com baixa disseminação,
além de partes não convencionais de plantas comuns. Algumas dessas espécies podem
desempenhar um papel farmacêutico relevante (JÚNIOR; CAMPOS; MEDEIROS, 2021).
De acordo com Mazon et al. (2019), essas plantas possuem uma relevância abrangente
em diversos setores, como farmacêutico, botânico, agronômico, imunológico, rural,
gastronômico e nutricional. Elas se destacam por apresentarem concentrações elevadas de
minerais, proteínas, vitaminas, além de porcentagens significativas de fibra. Como resultado,
essas plantas são consideradas alternativas importantes no combate à desnutrição.
Portanto, o objetivo deste trabalho consistiu em elaborar uma cartilha abrangente que
fornecesse informações sobre as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) e os
benefícios de seu uso na culinária do dia a dia, ao mesmo tempo em que oferecesse
orientações para o estabelecimento de hortas domésticas em ambientes urbanos para o cultivo
dessas plantas. Nesse sentido, a cartilha reúne 10 PANCs nativas do Cerrado, reconhecidas
por seu potencial farmacêutico, sendo elas: Almeirão roxo (Lactuca canadensis L.), Bertalha
(Basella alba L.), Capuchinha (Tropaeolum majus L.), Caruru (Amaranthus deflexus L.),
Major-Gomes (Talinum paniculatum (Jacq.) Gaertn.), Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata
Mill.), Peixinho (Stachys byzantina K.Koch), Serralha (Sonchus oleraceus L.), Taioba
(Xanthosoma taioba E.G.Gonç.) e Vinagreira (Hibiscus sabdariffa L.).

MÉTODOS
A pesquisa foi realizada por meio de uma busca bibliográfica, utilizando como base de
dados o Google Scholar, Scielo e anais de eventos. Os artigos que demonstraram contribuir
com o tema proposto foram selecionados para leitura e construção da cartilha.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como resultado, a Cartilha é composta pelas seguintes seções: título, introdução e


algumas perguntas e respostas. As perguntas foram formuladas com base em dúvidas comuns,
algumas apresentaram respostas em forma de tabela ou quadro para facilitar o entendimento.
Abaixo, as seções foram transcritas na forma como se pretende divulgar a Cartilha.

Título

“Emprego de Plantas Alimentícias não Convencionais - PANCs em Centros Urbanos


para um Estilo de Vida mais Saudável”.

Introdução

O conteúdo desta seção da Cartilha será o mesmo presente na Introdução deste artigo,
exposto anteriormente.

1. Quais os benefícios das PANCs para a saúde?

As PANCs são excelentes fontes de nutrientes, vitaminas e sais minerais, além disso,
são plantas que possuem propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e ações terapêuticas,
desse modo, o aumento do seu consumo é favorável à melhoria do estado nutricional de
indivíduos economicamente desfavorecidos em áreas urbanas e rurais em diferentes partes do
Brasil, como forma de desenvolvimento sustentável, reduzindo o desperdício de alimentos,
fortalecendo o combate à fome e aumentando o acesso a produtos funcionais (JESUS et al.,
2020).
As PANCs podem ser utilizadas pelos agricultores para aproveitarem áreas
consideradas improdutivas por apresentarem condições sazonais diferentes, o que aumentará a
oferta de alimentos ao longo do ano, uma vez que essas plantas são mais resistentes às
condições ambientais locais, como chuvas excessivas e ondas de calor ou frio (JESUS et al.,
2020).
Podem ser plantadas em qualquer pequena área como em varandas, janelas, espaços
abertos e quintais e, serem utilizadas como suplemento alimentar ou uma fonte de renda,
através da venda de produtos como geleias e farinhas (JESUS et al., 2020).

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Tabela 01. 10 PANCs do Cerrado e seus benefícios para saúde.

