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Modulo 1 Mais Humnas Historia
Modulo 1 Mais Humnas Historia
ENEM
1. Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade C. Revolução Industrial: criação do sistema de fábrica na Europa
A. Cultura Material e imaterial; patrimônio e diversidade cultural e transformações no processo de produção. Formação do
no Brasil e suas raízes históricas. espaço urbano-industrial.
B. A Conquista da América. Conflitos entre europeus e indígenas D. Transformações na estrutura produtiva no século XX: o
na América colonial. A escravidão e formas de resistência fordismo, o toyotismo, as novas técnicas de produção e seus
indígena e africana na América. impactos.
C. História cultural dos povos africanos. A luta dos negros no E. A industrialização brasileira, a urbanização e as
Brasil e o negro na formação da sociedade brasileira. transformações sociais e trabalhistas.
D. História dos povos indígenas e a formação sociocultural F. A globalização e as novas tecnologias de telecomunicação e
brasileira. suas consequências econômicas, políticas e sociais.
E. As expressões da vida religiosa e sua influência na G. Produção e transformação dos espaços agrários.
constituição das sociedades. Modernização da agricultura e estruturas agrárias tradicionais. O
F. Raízes étnicas, religiosas e nacionalistas dos conflitos agronegócio, a agricultura familiar, os assalariados do campo e
contemporâneos. as lutas sociais no campo. A relação campo-cidade.
G. Movimentos culturais no mundo ocidental e seus impactos na H. Políticas de colonização, migração, imigração e emigração
vida política e social. no Brasil nos séculos XIX e XX. Dinâmica populacional e
crescimento econômico. Teorias demográficas, estrutura da
2. Formas de organização social, movimentos sociais, população. Vida urbana: redes e hierarquia nas cidades, pobreza
pensamento político e ação do Estado e segregação espacial.
A. Cidadania e democracia na Antiguidade; Estado e direitos do
cidadão a partir da Idade Moderna; democracia direta, indireta e 4. Os domínios naturais e a relação do ser humano
representativa. com o ambiente
B. Revoluções sociais e políticas na Europa Moderna. A. Relação homem-natureza, a apropriação dos recursos
C. A colonização portuguesa e as disputas pelo controle naturais pelas sociedades ao longo do tempo. Impacto ambiental
territorial do Brasil. das atividades econômicas no Brasil.
D. Formação territorial brasileira; as regiões brasileiras; políticas B. Recursos minerais e energéticos: exploração e impactos.
de reordenamento territorial. Recursos hídricos; bacias hidrográficas e seus aproveitamentos.
E. As lutas pela conquista da independência política das colônias C. As questões ambientais contemporâneas: mudança climática,
da América. ilhas de calor, efeito estufa, chuva ácida, a destruição da
F. Grupos sociais em conflito no Brasil imperial e a construção camada de ozônio. A nova ordem ambiental internacional;
da nação. A organização oligárquica e as transformações do políticas territoriais ambientais; uso e conservação dos recursos
Estado republicano. naturais, unidades de
G. O desenvolvimento do pensamento liberal na sociedade D. conservação, corredores ecológicos, zoneamento ecológico e
capitalista e seus críticos nos séculos XIX e XX. econômico.
H. Políticas de colonização, migração, imigração e emigração no E. Origem e evolução do conceito de sustentabilidade.
Brasil nos séculos XIX e XX. F. Estrutura interna da terra. Estruturas do solo e do relevo;
I. A atuação dos grupos sociais e os grandes processos agentes internos e externos modeladores do relevo.
revolucionários do século XX: Revolução Bolchevique, G. Situação geral da atmosfera e classificação climática. As
Revolução Chinesa, Revolução Cubana. características climáticas do território brasileiro.
J. Geopolítica e conflitos entre os séculos XIX e XX: H. Os grandes domínios da vegetação no Brasil e no mundo.
Imperialismo, a ocupação da Ásia e da África, as Guerras
Mundiais e a Guerra Fria. 5. Representação espacial
K. Os sistemas totalitários na Europa do século XX: nazi- A. Projeções cartográficas; leitura de mapas temáticos, físicos e
fascista, franquismo, salazarismo e stalinismo. Ditaduras políticos; tecnologias modernas aplicadas à cartografia.
políticas na América Latina: Estado Novo no Brasil e ditaduras
na América.
L. A redemocratização e a “Nova República” brasileira.
M. Conflitos político-culturais pós-Guerra Fria, reorganização
política internacional e os organismos multilaterais nos séculos
XX e XXI.
N. A luta pela conquista de direitos pelos cidadãos: direitos civis,
humanos, políticos e sociais. Direitos sociais nas constituições
brasileiras.
O. Políticas afirmativas.
P. Vida urbana: redes e hierarquia nas cidades, pobreza e
segregação espacial.
Muitos entendem que estudar História serve apenas para conhecermos fatos ocorridos
no passado e sem qualquer relação com a nossa realidade. Porém, o estudo de História vai
muito além disso. Para que se possa fazer uma análise mais completa do presente, é
importante saber e refletir sobre a sequência e o encadeamento de fatos históricos, as
conjunturas econômicas, sociais e políticas e as visões de mundo de determinada época que se
relacionam com as realidades atuais.
Por que estudar História? O conhecimento da História ajuda na compreensão do ser
humano como indivíduo e como coletividade que constrói seu tempo. Um dos grandes valores
do estudo da História está em relacionar os fatos e perceber que as transformações de um país,
grupo ou sociedade não são naturais ou espontâneas, mas sim determinadas por uma série de
fatores que se desdobraram ao longo do tempo e do espaço. Por exemplo, quem está iniciando
o Ensino Médio hoje em dia, provavelmente tem entre 14 e 15 anos. Vive nas primeiras
décadas do século XXI, num mundo informatizado, com comunicações instantâneas e por
diferentes meios, como computadores, celulares, tablets, entre outros. Há também todo um
estilo que caracteriza a juventude do século XXI, estruturado em comportamentos,
maneirismos, modos de falar, roupas e acessórios. Isso ocorre, sobretudo, nos países
ocidentais, constituindo uma espécie de cultura jovem.
Mas por que existe na atualidade essa cultura jovem? Como, quem, quando e onde ela
foi formada? A História ajuda a responder a essas perguntas. Para o historiador britânico Eric
Hobsbawm, grandes e rápidas mudanças ocorreram a partir da segunda metade do século XX,
pelo menos nos países ocidentais. Entre elas, houve o desenvolvimento de uma cultura juvenil
específica, que ampliou a distância entre as gerações. Formado por um grupo que se estendia
da puberdade até os 25 anos de idade, esses jovens passaram a ter desejos, anseios, ideais e
condutas – diferentes das de outras faixas etárias. Essa cultura formou-se, primeiramente, nas
sociedades urbanas dos países capitalistas desenvolvidos e tinha como marcas da sua
“modernidade” o blue jeans e o rock. Na década de 1960, muitos desses jovens participaram de
movimentos políticos radicais em diversos países, como manifestações estudantis por reformas
educacionais, pelo fim de guerras regionais e lutas contra regimes ditatoriais. Para além da
radicalização política, essa juventude representou um novo e potente mercado consumidor para
empresas ligadas à moda e para indústrias fonográficas, principalmente as ligadas ao rock.
Dessa forma, surgiu um novo perfil de jovem, que se identificava pela rebeldia contra o
“sistema” e contra as gerações anteriores, que haviam produzido duas guerras mundiais. Esse
processo levou a uma nova identidade, que valorizava a juventude diante da experiência da
vida adulta. Portanto, para compreendermos a noção de juventude ou qualquer outra nos dias
atuais, é preciso conhecer a História. Nesse sentido, a reflexão histórica se constitui em uma
das ferramentas para a compreensão da realidade, pois ela propicia um diálogo entre o
presente e o passado. Como afirma o historiador francês Marc Bloch, a História é “a ciência
dos homens [dos seres humanos] no tempo que tem de vincular incessantemente o
estudo dos mortos ao dos vivos”.
VISÕES HISTORIOGRÁFICAS
A História está presente nos mais variados aspectos de nossa realidade. Imaginemos,
por exemplo, as suas origens. Provavelmente, você é brasileiro, porém, seus antepassados
podem ter vindo de outros lugares do mundo. Seu bisavô paterno pode, por exemplo, ter vindo
da Itália e sua bisavó materna ser afrodescendente. Nesse caso, você é brasileiro com
ascendência europeia e africana. Ou seja, pesquisando a sua história você pode traçar um perfil
mais completo de quem você é, compreender melhor suas características físicas e também
muitos costumes de sua família. Você pode até descobrir que muitos desses costumes são uma
herança de seus antepassados. Afinal, o passado dialoga com o presente e se reflete nele.
Definir o que é História, porém, é uma questão muito mais complexa. Na atualidade,
muitos historiadores e pesquisadores que escrevem a História refletem sobre o que é História.
As respostas dependem das linhas teóricas e metodológicas adotadas pelos historiadores, além
do tipo de sociedade e dos grupos sociais que eles representam. No século XIX, por exemplo,
a narrativa histórica concentrava-se nos grandes feitos de personalidades importantes, como
estadistas, generais ou autoridades eclesiásticas. A partir da primeira metade do século XX,
uma renovação na historiografia ampliou os objetos e as fontes de estudo dessa ciência. Os
historiadores passaram a incluir em seus estudos múltiplos sujeitos históricos: mulheres,
trabalhadores em geral, crianças, enfim, pessoas comuns, que constroem a história no seu
cotidiano.
PASSADO E PRESENTE
MARCANDO O TEMPO
O tempo é uma construção humana e pode ser medido de diversas formas, conforme
as necessidades de cada grupo social. Para várias sociedades indígenas, por exemplo, a noção
de tempo se baseia nos ciclos da natureza, como o período da plantação e da colheita. Com
base nas estações do ano, nas fases da lua, por exemplo, essas sociedades identificam o
melhor momento para semear, colher, pescar, etc. Esse tipo de medição é chamado de tempo
da natureza. No Brasil utiliza-se o calendário gregoriano, elaborado a pedido do papa Gregório
XIII em 1582. Esse calendário tem como marco inicial o ano do nascimento de Cristo (por
exemplo, o ano de 2020 indica que o nascimento de Cristo ocorreu 2020 anos atrás). Trata-se
também de um calendário solar: um ano se completa quando a Terra dá uma volta ao redor do
Sol. Esses são exemplos de tempo cronológico. O tempo cronológico é a forma mais comum de
medição em nossa sociedade.
O TEMPO HISTÓRICO
Importante aspecto do tempo histórico relaciona-se à duração dos fatos históricos, que
pode ser de curta, média ou longa duração. Segundo o historiador francês Fernand Braudel, os
fatos de curta duração correspondem a um momento preciso, como nascimento ou morte de
uma pessoa, uma greve ou a assinatura de uma lei. Estes fatos referem-se, principalmente, ao
plano político, como um golpe de Estado ou a renúncia de um presidente. Os fatos de média
duração referem-se a conjunturas políticas ou econômicas, como a ditadura militar brasileira
(1964-1985) ou a Guerra Fria (1945-1991), geralmente, situações vivenciadas por uma geração.
Os fatos de longa duração se ocupam de comportamentos coletivos enraizados, de crenças
ideológicas e religiosas, articulando-se à história cultural e das mentalidades. São exemplos
desse tipo de fato a presença do cristianismo no mundo ocidental e a proibição do incesto.
PERIODIZAÇÃO DA HISTÓRIA
O Homo sapiens está na Terra há mais de 100 mil anos. Como é um período muito
longo, historiadores o dividiram em cinco períodos, conhecidos como Pré-História, Antiguidade,
Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea.
Existem muitas críticas a essa divisão, pois, de modo geral, ela usa basicamente
acontecimentos da História europeia como marcos históricos. O marco do início da Idade
Média, por exemplo, é a queda do Império Romano do Ocidente, no século V; já o que marca o
fim da Idade Moderna e o início da Idade Contemporânea é a Revolução Francesa de 1789.
Apesar da perspectiva eurocêntrica, permite ter uma noção da História como um todo,
observando-se as rupturas de grandes estruturas em processos históricos de longa duração.
SUJEITOS HISTÓRICOS E FONTES
Como já vimos, um fato histórico pode ser de curta, média ou longa duração. Um fato
de curta duração, por exemplo, é um acontecimento pontual (como a assinatura da Lei Áurea)
no tempo (ocorrida em 13 de maio de 1888) e no espaço (no Brasil). Junto com os fatos estão
os sujeitos históricos, ou seja, múltiplos indivíduos, grupos, movimentos sociais, pessoas
comuns, etc. envolvidos nesses acontecimentos. No caso da assinatura da Lei Áurea, por
exemplo, são sujeitos históricos: a princesa Isabel que assinou a lei; os negros que lutaram por
sua alforriam; os abolicionistas; as pessoas que ajudaram os escravizados em suas fugas, etc.
Para a investigação de um fato histórico e dos papéis cumpridos pelos sujeitos, o historiador
deve buscar diferentes fontes, que permitam uma visão ampla do ocorrido.
As fontes podem ser pessoas que viveram naquela época (testemunhas) ou podem vir
de outras evidências, como documentos escritos, artefatos, vídeos e qualquer produto do
trabalho humano. Existem evidências materiais (jornais, fotografias, cartas, pinturas, etc.) e
imateriais, que não são tangíveis, como costumes ou a forma de contar uma história. Utilizando
ainda o caso da Lei Áurea, temos o documento (a lei em si, uma fonte material escrita), que
permite compreender os termos da abolição naquele momento. Uma fotografia das
comemorações ocorridas após a abolição constitui uma fonte material não escrita, uma
representação iconográfica deste acontecimento.
Os fatos não falam por si só. O historiador, mesmo encontrando diferentes fontes que
tratam de determinado fato, terá de interpretar as evidências, selecionando-as, classificando-as,
avaliando-as e relacionando-as a outros documentos para chegar a algumas conclusões.
Segundo o historiador britânico Edward Hallett Carr, “os fatos falam apenas quando o
historiador os aborda: é ele quem decide quais fatos vêm à cena e em que ordem ou contexto”.
Nesse sentido, é o historiador quem decide por suas próprias razões que a assinatura da Lei
Áurea é um fato da História, ao passo que a assinatura de tantas outras leis antes ou depois
pode não interessar àquele historiador ou a outros.
Portanto, para um fato do passado se tornar um fato da História (ou histórico) é preciso
que ele seja selecionado por um historiador. Se um historiador do futuro estiver investigando
sobre os meios de transportes utilizados em sua cidade e encontrar um documento que indique
que você e a maioria dos estudantes de sua escola usavam bicicletas, ele pode se interessar
por essa fonte e citar esse fato em sua pesquisa. Outros historiadores podem ler esse trabalho
e também citar tal fato, validando a interpretação feita, por considerarem significativa para o
estudo dos meios de transportes de determinada época. Dessa forma, um fato do passado vai
se transformando em um fato histórico.
Empresas poderão alugar a Acrópole por € 1.600 por dia. Foto: Adriana
Moreira A/E
14. No dia primeiro de março de 2001, o grupo extremista 16. Em 1697, publicou-se, em Lisboa, \"A arte da língua de
islâmico Talibã, que controla 90% do Afeganistão, iniciou Angola\", a mais antiga gramática de uma língua banto,
a destruição de centenas de estátuas com valor cultural escrita na Bahia, para uso dos jesuítas, com o objetivo
inestimável por considerá-las ofensivas a um preceito de facilitar a doutrinação de negros angolanos. Os
islâmico contrário à adoração de imagens. Um dos aportes bantos ou \"bantuismos\", palavras africanas que
principais centros da campanha lançada pelo governo se incorporaram à língua portuguesa no Brasil, estão
do Talibã para destruição das imagens é a cidade de associados ao regime da escravidão (senzala, mucama,
Bamiyan, que abriga duas estátuas gigantes de Buda banguê, quilombo). A maioria dessas palavras está
datadas do século V. completamente integrada ao sistema linguístico do
INTOLERÂNCIA do Talibã destrói patrimônio histórico. HistóriaNet. Seção. português brasileiro, formando derivados da língua com
Atualidades. base na raiz banto (esmolambado, dengoso, sambista,
Disponível em: <http://www.historianet.com.br>. Acesso em: 3 nov. 2015.
(adaptado)
xingamento, mangação, molequeira, caçulinha,
quilombola).
CASTRO, Yeda P. de. Das línguas africanas ao português brasileiro. Revista
As ações cometidas pelo grupo Talibã representam a eletrônica do IPHAN. Dossiê Línguas do Brasil, nº 6 - jan/fev. 2007.
destruição de valores seculares da população de vários Disponível em: <http://www.revista.iphan.gov.br/materia.php?id=214>. Acesso
países asiáticos, ameaçando em: 09 fev.2009 (adaptado).
(A) o patrimônio histórico material.
(B) a uniformidade étnico-cultural do povo oriental. Dado o fato histórico-linguístico de incorporação de
(C) o patrimônio imaterial da sociedade muçulmana. \"bantuismos\" na língua portuguesa, conclui-se que
(D) a unidade política territorial secular do Afeganistão. (A) os grupos dominantes recusam a cultura de setores
(E) a materialização da unidade religiosa em torno do menos favorecidos da sociedade.
islamismo. (B) os jesuítas foram os responsáveis pela difusão da
língua banto no Brasil.
(C) o idioma dos escravos tinha prestígio social, a ponto
de merecer um estudo gramatical no século XVII.
(D) os vocábulos portugueses derivados das línguas
banto evidenciam a ocorrência de uma ruptura entre
essas línguas.
(E) a língua é um fenômeno orgânico e histórico cuja
dinâmica impossibilita seu controle.
17. (Upe-ssa 1) A Europa é uma criação feita diante do (D) periodização da história em alguns países é
outro. Suas fronteiras são culturais e se opõem em três equivocada.
ao que não é Europa: a Ásia, os Árabes, que assediam (E) sistematização da história não depende das
a Europa, primeira frente antieuropeia; o ‘leste’ sempre referências do passado.
indefinido; e finalmente o Oceano”.
FEBVRE, Lucien. A Europa – gênese de uma civilização. Bauru: Edusc, 2004, 20. (Upe) A diversidade dos testemunhos históricos é quase
p. 118-121. (Adaptado)
infinita. Tudo o que o homem diz ou escreve, tudo o que
fabrica, tudo o que toca pode e deve informar sobre ele.
O trecho acima representa certa historiografia europeia, que BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro:
se caracteriza pelo Jorge Zahar Editor, 2001, p. 79. (Adaptado).
(A) Multiculturalismo – valoriza as contribuições das
diversas populações na criação da civilização Sobre as fontes históricas, com base no texto acima, é
europeia. possível inferir que
(B) Orientalismo – entende o Oriente como uma criação (A) O pensamento marxista aboliu a utilização de fontes
pacífica e igualitária do Ocidente. escritas nas pesquisas históricas.
(C) Eurocentrismo – entende a Europa como centro da (B) A afirmação do texto sintetiza a nova perspectiva
civilização, ameaçada pela barbárie e obrigada a historiográfica sobre as fontes históricas.
expandir os limites da Humanidade. (C) Os utensílios produzidos pelo homem se
(D) Humanismo – percebe uma mesma essência em enquadram como registros arqueológicos e não
todas as manifestações do gênio humano, como fontes para o historiador.
disfarçada por elementos culturais diversos. (D) Marc Bloch, no texto, defende a primazia das fontes
(E) Materialismo Histórico – privilegia os elementos escritas.
econômicos sobre os culturais e políticos. (E) A escola positivista foi a primeira a fazer uso da
chamada história oral.
18. 18. (Uel) Leia o texto a seguir.
D pelo equilíbrio, uma vez que nossos ancestrais do Paleolítico e de parte do Neolítico se
percebiam, muito provavelmente, como parte da própria natureza. Entretanto, há
aproximadamente 10 mil anos, quando os seres humanos desenvolveram as primeiras técnicas
agrícolas e a domesticação de animais, essa relação começou a mudar e, nos últimos 200
anos, ela se modificou de forma radical.
INTRODUÇÃO
Considerando-se o atual estágio das pesquisas antropológicas, foi há “apenas” 200 mil
anos que os primeiros homens — com constituição anatômica semelhante à nossa — teriam
surgido, originalmente, no continente africano.
Eles foram denominados Homo sapiens sapiens, isto é, homens verdadeiramente
inteligentes. Essa expressão provém do latim, (Homo = homem; sapiens = inteligente). A partir
de então, sucessivas migrações, ocorridas há aproximadamente 100 mil anos, possibilitaram
que este ser humano “moderno” ocupasse, em diferentes momentos, todo o planeta.
No entanto, muito tempo antes disso, há aproximadamente 2,5 milhões de anos, a primeira
espécie humana, o Australopithecus — expressão de origem latina que significa “macaco do
sul” — já habitava o continente africano e, mais importante, já fabricava ferramentas de pedra.
Do ponto de vista anatômico, essa espécie era bem diferente do homem moderno,
considerando-se que foi há cerca de 1,5 milhão de anos que surgiu o Homo erectus, expressão
latina que significa “homem ereto”, isto é, capaz de caminhar e que já fabricava um maior número
de ferramentas para usos mais variados.
Porém, foi apenas com o surgimento do Homo sapiens (homem inteligente), há 250 mil
anos, que os homens foram além da fabricação e utilização de ferramentas. Com essa espécie,
os mortos passaram a ser sepultados, inclusive com objetos de uso pessoal, como ferramentas
e até mesmo colares, numa indicação, segundo especialistas, de que nessa época já havia
crenças coletivas em forças sobrenaturais e até mesmo expectativa de vida após a morte.
Partindo do centro e do sul da África, o Homo sapiens sapiens deslocou-se lentamente
(aproximadamente cinco quilômetros a cada geração), através do norte do continente, para a
Europa e a Ásia. Num segundo momento, entre aproximadamente 12 mil e 50 mil anos,
indivíduos dessa espécie atingiram o continente americano em diversas correntes migratórias
que cruzaram o Estreito de Bering, considerado a mais provável “porta de entrada” do homem
moderno na América.
A REVOLUÇÃO NEOLÍTICA
Nenhum esforço humano podia aumentar esse suprimento, qualquer que fosse a opinião
dos mágicos. Na verdade, os melhoramentos na técnica ou intensificação da caça e coleta,
além de um determinado ponto, resultam no extermínio progressivo da caça e numa diminuição
absoluta do suprimento. E, na prática, as populações caçadoras parecem ajustar-se
perfeitamente aos recursos de que dispunham. O cultivo do alimento derruba imediatamente os
limites até então impostos. Para aumentar o abastecimento, basta semear mais e colocar mais
terra em uso. Se houver mais bocas a alimentar, haverá também maior número de mãos para
cuidar dos campos.”
É importante considerar que, antes da Revolução Neolítica, os homens estavam limitados
ao tipo de vida social que lhes era possível desenvolver, pois viviam em grupos pequenos com
a constante preocupação de conseguirem se alimentar por meio da caça e da coleta.
A partir da Revolução Neolítica, os grupos humanos desenvolveram uma fonte de
alimentos segura, tornaram-se gradativamente sedentários e ampliaram seu universo cultural, o
que abriu perspectivas para o desenvolvimento da escrita no final do período Neolítico.
“Quando, ainda na Pré-história, o homem trocou a vida nômade pela vida em pequenas aldeias,
aprendeu a acolher e domesticar pequenos animais, iniciando-se na vida pastoril. Dispunha,
então, de carne, leite, tirava manteiga, coalhava o leite, fazia queijo, fiava a lã, tecia agasalhos.
(...)
Com o desenvolvimento da inteligência, o Homo faber passou ao artesanato e descobriu como
guardar e conservar os alimentos. Da pedra polida fez instrumentos de caça e objetos
domésticos, moldou o barro e endureceu-o na brasa, fazendo tijolos, figuras de divindades e
vasilhames. (...)
Entre duas pedras moeu o grão, fez a farinha, amassou o pão e assou-o no forno. Fermentou a
cevada e fez a cerveja. (...) Com os progressos dessa chamada Revolução Neolítica fundiu o
bronze, o cobre, o ouro. O crescimento demográfico obrigou o Homo economicus a descobrir
novas técnicas de produzir e conservar alimentos.”
(ORNELLAS, Lieselotte Hoeschl. A alimentação através dos tempos. 3. ed. Florianópolis: Editora da UFSC 2003. 307 p.
ilust.
Foi no final do período Neolítico que os homens cada vez mais se perceberam como seres
sociais e produtores, inclusive de cultura. Eles passaram a criar símbolos, desenvolvendo uma
comunicação complexa e diversificada, ao mesmo tempo em que foram capazes de transmitir o
conhecimento apreendido, valendo-se da linguagem oral, gestual e imagética.
É importante considerar, ainda, que a Revolução Neolítica, pelos seus impactos —
sedentarização, formação de aldeias e agrupamentos urbanos, divisão e especialização do
trabalho, expansão agrícola e domesticação de animais, produção de excedentes e surgimento
do comércio —, foi decisiva na história da sociedade humana. Sua importância é comparável ao
processo histórico que se verificou mais recentemente: a Revolução Industrial e a consolidação
da produção capitalista.
O ‘selvagem’ — guerreiro e caçador — tinha se conformado com o segundo lugar que ocupara.
O pastor, envaidecido com a riqueza, tomou o primeiro lugar, relegando a mulher para o
segundo plano. O trabalho doméstico da mulher perdia agora a sua importância, comparado
com o trabalho produtivo do homem. Este trabalho passou a ser tudo; aquele (o da mulher),
uma insignificante contribuição.”
(ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. São Paulo: Global, 1984. p. 217-218.
Adaptado.)
É senso comum que foi no chamado Crescente Fértil que se desenvolveram, inicialmente,
as técnicas agrícolas e a própria agricultura. Outras civilizações também se desenvolveram às
margens de grandes rios, como o Indo, na índia, e o Amarelo, na China.
Com a experiência na agricultura, os homens passaram a conhecer melhor a natureza, como
as estações de chuva e seca e a época apropriada para a semeadura e para a colheita. Assim,
essas comunidades de agricultores e pastores passaram a reverenciar alguns elementos da
natureza, como o sol, que, por sua importância na vida humana e na agricultura, passou a ser
visto como uma divindade.
Desta forma, desenvolveram-se cerimônias e ritos nos quais os homens agradeciam as
boas colheitas e pediam que as chuvas viessem na época adequada e na quantidade certa.
Os progressos técnicos desse período, em grande parte decorrentes do desenvolvimento
das técnicas de fundição de metais, foram muito significativos. Com a ligação do cobre e do
estanho, descobre-se o bronze, bem mais resistente. A partir daí verifica-se a fabricação de
novas armas e instrumentos, além de joias e utensílios diversos. Por fim, a metalurgia do ferro
vai substituindo a do bronze, garantindo aos grupos humanos que dominam essa técnica uma
significativa preponderância sobre outros grupos.
Foi também nessa época que se inventou a roda, o arado e o tear. Ao mesmo tempo,
grandes obras de engenharia hidráulica, como canais de irrigação e diques, contribuíram para o
desenvolvimento da agricultura, o que possibilitou um aumento expressivo de excedentes
agrícolas capazes de alimentar uma população cada vez maior.
Os locais onde aconteceram essas importantes modificações correspondem àqueles nos
quais surgiram as primeiras cidades, formadas a partir da aglomeração de pessoas às margens
dos rios e da necessidade de ações coletivas para ter um melhor aproveitamento do solo.
As cidades se diferenciavam das aldeias também porque nelas a divisão do trabalho era
mais complexa. Nesse contexto, a produção de excedentes possibilitou o desenvolvimento do
comércio entre diversos grupos humanos.
Ao mesmo tempo, exatamente por causa do excedente agrícola, algumas pessoas podiam
dedicar-se a outras atividades que não àquelas diretamente vinculadas ao processo de
produção, o que possibilitou o aparecimento de funções administrativas, militares e religiosas,
por exemplo.
