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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO CURRICULAR DAS CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS

ENEM

1. Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade C. Revolução Industrial: criação do sistema de fábrica na Europa
A. Cultura Material e imaterial; patrimônio e diversidade cultural e transformações no processo de produção. Formação do
no Brasil e suas raízes históricas. espaço urbano-industrial.
B. A Conquista da América. Conflitos entre europeus e indígenas D. Transformações na estrutura produtiva no século XX: o
na América colonial. A escravidão e formas de resistência fordismo, o toyotismo, as novas técnicas de produção e seus
indígena e africana na América. impactos.
C. História cultural dos povos africanos. A luta dos negros no E. A industrialização brasileira, a urbanização e as
Brasil e o negro na formação da sociedade brasileira. transformações sociais e trabalhistas.
D. História dos povos indígenas e a formação sociocultural F. A globalização e as novas tecnologias de telecomunicação e
brasileira. suas consequências econômicas, políticas e sociais.
E. As expressões da vida religiosa e sua influência na G. Produção e transformação dos espaços agrários.
constituição das sociedades. Modernização da agricultura e estruturas agrárias tradicionais. O
F. Raízes étnicas, religiosas e nacionalistas dos conflitos agronegócio, a agricultura familiar, os assalariados do campo e
contemporâneos. as lutas sociais no campo. A relação campo-cidade.
G. Movimentos culturais no mundo ocidental e seus impactos na H. Políticas de colonização, migração, imigração e emigração
vida política e social. no Brasil nos séculos XIX e XX. Dinâmica populacional e
crescimento econômico. Teorias demográficas, estrutura da
2. Formas de organização social, movimentos sociais, população. Vida urbana: redes e hierarquia nas cidades, pobreza
pensamento político e ação do Estado e segregação espacial.
A. Cidadania e democracia na Antiguidade; Estado e direitos do
cidadão a partir da Idade Moderna; democracia direta, indireta e 4. Os domínios naturais e a relação do ser humano
representativa. com o ambiente
B. Revoluções sociais e políticas na Europa Moderna. A. Relação homem-natureza, a apropriação dos recursos
C. A colonização portuguesa e as disputas pelo controle naturais pelas sociedades ao longo do tempo. Impacto ambiental
territorial do Brasil. das atividades econômicas no Brasil.
D. Formação territorial brasileira; as regiões brasileiras; políticas B. Recursos minerais e energéticos: exploração e impactos.
de reordenamento territorial. Recursos hídricos; bacias hidrográficas e seus aproveitamentos.
E. As lutas pela conquista da independência política das colônias C. As questões ambientais contemporâneas: mudança climática,
da América. ilhas de calor, efeito estufa, chuva ácida, a destruição da
F. Grupos sociais em conflito no Brasil imperial e a construção camada de ozônio. A nova ordem ambiental internacional;
da nação. A organização oligárquica e as transformações do políticas territoriais ambientais; uso e conservação dos recursos
Estado republicano. naturais, unidades de
G. O desenvolvimento do pensamento liberal na sociedade D. conservação, corredores ecológicos, zoneamento ecológico e
capitalista e seus críticos nos séculos XIX e XX. econômico.
H. Políticas de colonização, migração, imigração e emigração no E. Origem e evolução do conceito de sustentabilidade.
Brasil nos séculos XIX e XX. F. Estrutura interna da terra. Estruturas do solo e do relevo;
I. A atuação dos grupos sociais e os grandes processos agentes internos e externos modeladores do relevo.
revolucionários do século XX: Revolução Bolchevique, G. Situação geral da atmosfera e classificação climática. As
Revolução Chinesa, Revolução Cubana. características climáticas do território brasileiro.
J. Geopolítica e conflitos entre os séculos XIX e XX: H. Os grandes domínios da vegetação no Brasil e no mundo.
Imperialismo, a ocupação da Ásia e da África, as Guerras
Mundiais e a Guerra Fria. 5. Representação espacial
K. Os sistemas totalitários na Europa do século XX: nazi- A. Projeções cartográficas; leitura de mapas temáticos, físicos e
fascista, franquismo, salazarismo e stalinismo. Ditaduras políticos; tecnologias modernas aplicadas à cartografia.
políticas na América Latina: Estado Novo no Brasil e ditaduras
na América.
L. A redemocratização e a “Nova República” brasileira.
M. Conflitos político-culturais pós-Guerra Fria, reorganização
política internacional e os organismos multilaterais nos séculos
XX e XXI.
N. A luta pela conquista de direitos pelos cidadãos: direitos civis,
humanos, políticos e sociais. Direitos sociais nas constituições
brasileiras.
O. Políticas afirmativas.
P. Vida urbana: redes e hierarquia nas cidades, pobreza e
segregação espacial.

3. Características e transformações das estruturas


produtivas
A. Diferentes formas de organização da produção: escravismo
antigo, feudalismo, capitalismo, socialismo e suas diferentes
experiências.
B. Economia agroexportadora brasileira: complexo açucareiro; a
mineração no período colonial; a economia cafeeira; a borracha
na Amazônia.
INTRODUÇÃO

Muitos entendem que estudar História serve apenas para conhecermos fatos ocorridos
no passado e sem qualquer relação com a nossa realidade. Porém, o estudo de História vai
muito além disso. Para que se possa fazer uma análise mais completa do presente, é
importante saber e refletir sobre a sequência e o encadeamento de fatos históricos, as
conjunturas econômicas, sociais e políticas e as visões de mundo de determinada época que se
relacionam com as realidades atuais.
Por que estudar História? O conhecimento da História ajuda na compreensão do ser
humano como indivíduo e como coletividade que constrói seu tempo. Um dos grandes valores
do estudo da História está em relacionar os fatos e perceber que as transformações de um país,
grupo ou sociedade não são naturais ou espontâneas, mas sim determinadas por uma série de
fatores que se desdobraram ao longo do tempo e do espaço. Por exemplo, quem está iniciando
o Ensino Médio hoje em dia, provavelmente tem entre 14 e 15 anos. Vive nas primeiras
décadas do século XXI, num mundo informatizado, com comunicações instantâneas e por
diferentes meios, como computadores, celulares, tablets, entre outros. Há também todo um
estilo que caracteriza a juventude do século XXI, estruturado em comportamentos,
maneirismos, modos de falar, roupas e acessórios. Isso ocorre, sobretudo, nos países
ocidentais, constituindo uma espécie de cultura jovem.
Mas por que existe na atualidade essa cultura jovem? Como, quem, quando e onde ela
foi formada? A História ajuda a responder a essas perguntas. Para o historiador britânico Eric
Hobsbawm, grandes e rápidas mudanças ocorreram a partir da segunda metade do século XX,
pelo menos nos países ocidentais. Entre elas, houve o desenvolvimento de uma cultura juvenil
específica, que ampliou a distância entre as gerações. Formado por um grupo que se estendia
da puberdade até os 25 anos de idade, esses jovens passaram a ter desejos, anseios, ideais e
condutas – diferentes das de outras faixas etárias. Essa cultura formou-se, primeiramente, nas
sociedades urbanas dos países capitalistas desenvolvidos e tinha como marcas da sua
“modernidade” o blue jeans e o rock. Na década de 1960, muitos desses jovens participaram de
movimentos políticos radicais em diversos países, como manifestações estudantis por reformas
educacionais, pelo fim de guerras regionais e lutas contra regimes ditatoriais. Para além da
radicalização política, essa juventude representou um novo e potente mercado consumidor para
empresas ligadas à moda e para indústrias fonográficas, principalmente as ligadas ao rock.
Dessa forma, surgiu um novo perfil de jovem, que se identificava pela rebeldia contra o
“sistema” e contra as gerações anteriores, que haviam produzido duas guerras mundiais. Esse
processo levou a uma nova identidade, que valorizava a juventude diante da experiência da
vida adulta. Portanto, para compreendermos a noção de juventude ou qualquer outra nos dias
atuais, é preciso conhecer a História. Nesse sentido, a reflexão histórica se constitui em uma
das ferramentas para a compreensão da realidade, pois ela propicia um diálogo entre o
presente e o passado. Como afirma o historiador francês Marc Bloch, a História é “a ciência
dos homens [dos seres humanos] no tempo que tem de vincular incessantemente o
estudo dos mortos ao dos vivos”.

VISÕES HISTORIOGRÁFICAS

A História está presente nos mais variados aspectos de nossa realidade. Imaginemos,
por exemplo, as suas origens. Provavelmente, você é brasileiro, porém, seus antepassados
podem ter vindo de outros lugares do mundo. Seu bisavô paterno pode, por exemplo, ter vindo
da Itália e sua bisavó materna ser afrodescendente. Nesse caso, você é brasileiro com
ascendência europeia e africana. Ou seja, pesquisando a sua história você pode traçar um perfil
mais completo de quem você é, compreender melhor suas características físicas e também
muitos costumes de sua família. Você pode até descobrir que muitos desses costumes são uma
herança de seus antepassados. Afinal, o passado dialoga com o presente e se reflete nele.
Definir o que é História, porém, é uma questão muito mais complexa. Na atualidade,
muitos historiadores e pesquisadores que escrevem a História refletem sobre o que é História.
As respostas dependem das linhas teóricas e metodológicas adotadas pelos historiadores, além
do tipo de sociedade e dos grupos sociais que eles representam. No século XIX, por exemplo,
a narrativa histórica concentrava-se nos grandes feitos de personalidades importantes, como
estadistas, generais ou autoridades eclesiásticas. A partir da primeira metade do século XX,
uma renovação na historiografia ampliou os objetos e as fontes de estudo dessa ciência. Os
historiadores passaram a incluir em seus estudos múltiplos sujeitos históricos: mulheres,
trabalhadores em geral, crianças, enfim, pessoas comuns, que constroem a história no seu
cotidiano.
PASSADO E PRESENTE

Como vimos, o historiador Marc Bloch ressalta a importância da relação passado-


presente para a pesquisa histórica, mostrando que as questões do presente dirigem o olhar do
historiador para o estudo do passado. E, por outro lado, as reflexões sobre o passado ajudam a
compreender os problemas atuais e influenciam as nossas ações no presente. Uma questão
atual em que a História cumpre um papel muito importante para a reflexão e tomada de
posições é, por exemplo, a preservação das populações indígenas e do seu modo de vida no
território brasileiro. Nativas do território, essas populações sofreram muito com a chegada dos
portugueses, tendo sido vítimas de guerras, epidemias, escravidão e invasão de terras.
Assim, o estudo da História pode nos ajudar a reconhecer a diversidade de povos
indígenas do país, suas necessidades e direitos à terra e à preservação de sua cultura,
colaborando para que possamos ser mais críticos em relação às políticas indigenistas
brasileiras.
Encontram-se cerca de 900 mil indígenas no Brasil, segundo dados do Censo IBGE
2010. Estima-se que, em 1500, esse número variava entre 2 milhões e 4 milhões de pessoas. A
maioria das comunidades indígenas vive atualmente nas chamadas Terras Indígenas (TIs). São
áreas demarcadas pelo governo, que estabeleceu como exclusividade desses povos a
exploração dos recursos naturais dessas regiões. Um dos critérios utilizados para a
demarcação das TIs pela Fundação Nacional do Índio (Funai) é o estudo histórico e
antropológico dessas populações, buscando, assim, delimitar o seu território. Todavia, um dos
grandes desafios da preservação da vida e da cultura dos povos indígenas está no conflito com
algumas empresas agroexportadoras e alguns mineradores, madeireiros e pecuaristas que
praticam o desmatamento e atividades extrativistas ilegais, prejudicando a biodiversidade e
ferindo também o tradicional modo de vida indígena.

O QUE É “PROCESSO HISTÓRICO”?

O estudo de História é muito mais do que a apreensão de fatos históricos situados em


determinado tempo e espaço. Considerar fatos isolados não permite uma análise profunda; é
preciso relacioná-los e analisá-los em conjunto. Essa sequência de fatos, acontecimentos ou de
mudanças ao longo do tempo (as permanências e rupturas) é conhecida como processo
histórico. Para entender melhor o que os historiadores chamam de processo histórico, veja o
exemplo a seguir.
Em 13 de maio de 1888, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, extinguindo a
escravidão no Brasil. Em apenas dois artigos, a abolição da escravatura se concretizou. O
decreto da princesa Isabel, isoladamente, revela pouco sobre o processo de abolição da
escravidão. Pode parecer uma benevolência do Estado e dar a ideia de que, daquele dia em
diante, os negros integravam a sociedade brasileira como cidadãos livres. Porém, ao
considerarmos como se desenrolou o processo da abolição, podemos dar a ela outra
interpretação.
É preciso lembrar da resistência dos escravizados. Por mais de 300 anos, eles
buscaram formas de chamar a atenção para sua situação e protestavam de diferentes
maneiras: diminuindo o ritmo ou paralisando o trabalho, destruindo as máquinas dos engenhos,
organizando fugas, rebeliões e formando comunidades de fugitivos (os mocambos ou
quilombos). Também as transformações no cenário internacional (difusão das ideias iluministas
e as revoluções Industrial e Francesa) do século XVIII abriram, gradualmente, espaços
institucionais para o questionamento da escravidão. Por exemplo, em 1845, o parlamento do
Reino Unido aprovou a Bill Aberdeen, lei que permitia à marinha britânica aprisionar qualquer
navio suspeito de tráfico negreiro.
No Brasil, em setembro de 1850, a Lei Eusébio de Queirós proibiu o atracamento de
navios negreiros em portos brasileiros. Mesmo com o fim do tráfico negreiro, houve resistência
do império em abolir a escravidão, optando por um processo de emancipação lento e gradual,
controlado pelas elites. Em 1871 foi publicada a Lei do Ventre Livre, que tornava livres os filhos
de escravizados nascidos a partir daquela data, ao completarem 21 anos. E, em 1885, veio a
Lei dos Sexagenários, que libertava os escravizados acima de 60 anos. Essas leis, apesar dos
limites que apresentavam, apontavam para o fim da escravidão.
Além disso, entre as décadas de 1870 e 1880, a campanha abolicionista começou a se
difundir por todo o país e a envolver pessoas de variados grupos sociais. Em 1884, as
províncias do Ceará e do Amazonas extinguiram a escravidão. Por fim, em 1888, após muitos
debates entre as elites e pressões externas e internas, aboliu-se a escravidão. Cabe lembrar
que naquele ano apenas 5% da população afrodescendente que vivia no Brasil ainda era
escravizada. Quais mudanças a abolição trouxe à sociedade da época? O negro liberto não
possuía dinheiro, e as terras eram muito caras devido à Lei de Terras. Sem os meios de
sustento, sobrava aos libertos vender sua força de trabalho. Sem o apoio de políticas públicas,
muitos afrodescendentes permaneceram marginalizados na sociedade, pois eram obrigados a
se submeter a um salário de subsistência e a condições de trabalho iguais ou até piores do que
as anteriores.
Em resumo, para entender o fim da escravidão é preciso conhecer e relacionar vários
fatos históricos ligados às lutas de resistência dos escravizados, às ideias iluministas, às
revoluções do século XVIII, às pressões inglesas pelo fim do tráfico negreiro, aos interesses de
parte da elite brasileira (defensora de uma emancipação gradual) e aos movimentos
abolicionistas do Brasil, que pressionaram nas ruas, reunindo multidões contra a escravidão.
Quer dizer, é preciso entender o que chamamos de processo histórico.

MARCANDO O TEMPO

O tempo é uma construção humana e pode ser medido de diversas formas, conforme
as necessidades de cada grupo social. Para várias sociedades indígenas, por exemplo, a noção
de tempo se baseia nos ciclos da natureza, como o período da plantação e da colheita. Com
base nas estações do ano, nas fases da lua, por exemplo, essas sociedades identificam o
melhor momento para semear, colher, pescar, etc. Esse tipo de medição é chamado de tempo
da natureza. No Brasil utiliza-se o calendário gregoriano, elaborado a pedido do papa Gregório
XIII em 1582. Esse calendário tem como marco inicial o ano do nascimento de Cristo (por
exemplo, o ano de 2020 indica que o nascimento de Cristo ocorreu 2020 anos atrás). Trata-se
também de um calendário solar: um ano se completa quando a Terra dá uma volta ao redor do
Sol. Esses são exemplos de tempo cronológico. O tempo cronológico é a forma mais comum de
medição em nossa sociedade.

O TEMPO HISTÓRICO

Os historiadores utilizam-se muito do tempo cronológico para marcar os fatos


históricos. Por exemplo, graças à marcação do tempo cronológico podemos afirmar que no dia
1º de setembro de 1939 iniciou-se a Segunda Guerra Mundial. De acordo com Marc Bloch, o
papel do historiador é ir além da ordenação cronológica dos acontecimentos, sendo seu dever
maior pensar os acontecimentos no tempo da duração, que é um tempo contínuo, mas também
o de mudança constante.
A colonização das terras que hoje conhecemos como Brasil, por exemplo, principiou-se
em 1530 com a expedição de Martim Afonso de Souza, e teve uma ruptura em 1822, quando o
Brasil se tornou um país independente e adotou a monarquia. Podemos, então, dizer que o
tempo histórico da colonização durou de 1530 a 1822. Porém, a manutenção da monarquia e da
escravidão, o poder dos grandes proprietários de terras e a exclusão das camadas mais pobres
da população da vida política por meio do voto censitário demonstravam que também houve
uma continuidade das características do período colonial mesmo depois de ele ter terminado.
Tudo isso são exemplos de permanências. Desse modo, apesar de o Brasil ter se tornado um
país livre, com um governo e uma Constituição próprios, aspectos das estruturas políticas,
sociais e econômicas da época colonial permaneceram quase os mesmos durante o período
monárquico.
Assim, o tempo histórico está intimamente ligado à duração dos processos históricos
de diferentes grupos, sociedades, países, etc. Esse tempo se preocupa com as permanências e
as rupturas nesses processos, mas também diz respeito às cronologias, periodizações,
sucessões ou simultaneidades dos fatos históricos.

DURAÇÃO DOS FATOS HISTÓRICOS

Importante aspecto do tempo histórico relaciona-se à duração dos fatos históricos, que
pode ser de curta, média ou longa duração. Segundo o historiador francês Fernand Braudel, os
fatos de curta duração correspondem a um momento preciso, como nascimento ou morte de
uma pessoa, uma greve ou a assinatura de uma lei. Estes fatos referem-se, principalmente, ao
plano político, como um golpe de Estado ou a renúncia de um presidente. Os fatos de média
duração referem-se a conjunturas políticas ou econômicas, como a ditadura militar brasileira
(1964-1985) ou a Guerra Fria (1945-1991), geralmente, situações vivenciadas por uma geração.
Os fatos de longa duração se ocupam de comportamentos coletivos enraizados, de crenças
ideológicas e religiosas, articulando-se à história cultural e das mentalidades. São exemplos
desse tipo de fato a presença do cristianismo no mundo ocidental e a proibição do incesto.

PERIODIZAÇÃO DA HISTÓRIA

O Homo sapiens está na Terra há mais de 100 mil anos. Como é um período muito
longo, historiadores o dividiram em cinco períodos, conhecidos como Pré-História, Antiguidade,
Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea.
Existem muitas críticas a essa divisão, pois, de modo geral, ela usa basicamente
acontecimentos da História europeia como marcos históricos. O marco do início da Idade
Média, por exemplo, é a queda do Império Romano do Ocidente, no século V; já o que marca o
fim da Idade Moderna e o início da Idade Contemporânea é a Revolução Francesa de 1789.
Apesar da perspectiva eurocêntrica, permite ter uma noção da História como um todo,
observando-se as rupturas de grandes estruturas em processos históricos de longa duração.
SUJEITOS HISTÓRICOS E FONTES

Como já vimos, um fato histórico pode ser de curta, média ou longa duração. Um fato
de curta duração, por exemplo, é um acontecimento pontual (como a assinatura da Lei Áurea)
no tempo (ocorrida em 13 de maio de 1888) e no espaço (no Brasil). Junto com os fatos estão
os sujeitos históricos, ou seja, múltiplos indivíduos, grupos, movimentos sociais, pessoas
comuns, etc. envolvidos nesses acontecimentos. No caso da assinatura da Lei Áurea, por
exemplo, são sujeitos históricos: a princesa Isabel que assinou a lei; os negros que lutaram por
sua alforriam; os abolicionistas; as pessoas que ajudaram os escravizados em suas fugas, etc.
Para a investigação de um fato histórico e dos papéis cumpridos pelos sujeitos, o historiador
deve buscar diferentes fontes, que permitam uma visão ampla do ocorrido.
As fontes podem ser pessoas que viveram naquela época (testemunhas) ou podem vir
de outras evidências, como documentos escritos, artefatos, vídeos e qualquer produto do
trabalho humano. Existem evidências materiais (jornais, fotografias, cartas, pinturas, etc.) e
imateriais, que não são tangíveis, como costumes ou a forma de contar uma história. Utilizando
ainda o caso da Lei Áurea, temos o documento (a lei em si, uma fonte material escrita), que
permite compreender os termos da abolição naquele momento. Uma fotografia das
comemorações ocorridas após a abolição constitui uma fonte material não escrita, uma
representação iconográfica deste acontecimento.

O QUE DIZEM OS FATOS?

Os fatos não falam por si só. O historiador, mesmo encontrando diferentes fontes que
tratam de determinado fato, terá de interpretar as evidências, selecionando-as, classificando-as,
avaliando-as e relacionando-as a outros documentos para chegar a algumas conclusões.
Segundo o historiador britânico Edward Hallett Carr, “os fatos falam apenas quando o
historiador os aborda: é ele quem decide quais fatos vêm à cena e em que ordem ou contexto”.
Nesse sentido, é o historiador quem decide por suas próprias razões que a assinatura da Lei
Áurea é um fato da História, ao passo que a assinatura de tantas outras leis antes ou depois
pode não interessar àquele historiador ou a outros.
Portanto, para um fato do passado se tornar um fato da História (ou histórico) é preciso
que ele seja selecionado por um historiador. Se um historiador do futuro estiver investigando
sobre os meios de transportes utilizados em sua cidade e encontrar um documento que indique
que você e a maioria dos estudantes de sua escola usavam bicicletas, ele pode se interessar
por essa fonte e citar esse fato em sua pesquisa. Outros historiadores podem ler esse trabalho
e também citar tal fato, validando a interpretação feita, por considerarem significativa para o
estudo dos meios de transportes de determinada época. Dessa forma, um fato do passado vai
se transformando em um fato histórico.