Nome popular Nome científico Benefícios para saúde

Almeirão roxo, Lactuca canadensis L. Rico em proteína, fibras, em minerais como potássio,
almeirão-do-mato, cálcio, fósforo e ferro, em vitaminas A, B e C (1).
almeirão-de-árvore

Bertalha, espinafre- Basella alba L. Rica em fibras, vitaminas A e C, em minerais como


tropical, espinafre- cálcio, ferro e zinco, sendo importante para prevenção e
indiano, folha- tartaruga tratamento de anemia, formação e manutenção dos
ossos e fortalecimento do sistema imunológico (1).

Capuchinha, chagas, Tropaeolum majus L. Rica em antocianinas, flavonoides, carotenoides


nastúrcio, agrião-do- (luteína), sendo importante para a prevenção de
méxico doenças relacionadas à visão como catarata e
glaucoma, com ação antioxidante e anti-inflamatória (1).

Caruru, caruru-de-porco, Amaranthus deflexus L. Rico em cálcio, zinco, magnésio, vitamina C, potássio,
caruru-rasteiro, bredo compostos fenólicos, fósforo, com ação antioxidante (4).

Major-gomes, cariru, Talinum paniculatum As folhas possuem proteínas, minerais, vitamina C e


joão-gomes, língua-de- (Jacq.) Gaertn. fitoquímicos que podem ajudar no funcionamento do
vaca, benção-de-deus, sistema imune contra gripes e resfriados (3).
maria-gorda

Ora-pro-nóbis, pereskia, Pereskia aculeata Mill. Rica em proteínas, fibras, cálcio, fósforo, ferro,
lobrobó, carne-de-pobre vitamina A, B e C. Atua como antioxidante e anti-
inflamatório fortalecendo o sistema imunológico (3).

Peixinho, lambarizinho, Stachys byzantina Apresenta teores significativos de minerais como


lambari-de-folha, orelha- K.Koch potássio, cálcio e ferro e, fibras alimentares (2).
de-coelho, orelha-de-
lebre

Serralha, chicória-brava, Sonchus oleraceus L. Apresenta consideráveis teores de minerais, proteína e


serralha-lisa. de carotenoides (provitamina A), além de fibra
alimentar (3).

Taioba, taiá, mangará Xanthosoma taioba Os rizomas são ricos em carotenoides, as folhas ricas
E.G.Gonç. em fibras, em minerais como potássio, fósforo, ferro,
zinco, cálcio, magnésio e vitaminas B2, B6 e C.
Utilizada contra febre, câncer, pólipo, inflamações e
tumores (1).

Vinagreira, cuxá, Hibiscus sabdariffa L. Apresenta efeito diurético, auxiliando no


hibiscus, rosela, controle da pressão alta (3).
groselha, quiabo-azedo,
quiabo-de-angola
Fontes: (1) CALLEGARI; MATOS FILHO, 2017; (2) EMBRAPA, 2017; (3) PASCHOAL et al., 2020; (4)
PASCHOAL; GOUVEIA; SOUZA, 2016.

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2. Como empregar as PANCs na alimentação?

As PANCs podem ser facilmente encontradas em ambientes urbanos e rurais e


apresentam diversas possibilidades de uso na alimentação, podendo ser consumidas in natura
ou minimamente processadas, como em geleias, licores e sorvetes. Entretanto, embora
existam inúmeras opções para inclusão desses alimentos na dieta, não são habitualmente
incluídas (BEZERRA; BRITO, 2020). No quadro abaixo, é apresentado algumas orientações
sobre os seus usos gastronômicos, porém é extremamente importante saber identificar as
plantas antes de começar a consumi-las.

Quadro 01. Uso gastronômico de 10 PANCs do Cerrado.

Almeirão roxo (Lactuca canadensis L.) (3)


Partes comestíveis e uso: folhas são utilizadas em saladas ou refogados.

Receita: Salada crua de almeirão roxo

Ingredientes
- Folhas de almeirão roxo
- Sal, azeite e limão

Modo de preparo
Cortar as folhas bem fininhas e apertá-las em uma bacia com água para retirar o amargor. Escorrer a água e
temperar com sal, azeite e limão a gosto.
Bertalha (Basella alba L.) (2)

Partes comestíveis e uso: folhas e tubérculos (aéreos ou subterrâneos). Utilizada em massas de pães, saladas,
refogados e omeletes. As folhas secas e moídas podem ser utilizadas como suplemento alimentar.