Pouco a pouco, decisões políticas, administrativas e militares passaram a ser exercidas por
determinadas pessoas — geralmente, o chefe de uma família mais influente e poderosa numa
determinada região. Muitas vezes, esses chefes impunham pela força a sua vontade dentro da
comunidade. Para muitos estudiosos, a origem do Estado encontra-se nessa nova organização
política que se desenvolveu ao final da Idade dos Metais, caracterizada por uma crescente
centralização política.
Por fim, foi no contexto de uma organização da produção mais complexa que as cidades
se multiplicaram e os primeiros Estados se constituíram. A necessidade de se registrar de forma
mais sistemática o que antes era “guardado na memória” também se impôs.
É importante considerar, no entanto, que todas essas transformações não ocorreram de
forma simultânea com os diversos grupos humanos. Ao mesmo tempo, vale ressaltar que elas
não ocorreram de forma abrupta. Trata-se de um processo histórico que, em muitos casos, teve
uma longa duração e, em parte, foi influenciado pelo meio no qual os homens agiram, assim
como pelas formas de organização da produção e pelas relações que estabeleceram entre si.
A importância do aparecimento da escrita é tão grande que alguns estudiosos chegaram a
afirmar que ela seria o divisor entre a Pré-História e a História. Tudo isso precisa, no entanto,
ser relativizado e repensado, uma vez que, mesmo antes da escrita, os homens faziam a sua
história.
A introdução da linguagem escrita provocou mudanças significativas nas maneiras de viver
e de pensar nas primeiras gerações que se depararam com essa nova forma de comunicação.
Da mesma forma, o surgimento dos computadores de uso pessoal, em fins do século XX,
também provocou impactos na sociedade. O texto a seguir propicia a compreensão de como a
escrita se desenvolveu, destacando, inclusive, as razões pelas quais os seres humanos
passaram a se valer dos registros.
D
e uma maneira geral, os estudiosos são unânimes em apontar a região do Crescente
Fértil como aquela na qual se desenvolveram algumas das primeiras civilizações
humanas, mais precisamente a egípcia e a mesopotâmica.
A partir de, aproximadamente, 4000 a.C., núcleos urbanos estavam se constituindo, a estrutura
social das antigas comunidades já estava em processo de dissolução e poderosos Estados
eram organizados.
Ao mesmo tempo, os primeiros sistemas de escrita (hieroglífica no Egito Antigo e
cuneiforme na Mesopotâmia) eram desenvolvidos, e grandes obras de engenharia começaram
a ser construídas.
Numa fase bastante primitiva do desenvolvimento da produção, a força de trabalho do
homem se tornou apta para produzir consideravelmente mais do que era preciso para a
manutenção do produtor. Essa fase de desenvolvimento é, no essencial, a mesma em que
nasceram a divisão do trabalho e a troca entre indivíduos.
No entanto, nessas sociedades, embora houvesse escravidão, em momento algum o
trabalho escravo foi hegemônico e fundamental na organização da produção.
EGÍPCIOS
Unificação do Alto e do Baixo Egito: ocorreu por volta de 3000 a.C. Mênfis se torna a capital
do reino. Expansão do artesanato e do comércio.
Antigo Império: cerca de 3000 a.C. até 2300 a.C. Período caracterizado pelo fortalecimento do
poder dos faraós. Construção das grandes pirâmides da cidade de Gizé.
Médio Império: por volta de 2300 a.C. até 1640 a.C. Após um período de crise, o poder central
se restabeleceu. Novo Império: entre 1640 a.C. a 1070 a.C. Época de maior expansão dos
domínios egípcios.
Período Tardio: 712 a.C. até 332 a.C. Momento de reunificação do império egípcio. No final
desse período, o Egito se tornou uma província dos persas.
MESOPOTÂMICOS
PERSAS
FENÍCIOS
Por volta de 3000 a.C., seus ancestrais estabeleceram-se na região do atual Líbano. Eles
organizaram-se em cidades-estado, mas não constituíram um reino unificado. Suas diversas
cidades-estado exerceram, sucessivamente, certa hegemonia na região. Biblos foi a primeira
cidade a se destacar durante todo o terceiro milênio antes de Cristo, sofrendo grande influência
egípcia, com o qual comerciava. Sidón destacou-se, entre 1400 e 1100 a.C., tendo seus
colonos se estabelecido no norte da África, fundando a cidade de Cartago. Os fenícios se
caracterizaram pela atividade comercial, viajando por todo o mar Mediterrâneo até o norte da
Europa, na costa atlântica.
HEBREUS
Período dos patriarcas: ocorrido entre 1900 a.C. e 1500 a.C., caracterizou-se pela instalação
de seus ancestrais na região da Palestina.
Período egípcio: por volta de 1500 a.C. os hebreus de Canaã migraram para o Egito. Por volta
de 1250 a.C. ocorreu o êxodo dos hebreus de volta para a Palestina. Nesse período os hebreus
se dividiam em 12 clãs.
Período dos juízes: entre 1200 a.C. e 1100 a.C., os hebreus combateram os filisteus e os
amoritas. Em 1020 a.C., Saul foi escolhido para ser o rei dos hebreus, unificando os clãs.
Período dos reis: de 1004 a.C. a 600 a.C. os hebreus consolidaram seu reino. Em 722 a.C. os
assírios conquistaram Israel, exceto o reino de Judá. Em 586 a.C., os babilônicos dominaram
Judá.
Organização econômica
Assim, um dos traços mais visíveis da economia egípcia antiga era, sem dúvida, o estatismo
faraônico: a quase totalidade da vida econômica “passava” pelo rei e seus funcionários, ou
pelos templos. Estes últimos devem ser considerados parte integrante do Estado, mesmo se,
em certas ocasiões, houve atritos entre a realeza e a hierarquia sacerdotal; aliás, os bens dos
templos estavam sob a supervisão do tjati, espécie de “primeiro-ministro” nomeado pelo faraó.
As atividades produtivas e comerciais, mesmo quando não integravam os numerosos
monopólios estatais, eram estritamente controladas, regulamentadas e taxadas pela burocracia
governamental.
CARDOSO, Ciro Flamarion S. O Egito antigo. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 36-37.
Para suprir a carência de matéria-prima e também para garantir o consumo dos gêneros
essenciais, os povos orientais recorriam ao desenvolvimento das atividades comerciais e
também à guerra, o que originou lutas e a formação de impérios.
Havia uma grande produção de artigos de luxo, cuja fabricação demandava constantes
importações de pedras e metais preciosos, madeiras e marfim.
Os fenícios foram o povo que mais desenvolveu o comércio marítimo, tornando-se
conhecidos como os maiores navegadores de seu tempo. Chegaram, com seus navios, até o
estreito de Gibraltar e, mais tarde, eles exploraram a costa atlântica da África. Estabeleciam
colônias e praticavam intenso comércio com elas e com os demais povos que habitavam a orla
do Mediterrâneo. Cartago foi a sua mais expressiva colônia. Os produtos que exportavam eram
trigo, vinho, madeira, peixe seco.
Os persas também eram agricultores e comerciantes. As estradas abertas a partir do
governo de Dario I (521 - 486 a. C.) tiveram um papel extraordinário no desenvolvimento do
comércio. Construídas para garantir a rapidez nas comunicações administrativas, elas
passaram a ser percorridas pelas caravanas que levavam mercadorias de um lado a outro do
gigantesco império.
Estrutura social
Apesar de toda generalização ser problemática, pode- -se verificar no Oriente antigo a
existência de sociedades bem semelhantes. No nível mais alto da hierarquia social estavam os
soberanos e suas famílias, seguidos pela nobreza, guerreiros, sacerdotes e altos funcionários.
Abaixo vinham os comerciantes, artesãos, alguns trabalhadores livres. Por último, os
camponeses, muitas vezes presos à terra em que trabalhavam, e os escravos.
O historiador Ciro Flamarion S. Cardoso alerta para um dado importante. O termo
“escravo”, naquela época, nem sempre tinha o mesmo significado que damos hoje a essa
palavra:
Na antiga Baixa Mesopotâmia havia seres humanos que chamamos de escravos, pois
pertenciam a pessoas que podiam vendê-los, legá-los ou alugá-los, bem como castigá-los
fisicamente, marcá-los com signos de propriedade e fazê-los trabalhar. Com algumas exceções
[...] tais escravos, porém, podiam casar-se com pessoas livres, ter bens, intentar ações em
justiça; e pagavam impostos.
CARDOSO, Ciro Flamarion S. Sociedades do antigo Oriente Próximo. São Paulo: Ática, 1986. p. 43.
O núcleo básico da sociedade oriental era a família de tipo patriarcal, na qual o homem
exercia um poder incontestável sobre tudo e sobre todos. A legislação da época e outros
documentos refletiam essa situação. Entre os hebreus, por exemplo, vários argumentos a favor
do patriarcalismo estavam presentes nos textos bíblicos.
OUTRO OLHAR
Só recentemente as mulheres passaram a merecer uma atenção mais cuidadosa dos
historiadores. Diversas obras já fazem referências significativas ao papel desempenhado por
elas ao longo da História. No Egito antigo a mulher gozava de uma posição singular:
O Egito é o único país da Antiguidade em que a mulher tinha o mesmo status que o marido.
Essa igualdade sobressaía-se no Novo Império. A egípcia era livre para escolher seu marido.
Uma vez casada, era chamada por seu nome próprio e pela expressão nebet-per, “senhora da
casa”. Uma cidadã livre (uma nemehyt) podia adotar os filhos de seus escravos, que eram
então libertados. Desde a adolescência, as moças compartilhavam os exercícios esportivos ou
as aulas com os rapazes. Essa excelente formação lhes abria as portas da Medicina, da
cirurgia, do clericato ou da administração. Mesmo os postos administrativos que normalmente
eram ocupados pelos homens chegaram por vezes a ser ocupados por mulheres.
[...] Todas as garantias eram dadas às esposas, que podiam se separar e conservar seus bens.
A estabilidade dos matrimônios estava apoiada no receio dos maridos em relação às despesas
de que eles deveriam se encarregar em caso de divórcio. Eles faziam um juramento, no dia do
casamento, de jamais repudiar a mulher.
VANOYEKE, Violaine. A vida no tempo dos faraós. Revista História Viva. São Paulo: Duetto Editorial, n. 37, noV. 2006. p.
56.
Política e administração
A monarquia foi a forma de governo utilizada por quase todos os povos do Oriente. O
poder dos reis era, geralmente, extraordinário, e se baseava no apoio da nobreza, dos
sacerdotes e dos guerreiros. Além disso, essas monarquias apresentavam um caráter
teocrático. Os governantes eram considerados deuses em algumas regiões. Em outras, era-lhes
reconhecido o caráter divino.
Deve ser dado destaque para o rei persa Dario I, que organizou um eficiente sistema
administrativo: dividiu o território em regiões, denominadas Satrapias, governadas por pessoas
nomeadas por ele e que eram conhecidas como Sátrapas. Enviados especiais percorriam
anualmente as diversas Satrapias, fazendo minuciosos relatórios ao rei. Estradas foram abertas
em todo o império, permitindo a fácil locomoção de coletores de impostos, de mensageiros e até
mesmo dos Sátrapas.
As religiões dos povos orientais
Vamos tentar esclarecer bem esse assunto, clareando inicialmente alguns conceitos. Monolatria
é o culto a um único deus, embora acreditando-se na existência de outros; isso era muito
comum na Antiguidade, com os deuses de cada tribo, cada clã ou mesmo cada povo.
Monoteísmo, porém, é a crença na existência de apenas um deus, não sendo considerados os
outros, porventura cultuados, senão falsos deuses. Finalmente, o monoteísmo ético é a crença
em um deus único, que dita normas de comportamento e exige uma condução ética por parte
de seus seguidores. Entre os hebreus, Iavé evoluiu de um deus tribal para um deus universal;
de um deus de guerra, senhor dos exércitos, para um juiz sereno, consciência social e
individual, exigente de justiça social. Os profetas sociais, Amós e Isaías, principalmente, foram
os grandes responsáveis por esse passo.
PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. 20. ed. São Paulo: Contexto, 2001. p. 115-116.
OUTRO OLHAR
Muitas pessoas consideram a Bíblia como o livro que traz a história dos hebreus, esquecendo-
se que ela é um livro de doutrina religiosa e não um texto científico. O mesmo historiador Jaime
Pinsky assim define a importância da Bíblia para o conhecimento da história dos hebreus:
E preciso ter presente que a Bíblia tem um compromisso básico com a unidade do povo hebreu
e não com a narrativa fiel de acontecimentos. Hoje em dia até autores religiosos, cristãos e
judeus duvidam, senão da existência física dos três patriarcas (Abrahão, Isaac, Jacó), ao menos
da genealogia que estabelece a sucessão entre eles (Abrahão pai de Isaac pai de Jacó). O fato
de questionarmos a historicidade de alguma personagem não significa que não possam tirar da
história contada informações que nos interessam. O narrador acaba referindo-se a costumes e
padrões de comportamento que caracterizam uma época e dizem respeito também a mitos que
derivam de uma região. Assim, não há contradição entre questionar a historicidade de
personagens bíblicos, colocar em dúvida alguns dos fatos milagrosos ali narrados e utilizar o
material como fonte para o trabalho do historiador.
PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. 20. ed. São Paulo: Contexto, 2001. p. 108-109.
Criações intelectuais
A escrita, surgida por volta de 4000 a.C., foi uma das maiores invenções desses povos.
Discute-se muito, ainda hoje, se foram os mesopotâmicos ou os egípcios os seus inventores.
Entre os sumérios, a escrita derivou de pictogramas. Era chamada cuneiforme (gravação de
figuras com estilete sobre tábua de argila) e resultou da necessidade de uma organização mais
complexa nas transações comerciais.
A escrita hieroglífica egípcia foi inventada no final do período pré-dinástico. Aos poucos,
foi aperfeiçoada e seu uso se estendeu até o fim da Antiguidade. Tal escrita resultou de uma
combinação de ideogramas (sinais que representam ideias) e fonogramas (sinais que
representam sons). Da escrita hieroglífica surgiram duas outras, mais simplificadas e
adequadas à redação no papiro: a hierática e a demótica.
Os fenícios passaram à história não apenas como grandes navegadores e comerciantes,
mas principalmente por terem difundido o alfabeto, do qual se originaram os alfabetos grego,
russo e latino.
O rei Hamurábi, da Babilônia, além de grande guerreiro, destacou-se pela elaboração de
um código de leis, que ficou conhecido como Código de HamurábI. Escrito em 1789 a.C., o
código era composto de 282 artigos que regulamentavam todos os aspectos da vida individual,
social e econômica daquela sociedade.
O código garantia, por exemplo, a proteção de mulheres e filhos do abandono, da miséria e
dos abusos. Os escravos também foram beneficiados, uma vez que o código os protegia dos
maus-tratos, além de lhes garantir a possibilidade de libertação, adoção e mesmo o direito de
se casar com a filha de um homem livre. Tal legislação influenciou a de vários outros povos
orientais.
Na arquitetura babilônica, destacaram-se os edifícios construídos com tijolos, argila e
ladrilhos. O Zigurate era uma construção bem típica, constituindo-se numa torre de vários
andares, destinada a funções religiosas. A arte dos assírios buscava glorificar o lado militar e
conquistador daquele povo.
No Egito, a figura do faraó ocupava uma posição central no domínio da arte, da literatura e
da própria história. A arte egípcia era também profundamente impregnada de religiosidade. Os
templos dos vários deuses, as pirâmides, que eram câmaras mortuárias dos faraós, todos
apresentavam um caráter monumental, em que o equilíbrio e a harmonia se destacavam. A
pintura, a escultura e a ourivesaria também eram expressivas.
A arte fenícia se especializou em objetos de luxo: sarcófagos de mármores, joias, caixas
de marfim, estatuetas.
A Epopeia de Gilgamesh é considerada a maior obra literária dos mesopotâmicos, assim
como os livros do Velho Testamento bíblico fazem parte da literatura dos hebreus. Os temas
religiosos predominavam, como se pode ver no Livro dos Mortos, egípcio, e no Zend-Avesta dos
persas.
A natureza também foi alvo de estudos de quase todos os povos antigos. Os
mesopotâmicos previam eclipses, conheciam as diferenças entre estrelas e planetas, usavam o
sistema sexagesimal, conheciam cálculos, raiz quadrada e equações. Faziam medicamentos à
base de plantas. Criaram calendários, relógios de sol e clepsidras. Os egípcios se notabilizaram
com as bases da Geometria, criação do sistema decimal e medidas de áreas e volumes. No
campo medicinal fizeram mumificações.
GABARITO
1 B 6 C 11 E 16 C
2 B 7 D 12 E 17 E
3 C 8 B 13 C 18 C
4 D 9 E 14 D 19 D
5 C 10 B 15 C 20 A
INTRODUÇÃO
I. A GRÉCIA ANTIGA
Com 8,3 mil quilômetros quadrados, Creta é uma das maiores ilhas do Mediterrâneo.
Pertencente à Grécia, atrai todos os anos turistas do mundo inteiro que vão conhecer os
vestígios de sua civilização milenar. As ruínas do palácio de Minos, erguido na antiga cidade de
Cnossos, por exemplo, são muito procuradas pelos visitantes.
Rico em afrescos, o palácio foi construído por volta de 2000 a.C. e era uma enorme
edificação de 20 mil metros quadrados. Os historiadores acreditam que ele teria servido não
apenas de morada real, mas também de centro administrativo e comercial dos cretenses.
Com seus cômodos e corredores, o palácio lembrava um labirinto. Segundo
pesquisadores, ele teria servido de inspiração para a figura do Minotauro, ser mitológico metade
touro, metade homem, que vivia encerrado em um labirinto na ilha de Creta e se alimentava de
carne humana.
A civilização que construiu o palácio de Minos ficou conhecida como minoica. Os
minoicos e outros povos tiveram forte influência no processo de formação da civilização grega,
como veremos neste capítulo.
CRETENSES
Sobre as origens da civilização minoica, sabe-se que, por volta de 2500 a.C., já podiam
ser encontradas em Creta importantes cidades. Os cretenses eram artesãos hábeis no fabrico
de joias e outros artefatos de metal. Por viverem em ilhas, desenvolveram a produção de
embarcações sofisticadas, com as quais, por volta de 2000 a.C., expandiram e dominaram o
comércio pelo Mediterrâneo.
Devido às atividades comerciais intensas, inclusive com mesopotâmicos e egípcios, os
cretenses assimilaram traços de diversas culturas. A prosperidade advinda com o comércio
possibilitou um grande desenvolvimento urbano, propiciando a construção de portos, aquedutos
e palácios.
Por volta de 1450 a.C., a sociedade minoica estava dividida em vários principados
independentes, submetidos ao controle do rei de Cnossos. Sua pirâmide social apresentava, no
topo, uma aristocracia formada pelo rei e por nobres, mercadores e sacerdotes; seguia-se o
grupo dos artesãos, artistas e funcionários; abaixo dele, vinham os agricultores e pastores; e, na
base da pirâmide, encontravam-se os escravos.
No início do século XV a.C., Creta sofreu vários ataques dos aqueus, que dominaram
diversas colônias cretenses no mar Egeu. Por volta de 1400 a.C., atacaram a cidade de
Cnossos, cuja destruição marcou o colapso da sociedade minoica.
AQUEUS (MICÊNICOS)
DÓRIOS
Entre os séculos XII a.C. e VIII a.C., os dórios exerceram a supremacia na península
do Peloponeso e em outras regiões da Grécia, por meio da força. Como resultado, as cidades
foram destruídas; os palácios, saqueados; e as técnicas artesanais, praticamente abandonadas.
As populações que reagiram à invasão foram escravizadas ou fizeram alianças, ocupando
posições sociais subalternas. Algumas poucas áreas permaneceram sob o domínio de outros
povos, por exemplo, a Ática, povoada pelos jônios. Essa fase da história de formação da Grécia
antiga ficou conhecida como Período Homérico, pois os poemas atribuídos a Homero, Ilíada e
Odisseia, são uma das principais fontes de informação dessa época (veja o boxe).
Os poemas épicos Ilíada e Odisseia, atribuídos a Homero, são considerados as mais antigas
obras da literatura grega. O primeiro poema narra a Guerra de Troia (ou Ílion), entre gregos e troianos, que
teria sido motivada pela sedução de Helena, esposa de Menelau (rei de Esparta) pelo filho do rei de Troia,
Páris. O príncipe de Troia fugiu para sua terra, levando Helena.
O segundo poema conta as aventuras enfrentadas por Ulisses, um dos guerreiros gregos que
participaram da guerra, em sua longa viagem de retorno para casa. Ilíada e Odisseia são um marco da
literatura grega. Embora tratem de um acontecimento ocorrido por volta do século XII a.C., essas obras são
importantes fontes sobre os hábitos e costumes dos gregos do século VIII a.C., pois foi nessa época que
esses poemas – de longa tradição oral – foram escritos.
A CIVILIZAÇÃO GREGA
AS PRIMEIRAS PÓLIS
As mulheres eram desprovidas de direitos políticos nas pólis gregas e, portanto, não
eram consideradas cidadãs. Mas havia áreas na vida cívica e comunitária em que elas
desempenhavam papéis importantes. Em algumas festas, as mulheres tinham grande
participação, como nas Panateneias (em homenagem à deusa grega da Sabedoria, Atena),
promovidas em Atenas. Também era comum encontrar mulheres trabalhadoras e negociantes
nas camadas mais baixas da sociedade. Muitas trabalhavam na ágora ou nos arredores.
Algumas se dedicavam ao pequeno comércio, vendendo gêneros alimentícios ou itens como
perfumes e grinaldas; outras dirigiam tabernas ou trabalhavam com lã.
Texto elaborado com base em: CARTLEDGE, Paul (Org.). História ilustrada da Grécia antiga. Rio de Janeiro: Ediouro,
2002. p. 160-182.
A SOCIEDADE ESPARTANA
Esparta foi fundada pelos dórios no sudeste do Peloponeso, por volta do século IX a.C.
Depois de um período de expansão, no final do século VII a.C., Esparta já dominava um terço
de todo o Peloponeso.
Seus governantes mantiveram a cidade isolada das outras pólis e criaram um exército
permanente, com uma rígida disciplina militar. Paralelamente, estabeleceram-se na cidade
relações sociais e econômicas fundamentadas na total subordinação do indivíduo ao Estado. A
sociedade espartana dividia-se em três grupos.
• Espartanos (ou esparciatas): descendentes dos conquistadores dórios, eram os
únicos a ter direitos de cidadania. Possuíam as melhores terras e deviam dedicar todo o seu
tempo à política e ao Exército.
• Periecos: antigos habitantes das regiões conquistadas pelos dórios e não resistiram à
ocupação. Embora livres, eram submissos aos espartanos. Sem direitos políticos, viviam na
periferia da cidade.
• Hilotas: grupo formado pelos antigos habitantes do Peloponeso que resistiram à
invasão dos dórios e foram transformados em escravos. Todos os anos, deviam dar metade do
que colhiam aos seus proprietários espartanos.
A estrutura de governo em Esparta era bastante subdividida em reis, gerontes, éforos e
em três assembleias – a Gerúsia, a Apela e o Eforato.
DEMOCRACIA EM ATENAS
Situada na Ática, Atenas foi fundada pelos jônios por volta do século IX a.C. A forma
como a cidade era governada foi mudando ao longo do tempo. No início, havia um rei que
assumia funções também de sacerdote, comandante militar (polemarca) e chefe civil (arconte).
Os aristocratas atenienses (eupátridas) escolhiam esses governantes.
Depois, com a extinção da realeza, polemarcas e arcontes concentraram o poder
político, militar e religioso, com o apoio do conselho de anciãos, o Areópago, formado por
eupátridas. Ao lado desse órgão, havia a Eclésia, composta de homens livres que integravam o
exército e elegiam os governantes, aprovavam leis e decidiam questões relativas à paz e à
guerra.
DESIGUALDADES E REFORMAS
Depois do Egito, as tropas de Alexandre venceram o exército de Dario III, em 331 a.C.,
na Mesopotâmia. Ele então rumou para o Oriente, alcançando o rio Indo, na Índia, em 326 a.C.
De volta à Mesopotâmia, Alexandre morreu de uma febre desconhecida em 323 a.C., aos 32
anos de idade. Por seus feitos militares, passaria à posteridade como Alexandre, o Grande, ou
ainda Alexandre Magno. Sem deixar filhos nem herdeiros para o trono após sua morte, seus
generais travaram uma sangrenta disputa pelo poder.
No início do século III a.C., o Império Macedônio encontrava-se dividido em três
grandes reinos, que sobreviveram por mais de um século graças a laços de língua, comércio e
cultura. Pouco a pouco, no entanto, os reinos se enfraqueceram devido a lutas internas e ao
aumento da pobreza. Ao mesmo tempo, Roma despontava como uma nova potência no
Mediterrâneo.
Em 148 a.C., os romanos dominaram a Macedônia e, dois anos depois, conquistaram
a Grécia, anexando-a a seus domínios. Um novo império estava nascendo.
O teatro antigo se desenvolveu a partir do século VI a.C. nas cidades gregas. Nasceu
das declamações líricas realizadas por um coro, com acompanhamento musical — os
ditirambos, que apresentavam ao público os feitos de deuses e heróis da mitologia grega. Esse
tipo de expressão cênica deu origem à tragédia, à comédia e ao drama satírico, os três grandes
gêneros literários do teatro antigo.
A tragédia grega não tem sentido religioso. Na maioria das vezes, as personagens são
figuras como Agamenon e os heróis da Guerra de Troia, consideradas pelos gregos
personagens históricas. A tragédia aborda em profundidade os sentimentos, os conflitos e as
aspirações que fazem parte da vida humana. Por isso, a relação dos homens com o poder é um
dos principais ingredientes desse gênero.
A Grécia Antiga foi celebrizada como berço da filosofia ocidental, isto é, da construção
de teorias para o entendimento da realidade e da existência humana e divina. No século V a.C.,
deu-se uma verdadeira “revolução filosófica” com Sócrates, autor do método conhecido como
maiêutica, que pode ser resumido na frase: “Conhece-te a ti mesmo”. Sócrates proferiu a frase
“Só sei que nada sei”, reconhecendo os limites do ser humano para alcançar a sabedoria plena.
O maior discípulo de Sócrates foi Platão, autor do livro A Repœblica, em que propõe
um modelo de Estado no qual o poder seria exercido pelos filósofos, e não pelos guerreiros,
porque os filósofos seriam os homens mais próximos do conhecimento em estado puro.
Aristóteles, discípulo de Platão, foi também um grande filósofo grego. Escreveu sobre
diversos assuntos, incluindo física, matemática, zoologia, política, moral e, certamente, sobre
filosofia. Segundo Aristóteles, a dúvida é o princípio da sabedoria.
OS JOGOS OLÍMPICOS
Escultura em bronze que representa o mito romano segundo o qual os irmãos Rômulo e Remo teriam sido
amamentados por uma loba quando eram bebês. A peça encontra-se no complexo dos Museus Capitolinos,
em Roma, Itália.
1. FORMAÇÃO E ORGANIZAÇÃO
Antes de 2000 a.C., a península Itálica era ocupada por povos nativos. Depois, até o
ano 1000 a.C., povos conhecidos como italiotas, de origem indo-europeia, instalaram-se na
região central da península: eram os sabinos, úmbrios, équos, oscos, volscos, samnitas e
latinos. A partir de 1000 a.C., os etruscos se fixaram na margem direita do rio Tibre.
Por essa época, os latinos começaram a ocupar a região do Lácio, fundando uma vila
em um entroncamento de rotas comerciais, por onde passavam, entre outros, mercadores
sabinos comerciando sal e etruscos negociando produtos manufaturados. Por volta do século
VII a.C., já existiam nessa região outras vilas latinas independentes, que abrigavam cerca de 80
mil pessoas, entre agricultores, escravos, comerciantes e artesãos. Provavelmente nesse
período, os etruscos invadiram o Lácio: impuseram seus costumes e unificaram todos os
vilarejos em torno de uma única e grande cidade: Roma.