HISTÓRIA, MEMÓRIA E CIDADANIA

O estudo da História é essencial para a preservação da memória dos lugares, das


pessoas, dos grupos sociais e das instituições, assim como para o exercício da cidadania.
Como afirma a historiadora brasileira Laura de Mello e Souza: “A História é fundamental para
o pleno exercício da cidadania. Se conhecermos nosso passado, remoto e recente,
teremos melhores condições de refletir sobre nosso destino coletivo e de tomar
decisões.” A cidadania está intimamente ligada à memória. A memória – tanto individual como
coletiva – comporta uma dimensão ambivalente de lembranças e esquecimentos, que compõem
as narrativas do passado de uma pessoa, de uma comunidade e dos lugares onde essas
pessoas vivem. As recordações do passado são sempre as que permanecem vivas, conferindo
algum sentido à experiência individual e social do grupo.
É a partir desse ato de lembrar e de esquecer acontecimentos ou personagens da
história de um grupo social ou de um lugar que o indivíduo e os grupos sociais constroem
paulatinamente a memória individual e coletiva. Assim, a importância da memória, por exemplo,
para a luta contra o racismo, passa, inevitavelmente, pela memória da escravidão, responsável
pela marginalização dos negros por séculos em nossa sociedade. Os direitos das mulheres
também são uma questão de cidadania que passa pela História, pois as mulheres ocuparam
uma posição submissa na sociedade durante muito tempo; condição histórica que sustenta
ainda muito preconceito atualmente. Foi com muita luta que as mulheres conquistaram o direito
ao voto em vários países do mundo. No Brasil, esse direito foi conquistado em 1932.
O conhecimento histórico é necessário em muitas práticas sociais, como no momento
do voto. Em uma democracia representativa, o indivíduo precisa ter consciência do seu poder
de decisão para que ele seja um instrumento efetivo na construção de um mundo melhor.
PATRIMÔNIO CULTURAL: O QUE É?

Patrimônio é tudo o que criamos, valorizamos e queremos preservar: são os


monumentos e obras de arte, e também as festas, músicas e danças, os folguedos e as
comidas, os saberes, fazeres e falares. Tudo enfim que produzimos com as mãos, as ideias e a
fantasia. (Cecília Londres)
A palavra patrimônio vem de pater, que significa pai e tem origem no latim. Patrimônio
é o que o pai deixa para o seu filho. Assim, a palavra patrimônio passou a ser usada quando
nos referimos aos bens ou riquezas de uma pessoa, de uma família, de uma empresa. Essa
ideia começou a adquirir o sentido de propriedade coletiva com a Revolução Francesa no
século XVIII.
Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, o
patrimônio cultural de um povo é formado pelo conjunto dos saberes, fazeres, expressões,
práticas e seus produtos, que remetem à história, à memória e à identidade desse povo.
O patrimônio cultural de uma sociedade é também fruto de uma escolha, que, no caso
das políticas públicas, tem a participação do Estado por meio de leis, instituições e políticas
específicas. Essa escolha é feita a partir daquilo que as pessoas consideram ser mais
importante, mais representativo da sua identidade, da sua história, da sua cultura, ou seja, são
os valores, os significados atribuídos pelas pessoas a objetos, lugares ou práticas culturais que
os tornam patrimônio de uma coletividade (ou patrimônio coletivo).
De acordo com o Art. 216 da Constituição Federal Brasileira de 1988 constituem
patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente
ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira.
São eles: As formas de expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações
científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais
espaços destinados às manifestações artístico-culturais e, os conjuntos urbanos e sítios de
valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
O patrimônio cultural pode ser classificado quanto à sua natureza, que pode ser
material ou imaterial.
O patrimônio cultural material é o conjunto de bens materiais, físicos, que possuem
importância histórica para a formação cultural da sociedade. Podemos destacar como bens
materiais obras de arte, como pinturas e monumentos, cidades, prédios e conjuntos
arquitetônicos, parques naturais, sítios arqueológicos, enfim, tudo aquilo que existe
materialmente e possui algum valor histórico e cultural que o dignifica de ser preservado e
lembrado.
Já o patrimônio cultural imaterial, por sua vez, é definido pela UNESCO como as
práticas, representações, expressões, o idioma e os dialetos, a culinária, as festas populares,
os rituais religiosos, os conjuntos de ditos populares conhecimentos e técnicas – com os
instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as
comunidades, os grupos e, em alguns casos os indivíduos, reconhecem como parte integrante
de seu patrimônio cultural.
No Brasil, temos uma vasta lista de patrimônios materiais e imateriais tombados
pelo Iphan. Entre eles, encontramos artefatos artísticos, igrejas, museus, cidades e patrimônio
imaterial que somam, em sua totalidade, centenas de itens. Para citar dois bons exemplos de
patrimônio imaterial, temos o acarajé, parte da culinária baiana herdeira da cultura africana, e
o frevo, famosa festa tradicional pernambucana.
(A) o Teatro da Paz, no Pará.
1. Leia, atentamente, a letra da música \"Estudo Errado\", (B) o Elevador Lacerda, na Bahia.
de Gabriel O Pensador e responda o que se pede (C) a Serra da Capivara, no Piauí.
abaixo: (D) o Corcovado, no Rio de Janeiro.
(E) a Feira de Caruaru, em Pernambuco.
Eu tô aqui pra quê?
Será que é pra aprender? 3.
Ou será que é pra aceitar, me acomodar e obedecer?
...
Decorei toda lição
Não errei nenhuma questão Não aprendi nada de bom Mas
tirei dez (boa filhão!)
Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci Decorei,
copiei, memorizei, mas não entendi Quase tudo que aprendi,
amanhã eu já esqueci Decorei, copiei, memorizei, mas não
entendi Decoreba: esse é o método de ensino
Eles me tratam como ameba e assim eu num raciocino Não
aprendo as causas e consequências só decoro os fatos
Desse jeito até história fica chato

Mas os velhos me disseram que o \"porque\" é o segredo


Então quando eu num entendo nada, eu levanto o dedo
Porque eu quero usar a mente pra ficar inteligente. "(...) os poucos retratos do período repetem sempre a
De acordo com a letra da música, assinale o item que imagem de um menino nascido rei, ocupado com os seus
corresponde às novas metodologias de ensino de História: afazeres oficiais. Com efeito, ligava-se o jovem príncipe a
(A) A memorização da história amplia a capacidade certa sacralidade. É ao menos esse tipo de idealização que
cognitiva, mas sua eficácia depende de dinâmicas vemos na imagem, de 1839, e em outras do mesmo período
que tornem as aulas menos cansativas. onde D. Pedro paira por sobre as nuvens.\"
SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca
(B) A aprendizagem dos "porquês" da história nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. (adaptado).
compreende a história sem verdades prontas e
acabadas, contribuindo para a formação do cidadão Analisando a estrutura de poder esculpida no império, pode-
crítico. se inferir que a
(C) A memorização das ações dos heróis e/ou vilões da (A) idealização do imperador compunha a estratégia de
história proporciona a construção de uma sociedade construção de uma memória nacional para o
justa e igualitária. controle das massas populares que ameaçavam a
(D) A aprendizagem apenas dos fatos é insuficiente aristocracia.
para compreender a história, sendo necessário (B) criação de uma memória nacional sobre o monarca,
também decorar as causas, as consequências e as revelava o interesse elitista de apoiar a constituição
datas. de um modelo político próximo da educação
(E) A construção de um conhecimento histórico efetivo emancipadora.
não pode acontecer, pois a História necessita de um (C) fabricação do rei, considerado a pupila nacional,
conteúdo científico. estava alicerçada com os intentos de nossas elites
de produzir uma memória histórica crítica.
2. A Caminhada com Maria foi declarada Patrimônio (D) sacralização da imagem do imperador está
Cultural Imaterial do Brasil por sanção da Presidente da associada à natureza católica do Estado brasileiro,
República ao Decreto de Lei do Congresso Nacional. A o que distanciaria o político do povo.
Lei No 13 330 tem como objetivo \"reconhecer a (E) ascensão de D. Pedro II estava sendo preparada
importância da Caminhada com Maria, como forma de pela oligarquia agrária com o intento de motivar a
expressão do patrimônio histórico-cultural-religioso autonomia social.
brasileiro\".
[...] \"A declaração da Caminhada como Patrimônio 4. Ser quilombola, no contexto atual, é ter uma relação
Cultural Imaterial faz eco ao que o povo de Fortaleza, a íntima com a terra em que habitaram seus
segunda capital mais católica do país, já havia declarado antepassados. Assim sendo, devemos distinguir as
através de seu testemunho público de fé\", comenta o especificidades da luta dos quilombolas ao longo do
padre Rafhael Maciel, membro da comissão período escravista como distinta da dos remanescentes
organizadora do evento. [...] de quilombos no contexto atual.
A Caminhada com Maria também consta no calendário RODRIGUES, M. S. Quilombolas. In: STARLING, H. M. M; BRAGA, P. de C.
oficial de eventos do município e do estado e aparece na (Org.).
Sentimentos da terra. Belo Horizonte: PROEX, 2013. p. 191-192. (adaptado)
lista de eventos de turismo religioso do país, do
Ministério de Turismo. O evento reúne mais de 1 milhão
de católicos por edição. As diferenças e especificidades do contexto histórico das
\"CAMINHADA com Maria\" é declarada Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. comunidades quilombolas no período escravista e atual
O POVO, podem ser observadas, respectivamente, no que diz respeito
Fortaleza, 6 jun. 2015. Seção Fortaleza. Disponível em: à luta
<http://www.opovo.com.br>.
Acesso em: 7 out. 2015. (adaptado)
(A) pela democracia e pela reforma agrária.
(B) pelas cotas raciais e pela dignidade social.
O referido evento passa a compor a lista de bens imateriais (C) pela liberdade e pelo acesso à terra.
brasileiros, na qual também está presente (D) pela inclusão política e pela igualdade social.
(E) pela tolerância religiosa e pelas leis trabalhistas.
5. A história nova ampliou o campo do documento (D) a igualdade de gênero já foi alcançada pelas
histórico; ela substituiu a história [...] fundada mulheres, que firmaram seu papel na história
essencialmente nos textos, no documento escrito, por ocidental.
uma história baseada numa multiplicação de (E) o crescimento do papel das mulheres no ocidente
documentos: escritos de todos os tipos, documentos recebe espaço nos debates de forma atemporal.
figurados, produtos de escavações arqueológicas,
documentos orais etc. Uma estatística, uma curva de 8.
preços, uma fotografia, um filme ou, para um passado Maracatu Nação, Maracatu de Baque Solto e Cavalo-
mais distante, um pólen fóssil, uma ferramenta, um ex- Marinho são os novos patrimônios imateriais
voto são, para a história nova, documentos de primeira
ordem. O Maracatu Nação
LE GOFF, Jacques. A história nova. São Paulo: Martins Fontes, 1990. p. 28.
Também conhecido como Maracatu de Baque Virado, o
Em relação às fontes históricas, as transformações Maracatu Nação é uma forma de expressão que apresenta
apontadas no texto trouxeram como consequência a um conjunto musical percussivo e um cortejo real, que sai às
(A) adequação das prioridades de documentos para o ruas para desfiles e apresentações durante o Carnaval. [...].
trabalho do historiador. Os maracatus nação ainda podem remontar às antigas
(B) diminuição das expectativas de abordagem dos coroações de reis e rainhas congo.
problemas históricos.
(C) redução da probabilidade de problematização dos O Maracatu de Baque Solto
fatos históricos.
(D) ampliação dos significados de fontes e objetos A brincadeira ocorre durante as comemorações do Carnaval
históricos. e da Páscoa. É composta por dança, música, poesia e está
(E) afirmação de uma conquista da verdade histórica. associada ao ciclo canavieiro da Zona da Mata; também tem
apresentações na região metropolitana do Recife e em
6. outras localidades. [...] A expressão do Maracatu de Baque
Círio de Nazaré recebe título da UNESCO Solto está tanto na sua musicalidade, um tipo de batuque ou
baque solto, como em seus movimentos coreográficos, na
No dia 7 de outubro de 2014, a Arquidiocese de Belém, no indumentária das personagens e na riqueza de seus versos
Pará, recebeu oficialmente da Organização das Nações de improviso.
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) o
certificado de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. O Cavalo-Marinho
O evento aconteceu durante a abertura do Círio de Nazaré,
celebração religiosa realizada anualmente há 221 anos que No passado, era realizado nos engenhos de cana-de-açúcar
chega a reunir cerca de dois milhões de participantes entre e seu conhecimento é transmitido de forma oral. Durante a
curiosos e devotos pagadores de promessa. Essa festividade apresentação, são representadas as cenas do cotidiano e do
é constituída de vários rituais de devoção (sagrados e mundo do trabalho rural, com variado repertório musical,
profanos) e de expressões culturais, sendo um grande poesia, rituais, danças, linguagem corporal, personagens
momento de reiteração de laços familiares, assim como de mascaradas e bichos. [...] O Cavalo-Marinho realiza-se em
manifestação social e política. um terreiro de chão plano e, geralmente, no ar livre. Reúne
A titulação dada ao Círio de Nazaré justifica-se por ainda um grande número de elementos artístico-culturais e
(A) sua vinculação às mitologias indígenas locais. sócio-históricos, como mestres, e os elementos da vivência
(B) sua ênfase na tradicional devoção popular-familiar. do trabalho rural.
(C) seu caráter político de reforço aos dogmas MARACATU Nação, Maracatu de Baque Solto e Cavalo-Marinho são os novos
católicos. patrimônios imateriais. Iphan, Brasília, 3 dez. 2014. Disponível em:
<http://portal.iphan.gov.br>. Acesso em: 18 abr. 2015. (adaptado)
(D) seu potencial para o turismo ecologicamente
sustentável.
Os novos bens tombados como patrimônios brasileiros, de
(E) seu caráter material antigo encarnado nas igrejas e
acordo com o texto, são
estátuas.
(A) reveladores da dimensão europeia da cultura
popular nordestina.
7. Em uma obra clássica, O segundo sexo, publicada em
(B) importantes do ponto de vista das técnicas materiais
1949, Simone de Beauvoir fez uma observação
do cotidiano.
fundamental: as mulheres não tinham história, não
(C) típicos folguedos de grupos indígenas sujeitos à
podendo, consequentemente, orgulharem-se de si
influência católica.
próprias. Ela dizia, ainda, que uma mulher não nascia
(D) relacionados à mentalidade cultural de grupos
mulher, mas tornava-se mulher. [...] O alerta dado pela
letrados e urbanos.
filósofa francesa serviu como um dos textos
(E) essenciais para a memória e a identidade da
fundamentais para o movimento feminista, movimento
população afro-brasileira.
nascido de outro, em prol dos direitos civis.
FREITAS, Marcos Cezar. Historiografia brasileira em perspectiva. São Paulo:
Contexto, 2010. p. 217. 9. (ENEM DIGITAL 2020) Na maior parte da América
Latina, os museus surgiram no século passado,
Tendo o fragmento de texto como referencial interpretativo, fundados com a intenção de "civilizar", ou seja, de trazer
infere-se que para o Novo Mundo os padrões científicos e culturais
(A) o desenvolvimento de uma historiografia engajada das nações colonizadoras. Os museus seriam, dessa
entregou para as mulheres o sonhado destaque. forma, instituições transplantadas, criadas dentro dos
(B) a história das mulheres foi relegada a um segundo ideais positivistas de progresso. Não por acaso, ficaram,
plano, no qual os direitos civis destas eram em sua maior parte, sujeitos aos moldes clássicos, a
limitados. partir da valorização de aspectos da cultura erudita,
(C) a memória social do movimento pela igualdade de fortemente associados à elite. Era necessário, pois,
direitos privilegia o engajamento das feministas. assumir uma função social de maior alcance e ocupar
um espaço relevante, capaz de atrair grande quantidade 12. A Unesco declarou a roda de capoeira como Patrimônio
de público. Cultural Imaterial da Humanidade. \"O reconhecimento
BARRETO, M. Turismo e legado cultural. Campinas: Papirus, 2002 da roda de capoeira pela Unesco é uma conquista muito
(adaptado).
importante para a cultura brasileira. A capoeira tem
raízes africanas que devem ser cada vez mais
A transformação de um número cada vez mais expressivo de
valorizadas por nós\", destacou a ministra interina da
museus latino-americanos em espaços destinados a
Cultura, Ana Cristina Wanzeler, que acompanhou a
atividades lúdicas e reflexivas está associada ao rompimento
votação em Paris.
com o(a)
(A) utilização de novas tecnologias.
Da marginalização ao reconhecimento internacional
(B) modelo de atrações segmentadas.
(C) participação do setor empresarial.
[...] A capoeira surgiu no século XVII, praticada por escravos
(D) resgate de sentimentos nacionalistas.
africanos como uma mistura de luta, dança e música. Era
(E) ideal de educação tradicional.
uma forma que os escravos tinham de se socializar e lembrar
as suas origens. Seu nome adveio dos campos abertos, sem
10. O Bumba meu boi do Maranhão é uma celebração
vegetação, em que era praticada e
múltipla que congrega diversos bens culturais
que, em algumas partes do Brasil, ainda são conhecidos pelo
associados, divididos entre plano expressivo, composto
nome de capoeira. A técnica também é símbolo de
pelas performances dramáticas, musicais e
resistência, pois era usada como defesa tanto por escravos
coreográficas, e o plano material, composto pelos
quanto por libertos depois do fim da escravidão. Era
artesanatos, como os bordados do boi, confecção de
considerada subversiva e até a década de 1930 foi
instrumentos musicais artesanais, entre outros. [...]
marginalizada. [...]
Profundamente enraizado no cristianismo e, em UNESCO reconhece capoeira como Patrimônio Cultural Imaterial da
especial, no catolicismo popular, o Bumba meu boi Humanidade. Deutsche Welle, 27 nov. 2014.
envolve a devoção aos santos juninos São João, São Disponível em: <http://www.dw.de>. Acesso em: 15 jun. 2015. (adaptado)
Pedro e São Marçal. Os cultos religiosos afro-brasileiros
do Maranhão também estão presentes, como o Tambor O reconhecimento da roda de capoeira como Patrimônio
de Mina e o Terecô, caracterizando o sincretismo entre Imaterial da Humanidade representa a
os santos juninos e os orixás, voduns e encantados que (A) importância econômica e política do Brasil no
requisitam um boi como obrigação espiritual. cenário internacional.
BUMBA meu boi do Maranhão é o mais novo patrimônio cultural brasileiro. (B) adoção de políticas compensatórias culturais para
Iphan.31 ago. 2011. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br>. Acesso em: 9 os afrodescendentes.
ago. 2016.
(C) valorização da diversidade étnica e cultural na
construção de uma nação.
O texto anterior evidencia o Bumba meu boi como uma
(D) exploração do potencial mercadológico da luta no
prática cultural que
contexto da globalização.
(A) garante o desenvolvimento econômico regional.
(E) crítica internacional à falta de reconhecimento da
(B) comprova o convívio da diversidade cultural no
capoeira dentro do Brasil.
Brasil.
13.
(C) unifica todas as atividades culturais do estado do
Contra a crise, Grécia vai alugar sítios arqueológicos
Maranhão.
Dinheiro pago pelas empresas será usado na manutenção e
(D) equivale ao Carnaval, pela diversidade de ritmos
monitoramento dos locais; primeiro sítio a ser aberto será a
musicais e cores.
Acrópole
(E) resulta da divergência entre catolicismo popular e
17 de janeiro de 2012. Agência Estado
religiões africanas.

11. A charge a seguir satiriza a reação da população frente


a vitória da seleção brasileira no Campeonato Mundial
de Futebol de 1970, época em que o país passava por
uma ditadura militar.

Empresas poderão alugar a Acrópole por € 1.600 por dia. Foto: Adriana
Moreira A/E

ATENAS - Numa medida que deve deixar muitos gregos e


estudiosos horrorizados, o Ministério da Cultura da Grécia
A charge apresentada simboliza
informou nesta terça-feira que vai abrir alguns de seus mais
(A) o movimento ufanista como forma de exaltação à
estimados sítios arqueológicos para empresas de
pátria.
publicidade e de outros setores.
(B) a alienação do povo iludido pela conquista da Copa
O Ministério disse que a medida é uma forma sensata de
do Mundo.
ajudar a \"facilitar\" o acesso às ruínas gregas e que o
(C) o favorecimento da classe trabalhadora com o
dinheiro gerado será usado na manutenção e
milagre econômico.
monitoramento dos locais. O primeiro local a ser aberto será
(D) a desvinculação entre futebol e política durante a
a Acrópole.
ditadura militar.
Iniciativas como essa são, há décadas, condenadas por
(E) o apoio dos jogadores da seleção brasileira de
arqueólogos como um sacrilégio. Mas o Ministério da Cultura
futebol à redemocratização.
disse que o aluguel de sítios históricos será sujeito a
condições rigorosas. A Grécia precisa de cada euro que 15.
conseguir. Os cofres públicos estão vazios e o país luta para
evitar um default histórico em março. A Grécia recebeu ajuda TEXTO I
da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional em
maio de 2010 e está no processo para receber um segundo O Decreto no 3 551, de 4 de agosto de 2000, instituiu o
pacote de resgate, embora enfrente problemas com credores Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que
privados para reduzir sua enorme dívida. constituem patrimônio cultural brasileiro e criou o Programa
O uso comercial de locais arqueológicos era, até agora, Nacional do Patrimônio Imaterial, este concebido com o
responsabilidade do Conselho Central de Arqueologia, que é objetivo de implementar inventário, referenciamento e
extremamente criterioso na permissão de acesso. valorização desse patrimônio.
ALVES, Alexandre Ferreira de Assumpção. O tombamento como instrumento
Nas últimas décadas, apenas um seleto grupo de pessoas, de proteção ao
dentre eles a cineasta Nia Vardalos e o diretor norte- patrimônio cultural. Revista Brasileira de Estudos Políticos. v. 98. p. 84, 2008.
americano Francis Ford Coppola receberam permissão para
usar a Acrópole, enquanto a maioria dos pedidos para TEXTO II
gravação de filmes e comerciais foi recusada. As
informações são da Dow Jones. Recentemente, construiu-se uma nova qualificação: o
\"patrimônio imaterial\" ou \"intangível\". Opondo-se ao
Observando o texto acima e levando em consideração os chamado \"patrimônio de pedra e cal\", aquela concepção
conhecimentos sobre cultura e patrimônio, pode- se afirmar visa a aspectos da vida social e cultural dificilmente
que: abrangidos pelas concepções mais tradicionais. [...]
(A) A Acrópole, como patrimônio e exemplo de cultura Diferentemente dessas concepções, não se propõe o
imaterial, não pode ser usada comercialmente, pois tombamento dos bens listados nesse patrimônio.
corre o risco de deterioração. A proposta é no sentido de \"registrar\" essas práticas e
(B) A medida, apesar de polêmica, reflete o cuidado representações e de fazer um acompanhamento para
das autoridades e representa uma prática comum verificar sua permanência e suas transformações.
na política grega, uma vez que o país sempre GONÇALVES, José Reginaldo Santos. O patrimônio como categoria de
pensamento. In: ABREU, Regina; CHAGAS, Mário (Org.).
enfrentou em sua história gravíssimas crises Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. 2. ed. Rio de Janeiro:
econômicas. Lamparina. p. 25. (adaptado)
(C) As críticas contra a medida explicam-se pela
necessidade de preservação da Acrópole enquanto De acordo com os textos, pode-se considerar que o registro
patrimônio histórico e de sua valorização dos patrimônios imateriais é importante para a história, pois
como produto cultural material e não como simples (A) cataloga os aspectos valorativos que não mais
produto econômico. existem no país.
(D) Apesar de importante, a Acrópole não representa o (B) mapeia práticas sociais e culturais do território
patrimônio cultural grego mais importante e, por brasileiro.
isso, sua abertura para empresas de publicidade foi (C) preserva, fidedignamente, aspectos socioculturais
permitida. imutáveis.
(E) Segundo o texto, o aluguel dos sítios arqueológicos (D) materializa o patrimônio intangível pelo processo de
gregos foi uma decisão da União Europeia, que tombamento.
controla o patrimônio histórico dos países membros. (E) valoriza o patrimônio chamado "de pedra e cal".