Receita: Refogado de bertalha com amendoim e hortelã

Ingredientes
- 1 maço de talos jovens de bertalha
- 1 cebola roxa fatiada (meia-lua)
- 2 dentes de alho picados
- 3 colheres (de sopa) de azeite
- 1 pimenta dedo-de-moça sem sementes, fatiada
- 1 pedaço de gengibre ralado (2 ou 3 cm)
- Folhas de hortelã
- 1/2 xícara de amendoim torrado sal
- Suco de meio limão

Modo de preparo
Lave bem os talos e folhas de bertalha. Corte ao meio se forem muito grandes. Utilizando uma frigideira

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antiaderente, refogue no azeite a cebola e o alho. Adicione o gengibre ralado, sal, pimenta, a bertalha e refogue
mais um pouco. Adicione os amendoins torrados, folhas de hortelã e sirva.
Capuchinha (Tropaeolum majus L.) (2)
Partes comestíveis e uso: Toda a planta. Com sabor picante semelhante ao agrião, as flores e folhas podem ser
consumidas em forma de saladas, patês, pães, em sopas, refogados. Seus frutos podem ser preparados como
alcaparra (em forma de conserva). Suas sementes maduras podem ser tostadas e moídas, substituindo a pimenta-
do-reino.

Receita: Conserva de frutos de capuchinha

Ingredientes
- Frutos de capuchinha
- Vinagre
- Sal

Modo de preparo
Colha os frutos imaturos da capuchinha e os coloque em água salgada por três dias, trocando a água a cada dia.
Depois disso, aqueça um vinagre com condimentos. Deposite os frutos em um vidro esterilizado e cubra-os com
o vinagre. Aqueça em banho maria por três minutos a fim de conservar por mais tempo, e está pronta a conserva.
Caruru (Amaranthus deflexus L.), Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata Mill.) e Serralha
(Sonchus oleraceus L.) (2,3,4)
Partes comestíveis e uso de caruru: folhas e sementes em refogados ou misturas.
Partes comestíveis e uso de ora-pro-nóbis: folhas, flores e frutos, tanto cruas quanto cozidas.
Partes comestíveis e uso de serralha: as folhas podem ser consumidas cruas em saladas ou cozidas, os talos na
forma de conserva e as flores à milanesa.

Receita: Torta de folhas de PANCs (caruru, ora-pro-nóbis ou serralha)

Ingredientes para a massa


- 12 colheres de sopa de farinha de trigo integral
- 1 xícara de chá de leite desnatado
- 1/3 de xícara de chá de óleo vegetal
- 1 colher de sopa de fermento químico em pó
- 1 pitada de sal

Ingredientes para o recheio


- 1 maço pequeno de espinafre picado
- 1 tomate em cubos
- 1 cebola em cubos
- 1 maço de folhas de PANCs picado: caruru, ora-pro-nóbis ou serralha.
- Temperos a gosto (salsinha, orégano, sal, pimentão)

Modo de preparo
Pré-aqueça o forno a 200 °C e unte uma forma média com um pouco de óleo e reserve. Para o preparo da massa,
bata os ovos, a farinha, o óleo, o sal e o fermento no liquidificador. Despeje metade desta massa na forma que já
está untada, e por cima coloque os ingredientes do recheio já picados e em seguida cubra-os com o restante da
massa. Por fim, leve ao forno para assar por cerca de 30 a 40 min ou até que a torta esteja dourada.
Major-gomes (Talinum paniculatum (Jacq.) Gaertn) (1,2)
Partes comestíveis e uso: folhas, ramos e sementes. As folhas são consumidas em saladas, mas
preferencialmente cozidas, em refogados ou ensopados, em pães caseiros, bolos salgados, suflês e cremes. As

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sementes podem ser usadas como decorativas ou assadas sobre pães.