A SOCIEDADE ROMANA
Com a unificação das vilas, Roma deixou de ser um povoado e se transformou em uma
cidade fortificada, na qual foram aplicadas várias técnicas etruscas de pavimentação de
estradas, drenagem de pântanos, construção de pontes e redes de esgoto. Outros aspectos da
cultura etrusca também foram incorporados à sociedade romana em formação. Por exemplo, na
religião e na escrita, houve adaptação dos alfabetos etrusco e grego, originando o alfabeto
latino, que utilizamos até hoje.
Aproximadamente no século VII a.C., a sociedade romana era composta
majoritariamente de indivíduos livres – divididos entre patrícios, plebeus e clientes – e de uma
parcela menor de escravos.
• Patrícios: grandes proprietários de terras, que tinham o comando exclusivo da
política.
• Plebeus: mercadores, artesãos e pequenos proprietários; não podiam se casar com
patrícios nem ocupar cargos públicos ou religiosos, mas eram obrigados a integrar o Exército.
• Clientes: ex-escravos ou filhos de escravos nascidos livres; eram dependentes dos
patrícios, dos quais recebiam proteção e terras para cultivar; em troca, eram obrigados a
substituí-los nas guerras.
• Escravos: pessoas capturadas em guerras ou plebeus que não conseguiam quitar
suas dívidas; eram designados para trabalhos pesados e seus donos tinham poder de vida e
morte sobre eles.
2. PERÍODO MONÁRQUICO
Após ter sido unificada, Roma passou a ser governada por um rex (rei), do grupo dos
patrícios ou etruscos, que tinha múltiplas funções: governar a cidade, comandar o Exército,
desempenhar funções de juiz e conduzir as cerimônias religiosas. A monarquia não era
hereditária e, quando um rei morria, um substituto era indicado pelo Senado (do latim senex,
que significa “ancião”), composto apenas de patrícios idosos.
Havia também a Comitia Curiata, formada por representantes das famílias livres de
Roma, que tinha a função de aprovar ou rejeitar a indicação do Senado para a posição de rei.
Em 509 a.C., durante o governo do rei etrusco Tarquínio II, os patrícios se rebelaram e,
com o apoio da plebe, expulsaram os etruscos do Lácio. Como resultado, a monarquia foi
extinta e substituída por um sistema de governo conhecido como república – do latim res
publica (“coisa pública”) –, que se caracteriza pela escolha dos governantes para mandatos com
tempo limitado.
3. PERÍODO REPUBLICANO
REVOLTAS DA PLEBE
Durante a monarquia e nos primeiros tempos republicanos de Roma, não havia registro
escrito das leis, que eram transmitidas oralmente de uma geração à outra. Em 451 a.C., os
plebeus conseguiram eleger uma comissão de dez pessoas – os decênviros – para escrever as
leis e, assim, evitar que fossem manipuladas pelos patrícios, conforme seus próprios interesses.
O resultado foi a Lei das Doze Tábuas, uma compilação dos costumes da população
de Roma, que regulamentava o modo de vida dos romanos e continha as principais questões
relativas ao Direito Penal, Público, Privado, etc. Com a instituição da Lei das Doze Tábuas,
surgiu em Roma a figura do advogado, que conhecia as leis, acompanhava os processos e
defendia seus clientes no tribunal.
Na legislação romana dessa época, as penas variavam conforme o status social e
jurídico do condenado. Para um senador, por exemplo, a penalidade costumava ser o
pagamento de uma multa ou o confisco dos bens. Entretanto, por questões de honra, os
senadores condenados preferiam se matar a ter de cumprir a sentença. Já as punições de
plebeu iam do pagamento de uma multa até a pena de morte.
A pena de morte recaía com mais frequência sobre os escravos e as pessoas que não
tinham cidadania romana. Um dos modos mais comuns de execução era a crucificação.
texto elaborado com base em: COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 348-359;
GIORDANI, Mário Curtis. História de Roma. Petrópolis: Vozes, 1983. p. 257-265; HISTÓRIA VIVA: Grandes temas. Edição
Especial temática. São Paulo: Duetto Editorial, n. 1, [s.d.]. p. 89.
4. CULTURA GRECO-ROMANA
Com a expansão territorial, os romanos entraram em contato com a cultura dos povos
dominados, exercendo influência sobre ela, mas também sofrendo seu influxo. Desses povos, o
que mais profundamente imprimiu sua marca na cultura romana foi o povo grego.
Paulatinamente, a partir do século III a.C., valores da civilização grega se infiltraram no
cotidiano dos romanos em vários aspectos.
Nas artes plásticas, escultores e pintores se inspiravam diretamente na Grécia,
enquanto os arquitetos aderiam ao uso do mármore – produto-símbolo da sociedade grega –
em suas construções. Na religião, os romanos passaram a venerar os deuses gregos (embora
os romanos tenham imposto nomes latinos para eles) e, na língua, o latim incorporava palavras
gregas. No âmbito da educação, tornou-se comum deixar a instrução dos filhos a cargo de
cidadãos ou escravos gregos.
Esse processo de helenização foi tão amplo que famílias ricas de Roma decidiram
adotar sobrenomes gregos. Setores mais conservadores da sociedade romana, contudo, eram
contrários a essa penetração da cultura grega em prejuízo das tradições romanas.
5. DECLÍNIO DA REPÚBLICA
Eleito tribuno da plebe em 133 a.C., Tibério Graco lutava por uma distribuição de terras
mais justa, que pusesse fim ao êxodo rural e estabelecesse limites à propriedade da terra.
Inconformados com a ideia, os senadores – donos da maior parte das propriedades rurais de
Roma – tramaram o assassinato de Tibério e de trezentos de seus seguidores.
As propostas de Tibério seriam retomadas alguns anos depois por seu irmão Caio
Graco, eleito tribuno da plebe em 124 a.C. Com base no modelo da democracia ateniense e
buscando minar o poder dos ricos, Caio Graco propôs que as principais decisões da república
fossem transferidas do Senado para uma assembleia popular. Também defendia a divisão das
terras públicas e sua distribuição entre os mais pobres.
Sentindo seus interesses ameaçados, a aristocracia senatorial se mobilizou contra
Caio Graco, que, em 121 a.C., foi morto em uma emboscada. A morte do tribuno agravou as
diferenças entre os segmentos populares e a aristocracia. Algum tempo depois, teve início uma
guerra civil, que se estenderia por quase um século. Permeado por alguns momentos de paz, o
conflito corroeu o sistema republicano.
6. MILITARES NO PODER
Procurando desviar a atenção da crise que se abatia sobre a república, a partir do final
do século II a.C., o Senado de Roma passou a estimular campanhas militares em lugares
distantes do território romano. Graças às vitórias, o prestígio dos militares cresceu (veja a seguir
o boxe Revolta dos escravos). Entre 107 a.C. e 100 a.C., por exemplo, o general Caio Mário foi
eleito cônsul por seis vezes consecutivas.
Mais tarde, entre 60 a.C. e 46 a.C, Roma foi governada pelo Triunvirato (“governo de
três varões”) dos generais Sila, Júlio César e Marco Licínio Crasso, sem depender do Senado.
Depois desse período, o poder concentrou-se nas mãos do general Júlio César, a quem os
senadores de Roma concederam o título de ditador vitalício.
Sob o governo de César, teve início a fase da personificação do poder. Sem
comprometimento com plebeus, senadores, cavaleiros, nem mesmo com a instituição
republicana, ele assumiu para si vários cargos e funções: cônsul, Pontífice Máximo (sumo
sacerdote) e supremo comandante militar.
Durante seu governo, César distribuiu terras a cerca de 80 mil pessoas em colônias
além-mar, visando diminuir o desemprego; exigiu que pecuaristas tivessem pelo menos um
terço de homens livres entre seus empregados; e estendeu a cidadania romana a praticamente
toda a população da península Itálica.
Para seus inimigos, as atitudes de César comprovavam que ele pretendia acabar com
a república e se proclamar rei. Desde a deposição do rei Tarquínio II, o Soberbo, em 509 a.C.,
os romanos rejeitavam qualquer tentativa de retorno da monarquia. Assim, em 44 a.C., durante
uma sessão do Senado, um grupo de 60 senadores cercou Júlio César e o assassinou a
punhaladas.
Após a morte de César, Roma passou a ser governada por um novo triunvirato, dessa
vez formado pelo cônsul Marco Antônio, o general Lépido e o sobrinho e filho adotivo de Júlio
César, Caio Otávio. As divergências entre eles, contudo, transformaram o território romano em
palco de uma guerra que só terminou em 27 a.C., quando Caio Otávio se tornou senhor
absoluto de Roma, dando início a um dos maiores impérios já vistos.
A palavra cidadania vem do latim civitas, que quer dizer “cidade”. A palavra cidadania
foi usada na Roma antiga para indicar a situação política de uma pessoa e os direitos que essa
pessoa tinha ou podia exercer. Segundo o jurista Dalmo Dallari, “a cidadania expressa um
conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do
governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e
da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social”.
Na Roma antiga, contudo, a cidadania era privilégio apenas de uma parte da
população. Durante a monarquia, somente os patrícios gozavam de direitos políticos. Com a
república, os plebeus conquistaram alguns direitos de cidadania. Entretanto, a população da
maior parte das regiões conquistadas pelos romanos nunca teve acesso a esses direitos
(concedidos apenas à população da península Itálica). Nas regiões conquistadas, cerca de 80
milhões de pessoas viviam sob as ordens dos cavaleiros ou dos nobres romanos. Como não
tinham cidadania, esses indivíduos eram considerados estrangeiros em sua própria terra: sem
direitos civis, religiosos ou políticos. Também não existiam leis ou regras orientando a conduta
dos administradores romanos que ali se encontravam. Assim, cada um governava e aplicava a
justiça conforme seus interesses.
Ter a cidadania significava ter uma lei e uma justiça igual para todos.
texto elaborado com base em: COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 428-432; O
QUE É cidadania. Disponível em: . Acesso em: 12 nov. 2015.
7.O IMPÉRIO ROMANO
1. PRIMEIROS TEMPOS DO IMPÉRIO ROMANO
OS ROMANOS SE DIVERTEM
Com a morte de Augusto, em 14 d.C., assumiu o poder seu genro, Tibério (14-37).
Depois, até o ano 68 d.C., apenas pessoas das dinastias Júlia (de Augusto) e Cláudia (de
Tibério) governaram o império: todos foram envolvidos em episódios de perseguições,
assassinatos e conspirações. Calígula (37-41), sucessor de Tibério, por exemplo, condenou à
morte inúmeras pessoas; confiscou bens e concedeu honrarias reais a seu cavalo Incitatus.
Assassinado em 41, foi sucedido por seu tio Cláudio (41-54), que morreu envenenado pela
própria esposa para que Nero, filho dela de um casamento anterior, assumisse o poder. Com
Nero (54-68), chegou ao fim a dinastia iniciada com Tibério. Nero assassinou a própria mãe e
reprimiu pesadamente os cristãos (o boxe Difusão do cristianismo, abaixo, aborda a relação
entre o cristianismo e a religião romana).
DIFUSÃO DO CRISTIANISMO
VOCÊ SABIA?
19. (Unicamp)
26. (ENEM 2020) Com efeito, até a destruição de Cartago, o O texto apresenta uma característica dos sofistas, mestres
povo e o Senado romano governavam a República em da oratória que defendiam a(o)
harmonia e sem paixão, e não havia entre os cidadãos (A) ideia do bem, demonstrado na mente com base na
luta por glória ou dominação; o medo do inimigo teoria da reminiscência.
mantinha a cidade no cumprimento do dever. Mas, (B) relativismo, evidenciado na convencionalidade das
assim que o medo desapareceu dos espíritos, instituições políticas.
introduziram-se os males pelos quais a prosperidade (C) ética, aprimorada pela educação de cada indivíduo
tem predileção, isto é, a libertinagem e o orgulho. com base na virtude.
SALÚSTIO. A conjuração de Catilina/A guerra de Jugurta. Petrópolis: Vozes,
1990 (adaptado). (D) ciência, comprovada empiricamente por meio de
conceitos universais.
O acontecimento histórico mencionado no texto de Salústio, (E) religião, revelada pelos mandamentos das leis
datado de I a.C., manteve correspondência com o processo divinas.
de
(A) demarcação de terras públicas.
(B) imposição da escravidão por dívidas.
(C) restrição da cidadania por parentesco.
(D) restauração de instituições ancestrais.
(E) expansão das fronteiras extrapeninsulares.
30. (UNICAMP 2020) Os imperadores romanos que
reinaram no século II administraram um vasto império.
Eles se tornaram mais abertamente monárquicos e
dinásticos, particularmente fora de Roma, onde não
precisavam se preocupar com os humores do Senado.
Emergiu uma corte itinerante que competia por
influência. Comunidades provinciais enviavam um
embaixador atrás do outro para acompanhar o
imperador onde quer que ele pudesse estar. Poderiam
encontrar Adriano às margens do Nilo ou
supervisionando a construção da grande muralha que
cruzava o norte da Britânia; ajudando a projetar seu
templo de Vênus diante do Coliseu; fazendo um discurso
para soldados na África. O império era governado de
onde o imperador estivesse.
GABARITO
1 D 11 E 21 B
2 A 12 D 22 C
3 B 13 D 23 A
4 E 14 B 24 A
5 E 15 E 25 D
6 B 16 A 26 E
7 D 17 B 27 D
8 B 18 E 28 E
9 C 19 D 29 B
10 C 20 D 30 D
INTRODUÇÃO
Bizâncio Menos afetada pela turbulência das invasões do século V, a parte oriental do
Império Romano tornou-se uma potência no mundo mediterrânico ao longo dos séculos
seguintes. Apesar da influência latina, evidente na estrutura política do império, heranças
gregas e asiáticas tornaram a cultura bizantina diferente nos mais variados aspectos: religioso,
arquitetônico, artístico, linguístico. O idioma falado em Bizâncio, por exemplo, era o grego.
A sede do Império Romano do Oriente ou Império Bizantino era a cidade de
Constantinopla, situada na margem ocidental do estreito de Bósforo (atual Istambul, na
Turquia). A cidade era um ponto estratégico, localizada no eixo comercial que ligava o mar
Negro ao mar Egeu. Originalmente, o nome da cidade era Bizâncio; somente no século IV
passou a se chamar Constantinopla, em homenagem ao imperador Constantino.
O Império Bizantino conheceu seu esplendor durante o reinado de Justiniano (527-
565), que procurou restaurar a autoridade imperial em territórios controlados pelo antigo Império
Romano do Ocidente, mantendo o mar Mediterrâneo como eixo da economia. Restabeleceu os
quadros administrativos romanos e determinou a compilação e revisão do Direito Romano. Em
528, nascia o Código de Direito Civil (Corpus Iuris Civilis), cujo livro mais importante, o Código
de Justiniano, afirmava o poder ilimitado do imperador e a submissão de colonos e escravos
aos seus senhores.
O governo de Justiniano também realizou obras de cunho militar, como fortalezas e
castelos, e outras de cunho urbanístico ou religioso, como a monumental Basílica de Santa
Sofia. O cristianismo inspirou a criação de grandes mosaicos, expressão máxima da arte
bizantina, que, além de decorar fontes, igrejas e edifícios públicos, eram um meio de instrução
espiritual para os fiéis. Retratavam a vida de Jesus, dos profetas e dos imperadores bizantinos,
cujo poder era considerado divino. O dourado era usado em abundância e as figuras eram
representadas de frente, ignorando volume e perspectiva. A arquitetura conjugava o arco, a
abóbada e a cúpula, formatos arredondados, com um plano centrado, em forma quadrada ou
em cruz grega.
CESAROPAPISMO
A QUESTÃO ICONOCLASTA
O IMPÉRIO EM EXPANSÃO
O IMPÉRIO CAROLÍNGIO
Soberano dos francos desde 771, Carlos Magno venceu os lombardos e tornou- -se
também seu rei. Em 800, foi coroado imperador romano pelo papa, simbolizando a restauração
do Império Romano do Ocidente, que desapareceu no século V. Com dimensões consideráveis
que abrangiam grande parte da Europa ocidental — com exceção da península Ibérica e de boa
parte da península Itálica —, o Império Carolíngio foi dividido em condados, governados por
pessoas de confiança do imperador que lhe prestavam juramento de fidelidade pessoal,
recebendo em troca terras e um cargo. O conde era responsável pela arrecadação dos
impostos e exercício da justiça, podendo nomear auxiliares, os chamados viscondes.
Os ducados eram os únicos territórios livres da administração dos condes, autorizados
a conservar suas próprias leis, embora também subordinados ao imperador. Nas fronteiras do
Império, situavam-se as marcas, confiadas aos marqueses, dotados de poderes militares.
Duques, viscondes e marqueses também recebiam terras como benefício pelos cargos que
ocupavam. Assim formou-se o núcleo da nobreza medieval.
O Império Carolíngio era um império agrário, sustentado pelo trabalho de camponeses
submetidos aos duques, condes e marqueses. Enquanto isso, para além da Marca de Espanha,
na península Ibérica, outra civilização florescia: a islâmica.
A REVELAÇÃO DE ALÁ
OS PILARES DO ISLAMISMO
São cinco os pilares do islamismo que reúnem práticas e preceitos que devem ser
seguidos por seus fiéis: profissão de fé, que consiste em aceitar e professar que Alá é o único
Deus e Maomé, seu Profeta; oração, em que os fiéis devem orar cinco vezes ao dia; caridade,
os muçulmanos devem dispor de 2,5% dos seus rendimentos em benefício dos pobres; jejum,
em que eles devem privar-se de alimentos, prazeres e sentimentos negativos no mês do
Ramadã, que equivale a cerca de 28 dias do calendário gregoriano; peregrinação, os fiéis do
islamismo devem ir a Meca pelo menos uma vez na vida no último mês do calendário islâmico,
desde que tenham condições econômicas de realizar esse preceito.
ASCENSÃO DE MAOMÉ
4. DIVERSIDADE ECONÔMICA
A base econômica original das sociedades islâmicas era o trabalho agropastoril (cultivo
e pastoreio) dos camponeses em terras pertencentes aos grandes chefes militares e religiosos.
A escravidão era muito difundida nas sociedades muçulmanas, principalmente nas cidades,
onde prevalecia o trabalho de escravos domésticos e serviçais.
A agricultura conheceu desenvolvimento considerável, sobretudo nos cultivos de
algodão, arroz e cana-de-açúcar. O contato comercial entre muçulmanos de regiões muito
distintas do planeta favoreceu o desenvolvimento tecnológico. Por exemplo, técnicas de
irrigação adotadas no Egito foram transferidas e adaptadas para a península Ibérica. A
metalurgia se tornou a mais desenvolvida da época em terras ibéricas, em especial a da cidade
de Toledo, centro famoso pela produção de sabres e adagas.
Nos seus territórios, os muçulmanos desenvolveram instrumentos de crédito e
promoveram a circulação monetária, uma vez que o comércio, inclusive marítimo, era uma das
bases da economia. Os muçulmanos fizeram do Mediterrâneo, a partir do século VIII, aquilo que
os romanos haviam feito na Antiguidade: um mare nostrum (nosso mar). Assim, enquanto o sul
da Europa afirmava-se como um espaço urbanizado e próspero, o norte definia-se como um
mundo essencialmente rural após o fim do Império Carolíngio.
5. OCIDENTE DIVIDIDO
SENHORES E CAMPONESES
O SISTEMA DE VASSALAGEM
A vassalidade foi uma das principais características do mundo medieval. Era um ato de
lealdade declarado por um nobre, em geral um cavaleiro (vassalo), a outro nobre (suserano) em
uma cerimônia, chamada homenagem, retratada na iluminura a seguir. Nesse rito, o vassalo, de
joelhos, declarava ao suserano que “era seu homem”, selando o pacto com um beijo. Seguia-se
então o juramento, por meio do qual o vassalo prometia prestar ajuda militar sempre que
requisitado, realizar cavalgadas e dar ajuda financeira a seu suserano, no caso de um saque ou
eventual cativeiro em guerra (para pagar o resgate).
Em troca, no ato da investidura, o vassalo recebia um feudo, na forma de terra, pensão
ou rendimento agrícola. Somente os cavaleiros podiam prestar vassalagem a outro nobre ou
cavaleiro. Primeiro, porque dispunham de cavalo, armaduras e armas, bens de alto valor e
acessíveis a poucos. Segundo, porque se tratava de um pacto entre iguais, entre homens de
mesmo status social. Na imagem, vê-se que ambos estão vestidos com tecidos coloridos. Um
vassalo poderia ter mais de um suserano. A homenagem mais importante prestada por um
vassalo era chamada homenagem ligia.
4. (Uece ) Era costume submeter o acusado de cometer
um crime a um perigo, para ver se era ou não culpado.
Por exemplo, colocar sua mão em água fervendo, ou
1. (UFRN) Os estudos recentes sobre a Idade Média fazê-lo segurar um ferro em brasa dentre outras
avaliam esse período da história como um(a): atrocidades. Acreditava-se que, se inocente, Deus
(A) período de dez séculos durante o qual houve produziria um milagre, não deixando que algum mal
intensa atividade industrial e comercial, sendo a acontecesse ao presumível culpado. A Igreja Católica
cultura intelectual exclusividade dos mosteiros e da lutou contra e procurou extinguir esse costume que era
Igreja. (A) herança do Direito Romano, no qual os acusados
(B) período de obscurantismo e atraso cultural — a não tinham direito a uma defesa baseada em fatos
longa noite de mil anos — em virtude do desprezo fundamentados.
dado à herança intelectual grega e romana da (B) uma prática originária dos primeiros cristãos que,
época precedente. apoiados pela Igreja Católica, acreditavam na
(C) época que pode ser chamada de “Idade das intervenção divina como única forma de justiça.
Trevas”, em razão do predomínio da Igreja, que, (C) proveniente da tradição bárbara dos povos
com sua ideologia, contribuiu para a estagnação germânicos, que tinham uma cultura monoteísta
cultural, a opressão política e o fanatismo religioso. desde antes da chegada do cristianismo na Europa.
(D) época que não se constitui uma unidade: em sua (D) uma tradição que, mesmo rejeitada pela Igreja
primeira fase, houve retrocesso cultural e Católica, perdurou na Europa e em outras regiões
econômico, porém, posteriormente, ressurgiu a vida do mundo até mesmo depois da Idade Média.
econômica e houve grande florescimento cultural. (E) originária da civilização egípcia que gerou
(E) fase da história humana marcada por conflitos influencias sobre a sociedade romana.
armados envolvendo camponeses, nobres e
burgueses contra a igreja católica. 5. (Uepb) Quanto aos povos germânicos que vieram dar
origem aos reinos bárbaros no ocidente europeu
2. (UFRN) Enfrentando grandes dificuldades desde o medieval, pode-se afirmar corretamente:
século III, o Império Romano do Ocidente fragmentou-se (A) No território do antigo Império Romano, um dos
após as invasões dos povos bárbaros e, nesse território, reinos que mais se destacaram no século VII da era
formaram-se novas sociedades. Os historiadores cristã foi o dos hicsos.
consideram esse período como uma nova fase na (B) A presença dos bárbaros no Império Romano foi um
história da chamada Europa Ocidental: a Alta Idade processo que ocorreu gradualmente, iniciado muito
Média, marcada principalmente antes das “invasões”, à medida que eles
(A) pelo poder centralizado nas mãos dos reis, penetravam nos territórios do Império e passavam a
garantindo a estabilidade dos novos Estados que se ser utilizados em trabalhos agrícolas, bem como a
formaram. integrar o exército.
(B) pela religião cristã, que favoreceu a mescla dos (C) O renascimento carolíngio inibiu o desenvolvimento
elementos culturais romanos e germânicos. científico e proibiu a recuperação de obras
(C) pela prosperidade das cidades, lugares preferidos clássicas.
pelos povos germânicos para se fixarem. (D) Com as invasões germânicas foi abolido totalmente
(D) pelo predomínio do regime escravocrata, o qual o direito consuetudinário devido à adoção do Direito
sustentava uma economia comercial dinâmica. Romano.
(E) pelo rompimento, absoluto, entre as tradições (E) Não há registros históricos que apontem a
romanas e os costumes germânicos. contratação de bárbaros como mercenários para
lutar no exército romano.
3. (ENEM DIGITAL 2020) Constantinopla, aquela cidade
vasta e esplêndida, com toda a sua riqueza, sua ativa 6. (Uepa) A ideia de Cristandade na Alta Idade Média da
população de mercadores e artesãos, seus cortesãos Europa Ocidental supunha a união entre os povos do
em seus mantos civis e as grandes damas ricamente continente sob a batuta do alto clero católico. Em termos
vestidas e adornadas, com seus séquitos de eunucos e práticos, esta articulação se fundamentava:
escravos, despertaram nos cruzados um grande (A) na organização centralizada da administração
desdém, mesclado a um desconfortável sentimento de eclesiástica conduzida pelo alto clero, baseada nas
inferioridade. paróquias que dividiam o território europeu.
RUNCIMAN, S. A Primeira Cruzada e a fundação do Reino de Jerusalém. Rio (B) na difusão da chamada “Idade da Fé”, que
de Janeiro: Imago, 2003 (adaptado). assinalou o domínio do fervor religioso católico
encabeçado por lideranças religiosas populares.
A reação dos europeus quando defrontados com essa cidade (C) na interferência de reis e nobres na administração
ocorreu em função das diferenças entre Oriente e Ocidente eclesiástica, o que garantiu um pano de fundo
quanto aos(às) político ao domínio ideológico católico.
(A) modos de organização e participação política. (D) nas guerras entre reinos medievais, cujas regras
(B) níveis de disciplina e poderio bélico do exército. eram estabelecidas pelas lideranças eclesiásticas e,
(C) representações e práticas de devoção politeístas. por isso, não afetavam a unidade religiosa dos fieis.
(D) dinâmicas econômicas e culturais da vida urbana. (E) no controle da vida religiosa com os mecanismos de
(E) formas de individualização e desenvolvimento excomunhão e batismo, o que eliminou qualquer
pessoal. possibilidade de formação de movimentos heréticos.
7. (Uea) Igreja, em torno de 1030, proclamou que, segundo O texto nos revela as principais obrigações servis na idade
o plano divino, os homens dividiam-se em três medieval. Assinale a alternativa que associa corretamente a
categorias: os que rezam, os que combatem, os que obrigação ao trabalho realizado.
trabalham, e que a concórdia reside na troca de auxílios (A) o servo pagava a talha quando ceifava os prados do
entre eles. Os trabalhadores mantêm, com sua senhor, levava os frutos ao castelo, cuidava dos
atividade, os guerreiros, que os defendem, e os homens fossos e colhia o trigo.
da Igreja, que os conduzem à salvação. Assim a Igreja (B) o servo trabalhava apenas de 24 de junho a 30 de
defendia, de maneira lúcida, o sistema político baseado novembro em muitas atividades: dos cuidados com
na senhoria. os animais ao trabalho no campo.
(DUBY, Georges. Arte e sociedade na Idade Média, 1997. Adaptado.) (C) o servo trabalhava e recebia salário, pois pagava no
moinho pela moagem dos grãos e ao forneiro pelo
Segundo essa definição do universo social, feita pela Igreja pão assado.
cristã da Idade Média, a sociedade medieval era considerada (D) o servo devia a seu senhor a corveia, a talha e as
(A) injusta e imperfeita, na medida em que as banalidades pelo uso das instalações senhoriais
atividades dos servos os protegiam dos riscos a que bem como presentes em datas festivas.
estavam submetidos os demais grupos sociais. (E) o trabalho servil era recompensado no Natal,
(B) perfeita, porque era sustentada pelas atividades quando o senhor dava aos servos bolos, finas e
econômicas da agricultura, do comércio e da gordas galinhas.
indústria.