14. No dia primeiro de março de 2001, o grupo extremista 16. Em 1697, publicou-se, em Lisboa, \"A arte da língua de
islâmico Talibã, que controla 90% do Afeganistão, iniciou Angola\", a mais antiga gramática de uma língua banto,
a destruição de centenas de estátuas com valor cultural escrita na Bahia, para uso dos jesuítas, com o objetivo
inestimável por considerá-las ofensivas a um preceito de facilitar a doutrinação de negros angolanos. Os
islâmico contrário à adoração de imagens. Um dos aportes bantos ou \"bantuismos\", palavras africanas que
principais centros da campanha lançada pelo governo se incorporaram à língua portuguesa no Brasil, estão
do Talibã para destruição das imagens é a cidade de associados ao regime da escravidão (senzala, mucama,
Bamiyan, que abriga duas estátuas gigantes de Buda banguê, quilombo). A maioria dessas palavras está
datadas do século V. completamente integrada ao sistema linguístico do
INTOLERÂNCIA do Talibã destrói patrimônio histórico. HistóriaNet. Seção. português brasileiro, formando derivados da língua com
Atualidades. base na raiz banto (esmolambado, dengoso, sambista,
Disponível em: <http://www.historianet.com.br>. Acesso em: 3 nov. 2015.
(adaptado)
xingamento, mangação, molequeira, caçulinha,
quilombola).
CASTRO, Yeda P. de. Das línguas africanas ao português brasileiro. Revista
As ações cometidas pelo grupo Talibã representam a eletrônica do IPHAN. Dossiê Línguas do Brasil, nº 6 - jan/fev. 2007.
destruição de valores seculares da população de vários Disponível em: <http://www.revista.iphan.gov.br/materia.php?id=214>. Acesso
países asiáticos, ameaçando em: 09 fev.2009 (adaptado).
(A) o patrimônio histórico material.
(B) a uniformidade étnico-cultural do povo oriental. Dado o fato histórico-linguístico de incorporação de
(C) o patrimônio imaterial da sociedade muçulmana. \"bantuismos\" na língua portuguesa, conclui-se que
(D) a unidade política territorial secular do Afeganistão. (A) os grupos dominantes recusam a cultura de setores
(E) a materialização da unidade religiosa em torno do menos favorecidos da sociedade.
islamismo. (B) os jesuítas foram os responsáveis pela difusão da
língua banto no Brasil.
(C) o idioma dos escravos tinha prestígio social, a ponto
de merecer um estudo gramatical no século XVII.
(D) os vocábulos portugueses derivados das línguas
banto evidenciam a ocorrência de uma ruptura entre
essas línguas.
(E) a língua é um fenômeno orgânico e histórico cuja
dinâmica impossibilita seu controle.
17. (Upe-ssa 1) A Europa é uma criação feita diante do (D) periodização da história em alguns países é
outro. Suas fronteiras são culturais e se opõem em três equivocada.
ao que não é Europa: a Ásia, os Árabes, que assediam (E) sistematização da história não depende das
a Europa, primeira frente antieuropeia; o ‘leste’ sempre referências do passado.
indefinido; e finalmente o Oceano”.
FEBVRE, Lucien. A Europa – gênese de uma civilização. Bauru: Edusc, 2004, 20. (Upe) A diversidade dos testemunhos históricos é quase
p. 118-121. (Adaptado)
infinita. Tudo o que o homem diz ou escreve, tudo o que
fabrica, tudo o que toca pode e deve informar sobre ele.
O trecho acima representa certa historiografia europeia, que BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro:
se caracteriza pelo Jorge Zahar Editor, 2001, p. 79. (Adaptado).
(A) Multiculturalismo – valoriza as contribuições das
diversas populações na criação da civilização Sobre as fontes históricas, com base no texto acima, é
europeia. possível inferir que
(B) Orientalismo – entende o Oriente como uma criação (A) O pensamento marxista aboliu a utilização de fontes
pacífica e igualitária do Ocidente. escritas nas pesquisas históricas.
(C) Eurocentrismo – entende a Europa como centro da (B) A afirmação do texto sintetiza a nova perspectiva
civilização, ameaçada pela barbárie e obrigada a historiográfica sobre as fontes históricas.
expandir os limites da Humanidade. (C) Os utensílios produzidos pelo homem se
(D) Humanismo – percebe uma mesma essência em enquadram como registros arqueológicos e não
todas as manifestações do gênio humano, como fontes para o historiador.
disfarçada por elementos culturais diversos. (D) Marc Bloch, no texto, defende a primazia das fontes
(E) Materialismo Histórico – privilegia os elementos escritas.
econômicos sobre os culturais e políticos. (E) A escola positivista foi a primeira a fazer uso da
chamada história oral.
18. 18. (Uel) Leia o texto a seguir.

Foi Renan, acho, quem escreveu um dia (cito de memória;


portanto receio, inexatamente): “Em todas as coisas GABARITO
humanas, as origens em primeiro lugar são dignas de 1 B 6 B 11 B 16 E
estudo”. E Saint-Beuve antes dele: “Espio e observo com 2 E 7 B 12 C 17 C
curiosidade aquilo que começa”. A ideia é bem de sua 3 A 8 E 13 C 18 E
época. A palavra origens também. Mas a palavra é 4 C 9 E 14 A 19 C
preocupante, pois equívoca. 5 D 10 B 15 B 20 B
Adaptado de: BLOCH, M. Apologia da História ou O ofício do historiador. Rio
de Janeiro: Zahar, 2002. p.56.

Com base no texto, assinale a alternativa que apresenta,


corretamente, a escola historiográfica que se posiciona sobre
esse tema e a tese correspondente.
(A) Escola Metódica – compreende a origem como o
princípio dos estudos históricos.
(B) Escola Marxista – considera os estudos culturais
como fundamento da crítica.
(C) Escola Idealista – concebe a história como a
realização humana no tempo.
(D) Escola de Frankfurt – formula a ideia da invenção
das tradições históricas.
(E) Escola dos Annales – considera mitologia a busca
pelas origens.

19. (Uema) É preciso advertir desde já que esse sistema


quadripartite [dividido em quatro partes] de organização
da história universal é um fato francês. Em outros
países, o passado está organizado de modo diferente,
em função de pontos de referência distintos.
CHESNEAUX, Jean. Devemos fazer tábula rasa do passado? Sobre a história
e os historiadores. Trad. de Marcos A. da Silva. São Paulo: Ática, 1995, p. 93.

O texto faz referência a um “sistema quadripartite”, ainda


muito presente nos materiais didáticos de História do Ensino
Básico no Brasil. Esse “sistema” divide a história em Antiga,
Medieval, Moderna e Contemporânea. Sobre essa divisão, o
autor observa que a
(A) conceituação de história universal é sempre
francesa.
(B) divisão da história em períodos prejudica o seu
estudo.
(C) organização da história como campo de estudo é
uma construção cultural.
urante os chamados tempos “pré-históricos”, a relação homem-natureza caracterizou-se

D pelo equilíbrio, uma vez que nossos ancestrais do Paleolítico e de parte do Neolítico se
percebiam, muito provavelmente, como parte da própria natureza. Entretanto, há
aproximadamente 10 mil anos, quando os seres humanos desenvolveram as primeiras técnicas
agrícolas e a domesticação de animais, essa relação começou a mudar e, nos últimos 200
anos, ela se modificou de forma radical.

INTRODUÇÃO

Considerando-se o atual estágio das pesquisas antropológicas, foi há “apenas” 200 mil
anos que os primeiros homens — com constituição anatômica semelhante à nossa — teriam
surgido, originalmente, no continente africano.
Eles foram denominados Homo sapiens sapiens, isto é, homens verdadeiramente
inteligentes. Essa expressão provém do latim, (Homo = homem; sapiens = inteligente). A partir
de então, sucessivas migrações, ocorridas há aproximadamente 100 mil anos, possibilitaram
que este ser humano “moderno” ocupasse, em diferentes momentos, todo o planeta.
No entanto, muito tempo antes disso, há aproximadamente 2,5 milhões de anos, a primeira
espécie humana, o Australopithecus — expressão de origem latina que significa “macaco do
sul” — já habitava o continente africano e, mais importante, já fabricava ferramentas de pedra.
Do ponto de vista anatômico, essa espécie era bem diferente do homem moderno,
considerando-se que foi há cerca de 1,5 milhão de anos que surgiu o Homo erectus, expressão
latina que significa “homem ereto”, isto é, capaz de caminhar e que já fabricava um maior número
de ferramentas para usos mais variados.
Porém, foi apenas com o surgimento do Homo sapiens (homem inteligente), há 250 mil
anos, que os homens foram além da fabricação e utilização de ferramentas. Com essa espécie,
os mortos passaram a ser sepultados, inclusive com objetos de uso pessoal, como ferramentas
e até mesmo colares, numa indicação, segundo especialistas, de que nessa época já havia
crenças coletivas em forças sobrenaturais e até mesmo expectativa de vida após a morte.
Partindo do centro e do sul da África, o Homo sapiens sapiens deslocou-se lentamente
(aproximadamente cinco quilômetros a cada geração), através do norte do continente, para a
Europa e a Ásia. Num segundo momento, entre aproximadamente 12 mil e 50 mil anos,
indivíduos dessa espécie atingiram o continente americano em diversas correntes migratórias
que cruzaram o Estreito de Bering, considerado a mais provável “porta de entrada” do homem
moderno na América.

A REVOLUÇÃO NEOLÍTICA

Assim, percebe-se que os homens, desde o seu surgimento no planeta, fabricaram


ferramentas variadas e com propósitos diversos. Entretanto, foi a partir da Revolução Neolítica,
há cerca de 12 mil anos, que os homens passaram a produzir ferramentas mais sofisticadas (de
pedra polida) ao mesmo tempo em que a dependência em relação à caça e à coleta de frutos
e raízes foi superada em função do surgimento da agricultura e da domesticação de animais.
A partir desse momento, os seres humanos, por meio do trabalho, utilizando suas forças
física e intelectual, passaram a agir de uma forma mais intensa sobre a natureza,
estabelecendo relações mais complexas na organização da produção.

REVOLUÇÃO NEOLÍTICA: UMA NOVA RELAÇÃO HOMEM-NATUREZA

“Durante todas as prolongadas Épocas _Glaciárias, o homem não realizara nenhuma


modificação fundamental em sua atitude para com a natureza exterior. Limitara-se a colher o
que lhe era possível conseguir, embora tivesse aperfeiçoado muito os métodos de coleta e
aprendido a selecionar o que colhia.
Pouco depois do término das Épocas Glaciárias, a atitude do homem (ou melhor, de umas
poucas comunidades) em relação ao ambiente sofria uma transformação radical, com
consequências revolucionárias para a totalidade da espécie. (...) O homem começou a controlar
a natureza, ou pelo menos conseguiu controlá-la cooperando com ela.
Os passos pelos quais esse controle se efetivou foram gradativos, e seus efeitos, cumulativos.
Mas entre eles podemos distinguir alguns que se destacam como revoluções. A primeira
revolução que transformou a economia humana deu ao homem o controle sobre o
abastecimento de sua alimentação. O homem começou a plantar, cultivar e aperfeiçoar, pela
seleção, as ervas, raízes e árvores comestíveis. E conseguiu domesticar e colocar sob sua
dependência certas espécies de animais, em troca do alimento, da proteção que podia oferecer.
(...)
Como revolução, a adoção de uma economia produtora de alimentos influiu na vida de todos os
interessados, refletindo- -se na curva populacional. E claro que não existem estatísticas vitais’
para provar que esse possível aumento de população tenha ocorrido realmente. Mas é fácil ver
que assim foI. A comunidade dos coletores de alimentos havia sido limitada, no tamanho, pelo
abastecimento de alimento existente — pelo número de animais de caça, do peixe, das raízes
comestíveis e das frutas que cresciam em seu território.
(CHILDE, V. Gordon. A Evolução Cultural do Homem. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1966. p. 77-80.)

Nenhum esforço humano podia aumentar esse suprimento, qualquer que fosse a opinião
dos mágicos. Na verdade, os melhoramentos na técnica ou intensificação da caça e coleta,
além de um determinado ponto, resultam no extermínio progressivo da caça e numa diminuição
absoluta do suprimento. E, na prática, as populações caçadoras parecem ajustar-se
perfeitamente aos recursos de que dispunham. O cultivo do alimento derruba imediatamente os
limites até então impostos. Para aumentar o abastecimento, basta semear mais e colocar mais
terra em uso. Se houver mais bocas a alimentar, haverá também maior número de mãos para
cuidar dos campos.”
É importante considerar que, antes da Revolução Neolítica, os homens estavam limitados
ao tipo de vida social que lhes era possível desenvolver, pois viviam em grupos pequenos com
a constante preocupação de conseguirem se alimentar por meio da caça e da coleta.
A partir da Revolução Neolítica, os grupos humanos desenvolveram uma fonte de
alimentos segura, tornaram-se gradativamente sedentários e ampliaram seu universo cultural, o
que abriu perspectivas para o desenvolvimento da escrita no final do período Neolítico.

DO HOMO FABER AO HOMO ECONOMICUS

“Quando, ainda na Pré-história, o homem trocou a vida nômade pela vida em pequenas aldeias,
aprendeu a acolher e domesticar pequenos animais, iniciando-se na vida pastoril. Dispunha,
então, de carne, leite, tirava manteiga, coalhava o leite, fazia queijo, fiava a lã, tecia agasalhos.
(...)
Com o desenvolvimento da inteligência, o Homo faber passou ao artesanato e descobriu como
guardar e conservar os alimentos. Da pedra polida fez instrumentos de caça e objetos
domésticos, moldou o barro e endureceu-o na brasa, fazendo tijolos, figuras de divindades e
vasilhames. (...)
Entre duas pedras moeu o grão, fez a farinha, amassou o pão e assou-o no forno. Fermentou a
cevada e fez a cerveja. (...) Com os progressos dessa chamada Revolução Neolítica fundiu o
bronze, o cobre, o ouro. O crescimento demográfico obrigou o Homo economicus a descobrir
novas técnicas de produzir e conservar alimentos.”
(ORNELLAS, Lieselotte Hoeschl. A alimentação através dos tempos. 3. ed. Florianópolis: Editora da UFSC 2003. 307 p.
ilust.

Foi no final do período Neolítico que os homens cada vez mais se perceberam como seres
sociais e produtores, inclusive de cultura. Eles passaram a criar símbolos, desenvolvendo uma
comunicação complexa e diversificada, ao mesmo tempo em que foram capazes de transmitir o
conhecimento apreendido, valendo-se da linguagem oral, gestual e imagética.
É importante considerar, ainda, que a Revolução Neolítica, pelos seus impactos —
sedentarização, formação de aldeias e agrupamentos urbanos, divisão e especialização do
trabalho, expansão agrícola e domesticação de animais, produção de excedentes e surgimento
do comércio —, foi decisiva na história da sociedade humana. Sua importância é comparável ao
processo histórico que se verificou mais recentemente: a Revolução Industrial e a consolidação
da produção capitalista.

A sedentarização do homem e o surgimento das cidades

O desenvolvimento da agricultura e da pecuária permitiu uma vida sedentária, fortalecendo os


laços da comunidade. Surgiram as aldeias e as necrópoles.
Foi também a partir desse momento, a medida que a divisão do trabalho — inclusive sexual —
se tornava mais rígida, que o próprio conceito de propriedade privada começou a se
desenvolver ao mesmo tempo em que o patriarcalismo se impôs nas relações familiares.
O texto a seguir possibilita uma interessante reflexão sobre o impacto das transformações
decorrentes de uma divisão do trabalho mais complexa e a consequente passagem do
matriarcado para o patriarcado.
Na sociedade de clãs, inicialmente, cabia à mulher um importante papel no mundo do
trabalho: graças a ela garantia-se a subsistência dos membros de um acampamento, uma vez
que ela semeava os grãos e participava da colheita. Mão por acaso alguns autores consideram
que, nesse período inicial do Neolítico, no qual a mulher desempenhava o papel principal na
organização da produção, predominou o matriarcado.
Continuamos ainda a ignorar quando e como é que os rebanhos deixaram de ser
propriedade comum da tribo e passaram a pertencer aos diferentes chefes de família. Com o
aparecimento dos rebanhos e outras riquezas novas, aconteceu uma revolução na família.
Os rebanhos eram uma nova fonte de alimentos e utilidades. A sua domesticação e a sua
criação competiam ao homem. Por isso o gado lhe pertencia, assim como as mercadorias que
obtinha em troca dele. Todo excedente, isto é, o que era produzido além do necessário à
subsistência, pertencia ao homem. A mulher participava no consumo, mas não na propriedade.

UMA REVOLUÇÃO NA FAMÍLIA

O ‘selvagem’ — guerreiro e caçador — tinha se conformado com o segundo lugar que ocupara.
O pastor, envaidecido com a riqueza, tomou o primeiro lugar, relegando a mulher para o
segundo plano. O trabalho doméstico da mulher perdia agora a sua importância, comparado
com o trabalho produtivo do homem. Este trabalho passou a ser tudo; aquele (o da mulher),
uma insignificante contribuição.”
(ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. São Paulo: Global, 1984. p. 217-218.
Adaptado.)

Assim, em fins do Neolítico, inúmeras transformações haviam se processado na vida dos


homens. De uma maneira geral, pode-se afirmar que foi nessa época que:
➢ ocorreu a imposição da família patriarcal e a mulher foi relegada a um segundo plano;
➢ consolidou-se o processo de sedentarização e surgiram aldeias, núcleos urbanos e
necrópoles;
➢ desenvolveu-se a agricultura, a domesticação de animais e a formação de rebanhos;
➢ ampliou-se o universo cultural de alguns grupos humanos que inclusive desenvolveram
a escrita;
➢ os homens passaram a valer-se de símbolos e diferentes linguagens, não apenas para
registrar, mas também para transmitir o conhecimento;
➢ superou-se a noção de que os bens eram propriedade comum de uma tribo;
➢ tornaram-se mais complexas as formas de organização da produção, inclusive com a
modificação da natureza da propriedade que, em algumas comunidades, passou a ser
privada.

É senso comum que foi no chamado Crescente Fértil que se desenvolveram, inicialmente,
as técnicas agrícolas e a própria agricultura. Outras civilizações também se desenvolveram às
margens de grandes rios, como o Indo, na índia, e o Amarelo, na China.
Com a experiência na agricultura, os homens passaram a conhecer melhor a natureza, como
as estações de chuva e seca e a época apropriada para a semeadura e para a colheita. Assim,
essas comunidades de agricultores e pastores passaram a reverenciar alguns elementos da
natureza, como o sol, que, por sua importância na vida humana e na agricultura, passou a ser
visto como uma divindade.
Desta forma, desenvolveram-se cerimônias e ritos nos quais os homens agradeciam as
boas colheitas e pediam que as chuvas viessem na época adequada e na quantidade certa.
Os progressos técnicos desse período, em grande parte decorrentes do desenvolvimento
das técnicas de fundição de metais, foram muito significativos. Com a ligação do cobre e do
estanho, descobre-se o bronze, bem mais resistente. A partir daí verifica-se a fabricação de
novas armas e instrumentos, além de joias e utensílios diversos. Por fim, a metalurgia do ferro
vai substituindo a do bronze, garantindo aos grupos humanos que dominam essa técnica uma
significativa preponderância sobre outros grupos.
Foi também nessa época que se inventou a roda, o arado e o tear. Ao mesmo tempo,
grandes obras de engenharia hidráulica, como canais de irrigação e diques, contribuíram para o
desenvolvimento da agricultura, o que possibilitou um aumento expressivo de excedentes
agrícolas capazes de alimentar uma população cada vez maior.
Os locais onde aconteceram essas importantes modificações correspondem àqueles nos
quais surgiram as primeiras cidades, formadas a partir da aglomeração de pessoas às margens
dos rios e da necessidade de ações coletivas para ter um melhor aproveitamento do solo.
As cidades se diferenciavam das aldeias também porque nelas a divisão do trabalho era
mais complexa. Nesse contexto, a produção de excedentes possibilitou o desenvolvimento do
comércio entre diversos grupos humanos.
Ao mesmo tempo, exatamente por causa do excedente agrícola, algumas pessoas podiam
dedicar-se a outras atividades que não àquelas diretamente vinculadas ao processo de
produção, o que possibilitou o aparecimento de funções administrativas, militares e religiosas,
por exemplo.
Pouco a pouco, decisões políticas, administrativas e militares passaram a ser exercidas por
determinadas pessoas — geralmente, o chefe de uma família mais influente e poderosa numa
determinada região. Muitas vezes, esses chefes impunham pela força a sua vontade dentro da
comunidade. Para muitos estudiosos, a origem do Estado encontra-se nessa nova organização
política que se desenvolveu ao final da Idade dos Metais, caracterizada por uma crescente
centralização política.
Por fim, foi no contexto de uma organização da produção mais complexa que as cidades
se multiplicaram e os primeiros Estados se constituíram. A necessidade de se registrar de forma
mais sistemática o que antes era “guardado na memória” também se impôs.
É importante considerar, no entanto, que todas essas transformações não ocorreram de
forma simultânea com os diversos grupos humanos. Ao mesmo tempo, vale ressaltar que elas
não ocorreram de forma abrupta. Trata-se de um processo histórico que, em muitos casos, teve
uma longa duração e, em parte, foi influenciado pelo meio no qual os homens agiram, assim
como pelas formas de organização da produção e pelas relações que estabeleceram entre si.
A importância do aparecimento da escrita é tão grande que alguns estudiosos chegaram a
afirmar que ela seria o divisor entre a Pré-História e a História. Tudo isso precisa, no entanto,
ser relativizado e repensado, uma vez que, mesmo antes da escrita, os homens faziam a sua
história.
A introdução da linguagem escrita provocou mudanças significativas nas maneiras de viver
e de pensar nas primeiras gerações que se depararam com essa nova forma de comunicação.
Da mesma forma, o surgimento dos computadores de uso pessoal, em fins do século XX,
também provocou impactos na sociedade. O texto a seguir propicia a compreensão de como a
escrita se desenvolveu, destacando, inclusive, as razões pelas quais os seres humanos
passaram a se valer dos registros.