Receita: Pão com major-gomes e alecrim

Ingredientes para a massa


- 500 g de farinha de trigo
- 200 ml de água
- 1 colher (de sopa) de melado de cana (ou açúcar)
- 50 ml de azeite extra virgem (1 xícara de café)
- 20 g de manteiga
- 1 xícara de folhas de major gomes picadas (120 g)
- 1 e 1/2 tablete de fermento fresco para pão (20 g)
- 1 colher (de chá) de sal

Ingredientes para a cobertura


- Folhas de alecrim;
- Sal granulado;
- Azeite de oliva

Modo de preparo
Meça todos os ingredientes e em uma vasilha, coloque o fermento e o dissolva na água fria. Depois, acrescente
os demais ingredientes, com exceção dos que estão separados para a cobertura. Misture tudo e amasse muito
bem, até ficar uma massa bem lisa e macia. A massa, no começo, parece um pouco seca, porém, ao amassar, as
folhas soltam água e a massa umedece. Mas, se a massa continuar muito seca, acrescente um pouco mais de
água. Em seguida, unte uma tigela com um pouco de óleo e coloque a massa para descansar por uns 15 a 20 min
e a cubra com um plástico para abafar. Agora, unte uma assadeira com azeite e abra a massa com um rolo num
retângulo do tamanho da assadeira (26 x 40 cm) e a coloque na assadeira que já foi untada. Cubra com um
plástico e deixe descansar novamente por cerca de meia hora. Depois disso, molhe a mão e aperte a massa com a
ponta dos dedos, formando cavidades e em seguida, jogue azeite sobre a massa. Cubra e deixe descansar
novamente por cerca de 1 hora, ou até a massa crescer. Depois que a massa já estiver crescida, espalhe um pouco
de sal granulado e espalhe folhinhas de alecrim. Leve para assar em forno aquecido (160°) até a massa ficar
levemente corada (cerca de 20 min).
Peixinho (Stachys byzantina K.Koch) (3)
Partes comestíveis e uso: folhas empanadas e fritas.

Receita: Peixinho à dorê

Ingredientes
- Folhas de peixinho
- Ovos
- Alho
- Sal, pimenta e orégano
- Farinha de trigo

Modo de preparo
Lave e seque folhas de peixinho. Em um prato bata 4 ovos, alho amassado, sal, pimenta e orégano a gosto. Passe
as folhas nos ovos batidos e depois na farinha de trigo para empanar. Frite em óleo quente.
Taioba (Xanthosoma taioba E.G.Gonç.) (3)
Partes comestíveis e uso: folhas com talos (pecíolos) e rizomas, extremamente cozidos, refogados ou fritos,
puros ou em misturas, devido ao oxalato de cálcio.

Receita: Purê de rizomas de taioba

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Ingredientes
- Rizomas jovens de taioba
- Creme de leite
- Manteiga
- Sal e temperos

Modo de preparo
Cozinhe os rizomas jovens em rodelas até ficarem macios. Em seguida, descasque e amasse. Adicione creme de
leite, manteiga, sal e temperos a gosto. Reduzir um pouco em fogo baixo.
Vinagreira (Hibiscus sabdariffa L.) (3)
Partes comestíveis e uso: frutos em sucos, chás, geleias, picolés, molhos agridoces, pães, pudins e recheios. Os
galhos, folhas jovens e sementes maduras podem ser utilizadas em pães e sopas na forma de farinha.

Receita: Pão de vinagreira

Ingredientes
- 1kg de farinha de trigo
- 3 colheres de sopa de açúcar
- 1 colher de sopa de sal
- 1 colher de sopa de fermento
- 2 a 3 xícaras de água
- 1/4 de xícara de óleo
- 1/4 de xícara (ou mais) de cálices das flores frescos picados de hibisco

Modo de preparo:
Misturar todos os ingredientes secos, acrescentar o óleo aos poucos e a água. Deixar crescer até dobrar de
tamanho, moldar no formato desejado e levar ao forno pré-aquecido.
Fontes: (1) CORRÊA, 2018; (2) KELEN et al., 2015; (3) KINUPP; LORENZI, 2014; (4) RECINE et al., 2016.