(C) sagrada, contendo três grupos sociais que deveriam 10. (Mackenzie) Aquilo que dominava a mentalidade e a
contribuir para o congraçamento dos homens. sensibilidade dos homens da Idade Média era o seu
(D) dinâmica e mutável, na medida em que estava sentimento de insegurança (...) que era, no fim das
dividida entre três estamentos sociais distintos e contas, a insegurança quanto à vida futura, que a
rivais. ninguém estava assegurada (...). Os riscos da danação,
(E) guerreira, cabendo à Igreja e aos trabalhadores com o concurso do Diabo, eram tão grandes, e as
rurais a participação direta nas lutas e empreitadas probabilidades de salvação, tão fracas que,
militares dos cavaleiros. forçosamente, o medo vencia a esperança.
Jacques Le Goff. A civilização do Ocidente medieval.
8. (Upe) Maomé pertenceu a um ramo menor do clã dos
Quraysh (coraixitas), um dos mais poderosos de Meca. O mundo medieval configurou-se a partir do medo da
Foi criado como mercador e casou-se aos 25 anos com insegurança, como retratado no texto acima. Encontre a
uma rica viúva bem mais velha que ele, chamada alternativa que melhor condiz com o assunto.
Khadija. Supõe-se que, nas suas viagens de negócios, (A) A crise econômica decorrente do final do Império
Maomé teria entrado em contato com árabes judaicos e Romano, a guerra constante, as invasões bárbaras,
cristãos e sido influenciado por eles. a baixa demográfica, as pestes, tudo isso aliado a
(DEMANT, Peter. O mundo muçulmano. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2011. p.
25. Adaptado.)
um forte conteúdo religioso de punição divina aos
pecados contribuiu para o clima de insegurança
Sobre a realidade apresentada no texto, assinale a medieval.
alternativa CORRETA. (B) A peste bubônica provocou redução drástica na
(A) A principal influência que Maomé sofreu do demografia medieval, levando a crenças
judaísmo e do cristianismo foi a crença no milenaristas e apocalípticas, sufocadas, por sua
monoteísmo. vez, pela rápida ação da Igreja, disponibilizando
(B) Maomé não obteve sucesso na tentativa de unificar recursos médicos e financeiros para a erradicação
a península arábica em nome do Islã. das várias doenças que afetam seus fiéis.
(C) O profeta Maomé não obteve resistência para (C) O clima de insegurança que predominou em toda a
empreender a conquista de Meca. Idade Média decorreu das guerras constantes entre
(D) O comércio, atividade desenvolvida por Maomé, nobres – suseranos – e servos – vassalos,
não era comum entre os povos árabes do século contribuindo para a emergência de teorias
VII. milenaristas no continente.
(E) Os árabes, no século VII, não tinham contato com (D) As enfermidades que afetavam a população em
cristãos, só com judeus. geral contribuíram para a demonização de algumas
práticas sociais, como o hábito de usar talheres nas
9. (G1 - ifsp) Em 24 de junho, dia de São João, os refeições, adquirido, por sua vez, no contato com
camponeses de Verson (na França) colhiam os frutos povos bizantinos.
dos campos de seu senhor e os levavam ao castelo. (E) A certeza da punição divina a pecados cometidos
Depois, cuidavam dos fossos e, em agosto, faziam a pelos humanos predominava na mentalidade
colheita do trigo, também entregue ao senhor. Eles medieval; por isso, nos vários séculos do período,
próprios não podiam recolher o seu trigo, senão depois eram constantes os autos de fé da Inquisição,
que o senhor tivesse tirado antecipadamente a sua incentivando a confissão em massa, sempre com
parte. No começo do inverno, trabalhavam sobre a terra tolerância e diálogo.
senhorial para prepará-la, passar o arado e semear. No
dia 30 de novembro, dia de Santo André, pagava-se 11. (Unesp) O cavaleiro é um dos principais personagens
uma espécie de bolo. Pelo Natal, “galinhas boas e nas narrativas difundidas durante a Idade Média. Esse
finas”.Depois, uma certa quantidade de cevada e de cavaleiro é principalmente um
trigo. E mais ainda! No moinho, para moer o grão do (A) camponês, que usa sua montaria no trabalho
camponês, cobrava-se uma parte dos grãos e uma certa cotidiano e participa de combates e guerras.
quantidade de farinha; no forno, era preciso pagar (B) nobre, que conta com equipamentos adequados à
também, e o “forneiro” dizia que, se não tivesse o seu montaria e participa de treinamentos militares,
pagamento, o pão do camponês ficaria mal cozido e torneios e jogos.
imprestável.
(LUCHAIRE, La Société française au temps de Philippe Auguste. Adaptado)
(C) camponês, que consegue obter ascensão social por reunião de histórias registradas entre os Séculos
meio da demonstração de coragem e valentia nas VIII e IX, e lidas ainda hoje no mundo ocidental.
guerras. (C) levaram para a Europa, por meio da ocupação da
(D) nobre, que ocupa todo seu tempo com a preparação Península Ibérica, antigas técnicas romanas de
militar para as Cruzadas contra os mouros. cultivo, habilidades de arte na representação
(E) nobre, que conquista novas terras por meio de sua humana e a perspectiva linear na pintura.
ação em torneios e jogos contra outros nobres. (D) traduziram e difundiram muitos textos,
concretizando importantes realizações, a partir do
12. (Uepa) A cidade medieval era dominada por seus pensamento grego.
campanários: torres e agulhas de igrejas paroquiais, de (E) inventaram o papel, a pólvora, a bússola, o
conventos e, evidentemente, da catedral Romana, astrolábio, os algarismos árabes e a álgebra.
depois gótica, a igreja do bispo era objeto de todas as
atenções [...] a catedral medieval nunca era uma 14. (Upe) A civilização bizantina foi muito mais original e
construção isolada, ela dominava toda uma criativa que, em geral, lhe creditam. Suas igrejas
circunscrição. [...] Eram muitos os carpinteiros, vidreiros abobadadas desafiam em originalidade e ousadia os
e pintores a participar do embelezamento da catedral. templos clássicos e as catedrais góticas, enquanto os
Os ourives e os comerciantes vendiam relicários aos mosaicos competem, como supremas obras de arte,
eclesiásticos, além de tapeçarias de seda e incenso com a escultura clássica e a pintura renascentista.
destinado a enobrecer a liturgia. (ANGOLD, Michael. Bizâncio: A ponte da antiguidade para a Idade Média. Rio
(BROUQUET, Sophie Cassagnes. “Novas cidades, novos ricos”. In: História de Janeiro: Imago, 2002. p. 9. Adaptado.)
Viva. Ano III, N°34, p.44)
Sobre o legado cultural bizantino, assinale a alternativa
A partir da descrição acima sobre a paisagem da cidade CORRETA.
medieval e dos estudos históricos que há sobre este período, (A) Herdando elementos da cultura grega, os bizantinos
afirma-se que a catedral: desenvolveram estudos sobre a aritmética e a
(A) desarticulava os poderes episcopais e políticos, álgebra.
porque os fiéis utilizavam-se do espaço onde (B) Negando a tradição jurídica romana, o império
ocorriam os rituais católicos, para fins comerciais, bizantino pautou sua jurisdição no direito
enfraquecendo os vínculos feudo-vassálicos entre o consuetudinário.
clero, nobreza e os artesãos. (C) A filosofia estoica influenciou o movimento
(B) centralizava as atividades de comércio, agrícola e iconoclasta, provocando o cisma cristão do Oriente
de construção, promovendo a criação de uma rede no século XI.
de trabalhadores de diversas regiões que, (D) O catolicismo ortodoxo tornou-se a religião oficial do
organizadas nas corporações de ofícios, depuseram império após a denominada querela das
o poder do episcopado romano. investiduras.
(C) projetava o poder exercido pelas corporações de (E) A catedral de Santa Sofia sintetiza a tradição
ofício que controlavam o trabalho dos artesãos e artística bizantina com seus ícones e mosaicos.
dos comerciantes, contratados no período das
edificações das catedrais, fortalecendo os mestres 15. (Enem)
de obras e os mercadores. Sou uma pobre e velha mulher,
(D) enfraqueceu o poder dos senhores feudais, ao Muito ignorante, que nem sabe ler.
promover o enriquecimento dos ourives e dos Mostraram-me na igreja da minha terra
comerciantes que se tornaram a nova classe social Um Paraíso com harpas pintado
consumidora dos produtos da Igreja e dos serviços E o Inferno onde fervem almas danadas,
dos clérigos. Um enche-me de júbilo, o outro me aterra.
(E) era objeto de grandes atenções na sociedade VILLON. F. In: GOMBRICH, E. História da arte. Lisboa: LTC. 1999.
medieval, pois não só congregava os religiosos e os
fiéis que para ela se dirigiam, como também atraía Os versos do poeta francês François Villon fazem referência
todo tipo de profissionais, constituindo-se em um às imagens presentes nos templos católicos medievais.
verdadeiro centro cultural, em que relações de Nesse contexto, as imagens eram usadas com o objetivo de
caráter religioso e profissional se inter- (A) refinar o gosto dos cristãos.
relacionavam. (B) incorporar ideais heréticos.
(C) educar os fiéis através do olhar.
13. (Upf) O islamismo é a religião que mais cresce no (D) divulgar a genialidade dos artistas católicos.
mundo contemporâneo. Suas origens remontam ao (E) valorizar esteticamente os templos religiosos.
século VII d.C. e sua expansão foi baseada na Jihad,
guerra santa contra outros povos, especialmente os 16. (G1 - ifsp) Analisando as condições de trabalho da
cristãos. Entre os séculos VII e VIII, foi constituído o Europa medieval, o historiador Marc Bloch afirmou:
Império Árabe-Muçulmano – que dominou a Península
Arábica –, os territórios dos atuais Irã e Iraque, todo o O servo, em resumo, dependia tão estreitamente de um
norte da África e a Península Ibérica (atuais Portugal e outro ser humano que, fosse ele para onde fosse, esse laço
Espanha). Nesse processo de expansão, os árabes o seguia e se imprimia à sua descendência. Essas pessoas,
assimilaram muitos legados culturais de outros povos para com o senhor, não estavam obrigadas apenas às
com os quais conviveram, como as tradições da cultura múltiplas rendas ou prestações de serviços. Deviam-lhe
clássica e oriental. Além disso, fizeram com que valores também auxílio e obediência, e contavam com a sua
culturais da Antiguidade Clássica chegassem ao mundo proteção.
(BLOCH, Marc. A sociedade feudal. Lisboa: Edições 79, s/d., p. 294-295.
moderno. Isso foi possível porque os árabes: Adaptado)
(A) conseguiram profetizar os destinos da humanidade
por meio dos signos do zodíaco. De acordo com o texto, é correto afirmar que a servidão na
(B) difundiram, por intermédio da literatura, a obra mais Europa medieval
conhecida dos chineses, que é Mil e uma Noites,
(A) baseava-se na cobrança de taxas e no trabalho em A partir das informações do texto, é correto afirmar que o
troca de proteção e moradia. contexto histórico em questão é o
(B) organizava a produção monocultora de exportação (A) escravismo antigo.
que predominava no período. (B) capitalismo industrial.
(C) proporcionava ampla mobilidade social para os (C) socialismo soviético.
servos e seus descendentes. (D) feudalismo medieval.
(D) garantia aos servos a participação nas decisões (E) mercantilismo moderno.
políticas dentro dos feudos.
(E) impedia a circulação dos trabalhadores nas 20. (Ufrgs ) Um dos elementos essenciais nas relações
lavouras dos territórios senhoriais. sociais da Idade Média Ocidental foi a instituição da
vassalagem, difundida desde o reinado de Carlos
17. (Pucrs) O feudalismo europeu foi resultante de uma Magno, que consistia em
lenta e complexa integração de estruturas sociais (A) um juramento de compra de terras por um vassalo a
romanas com estruturas dos povos conhecidos como um senhor, as quais eram trabalhadas por servos.
germanos, ocorrida entre os séculos V e IX. Uma das (B) uma relação de dependência pessoal que vinculava,
principais estruturas germânicas que compuseram o por meio de um juramento, um senhor a um
feudalismo foi subordinado, vassalo.
(A) a vila, grande latifúndio que tendia à autossufi- (C) uma concessão temporária de terras do rei a
ciência econômica. funcionários especializados da alta administração,
(B) o colonato, sistema de trabalho que vinculava o que exploravam o trabalho dos servos da gleba.
camponês à terra. (D) uma relação contratual entre um senhor e seus
(C) o burgo, cidade fortificada onde se concentravam servos, que prestavam serviços em troca de
atividades artesanais. proteção.
(D) o comitatus, relação de fidelidade militar entre (E) um contrato revogável de prestação de serviços
guerreiros e seu chefe. temporários por parte de um cavaleiro profissional,
(E) o direito codificado, reunião simplificada de leis a serviço de um senhor.
escritas.
1. A SOCIEDADE FEUDAL
A formação da sociedade feudal ocorreu no final da Alta Idade Média (séculos V a X),
mas seu amadurecimento somente se deu entre os séculos XI e XV, durante a chamada Baixa
Idade Média. Nessa sociedade, o alto clero e a nobreza possuíam interesses comuns e
concentravam em suas mãos o poder e a propriedade das terras, embora a Igreja estivesse
acima de tudo e de todos.
Como você já estudou no capítulo anterior, existiam dois tipos de relação social na
sociedade feudal, ambas legitimadas pela Igreja: a de vassalagem, que unia os nobres
cavaleiros por compromissos de lealdade pessoal, e a de servidão, que assegurava a
exploração dos camponeses. Desde o século IX, fontes literárias e administrativas descreviam o
mundo medieval como uma sociedade de ordens, composta de três segmentos, com funções
hierarquizadas e distintas: orar, combater e trabalhar. Aos religiosos cabia rezar pelo bem dos
cristãos, inspirando o amor a Deus; aos guerreiros competia proteger a Igreja e defender a
sociedade dos mais diferentes perigos; aos camponeses restava a tarefa de garantir a
sobrevivência material da sociedade, realizando os serviços braçais.
A justificativa dessa hierarquia era religiosa. Os sacerdotes se julgavam superiores aos
cavaleiros porque dedicavam a vida a Deus, orando, conservando sua castidade e, portanto,
exercendo as vocações mais valorizadas pelos cristãos. Alguns religiosos cumpriam à risca
esse papel; outros, nem tanto. À grande parte dos camponeses cabia a obrigação de trabalhar
nos campos. Na época, existia uma crença generalizada de que o trabalho era uma herança do
pecado original. Na Bíblia, no livro do Gênesis, podia-se ler que Adão, depois de expulso do
paraíso por ter cedido à tentação de Eva, recebera de Deus, como castigo, o fardo de trabalhar.
O modelo das três ordens transformava a sociedade feudal em algo criado e desejado por
Deus, inibindo qualquer contestação aos poderes estabelecidos.
Esse caráter eterno e inquestionável da ordem social seria abalado pelo crescimento
comercial, ocorrido na Europa ocidental a partir do século XI. A multiplicação de mercadores,
banqueiros e artesãos afetou a hierarquia da sociedade medieval. Pouco a pouco, surgiram
outras formas de organização social, baseadas em diferentes critérios, como os profissionais. O
mundo do trabalho, até então identificado com as atividades agrícolas, passou a englobar
também aquelas dedicadas ao comércio e ao artesanato. Apesar disso, o modelo das três
ordens se manteve como referência na sociedade medieval.
A primeira Cruzada foi composta de várias expedições. A principal delas foi organizada
em 1095 e chamada de “Cruzada dos Nobres” ou “Cruzada dos Cavaleiros”. Contava com 35
mil guerreiros, dos quais 5 mil eram cavaleiros. A principal liderança coube a Raimundo IV,
conde de Tolouse, cujo exército era o mais numeroso dentre todos da expedição.
A história militar dessa Cruzada foi marcada por atrocidades. O episódio mais famoso
ocorreu quando da vitória dos cruzados em Jerusalém. Há estimativas de que o número de
mortos tenha alcançado 40 mil; além dos muçulmanos, foram alvo do massacre judeus e
cristãos habitantes da cidade.
Em 1099, os cavaleiros retornaram à Europa ocidental com excelente saldo: a
conquista da Terra Santa, transformada em Reino Latino de Jerusalém, e dos condados de
Edessa e Trípoli. Assim, além dos ganhos com os saques efetuados, os cavaleiros foram
recompensados com terras.
Os cruzados que permaneceram na Palestina uniram-se em ordens militares de caráter
religioso. Na Terra Santa surgiram a Ordem do Templo, em 1118, mais conhecida como Ordem
dos Templários, e a Ordem dos Hospitalários de Santa Maria, em 1190, conhecida como
Ordem dos Cavaleiros Teutônicos.
A palavra heresia é de origem grega e significa escolha. Para a igreja Católica, herege
era todo aquele que difundia ou praticava uma crença contrária aos dogmas (princípios e
doutrinas inquestionáveis) do catolicismo e aos sacramentos e mandamentos da Igreja ou
questionava o poder eclesiástico, sobretudo a autoridade do papa.
O principal movimento herético da época foi o catarismo, que reuniu um número
significativo de adeptos e comunidades em várias partes da Europa ocidental, em particular na
península Itálica e no sul da atual França. O primeiro movimento de expansão do catarismo
ocorreu no século XI. Atraiu justamente cavaleiros pobres, artesãos e mercadores,
desvalorizados socialmente por não terem terras, títulos de nobreza ou por exercerem trabalho
manual.
Os cátaros desprezavam o mundo material e acreditavam que o dever das pessoas era
transformar a realidade e estabelecer uma comunhão com Deus por meio de uma vida moral
irrepreensível. Praticavam jejuns periodicamente, não comiam carne e reprovavam as relações
sexuais, por acreditar que elas tornavam o espírito escravo do corpo. Como não reconheciam a
legitimidade da Igreja, foram perseguidos por autoridades laicas e religiosas.
Diversas comunidades cátaras foram destruídas, principalmente no Languedoc, no sul
da atual França. Nessa região, parte da nobreza e dos artesãos aderiu ao catarismo, e foi
preciso convocar uma cruzada, que durou 20 anos (1209-1229), para combater esse
movimento.
5. RENASCIMENTO URBANO
6. OS OFÍCIOS URBANOS
Somente no século XIX descobriu-se que a peste negra era um tipo de peste bubônica,
inicialmente transmitida por pulgas.
CÓLERA DIVINA
Além da peste negra, o século XIV também conheceu a mais longa guerra da Idade
Média, travada entre a monarquia francesa e a inglesa, que ficou conhecida como a Guerra dos
Cem Anos. Na verdade, a guerra durou, entremeada de curtas tréguas, 116 anos, de 1337 a
1453.
O conflito começou com a disputa pela Coroa francesa: Carlos IV, rei da França,
morreu em 1328 sem deixar filhos homens. Eduardo III, rei da Inglaterra, julgava-se o seu
legítimo herdeiro, porque era sobrinho do falecido rei. Ao mesmo tempo, boa parte da nobreza
francesa apoiava Filipe de Valois, primo do rei, que assumiu o trono como Filipe VI, provocando
a reação do rei inglês.
Na época, as guerras não eram conflitos entre Estados nacionais, mas entre nobres,
príncipes e reis por tronos, títulos e domínios territoriais onde pudessem cobrar impostos. Por
isso, não é surpresa que um rei inglês cobiçasse acumular a Coroa da França, com todas as
vantagens e privilégios que poderia obter.
Mas para isso ele precisava do apoio da nobreza francesa. Afinal, o poder dos reis
confrontava-se com o poder dos senhores feudais, os grandes duques e condes. Esse jogo de
alianças era feito de acordo com as tradições feudais, incluindo as lealdades vassálicas e os
interesses econômicos imediatos. Foi o que aconteceu na Guerra dos Cem Anos, que, por isso
mesmo, é um bom exemplo da guerra medieval.
AS VITÓRIAS INGLESAS
8. A CRISE DO FEUDALISMO
REAÇÃO SENHORIAL
Desde 711, a península Ibérica estava sob domínio dos árabes muçulmanos, também
chamados de mouros pelos cristãos. A partir do século XI, houve uma ofensiva sistemática
contra os muçulmanos – chamada de Reconquista – por meio de um conjunto de lutas
empreendidas pelos cristãos com o objetivo de recuperar as terras invadidas e expulsar os
muçulmanos da península. Pouco a pouco, ao longo de quase quatro séculos, os centros da
cultura árabe na península caíram, um após outro: Toledo (1085), Córdoba (1236), Sevilha
(1248), Cádiz (1262). O último reduto foi Granada, retomada pelos cristãos em 1492 (veja os
mapas abaixo). À medida que os muçulmanos eram expulsos, reinos e condados cristãos
expandiam seus territórios. Lentamente, esse processo levaria à formação de dois Estados
independentes: Portugal e Espanha.
A FORMAÇÃO DE PORTUGAL
No final do século XI, o rei Afonso VI, de Leão e Castela (reinos que junto com outros
formariam mais tarde a moderna Espanha), concedeu ao nobre francês Henrique de Borgonha
o Condado Portucalense, feudo situado no oeste da península. Em 1142, Afonso Henriques,
filho do conde Henrique de Borgonha, declarou-se rei e proclamou a independência do
condado, que passou a se chamar Portugal. Por 240 anos, os reis da dinastia de Borgonha,
fundada por Afonso Henriques, viveram em constante conflito com o reino de Castela. Nesse
período, expandiram o território português em direção ao sul e fizeram de Lisboa capital do
novo reino. Em 1383, morreu o último rei da dinastia de Borgonha e seguiu-se um período no
qual Castela tentou anexar Portugal a seus domínios até que, em 1385, dom João, mestre da
ordem militar da cidade de Avis, assumiu o trono português. Em um episódio que ficou
conhecido como Revolução de Avis, dom João conseguiu consolidar o poder monárquico em
Portugal.
A ESPANHA E A INQUISIÇÃO
GABARITO
1 D 6 B 11 C 16 E
2 A 7 C 12 A 17 B
3 D 8 B 13 D 18 D
4 A 9 C 14 D 19 E
5 C 10 E 15 A 20 E
1. O RENASCIMENTO ARTÍSTICO, CIENTÍFICO E INTELECTUAL
HUMANISMO E RACIONALISMO
GEOCENTRISMO × HELIOCENTRISMO
A ARTE RENASCENTISTA
Um dos primeiros pintores a dar caráter artístico à sua atividade e a assinar suas obras
foi Giotto di Bondone (1267-1337), nascido na península Itálica. Ele inovou não apenas ao
retratar pessoas, animais e objetos com grande realismo, mas também por ter introduzido
noções de profundidade na pintura. Dessa forma, abriu caminho para a introdução da
perspectiva, desenvolvida mais tarde por Filippo Brunelleschi (1377-1446), Leon Battista Alberti
(1404-1472) e Leonardo da Vinci. Utilizando princípios matemáticos, Brunelleschi criou o
conceito de perspectiva exata: quanto mais distante um objeto estivesse em relação ao
observador, tanto menor deveria ser representado na tela, para reproduzir fielmente a realidade.
A perspectiva exigia do pintor conhecimentos não só de Geometria e Matemática, mas
também de ótica. Além disso, ele deveria saber reproduzir as variações de cor, de luz e sombra
que a realidade apresentava. Com todas essas mudanças, pintores, escultores e arquitetos
passaram a ser vistos como verdadeiros artistas, não mais como artesãos.
OS MECENAS
RENOVAÇÃO LITERÁRIA
Uma renovação no campo das letras vinha ocorrendo na Europa desde os últimos
séculos da Idade Média, devido principalmente ao trabalho de três escritores da península
Itálica: Dante Alighieri (1265-1321), Francesco Petrarca (1304-1374) e Giovanni Boccaccio
(1313-1375). A (re)invenção, por Johannes Gutenberg, dos tipos móveis de impressão no
século XV foi um fator que contribuiu para consolidar o surgimento de novas formas literárias e
permitiu a publicação de livros com grandes tiragens. Iniciada na península Itálica, essa
renovação literária logo se espalhou para países como Espanha, França, Portugal e Inglaterra.
Em Portugal se destacaram o poeta Luís de Camões (1503-1580), com a forma da
epopeia greco-latina em Os lusíadas, e o dramaturgo Gil Vicente (cerca de 1465-1536), com
peças satíricas como a Farsa de Inês Pereira e o Auto da barca do inferno. Na Espanha, surgiu
o escritor Miguel de Cervantes (1547-1616), autor de Dom Quixote e, na Inglaterra, surgiu
William Shakespeare (1564-1618), considerado por muitos o maior dramaturgo de todos os
tempos e autor de peças como Hamlet, Romeu e Julieta, A megera domada, Macbeth e Rei
Lear.
Durante a Idade Média, a Igreja católica era o principal centro de poder na Europa. Sua
influência era tamanha que reis e senhores feudais recorriam a ela para governar. Tanto poder
terreno distanciou a Igreja dos assuntos espirituais. Para muitos de seus integrantes, riqueza e
prazeres físicos tornaram-se mais importantes do que a fé. Essa inversão de valores pôs em
xeque a credibilidade da instituição.
A falta de retidão da Igreja católica nos séculos anteriores contribuiu para a grave crise
do século XIV e afetou a estabilidade e o poder da Igreja. Além das disputas políticas
envolvendo o alto clero, pesaram sobre a instituição denúncias de corrupção e outras
acusações de ordem moral.
Diante desse cenário, alguns filósofos cristãos, influenciados pelo pensamento
humanista, passaram a responsabilizar a Igreja e seus dogmas pela perpetuação da miséria e
da ignorância na sociedade europeia.
Um desses pensadores foi o sacerdote e professor inglês da Universidade de Oxford,
John Wyclif (1324-1384), que dedicou boa parte da vida à crítica indignada da corrupção e da
arrogância vigentes na hierarquia eclesiástica. A mesma atitude adotou John Huss (1371-1415),
sacerdote e reitor da Universidade de Praga (hoje capital da República Tcheca), que
denunciava a venda de indulgências. Tanto ele quanto Wyclif foram acusados de heresia pela
Igreja e condenados à morte na fogueira.
Apesar da repressão da Igreja, o movimento contra as práticas imorais do clero
cresceu de forma contínua: na esfera da reflexão sistemática e teórica, o humanista holandês
Erasmo de Roterdã (1466-1536), em seu Elogio da loucura, condenava a corrupção existente
na instituição; no âmbito da literatura, o escritor francês François Rabelais (1494-1533)
escreveu excelente sátira literária sobre o tema, Gargântua e Pantagruel.
Assim, quando em 1517 o monge Martinho Lutero (1483-1546) protestou contra o
comportamento do alto clero e do papado, outras pessoas sentiram- -se motivadas a fazer o
mesmo. Esse movimento, que ficou conhecido como Reforma, tornou-se tão amplo que
provocou uma cisão na Igreja.
VENDA DE INDULGÊNCIAS
PROTESTANTES × CATÓLICOS
O CONCÍLIO DE TRENTO
“É a mesma coisa que a gente chegar na casa de alguém e falar: ‘eu descobri essa
casa’.”
É com essa analogia que o jovem Charlie Peixoto procura desconstruir o evento que
ficou registrado em nossa história como “descobrimento do Brasil pelos portugueses em 1500”.
Charlie é um dos quatro componentes do Brô MC’s, um grupo de rap criado em 2009 para
valorizar a cultura indígena por meio da música jovem. As letras são cantadas em guarani e em
português. Não é porque cantam rap, sertanejo, samba ou por morarem em áreas urbanas que
essas pessoas deixam de ser indígenas. Afinal, o que constitui nossa identidade como povo ou
grupo social são valores de pertencimento, que vão muito além das fronteiras geográficas ou
das músicas que cantamos.
Neste capítulo vamos conhecer o processo de colonização das terras que hoje
pertencem ao Brasil e perceber alguns dos graves problemas que a população indígena vem
enfrentando desde a chegada dos europeus.
Os povos Tupi chamavam o território em que viviam de Pindorama, que quer dizer
“Terra das Palmeiras”. Apesar de partilharem muitos hábitos e costumes, cada povo tinha suas
particularidades. Alguns preservam esses hábitos até hoje; outros, não. Por isso, as
informações a seguir devem ser entendidas como aspectos gerais.