D
e uma maneira geral, os estudiosos são unânimes em apontar a região do Crescente
Fértil como aquela na qual se desenvolveram algumas das primeiras civilizações
humanas, mais precisamente a egípcia e a mesopotâmica.
A partir de, aproximadamente, 4000 a.C., núcleos urbanos estavam se constituindo, a estrutura
social das antigas comunidades já estava em processo de dissolução e poderosos Estados
eram organizados.
Ao mesmo tempo, os primeiros sistemas de escrita (hieroglífica no Egito Antigo e
cuneiforme na Mesopotâmia) eram desenvolvidos, e grandes obras de engenharia começaram
a ser construídas.
Numa fase bastante primitiva do desenvolvimento da produção, a força de trabalho do
homem se tornou apta para produzir consideravelmente mais do que era preciso para a
manutenção do produtor. Essa fase de desenvolvimento é, no essencial, a mesma em que
nasceram a divisão do trabalho e a troca entre indivíduos.
No entanto, nessas sociedades, embora houvesse escravidão, em momento algum o
trabalho escravo foi hegemônico e fundamental na organização da produção.

EGÍPCIOS

Unificação do Alto e do Baixo Egito: ocorreu por volta de 3000 a.C. Mênfis se torna a capital
do reino. Expansão do artesanato e do comércio.
Antigo Império: cerca de 3000 a.C. até 2300 a.C. Período caracterizado pelo fortalecimento do
poder dos faraós. Construção das grandes pirâmides da cidade de Gizé.
Médio Império: por volta de 2300 a.C. até 1640 a.C. Após um período de crise, o poder central
se restabeleceu. Novo Império: entre 1640 a.C. a 1070 a.C. Época de maior expansão dos
domínios egípcios.
Período Tardio: 712 a.C. até 332 a.C. Momento de reunificação do império egípcio. No final
desse período, o Egito se tornou uma província dos persas.

MESOPOTÂMICOS

Dos povos que habitaram esta região destacaram-se:


Sumérios: chegaram à região por volta de 3500 a.C., foram os primeiros a se organizar em
cidades-estados.
Acádios: sua dinastia teve início em 2350 a.C., submetendo as cidades sumérias e o norte da
Mesopotâmia.
Assírios: entre 1700 a.C. e 612 a.C., eles estabeleceram um vasto império. Posteriormente
foram dominados pelos babilônicos.
Babilônicos: fundaram a cidade de Babilônia por volta de 1900 a.C. A partir do reinado de
Hamurábi, a Babilônia se tornou uma das cidades mais importantes da região.

PERSAS

Estabeleceram-se na região do Elam e no planalto do Irã por volta de 2000 a.C.,


juntamente com os medos.
Império Aquemênida: fundado por volta de 550 a.C., caracterizou-se como o período de
ascensão dos persas ao poder e pela grande expansão territorial de seus domínios. A expansão
persa teve como principal obstáculo a resistência grega, com os quais entraram em combates
por diversas vezes. Essas batalhas foram narradas sobretudo pelo historiador Heródoto de
Halicarnasso.
O império persa foi finalmente esfacelado por volta de 331 a.C., devido às revoltas internas
e aos ataques das tropas de Alexandre Magno, da Macedônia.

FENÍCIOS

Por volta de 3000 a.C., seus ancestrais estabeleceram-se na região do atual Líbano. Eles
organizaram-se em cidades-estado, mas não constituíram um reino unificado. Suas diversas
cidades-estado exerceram, sucessivamente, certa hegemonia na região. Biblos foi a primeira
cidade a se destacar durante todo o terceiro milênio antes de Cristo, sofrendo grande influência
egípcia, com o qual comerciava. Sidón destacou-se, entre 1400 e 1100 a.C., tendo seus
colonos se estabelecido no norte da África, fundando a cidade de Cartago. Os fenícios se
caracterizaram pela atividade comercial, viajando por todo o mar Mediterrâneo até o norte da
Europa, na costa atlântica.

HEBREUS

Período dos patriarcas: ocorrido entre 1900 a.C. e 1500 a.C., caracterizou-se pela instalação
de seus ancestrais na região da Palestina.
Período egípcio: por volta de 1500 a.C. os hebreus de Canaã migraram para o Egito. Por volta
de 1250 a.C. ocorreu o êxodo dos hebreus de volta para a Palestina. Nesse período os hebreus
se dividiam em 12 clãs.
Período dos juízes: entre 1200 a.C. e 1100 a.C., os hebreus combateram os filisteus e os
amoritas. Em 1020 a.C., Saul foi escolhido para ser o rei dos hebreus, unificando os clãs.
Período dos reis: de 1004 a.C. a 600 a.C. os hebreus consolidaram seu reino. Em 722 a.C. os
assírios conquistaram Israel, exceto o reino de Judá. Em 586 a.C., os babilônicos dominaram
Judá.

As estruturas das sociedades orientais

Organização econômica

A agricultura era a principal atividade econômica de praticamente todos os povos antigos,


ainda que o artesanato e o comércio tenham se desenvolvido de forma extraordinária em
algumas regiões.
Outro aspecto de fundamental importância na economia dos povos do Oriente antigo era o
controle das atividades pelo Estado. O historiador brasileiro Ciro Flamarion Cardoso, estudando
o Egito, analisou esse controle, explicação que pode ser estendida a quase todos os povos que
estamos estudando:

Assim, um dos traços mais visíveis da economia egípcia antiga era, sem dúvida, o estatismo
faraônico: a quase totalidade da vida econômica “passava” pelo rei e seus funcionários, ou
pelos templos. Estes últimos devem ser considerados parte integrante do Estado, mesmo se,
em certas ocasiões, houve atritos entre a realeza e a hierarquia sacerdotal; aliás, os bens dos
templos estavam sob a supervisão do tjati, espécie de “primeiro-ministro” nomeado pelo faraó.
As atividades produtivas e comerciais, mesmo quando não integravam os numerosos
monopólios estatais, eram estritamente controladas, regulamentadas e taxadas pela burocracia
governamental.
CARDOSO, Ciro Flamarion S. O Egito antigo. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 36-37.

Para suprir a carência de matéria-prima e também para garantir o consumo dos gêneros
essenciais, os povos orientais recorriam ao desenvolvimento das atividades comerciais e
também à guerra, o que originou lutas e a formação de impérios.
Havia uma grande produção de artigos de luxo, cuja fabricação demandava constantes
importações de pedras e metais preciosos, madeiras e marfim.
Os fenícios foram o povo que mais desenvolveu o comércio marítimo, tornando-se
conhecidos como os maiores navegadores de seu tempo. Chegaram, com seus navios, até o
estreito de Gibraltar e, mais tarde, eles exploraram a costa atlântica da África. Estabeleciam
colônias e praticavam intenso comércio com elas e com os demais povos que habitavam a orla
do Mediterrâneo. Cartago foi a sua mais expressiva colônia. Os produtos que exportavam eram
trigo, vinho, madeira, peixe seco.
Os persas também eram agricultores e comerciantes. As estradas abertas a partir do
governo de Dario I (521 - 486 a. C.) tiveram um papel extraordinário no desenvolvimento do
comércio. Construídas para garantir a rapidez nas comunicações administrativas, elas
passaram a ser percorridas pelas caravanas que levavam mercadorias de um lado a outro do
gigantesco império.
Estrutura social

Apesar de toda generalização ser problemática, pode- -se verificar no Oriente antigo a
existência de sociedades bem semelhantes. No nível mais alto da hierarquia social estavam os
soberanos e suas famílias, seguidos pela nobreza, guerreiros, sacerdotes e altos funcionários.
Abaixo vinham os comerciantes, artesãos, alguns trabalhadores livres. Por último, os
camponeses, muitas vezes presos à terra em que trabalhavam, e os escravos.
O historiador Ciro Flamarion S. Cardoso alerta para um dado importante. O termo
“escravo”, naquela época, nem sempre tinha o mesmo significado que damos hoje a essa
palavra:
Na antiga Baixa Mesopotâmia havia seres humanos que chamamos de escravos, pois
pertenciam a pessoas que podiam vendê-los, legá-los ou alugá-los, bem como castigá-los
fisicamente, marcá-los com signos de propriedade e fazê-los trabalhar. Com algumas exceções
[...] tais escravos, porém, podiam casar-se com pessoas livres, ter bens, intentar ações em
justiça; e pagavam impostos.
CARDOSO, Ciro Flamarion S. Sociedades do antigo Oriente Próximo. São Paulo: Ática, 1986. p. 43.

O núcleo básico da sociedade oriental era a família de tipo patriarcal, na qual o homem
exercia um poder incontestável sobre tudo e sobre todos. A legislação da época e outros
documentos refletiam essa situação. Entre os hebreus, por exemplo, vários argumentos a favor
do patriarcalismo estavam presentes nos textos bíblicos.
OUTRO OLHAR
Só recentemente as mulheres passaram a merecer uma atenção mais cuidadosa dos
historiadores. Diversas obras já fazem referências significativas ao papel desempenhado por
elas ao longo da História. No Egito antigo a mulher gozava de uma posição singular:
O Egito é o único país da Antiguidade em que a mulher tinha o mesmo status que o marido.
Essa igualdade sobressaía-se no Novo Império. A egípcia era livre para escolher seu marido.
Uma vez casada, era chamada por seu nome próprio e pela expressão nebet-per, “senhora da
casa”. Uma cidadã livre (uma nemehyt) podia adotar os filhos de seus escravos, que eram
então libertados. Desde a adolescência, as moças compartilhavam os exercícios esportivos ou
as aulas com os rapazes. Essa excelente formação lhes abria as portas da Medicina, da
cirurgia, do clericato ou da administração. Mesmo os postos administrativos que normalmente
eram ocupados pelos homens chegaram por vezes a ser ocupados por mulheres.
[...] Todas as garantias eram dadas às esposas, que podiam se separar e conservar seus bens.
A estabilidade dos matrimônios estava apoiada no receio dos maridos em relação às despesas
de que eles deveriam se encarregar em caso de divórcio. Eles faziam um juramento, no dia do
casamento, de jamais repudiar a mulher.
VANOYEKE, Violaine. A vida no tempo dos faraós. Revista História Viva. São Paulo: Duetto Editorial, n. 37, noV. 2006. p.
56.

Política e administração

A monarquia foi a forma de governo utilizada por quase todos os povos do Oriente. O
poder dos reis era, geralmente, extraordinário, e se baseava no apoio da nobreza, dos
sacerdotes e dos guerreiros. Além disso, essas monarquias apresentavam um caráter
teocrático. Os governantes eram considerados deuses em algumas regiões. Em outras, era-lhes
reconhecido o caráter divino.
Deve ser dado destaque para o rei persa Dario I, que organizou um eficiente sistema
administrativo: dividiu o território em regiões, denominadas Satrapias, governadas por pessoas
nomeadas por ele e que eram conhecidas como Sátrapas. Enviados especiais percorriam
anualmente as diversas Satrapias, fazendo minuciosos relatórios ao rei. Estradas foram abertas
em todo o império, permitindo a fácil locomoção de coletores de impostos, de mensageiros e até
mesmo dos Sátrapas.
As religiões dos povos orientais

A religião influenciava todos os aspectos da vida, trazendo, para os sacerdotes, um poder


extraordinário, porque eram considerados intermediários entre os homens e as divindades.
Com algumas exceções, as religiões dos povos orientais marcavam-se pelo culto de
diversas divindades (politeísmo), as quais tinham aparência antropozoomórfica (os deuses
possuíam formas de animais e humanas).

Os mesopotâmicos acreditavam que seus deuses se assemelhavam aos homens e se


comportavam como eles; no entanto, eram dotados de poderes sobrenaturais. [...]
Os habitantes do Oriente Médio acreditavam, por outro lado, na existência de espíritos
sobrenaturais e de demônios, benfeitores e malfeitores — que tomavam formas meio animais,
meio humanas. Atribuíam a esses demônios as doenças ao lado de diferentes maldades: para
evitá-las, os mais supersticiosos dos mesopotâmicos tomavam uma série de precauções.
HUNTER, Erica. Atlas Historique: la Mesopotamie - de Sumer à Babylonie. Paris: Casterman, 1994. p. 49. (Tradução dos
autores).
Em quase todas as sociedades, os sacerdotes desempenhavam papel relevante. No Egito,
sua influência era tão marcante que um faraó, Amenófis IV, tentou instituir uma reforma
religiosa. Incentivou a criação de uma religião monoteísta, cujo único deus seria Aton,
considerado o onipotente criador de todas as coisas. Tal divindade era representada por um
disco solar. Para consolidar o culto monoteísta, Amenófis IV mudou seu nome para Akhenaton,
cujo significado é “filho do Sol”.
Contudo, a reforma de cunho político-religioso encontrou muita resistência, tanto de ordem
política quanto pela tradição politeísta que caracterizava a religião egípcia. Seu sucessor, o
faraó Tutancâmon, restaurou o culto ao deus Amon-Rá e a tradição religiosa politeísta.
Inegavelmente, a grande contribuição religiosa do Oriente antigo para o mundo ocidental deve-
se aos hebreus. A religião monoteísta que eles praticaram foi a base para a criação do
Cristianismo e também do Islamismo. O historiador brasileiro Jaime Pinsky alerta para a
necessidade de conceituar claramente essa questão do monoteísmo:

Vamos tentar esclarecer bem esse assunto, clareando inicialmente alguns conceitos. Monolatria
é o culto a um único deus, embora acreditando-se na existência de outros; isso era muito
comum na Antiguidade, com os deuses de cada tribo, cada clã ou mesmo cada povo.
Monoteísmo, porém, é a crença na existência de apenas um deus, não sendo considerados os
outros, porventura cultuados, senão falsos deuses. Finalmente, o monoteísmo ético é a crença
em um deus único, que dita normas de comportamento e exige uma condução ética por parte
de seus seguidores. Entre os hebreus, Iavé evoluiu de um deus tribal para um deus universal;
de um deus de guerra, senhor dos exércitos, para um juiz sereno, consciência social e
individual, exigente de justiça social. Os profetas sociais, Amós e Isaías, principalmente, foram
os grandes responsáveis por esse passo.
PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. 20. ed. São Paulo: Contexto, 2001. p. 115-116.

OUTRO OLHAR

Muitas pessoas consideram a Bíblia como o livro que traz a história dos hebreus, esquecendo-
se que ela é um livro de doutrina religiosa e não um texto científico. O mesmo historiador Jaime
Pinsky assim define a importância da Bíblia para o conhecimento da história dos hebreus:
E preciso ter presente que a Bíblia tem um compromisso básico com a unidade do povo hebreu
e não com a narrativa fiel de acontecimentos. Hoje em dia até autores religiosos, cristãos e
judeus duvidam, senão da existência física dos três patriarcas (Abrahão, Isaac, Jacó), ao menos
da genealogia que estabelece a sucessão entre eles (Abrahão pai de Isaac pai de Jacó). O fato
de questionarmos a historicidade de alguma personagem não significa que não possam tirar da
história contada informações que nos interessam. O narrador acaba referindo-se a costumes e
padrões de comportamento que caracterizam uma época e dizem respeito também a mitos que
derivam de uma região. Assim, não há contradição entre questionar a historicidade de
personagens bíblicos, colocar em dúvida alguns dos fatos milagrosos ali narrados e utilizar o
material como fonte para o trabalho do historiador.
PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. 20. ed. São Paulo: Contexto, 2001. p. 108-109.

Criações intelectuais

A escrita, surgida por volta de 4000 a.C., foi uma das maiores invenções desses povos.
Discute-se muito, ainda hoje, se foram os mesopotâmicos ou os egípcios os seus inventores.
Entre os sumérios, a escrita derivou de pictogramas. Era chamada cuneiforme (gravação de
figuras com estilete sobre tábua de argila) e resultou da necessidade de uma organização mais
complexa nas transações comerciais.
A escrita hieroglífica egípcia foi inventada no final do período pré-dinástico. Aos poucos,
foi aperfeiçoada e seu uso se estendeu até o fim da Antiguidade. Tal escrita resultou de uma
combinação de ideogramas (sinais que representam ideias) e fonogramas (sinais que
representam sons). Da escrita hieroglífica surgiram duas outras, mais simplificadas e
adequadas à redação no papiro: a hierática e a demótica.
Os fenícios passaram à história não apenas como grandes navegadores e comerciantes,
mas principalmente por terem difundido o alfabeto, do qual se originaram os alfabetos grego,
russo e latino.
O rei Hamurábi, da Babilônia, além de grande guerreiro, destacou-se pela elaboração de
um código de leis, que ficou conhecido como Código de HamurábI. Escrito em 1789 a.C., o
código era composto de 282 artigos que regulamentavam todos os aspectos da vida individual,
social e econômica daquela sociedade.
O código garantia, por exemplo, a proteção de mulheres e filhos do abandono, da miséria e
dos abusos. Os escravos também foram beneficiados, uma vez que o código os protegia dos
maus-tratos, além de lhes garantir a possibilidade de libertação, adoção e mesmo o direito de
se casar com a filha de um homem livre. Tal legislação influenciou a de vários outros povos
orientais.
Na arquitetura babilônica, destacaram-se os edifícios construídos com tijolos, argila e
ladrilhos. O Zigurate era uma construção bem típica, constituindo-se numa torre de vários
andares, destinada a funções religiosas. A arte dos assírios buscava glorificar o lado militar e
conquistador daquele povo.
No Egito, a figura do faraó ocupava uma posição central no domínio da arte, da literatura e
da própria história. A arte egípcia era também profundamente impregnada de religiosidade. Os
templos dos vários deuses, as pirâmides, que eram câmaras mortuárias dos faraós, todos
apresentavam um caráter monumental, em que o equilíbrio e a harmonia se destacavam. A
pintura, a escultura e a ourivesaria também eram expressivas.
A arte fenícia se especializou em objetos de luxo: sarcófagos de mármores, joias, caixas
de marfim, estatuetas.
A Epopeia de Gilgamesh é considerada a maior obra literária dos mesopotâmicos, assim
como os livros do Velho Testamento bíblico fazem parte da literatura dos hebreus. Os temas
religiosos predominavam, como se pode ver no Livro dos Mortos, egípcio, e no Zend-Avesta dos
persas.
A natureza também foi alvo de estudos de quase todos os povos antigos. Os
mesopotâmicos previam eclipses, conheciam as diferenças entre estrelas e planetas, usavam o
sistema sexagesimal, conheciam cálculos, raiz quadrada e equações. Faziam medicamentos à
base de plantas. Criaram calendários, relógios de sol e clepsidras. Os egípcios se notabilizaram
com as bases da Geometria, criação do sistema decimal e medidas de áreas e volumes. No
campo medicinal fizeram mumificações.

De uma maneira geral, as sociedades da Antiguidade Oriental apresentaram as seguintes


características:
➢ produção de um significativo excedente agrícola necessário para garantir a
subsistência de funcionários públicos, militares, sacerdotes, comerciantes e artesãos
especializados;
➢ expansão da atividade comercial necessária para garantir o abastecimento de
matérias-primas essenciais que não existiam nas regiões em que se desenvolveram
essas civilizações;
➢ controle absoluto da economia por parte de um Estado fortemente centralizado;
➢ crença no caráter divino dos monarcas;
➢ existência de religiões politeístas com divindades representadas com a forma de
homens, animais ou com o corpo humano e a cabeça de animal (antropozoomorfismo);
➢ desenvolvimento de expressivos conhecimentos no campo da matemática, da
engenharia, da astronomia, da medicina, etc.;
➢ construção de grandes obras arquitetônicas caracterizadas pela monumentalidade.
O esqueleto de Luzia,
(A) adquirido por D. Pedro II em 1876, foi incorporado à
sua coleção pessoal, a mesma que deu origem ao
1. (G1 - cotil) Museu Nacional no período republicano.
(B) descoberto na década de 1970 em Minas Gerais,
permitiu questionar a teoria de que a ocupação das
Américas se deu por apenas uma onda migratória.
(C) estudado por diferentes equipes de antropólogos,
comprovou que grupos saídos diretamente da África
foram os primeiros habitantes das Américas.
(D) encontrado na atual Serra da Capivara, no Estado
do Piauí, pertenceu à cultura que elaborou suas
famosas pinturas rupestres.
(E) mantido em uma coleção particular fora do país,
estava exposto para comemoração dos 150 anos da
passagem de Charles Darwin pelo Brasil.