3. Como ter acesso às PANCs?

As PANCs podem ser adquiridas em hortas urbanas ou feiras, embora encontradas em


calçadas e ruas esses ambientes são poluídos e podem apresentar contaminação, neste caso
pode-se pegar mudas e sementes para cultivar em casa em alguns exemplos de hortas
domésticas com orientações de cultivo abaixo (RANIERI et al., 2017).
A escolha da espécie pode ser através das plantas que se adequam ao espaço da
residência, casas com terrenos de grande escala podem abrigar espécies de maiores portes,
enquanto casas com terrenos menores ou sem terrenos, como apartamentos, pode-se optar por
modelos de hortas verticais e/ou hortas de sacadas.

4. Como cultivar PANCs em centros urbanos?

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4.1. Hortas em canteiros

Os canteiros podem funcionar como sementeira, produzindo mudas que serão


transplantadas para canteiros e berçários (covas) definitivos, canteiros definitivos que são
preparados da mesma forma que as sementeiras sendo necessário manutenção frequente das
leiras devido às erosões da terra e berçários definitivos que recebem plantas individualmente
com espaçamento adequado para o porte da espécie (JORGE; JARD; VAZ, 2012).

4.2. Hortas em pequenos espaços

É uma alternativa quando não há espaço para cultivo tradicional, deve escolher lugares
como corredores, sacadas, varandas, janelas e terraços com aproximadamente 5 horas de sol
em pelo menos um período do dia. Podem ser utilizados pneus, garrafas pets, galões e vasos
de plantas para o cultivo (CLEMENTE; HABER, 2012).

5. Quais orientações são importantes para o cultivo de PANCs?

Tabela 02. Orientações para o cultivo de 10 PANCs do Cerrado em relação ao solo, plantio e colheita.

Espécie Solo Plantio Colheita

Almeirão roxo Adequa-se a uma Propagação por mudas em sementeira, Colheita de 60-70 dias
(Lactuca variedade de solos bandejas ou copinhos. Plantio o ano após transplante, com
canadensis L.) com níveis todo em regiões de clima ameno, e de produtividade de 20-40
adequados de março a outubro em regiões mais kg/ha.
matéria orgânica. quentes, com espaçamento de 30-40 cm
x 30-40 cm.

Bertalha Necessita de solo Propagação por semeadura direta no Colheita de 60-90 dias
(Basella alba L.) leve e fértil. canteiro ou produção de mudas em após o transplante com
bandejas. Plantio o ano todo em regiões produtividade de 15-37
mais quentes e em épocas mais quentes mil kg/ha.
em regiões de clima ameno, com
espaçamento de 40-80 cm x 40-50 cm.

Capuchinha Adequa-se a Propagação por semeadura em bandeja, Colheita 50 dias após o


(Tropaeolum majus diversos solos, saquinhos de mudas ou estacas de 10- plantio com
L.) mas desenvolve- 15 cm da parte intermediária do caule. produtividade de 8-10
se melhor em Plantio o ano todo, preferencialmente mil kg/ha de folhas e 4-
solos leves, com em temperaturas elevadas, com 5 mil kg/ha de flores.
boa drenagem, espaçamento de 50-60 cm.
matéria orgânica e
umidade.

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Caruru Adaptada a Propagação por semeadura direta. Colheita 60 dias após
(Amaranthus diferentes solos, Semeadura durante todo o ano com plantio com
deflexus L.) tolerantes a calor irrigação, espaçamento 10 cm x 10 cm produtividade por
e seca. após retirada de excesso de plantas. quantidade de plantas
(colhidas inteiras).

Major-gomes Resistentes à seca Propagação por semeadura direta ou Colheita 60 dias após a
(Talinum e adaptadas a solo produção de mudas em bandejas. brotação ou semeadura,
paniculatum (Jacq.) de baixa Plantio o ano todo desde que em produzindo colheitas
Gaertn.) fertilidade. temperaturas acima de 20°C e boa sucessivas da parte
umidade, com espaçamento de aérea por meses.
20 cm x 20 cm.