A comunidade tupi costumava viver em pequenas aldeias, onde construía de quatro a
sete malocas de madeira, distribuídas em um grande círculo. As malocas eram grandes
habitações coletivas, sem divisões internas, que abrigavam, cada uma, de trinta a cem pessoas.
O terreiro no centro do círculo formado pelas malocas era a ocara, espaço onde se
realizavam festas e rituais, cerimônias religiosas. A pessoa mais respeitada da aldeia era o
pajé, que desempenhava as funções de médico e sacerdote. O papel do morubixaba, líder da
aldeia tupi, era apenas intermediar as relações entre as pessoas para evitar conflitos. Questões
importantes, como uma declaração de guerra a outra aldeia, eram decididas por um conselho
de chefes das grandes famílias.
Alguns povos Tupi comiam seus inimigos (antropofagia) como forma de homenageá-
los, pois acreditavam que assim assimilavam sua força e sua valentia. E diversos povos
indígenas que viviam no interior supunham que ingerir a carne de um familiar morto por causas
naturais transferia suas virtudes e qualidades para os que a consumiam. A antropofagia,
portanto, fazia parte da cultura desses povos. No século XVI, a prática da antropofagia pelos
indígenas serviu aos europeus de justificativa para a colonização da América.
PRODUÇÃO E ORGANIZAÇÃO SOCIAL
EXPLORAÇÃO E EXTRATIVISMO
Dom Manuel não se interessou inicialmente em colonizar a região, pois fora informado
de que não havia indícios da existência de metais preciosos. O rei preferiu concentrar esforços
no lucrativo comércio com as Índias. Entretanto, em 1501 e 1503, Portugal organizou duas
expedições com o objetivo de explorar o litoral das terras a oeste do Atlântico.
A única matéria-prima que, de imediato, interessou a Portugal foi o pau-brasil. De seu
tronco vermelho, os indígenas extraíam tinta para colorir as penas com que se enfeitavam.
Como existia também na Ásia, a árvore já era conhecida dos europeus, que utilizavam seu
corante para tingir tecidos. Entretanto, com o bloqueio do comércio pelo Mediterrâneo, o preço
da madeira disparou.
A exploração do pau-brasil se tornou a principal atividade econômica dos portugueses
no atual território brasileiro até 1530. As árvores eram derrubadas pelos nativos, que recebiam
objetos como espelhos, miçangas, pentes, pedaços de pano, etc., em um sistema de troca
conhecido como escambo. Posteriormente, os portugueses começaram a recompensar os
indígenas com tesouras, anzóis, machados de ferro e outros artefatos de metal.
Os utensílios de metal modificaram substancialmente o modo de vida da população
nativa. Por exemplo, os indígenas precisavam de quase três horas para derrubar uma árvore
com um machado de pedra; mas com um de ferro o trabalho levava cerca de quinze minutos.
3. INÍCIO DA COLONIZAÇÃO
CAPITANIAS HEREDITÁRIAS
O território português na América foi dividido em 15 lotes, denominados capitanias hereditárias, com vista em
tornar possível sua colonização lucrativa.
O Brasil é o segundo país com o maior número de negros no mundo, superado apenas
pela Nigéria, na África. Isso se deve à entrada de africanos escravizados no país, a partir do
século XVI. Entre os séculos XVI e XIX, chegaram ao atual território brasileiro cerca de 3,8
milhões de africanos. Eram pessoas que pertenciam a diferentes povos, falavam diversas
línguas, tinham hábitos e costumes variados, detinham conhecimentos técnicos, agrícolas e
científicos.
Entretanto, essas pessoas não vieram espontaneamente; foram trazidas à força de
suas terras e obrigadas a viver no Brasil e trabalhar em regime de escravidão. Neste capítulo
conheceremos esse processo e de que maneira a violência do movimento de escravidão afetou
o desenvolvimento do continente africano. Veremos também as marcas deixadas pelo grande
intercâmbio pessoal, familiar e cultural entre esses africanos e seus descendentes e o restante
da população que aqui vivia.
1. ESCRAVIDÃO NA ÁFRICA
OS AGENTES DO TRÁFICO
3. A PLURALIDADE CULTURAL
Estima-se que quase 60% dos africanos trazidos à força ao Brasil foram capturados
entre povos bantos da África centro-ocidental, em especial nas regiões dos atuais Congo e
Angola. Por volta de um terço dos cativos que aqui chegaram eram sudaneses da África
ocidental. Na América portuguesa era comum todos serem chamados de “negros da Guiné”
(um dos portos onde eram embarcados na África). O termo era utilizado para diferenciar da
expressão “negros da terra”, muitas vezes usado pelos colonizadores para se referir aos
indígenas escravizados.
4. O COTIDIANO DO ESCRAVIZADO
ESTRATÉGIAS DE RESISTÊNCIA
A mão de obra cativa foi utilizada também nos núcleos urbanos fundados nas Minas
Gerais à época da mineração, a partir do final do século XVII, e na cidade do Rio de Janeiro,
que se expandiu muito com a vinda da família real portuguesa, em 1808.
Na cidade, o escravizado podia se deslocar de um lugar para outro, levando recados
ou compras. No meio rural, isso era praticamente impossível. Além disso, havia senhores
urbanos que alugavam seus escravizados. Muitos foram alugados para trabalhar como
cozinheiros, carpinteiros, amas de leite, etc.
Outros cativos executavam serviços para terceiros em troca de dinheiro. Os chamados
escravos de ganho (ou negros de ganho) entregavam a seu senhor uma quantia estabelecida
e ficavam com o restante do dinheiro. Essa renda era geralmente utilizada para a compra da
alforria. Os africanos e seus descendentes exerceram papel fundamental na formação de nossa
sociedade.
Para grande parte dos africanos escravizados, animais e plantas tinham caráter
sagrado. Ao chegarem ao Brasil, suas manifestações religiosas se mesclaram a hábitos e
crenças portugueses e indígenas, dando origem às religiões afro-brasileiras. Em uma dessas
religiões (o candomblé) os orixás são divindades que representam as forças da natureza e têm
características humanas: eles são vaidosos, ciumentos, briguentos, etc. Durante um ritual, os
orixás podem ser invocados para se apossar de algum crente e se comunicar com os mortais.
As “congadas” são festas populares presentes no Brasil desde o século XVII e são
realizadas ainda hoje por comunidades negras. A comunidade elege um rei e uma rainha e
organiza os festejos com danças e simulações de guerras. A forma varia bastante, dependendo
da região, mas em algumas representações de lutas os nomes dos combatentes são,
respectivamente, d. Afonso I e Nzinga, que simbolizam um rei cristão derrotando uma monarca
pagã. A permanência de uma memória sobre fatos ocorridos em outro continente e em um
passado distante demonstra que a influência das culturas africanas foi poderosa e duradoura no
Brasil. Segundo a historiadora Marina de Mello e Souza:
A fama de Nzinga, assim como a de D. Afonso I, atravessou os séculos e os mares,
sendo evocada em festas populares realizadas no Brasil no passado e ainda hoje. Enquanto
Nzinga ficou ligada à resistência e autonomia dos angolanos, o rei do Congo passou a
simbolizar a conversão dos congoleses ao cristianismo. [...] A despeito de sua conversão [ao
catolicismo] final, é como rainha guerreira que resistiu aos portugueses que Nzinga é lembrada
ainda hoje em Angola, tendo se tornado símbolo nacional de resistência à ocupação. Já nas
festas realizadas por africanos e seus descendentes no Brasil, [...] seu nome é geralmente
associado a inimigos do rei do Congo.
SOUZA, Marina de Mello e. Reis negros no Brasil escravista. História da festa de coroação do rei do Congo. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2002. p. 113.
monopolizado pelo Estado português. […] O
desinteresse português em relação ao Brasil estava em
conformidade com os interesses mercantilistas da
1. (Enem) A língua de que usam, por toda a costa, carece época, como observou o navegante Américo Vespúcio,
de três letras; convém a saber, não se acha nela F, nem após a exploração do litoral brasileiro, pode-se dizer que
L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não não encontramos nada de proveito”.
têm Fé, nem Lei, nem Rei, e dessa maneira vivem Berutti, 2004.
desordenadamente, sem terem além disto conta, nem
peso, nem medida. Sobre o período retratado no texto, pode-se afirmar que o(a)
GÂNDAVO, P M. A primeira historia do Brasil: história da província de Santa (A) desinteresse português pelo Brasil nos primeiros
Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2004 anos de colonização, deu-se em decorrência dos
(adaptado). tratados comerciais assinados com a Espanha, que
tinha prioridade pela exploração de terras situadas a
A observação do cronista português Pero de Magalhães de oeste de Greenwich.
Gândavo, em 1576, sobre a ausência das letras F, L e R na (B) maior distância marítima era a maior desvantagem
língua mencionada, demonstra a brasileira em relação ao comércio com as Índias.
(A) simplicidade da organização social das tribos (C) desinteresse português pode ser melhor explicado
brasileiras. pela resistência oferecida pelos indígenas que
(B) dominação portuguesa imposta aos índios no início dificultavam o desembarque e o reconhecimento
da colonização. das novas terras.
(C) superioridade da sociedade europeia em relação à (D) abertura de um novo mercado na América do Sul,
sociedade indígena. ampliava as possibilidades de lucro da burguesia
(D) incompreensão dos valores socioculturais indígenas metropolitana portuguesa.
pelos portugueses. (E) relativo descaso português pelo Brasil, nos
(E) dificuldade experimentada pelos portugueses no primeiros trinta anos de História, explica-se pela
aprendizado da língua nativa. aparente inexistência de artigos (ou produtos) que
atendiam aos interesses daqueles que
2. (Unicamp 2020) Na América Portuguesa do século XVI, patrocinavam as expedições.
a política europeia para os indígenas pressupunha
também a existência de uma política indígena frente aos 4. (Enem) De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito chã
europeus, já que os Tamoios e os Tupiniquins tinham e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar,
seus próprios motivos para se aliarem aos franceses ou muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos
aos portugueses. ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito
(Adaptado de Manuela Carneiro da Cunha, Introdução a uma história indígena.
São Paulo: Companhia das Letras/Fapesp, 1992, p. 18.) longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja
ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro;
Com base no excerto e nos seus conhecimentos sobre os nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons
primeiros contatos entre europeus e indígenas no Brasil, ares [...]. Porém o melhor fruto que dela se pode tirar me
assinale a alternativa correta. parece que será salvar esta gente.
Carta de Pero Vaz de Caminha. In: MARQUES, A.; BERUTTI, F.; FARIA, R.
(A) A população ameríndia era heterogênea e os História moderna através de textos. São Paulo: Contexto, 2001.
conflitos entre diferentes grupos étnicos ajudaram a
definir, de acordo com suas próprias lógicas e A carta de Pero Vaz de Caminha permite entender o projeto
interesses, a dinâmica dos seus contatos com os colonizador para a nova terra. Nesse trecho, o relato enfatiza
europeus. o seguinte objetivo:
(B) O fato de Tamoios e Tupiniquins serem grupos (A) Valorizar a catequese a ser realizada sobre os
aliados contribuiu para neutralizar as disputas entre povos nativos.
franceses e portugueses pelo controle do Brasil, (B) Descrever a cultura local para enaltecer a
pelo papel mediador que os nativos exerciam. prosperidade portuguesa.
(C) Os indígenas, agentes de sua história, desde cedo (C) Transmitir o conhecimento dos indígenas sobre o
souberam explorar as rivalidades entre os europeus potencial econômico existente.
e mantê-los afastados dos seus conflitos (D) Realçar a pobreza dos habitantes nativos para
interétnicos, anulando o impacto da presença demarcar a superioridade europeia.
portuguesa. (E) Criticar o modo de vida dos povos autóctones para
(D) As etnias indígenas viviam em harmonia umas com evidenciar a ausência de trabalho.
as outras e em equilíbrio com a natureza. Esse
quadro foi alterado com a chegada dos europeus, 5. (Pucsp) Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso
que passaram a incentivar os conflitos interétnicos dele. Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo
para estabelecer o domínio colonial. dela, e não lhe queriam por mão. Depois lhe pegaram,
(E) As nações indígenas eram homogêneas e por isso mas como espantados. Deram-lhes ali de comer: pão e
tiveram condições de fazer resistência aos projetos peixe cozido, confeitos, bolos, mel, figos-passa. Não
de expropriação de suas riquezas por parte dos quiseram comer daquilo quase nada; e se provaram
portugueses. alguma coisa, logo a lançavam fora. Trouxeram-lhes
vinho em uma taça; mal lhe puseram a boca, não
3. (Espcex (Aman) “Os primeiros trinta anos da História do gostaram dele nada, nem quiseram mais.
Brasil são conhecidos como período Pré-Colonial. Nesse “A carta de Pero Vaz Caminha”, maio de 1500. Extraído de Dea Ribeiro
período, a coroa portuguesa iniciou a dominação das Fenelon. 50 textos de história do Brasil. São Paulo: Hucitec, 1986, p. 23.
terras brasileiras, sem, no entanto, traçar um plano de
ocupação efetiva. […] A atenção da burguesia O documento mostra um dos primeiros contatos entre
metropolitana e do governo português estavam voltados portugueses e nativos do atual Brasil. Podemos dizer, entre
para o comércio com o Oriente, que desde a viagem de outras coisas, que a carta, na sua íntegra, demonstra a
Vasco da Gama, no final do século XV, havia sido
(A) superioridade técnica dos europeus em relação aos canibalização dos inimigos alimentavam a
indígenas e os motivos de a conquista portuguesa fragmentação, a dispersão territorial e o revanchismo.
não ter enfrentado resistência.
(B) necessidade de reeducar os hábitos dos indígenas, Em termos simbólicos, o sentido da antropofagia, resultante
cuja alimentação cotidiana era muito menos do enfrentamento entre indígenas pouco antes do início da
diversificada que a dos conquistadores. colonização portuguesa, tem relação com:
(C) importância da chegada dos portugueses ao (A) a necessidade de exterminar os inimigos na
continente americano, pois eles trouxeram melhores totalidade, inclusive pela ingestão física, de modo a
alimentos e melhores hábitos de vestimenta. interditar lhes qualquer forma de sobrevivência ou
(D) variedade de hábitos culturais de europeus e resquício material.
indígenas, ao expor diferenças nas vestimentas, (B) a profunda diferença sociocultural entre os povos
nos utensílios e na alimentação. tupi, que ao longo da expansão tendiam a
(E) harmonia plena com que se deram as relações considerar-se como estrangeiros, habitando regiões
entre conquistadores e conquistados, que se contíguas.
identificaram facilmente. (C) a interferência de navegadores europeus que
alimentavam as dissensões entre os povos
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: indígenas como meio de conquistá-los
Leia o texto para responder à questão. posteriormente.
(D) a disputa territorial com os povos não-tupi, que
[Os tupinambás] têm muita graça quando falam [...]; mas foram praticamente expulsos da costa e obrigados a
faltam-lhe três letras das do ABC, que são F, L, R grande ou adentrar o interior do continente.
dobrado, coisa muito para se notar; porque, se não têm F, é (E) o interesse em assimilar as potencialidades
porque não têm fé em nenhuma coisa que adoram; nem os guerreiras e a bravura dos inimigos, bem como
nascidos entre os cristãos e doutrinados pelos padres da incorporar seu universo social e cosmológico
Companhia têm fé em Deus Nosso Senhor, nem têm adicionado ao grupo do vencedor.
verdade, nem lealdade a nenhuma pessoa que lhes faça
bem. E se não têm L na sua pronunciação, é porque não têm 8. (Pucsp) “O Brasil é uma criação recente. Antes da
lei alguma que guardar, nem preceitos para se governarem; chegada dos europeus (...) essas terras imensas que
e cada um faz lei a seu modo, e ao som da sua vontade; sem formam nosso país tiveram sua própria história,
haver entre eles leis com que se governem, nem têm leis uns construída ao longo de muitos séculos, de muitos
com os outros. E se não têm esta letra R na sua milhares de anos. Uma história que a Arqueologia
pronunciação, é porque não têm rei que os reja, e a quem começou a desvendar apenas nos últimos anos.”
obedeçam, nem obedecem a ninguém, nem ao pai o filho, Norberto Luiz Guarinello. Os primeiros habitantes do Brasil. A arqueologia pré-
histórica no Brasil. São Paulo: Atual, 2009 (15ª edição), p. 6
nem o filho ao pai, e cada um vive ao som da sua vontade
[...].
(Gabriel Soares de Souza. Tratado descritivo do Brasil em 1587, 1987.) O texto acima afirma que
(A) o Brasil existe há milênios, embora só tenham
6. (Unesp) O texto destaca três elementos que o autor surgido civilizações evoluídas em seu território após
considera inexistentes entre os tupinambás, no final do a chegada dos europeus.
século XVI. Esses três elementos podem ser (B) a história do que hoje chamamos Brasil começou
associados, respectivamente, muito antes da chegada dos europeus e conta com
(A) à diversidade religiosa, ao poder judiciário e às a contribuição de muitos povos que aqui viveram.
relações familiares. (C) as terras que pertencem atualmente ao Brasil são
(B) ao catolicismo, ao sistema de governo e ao respeito excessivamente grandes, o que torna impossível
pelos diferentes. estudar sua história ao longo dos tempos.
(C) à fé religiosa, à ordenação jurídica e à hierarquia (D) a Arqueologia se dedicou, nos últimos anos, a
política. pesquisar o passado colonial brasileiro e seu
(D) à estrutura política, à anarquia social e ao vínculo com a Europa.
desrespeito familiar. (E) os povos indígenas que ocupavam o Brasil antes da
(E) ao respeito por Deus, à obediência aos pais e à chegada dos europeus, foram dizimados pelos
aceitação dos estrangeiros. conquistadores portugueses.
7. (Uepa) Os povos tupi correspondiam no século XV a um 9. (Enem) Os vestígios dos povos Tupi-guarani encontram-
enorme conjunto populacional étnico-linguístico que se se desde as Missões e o rio da Prata, ao sul, até o
espalhava por quase toda a costa atlântica sul do Nordeste, com algumas ocorrências ainda mal
continente americano, desde o atual Ceará, até a Lagoa conhecidas no sul da Amazônia. A leste, ocupavam toda
dos Patos, situada nos dias de hoje no Rio Grande do a faixa litorânea, desde o Rio Grande do Sul até o
Sul. De acordo com registros de missionários jesuítas e Maranhão. A oeste, aparecem (no rio da Prata) no
de exploradores portugueses dos primeiros anos da Paraguai e nas terras baixas da Bolívia. Evitam as terras
colonização portuguesa, os povos tupi se disseminaram inundáveis do Pantanal e marcam sua presença
pelo que é hoje a costa brasileira, numa dinâmica discretamente nos cerrados do Brasil central. De fato,
combinada de crescimento populacional e fragmentação ocuparam, de preferência, as regiões de floresta tropical
sociopolítica. Ao mesmo tempo, uma utopia ancestral e subtropical.
cultivada pelos diversos grupos tupi da busca de uma
PROUS. A. O Brasil antes dos brasileiros. Rio de Janeiro: Jorge
“terra sem males”, teria contribuição para sua expansão Zahar. Editor, 2005.
territorial. Os tupi chegaram no início do século XVI à
Amazônia, ocupando a Ilha Tupinambarana como ponto Os povos indígenas citados possuíam tradições culturais
final de sua peregrinação. No caminho percorrido, os específicas que os distinguiam de outras sociedades
povos tupi viviam numa atmosfera de guerra constante indígenas e dos colonizadores europeus. Entre as tradições
entre si e com outros povos não-tupi. Guerras captura e tupi-guarani, destacava-se
(A) a organização em aldeias politicamente Considerando o texto, é correto afirmar que
independentes, dirigidas por um chefe, eleito pelos (A) uma única leva imigratória humana chegou à
indivíduos mais velhos da tribo. América há 70 mil anos e dela descendem as
(B) a ritualização da guerra entre as tribos e o caráter populações indígenas brasileiras atuais.
semissedentário de sua organização social. (B) a concepção dos autores em relação à Pré-História
(C) a conquista de terras mediante operações militares, do Brasil sustenta-se na ideia da construção de uma
o que permitiu seu domínio sobre vasto território. experiência evolutiva e linear.
(D) o caráter pastoril de sua economia, que prescindia (C) os autores descrevem o processo histórico das
da agricultura para investir na criação de animais. populações indígenas brasileiras como uma
(E) o desprezo pelos rituais antropofágicos praticados trajetória fundada na ideia de crescente progresso
em outras sociedades indígenas. cultural.
(D) na época de Cabral, as populações indígenas
10. (Ufpa) Considere o texto a seguir: brasileiras eram numerosas e estavam em um
estágio evolutivo igual ao da Pré-História europeia.
"Em toda a semana [os homens] se ocupam em fazer roças (E) as populações indígenas brasileiras são de origem
para seus mantimentos (que antes não faziam senão as histórica diversa e, da perspectiva linguística, étnica
mulheres)". e cultural, se constituíram como sociedades
("Cartas dos primeiros jesuítas do Brasil (1538-1553)". Editadas por Serafim distintas.
Leite. São Paulo: Comissão do IV Centenário, 1954, v. I, p. 179).
18. (Enem) As convicções religiosas dos escravos eram, No decorrer da colonização portuguesa na América, as
entretanto, colocadas a duras provas quando de sua tentativas de resolução do problema apontado pelo padre
chegada ao Novo Mundo, onde eram batizados Antônio Vieira resultaram na
obrigatoriamente “para a salvação de sua alma” e (A) ampliação da violência nas guerras intertribais.
deviam curvar-se às doutrinas religiosas de seus (B) desistência da evangelização dos povos nativos.
mestres. lemanjá, mãe de numerosos outros orixás, foi
(C) indiferença dos jesuítas em relação à diversidade tudo isto se compõe a vossa imitação, que, se for
de línguas americanas. acompanhada de paciência, também terá merecimento
(D) sistematização das línguas nativas numa estrutura de martírio.
gramatical facilitadora da catequese. VIEIRA, A. Sermões. Tomo XI. Porto: Lello & Irmão, 1951 (adaptado).
(E) pressão da Metrópole pelo abandono da catequese O trecho do sermão do Padre Antônio Vieira estabelece uma
nas regiões de difícil acesso. relação entre a Paixão de Cristo e
(A) a atividade dos comerciantes de açúcar nos portos
21. (Enem PPL) Devem ser bons serviçais e habilidosos, brasileiros.
pois noto que repetem logo o que a gente diz e creio que (B) o trabalho dos escravos na produção de açúcar.
depressa se fariam cristãos; me pareceu que não tinham (C) a função dos mestres de açúcar durante a safra de
nenhuma religião. Eu, comprazendo a Nosso Senhor, cana.
levarei daqui, por ocasião de minha partida, seis deles (D) o sofrimento dos jesuítas na conversão dos
para Vossas Majestades, para que aprendam a falar. ameríndios.
COLOMBO, C. Diários da descoberta da América: as quatro viagens e o
testamento. Porto Alegre: L&PM, 1984. (E) o papel dos senhores na administração dos
O documento destaca um aspecto cultural relevante em engenhos.
torno da conquista da América, que se encontra expresso 24. (ENEM DIGITAL 2020) Associados a atividades
em: importantes e variadas na evolução das sociedades
(A) Deslumbramento do homem branco diante do americanas modernas, os africanos conseguiram impor
comportamento exótico das tribos autóctones. sua marca nas línguas, culturas, economias, além de
(B) Violência militarizada do europeu diante da participar, quase invariavelmente, na composição étnica
necessidade de imposição de regras aos das comunidades do Novo Mundo. A sua influência
ameríndios. alcançou mais fortemente as regiões do latifúndio
(C) Cruzada civilizacional frente à tarefa de educar os agrícola, em comunidades cujo desenvolvimento ocorreu
povos nativos pelos parâmetros ocidentais. às margens do Atlântico e do mar das Antilhas, do
(D) Comportamento caridoso dos governos europeus sudeste dos Estados Unidos até a porção nordeste do
diante da receptividade das comunidades Brasil, e ao longo das costas do Pacífico, na Colômbia,
indígenas. no Equador e no Peru.
(E) Compromisso dos agentes religiosos diante da KNIGHT, F. W. A diáspora africana. In: AJAYI, J. F. A. (Org.). História geral da
necessidade de respeitar a diversidade social dos África: África do século XIX à década de 1880. Brasília: Unesco, 2010
índios. (adaptado).
Cada brasileiro consume, em média, 150 gramas de açúcar por dia, segundo pesquisa
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Esse número é três vezes maior
do que o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). É também bem maior que
a média diária de consumo mundial: 57 gramas. Boa parte do açúcar consumido pelos
brasileiros, segundo essa pesquisa, está embutida nos produtos industrializados. Os resultados
do excesso de consumo de açúcar se percebem no aumento de peso da população e na
explosão de doenças como o diabetes tipo 2.
O aumento da produção mundial de açúcar e a disseminação de seu consumo estão
diretamente ligados à história do Brasil. No século XVI, o açúcar era um produto de luxo. O
governo português incentivou o plantio da cana-de-açúcar e a instalação de engenhos em sua
colônia na América, o que transformou a região na maior produtora e exportadora de açúcar do
mundo. Neste capítulo vamos conhecer alguns aspectos desse processo histórico.
1. ARTIGO DE LUXO
Depois das grandes descobertas do século XV, em especial da rota marítima para as
Índias, Portugal se tornou o principal fornecedor de especiarias orientais para o consumo
europeu, transformando-se no centro de um poderoso império marítimo. No século XVI, o
frequente assédio dos muçulmanos da Índia às cidades e fortalezas portuguesas ameaçou a
supremacia portuguesa no Oriente, além de onerar os gastos da Coroa na defesa de suas
conquistas no Índico. Os portugueses então desviaram sua atenção para o Atlântico, em
particular para o Brasil.
A SOLUÇÃO AÇUCAREIRA
A produção de açúcar foi a base da economia colonial por volta de meados do século
XVI, sobretudo nos engenhos de Pernambuco e da Bahia. Mas a primeira experiência ocorreu
em São Vicente: em 1530, Martim Afonso de Souza recebeu ordens para organizar uma
expedição e colonizar as novas terras. Chegou ao Brasil em 1532, trazendo mudas de cana e
vários homens experientes na fabricação do açúcar vindos da ilha da Madeira.
A economia açucareira era um negócio dispendioso, que abrangia a lavoura de cana e
a fabricação do açúcar nos engenhos, ambas feitas com mão de obra escrava. Muitos
historiadores denominam esse tipo de economia tropical de plantation, conceito inglês usado
nas lavouras do Caribe a partir do século XVII.
As principais áreas açucareiras do Brasil foram as capitanias localizadas no atual
Nordeste, sobretudo as de Pernambuco, Rio Grande (do Norte), Itamaracá, Bahia e,
posteriormente, Paraíba. Desde o século XVI o açúcar se tornou o produto de maior valor na
exportação do Brasil.
O centro da economia açucareira que se constituiu na América portuguesa era o
engenho. Em 1711, o jesuíta Antonil se referiu aos senhores de engenho da seguinte maneira:
“O ser senhor de engenho é título a que muitos aspiram, porque traz consigo o ser
servido, obedecido e respeitado de muitos”.
VOCÊ SABIA?
Padre Antônio Vieira foi o principal jesuíta luso-brasileiro do século XVII. Em cartas,
livros e sermões tratou de todos os assuntos relativos a Portugal e ao Brasil na época, desde a
escravidão até a restauração da soberania portuguesa contra o domínio espanhol.
Leia a seguir a descrição do jesuíta para o trabalho nos engenhos de cana em um
sermão pregado na Bahia em 1633:
E que coisa há na confusão deste mundo mais semelhante ao inferno, que qualquer
destes vossos Engenhos, e tanto mais, quanto de maior fábrica? Por isso foi tão bem recebida
aquela breve e discreta definição de quem chamou a um engenho de açúcar doce inferno. E
verdadeiramente quem vir na escuridade da noite aquelas fornalhas tremendas perpetuamente
ardentes; as labaredas que estão saindo a borbotões de cada uma pelas duas bocas, ou
ventas, por onde respiram o incêndio; os etíopes, ou ciclopes banhados em suor, tão negros
como robustos, que subministram a grossa e dura matéria ao fogo [...]; o ruído das rodas, das
cadeias, da gente toda da cor da mesma noite, trabalhando vivamente, e gemendo tudo ao
mesmo tempo sem momento de tréguas, nem de descanso; quem vir enfim toda a máquina e
aparato confuso e estrondoso daquela Babilônia, não poderá duvidar, ainda que tenha visto
Etnas e Vesúvios, que é uma semelhança dos infernos.