3. (G1 - ifsul) No início, os homens batiam uma pedra na


Ficou bem mais difícil estudar e contar essa história depois outra até moldar o que queriam, tirando, por exemplo,
que um incêndio destruiu o palácio do Museu Nacional, na lascas para que a pedra ficasse com um lado cortante.
Dois milhões de anos mais tarde [ainda no paleolítico],
zona norte do Rio de Janeiro”, lamenta o antropólogo Carlos
Fausto, professor da instituição. Embora uma avaliação os homens primeiro preparavam a pedra, tirando lascas
precisa das perdas ainda esteja sendo realizada, as superficiais, e depois aqueciam-na para extrair dela toda
primeiras evidências indicam que o fogo consumiu quase a água. Em seguida, golpeavam-na com uma espécie de
cinzel de osso ou outra pedra. Aproveitavam todos os
todo o vasto acervo arqueológico e antropológico que
constituíam peças fundamentais desse quebra-cabeça. fragmentos, (...) as lascas pontudas eram usadas para
Fausto destaca, por exemplo, o caso da coleção de itens furar, as afiadas como navalha serviam para cortar, e as
extraídos dos sambaquis, também conhecidos como dentilhadas para serrar.
concheiros. Trata-se de estruturas construídas em boa parte
da costa brasileira, a partir de 6 mil anos atrás até mais ou A cena de trabalho pré-histórico, descrita acima, demonstra
menos os anos 500, por caçadores-coletores que vivam no uma
litoral. Segundo o site do Museu Nacional, esses sambaquis, (A) situação de estagnação tecnológica, já que o
encontrados no litoral desde o Rio Grande do Sul até a material utilizado é o mesmo (pedra).
Bahia, eram compostos por restos de animais (conchas, (B) situação de atraso tecnológico, já que houve um
ossos de peixes, aves, mamíferos e répteis) e dispostos retrocesso no uso da pedra.
junto com esqueletos humanos e artefatos de caça e pesca. (C) situação de avanço tecnológico, já que houve
(...) Os sambaquis também revelam que esses grupos alteração qualitativa no processo de produção.
produziram objetos cerimoniais em pedra e osso muito
(D) situação de ausência de tecnologia, já que o termo
elaborados, os chamados zoólitos.
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45425914/ Acessado em: 5/10/2019. é exclusivamente moderno.
(E) situação de paralisação técnica que impediu o
A partir do texto acima, podemos afirmar que: aperfeiçoamento das ferramentas de pedra.
(A) o Museu Nacional tem utensílios indígenas que
revelam a precariedade vivida pelos ancestrais
indígenas brasileiros. 4. (Unesp) Examine duas pinturas produzidas na Caverna
(B) a coleção de zoólitos indígenas e outros itens de Altamira, Espanha, durante o Período Paleolítico
extraídos dos sambaquis representam arte Superior.
elaborada e cultura dinâmica de grupos nativos pré-
históricos.
(C) as estatuetas eram produzidas em material muito
frágil e, por essa razão, foram consumidas pelo
fogo.
(D) os sambaquis eram utilizados como urnas
funerárias, prática comum dos ameríndios.
(E) os concheiros são artefatos exclusivos das
comunidades indígenas dos Andes e se encontram
preservados.

2. (Fuvest) Pesquisadores do Museu Nacional, no Rio de


Janeiro, encontraram o crânio e uma parte do fêmur de
Luzia, o esqueleto humano mais antigo descoberto na
América que revolucionou as teorias científicas sobre a Tais pinturas rupestres podem ser consideradas como
ocupação do continente. Os fósseis foram achados há (A) manifestação do primitivismo de povos incapazes
alguns dias (não foi divulgado quando) junto aos de representações realistas.
escombros do edifício, parcialmente destruído por um (B) expressão artística infantilizada e insuficiente para
incêndio em 2 de setembro. O crânio está fragmentado, fornecer qualquer indício sobre a vida na Pré-
porque a cola que mantinha os seus pedaços juntos se História.
foi com o calor, mas a equipe está bastante otimista com (C) comprovação do pragmatismo de povos primitivos,
suas condições. despreocupados de sua alimentação.
Júlia Barbon, Folha de São Paulo, outubro/2018. Adaptado.
(D) representação, em linguagem visual, dos vínculos (D) As práticas religiosas caracterizadas pela crença na
materiais de um povo com o seu ambiente. existência de um único Deus (monoteísmo) e no
(E) revelação da predominância do pensamento messianismo, pois acreditavam na vinda de um
abstrato sobre o concreto nos povos pré-históricos. messias libertador do povo hebreu.
(E) As inovações tecnológicas desenvolvidas na
5. (Udesc) Em 1972, a equipe do arqueólogo Richard agricultura, possibilitando grande crescimento da
Leakey encontrou, nas imediações do Lago Turkana, o produtividade agrícola na região palestina.
crânio e os ossos de um Homo rudolfensis de 1,9
8. (G1 - cps) Na Antiguidade, o desenvolvimento de
milhões de anos. Esta espécie teria coabitado o território
povoações, aldeias e cidades que se utilizaram dos rios
africano ao mesmo tempo em que três outras; o Homo
para a sua constituição gerou sociedades mais
habilis, o Homo erectus e o Paranthropus boisei. Em
complexas em diversas regiões do mundo, como o
1974, pesquisadores descobriram, na Etiópia, um fóssil
Oriente Médio, a Ásia e a África. Nessas sociedades, a
de 3,2 milhões de anos, ao qual apelidaram de Lucy. vida coletiva era marcada pelo trabalho que modificava a
Em 2017, foram publicadas pesquisas a respeito de natureza e estabelecia divisões de tarefas entre os seres
fósseis de Homo sapiens encontrados no Marrocos, os humanos. Nelas, o trabalho coletivo de irrigação era
quais contariam com cerca de 300 mil anos. necessário para controlar as cheias dos rios e para
Disponível em www.bbc.com, acessado em 15 de março de 2018. cultivar as terras de suas margens.
CAMPOS, Flavio de; CLARO, Regina; DOLHNIKOFF, Miriam. Jogo da História
Estas descobertas foram essenciais para o desenvolvimento nos dias de hoje. 6. 2ªed. São Paulo: Leya, 2015. p.58. Adaptado.
de pesquisas, a respeito da evolução de espécies, pois elas
poderiam ser referentes aos antepassados diretos da O texto se refere às chamadas sociedades
espécie humana. A este respeito, é correto afirmar: (A) feudais.
(A) A descoberta de 2017 refuta a teoria de que a (B) fluviais.
origem da vida humana seria na África, deslocando- (C) nômades.
a para a península arábica. (D) patriarcais.
(B) Os seres humanos que habitam a África, a América (E) pré-históricas.
e a Europa não fazem parte da mesma espécie.
(C) É consensual, para a comunidade científica, a 9. (G1 - ifsul) “[Aqueles que escreviam], a exemplo de
afirmação de que a espécie humana é originária do qualquer outro artesão, tinham de submeter-se a um
Continente Africano. aprendizado, [...]a primeira coisa que o menino aprendia
(D) Não existem consensos a respeito de qual era confeccionar uma tabuinha e manejar um cálamo
continente teria se originado a espécie humana. (caniço afiado na ponta). Os primeiros passos na escrita
(E) O Homo sapiens é, evidentemente, anterior ao eram dados num pedaço de argila, onde o menino
Homo rudolfensis. aprendia a gravar uma cunha cuneiforme simples.”
(WALKER, J.; HOOKER, J. Lendo o passado. SP: Edusp, Melhoramentos.
1996. p. 55-7)
6. (G1 - ifsul) “Por volta de 10 mil anos a. C., a Terra
passou por uma grande mudança no clima, que A cena, descrita acima, exemplifica um processo histórico
ocasionou uma série de modificações na vegetação e ocorrido
nos hábitos dos animais. Como consequência, os seres (A) no Antigo Egito.
humanos tiveram de se ajustar a um novo ambiente. O (B) na Roma Antiga.
cultivo de plantas e a domesticação de animais foram (C) na Grécia Antiga.
duas importantes atividades que começaram então a ser (D) na Civilização Hebraica.
exercidas.” (E) na Antiga Mesopotâmia.
FIGUEIRA, Divalte Garcia. História. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2005. p. 10.

10. (Enem 2020) Sexto rei sumério (governante entre os


séculos XVIII e XVII a.C.) e nascido em Babel,
O texto acima faz referência à “Khammu-rabi” (pronúncia em babilônio) foi fundador do
(A) passagem do Neolítico para o Paleolítico com o I Império Babilônico (correspondente ao atual Iraque),
controle do fogo. unificando amplamente o mundo mesopotâmico, unindo
(B) arte rupestre com a pintura de cenas de caça nas os semitas e os sumérios e levando a Babilônia ao
cavernas. máximo esplendor. O nome de Hamurabi permanece
(C) revolução neolítica na passagem do paleolítico para indissociavelmente ligado ao código jurídico tido como o
o neolítico. mais remoto já descoberto: o Código de Hamurabi. O
(D) caça, à pesca e à coleta de pequenos frutos e legislador babilônico consolidou a tradição jurídica,
raízes na Idade da Pedra Lascada. harmonizou os costumes e estendeu o direito e a lei a
(E) evolução técnica que marcou a passagem do todos os súditos.
neolítico para a Idade dos Metais. Disponível em: www.direitoshumanos.usp.br. Acesso em: 12 fev. 2013
(adaptado).
7. (ufpi) Entre as principais características da Civilização
Hebraica, merecem destaque especial: Nesse contexto de organização da vida social, as leis
(A) A religião politeísta em que as figuras mitológicas contidas no Código citado tinham o sentido de
de Abraão, Isaac e Jacó formavam uma tríade (A) assegurar garantias individuais aos cidadãos livres.
divina. (B) tipificar regras referentes aos atos dignos de
(B) A criação de uma federação de cidades autônomas punição.
e independentes (cidades-estado) controladas por (C) conceder benefícios de indulto aos prisioneiros de
uma elite mercantil. guerra.
(C) A criação de um alfabeto (aramaico) que seria (D) promover distribuição de terras aos desempregados
incorporado e aperfeiçoado pelos egípcios, urbanos.
tornando-se conhecido como escrita hieroglífica. (E) conferir prerrogativas políticas aos descendentes de
estrangeiros.
11. (Fuvest) Ao primeiro brilho da alvorada chegou do 13. (Fuvest) Um elemento essencial para a evolução da
horizonte uma nuvem negra, que era conduzida [pelo] dieta humana foi a transição para a agricultura como o
senhor da tempestade (...). Surgiram então os deuses modo primordial de subsistência. A Revolução Neolítica
do abismo; Nergal destruiu as barragens que estreitou dramaticamente o nicho alimentar ao diminuir a
represavam as águas do inferno; Ninurta, o deus da variedade de mantimentos disponíveis; com a virada
guerra, pôs abaixo os diques (...). Por seis dias e seis para a agricultura intensiva, houve um claro declínio na
noites os ventos sopraram; enxurradas, inundações e nutrição humana. Por sua vez, a industrialização recente
torrentes assolaram o mundo; a tempestade e o dilúvio do sistema alimentar mundial resultou em uma outra
explodiam em fúria como dois exércitos em guerra. Na transição nutricional, na qual as nações em
alvorada do sétimo dia o temporal (...) amainou (...) o desenvolvimento estão experimentando,
dilúvio serenou (...) toda a humanidade havia virado simultaneamente, subnutrição e obesidade.
argila (...). Na montanha de Nisir o barco ficou preso (...). George J. Armelagos, “Brain Evolution, the Determinates of Food Choice, and
the Omnivore’s Dilemma”, Critical Reviews in Food Science and Nutrition,
Na alvorada do sétimo dia eu soltei uma pomba e deixei 2014. Adaptado.
que se fosse. Ela voou para longe, mas, não
encontrando um lugar para pousar, retornou. Então A respeito dos resultados das transformações nos sistemas
soltei um corvo. A ave viu que as águas haviam alimentares descritas pelo autor, é correto afirmar:
abaixado; ela comeu, (...) grasnou e não mais voltou (A) A quantidade absoluta de mantimentos disponíveis
para o barco. Eu então abri todas as portas e janelas, para as sociedades humanas diminuiu após a
expondo a nave aos quatro ventos. Preparei um Revolução Neolítica.
sacrifício e derramei vinho sobre o topo da montanha em (B) A invenção da agricultura, ao diversificar a cesta de
oferenda aos deuses (...). mantimentos, melhorou o balanço nutricional das
A Epopeia de Gilgamesh, São Paulo: Martins Fontes, 2001.
sociedades sedentárias.
(C) Os ganhos de produtividade agrícola obtidos com
Com base no texto, registrado aproximadamente no século
as revoluções Neolítica e Industrial trouxeram
VII a.C. e que se refere a um antigo mito da Mesopotâmia,
simplificação das dietas alimentares.
bem como em seus conhecimentos, é possível dizer que a
(D) As populações das nações em desenvolvimento
sociedade descrita era
estão sofrendo com a obesidade, por consumirem
(A) mercantil, pacífica, politeísta e centralizada.
alimentos de melhor qualidade nutricional.
(B) agrária, militarizada, monoteísta e democrática.
(E) A dieta humana pouco variou ao longo do tempo,
(C) manufatureira, naval, monoteísta e federalizada.
mantendo-se inalterada da Revolução Neolítica à
(D) mercantil, guerreira, monoteísta e federalizada.
Revolução Industrial.
(E) agrária, guerreira, politeísta e centralizada.
14. (Uefs) Uma opinião aceita amplamente é a de que os
12. (G1 - cps) Em 1929, o arqueólogo alemão Julius Jordan
gregos receberam o alfabeto dos povos fenícios. O
desenterrou uma vasta biblioteca de tábuas de argila
nosso próprio alfabeto é derivado do alfabeto grego. Os
com um tipo de escrita conhecida como “cuneiforme”,
intermediários foram os etruscos, cuja escrita foi
com cinco mil anos de idade, mais antigas que
transmitida aos romanos.
exemplares semelhantes encontrados na China, no (John F. Healey. “O primeiro alfabeto”. In: Lendo o passado, 1996. Adaptado.)
Egito e na América.
As tábuas estavam em Uruk, uma cidade mesopotâmica – e O excerto explicita a existência de
uma das primeiras do mundo – às margens do rio Eufrates, (A) igualdades culturais, linguísticas e políticas entre as
onde hoje fica o Iraque. sociedades das antiguidades Oriental e Clássica.
As tábuas não haviam sido usadas para escrever poesia ou (B) desenvolvimentos paralelos e independentes dos
enviar mensagens a lugares remotos. Foram empregadas povos mesopotâmicos, semitas, africanos e greco-
para fazer contas – e também para elaborar os primeiros romanos.
contratos. (C) encontros intercivilizacionais e políticos decorrentes
<https://tinyurl.com/ycuj8mq6> Acesso em: 26.10.2018. Adaptado.
da formação do antigo Império Egípcio na Europa e
na Ásia.
O texto faz referência a um período muito conhecido da
(D) diálogos e trocas culturais transcorridos na região
história da Humanidade, no qual surgiram os primeiros
do Mar Mediterrâneo na Antiguidade.
registros escritos.
(E) vínculos necessários entre difusão de regimes
Assinale a alternativa que, corretamente, descreve o
democráticos e formação cultural dos cidadãos.
contexto em que surgiu a escrita na Mesopotâmia.
(A) Os mesopotâmicos criaram a escrita como forma de 15. (G1 - cps) Uma equipe internacional de cientistas usou
se comunicar com os deuses, entalhando placas de um fluxo de partículas para fazer uma espécie de
argila que eram cuidadosamente depositadas no radiografia da Grande Pirâmide de Quéops, em Gizé, no
interior dos templos religiosos. Egito. Isso permitiu descobrir, em 2017, um grande
(B) O surgimento da escrita foi vinculado à criação de espaço vazio, que ficou escondido atrás das grossas
um sistema de educação segundo o qual todas as paredes da edificação.
crianças deveriam dominar o conhecimento das
letras e dos cálculos. Construída por ordem do faraó Khufu, que reinou entre 2509
(C) As cidades da Mesopotâmia eram separadas por e 2483 a.C., a pirâmide tem 139 metros de altura e, durante
longas distâncias, percorridas a pé por mensageiros mais de três milênios, foi a construção mais alta do planeta.
que levavam cartas e ofícios trocados entre os Mesmo hoje, não há certeza sobre a forma como foi
governantes. construída, nem se sabe se ainda há câmaras a serem
(D) A evolução da literatura oral gerou a necessidade descobertas em seu interior.
de registrar os textos poéticos declamados pelos É possível entrar na pirâmide através de um túnel que foi
grandes oradores da Antiguidade clássica. escavado ao nível do solo no ano de 820, que permite o
(E) O desenvolvimento do comércio levou à criação da acesso às três câmaras até hoje conhecidas: a subterrânea,
escrita, utilizada, inicialmente, para realizar registros a da rainha e a do rei.
contábeis e firmar contratos. <https://tinyurl.com/yd3qv7pu> Acesso em: 14.11.2017. Adaptado.
Com base nas informações do texto, é correto afirmar que Heródoto de Halicarnasso, nascido no século V a.C., é
(A) a Grande Pirâmide de Quéops, construída há dois comumente conhecido como “o Pai da História”. De acordo
mil anos, continua a ser a construção mais alta do com o historiador François Hartog, Heródoto interessava-se,
planeta. entre outras questões, pelas maravilhas e pelos monumentos
(B) a pirâmide de Gizé, uma das maravilhas do mundo considerados, muitas vezes, expressões da influência divina.
moderno, foi construída em honra dos deuses
egípcios Zeus e Hórus. Considerando os questionamentos de Bertold Brecht,
(C) a pirâmide de Quéops, construída há mais de assinale a alternativa que contém a melhor interpretação
quatro milênios por ordem de Khufu, teve uma para a frase de Heródoto: “O Egito é uma dádiva do Nilo”.
câmara interna descoberta recentemente. (A) Permite constatar o desconhecimento de Heródoto
(D) a escavação de um túnel no ano de 820, por ordem no que diz respeito à Geografia, uma vez que os
de Gizé, permitiu o acesso da população aos rios que atravessam o território egípcio são Tigre e
túmulos no interior da pirâmide de Quéops. Eufrates.
(E) as pirâmides do Egito, palácios residenciais dos (B) Representa um anacronismo pois, no século V a.C.,
faraós, foram equipadas com câmaras secretas quando proferida, o Egito era ainda colônia do
construídas para garantir a segurança desses grande Império Bizantino.
imperadores. (C) Atribui apenas à presença do Nilo o
desenvolvimento do Egito, porém não considera a
16. (Enem / Libras) O sistema de irrigação egípcio era muito importância da presença humana, do trabalho
diferente do complexo sistema mesopotâmico, porque empreendido na utilização do rio e dos benefícios
as condições naturais eram muito diversas nos dois naturais para o desenvolvimento da região.
casos. A cheia do Nilo também fertiliza as terras com (D) Representa a profunda religiosidade do povo
aluviões, mas é muito mais regular e favorável em seu egípcio, o qual atribuía ao deus Nilo o
processo e em suas datas do que a do Tigre e Eufrates, desenvolvimento do Império, à época, no período
além de ser menos destruidora. pré-dinástico.
CARDOSO, C. F. Sociedades do antigo Oriente Próximo. São Paulo: Ática, (E) Atribui centralidade às ações do imperador Nilo que,
1986.
entre os séculos VI a.C. e V a.C., administrou o
processo de expansão territorial do Império Egípcio,
A comparação entre as disposições do recurso natural em
sem, todavia, ressaltar a participação dos soldados
questão revela sua importância para a
que lutavam sob o comando do imperador.
(A) desagregação das redes comerciais.
(B) supressão da mão de obra escrava.
19. (Ueg) Leia o texto a seguir.
(C) expansão da atividade agrícola.
(D) multiplicação de religiões monoteístas.
Amanheces formoso no horizonte celeste,
(E) fragmentação do poder político.
Tu, vivente Aton, princípio da vida!
Quando surgiste no horizonte do oriente
17. (G1 - ifsul) “O Império Persa foi o mais extenso dos
Inundaste toda a terra com tua beleza.
Impérios Orientais [século V a.C.]. Dos povos
[...]
conquistados exigiam pesados impostos, mas
Ó Deus único, nenhum outro se te iguala!
respeitavam a sua cultura. Era governado por uma
Tu próprio criaste o mundo de acordo com tua vontade,
monarquia absoluta teocrática e possuía quatro capitais:
Enquanto ainda estavas só.
Susa, Persépolis, Babilônia e Ecbátana. HINO A ATON. In: PINSKI, Jaime. 100 textos de História Antiga. São Paulo:
Contexto, 2009. p. 56-57.
O comércio foi a atividade mais importante do Império. Por
ele passavam rotas de caravanas comerciais, ligando a Índia O faraó Amenófis IV (1377-1358 a. C.), como parte de uma
e a China ao Mar Mediterrâneo. O comércio impulsionou a estratégia política que visava diminuir o poder da classe
indústria de tecidos de luxo, mosaicos e tapetes de rara sacerdotal egípcia, realizou uma reforma religiosa que teve
beleza.” como principal tópico a
ORDOÑEZ, Marlene e QUEVEDO, Júlio. História – Coleção Horizontes. São (A) adoção do Deus dos hebreus, que se encontravam
Paulo: IBEP. Sd. p. 58.
escravizados no Egito, mas tendo José como um
Ainda sobre a expansão do, Império Persa afirma-se que
importante membro da corte.
(A) atingiu sua extensão máxima durante o governo de
(B) definição de que o próprio faraó Amenófis IV, que
Ciro, que unificou o reino dos Medos e dos Persas.
adotou o nome de Akhenaton, seria o deus único
(B) chegou ao auge através da atuação de Cambises,
dos egípcios.
invasor do Egito em 525 a. C. na Batalha de Pelusa.
(C) imposição de deuses estrangeiros trazidos do
(C) abrangeu todo o mundo antigo, sobretudo após o
Oriente, levados para o Egito por meio das rotas
governante Xerxes derrotar os gregos nas Guerras
comerciais favorecidas pelo faraó.
Médicas.
(D) imposição do monoteísmo, adotando o culto oficial a
(D) invadiu o Império Romano, sob o comando de Ciro
um deus único e proibindo adoração às outras
II, levando-o a decadência no ano 1000 da Era
deidades do panteão egípcio.
Cristã.
(E) adoção do monoteísmo ético que havia sido
(E) alcançou o seu apogeu com o reinado de Dário I,
elaborado pelos fenícios.
com suas fronteiras chegando ao rio Indo na Índia.

18. (Udesc) “Quem construiu Tebas, a das sete portas? Nos


livros vem o nome dos reis, mas foram os reis que
transportaram as pedras? Babilônia, tantas vezes
destruída, quem outras tantas a reconstruiu? Em que
casas da Lima Dourada moravam seus obreiros?”
Perguntas de um operário que lê. Bertold Brecht.
20. (ufrn - adaptada) No ano 70 d.C., o Estado romano, sob
o controle do imperador Tito, destruiu a cidade de
Jerusalém, e os judeus se dispersaram por outras terras.
Diáspora tem sido a palavra usada para designar essa
dispersão. Após a diáspora, os judeus
(A) ficaram sem um território próprio por séculos; mas,
por meio da religião e dos laços familiares,
mantiveram sua identidade cultural e sua unidade
como povo.
(B) perderam todas as suas propriedades; mas, em
razão da decadência do Império Romano, voltaram
para a Palestina e reconstruíram sua identidade
cultural.
(C) foram dominados pelos árabes e perderam sua
identidade cultural como povo; mas, em 1948, com
a criação do Estado de Israel, voltaram a unificar-
se.
(D) foram impedidos de realizar seus cultos; mas,
durante a Idade Média, em razão do fortalecimento
do cristianismo, conseguiram firmar sua identidade
cultural.
(E) puderam explorar, livremente, as áreas ricas em
agricultura de regadio ás margens do rio Jordão.