Oro-pro-nóbis Resistentes à seca Propagação por mudas da região Colheita de 2-3 meses
(Pereskia aculeata e adaptadas a intermediária do caule pré-enraizadas após o plantio com
Mill.) diversos solos e ou diretamente em canteiros. Plantio no produtividade de
não toleram início do período chuvoso com 2,5-5 mil kg/ha.
encharcamento. espaçamento de 20-25 cm x 20-25 cm.
Necessário a poda a cada três meses:
deixar os ramos com 1,2-1,5 m de
comprimento, rebaixar a parte aérea a
60 cm em relação ao solo e retirada de
ramos doentes e secos.

Peixinho Os solos devem Propagação por mudas pré-enraizadas Colheita de 60-70 dias
(Stachys byzantina ser drenados, não ou diretamente em canteiros. Plantio o após o plantio com
K.Koch) compactados e ano todo com disponibilidade de produtividade de 2-4
com matéria umidade com espaçamento de 20-25 maços/m2 por semana.
orgânica. cm x 20-25 cm. Necessário colheita Cada maço contém
periódica das folhas para renovação do cerca de 20-25 folhas
plantio. (100 g), resultando de
25-50 mil kg/ha.

Serralha Pouco exigente Propagação por semeadura em berçário Primeira colheita de


(Sonchus oleraceus para fertilidade do e canteiros sementeira. Semeadura o 50-60 dias após a
L.) solo, porém ano todo em regiões de clima ameno e semeadura, repetindo a
desenvolve-se em regiões de clima mais quente de cada 30 dias gerando
melhor em solos março a junho, com espaçamento de 6 colheitas.
areno-argilosos, 30 cm x 30 cm. Produtividade de
com boa 15.300 kg/ha (6.400
drenagem e dúzias de maços/ha).
matéria orgânica.

Taioba Necessita de solos Propagação por meio de rizomas. Colheita de 60-75 dias
(Xanthosoma ricos em matéria Plantio o ano todo em regiões mais após o plantio com
taioba E.G.Gonç.) orgânica e não quentes e úmidas e épocas mais quentes produtividade de até
tolera muito do ano em regiões de clima ameno, 6 mil kg/ha de folhas,
encharcamento. com espaçamento de 80-100 cm x 40- mais de 20 mil kg/ha
50 cm. de rizomas a partir de 7
a 8 meses reduzindo
e/ou evitando colheita
de folhas.

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Vinagreira Os solos devem Propagação por semeadura direta, Colheita de 60-90 dias
(Hibiscus ser profundos, produção de mudas em bandejas ou do plantio para
sabdariffa L.) drenados, sem saquinhos, ou estacas de 20 cm pré- folhagem e 150-180
compactação, com enraizadas. Plantio em clima quente e dias do plantio para
matéria orgânica e úmido o ano todo e em clima ameno frutos. Para cálices,
não toleram o setembro/outubro e março/abril com sépalas ou frutos, o
encharcamento. espaçamento de 100 cm x 100 cm para produto pode ser
produção de frutos e 100 cm x 50 cm coletado de duas a três
para colheita apenas de folhagem. vezes por semana.
Necessário manejo com corte mantendo
as plantas de 1-2m de altura.
Fontes: PEDROSA et al., 2012; PEDROSA, 2013.

CONCLUSÃO

Nos dias de hoje, a urbanização e a substituição de sistemas agrícolas tradicionais para


o agronegócio estão contribuindo para a diminuição do conhecimento etnobotânico. Portanto,
pretende-se com a elaboração e disseminação da cartilha que o leitor compreenda a
importância nutricional e farmacêutica das PANCs, assim como seus usos gastronômicos e a
forma de cultivar essas plantas em sua própria residência, mesmo que viva em áreas urbanas,
melhorando a sua ingestão nutricional, ao mesmo tempo em que se promove a preservação da
biodiversidade vegetal.

REFERÊNCIAS

BEZERRA, J. A.; BRITO, M. M. Nutricional and antioxidant potencial of


unconvencional food plants and their use in food: Review. Research, Society and
Development, v. 9, n. 9, p. 1-11, 2020.

CALLEGARI, C. R.; MATOS FILHO, A. M. Plantas Alimentícias Não Convencionais-


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