VIEIRA, Antônio. Sermão do décimo quarto do Rosário. In: PÉCORA, Alcir (Org.). Sermões do Padre Antônio Vieira. São
Paulo: Hedra, 2001. p. 655-656.
O TRÁFICO AFRICANO
Uma economia voltada para a produção de açúcar em larga escala para o mercado
externo não poderia se basear no trabalho livre de colonos. Portugal não tinha mão de obra
excedente para tanto e o campesinato do reino não se disporia, em todo caso, a trabalhar em
lavouras tropicais de sol a sol. A saída encontrada pelos colonizadores foi a escravidão,
primeiro dos indígenas, ao longo do século XVI, logo sucedida pela dos africanos, que também
foram utilizados na produção açucareira do arquipélago da Madeira. Muitas sociedades
africanas recorriam à escravidão ou escravizavam prisioneiros de guerra para vender na própria
África.
Muitos chefes e reis africanos já tinham larga experiência nesse tipo de comércio.
Assim, muitos reinos passaram a negociar diretamente com os portugueses e, mais tarde, com
outros comerciantes europeus. Os europeus negociavam acordos com membros importantes
das sociedades africanas. Na compra de escravos pelos portugueses, as mercadorias
envolvidas eram, em geral, cavalos, panos indianos ou europeus, objetos de cobre e de vidro,
espelhos, miçangas, conchas e cauris (espécie de búzios, utilizados como moeda em várias
partes da África).
No início do século XV, não raro trocava-se um cavalo por mais de dez escravos,
dependendo da idade e da saúde deles. No decorrer do século XVII, foram incluídos nesse
comércio armas de fogo, pólvora, tabaco e cachaça, então chamada no Brasil de geribita.
SISTEMAS DE ESCRAVIZAÇÃO
Em 1578, o rei de Portugal, dom Sebastião, morreu sem deixar herdeiros. O trono
português foi entregue a seu tio dom Henrique, cardeal de Lisboa, que morreu em 1580,
também sem um sucessor estabelecido. Depois de acirrada disputa entre vários pretendentes, a
Coroa portuguesa acabou nas mãos do rei espanhol Filipe II (1527-1598). Os reinos de
Espanha e Portugal foram unificados, em 1580, na chamada União Ibérica, que vigoraria até
1640.
Com a União Ibérica, adversários da Espanha tornaram-se inimigos de Portugal. Os
holandeses, por exemplo, até então mantinham intensas relações com os portugueses,
principalmente na cadeia produtiva do açúcar. Como a relação entre espanhóis e holandeses
era conflituosa, o governo da União Ibérica fechou seus portos e os de suas colônias aos navios
holandeses em 1621. Para tentar contornar a situação, os comerciantes holandeses passaram
a estimular a ocupação do Nordeste da colônia portuguesa, onde mais se produzia açúcar na
América.
CONQUISTA HOLANDESA
A RESTAURAÇÃO PERNAMBUCANA
São Vicente (SP), Olinda (PE), Filipeia de Nossa Senhora das Neves – atual João
Pessoa (PB) –, Salvador (BA) e São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ) são algumas das cidades
brasileiras fundadas pelos primeiros colonizadores. Há também cidades erguidas por jesuítas e
outros religiosos, como a vila de São Paulo de Piratininga (SP). Outras decorreram da ação dos
bandeirantes, em sua busca por riquezas e indígenas para escravizar – caso de Desterro, atual
Florianópolis (SC), Mariana (MG), Cuiabá (MT), Itu (SP), etc.
No nordeste, Campina Grande (PB), Crato (CE) e Oeiras (PI) nasceram das atividades
de criação de gado que avançaram Sertão adentro a partir do século XVII. Como veremos neste
capítulo, ao ultrapassar a linha de Tordesilhas, as bandeiras ajudaram a expandir os domínios
portugueses na América e contribuíram para a consolidação da atual extensão territorial do
Brasil.
1. EXPANSÃO NO NORTE E NORDESTE DA COLÔNIA
Até o final do século XVI, o território da colônia portuguesa na América era o mesmo
que o Tratado de Tordesilhas definira em 1494. Além disso, até o começo do século XVII, o
interior permaneceu praticamente inexplorado pelos portugueses. A Coroa portuguesa chegou a
empreender incursões, conhecidas como entradas, mas quase todas foram dizimadas por
doenças ou por ataques indígenas.
Ainda no início do século XVII, o governo da União Ibérica iniciou a colonização da
região norte do atual território brasileiro para conter o assédio de outros povos europeus. Em
1616, por exemplo, uma expedição construiu um forte na baía de Guajará, no rio Pará, em torno
do qual nasceu a atual cidade de Belém.
INTERIOR NORDESTINO
A ocupação, pelos colonizadores, das regiões mais distantes do litoral só teve início
com a introdução do gado no nordeste e o cultivo em larga escala do tabaco.
Tanto em São Vicente como na Bahia a força do gado era utilizada no transporte de
cana-de-açúcar, nas moendas dos engenhos e na aragem da terra. Com o tempo, carne e leite
bovinos tornaram-se importantes fontes de alimentação dos colonos. O surgimento de novos
engenhos no litoral, principalmente no nordeste, levou à expansão da pecuária. Criados soltos,
os rebanhos se reproduziam sem controle, derrubando cercas e destruindo plantações. Assim,
em 1701, o Governo-Geral determinou que o gado bovino fosse criado a uma distância mínima
de 10 léguas (cerca de 66 quilômetros) do litoral.
Esse foi um fator decisivo para a colonização do interior do território. A partir do
Recôncavo Baiano, estabeleceram-se currais ao longo do rio São Francisco e de seus afluentes
e, mais tarde, do rio Parnaíba. Em 1594, havia cerca de 47 currais nas margens do São
Francisco; em 1640, já eram mais de 2 mil.
De Pernambuco, o gado seguiu em direção à Paraíba, ao Rio Grande do Norte e ao
Ceará. Para quebrar a resistência dos povos indígenas à tomada de terras pelos colonos, o
Governo-Geral e os grandes fazendeiros contratavam sertanistas da capitania de São Vicente.
No curso dessas lutas, milhares de indígenas morreram ou foram escravizados.
FAZENDAS DE GADO
CULTIVO DO TABACO
O cultivo de fumo (ou tabaco) foi, até o final do século XVIII, a terceira mais importante
atividade econômica da colônia. O plantio dessa espécie originária da América era considerado
simples, e os gastos com seu beneficiamento eram baixos.
Nos primeiros tempos da colonização, o tabaco era plantado em meio às hortas.
Naquela época o produto tinha ampla aceitação no mercado externo. Na África, o fumo era
utilizado como moeda no comércio de escravizados. Conforme aumentou o interesse
estrangeiro pelo produto, grandes proprietários escravistas passaram a cultivá-lo em regiões
como o Recôncavo Baiano e o litoral das capitanias de Pernambuco e Maranhão.
SERTANISMO DE CONTRATO
ORGANIZANDO A EXPLORAÇÃO
O governo tomou diversas e duras medidas para controlar a região aurífera. Criou em
1702 a Intendência das Minas, órgão que tinha entre suas funções zelar pela cobrança do
quinto real, reprimir o contrabando e repartir os lotes de terras minerais – denominados datas.
Quando da descoberta de algum veio aurífero, o descobridor deveria comunicar o fato
às autoridades. Em tese, todas as jazidas eram propriedade do rei, que poderia conceder a
particulares o direito de explorá-las. O intendente, então, repartia as datas, sorteando-as aos
solicitantes. O descobridor escolheria as duas datas que mais lhe interessassem, livrando-se do
sorteio. O Guarda-Mor da Intendência escolhia, em nome da Fazenda Real, a data do rei, que
era leiloada e arrematada por particulares, os contratadores, em troca de um pagamento.
Só podiam solicitar datas os proprietários de escravos. Cada escravo representava, em
medidas da época, o equivalente a 5,5 metros de terreno, e um proprietário poderia ter no
máximo 66 metros em quadra, denominada data inteira.
Para explorar as jazidas das datas, organizavam-se as lavras, forma de exploração em
grande escala com aparelhamento para a lavagem do ouro. O ouro encontrado fora das datas,
em locais franqueados a todos, era minerado pelos faiscadores, homens que utilizavam
somente alguns instrumentos de fabricação simples, como a bateia e o cotumbê, trabalhando
por conta própria.
Foram criadas ainda as Casas de Fundição, vinculadas às Intendências. Elas deviam
recolher, fundir e retirar o quinto da Coroa, transformando-o em barra, única forma autorizada
para a circulação do metal fora da capitania.
Desde o início, a mineração exigiu maior centralização administrativa, o que
diferenciava as Minas de outras regiões exportadoras da Colônia. As Intendências, por
exemplo, eram subordinadas diretamente à metrópole, e não às autoridades coloniais.
A descoberta de diamantes, em 1729, no que então passou a chamar-se Distrito
Diamantino, com sede no Arraial do Tejuco, provocou medida ainda mais drástica: o ir e vir de
pessoas ficou condicionado à autorização do intendente.
VOÇÊ SABIA?
EM DIAMANTINA: CHICA DA SILVA
Francisca era filha da negra Maria da Costa e do português Antônio Caetano de Sá.
Escrava de Manuel Pires Sardinha, com ele teve um filho, Simão, libertado pelo pai quando
batizado.
Em 1753, foi comprada e alforriada pelo contratador de diamantes João Fernandes de
Oliveira, português. Adotou o nome de Francisca da Silva de Oliveira e viveu com o contratador
entre 1753 e 1770, em um relacionamento estável que resultou em treze filhos. João Fernandes
reconheceu – legitimou – todos os filhos, prática comum na época, mas não se casou com
Chica da Silva, nome pelo qual ficou conhecida.
Chica adotou os costumes dos grupos de elite de Minas Gerais. Aprendeu a ler e a
escrever, foi proprietária de vários escravos e de uma casa com capela.
João Fernandes teve de voltar a Portugal em 1770, mas manteve contato e deu apoio
a todos os filhos, concedendo dotes às filhas que casaram com pessoas da elite.
Chica morreu em 1796, recebendo cortejo fúnebre como pessoa de importância. Chica
da Silva teve uma história de vida parecida com as de algumas ex-escravas do período colonial
do Brasil. Após se libertar do cativeiro, conseguiu ascender socialmente e usufruir o prestígio
reservado aos membros mais proeminentes da sociedade de Minas Gerais, mesmo não sendo
casada pelos laços sagrados do matrimônio católico.
Esse esboço de sua vida contrasta com a imagem divulgada no Brasil até pouco tempo
atrás: a de uma mulher sensual e lasciva.
AS COMPANHIAS DE COMÉRCIO
O estilo barroco da Europa havia sido reproduzido por diversos artistas, que recebiam
os ensinamentos de mestres em oficinas de talha e escultura espalhadas pelas cidades da
colônia. As obras dos artistas de Minas Gerais também sofreram influência desse estilo, mas
foram elaboradas com materiais existentes no Brasil, como a pedra-sabão.
A principal expressão artística do Brasil no século XVIII foi a obra de Antônio
Francisco Lisboa, o Aleijadinho.
Os dados de sua vida não são bem conhecidos. Consta que nasceu em Vila Rica, filho
de um arquiteto português e de sua escrava, nascida na África. Era, portanto, um mestiço. Teria
nascido em 1730 e falecido em 1814.
Aleijadinho foi vítima de uma doença que lhe consumia os dedos dos pés e das mãos.
Foi escultor, entalhador e arquiteto. Projetou a igreja de São Francisco de Assis, de Vila Rica
(atual Ouro Preto). Sua obra mais conhecida é o conjunto de estátuas dos doze profetas de
Congonhas do Campo, em Minas Gerais, todas em pedra-sabão.
Valentim da Fonseca e Silva, o Mestre Valentim, outro artista de porte e da mesma
época, também natural de Minas Gerais e mestiço, foi o idealizador e criador do Passeio
Público do Rio de Janeiro, de diversos chafarizes em ferro fundido e de imagens sacras. Assim
como Aleijadinho e muitos outros, suas origens não são conhecidas. Presume-se que tenha
nascido em Serro do Frio, em Minas Gerais, em torno de 1745, e falecido no Rio de Janeiro, em
1813.
Pintura realizada no teto da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto. Esta
igreja é obra de Aleijadinho e a pintura é de Ataíde, em que a questão étnica é evidente,
pois tanto Nossa Senhora como os anjos são representados como se fossem mulatos.
Exemplo da arquitetura civil nas Minas do século XVIII é a Casa da Câmara e Cadeia,
hoje Museu da Inconfidência, localizada em Ouro Preto.
A produção colonial brasileira nos dois primeiros séculos era
caracterizada
(A) pelo projeto de instalação de várias manufaturas
1. Se o açúcar do Brasil o tem dado a conhecer a todos os voltadas para o refino do açúcar.
reinos e províncias da Europa, o tabaco o tem feito (B) pelo estabelecimento de um regime fundamentado
muito afamado em todas as quatro partes do mundo, à diversificação de produtos agrícolas.
nas quais hoje tanto se deseja e com tantas diligências e (C) pela adoção de uma política colonial baseada na
por qualquer via se procura. Há pouco mais de cem monocultura e no trabalho escravo.
anos que esta folha se começou a plantar e beneficiar (D) por adotar práticas do liberalismo econômico em
na Bahia [...] e, desta sorte, uma folha antes desprezada relação aos comércios interno e externo.
e quase desconhecida tem dado e dá atualmente (E) por uma orientação colonial baseada na pequena
grandes cabedais aos moradores do Brasil e incríveis propriedade rural para o abastecimento interno.
emolumentos aos Erários dos príncipes.
ANTONIL André João. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. 4. A família patriarcal fornece, assim, o grande modelo por
São Paulo: EDUSP, 2007. Adaptado. onde se hão de calcar, na vida política, as relações entre
governantes e governados, entre monarcas e súditos.
O texto acima, escrito por um padre italiano em 1711, revela HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo:
que Companhia das Letras, 1995. p. 85.
(A) o ciclo econômico do tabaco, que foi anterior ao do O fragmento do texto sugere que,
ouro, sucedeu o da cana-de-açúcar. (A) na formação da sociedade brasileira, as relações de
(B) todo o rendimento do tabaco, a exemplo do que parentesco e amizade foram abandonadas no
ocorria com outros produtos, era direcionado à equilíbrio social.
metrópole. (B) na implantação do Estado-nação, evidencia-se o
(C) não se pode exagerar quanto à lucratividade distanciamento dos padrões ligados a
propiciada pela cana-de-açúcar, já que a do tabaco, comportamento e costumes.
desde seu início, era maior. (C) na composição das relações de poder, constata-se
(D) os europeus, naquele ano, já conheciam a presença de padrões de tradição e de liderança
plenamente o potencial econômico de suas colônias familiar.
americanas. (D) na definição da organização estatal, as estruturas
(E) a economia colonial foi marcada pela sociais foram reguladas pelo exercício da justiça.
simultaneidade de produtos, cuja lucratividade se (E) na construção do Estado nacional, as relações de
relacionava com sua inser-ção em mercados poder foram isentas da influência das células
internacionais. familiares.
2. Quando Portugal dividiu o Brasil em capitanias, entre os 5. O açúcar e suas técnicas de produção foram levados à
direitos dos donatários estava o de escravizar os nativos Europa pelos árabes no século VIII, durante a Idade
e exportá-los para a Europa. Esse direito vacilou ao Média, mas foi principalmente a partir das Cruzadas
longo das décadas seguintes, com Estado e Igreja (séculos XI e XIII) que a sua procura foi aumentando.
oscilando entre o desejo de protegê-los e a pressão Nessa época passou a ser importado do Oriente Médio
populacional pela necessidade de mão de obra. A e produzido em pequena escala no sul da Itália, mas
cultura da cana-de-açúcar não teria sido possível de continuou a ser um produto de luxo, extremamente caro,
outra forma. Aos portugueses não havia caminho de chegando a figurar nos dotes de princesas casadoiras.
sustento que não a lavoura de açúcar, imensamente CAMPOS, R. Grandeza do Brasil no tempo de Antonil (1681-1716). São Paulo:
Atual, 1996.
lucrativa, mas muito trabalhosa.
DORIA, Pedro. 1565: Enquanto o Brasil nascia: a aventura de portugueses,
franceses, índios e negros na fundação do país. Considerando o conceito do Antigo Sistema Colonial, o
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. açúcar foi o produto escolhido por Portugal para dar início à
colonização brasileira, em virtude de
Segundo o texto anterior, a cultura da cana-de-açúcar no (A) o lucro obtido com o seu comércio ser muito
Brasil vantajoso.
(A) sofreu perdas com a falta de investimentos da (B) os árabes serem aliados históricos dos
Coroa. portugueses.
(B) foi favorecida pelo processo de escravização (C) a mão de obra necessária para o cultivo ser
indígena. (D) as feitorias africanas facilitarem a comercialização
(C) concorreu com a exportação de indígenas para a desse produto.
Europa. (E) os nativos da América dominarem uma técnica de
(D) teve início antes das capitanias hereditárias serem cultivo semelhante.
instaladas.
(E) permaneceu limitada aos domínios territoriais 6. Na verdade, o que Portugal queria para sua colônia
interioranos. americana era que fosse uma simples produtora e
fornecedora dos gêneros úteis ao comércio
3. As primeiras mudas de cana-de-açúcar foram plantadas metropolitano e que se pudessem vender com grandes
em 1553 na capitania de São Vicente. Foram trazidas lucros nos mercados europeus. Este será o objetivo da
pelos colonos que chegaram com Martim Afonso de política portuguesa até o fim da Era Colonial. E tal
Souza. Em pouco tempo, o açúcar passou a ser a mais objetivo ela o alcançaria plenamente, embora
importante atividade comercial da colônia, superando a mantivesse o Brasil, para isto, sob um rigoroso regime
extração de pau-brasil. de restrições econômicas e opressão administrativa; e
MARTINS, Ulisses. Economia açucareira e mineradora. Educação. Seção abafasse a maior parte das possibilidades do país.
História. Disponível em: <http://educacao.globo.com>. Acesso em: 5 nov.
PRADO, Júnior, C. História do Brasil.
2015.
7. Se eu pudesse alguma coisa para com Deus, lhe rogaria 9. Os escravos são as mãos e os pés do senhor de
muita geada nas terras de serra acima, porque a cultura engenho, porque sem eles no Brasil não é possível
da cana nessas terras, onde se faz o açúcar, tem fazer, conservar e aumentar a fazenda, nem ter engenho
abandonado ou diminuído a cultura do milho e do feijão corrente. E do modo como se há com eles, depende tê-
e a criação dos porcos; estes gêneros têm encarecido, los bons ou maus para o serviço. Por isso, é necessário
assim como o trigo, o algodão e o azeite de mamona; comprar cada ano algumas peças e reparti-las pelos
tem introduzido muita escravatura, o que empobrece os partidos, roças, serrarias e barcas. E porque comumente
lavradores, corrompe os costumes e leva ao desprezo são de nações diversas, e uns mais boçais que outros e
pelo trabalho de enxada; tem devastado as matas e de forças muito diferentes, se há de fazer a repartição
reduzido a taperas muitas herdades; tem roubado com reparo e escolha, e não às cegas. No Brasil,
muitos braços à agricultura, que se empregam no costumam dizer que para o escravo são necessários
carreto dos africanos; tem exigido grande número de PPP, a saber, pau, pão e pano. E, posto que comecem
mulas que não procriam e consomem muito milho. mal, principiando pelo castigo que é o pau, contudo,
(Adaptado de José Bonifácio de Andrada e Silva, Projetos para o Brasil. São prouvera a Deus que tão abundante fosse o comer e o
Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 181-182.)
vestir como muitas vezes é o castigo, dado por qualquer
causa pouco provada, ou levantada; e com instrumentos
De acordo com o texto acima, podemos concluir que, para
de muito rigor, ainda quando os crimes são certos, de
José Bonifácio, o cultivo da cana-de-açúcar:
que se não usa nem com os brutos animais.
(A) estimulava o desenvolvimento da economia, pois (Adaptado de: ANTONIL, A. J. Cultura e opulência do Brasil por suas
exigia maior emprego de escravos na agricultura, drogas e minas. 3.ed. Belo Horizonte: Itatiaia/Edusp, 1982. p.89. Coleção
intensificando o comércio de africanos. Reconquista do Brasil. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/
download/texto/bv000026.pdf>. Acesso em: 1 ago. 2012.)
(B) favorecia o desenvolvimento social, pois o
encarecimento de gêneros como milho, feijão,
No fragmento sobre a escravidão no Brasil, o autor
porcos e trigo levava ao enriquecimento de
(A) minimiza a importância do trabalho escravo na
pequenos proprietários rurais.
economia.
(C) prejudicava a economia do país, pois desestimulava
(B) ressalta a inferioridade religiosa dos negros.
o cultivo de outros produtos agrícolas, encarecendo
(C) assegura que as punições evitavam a
os gêneros alimentícios.
desobediência dos escravos.
(D) prejudicava o meio ambiente, pois devastava as
(D) enfatiza as boas condições de alimentação dos
matas e reduzia o cultivo de milho, o que dificultava
cativos.
a procriação das mulas.
(E) sugere que os senhores muitas vezes exageram
(E) prejudicava o crescimento da ciência agrícola, pois
nos castigos físicos.
desacreditava as técnicas mercantilistas que
orientavam o mundo do açúcar, o que garantia
10. "[...] assistimos no final do século XVII, após a
padrões cumulativos.
descoberta das minas, não a uma nova configuração da
vila nem à ruptura brusca com o padrão anterior, ao
8. O Brasil colonial foi organizado como uma empresa
contrário, à consolidação de todo um processo de
comercial resultante de uma aliança entre a burguesia
expansão econômica, de mercantilização e de
mercantil, a Coroa e a nobreza. Essa aliança refletiu-se
concentração de poder nas mãos de uma elite local. A
numa política de terras que incorporou concepções
articulação com o núcleo mineratório dinamizará este
rurais tanto feudais como mercantis.
COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República, 1987. quadro, mas não será, de forma alguma, responsável
por sua existência."
BLAJ, Ilana. A trama das tensões. São Paulo: Humanitas, 2002, p.125.
A constatação de que \"Essa aliança refletiu-se numa política
de terras que incorporou concepções rurais tanto feudais
As transformações citadas no texto se relacionam ao
como mercantis\" justifica-se, pois a política de terras
processo de consolidação da economia mineradora no
desenvolvida por Portugal durante a colonização brasileira
Brasil, dentre as quais se destaca
(A) o reforço do caráter litorâneo da colonização (C) A luta dos emboabas ilustra o processo de
portuguesa em função do apogeu da cana de conquista de fronteiras do império português nas
açúcar e da busca de pau-brasil. Américas, enquanto na África os portugueses se
(B) o enfraquecimento do trabalho escravo na Região retiravam definitivamente, no século XVIII.
Sudeste em função da rápida mobilidade social na (D) A monarquia portuguesa administrava territórios
região. distintos e vários sujeitos sociais, muitos deles em
(C) a intensificação do comércio e da vida urbana, e a disputa entre si, como paulistas e emboabas,
articulação de um mercado interno tendo como foco ambos súditos da Coroa.
o Centro-Sul. (E) A monarquia portuguesa pouco interferiu nas
(D) a queda do perfil demográfico da região da relações entre paulistas e forasteiros mantendo-se
mineração em função das severas leis impostas em um padrão imparcial de administração.
pelo Estado português.
(E) a manutenção da Zona da Mata Nordestina como 13. A invasão holandesa fez parte do projeto de ocupação e
centro dinâmico da economia devido às suas administração do Nordeste brasileiro por meio da
relações políticas com a região das minas. Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. Após a
União Ibérica, a Holanda resolveu enviar suas
11. expedições militares para a conquista da Região
Nordeste. O objetivo dessa nação era restabelecer o
comércio do açúcar com o Brasil, proibido pela Espanha.
Em 1637, a Holanda enviou o conde Maurício de
Nassau para administrar as terras conquistadas e
estabelecer uma colônia no Brasil. Até 1654, os
holandeses dominaram grande parte do território
nordestino.
Sobre a administração de Nassau no Nordeste do Brasil,
é correto afirmar que
(A) estabeleceu relação violenta entre holandeses e
senhores de engenho brasileiros, destruindo-os e
trazendo novos colonos para a região.
(B) incentivou empréstimos à mineração e
desestruturou os engenhos de açúcar do Nordeste,
mudando o eixo econômico para o Sudeste.
(C) introduziu inovações com relação à fabricação de
açúcar, destruindo a lavoura canavieira e passando
PRADO JUNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, a produzir açúcar de beterraba.
2006. (D) favoreceu um clima de intolerância e falta de
liberdade religiosa, impondo a todos o islamismo,
A análise do mapa permite concluir que, durante a religião predominante na Holanda até os dias
mineração, atuais.
(A) foram construídas ferrovias para interligar as (E) modernizou a cidade de Recife, construindo diques,
regiões produtoras. canais, pontes e jardins, organizou os sistemas de
(B) desenvolveu-se um mercado interno para abastecer coleta de lixo e determinou a construção de um
a região mineradora. jardim botânico.
(C) foi estabelecido o sistema de porto único,
semelhante ao das colônias espanholas. 14. \"... todos os gêneros produzidos junto ao mar podiam
(D) incentivou-se a entrada de imigrantes platinos para conduzir-se para a Europa facilmente e os do sertão,
servir de mão de obra nas minas. pelo contrário, nunca chegariam a portos onde os
(E) foi estabelecida uma malha rodoviária ligando as embarcassem, ou, se chegassem, seria com despesas
regiões produtoras à capital da colônia. tais que aos lavradores não faria conta largá-los pelo
preço por que se vendessem os da Marinha. Estes
foram os motivos de antepor a povoação da costa à do
12. Emboaba: nome indígena que significa \"o estrangeiro\", sertão.\"
atribuído aos forasteiros pelos paulistas, primeiros (Frei Gaspar da Madre de Deus, em 1797.)
povoadores da região das minas. Com a descoberta do A leitura do fragmento nos permite inferir que no período
ouro em fi ns do século XVII, milhares de pessoas da colonial brasileiro:
colônia e da metrópole vieram para as minas, causando (A) a existência de um mercado interno era impedida
grandes tumultos. Formaram-se duas facções, paulistas pelas dificuldades geográficas.
e emboabas, que disputavam o governo do território, (B) a colonização possuiu por muito tempo um caráter
tentando impor suas próprias leis. litorâneo.
(Adaptado de Maria Beatriz Nizza da Silva (coord.), Dicionário da História da (C) a especulação sobre o preço dos alimentos era uma
Colonização Portuguesa prática comum.
no Brasil. Lisboa: Verbo, 1994, p. 285.)
(D) o sertão era economicamente mais importante do
que o litoral.
Sobre o período em questão, é correto afirmar que:
(E) o Brasil era um importante mercado consumidor da
(A) As disputas pelo território emboaba colocaram em
Europa.
confronto paulistas e mineiros, que lutaram pela
posse e exploração das minas.
(B) A região das minas foi politicamente convulsionada
desde sua formação, em fi ns do século XVII, o que
explica a resistência local aos inconfidentes
mineiros.