GABARITO
1 B 6 C 11 E 16 C
2 B 7 D 12 E 17 E
3 C 8 B 13 C 18 C
4 D 9 E 14 D 19 D
5 C 10 B 15 C 20 A
INTRODUÇÃO

O fim do autoritarismo no Leste Europeu e em outras regiões, no final do século XX, e


o direito à união civil ou ao casamento homoafetivo em diversas partes do mundo muitas
vezes nos levam a pensar que, finalmente, a democracia e o estado de direito triunfaram.
Entretanto, as más condições de vida de grandes contingentes da população mundial, as
guerras travadas em nome das religiões e as perseguições xenofóbicas, entre outras
situações, nos fazem duvidar de que vivemos, de fato, uma onda democrática.
De acordo com o moderno conceito de democracia, ter liberdade de opinião, poder
manifestar descontentamento e participar da vida política por meio de eleições não são
suficientes para caracterizar um regime democrático. A democracia também tem por função
garantir o exercício dos direitos humanos, assegurando a todos os cidadãos o acesso à
educação, ao trabalho e a condições de vida dignas, devendo ainda promover o respeito pelas
diferenças étnicas, de gênero, etc.
Esse conceito de democracia é resultado de um longo processo, que teve início na
Grécia antiga, onde nasceu o regime democrático, entendido em seu sentido restrito como o
“governo da maioria”, na célebre definição do pensador grego Aristóteles.
Os temas desta Unidade II são as sociedades grega e romana na Antiguidade clássica.
Uma nos legou a democracia. A outra, o Direito Romano, que até hoje inspira o corpo jurídico
de nações democráticas. Ambas, porém, tinham por base o trabalho escravo.

I. A GRÉCIA ANTIGA

Com 8,3 mil quilômetros quadrados, Creta é uma das maiores ilhas do Mediterrâneo.
Pertencente à Grécia, atrai todos os anos turistas do mundo inteiro que vão conhecer os
vestígios de sua civilização milenar. As ruínas do palácio de Minos, erguido na antiga cidade de
Cnossos, por exemplo, são muito procuradas pelos visitantes.
Rico em afrescos, o palácio foi construído por volta de 2000 a.C. e era uma enorme
edificação de 20 mil metros quadrados. Os historiadores acreditam que ele teria servido não
apenas de morada real, mas também de centro administrativo e comercial dos cretenses.
Com seus cômodos e corredores, o palácio lembrava um labirinto. Segundo
pesquisadores, ele teria servido de inspiração para a figura do Minotauro, ser mitológico metade
touro, metade homem, que vivia encerrado em um labirinto na ilha de Creta e se alimentava de
carne humana.
A civilização que construiu o palácio de Minos ficou conhecida como minoica. Os
minoicos e outros povos tiveram forte influência no processo de formação da civilização grega,
como veremos neste capítulo.

1. ORIGENS DA GRÉCIA ANTIGA

Atualmente, a Grécia é um país europeu, localizado na península Balcânica. Seu


território é formado pela parte continental e pela insular, composta de mais de 2 mil ilhas,
espalhadas pelos mares Egeu, Mediterrâneo e Jônico.
Nas origens da civilização grega, esse território foi ocupado por diferentes povos indo-
europeus que, entre 5 mil e 3 mil anos atrás, ali se estabeleceram e se miscigenaram: aqueus,
eólios, jônios e dórios. A miscigenação étnico-cultural entre eles e a aquisição de hábitos e
costumes de outros povos, como dos fenícios e dos egípcios, estão na base da formação da
civilização grega. Além disso, os gregos também receberam forte influência da civilização
minoica, também conhecida como cretense, por ter se desenvolvido em torno da ilha de Creta.

CRETENSES

Sobre as origens da civilização minoica, sabe-se que, por volta de 2500 a.C., já podiam
ser encontradas em Creta importantes cidades. Os cretenses eram artesãos hábeis no fabrico
de joias e outros artefatos de metal. Por viverem em ilhas, desenvolveram a produção de
embarcações sofisticadas, com as quais, por volta de 2000 a.C., expandiram e dominaram o
comércio pelo Mediterrâneo.
Devido às atividades comerciais intensas, inclusive com mesopotâmicos e egípcios, os
cretenses assimilaram traços de diversas culturas. A prosperidade advinda com o comércio
possibilitou um grande desenvolvimento urbano, propiciando a construção de portos, aquedutos
e palácios.
Por volta de 1450 a.C., a sociedade minoica estava dividida em vários principados
independentes, submetidos ao controle do rei de Cnossos. Sua pirâmide social apresentava, no
topo, uma aristocracia formada pelo rei e por nobres, mercadores e sacerdotes; seguia-se o
grupo dos artesãos, artistas e funcionários; abaixo dele, vinham os agricultores e pastores; e, na
base da pirâmide, encontravam-se os escravos.
No início do século XV a.C., Creta sofreu vários ataques dos aqueus, que dominaram
diversas colônias cretenses no mar Egeu. Por volta de 1400 a.C., atacaram a cidade de
Cnossos, cuja destruição marcou o colapso da sociedade minoica.

AQUEUS (MICÊNICOS)

Os aqueus tinham origem indo-europeia e, desde 3000 a.C., ocupavam a península


Balcânica. Nessa região, fundaram cidadelas fortificadas, como Pilo, Tirinto e Micenas, sendo
esta última a mais importante (veja novamente o mapa da formação da Grécia antiga). Por isso,
essa civilização também é conhecida como micênica. Graças ao intercâmbio comercial com os
cretenses, os micênicos assimilaram, por exemplo, o processo de fabricação de armas e
objetos de metal em geral, e incorporaram práticas agrícolas e técnicas de navegação.
Quando dominaram Creta, por volta de 1400 a.C, os aqueus assumiram o controle das
rotas comerciais do Mediterrâneo, e a economia micênica desenvolveu-se enormemente.
Aproximadamente em 1200 a.C., a sociedade aqueia entrou em declínio. Fragilizada, seu
território foi ocupado pelos dórios, outro povo indo-europeu.

DÓRIOS

Entre os séculos XII a.C. e VIII a.C., os dórios exerceram a supremacia na península
do Peloponeso e em outras regiões da Grécia, por meio da força. Como resultado, as cidades
foram destruídas; os palácios, saqueados; e as técnicas artesanais, praticamente abandonadas.
As populações que reagiram à invasão foram escravizadas ou fizeram alianças, ocupando
posições sociais subalternas. Algumas poucas áreas permaneceram sob o domínio de outros
povos, por exemplo, a Ática, povoada pelos jônios. Essa fase da história de formação da Grécia
antiga ficou conhecida como Período Homérico, pois os poemas atribuídos a Homero, Ilíada e
Odisseia, são uma das principais fontes de informação dessa época (veja o boxe).

Dialogando com a Literatura - Os poemas homéricos :

Os poemas épicos Ilíada e Odisseia, atribuídos a Homero, são considerados as mais antigas
obras da literatura grega. O primeiro poema narra a Guerra de Troia (ou Ílion), entre gregos e troianos, que
teria sido motivada pela sedução de Helena, esposa de Menelau (rei de Esparta) pelo filho do rei de Troia,
Páris. O príncipe de Troia fugiu para sua terra, levando Helena.

O segundo poema conta as aventuras enfrentadas por Ulisses, um dos guerreiros gregos que
participaram da guerra, em sua longa viagem de retorno para casa. Ilíada e Odisseia são um marco da
literatura grega. Embora tratem de um acontecimento ocorrido por volta do século XII a.C., essas obras são
importantes fontes sobre os hábitos e costumes dos gregos do século VIII a.C., pois foi nessa época que
esses poemas – de longa tradição oral – foram escritos.

A CIVILIZAÇÃO GREGA

Nos séculos que se seguiram às invasões dórias, o processo de formação da


civilização grega ganhou impulso, resultado do intercâmbio ou do contato entre os diferentes
povos que ocupavam a península Balcânica (veja o mapa da página anterior).
Nesse período, os gregos organizavam-se em tribos que se subdividiam em clãs
(grupos de pessoas ligadas por laços sanguíneos e com um mesmo ancestral), os genoi (plural
de genos). Cada genos era constituído de um senhor ou patriarca, seus familiares e escravos,
parentes próximos e hóspedes. A posse da terra era coletiva. O chefe tribal que mais se
destacava nas guerras tornava-se rei. Formaram-se assim diversos pequenos reinos.
Com o crescimento da população, a escassez de terras férteis e o uso de técnicas
rudimentares, a produção agrícola se tornou insuficiente. A falta de alimentos acirrou a disputa
pelo controle da terra, o que levou à extinção da posse coletiva das propriedades agrícolas e ao
aparecimento de desigualdades entre os grupos.
O DOMÍNIO DA ARISTOCRACIA

As maiores e melhores propriedades ficaram nas mãos de um pequeno grupo, os


eupátridas (bem-nascidos), que compunham uma espécie de nobreza. O restante da população
ou ficou sem terra ou obteve pequenos lotes, pouco férteis. Em muitas regiões da Grécia,
devido à sua alta posição, os eupátridas afastaram o rei e assumiram o poder. Esse grupo
constituía uma aristocracia, palavra grega que pode ser traduzida como “governo dos
melhores”.

AS PRIMEIRAS PÓLIS

As mudanças na organização social grega contribuíram para o enfraquecimento dos


genoi, exigindo que a região se defendesse de inimigos externos, o que incentivou o
agrupamento de vários genoi em cidades com um governo autônomo. Começavam a surgir,
assim, as pólis, como eram chamadas as cidades-Estado gregas.
Esse processo ocorreu de forma quase simultânea em toda a Grécia. Em sua maioria,
as pólis eram cidades fortificadas. Na parte mais alta das pólis ficavam uma espécie de
fortaleza e um santuário. Essa parte da cidade era chamada de acrópole. Na região central da
parte baixa, havia uma praça central, a ágora, onde os cidadãos se reuniam. Na periferia,
viviam os trabalhadores agrícolas e os pequenos proprietários rurais. A pólis, portanto,
englobava a cidade e as terras próximas a ela.
Assim, aos poucos, a sociedade grega deixava de ser primordialmente camponesa e
guerreira e se transformava em uma civilização centrada em torno das pólis. No início do século
VIII a.C., o mundo grego estava politicamente dividido em várias cidades-Estado, cujos
habitantes encontravam-se unidos por laços de parentesco.

VOCÊ SABIA? AS MULHERES NAS PÓLIS

As mulheres eram desprovidas de direitos políticos nas pólis gregas e, portanto, não
eram consideradas cidadãs. Mas havia áreas na vida cívica e comunitária em que elas
desempenhavam papéis importantes. Em algumas festas, as mulheres tinham grande
participação, como nas Panateneias (em homenagem à deusa grega da Sabedoria, Atena),
promovidas em Atenas. Também era comum encontrar mulheres trabalhadoras e negociantes
nas camadas mais baixas da sociedade. Muitas trabalhavam na ágora ou nos arredores.
Algumas se dedicavam ao pequeno comércio, vendendo gêneros alimentícios ou itens como
perfumes e grinaldas; outras dirigiam tabernas ou trabalhavam com lã.
Texto elaborado com base em: CARTLEDGE, Paul (Org.). História ilustrada da Grécia antiga. Rio de Janeiro: Ediouro,
2002. p. 160-182.

2. PÓLIS GREGAS: ESPARTA E ATENAS

A pólis era a unidade política básica da Grécia antiga, com autonomia e


independência. Não havia um Estado centralizado que unificasse toda a sociedade grega. Por
falta de documentação, não se sabe a data exata em que surgiram as primeiras pólis.
Historiadores acreditam que apareceram entre os séculos VIII a.C. e VII a.C. – ou seja, no
Período Arcaico (séculos VIII a.C.-VI a.C.) – e se localizavam na Ásia Menor, onde se
refugiaram grupos populacionais que fugiam dos dórios.
Em algumas pólis, o poder político era exercido diretamente pelos cidadãos por meio
de assembleias realizadas na ágora. Discutiam-se aí questões de interesse público, tomavam-
se decisões e elaboravam-se as leis. Nesse processo, alguns cidadãos se destacavam, dando
origem à figura do político, ou seja, aqueles que se dedicavam ao governo da pólis. Entretanto,
poucos habitantes das pólis eram considerados cidadãos. Apenas os homens livres –
proprietários de terra, artesãos, comerciantes e pequenos proprietários – detinham os direitos
de cidadania, ou seja, direitos de cidadãos. Estavam excluídos da vida política das pólis: os
escravos, os estrangeiros livres (metecos) e as mulheres. Entre as diversas cidades-Estado
gregas, duas se destacaram: Esparta e Atenas.

A SOCIEDADE ESPARTANA

Esparta foi fundada pelos dórios no sudeste do Peloponeso, por volta do século IX a.C.
Depois de um período de expansão, no final do século VII a.C., Esparta já dominava um terço
de todo o Peloponeso.
Seus governantes mantiveram a cidade isolada das outras pólis e criaram um exército
permanente, com uma rígida disciplina militar. Paralelamente, estabeleceram-se na cidade
relações sociais e econômicas fundamentadas na total subordinação do indivíduo ao Estado. A
sociedade espartana dividia-se em três grupos.
• Espartanos (ou esparciatas): descendentes dos conquistadores dórios, eram os
únicos a ter direitos de cidadania. Possuíam as melhores terras e deviam dedicar todo o seu
tempo à política e ao Exército.
• Periecos: antigos habitantes das regiões conquistadas pelos dórios e não resistiram à
ocupação. Embora livres, eram submissos aos espartanos. Sem direitos políticos, viviam na
periferia da cidade.
• Hilotas: grupo formado pelos antigos habitantes do Peloponeso que resistiram à
invasão dos dórios e foram transformados em escravos. Todos os anos, deviam dar metade do
que colhiam aos seus proprietários espartanos.
A estrutura de governo em Esparta era bastante subdividida em reis, gerontes, éforos e
em três assembleias – a Gerúsia, a Apela e o Eforato.

DEMOCRACIA EM ATENAS

Situada na Ática, Atenas foi fundada pelos jônios por volta do século IX a.C. A forma
como a cidade era governada foi mudando ao longo do tempo. No início, havia um rei que
assumia funções também de sacerdote, comandante militar (polemarca) e chefe civil (arconte).
Os aristocratas atenienses (eupátridas) escolhiam esses governantes.
Depois, com a extinção da realeza, polemarcas e arcontes concentraram o poder
político, militar e religioso, com o apoio do conselho de anciãos, o Areópago, formado por
eupátridas. Ao lado desse órgão, havia a Eclésia, composta de homens livres que integravam o
exército e elegiam os governantes, aprovavam leis e decidiam questões relativas à paz e à
guerra.

DESIGUALDADES E REFORMAS

Apesar do aparente equilíbrio na estrutura de governo, as desigualdades em Atenas


eram grandes: comerciantes enriqueciam, pequenos camponeses e artesãos viviam na miséria
e muitos se tornavam escravos pela impossibilidade de pagar suas dívidas. Entre os séculos VII
a.C. e VI a.C., eclodiram conflitos sociais que obrigaram os legisladores a promover reformas.
As mais importantes mudanças ocorreram no século VI a.C., promovidas por dois
governantes que não eram aristocratas: Sólon, um arconte, e Pisístrato, um tirano. Entre
outras, eles adotaram as seguintes medidas: perdoaram dívidas, devolveram aos antigos donos
as propriedades confiscadas, proibiram a escravidão por dívidas, confiscaram grandes
propriedades dos nobres e promoveram reforma agrária. Na política, a Eclésia assumiu maiores
poderes e foi instituído um tribunal popular, a Bulé, cujos juízes eram escolhidos por sorteio
entre os cidadãos. As artes e o comércio foram incentivados, transformando Atenas em
importante centro comercial, artístico e cultural da Grécia.
O declínio da aristocracia ateniense se consumou pouco depois, quando o arconte
Clístenes (508 a.C.-507 a.C.) dividiu a Ática em cem unidades políticas e territoriais, os demos,
cada um com seu chefe, o demiarca, escolhido por voto. O principal órgão legislativo era a
Assembleia, em que qualquer cidadão poderia expor sua opinião ou votar em alguma questão
colocada em pauta. Em Atenas e em outras cidades, também tais reformas deram origem à
democracia: em grego, o “governo dos demos” (“governo do povo” ou “governo da maioria”).
Embora mulheres, escravos, ex-escravos e estrangeiros representassem a maior parte
da população (cerca de 360 mil pessoas numa população de 400 mil no século V a.C.), não
eram considerados cidadãos e por isso estavam impedidos de participar das assembleias. A
democracia grega assegurava aos cidadãos três direitos essenciais: liberdade individual,
igualdade perante a lei e direito de expressar suas opiniões nas assembleias, mas não
beneficiava 100% da população.

3. O IMPÉRIO MACEDÔNIO E O HELENISMO


FORMAÇÃO DO IMPÉRIO MACEDÔNIO

De origem desconhecida, os macedônios viviam em uma região ao norte da Grécia.


Em 359 a.C., o rei Filipe II organizou um poderoso exército e iniciou a expansão territorial da
Macedônia. Sabendo que as cidades-Estado gregas não possuíam um governo único, Filipe fez
uso da diplomacia e das armas para conquistar poder e influência sobre as cidades da Grécia.
Em 338 a.C., foi aclamado governante de todo o território grego.
Assassinado dois anos mais tarde, Filipe foi sucedido no trono por seu filho, Alexandre,
jovem de 20 anos que mudaria os rumos da história de diversas regiões do Mediterrâneo
oriental e da Ásia. No início de seu reinado, Alexandre enfrentou levantes na Grécia contra o
domínio macedônio. Após a pacificação dos territórios gregos e com um imenso exército, partiu
em direção ao Oriente, em 334 a.C., decidido a dominar a Pérsia, governada por Dario III. Além
da Pérsia, as tropas de Alexandre conquistaram a Síria, a Fenícia e a Palestina, que também
estavam sob o governo de Dario III.
A última possessão persa no Mediterrâneo era o Egito. Recebido como libertador,
Alexandre foi adorado pelos egípcios como encarnação do deus Amon e aclamado sucessor
dos faraós. Conforme expandia seu império, Alexandre criava centros de irradiação cultural para
divulgar a ciência, as artes e a literatura da Grécia. No delta do rio Nilo, o jovem rei fundou, em
332 a.C., a cidade de Alexandria, que viria a ser uma das mais importantes de todo o
Mediterrâneo antes da ascensão de Roma.
Assim, a religião, a cultura e os costumes gregos se difundiram por outras regiões. A
língua grega se transformou no principal idioma das pessoas instruídas. Nesse processo,
ocorreu uma fusão entre o conhecimento grego e a cultura dos povos conquistados, que teve
como resultado uma cultura única: o helenismo (termo que vem de Hélade, que é a forma como
os antigos gregos denominavam a região em que viviam e significa “terra dos helenos”).

DECLÍNIO DO IMPÉRIO MACEDÔNIO

Depois do Egito, as tropas de Alexandre venceram o exército de Dario III, em 331 a.C.,
na Mesopotâmia. Ele então rumou para o Oriente, alcançando o rio Indo, na Índia, em 326 a.C.
De volta à Mesopotâmia, Alexandre morreu de uma febre desconhecida em 323 a.C., aos 32
anos de idade. Por seus feitos militares, passaria à posteridade como Alexandre, o Grande, ou
ainda Alexandre Magno. Sem deixar filhos nem herdeiros para o trono após sua morte, seus
generais travaram uma sangrenta disputa pelo poder.
No início do século III a.C., o Império Macedônio encontrava-se dividido em três
grandes reinos, que sobreviveram por mais de um século graças a laços de língua, comércio e
cultura. Pouco a pouco, no entanto, os reinos se enfraqueceram devido a lutas internas e ao
aumento da pobreza. Ao mesmo tempo, Roma despontava como uma nova potência no
Mediterrâneo.
Em 148 a.C., os romanos dominaram a Macedônia e, dois anos depois, conquistaram
a Grécia, anexando-a a seus domínios. Um novo império estava nascendo.

4. INVENÇÕES GREGAS: O TEATRO, A FILOSOFIA

O teatro antigo se desenvolveu a partir do século VI a.C. nas cidades gregas. Nasceu
das declamações líricas realizadas por um coro, com acompanhamento musical — os
ditirambos, que apresentavam ao público os feitos de deuses e heróis da mitologia grega. Esse
tipo de expressão cênica deu origem à tragédia, à comédia e ao drama satírico, os três grandes
gêneros literários do teatro antigo.
A tragédia grega não tem sentido religioso. Na maioria das vezes, as personagens são
figuras como Agamenon e os heróis da Guerra de Troia, consideradas pelos gregos
personagens históricas. A tragédia aborda em profundidade os sentimentos, os conflitos e as
aspirações que fazem parte da vida humana. Por isso, a relação dos homens com o poder é um
dos principais ingredientes desse gênero.
A Grécia Antiga foi celebrizada como berço da filosofia ocidental, isto é, da construção
de teorias para o entendimento da realidade e da existência humana e divina. No século V a.C.,
deu-se uma verdadeira “revolução filosófica” com Sócrates, autor do método conhecido como
maiêutica, que pode ser resumido na frase: “Conhece-te a ti mesmo”. Sócrates proferiu a frase
“Só sei que nada sei”, reconhecendo os limites do ser humano para alcançar a sabedoria plena.
O maior discípulo de Sócrates foi Platão, autor do livro A Repœblica, em que propõe
um modelo de Estado no qual o poder seria exercido pelos filósofos, e não pelos guerreiros,
porque os filósofos seriam os homens mais próximos do conhecimento em estado puro.
Aristóteles, discípulo de Platão, foi também um grande filósofo grego. Escreveu sobre
diversos assuntos, incluindo física, matemática, zoologia, política, moral e, certamente, sobre
filosofia. Segundo Aristóteles, a dúvida é o princípio da sabedoria.

OS JOGOS OLÍMPICOS

As cidades-Estado da Grécia realizavam, na primeira lua cheia do verão, uma


celebração em honra dos que haviam morrido nos últimos quatro anos. As sacerdotisas
acendiam uma chama no templo do deus protetor da cidade e os parentes espalhavam sobre
um campo os pertences dos falecidos para que seus espíritos pudessem recordar sua vida
terrena. Na cidade de Olímpia, ao redor do templo dedicado a Zeus, realizavam- -se na ocasião
jogos esportivos.
O registro material mais antigo dos Jogos Olímpicos data de 776 a.C. Trata-se de um
disco de pedra encontrado no templo de Hera, em Olímpia, que faz referência à suspensão da
guerra e à manutenção da paz entre as cidades durante os jogos. Entre os gregos, as
Olimpíadas tinham um sentido religioso e cívico.