15. Os tropeiros foram figuras decisivas na formação de (D) tiveram papel decisivo no êxito da catequese
vilarejos e cidades do Brasil colonial. A palavra tropeiro indígena.
vem de "tropa" que, no passado, se referia ao conjunto (E) propiciaram o desenvolvimento da urbanização da
de homens que transportava gado e mercadoria. Por Região Amazônica.
volta do século XVIII, muita coisa era levada de um lugar
a outro no lombo de mulas. O tropeirismo acabou 17.
associado à atividade mineradora, cujo auge foi a
exploração de ouro em Minas Gerais e, mais tarde, em
Goiás. A extração de pedras preciosas também atraiu
grandes contingentes populacionais para as novas áreas
e, por isso, era cada vez mais necessário dispor de
alimentos e produtos básicos. A alimentação dos
tropeiros era constituída por toucinho, feijão preto,
farinha, pimenta-do-reino, café, fubá e coité (um molho
de vinagre com fruto cáustico espremido). Nos pousos,
os tropeiros comiam feijão quase sem molho com
pedaços de carne de sol e toucinho, que era servido
com farofa e couve picada. O feijão tropeiro é um dos
pratos típicos da cozinha mineira e recebe esse nome
porque era preparado pelos cozinheiros das tropas que
conduziam o gado.
Disponível em:http://www.tribunadoplanalto.com.br. Acesso em: 27 nov. 2008.
16. Bandeiras e expedições de apresamento (1500-1720) Considerando-se o processo de formação territorial do Brasil,
é correto afirmar que
(A) a formalização de tratados entre os países
europeus e a forte vigilância das fronteiras
funcionou para evitar a violação dos mesmos por
parte dos colonos.
(B) o tratado mencionado no texto ratificou as decisões
do Tratado de Tordesilhas, assinado em 1594,
evitando, assim, possíveis conflitos entre os países
ibéricos.
(C) os colonos espanhóis frequentemente entravam em
possessões portuguesas, gerando conflitos e a
realização de novos tratados territoriais.
(D) a imediata implementação do Tratado de Madrid foi
fundamental para a definitiva configuração territorial
que o Brasil possui até os dias atuais.
(E) a questão dos limites e povoamento dos territórios
coloniais ibéricos acabou sendo orientada mais pela
ação dos colonos do que pelos tratados territoriais
estipulados.
O fim do domínio holandês sobre o Nordeste do atual território brasileiro não significou
o fim dos problemas dos senhores de engenho ali estabelecidos. Após desocuparem a região,
os holandeses levaram para sua colônia no Caribe os conhecimentos de todas as etapas da
produção do açúcar, adquiridos nos 24 anos em que permaneceram nas terras da colônia
portuguesa.
O açúcar produzido no Caribe tornou-se forte concorrente do produto nordestino,
levando a uma crise econômica na colônia portuguesa na América. Com isso, a insatisfação dos
colonos cresceu e, nas décadas seguintes, vários conflitos decorreram dessa situação.
Durante os séculos XVI e XVII, Olinda foi a sede da capitania de Pernambuco e uma
das vilas mais ricas da colônia portuguesa. Mas, entre 1630 e 1654, durante o domínio
holandês na região, o povoado de Recife deixou de girar em torno da pesca e ganhou porto,
palácios, pontes, residências.
Após a expulsão dos holandeses, Recife logo se transformou no mais importante
centro comercial de Pernambuco. Os comerciantes portugueses dali se transformaram na
principal liderança econômica da capitania. Com isso, ocuparam o lugar até então pertencente
aos senhores de engenho de Olinda, que se julgavam a “nobreza da terra” e chamavam os
comerciantes da cidade vizinha pejorativamente de mascates, pois consideravam o comércio
uma atividade desprezível.
Apesar disso, os donos de terras recorriam a empréstimos dos mascates quando se
viam em apuros financeiros. Essa prática se tornou mais constante depois de 1700, por causa
de sucessivas quedas no preço do açúcar no mercado internacional.
Valendo-se de seu poderio econômico, os mascates conseguiram que, em 1709, o rei
dom João V elevasse o povoado de Recife à categoria de vila, com o direito de instalar uma
Câmara Municipal e criar mecanismos legais para cobrar as dívidas em atraso.
Em 1710, os recifenses ergueram na praça central um pelourinho − principal símbolo
da autonomia administrativa de uma vila − e elegeram seus primeiros representantes na
Câmara Municipal. No mesmo ano, uma tropa de mil homens a serviço dos senhores de
engenho de Olinda invadiu Recife e destruiu o pelourinho. Em seguida, o governador da
capitania foi deposto.
Os confrontos só terminaram em 1711, com a chegada de um novo governador
nomeado pela Coroa. Com um saldo de 154 mortos, a chamada Guerra dos Mascates
confirmou a elevação do Recife à condição de vila e estimulou os sentimentos nativistas entre
setores da sociedade pernambucana, dando origem à ideia de um governo independente da
metrópole.
A GUERRA DOS EMBOABAS (1707 - 1709)
Emboabas era o nome pelo qual ficaram conhecidos os forasteiros na região das
Minas. O conflito se arrastou por cerca de dois anos, com inúmeras cenas de violência
praticadas por ambos os lados.
O líder dos paulistas era Borba Gato, enquanto o português Manuel Nunes Viana, que
vivera na Bahia e mudara-se para a região das Minas do Rio das Velhas, liderava os emboabas.
As autoridades da região eram paulistas. Os emboabas acusavam-nas de
arbitrariedades de toda ordem. Já os paulistas estavam descontentes com o monopólio exercido
pelos emboabas sobre o gado bovino para abastecimento da região.
As escaramuças começaram em 1707, com o linchamento de dois paulistas. No ano
seguinte, Borba Gato tentou expulsar Nunes Viana do distrito do Rio das Velhas, mas não
conseguiu seu intento. Pelo contrário, os paulistas passaram a ser desarmados pelos
emboabas, tendo de se retirar da região do Rio das Velhas e de Vila Rica. Os emboabas
aclamaram Nunes Viana governador da região. Seus auxiliares diretos eram Francisco do
Amaral Gurgel e Bento do Amaral Coutinho, conhecidos por agir com extrema violência.
O episódio mais conhecido dessa guerra — denominado Capão da Traição — ocorreu
quando Coutinho, tentando expulsar os paulistas da região do Rio das Mortes, massacrou
alguns deles. O número de mortos é calculado em 50, mas vários autores exageraram,
chegando a escrever que teriam sido 300 os paulistas mortos à traição.
Após vários confrontos, com dezenas de mortos de ambos os lados, o conflito terminou
em 1709. Para tentar impor a autoridade da Coroa, foram criadas a Capitania Real de São
Paulo e Minas do Ouro e as três primeiras vilas mineiras.
As câmaras municipais tinham um papel relevante, pois, muitas vezes, cabia a elas
providenciar a cobrança dos tributos, mas esse poder municipal passou a ser reduzido, já que a
Coroa tinha interesse na maior centralização possível do poder. Um protesto contra essa
diminuição de poder das câmaras municipais ocorreu em Pitangui, em 1719.
A determinação para que se criassem Casas de Fundição em Minas Gerais aumentou
a insatisfação e transformou-se em revolta. Cerca de 2 mil pessoas marcharam de Vila Rica
para Ribeirão do Carmo (Mariana), onde ficava o governador, Conde de Assumar. Contando
com poucos soldados, Assumar achou prudente concordar com o que os amotinados exigiam: a
diminuição dos impostos e a não instalação das Casas de Fundição. Mas não pretendia cumprir
o acordo.
Tão logo recebeu reforços, e já tendo identificado os líderes, invadiu Vila Rica, prendeu
os mais destacados e enviou-os para Portugal. Mandou queimar as fazendas de Pascoal da
Silva Guimarães e reservou a pena mais violenta a um português, de nome Filipe dos Santos.
Foi morto no garrote, depois esquartejado por cavalos e teve seus pedaços pregados em
postes, para servir de exemplo.
Como consequência desse conflito, a Coroa determinou a separação da região das
Minas da de São Paulo, passando a constituir uma capitania independente: Capitania de Minas
Gerais, cuja capital era Vila Rica.
O final do século XVIII foi marcado pela Declaração de Independência dos Estados
Unidos da América (1776), pela eclosão da Revolução Francesa (1789) e pela Revolução do
Haiti (1790). Esses acontecimentos tiveram enorme repercussão na Europa e no mundo
ultramarino. O absolutismo e o sistema colonial mercantilista foram colocados em xeque.
O Brasil não ficou de fora desse contexto revolucionário. A Inconfidência Mineira de
1789 é a rebelião mais famosa, mas houve outras que merecem atenção: a Conjuração do Rio
de Janeiro (1794) e a Conjuração dos Alfaiates, na Bahia (1798). Nenhuma dessas revoltas,
porém, chegou a se concretizar, sendo abortadas ainda no estágio inicial.
VIRADEIRA REACIONÁRIA
Com a morte de d. José I, em 1777, o trono português foi assumido por sua filha: d.
Maria I. A expectativa dos portugueses era a de que a rainha virasse pelo avesso a política de
Pombal. Por isso, sua política foi conhecida como Viradeira.
De fato, assim que assumiu a Coroa, d. Maria I libertou cerca de 800 pessoas presas
por motivos políticos e repatriou outras, exiladas pelo ministro. As companhias de comércio do
Brasil também foram abolidas, favorecendo a participação de um número cada vez maior de
comerciantes nos circuitos do Atlântico.
Muitas medidas tomadas por Pombal, entretanto, permaneceram inalteradas,
principalmente a de estimular as manufaturas em Portugal. Em 1785, a rainha proibiu as
atividades de ourives e a instalação de manufaturas no Brasil (com exceção dos tecidos
grosseiros de algodão, destinados aos mais pobres e aos escravos), na tentativa de criar na
colônia um mercado consumidor exclusivo das manufaturas portuguesas.
O reinado de d. Maria I também teve de enfrentar levantes, como uma conspiração na
colônia de Goa, na Índia, em 1787, severamente reprimida, e as conjurações no Brasil. A essas
ameaças somava-se o pavor de uma revolta de escravos, como a que ocorrera no Haiti. O
Brasil, afinal, possuía uma das maiores concentrações de escravos da América.
D. Maria I governou até 1792, quando caiu em estado de demência, abalada com a
morte do esposo, o príncipe consorte d. Pedro III, e de seu primeiro filho. O governo de Portugal
foi assumido por d. João, duque de Bragança, elevado a príncipe regente.
Desde 1750, a Coroa portuguesa estipulava a cota de 100 arrobas anuais de ouro
para enviar à metrópole, suspeitando, com razão, de que muito ouro estava sendo
contrabandeado. Em 1788, a capitania devia à Real Fazenda a impressionante quantidade de
538 arrobas de ouro. O risco da derrama produziu um duplo descontentamento: da população,
com a possibilidade de ter de arcar com despesas para as quais não tinha recursos suficientes,
e dos contratadores, apavorados com a execução de suas dívidas. Foi a motivação da
Inconfidência ou Conjuração Mineira.
A Inconfidência Mineira foi articulada por homens da elite de Minas Gerais, incluindo
intelectuais, grandes negociantes, elementos do clero e até membros da administração da
capitania. A razão imediata foi a ameaça, em 1788, do governador de Minas Gerais, Visconde
de Barbacena, de cobrar todos os impostos atrasados de uma só vez – medida conhecida como
derrama.
Em Minas Gerais havia muitos homens formados nas universidades europeias, em
particular em Coimbra. Em torno deles, surgiram grupos para discutir poesia, filosofia e os
acontecimentos do mundo.
O grupo de Vila Rica (atual cidade de Ouro Preto) era o mais destacado, com três
grandes lideranças: o secretário do governo de Minas, advogado e poeta Cláudio Manuel da
Costa; o ouvidor da capitania e também poeta Tomás Antônio Gonzaga; e o cônego Luís Vieira
da Silva, entusiasmado com a independência dos Estados Unidos.
A situação em Minas inspirava cuidados. Os mais importantes contratadores de
impostos deviam somas enormes à Real Fazenda, e os responsáveis pela fiscalização nada
haviam feito para cobrá-las. A chegada do governador, em 1788, agravou as tensões, porque
tinha instruções expressas para cobrar os impostos atrasados.
Uma conspiração foi articulada pelo grupo de Vila Rica, vários deles contratadores em
débito com a Coroa, como resposta às atitudes do novo governador. Previam a adesão da
população de Minas à revolta caso a derrama fosse executada.
Alguns conspiradores chegaram a esboçar um projeto de emancipação política,
inspirados no sucesso da independência dos Estados Unidos. A ideia era fazer a independência
de Minas e proclamar uma república, com capital em São João Del Rei – cujo lema, em latim,
era Libertas quae sera tamem (“Liberdade ainda que tardia”).
A república imaginada pelos inconfidentes se limitava basicamente a Minas Gerais ou,
quando muito, às capitanias próximas. Nela seriam criadas uma universidade, uma casa da
moeda e uma fábrica de pólvora. Nenhuma intenção foi escrita, para não figurar como prova da
conspiração; se alguém fosse apanhado, deveria negar a existência de qualquer movimento. O
projeto, entretanto, foi por água abaixo. A derrama foi suspensa em março. Desapareceu o
principal motivo para a adesão da população ao movimento. Mas, nos bastidores, houve uma
denúncia. Joaquim Silvério dos Reis, membro da conspiração e um dos maiores devedores de
Minas, denunciou a conjuração ao governador, fornecendo os nomes dos principais envolvidos.
Silvério dos Reis recebeu em troca o perdão de sua dívida.
Muitos inconfidentes foram presos e interrogados. Surpreendeu a todos a prisão de
homens prestigiados na capitania, entre eles Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da
Costa, que consta ter se suicidado na prisão, embora alguns achem que foi assassinado.
Proclamada em 1791, a sentença foi duríssima: onze réus foram condenados à forca e sete, ao
desterro (exílio) na África. Mas, no ano seguinte, a pena de morte de todos foi transformada em
desterro, exceto no caso do alferes Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes.
Tiradentes era o mais ardoroso dos inconfidentes, divulgando abertamente suas ideias.
Preso, manteve-se fiel às suas crenças até o final e foi apontado como o principal líder do
movimento, o que não era verdade. Tiradentes foi executado na forca, na cidade do Rio de
Janeiro, em 21 de abril de 1792, e depois esquartejado. Sua cabeça foi exposta num mastro
erguido na praça principal de Vila Rica, e as demais partes do corpo foram afixadas nos
caminhos para as Minas.
HERÓI?
Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes, foi um dos mais
entusiasmados participantes da Inconfidência Mineira, de 1789. Depois de sua morte por
enforcamento e posterior esquartejamento, foi considerado por alguns historiadores como
revolucionário; por outros, como um falastrão. Na segunda metade do século XIX, mesmo
admitindo-se seu papel secundário no movimento, sua imagem foi comparada à de Cristo,
beijando os pés e as mãos de seu carrasco, e Joaquim Silvério dos Reis, o delator, foi
comparado a Judas. Depois da proclamação da República, em 1889, adquiriu o status de mártir
da Independência. Em 1890, o dia 21 de abril, data de sua execução, foi transformado em
feriado nacional. Um decreto de 1965 proclamou-o “patrono cívico da nação brasileira”.
NO BRASIL
Em troca da escolta à família real, os ingleses exigiram, entre outras medidas, acesso
privilegiado ao mercado consumidor do Brasil. A abertura dos portos coloniais, em 1808,
significou uma concessão aos britânicos, pois apenas eles podiam suprir o mercado colonial
com bens industrializados. Por conta das invasões napoleônicas, os comerciantes da França e
da Espanha estavam proibidos de entrar nesse negócio.
Como sempre, d. João, ouvindo ministros, foi cauteloso e custou a executar o
combinado. Mais que isso, proibiu que a navegação costeira fosse feita por estrangeiros e
diminuiu de 24% para 16% as tarifas alfandegárias pagas por comerciantes portugueses. Os
ingleses, insatisfeitos, intensificaram a pressão sobre o governo português.
Em 1810, graças à influência do ministro conde de Linhares, defensor da aliança com a
Inglaterra, d. João assinou dois tratados com os britânicos: o de Aliança e Amizade e o de
Comércio e Navegação. O principal artigo estipulava o imposto de 15% sobre os produtos
ingleses, menos do que os produtos portugueses, que continuavam taxados em 16%. Os
demais países pagariam 24% de imposto. Um dos resultados desse tratado foi a entrada
impressionante de comerciantes e de produtos ingleses no Brasil.
NOVOS RUMOS
Além da abertura dos portos às nações amigas, outras medidas importantes foram
tomadas pelo governo de d. João, como a suspensão da proibição de manufaturas estabelecida
por d. Maria I, em 1785.
No governo “joanino”, criou-se o primeiro Banco do Brasil, fundou-se o Jardim
Botânico, organizou-se a Academia Militar, a Escola de Belas-Artes e a Biblioteca Real (futura
Biblioteca Nacional), com cerca de 60 mil obras vindas de Portugal. Instalou-se também o
primeiro curso superior do Brasil: a Escola de Cirurgia da Bahia. Várias instituições foram
transferidas de Lisboa para o Rio de Janeiro. Liberou-se a tipografiaa, antes proibida, permitindo
que se criassem jornais e se editassem livros. A Gazeta do Rio de Janeiro foi o primeiro jornal a
ser editado no Brasil, em setembro de 1808. Depois dele, apareceram outros, como o Jornal do
Comércio, publicado até os dias de hoje.
Por influência do conde da Barca, adepto da aproximação com a França, um grupo de
artistas foi convidado para vir ao Brasil divulgar os aspectos louváveis da cultura francesa, na
época considerada o ideal de civilização.
Em abril de 1816, chegou ao Rio de Janeiro o que se convencionou chamar de missão
artística francesa, liderada por Joachim Lebreton, os irmãos Taunay (um pintor e o outro
escultor), o arquiteto Grandjean de Montigny e o famoso pintor Jean-Baptiste Debret. Todos
haviam servido ao governo de Napoleão e caíram em desgraça após a derrota do imperador e a
Restauração dos Bourbons ao trono francês.
Mas não vieram só franceses. Naturalistas de várias partes do mundo estiveram no
Brasil para estudar suas exuberantes ora e fauna, destacando-se o príncipe prussiano
Maximilian von Wied-Neuwied, o francês Auguste de Saint-Hilaire, o barão Georg Heinrich von
Langsdorff, Karl Philipp von Martius e Johann Baptist von Spix.
O pintor austríaco Thomas Ender veio na comitiva da princesa Leopoldina e, junto com
os naturalistas Martius e Spix, compôs a missão austríaca. Outros estrangeiros deixaram
abundantes registros sobre o Brasil, como o português de origem inglesa Henry Koster, que se
tornou senhor de engenho em Pernambuco, o comerciante inglês John Luccock e o
comerciante francês Louis- -François de Tollenare. Os relatos das viagens e o material
iconográco deixados por eles são, até hoje, valiosíssimos para o conhecimento do Brasil desse
período. No campo militar, o governo português mandou invadir a Guiana Francesa, em 1809,
em retaliação à invasão napoleônica do reino, e conquistar a Cisplatina, futuro Uruguai, em
represália à conquista de Olivença, no reino, pelos espanhóis. Não foi pouco!
Os pernambucanos tinham uma tradição de luta que vinha desde a invasão holandesa
(século XVII) e da Guerra dos Mascates (início do XVIII). A capitania de Pernambuco,
açucareira, contava com famílias tradicionais de grandes senhores de escravos e comerciantes
ricos. A intensa atividade econômica tornava-a uma das capitanias que mais sofriam com os
impostos da Coroa.
A instalação da Corte portuguesa na América trouxe para a população mais pobre a
esperança de um período de prosperidade. Ao contrário disso, a necessidade de aumentar os
impostos para implantar a Corte no Rio de Janeiro provocou descontentamento ainda maior em
todos os segmentos da população. O quadro se agravou com a seca de 1816, que afetou a
economia açucareira e a produção de alimentos.
O incidente que provocou o início da chamada Revolução Pernambucana foi a prisão,
em 1817, de um grupo de militares que o governador julgou suspeito de sedição. Ao executar a
ordem do governador, um dos militares matou seu comandante, provocando um motim que se
espalhou pelas ruas de Recife, com ataques às autoridades portuguesas. O governador
negociou sua retirada para o Rio de Janeiro, sem tentar conter os revoltosos.
Vendo-se senhores da situação, os amotinados constituíram um governo provisório,
nos territórios que hoje pertencem aos estados de Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande
do Norte, criando uma república com o intuito de elaborar uma constituição. Chegaram a buscar
apoio em Washington e Londres, solicitando, sem sucesso, o reconhecimento da separação de
Portugal e do governo sediado no Rio de Janeiro.
As lideranças do movimento, entretanto, dividiram-se quanto ao projeto de abolição da
escravidão. Enfraquecidos pelo não reconhecimento externo da independência e pela divisão
interna, os rebeldes não resistiram ao bloqueio marítimo e às tropas enviadas da Bahia. Em 19
de abril, Recife foi retomada, seguindo-se uma intensa perseguição aos amotinados. Vários
líderes foram executados e mais de 250 pessoas foram enviadas às prisões da Bahia, até a
anistia aprovada pelas Cortes portuguesas, em 1821.
INDEPENDÊNCIA MONÁRQUICA
A vinda da Corte portuguesa para o Brasil estava de acordo com o projeto de vários
políticos e intelectuais de formar um império luso-brasileiro com sede no Rio de Janeiro. Mas o
período joanino não foi nada tranquilo, com muitas guerras e conflitos, como a invasão da
Guiana Francesa (1809) e da Banda Oriental do rio da Prata (1816) e o movimento separatista
em Pernambuco (1817).
Em Portugal, sobravam problemas com a permanência da Corte no Rio de Janeiro. Na
cidade do Porto, em 1818, comerciantes, magistrados e militares criaram uma sociedade
secreta, o Sinédrio, para discutir as ideias liberais e contestar o regime absolutista dos
Bragança e a presença militar inglesa, comandada pelo marechal Beresford, titulado Lorde
Protetor de Portugal. Em 1820, o grupo iniciou uma insurreição, conhecida como Vintismo ou
Revolução Constitucionalista do Porto, que acabou por tomar as ruas e se estender pelo
restante de Portugal, incluindo Lisboa.
Vitoriosos, os rebelados criaram juntas governativas e iniciaram os preparativos para
elaborar uma Constituição que colocasse limites ao poder real. Eleições para uma constituinte
foram convocadas e realizadas em Portugal e no Brasil. Em 1821, reuniram-se as Cortes
portuguesas, formadas por deputados eleitos no reino e nas províncias ultramarinas, que
transformaram o reino numa monarquia constitucional.
D. João VI e seus conselheiros oscilavam entre duas possibilidades: voltar a Portugal
com a Corte e aceitar a Constituição, mantendo-se rei, ou permanecer no Brasil sob o risco de
ser destronado em Portugal. D. João decidiu retornar a Lisboa, o que fez em 26 de abril de
1821, deixando no Brasil seu filho mais velho e herdeiro, d. Pedro, como príncipe regente. A
permanência de d. Pedro tinha como objetivo criar na antiga colônia uma autoridade central
para controlar as províncias, evitando a fragmentação do território.
(C) A mobilização de séquitos nos passeios, como
evidência do medo da violência nos centros
urbanos.
1. (Espcex (Aman)) No início do século XVIII, a (D) A inserção de cativos na prestação de serviços
concorrência das Antilhas fez com que o preço do pessoais, como fase de transição para o trabalho
açúcar brasileiro caísse no mercado europeu. Os livre.
proprietários de engenho, em Pernambuco, para (E) A concessão de vestes opulentas aos agregados,
minimizar os efeitos desta crise, recorreram a como forma de amparo concedido pela elite
empréstimos junto aos comerciantes da Vila de Recife. senhorial.
Esta situação gerou um forte antagonismo entre estas
partes, que se acirrou quando D. João V emancipou 4. (G1 - col. naval) Leia texto a seguir.
politicamente Recife, deixando esta de ser vinculada a
Olinda. Tal fato desobrigou os comerciantes de Recife Em 1682, foi criada a Companhia Geral do Comércio do
do recolhimento de impostos a favor de Olinda. O Estado do Maranhão, com o objetivo de controlar os atritos
conflito que eclodiu em função do acima relatado foi a entre fazendeiros e religiosos na disputa pelo trabalho
(A) Revolta de Beckman. indígena, mais barato que o africano, e incentivar a produção
(B) Guerra dos Mascates. local... A companhia venderia aos habitantes do Maranhão
(C) Guerra dos Emboabas. produtos europeus, como azeite, vinho e tecidos, e deles
(D) Insurreição Pernambucana. compraria o que produzissem, como algodão, açúcar,
(E) Conjuração dos Alfaiates. madeira e as drogas do sertão, para comercializar na
Europa. Também deveria fornecer à região quinhentos
2. (Uece) Ocorridos entre os meados do século XVII até as escravos por ano, uma fonte alternativa de mão de obra,
primeiras décadas do século XVIII, os movimentos diante da resistência jesuítica em permitir a escravidão de
nativistas apresentam-se como os primeiros sinais de nativos. Os preços cobrados pela companhia, entretanto,
uma crise do sistema colonial. eram abusivos, e ela não cumpria os acordos, como o
fornecimento de escravos.
Sobre esses movimentos, é correto afirmar que VICENTINO, Claudio e DORIGO, Gianpaolo. História Geral e do Brasil.
Editora Scipione, SP, 2010 – p. 358.
(A) tinham como principal objetivo a separação política
entre colônia e metrópole, com a autonomia
O texto acima descreve uma situação que colaborou para o
administrativa e a formação de novas nações livres
acontecimento de um conflito, no período colonial brasileiro
nas regiões onde ocorriam.
ocorrido na segunda metade do século XVII, que ficou
(B) em Minas Gerais, com a Guerra dos Emboabas e a
conhecido como
Revolta de Felipe dos Santos, no Maranhão, com a
(A) Guerra dos Mascates.
Revolta dos Beckman, e em Pernambuco, com a
(B) Guerra dos Emboabas.
Insurreição Pernambucana e a Guerra dos
(C) Revolta de Felipe dos Santos.
Mascates, aparecem as divergências entre os
(D) Revolta de Amador Bueno.
interesses dos colonos e os da metrópole.
(E) Revolta de Beckman.
(C) ocorreram somente em locais que vivenciavam
crises econômicas, como o Rio Grande do Sul
5. (Espm) Das minas e seus moradores bastava dizer que
(Farroupilha 1835-1845) e Pernambuco (Revolução
é habitada de gente intratável. A terra parece que
Pernambucana de 1817).
evapora tumultos; a água exala motins; o ouro toca
(D) somente a Confederação do Equador, ocorrida no
desaforos; destilam liberdades os ares; vomitam in-
nordeste brasileiro, pode ser tomada como um
solências as nuvens; influem desordens os astros; o
legítimo movimento nativista, uma vez que não
clima é tumba da paz e berço da rebelião; a natureza
pretendia a separação política em relação a
anda inquieta consigo, e amotinada lá por dentro é como
Portugal, mas, somente, maior autonomia
no inferno.
administrativa. Lilia Schwarcz e Heloisa Starling. Brasil: uma Biografia.
GABARITO
1 B 6 C 11 E 16 D
2 B 7 E 12 E 17 A
3 A 8 B 13 A 18 C
4 E 9 C 14 C 19 D
5 A 10 B 15 A 20 B
Atualmente, o Brasil, que é um país de proporções continentais, tem governo
republicano e regime presidencialista, com voto universal para os principais cargos dos poderes
Executivo e Legislativo. Homens e mulheres, a partir dos 16 anos, analfabetos ou doutores,
pobres ou ricos, de qualquer etnia ou religião, têm o mesmo direito ao voto. Mas esse direito ao
voto universal foi uma conquista da população que aconteceu lentamente. Nos primeiros
tempos do Brasil como país independente – que, de colônia de Portugal, se transformou em
uma monarquia constitucional –, pouco havia mudado em relação à cidadania: o voto era
censitário e exclusivamente masculino para os poucos cargos eletivos. Além disso, a escravidão
foi mantida, em um mundo liberal cada vez mais partidário da abolição.
1. AS CORTES DE LISBOA
Em Portugal, as Cortes de Lisboa tenderam a tratar cada província do Brasil como uma
unidade autônoma, de modo a diminuir o poder centralizador que d. Pedro tentava impor.