II. OS PRIMEIROS SÉCULOS DE ROMA

A escultura de bronze da imagem da página seguinte faz referência às origens míticas


da cidade de Roma, na Itália atual. Segundo esse mito, os fundadores da cidade seriam os
gêmeos Rômulo e Remo, que, depois de serem abandonados nas águas do rio Tibre, foram
salvos por uma loba, que os amamentou.
Durante muito tempo, acreditou-se que essa escultura fora produzida por volta de 500
a.C. Porém, pesquisas recentes de laboratório revelaram que a peça foi criada por volta de
1300. O fato de ser mais recente do que se pensava não afetou o status da escultura, que
continua sendo o grande símbolo da Cidade Eterna.
A notícia nos comprova, no entanto, que o conhecimento histórico pode mudar a cada
nova pesquisa ou descoberta. Neste capítulo, estudaremos os primeiros tempos de Roma,
cidade que se tornou o centro de um dos maiores impérios da Antiguidade.

Escultura em bronze que representa o mito romano segundo o qual os irmãos Rômulo e Remo teriam sido
amamentados por uma loba quando eram bebês. A peça encontra-se no complexo dos Museus Capitolinos,
em Roma, Itália.

1. FORMAÇÃO E ORGANIZAÇÃO

Antes de 2000 a.C., a península Itálica era ocupada por povos nativos. Depois, até o
ano 1000 a.C., povos conhecidos como italiotas, de origem indo-europeia, instalaram-se na
região central da península: eram os sabinos, úmbrios, équos, oscos, volscos, samnitas e
latinos. A partir de 1000 a.C., os etruscos se fixaram na margem direita do rio Tibre.
Por essa época, os latinos começaram a ocupar a região do Lácio, fundando uma vila
em um entroncamento de rotas comerciais, por onde passavam, entre outros, mercadores
sabinos comerciando sal e etruscos negociando produtos manufaturados. Por volta do século
VII a.C., já existiam nessa região outras vilas latinas independentes, que abrigavam cerca de 80
mil pessoas, entre agricultores, escravos, comerciantes e artesãos. Provavelmente nesse
período, os etruscos invadiram o Lácio: impuseram seus costumes e unificaram todos os
vilarejos em torno de uma única e grande cidade: Roma.

A SOCIEDADE ROMANA

Com a unificação das vilas, Roma deixou de ser um povoado e se transformou em uma
cidade fortificada, na qual foram aplicadas várias técnicas etruscas de pavimentação de
estradas, drenagem de pântanos, construção de pontes e redes de esgoto. Outros aspectos da
cultura etrusca também foram incorporados à sociedade romana em formação. Por exemplo, na
religião e na escrita, houve adaptação dos alfabetos etrusco e grego, originando o alfabeto
latino, que utilizamos até hoje.
Aproximadamente no século VII a.C., a sociedade romana era composta
majoritariamente de indivíduos livres – divididos entre patrícios, plebeus e clientes – e de uma
parcela menor de escravos.
• Patrícios: grandes proprietários de terras, que tinham o comando exclusivo da
política.
• Plebeus: mercadores, artesãos e pequenos proprietários; não podiam se casar com
patrícios nem ocupar cargos públicos ou religiosos, mas eram obrigados a integrar o Exército.
• Clientes: ex-escravos ou filhos de escravos nascidos livres; eram dependentes dos
patrícios, dos quais recebiam proteção e terras para cultivar; em troca, eram obrigados a
substituí-los nas guerras.
• Escravos: pessoas capturadas em guerras ou plebeus que não conseguiam quitar
suas dívidas; eram designados para trabalhos pesados e seus donos tinham poder de vida e
morte sobre eles.

2. PERÍODO MONÁRQUICO

Após ter sido unificada, Roma passou a ser governada por um rex (rei), do grupo dos
patrícios ou etruscos, que tinha múltiplas funções: governar a cidade, comandar o Exército,
desempenhar funções de juiz e conduzir as cerimônias religiosas. A monarquia não era
hereditária e, quando um rei morria, um substituto era indicado pelo Senado (do latim senex,
que significa “ancião”), composto apenas de patrícios idosos.
Havia também a Comitia Curiata, formada por representantes das famílias livres de
Roma, que tinha a função de aprovar ou rejeitar a indicação do Senado para a posição de rei.
Em 509 a.C., durante o governo do rei etrusco Tarquínio II, os patrícios se rebelaram e,
com o apoio da plebe, expulsaram os etruscos do Lácio. Como resultado, a monarquia foi
extinta e substituída por um sistema de governo conhecido como república – do latim res
publica (“coisa pública”) –, que se caracteriza pela escolha dos governantes para mandatos com
tempo limitado.
3. PERÍODO REPUBLICANO

A república criada pelos romanos apoiava-se em uma complexa estrutura político-


administrativa formada por três grandes áreas: o Senado, a Magistratura e as Assembleias.
O Senado concentrava a maior parte do poder político da república. Os senadores –
homens originários de famílias patrícias – faziam as leis e tomavam as decisões políticas mais
importantes.
A Magistratura estava organizada em diversas assembleias e era responsável pela
administração. As assembleias mais importantes eram a Centurial, que elegia os cônsules,
pretores e censores e decidia sobre a guerra e a paz, e a Tribal, que elegia os questores e os
edis. Os cônsules, eleitos em pares, podiam indicar um ditador, se preciso, e os edis cuidavam
da segurança. Os censores eram encarregados de realizar o censo.
Com essa nova estrutura política, Roma iniciou um lento e contínuo processo de
expansão amparado em alianças com povos que aceitavam sua liderança e em uma poderosa
força militar. A expansão pela península Itálica foi concluída entre 272 a.C. e 265 a.C., quando o
território dos etruscos, ao norte de Roma, e a região ocupada por colônias gregas, ao sul, foram
subjugados. Conquistada a península, Roma deu início à sua expansão pelo Mediterrâneo.
A expansão territorial de Roma alcançaria as cidades-Estado da Grécia, na península
Balcânica, e a cidade-Estado fenícia de Cartago, na costa norte da África. Aproximadamente
entre 260 a.C. e 140 a.C., Roma e Cartago travaram vários confrontos até que a supremacia
romana se impôs, e Cartago passou a ser uma província de Roma. As conquistas territoriais na
região do Mediterrâneo ocidental e, depois, na península Ibérica foram decisivas para a
consolidação do poderio romano.

REVOLTAS DA PLEBE

Para os patrícios, a expansão territorial romana significou mais riqueza e privilégios –


com ela, cresceu o número de escravos em virtude do não pagamento das dívidas. Contudo,
não houve vantagens para os plebeus, que só viram aumentar as desigualdades em relação
aos patrícios, o que desencadeou diversas revoltas. No começo do século V a.C., os plebeus se
recusaram a participar das campanhas militares e passaram a exigir em assembleias diversas
alterações na política e na sociedade romana, como a criação de cargos de magistrados para
defender seus interesses. Sob pressão, os patrícios concordaram em criar o Tribunato da Plebe
(493 a.C.).
Os integrantes do Tribunato da Plebe (tribunos) eram escolhidos anualmente pelos
plebeus. Os tribunos podiam vetar decisões de senadores e magistrados, mas não tinham o
direito de criar novas leis. Os plebeus também conquistaram o fim da escravidão por dívidas, o
direito ao casamento com patrícios e a elaboração de um código de leis (veja o boxe Lei das
Doze Tábuas).
Depois, já no século IV a.C., os plebeus obtiveram acesso às magistraturas, direito ao
ingresso de seus representantes no Senado e à transformação em lei dos plebiscitos
aprovados em suas assembleias.

LEI DAS DOZE TÁBUAS

Durante a monarquia e nos primeiros tempos republicanos de Roma, não havia registro
escrito das leis, que eram transmitidas oralmente de uma geração à outra. Em 451 a.C., os
plebeus conseguiram eleger uma comissão de dez pessoas – os decênviros – para escrever as
leis e, assim, evitar que fossem manipuladas pelos patrícios, conforme seus próprios interesses.
O resultado foi a Lei das Doze Tábuas, uma compilação dos costumes da população
de Roma, que regulamentava o modo de vida dos romanos e continha as principais questões
relativas ao Direito Penal, Público, Privado, etc. Com a instituição da Lei das Doze Tábuas,
surgiu em Roma a figura do advogado, que conhecia as leis, acompanhava os processos e
defendia seus clientes no tribunal.
Na legislação romana dessa época, as penas variavam conforme o status social e
jurídico do condenado. Para um senador, por exemplo, a penalidade costumava ser o
pagamento de uma multa ou o confisco dos bens. Entretanto, por questões de honra, os
senadores condenados preferiam se matar a ter de cumprir a sentença. Já as punições de
plebeu iam do pagamento de uma multa até a pena de morte.
A pena de morte recaía com mais frequência sobre os escravos e as pessoas que não
tinham cidadania romana. Um dos modos mais comuns de execução era a crucificação.
texto elaborado com base em: COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 348-359;
GIORDANI, Mário Curtis. História de Roma. Petrópolis: Vozes, 1983. p. 257-265; HISTÓRIA VIVA: Grandes temas. Edição
Especial temática. São Paulo: Duetto Editorial, n. 1, [s.d.]. p. 89.
4. CULTURA GRECO-ROMANA

Com a expansão territorial, os romanos entraram em contato com a cultura dos povos
dominados, exercendo influência sobre ela, mas também sofrendo seu influxo. Desses povos, o
que mais profundamente imprimiu sua marca na cultura romana foi o povo grego.
Paulatinamente, a partir do século III a.C., valores da civilização grega se infiltraram no
cotidiano dos romanos em vários aspectos.
Nas artes plásticas, escultores e pintores se inspiravam diretamente na Grécia,
enquanto os arquitetos aderiam ao uso do mármore – produto-símbolo da sociedade grega –
em suas construções. Na religião, os romanos passaram a venerar os deuses gregos (embora
os romanos tenham imposto nomes latinos para eles) e, na língua, o latim incorporava palavras
gregas. No âmbito da educação, tornou-se comum deixar a instrução dos filhos a cargo de
cidadãos ou escravos gregos.
Esse processo de helenização foi tão amplo que famílias ricas de Roma decidiram
adotar sobrenomes gregos. Setores mais conservadores da sociedade romana, contudo, eram
contrários a essa penetração da cultura grega em prejuízo das tradições romanas.

5. DECLÍNIO DA REPÚBLICA

Em meados do século II a.C., as conquistas territoriais transformaram Roma em uma


cidade rica e efervescente. Circulavam pela cidade pessoas e produtos oriundos de diversas
regiões, o que contribuiu para modificar a realidade social e política vigente na República
Romana.
Com a expansão das atividades comerciais, algumas famílias plebeias enriqueceram e
constituíram um novo grupo social, a nobreza, cujos membros – os nobres – começaram a
ocupar cargos na magistratura e a influenciar toda a sociedade. A ascensão de setores da plebe
coincidiu com a perda de poder dos patrícios, enfraquecidos numericamente por ser um grupo
muito fechado.
Para conquistar o apoio dos plebeus mais pobres, que tinham direito a voto nas
assembleias, os nobres distribuíam esmolas, alimentos (trigo, por exemplo) e organizavam
festas e espetáculos públicos. Assim, surgiram, por exemplo, as lutas de gladiadores, que
alcançaram grande sucesso nos séculos seguintes, durante o período imperial. Essa estratégia
(que mais tarde seria conhecida como “política do pão e circo”) contribuiu para que a nobreza
controlasse o Senado e os principais cargos da magistratura.
Outro grupo surgido durante a república foi o dos cavaleiros (ou classe equestre). Era
composto de indivíduos ricos que se dedicavam ao grande comércio e a atividades públicas
rentáveis, como a cobrança de impostos e a coordenação de grandes obras (construção de
estradas, exploração de minas, etc.).
Enquanto nobres e cavaleiros enriqueciam, o restante da população (a maioria)
tornava-se ainda mais pobre. Muitos camponeses, ao voltarem das guerras, preferiam morar
nas cidades. O mesmo ocorria com diversos pequenos proprietários, que haviam perdido suas
terras por causa de dívidas.
Nas cidades, esses antigos lavradores juntavam-se à massa dos habitantes urbanos
que já não tinham mais trabalho, pois a maior parte dos serviços era feita por escravos e
estrangeiros livres. Desse modo, as guerras de expansão contribuíram fortemente para a
desintegração das camadas médias rurais que, por séculos, foram a base militar e social do
Estado romano. Com o afluxo constante de pobres, escravos e imigrantes, as cidades
passaram a enfrentar problemas: falta de moradia, de saneamento básico, de alimentação e de
limpeza pública, além de desemprego.
Essa desigualdade entre ricos e pobres provocou conflitos sociais que começaram a
abalar a república. Algumas pessoas – entre elas, os irmãos Tibério e Caio Graco, tribunos da
plebe – defendiam mudanças na sociedade para reduzir a desigualdade social.

LUTAS ENTRE SENADO E PLEBE

Eleito tribuno da plebe em 133 a.C., Tibério Graco lutava por uma distribuição de terras
mais justa, que pusesse fim ao êxodo rural e estabelecesse limites à propriedade da terra.
Inconformados com a ideia, os senadores – donos da maior parte das propriedades rurais de
Roma – tramaram o assassinato de Tibério e de trezentos de seus seguidores.
As propostas de Tibério seriam retomadas alguns anos depois por seu irmão Caio
Graco, eleito tribuno da plebe em 124 a.C. Com base no modelo da democracia ateniense e
buscando minar o poder dos ricos, Caio Graco propôs que as principais decisões da república
fossem transferidas do Senado para uma assembleia popular. Também defendia a divisão das
terras públicas e sua distribuição entre os mais pobres.
Sentindo seus interesses ameaçados, a aristocracia senatorial se mobilizou contra
Caio Graco, que, em 121 a.C., foi morto em uma emboscada. A morte do tribuno agravou as
diferenças entre os segmentos populares e a aristocracia. Algum tempo depois, teve início uma
guerra civil, que se estenderia por quase um século. Permeado por alguns momentos de paz, o
conflito corroeu o sistema republicano.
6. MILITARES NO PODER

Procurando desviar a atenção da crise que se abatia sobre a república, a partir do final
do século II a.C., o Senado de Roma passou a estimular campanhas militares em lugares
distantes do território romano. Graças às vitórias, o prestígio dos militares cresceu (veja a seguir
o boxe Revolta dos escravos). Entre 107 a.C. e 100 a.C., por exemplo, o general Caio Mário foi
eleito cônsul por seis vezes consecutivas.

REVOLTA DOS ESCRAVOS

Com as conquistas territoriais, os escravos se tornaram a principal mão de obra da


República Romana. Eles eram responsáveis pelas atividades agrícolas, pela produção artesanal
nas cidades, pelo trabalho doméstico e até pelas atividades educacionais. Ou seja,
desempenhavam importante papel no processo que culminou na ascensão e na riqueza da
sociedade romana. Submetidos a precárias condições de vida e de trabalho, não eram raras
suas manifestações de revolta. Alguns desses movimentos foram reprimidos rapidamente;
outros, contudo, reuniram grande número de escravos e duraram mais tempo.
Uma das maiores revoltas ocorreu entre 73 a.C. e 71 a.C. Seu líder era um gladiador
chamado espártaco. Após ter fugido com outros 73 gladiadores de seu cativeiro em Cápua,
Espártaco reuniu um exército de mais de 60 mil escravos. À frente dessa tropa, percorreu
quase toda a península Itálica, vencendo várias vezes as legiões romanas. Ao se dirigirem a
Roma, porém, foram derrotados por tropas comandadas pelo general Crasso. Cerca de 6 mil
escravos revoltosos foram condenados à morte na cruz.
texto elaborado com base em: MAEStRI FILHO, Mário José. O escravismo antigo. São Paulo/Campinas: Atual/Editora da
Unicamp, 1985. p. 52-55.

Mais tarde, entre 60 a.C. e 46 a.C, Roma foi governada pelo Triunvirato (“governo de
três varões”) dos generais Sila, Júlio César e Marco Licínio Crasso, sem depender do Senado.
Depois desse período, o poder concentrou-se nas mãos do general Júlio César, a quem os
senadores de Roma concederam o título de ditador vitalício.
Sob o governo de César, teve início a fase da personificação do poder. Sem
comprometimento com plebeus, senadores, cavaleiros, nem mesmo com a instituição
republicana, ele assumiu para si vários cargos e funções: cônsul, Pontífice Máximo (sumo
sacerdote) e supremo comandante militar.
Durante seu governo, César distribuiu terras a cerca de 80 mil pessoas em colônias
além-mar, visando diminuir o desemprego; exigiu que pecuaristas tivessem pelo menos um
terço de homens livres entre seus empregados; e estendeu a cidadania romana a praticamente
toda a população da península Itálica.
Para seus inimigos, as atitudes de César comprovavam que ele pretendia acabar com
a república e se proclamar rei. Desde a deposição do rei Tarquínio II, o Soberbo, em 509 a.C.,
os romanos rejeitavam qualquer tentativa de retorno da monarquia. Assim, em 44 a.C., durante
uma sessão do Senado, um grupo de 60 senadores cercou Júlio César e o assassinou a
punhaladas.
Após a morte de César, Roma passou a ser governada por um novo triunvirato, dessa
vez formado pelo cônsul Marco Antônio, o general Lépido e o sobrinho e filho adotivo de Júlio
César, Caio Otávio. As divergências entre eles, contudo, transformaram o território romano em
palco de uma guerra que só terminou em 27 a.C., quando Caio Otávio se tornou senhor
absoluto de Roma, dando início a um dos maiores impérios já vistos.

PASSADO PRESENTE - A CIDADANIA ROMANA

A palavra cidadania vem do latim civitas, que quer dizer “cidade”. A palavra cidadania
foi usada na Roma antiga para indicar a situação política de uma pessoa e os direitos que essa
pessoa tinha ou podia exercer. Segundo o jurista Dalmo Dallari, “a cidadania expressa um
conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do
governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e
da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social”.
Na Roma antiga, contudo, a cidadania era privilégio apenas de uma parte da
população. Durante a monarquia, somente os patrícios gozavam de direitos políticos. Com a
república, os plebeus conquistaram alguns direitos de cidadania. Entretanto, a população da
maior parte das regiões conquistadas pelos romanos nunca teve acesso a esses direitos
(concedidos apenas à população da península Itálica). Nas regiões conquistadas, cerca de 80
milhões de pessoas viviam sob as ordens dos cavaleiros ou dos nobres romanos. Como não
tinham cidadania, esses indivíduos eram considerados estrangeiros em sua própria terra: sem
direitos civis, religiosos ou políticos. Também não existiam leis ou regras orientando a conduta
dos administradores romanos que ali se encontravam. Assim, cada um governava e aplicava a
justiça conforme seus interesses.
Ter a cidadania significava ter uma lei e uma justiça igual para todos.
texto elaborado com base em: COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 428-432; O
QUE É cidadania. Disponível em: . Acesso em: 12 nov. 2015.
7.O IMPÉRIO ROMANO
1. PRIMEIROS TEMPOS DO IMPÉRIO ROMANO

No começo da Era Cristã, os domínios do Império Romano abrangiam grande parte da


Europa, o norte da África e as terras asiáticas próximas ao Mediterrâneo. Esse imenso território
teve muitos governantes. Em 27 a.C, Caio Otávio assumiu, sozinho, o comando do império,
depois de derrotar Marco Antônio num confronto militar e exilar Lépido que, como ele, eram os
senadores que compunham o Segundo Triunvirato.
Otávio manteve o Senado e a figura dos cônsules, dois fortes símbolos republicanos. O
Senado concedeu-lhe os títulos de Augusto (até então reservado apenas para os deuses),
Príncipe (ou seja, chefe do Senado) e Sumo Pontífice (o cargo religioso mais alto) em 27 a.C.
Assim, Otávio passou a ser chamado de Augusto, e o exército o aclamou Imperator (imperador).
Durante as quatro décadas de seu governo, Augusto promoveu diversas reformas na
sociedade romana. Destituiu senadores acusados de corrupção; perdoou dívidas dos
camponeses para com o governo; criou um tribunal que julgava casos corriqueiros para dar
maior agilidade à Justiça; distribuiu alimentos e dinheiro ao povo em momentos de crise; e
incentivou os espetáculos públicos. (veja o boxe os romanos se divertem).

OS ROMANOS SE DIVERTEM

Durante o governo de Augusto, viviam em Roma cerca de 1 milhão de pessoas. Como


muitos não tinham trabalho, o imperador procurava manter essa população ocupada por meio
de diversões, festas e espetáculos variados. As lutas de gladiadores, iniciadas durante a
república, tornaram-se ainda mais populares. Diversos anfiteatros, como o Coliseu, em Roma,
foram construídos em todo o império para a realização desses espetáculos. Destinadas a
divertir a população, essas lutas tinham também uma dinâmica religiosa. Ao entrar na arena, os
gladiadores desfilavam e saudavam o imperador com a frase Ave, Caesar, morituri te salutant
(“Salve, César, os que vão morrer te saúdam”).
Outra grande diversão eram os circos, nos quais se realizavam corridas a pé, a cavalo
e de bigas (pequenos carros puxados por cavalos). O Circo Máximo era um dos maiores e
comportava cerca de 150 mil espectadores. Os romanos também podiam se divertir com o
teatro, com os jogos de azar e com os triunfos, festas grandiosas oferecidas aos militares
vencedores de batalhas importantes. Havia ainda as termas, luxuosos edifícios com serviços de
banho e massagens que atendiam milhares de pessoas por dia.

SUCESSÃO DE IMPERADORES: CONSPIRAÇÕES E ASSASSINATOS

Com a morte de Augusto, em 14 d.C., assumiu o poder seu genro, Tibério (14-37).
Depois, até o ano 68 d.C., apenas pessoas das dinastias Júlia (de Augusto) e Cláudia (de
Tibério) governaram o império: todos foram envolvidos em episódios de perseguições,
assassinatos e conspirações. Calígula (37-41), sucessor de Tibério, por exemplo, condenou à
morte inúmeras pessoas; confiscou bens e concedeu honrarias reais a seu cavalo Incitatus.
Assassinado em 41, foi sucedido por seu tio Cláudio (41-54), que morreu envenenado pela
própria esposa para que Nero, filho dela de um casamento anterior, assumisse o poder. Com
Nero (54-68), chegou ao fim a dinastia iniciada com Tibério. Nero assassinou a própria mãe e
reprimiu pesadamente os cristãos (o boxe Difusão do cristianismo, abaixo, aborda a relação
entre o cristianismo e a religião romana).