Desgastado financeiramente, já que a Corte de d. João levara para Portugal todas as reservas
dos cofres, d. Pedro chegou a solicitar a d. João, em carta, dispensa “deste emprego”.
Nesse meio-tempo, começaram as pressões das Cortes portuguesas e do próprio d.
João VI para que o príncipe regente também voltasse a Portugal. Após receber uma
representação de mais de 8 mil assinaturas de pessoas do Rio de Janeiro, ele decidiu, em 9 de
janeiro de 1822, permanecer na América, mantendo vivo o projeto do Brasil como Reino Unido
a Portugal.
O episódio acabou conhecido como o Dia do Fico. Os integrantes das Cortes
portuguesas, ao mesmo tempo que defendiam uma monarquia constitucional para Portugal,
inspirada no liberalismo, pensavam em rebaixar o Brasil à condição que possuía antes de 1815:
colônia. Foi nessa altura que, como reação às tentativas de recolonização, começou a ganhar
corpo entre as elites brasileiras a proposta de independência.
O primeiro a defender a ideia publicamente foi Joaquim Gonçalves Ledo, no jornal
Revérbero Constitucional Fluminense, em 30 de abril. O clima ficou cada vez mais favorável à
ruptura, com a circulação de panfletos e jornais em defesa da emancipação. Enquanto isso, d.
Pedro escolhia um novo ministério, liderado por José Bonifácio de Andrada e Silva, natural da
cidade de Santos, em São Paulo. Ele tornou- -se o principal conselheiro do príncipe e, por isso,
ficou conhecido como o Patriarca da Independência, embora sua posição tenha sido antes de
tudo cautelosa.
Em 3 de junho de 1822, d. Pedro convocou eleições provinciais para compor uma
Assembleia Constituinte para o Brasil, demonstrando que estava disposto a enfrentar Lisboa. O
ato que marcou o rompimento definitivo com Portugal foi, porém, o decreto assinado por d.
Pedro em agosto, definindo como inimigas todas as tropas enviadas de Lisboa sem o seu
consentimento.
Em 7 de setembro de 1822, d. Pedro proclamou a independência no famoso Grito do
Ipiranga. O Brasil manteve a sua integridade territorial e passou a ser uma das únicas
monarquias da América de vida longa.
Enquanto as lutas ocorriam, ganhava intensidade um novo conflito, que tinha como
cenário a Assembleia Constituinte, convocada para elaborar a Carta Magna do novo país.
Essa Assembleia era composta de quase uma centena de deputados provinciais, que
representavam a elite ilustrada e intelectual do império em construção. Mais da metade era
formada em Coimbra, e muitos tinham atuado no governo de d. João VI.
Tão logo iniciaram os trabalhos na Assembleia, em 3 de maio de 1823, dois grupos se
configuraram: de um lado, o chamado Partido Brasileiro, que propunha uma monarquia
constitucional em que o imperador devia se submeter às leis; de outro, o Partido Português, que
defendia o fortalecimento do poder do imperador. Não eram partidos políticos como os que
conhecemos hoje, mas correntes de opinião.
Outra grande disputa entre os dois grupos ocorria em relação ao governo das
províncias. Os “brasileiros” pretendiam que fosse eleita uma junta governativa local, que daria
maior autonomia às províncias. Já os “portugueses” desejavam que o imperador indicasse um
presidente que poderia ser removido quando julgasse necessário; ou seja, defendiam a
centralização do poder na figura imperial.
D. Pedro e seus partidários defendiam a restrição do poder de decisão das províncias
com o argumento de que havia o risco de algumas imprimirem um movimento de independência
em relação ao recém-criado Império do Brasil, alimentando o que consideravam uma anarquia.
Já os “brasileiros”, por sua vez, viam com desconfiança a centralização do poder, suspeitando
de uma continuidade do despotismo português. Os grupos políticos concordavam quanto à
manutenção da escravidão e à unidade territorial.
Um esboço do projeto da Constituição foi apresentado em setembro de 1823. Esse
projeto recebeu o apelido de “Constituição da Mandioca”, porque poderiam ser votantes nas
eleições primárias os homens que tivessem renda anual equivalente a 150 alqueires de farinha
de mandioca. Os ânimos estavam alterados há tempos. Os “brasileiros”, representados
principalmente pelos irmãos Antônio Carlos de Andrada e Silva e José Bonifácio, defendiam um
poder limitado do imperador, que não poderia: ser governante de outro reino; dissolver o
Parlamento; comandar as Forças Armadas. Também seria obrigado a acatar as decisões do
Poder Legislativo. Além disso, José Bonifácio havia apresentado à Assembleia um projeto que
previa a extinção gradual da escravidão.
Nem bem os artigos começaram a ser votados, d. Pedro I dissolveu a Assembleia
Constituinte, na madrugada de 12 de novembro daquele ano, por considerar inaceitável a
possibilidade de o poder do império ser dividido entre vários organismos. O episódio ficou
conhecido como “Noite da Agonia”. Os irmãos Andrada foram presos e deportados.
No mesmo decreto que dissolveu a Assembleia Constituinte, d. Pedro convocou um
grupo para elaborar uma carta constitucional a seu modo: o Conselho de Estado, composto de
seis ministros e mais quatro membros, todos nascidos no Brasil. Ele mesmo presidia o
Conselho. Em março de 1824, a população do Brasil recebeu pela primeira vez uma
Constituição. Ela foi outorgada (imposta) por d. Pedro I, que instituía quatro poderes: o
Executivo (exercido pelo imperador e pelos seus ministros de Estado), o Legislativo (composto
de senadores e deputados gerais e provinciais), o Judiciário (formado pelos juízes e pelos
tribunais) e o Moderador (exercido exclusivamente pelo imperador). As províncias seriam
governadas por um presidente nomeado pelo imperador.
Os atos centralizadores de d. Pedro I não passaram sem reação. Em diversos lugares
surgiram atitudes contra os portugueses que ocupavam cargos da administração, que eram
proprietários de grandes unidades produtoras e dominavam o comércio de escravos e de
gêneros alimentícios. Qualquer atitude de proteção a portugueses em detrimento dos brasileiros
era vista com desconfiança. O português era identificado pelos brasileiros como o antigo
domínio metropolitano. E o imperador estava no centro dessa tensão, por não ter nascido em
terras brasileiras e ser visto como defensor dos interesses portugueses.
A CONSTITUIÇÃO DE 1824
IMPÉRIO EM CONSTRUÇÃO
A CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR
O RECONHECIMENTO DA INDEPENDÊNCIA
O DESGASTE DO IMPERADOR
D. PEDRO ABDICA
DECISÕES DA REGÊNCIA
O ministro da Justiça, padre Diogo Antônio Feijó – a grande figura política daquele
momento –, reorganizou as forças militares com a intenção de conter os inúmeros levantes de
tropas e as manifestações populares que explodiam por todo canto, principalmente no Rio de
Janeiro. Em 18 de agosto de 1831, criou a Guarda Nacional, uma das mais importantes
instituições do Império.
Ao contrário das milícias coloniais, a Guarda Nacional não era uma força de reserva do
Exército. Era uma corporação paramilitar, composta de cidadãos eleitores das grandes cidades
(ou seja, com renda anual de pelo menos 200 mil réis) entre 25 e 60 anos e cidadãos votantes
dos demais municípios (com renda mínima anual de 100 mil réis). O que definia a Guarda
Nacional era, portanto, a cidadania, pois participavam dela os cidadãos ativos. Era, em resumo,
o controle dos cidadãos ativos, proprietários, sobre os despossuídos e os escravos.
Em novembro de 1832, foi finalizado o Código de Processo Criminal, que estabeleceu
novas regras para o exercício da justiça. Uma medida de destaque foi a ampliação do poder dos
juízes de paz, que tiveram permissão para prender, julgar e, em caso de emergência, convocar
a polícia ou a Guarda Nacional.
Em 1834, um Ato Adicional à Constituição de 1824 aumentou a autonomia das
províncias ao transformar os conselhos gerais de província em assembleias legislativas
provinciais. Com isso, cada província passava a ter o poder de criar leis específicas, desde que
não ferissem a Constituição, o que satisfazia os liberais. O Ato Adicional também transformou o
Rio de Janeiro em município neutro, capital do Império. Além disso, estabeleceu a Regência
Una, instituindo um só regente, que deveria ser escolhido por meio de eleição, medida que
agradava aos moderados.
CLIMA DE REBELIÃO
Em 1835, a Regência Una foi assumida por Diogo Feijó, eleito em votação apertada,
com pouco mais da metade dos votos, numa demonstração clara de que enfrentaria grande
oposição em seu governo. Logo explodiram rebeliões em várias províncias, algumas
reivindicando mais poder, outras com objetivos separatistas e até mesmo tendência
republicana. Todas com maior ou menor mobilização popular.
Muitos avaliavam que a menoridade de d. Pedro de Alcântara, então um menino com
nove anos, fragilizava o poder central – julgava-se que um Império sem imperador era um
convite às dissidências de todo tipo. Diversas revoltas eclodiram. As tropas imperiais e a
Guarda Nacional reprimiram violentamente as revoltas – com exceção da Farroupilha, que teve
desfecho negociado, mais favorável aos revoltosos por ter sido liderada pela elite, formada
pelos grandes estancieiros gaúchos.
SABINADA
BALAIADA
No Rio Grande de São Pedro (atual Rio Grande do Sul) irrompeu a revolta mais longa
do período regencial, de 1835 a 1845. Foi a única que buscou separar radicalmente a província
do Império e implantar um regime republicano. A revolta ficou conhecida como Guerra dos
Farrapos ou Farroupilha, porque os insurgentes – proprietários rurais e grandes criadores do
Rio Grande – foram chamados de farrapos, em tom pejorativo, pelos oficiais das tropas
imperiais.
No século XVIII, o sul do Brasil era uma importante área de criação de gado, tanto
bovino, para a produção de charque e couros, quanto muar, para o transporte de mercadorias
pelo interior do Brasil. Por ser uma região de fronteira entre a América portuguesa e a
espanhola, sua ocupação, ainda no início do século XVIII, resultou na criação de uma elite
militarizada. Os estancieiros e os charqueadores escravistas eram os grupos mais poderosos
do lugar, e também os mais incomodados com o centralismo político do governo imperial. Tanto
liberais como conservadores do sul consideravam que o governo da Corte privilegiava as
províncias do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e de São Paulo.
O presidente da província do Rio Grande tomou medidas que desagradaram a esses
grupos. Aumentou os impostos, em particular os que taxavam o gado na fronteira com o
Uruguai, onde muitos criadores do Brasil possuíam terras e rebanhos. Já os charqueadores
queixavam-se da ausência de taxas sobre a carne salgada proveniente de proprietários do
Uruguai e da Argentina. A política alfandegária do governo central favorecia os grandes
fazendeiros escravistas da região do Vale do Paraíba; eles estavam interessados em manter
baixos os preços do charque importado, pois era a base da alimentação, incluindo escravos. A
produção dos campos gaúchos era totalmente direcionada para o mercado interno, por isso,
para concorrer com o charque importado, os charqueadores tinham de abaixar os seus preços.
Também causou insatisfação o fato de o governo regencial ter estabelecido um corpo
militar no sul, sustentado com o dinheiro dos impostos, diretamente subordinado ao governo
central no Rio de Janeiro, instituindo a figura do comandante de armas. Isso desafiava a
tradição regional das milícias ou exércitos particulares controlados pelos estancieiros gaúchos.
Considerando essas medidas uma afronta, os rebeldes chefiados por Bento Gonçalves
tomaram a capital, a cidade de Porto Alegre, em 20 de setembro de 1835. O vice-presidente da
província, Marciano Pereira Ribeiro, favorável aos farroupilhas, assumiu o poder e foi
acompanhado por vários oficiais do Exército.
Após intensos combates, em 1836, proclamaram a República Rio-Grandense,
derrotada logo no ano seguinte pelas tropas imperiais. Bento Gonçalves foi capturado em
combate e levado preso para a Bahia. Fugiu em 1837, retomando o comando dos rebeldes. As
vitórias farroupilhas levaram à proclamação da República de Piratini, em 1838, sob a
presidência de Bento Gonçalves, tornando a província autônoma. A influência do
republicanismo do Uruguai e da Argentina contribuiu para a solução republicana do governo
rebelde.
REPRESSÃO E NEGOCIAÇÃO
O governo central não deu trégua, mantendo a pressão contra os revoltosos. Durante
os conflitos, novos nomes se incorporaram aos farroupilhas e se destacaram entre eles, como o
estancieiro David Canabarro, o revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi e sua mulher, Anita
Garibaldi. Os rebeldes avançaram por Santa Catarina, tomando a cidade de Laguna, onde
instalaram a República Juliana (assim chamada em razão do mês de criação), derrotada pelas
tropas imperiais pouco depois. Em função do golpe da maioridade, em 1840, que tornou o
jovem d. Pedro imperador, o governo propôs a anistia a todos os revoltosos. Mas os farrapos
não aceitaram a rendição.
Como nas revoltas ocorridas em outras províncias, a Farroupilha também se
enfraqueceu com as divergências entre seus líderes. Alguns, como David Canabarro, passaram
a defender a autonomia provincial, sem romper com o Império; outros, como Bento Gonçalves,
mantinham-se convictos na ideia de separação definitiva do Rio Grande e de criação de uma
república federativa no sul.
Nos últimos anos, o governo farroupilha foi liderado pelos moderados e monarquistas
mais favoráveis ao acordo com o governo imperial. O governo do jovem imperador prometera
atender a algumas das principais reivindicações do movimento, como a taxação sobre o
charque importado da região do Prata em 25%. Sem dúvida, a solução para a revolta dos
farrapos caminhava mais para a negociação do que para a repressão violenta.
Em 1842, Luís Alves de Lima e Silva foi nomeado presidente da província e
comandante de armas. Combinando medidas repressivas e negociação, conseguiu, após
sucessivas vitórias das tropas imperiais, a rendição dos farrapos. David Canabarro assinou o
acordo em 1845; em troca, solicitou a anistia a todos os revoltosos, a incorporação dos oficiais
farroupilhas ao Exército e a transferência de todas as dívidas da República de Piratini para o
governo. Assim terminou a revolta que, entre todas as outras, representou o maior risco para a
unidade territorial do Império.
5 REBELIÕES ESCRAVAS
A rebelião dos quilombolas de Preto Cosme, no Maranhão, foi uma entre várias
revoltas de escravos ocorridas no período regencial. O aumento do tráfico de africanos
escravizados, sobretudo a partir da década de 1830, contribuía para a tendência às revoltas e a
formação de quilombos. Além disso, havia grandes dissidências nas elites do país. As classes
senhoriais estavam divididas, e isso favoreceu rebeliões escravas em toda parte. Algumas
revoltas escravas desafiavam frontalmente os senhores e as autoridades.
CARRANCAS
OS MALÊS
MANUEL CONGO
6. A CONSOLIDAÇÃO DO IMPÉRIO
Em 1835, como vimos, a Regência Trina foi substituída pela Regência Una, assumida
pelo padre Diogo Antônio Feijó. Por todo o país estouravam rebeliões, que colocavam em risco
a unidade do Império. Os opositores de Feijó viam em suas concessões às províncias o motivo
da desorganização e da anarquia que se propagavam no país. Sem apoio nem mesmo dos
antigos aliados e enfermo, Feijó renunciou ao cargo em 19 de setembro de 1837, indicando
para substituí-lo um de seus ministros, o político conservador Araújo Lima.
No ano seguinte, Araújo Lima foi eleito regente e inaugurou o período denominado
Regresso – uma política de fortalecimento do poder central, como nos tempos de d. Pedro I.
Contava com o apoio de parte significativa das elites, que nesse momento temia a eclosão de
novos levantes populares, principalmente os de escravos.
O ministério conservador nomeado pelo regente restringiu os poderes das províncias.
Entre outros atos, retirou as atribuições de polícia dos juízes de paz, transferindo-as para juízes
municipais indicados pelo poder central, e retirou das Assembleias provinciais o direito de
nomear magistrados e superiores da Guarda Nacional. Essas decisões foram resumidas, em
1840, na Lei Interpretativa do Ato Adicional de 1834, que na prática anulava os efeitos do
próprio Ato Adicional. A elite política do Império estava convencida, nessa altura, de que “era
preciso parar o carro da revolução”.
MAIORIDADE ANTECIPADA
Para valorizar o trono e a figura do futuro monarca, Araújo Lima mandou espalhar
retratos do jovem imperador pelas diversas repartições públicas do Brasil. De acordo com a
Constituição, d. Pedro só assumiria o governo em 1843, ao completar 18 anos. Mas a situação
tornava urgente, aos olhos do governo, uma medida que reforçasse o poder do Império.
Os liberais propuseram, então, antecipar a maioridade de d. Pedro, na época com 14
anos de idade. Foram, por isso, identificados como progressistas, em contraste com os
regressistas. Assim, em 15 de abril de 1840, os liberais criaram o Clube da Maioridade.
Logo depois, um requerimento assinado por 18 senadores e 40 deputados foi entregue
ao jovem d. Pedro pedindo que assumisse o governo. Perguntado se preferia assumir o trono
em dezembro, para quando estava sendo preparada a aclamação, ou imediatamente, d. Pedro
respondeu: “Quero já”. Então, no dia seguinte, 23 de julho de 1840, foi aclamado imperador do
Brasil. Começava o Segundo Reinado.
CONVERSA DE HISTORIADOR
O excerto descreve o complexo funcionamento do Brasil 8. (Uece) Atente ao seguinte fragmento da obra da
durante a colônia e o Império. Uma de suas consequências historiadora Emília Viotti da Costa, a respeito do
para a história brasileira foi processo de independência do Brasil:
(A) a utilização de um mesmo padrão tecnológico nas
sucessivas fases da produção de mercadorias de “A ordem econômica seria preservada, a escravidão mantida.
baixo custo. A nação independente continuaria subordinada à economia
(B) a existência de uma produção de mercadorias colonial, passando do domínio português à tutela britânica. A
inteiramente voltada para o abastecimento do fachada liberal construída pela elite europeizada ocultava a
mercado interno. miséria e a escravidão da maioria dos habitantes do país.
(C) a liberdade de decisão política do grupo dominante Conquistar a emancipação definitiva da nação, ampliar o
local enriquecido com a exploração de riquezas significado dos princípios constitucionais seria tarefa
naturais. relegada aos pósteros”.
(D) a ausência de diferenças regionais econômicas e COSTA, Emília Viotti da. Introdução ao estudo da emancipação política do
culturais durante o período colonial e imperial. Brasil. In: MOTA, Carlos Guilherme (Org.). Brasil em perspectiva. 16. ed. Rio
de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1987. p.125.
(E) a manutenção de determinadas relações sociais
num quadro de modificações do centro dinâmico da
Considerando o processo de independência do Brasil, é
economia.
possível inferir que
(A) Não ocorreu nenhuma ocultação dos reais
7. (Mackenzie) “A cena de uma rua é, a um só tempo, a
problemas sociais e econômicos do país após a
mesma de todo o quarteirão. Os pés de chumbo
independência, já que a elite local buscou
(portugueses) deixam que a cabralhada (brasileiros) se
solucioná-los imediatamente.
aproxime o mais possível. E inesperadamente, de todas
(B) Apenas ocorreu a independência econômica do
as portas, chovem garrafas inteiras e aos pedaços sobre
Brasil, mas não a política, pois a elite nacional
os invasores. O sangue espirra, testas, cabeças,
europeizada submeteu-se aos interesses da
canelas... Gritos, gemidos, uivos, guinchos.
É inverossímil. Inglaterra.
E a raça toda, de cacete em punho, vai malhando... E os corpos a cair (C) Pelo fato de a monarquia ter sido logo adotada
ensanguentados sobre os cacos navalhantes das garrafas. ” como forma de governo, a independência não
(Correia, V.,1933, p. 42)
representou mudanças sociais significativas, pois
estas ficariam a cargo de gerações futuras.
O episódio, descrito acima, relata o enfrentamento entre
(D) Não houve acordo de independência com os
portugueses e brasileiros, em 13/03/1831, no Rio de Janeiro,
Britânicos, que reagiram o quanto puderam à
conhecido como Noite das Garrafadas. Essa manifestação
independência do Brasil, já que ela representaria a
assemelhava-se às lutas liberais travadas na Europa, após
real autonomia econômica do país.
as decisões tomadas pelo Congresso de Viena.
(E) O Príncipe Regente acordou com a elite agrária
brasileira a elaboração de uma Constituição
A respeito dessa insatisfação popular, presente tanto na
Democrática que limitava ações do poder executivo.
Europa, após 1815, quanto nos conflitos nacionais, durante o
I Reinado, é correto afirmar que
9. (Fmp) O texto a seguir é um fragmento de decreto de D.
(A) D. Pedro II adota a mesma política praticada por
Pedro I, de 1823, em que o imperador dissolve a
monarcas europeus; quando, ao outorgar uma carta
Assembleia Constituinte.
constitucional, contrariou os interesses, tanto da
classe oligárquica, fiel ao trono, quanto das classes
Havendo Eu convocado, como Tinha Direito de convocar, a
populares, as quais permaneceram sem direito ao
Assemblea Geral, Constituinte e Legislativa, [...] e havendo
voto.
esta Assemblea perjurado ao tão solemne juramento, que
(B) o governo brasileiro também se utilizou de
prestou á Nação [...]: Hei por bem, como Imperador, e
empréstimos junto à Inglaterra, aumentando a
Defensor Perpetuo do Brasil, dissolver a mesma Assemblea,
dívida externa e fortalecendo a economia inglesa, a
e convocar já huma outra na forma das Instruções, feitas
fim de sanar o déficit orçamentário e suprir os
para a convocação desta, que agora acaba; a qual deverá
gastos militares em campanhas contra os levantes
trabalhar sobre o Projecto de Constituição, que Eu Hei-de em
populares.
breve Apresentar; que será duplicadamente mais liberal, do
(C) D. Pedro I, buscando recuperar sua popularidade,
que a extincta Assemblea acabou de fazer.
iniciou uma série de visitas às províncias revoltosas D. PEDRO I. Decreto de dissolução da Assembleia Nacional Constituinte, em
do país, adotando a mesma estratégia diplomática 12 nov. 1823 apud PEREIRA, V. “A longa ‘noite da agonia’”. Revista de
que alguns regentes europeus, nessa época, História da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro: SABIN, ano 7, n. 76, jan. 2012,
p. 42.
praticaram, sem contudo, lograrem nenhum
sucesso político.
Com base na justificativa do ato político explicitado no texto
do decreto, e analisando as suas consequências, identifica-
se um antagonismo entre:
(A) Monarquia e República reconhecia a independência do Brasil, mediante:
(B) Capitalismo e Socialismo (A) a renovação dos tratados comerciais de 1810;
(C) Imperialismo e Independência (B) a concessão aos portugueses da Ilha de Trindade;
(D) Absolutismo e Liberalismo (C) a assinatura de um acordo de reciprocidade;
(E) Nacionalismo e antilusitanismo (D) o compromisso assumido pelo Brasil de cessar o
tráfico negreiro;
10. (Udesc) Em 25 de março de 1824, Dom Pedro I (E) o pagamento pelo Brasil de uma indenização de 2
outorgou a Constituição Política do Império do Brasil. milhões de libras.
Em relação à Constituição de 1824, é possível inferir
que 13. (Uece) Observe o seguinte enunciado:
(A) O Texto Constitucional foi construído coletivamente
pela Câmara de Deputados, votado e aprovado em “Com a dissolução da Assembleia Constituinte, em 12 de
25 de março de 1824. Expressava os interesses novembro de 1823, aumentou a insatisfação com o governo
tanto do partido liberal quanto do partido de D. Pedro I, sobretudo no Nordeste. Em 2 de julho de
conservador, para o futuro na nação que recém 1824, em Pernambuco, Manuel Carvalho Paes de Andrade
conquistara sua independência. lança o manifesto que dá origem ao movimento. Contudo,
(B) A Constituição de 1824 instaurava a laicidade no antes da manifestação ocorrida no Recife, apoiada por
território nacional, extinguindo a religião católica Cipriano Barata e por Joaquim da Silva Rabelo (o Frei
como religião oficial do império e expressando Caneca), ambos experientes revoltosos, a província do
textualmente que “todas as outras religiões serão Ceará já tinha sua manifestação contrária ao Imperador,
permitidas com seu culto doméstico, ou particular ocorrida no município de Nova Vila do Campo Maior (hoje
em casas para isso destinadas, sem forma alguma Quixeramobim), em 9 de janeiro de 1824 e liderada por
exterior do Templo”. Gonçalo Inácio de Loyola Albuquerque e Melo (o Padre
(C) A organização política instaurada pela Constituição Mororó)”.
de 1824 dividia-se em 4 poderes: Executivo,
Legislativo, Judiciário e Moderador, sendo que este O movimento ocorrido no Brasil durante o Império a que o
último determinava a pessoa do imperador como enunciado acima se refere é denominado
inviolável e sagrada. (A) Revolução Pernambucana.
(D) A Constituição de 1824 determinou a cidadania (B) Revolução Praieira.
amplificada e o direito ao voto para todos os (C) Contestado.
nascidos em solo brasileiro, independentemente de (D) Confederação do Equador.
gênero, raça ou renda. (E) Revolta dos Malês.
(E) A Constituição de 1824 promoveu, em diversos
artigos, ideais de cunho abolicionista. Tais ideais 14. (Fuvest) A Cabanagem foi uma revolta social ocorrida no
foram respaldo para movimentos políticos Norte do Brasil entre 1835 e 1840 e se insere em um
posteriores, tais como a Revolta dos Farrapos e a contexto frequentemente chamado de “Período
Revolta dos Malês. Regencial”. Trata-se de uma revolta que, junto a outras
do mesmo período, indica:
11. (Enem (Libras)) Constituição Política do Império do (A) o impacto, no Brasil, de conflitos de fronteira com os
Brasil (de 25 de março de 1824) países hispânicos recém formados na América.
(B) expansão de interesses imperialistas franceses e
Art. 98. O Poder Moderador é a chave de toda a organização alemães em meio a geopolítica da 2ª Revolução
política, e é delegado privativamente ao Imperador, como Industrial.
Chefe Supremo da Nação, e seu Primeiro Representante, (C) a capacidade negociadora das elites imperiais em
para que incessantemente vele sobre a manutenção da evitar que questões regionais desembocassem em
independência, equilíbrio e harmonia dos demais Poderes conflitos armados.
Políticos. (D) a persistência, no contexto nacional brasileiro, de
Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 18 abr. 2015 (adaptado). disputas entre jesuítas e governantes em torno da
exploração do trabalho escravo.
A apropriação das ideias de Montesquieu no âmbito da (E) o caráter violento e socialmente excludente do
norma constitucional citada tinha o objetivo de processo de formação do Estado nacional brasileiro.
(A) expandir os limites das fronteiras nacionais.
(B) assegurar o monopólio do comércio externo. 15. (Unesp)
(C) legitimar o autoritarismo do aparelho estatal.
(D) evitar a reconquista pelas forças portuguesas. Artigo 1º – Todos os escravos, que entrarem no território ou
(E) atender os interesses das oligarquias regionais. portos do Brasil, vindos de fora, ficam livres [...].
Artigo 2º – Os importadores de escravos no Brasil incorrerão
12. (Espm) Vossa majestade verá que fiz de minha parte na pena corporal do artigo cento e setenta e nove do Código
tudo quanto podia e, por mim, no dito tratado, está feita Criminal, imposta aos que reduzem à escravidão pessoas
a paz. É impossível que vossa majestade, havendo livres [...].
alcançado suas reais pretensões negue ratificar um
tratado que lhe felicita seus reinos, abrindo-lhe os portos (Lei de 7 de novembro de 1831. https://camara.leg.br.)
ao comércio estagnado, e que vai pôr em paz tanto a
nação portuguesa, de que vossa majestade é tão digno A Lei de 7 de novembro de 1831, também conhecida como
rei, como a brasileira, de que tenho a ventura de ser “Lei Feijó”,
imperador.
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