DIFUSÃO DO CRISTIANISMO

A religião sempre desempenhou um papel importante entre os romanos. Com Otávio,


os cultos religiosos ganharam importância, pois o imperador era venerado como um deus.
Entretanto, já no final do período republicano, parte da população passou a seguir doutrinas que
pregavam o aperfeiçoamento interior e a crença na vida após a morte. Particularmente
importante foi o cristianismo, religião monoteísta originária do judaísmo.
O cristianismo baseia-se nos ensinamentos de Jesus, que teria vivido na Palestina no
século I de nossa era, época em que a região era dominada pelos romanos. Seus seguidores –
os cristãos – acreditam ser Jesus o filho de Deus, enviado à Terra como o Messias para redimir
a humanidade de seus pecados e, assim, trazer paz ao mundo.
Com sua doutrina, Jesus entrou em conflito com os sacerdotes judeus – que não o
reconheciam como o Messias enviado por Deus – e com as autoridades romanas, para as quais
apenas o imperador tinha caráter divino. Considerado perigoso pelos grupos dominantes, Jesus
foi condenado a morrer na cruz.
Após sua morte, seguidores de Jesus (chamado de Cristo, que traduzido do grego
significa “ungido”) se espalharam por diversas regiões e passaram a divulgar seus
ensinamentos. A partir de então, o cristianismo alcançou uma rápida difusão. Durante certo
tempo, os imperadores romanos viram na nova religião uma ameaça a seu poder e perseguiram
as comunidades cristãs.
Texto elaborado com base em: BOWKER, John. Para entender as religiões. São Paulo: Ática, 1997. p. 15, 144-146;
HOORNAERT, Eduardo. Memória do povo cristão. Petrópolis: Vozes, 1986. p. 41-75.
PAX ROMANA

Depois de Nero, o general Vespasiano assumiu o governo. Iniciou-se o período de


maior esplendor do Império Romano, que se estendeu pelas dinastias dos Flávios (69-96) e dos
Antoninos (96-192).
Novas cidades surgiram. O modo de vida romano passou a ser adotado nas mais
distantes províncias, acentuando o processo de romanização dessas regiões. Nesse período,
as condições de vida nas províncias melhoraram sensivelmente, atraindo muitos romanos. Tudo
isso fez com que o império vivesse um período de calmaria, razão pela qual essa época ficou
conhecida como a da pax romana (paz romana). Para os povos dominados, no entanto, essa
era uma paz imposta pela força.
Apesar da fase de esplendor, o império enfrentou problemas como epidemias,
incêndios e até a destruição das cidades de Pompeia, Herculano e Estábia pela erupção do
vulcão Vesúvio no ano 79.

A ARTE, A CULTURA E O DIREITO ROMANO

O surgimento de uma produção artística e cultural tipicamente romana verificou-se


principalmente durante o império. Uma das primeiras pessoas a produzir uma obra com
características romanas foi Cícero (106 a.C.-43 a.C.), considerado o maior prosador da língua
latina e autor de diversos textos de Filosofia, Direito e Política. Entre os poetas, um dos mais
importantes foi Virgílio (70 a.C.-19 a.C.), autor de Eneida, poema épico que descreve as origens
de Roma, mesclando lendas e fatos históricos. Outro destaque é Petrônio, cuja obra Satyricon,
escrita em prosa e verso, contém informações sobre a sociedade romana da época imperial.
Na arquitetura romana, bastante influenciada por gregos e etruscos, o desenvolvimento
de arcos sustentados por pilares foi uma das invenções mais originais dos romanos nessa área
e permitiu a construção de pontes, arcos do triunfo e aquedutos. Já a invenção do concreto –
feito de uma mistura de pedra, areia, água e cinza vulcânica – impulsionou a construção de
edifícios mais altos.
Um dos importantes legados dessa sociedade ao mundo moderno foi o Direito
Romano, que definiu os primeiros regulamentos das relações públicas e privadas e se constituiu
em um elaborado conjunto de leis. Ainda hoje, ele serve de referência para a Justiça em
diversos países.

2. INVASÕES E DIVISÃO DO IMPÉRIO

No final do século II, o Império Romano começou a sofrer as primeiras invasões de


povos vindos inicialmente do interior da Europa e posteriormente da Ásia. Os romanos os
chamavam depreciativamente de bárbaros, porque não falavam o latim e tinham costumes
diferentes dos seus.
A pax romana, portanto, não era uma garantia de estabilidade duradoura. A partir da
dinastia Severa (193-235), os sinais de crise tornaram-se cada vez mais frequentes. Entre 235 e
284, por exemplo, somente um entre 26 imperadores teve morte natural. Além disso, nessa
época a população sofria com os altos impostos e com uma crise econômica e agrícola sem
precedentes.
Preocupado em tornar o império mais governável, o imperador Diocleciano (284-305)
resolveu dividi-lo em duas partes: uma oriental, sob seus cuidados; a outra, ocidental, entregue
ao general Maximiano.
Mais tarde, Diocleciano dividiu o poder do império entre quatro governantes, a
chamada tetrarquia. Por esse sistema, o império continuou dividido em dois territórios
governados por dois imperadores, ambos com o título de “Augusto”. Cada um nomeava um
sucessor que o auxiliava na administração de um dos territórios. Essa fragmentação
enfraqueceu particularmente ainda mais o Senado, que vinha perdendo poder desde o governo
de Otávio.
O Senado continuou a funcionar em Roma, mas a cidade deixou de ser sede do
império, que passou a contar com quatro capitais: Trier (na atual Alemanha), Milão (na
península Itálica), Sirmio (hoje chamada Sremska Mitrovicana, na atual Bósnia-Herzegovina) e
Nicomédia (hoje Izmit, na atual Turquia).
Em 395, o imperador Teodósio dividiu o império em duas partes novamente, criando o
Império Romano do Oriente, sediado em Constantinopla (hoje Istambul), sob o governo de um
de seus filhos, Arcádio. Essa parte do império também ficou conhecida como Império Bizantino,
pois sua capital havia sido erguida no lugar da antiga cidade grega de Bizâncio.
A outra parte formou o Império Romano do Ocidente, com capital em Milão, sob o
governo de seu outro filho, Honório. Essa parte do império continuou a ser assediada pelos
povos provenientes da Europa central e oriental e, aos poucos, foi se esfacelando sob a ação
dos invasores.
No início do século V, as legiões romanas foram expulsas da Bretanha pelos saxões,
um dos povos invasores. Por volta de 400, os visigodos devastaram a Gália, invadiram a
península Itálica e, em 410, saquearam Roma. Em 452, os hunos, comandados pelo rei Átila,
invadiram a península Itálica e arrasaram as cidades de Pádua e Milão. A derrocada final
ocorreu em 476, quando o último imperador romano do Ocidente, Rômulo Augústulo, foi
destronado por Odoacro, rei dos hérulos.

VOCÊ SABIA?

Início da Idade média. Alguns historiadores consideram que a partir da conquista de


Roma, em 476, teve início o período histórico conhecido como Idade Média. Mas a divisão da
História em períodos deve ser vista apenas como forma de facilitar a localização de grandes
períodos históricos no tempo. Mais importante é entender que as mudanças estão relacionadas
a processos históricos, o que significa dizer que nenhuma sociedade muda radicalmente de um
dia para o outro apenas por causa de um nome que os historiadores lhe deram.

INVASÕES AO IMPÉRIO ROMANO

À medida que a crise interna aumentava, a partir do século III, os territórios


conquistados pelo Império Romano tornaram-se alvos constantes de invasões de diversos
povos. A maioria desses povos tinha origem germânica, exceto principalmente os hunos, que,
por sua vez, tinham invadido as planícies da Rússia e da Europa oriental, impulsionando os
povos germânicos para os territórios romanos. Diferentes uns dos outros, não havia nenhuma
unidade política ou cultural entre os germânicos.
De acordo com o excerto, tornar-se cidadão em Atenas
dependia
(A) da formação intelectual e do pertencimento às
1. (Unesp) A Odisseia choca-se com a questão do tropas da cidade.
passado. Para perscrutar o futuro e o passado, recorre- (B) da aceitação pelo grupo familiar e da preparação
se geralmente ao adivinho. Inspirado pela musa, o para a guerra.
adivinho vê o antes e o além: circula entre os deuses e (C) do casamento dentro da linhagem e do auxílio
entre os homens, não todos os homens, mas os heróis, militar ao Estado.
preferencialmente mortos gloriosamente em combate. (D) de pagamentos feitos aos sacerdotes e do combate
Ao celebrar aqueles que passaram, ele forja o passado, aos inimigos.
mas um passado sem duração, acabado. (E) do reconhecimento pelas autoridades civis e da
(François Hartog. Regimes de historicidade: presentismo e experiências do
tempo, 2015. Adaptado.)
capacidade bélica.

O texto afirma que a obra de Homero 4. (Ueg) Leia o texto a seguir.


(A) questiona as ações heroicas dos povos fundadores
da Grécia Antiga, pois se baseia na concepção A tradição continua a ser o único fundamento para
filosófica de physis. imaginarmos que houve a Guerra de Tróia, e os motivos de
(B) valoriza os mitos em que os gregos acreditavam e uma expedição ultramarina tão complicada ainda precisam
que estão no fundamento das concepções ser explicados.
modernas de tempo e história. FINLEY, M. Aspectos da Antiguidade. São Paulo: Martins Fontes, 1991. p. 37.
(C) é fundadora da ideia de história, pois concebe o
passado como um tempo que prossegue no De acordo com a tradição mítica, o episódio responsável por
presente e ensina os homens a aprenderem com fazer eclodir a Guerra de Tróia foi
seus erros. (A) a disputa comercial entre as cidades-estados da
(D) identifica uma forma do pensamento mítico e uma Liga de Delos e da Liga do Peloponeso.
visão de passado estranha à ideia de diálogo entre (B) a fuga do herói troiano Enéias para a península
temporalidades, que caracteriza a história. itálica onde fundou Alba Longa.
(E) desenvolve uma abordagem crítica do passado e (C) a resistência de 300 espartanos impedindo o
uma reflexão de caráter racionalista, semelhantes à avanço do império persa na Europa.
da filosofia pré-socrática. (D) o descontentamento social gerado pelos sacrifícios
humanos feitos ao Minotauro.
2. (Fgv) Aqueles que compõem a cidade, tão diferentes (E) o rapto da rainha espartana por um príncipe troiano,
entre si por suas origens, condições e funções, de certa ferindo as leis de hospitalidade.
forma parecem “semelhantes” uns aos outros. Essa
similitude funda a unidade da pólis, porque para os
5. (Enem) Na Grécia, o conceito de povo abrange tão
gregos somente os semelhantes podem permanecer
somente aqueles indivíduos considerados cidadãos.
mutuamente unidos pela Philia, associados a uma Assim é possível perceber que o conceito de povo era
mesma comunidade. Todos aqueles que participam do muito restritivo. Mesmo tendo isso em conta, a forma
Estado definem-se como Homoioi, semelhantes, depois democrática vivenciada e experimentada pelos gregos
de maneira mais abstrata, como Isoi, iguais. Essa
atenienses nos séculos IV e V a.C. pode ser
imagem das relações humanas encontrará no século VI caracterizada, fundamentalmente, como direta.
a.C. a sua expressão rigorosa no conceito de isonomia: MANDUCO, A. Ciência política. São Paulo: Saraiva. 2011.
igual participação de todos os cidadãos no exercício do
poder. Naquele contexto, a emergência do sistema de governo
(Jean-Pierre Vernant. Les origines de la pensée grecque, 1995. Adaptado.)
mencionado no excerto promoveu o(a)
O autor argumenta que a organização da pólis grega (A) competição para a escolha de representantes.
(A) desconhecia as desigualdades reais entre os (B) campanha pela revitalização das oligarquias.
cidadãos na esfera das decisões políticas coletivas. (C) estabelecimento de mandatos temporários.
(B) fundava-se no sentimento recíproco de amizade (D) declínio da sociedade civil organizada.
entre os cidadãos dos mesmos grupos econômicos. (E) participação no exercício do poder.
(C) abria-se à participação nas decisões públicas dos
aliados incondicionais da cidade nos períodos de 6. (Ufjf-pism 1) Observe os quadrinhos abaixo:
guerra.
(D) enaltecia o exercício da racionalidade política em
prejuízo dos cultos das divindades do mundo grego.
(E) distribuía o conjunto das tarefas públicas de acordo
com as aptidões políticas de cada um dos cidadãos.
3. (Famema) Leia o excerto sobre a preparação dos
rapazes na Grécia Antiga para exercer seu papel de
cidadão e pai de família.
Dois tipos de iniciação persistiam nas épocas clássica e
helenística em Atenas. A primeira, de origem mais arcaica,
era a apresentação do adolescente à 1fratria paterna,
inicialmente em um sacrifício oferecido pelo pai aos deuses
Zeus e Atena. A segunda, provavelmente estabelecida na
época clássica, era o serviço militar, chamado efebia. Ambas
tinham igual importância para os gregos do período, e era
indispensável que o jovem passasse pelas duas.
(Maria Beatriz Florenzano. Nascer, viver e morrer na Grécia Antiga, 1996.
Adaptado.)1fratria: grupo de pessoas que acreditavam ter o mesmo ancestral.
O quadrinho do cartunista Gilmar, publicado em 2010, expõe 8. (Ueg) Leia o texto a seguir.
uma crítica contemporânea ao que se apresentou como
“democracia” na Atenas da antiguidade clássica. Das Para justificar a ambição grega de hegemonia universal,
alternativas abaixo, qual expressa de modo consistente tal Aristóteles (384 - 322 a. C.) formulou a hipótese de que
crítica? certas raças são, por natureza, livres desde o berço,
(A) A apatia da população, que não tinha o hábito de enquanto outras são escravas.
participar das decisões tomadas nas assembleias COMAS, Juan. Os mitos raciais. Raça e Ciência. São Paulo: Perspectiva,
1960. v. I. p. 13.
dirigidas pelos cidadãos.
(B) A contradição envolvendo um ideal democrático e a
Essa filosofia racial foi incorporada às campanhas militares
exclusão real da participação política de sujeitos
de um grande general e líder político que foi aluno de
considerados “não cidadãos”.
Aristóteles. Seu nome era
(C) A equivalência entre a forma democrática ateniense
(A) Leônidas, rei espartano que liderou a resistência
e a que é utilizada atualmente na sociedade
contra os persas com apenas 300 soldados.
brasileira desde a Constituição de 1988.
(B) Alexandre, o Grande, rei da Macedônia, que
(D) A necessidade de se constituir, na sociedade grega
difundiu a cultura grega na África e na Ásia.
da antiguidade, uma forma de democracia
(C) Nero, imperador romano admirador dos gregos,
representativa, na qual cada eleitor escolhia seus
famoso por ter colocado fogo em Roma.
representantes.
(D) Péricles, governante responsável pelo apogeu da
(E) O favorecimento sistemático de representantes de
cidade de Atenas no período clássico.
partidos políticos que nem sempre representavam a
(E) Licurgo, legislador conhecido por estabelecer as
maioria da população.
duras leis da cidade de Esparta.
7. (Mackenzie)
9. (Unicamp) Os gregos sentiram paixão pelo humano, por
suas capacidades, por sua energia construtiva. Por isso,
inventaram a polis: a comunidade cidadã em cujo
espaço artificial, antropocêntrico, não governa a
necessidade da natureza, nem a vontade dos deuses,
mas a liberdade dos homens, isto é, sua capacidade de
raciocinar, de discutir, de escolher e de destituir
dirigentes, de criar problemas e propor soluções. O
nome pelo qual hoje conhecemos essa invenção grega,
a mais revolucionária, politicamente falando, que já se
produziu na história humana, é democracia.
(Adaptado de Fernando Savater, Política para meu filho. São Paulo: Martins
Fontes, 1996, p. 77.)

Assinale a alternativa correta, considerando o texto acima e


seus conhecimentos sobre a Grécia Antiga.
(A) Para os gregos, a cidade era o espaço do exercício
da liberdade dos homens e da tirania dos deuses.
A imagem acima da escultura de Doríforo de Policleto é uma (B) Os gregos inventaram a democracia, que tinha
das mais conhecidas obras da Antiguidade Clássica, por então o mesmo funcionamento do sistema político
traduzir o equilíbrio exato da proporção harmônica nas vigente atualmente no Brasil.
medidas do corpo humano. A arte grega livre de imposições (C) Para os gregos, a liberdade dos homens era
ou normas estilísticas, valorizava o homem, devido exercida na polis e estava relacionada à capacidade
(A) à cultura de Atenas, responsável pela produção de invenção da política.
artística grega, que considerava o homem a medida (D) A democracia foi uma invenção grega que criou
comum de todas as coisas, apesar desse princípio problemas em função do excesso de liberdade dos
não ser adotado por todas as cidades-estados, homens.
como por exemplo, Esparta que valorizava as (E) A República e a democracia foram invenções dos
atividades militares. hebreus e assimiladas pelos gregos e romanos.
(B) às suas crenças e práticas religiosas, por
acreditarem que os deuses habitavam o corpo 10. (Fgv) (...) a partir do século V a.C., a guerra tornou-se
humano e eram representados sob essa condição, endêmica no Mediterrâneo. Foram séculos de guerra
aproximando os fiéis do transcendental e divino. contínua, com maior ou menor intensidade, ao redor de
(C) ao mito religioso, cultivado e disseminado em todas toda a bacia. O trabalho acumulado nos séculos
as classes sociais das diversas cidades-estados anteriores tornara possível um adensamento dos
gregas. Acreditava-se que um corpo são e perfeito é contatos, um compartilhamento de informações e
sempre acompanhado por um espírito saudável e estruturas sociais, uma organização dos territórios rurais
sagaz. que propiciava a extensão de redes de poder. Foram os
(D) ao pensamento helenístico, capaz de criar uma pontos centrais dessas redes de poder que animaram o
unidade cultural em toda a Grécia, superando os conflito nos séculos seguintes.
paradigmas religiosos de outras civilizações da Norberto Luiz Guarinello. História Antiga, 2013.
época e passando a valorizar o homem e sua
capacidade racional de entender o mundo. Sobre esses “séculos de guerra contínua”, é correto afirmar
(E) ao pensamento aristocrático, que se utilizava da que
expressão máxima da beleza humana para se impor
sob as demais classes sociais, já que o homem era
representado como um deus, garantindo a
submissão do restante da sociedade grega.
(A) as Guerras Púnicas, entre Atenas e Cartago, foram (D) decisão política, que censurava as manifestações
uma disputa pelo controle comercial sobre o mar públicas da doutrina dissidente.
Mediterrâneo, terminando após três grandes (E) violência senhorial, que impunha a desestruturação
enfrentamentos, com a vitória de Cartago e a forçada das famílias escravas.
hegemonia cartaginesa em todo o Mundo Antigo
ocidental. 13. (Ufpr) Para assegurar a ordem entre os conquistados, os
(B) as Guerras Macedônicas foram um longo conflito romanos tinham que manter postos avançados e
entre o Reino da Macedônia, em aliança com os acampamentos militares espalhados pelo território
persas, e o Império Romano, que venceu com imperial. Era preciso alimentar e armar os soldados
muitas dificuldades porque ainda estava em guerra onde estivessem.
com outros povos. (FUNARI, Pedro P. A. Grécia e Roma. São Paulo: Editora Contexto, 2001, p.
91.)
(C) as Guerras Médicas, entre persas e gregos,
resultaram na vitória dos últimos e, em meio a
Sobre o exército romano, no período imperial, é correto
esses confrontos, permitiram que Atenas liderasse a
afirmar:
Liga de Delos, aliança de cidades-Estados gregas
(A) Foi decisivo nas conquistas territoriais durante o
com o intuito de combater a presença persa no
período republicano, perdendo seu prestígio durante
Mediterrâneo.
o período imperial.
(D) as Campanhas de Alexandre, o Grande, aliado a
(B) Permaneceu distante das atividades de manutenção
Esparta e Corinto, combateram e venceram as
das fronteiras dos territórios.
poderosas forças persas e ampliaram os domínios
(C) Deixou de exercer sua influência no governo após
gregos até a Ásia Menor, propagando os princípios
as reformas de Augusto.
da democracia ateniense pelo Mediterrâneo.
(D) Desempenhou diferentes papéis administrativos e
(E) a Guerra do Peloponeso, o mais importante conflito
econômicos na manutenção do poder imperial.
bélico da Antiguidade, envolveu as principais
(E) Era limitado em tamanho, o que refletiu num papel
cidades-Estados gregas que, aliadas a Roma,
político secundário.
enfrentaram e derrotaram as forças militares
cartaginesas.
14. (Mackenzie) A expansão da civilização romana e a
conquista do Mediterrâneo, se por um lado trouxeram
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
riquezas e poderio à Roma; por outro lado, provocou um
conflito entre as antigas instituições políticas, frente à
Atualmente, muitos estudiosos acreditam que é
nova realidade social e econômica dos romanos. Isso se
possível identificar processos de globalização em sociedades
deve
pré-modernas, em vista de fenômenos como o encurtamento
(A) às Guerras Púnicas que resultaram no predomínio
relativo das distâncias (através de meios de transporte e
marítimo- mercantil romano sobre o Mediterrâneo,
comunicação mais eficazes), maior conectividade entre
onde Cartago teve que se render à Roma, porém os
regiões previamente isoladas [...].
(Rafael Scopacasa. Revista de História, nº 177, 2018.) cartaginenses não aceitaram submeter-se às leis
romanas.
11. (Unesp) A expansão romana pelo mar Mediterrâneo (B) à inadequação entre a estrutura política republicana
pode ser considerada um exemplo de “globalização em e a expansão do sistema escravista de produção,
sociedades pré-modernas”, pois envolveu cuja principal consequência foi a crise da República
(A) eliminação da influência helenista e Romana e o estabelecimento do Império.
homogeneização dos hábitos alimentares na zona (C) à expansão externa de Roma que provocou a vinda
mediterrânica. de imensos contingentes de prisioneiros de guerra
(B) imposição do monoteísmo romano e unidade na condição de escravos, favorecendo os pequenos
monetária em todas as províncias controladas. e médios proprietários de terra.
(C) descaracterização cultural dos povos dominados e (D) à conquista do Mediterrâneo e à abertura de novos
interrupção da circulação marítima na região. mercados à economia romana que prejudicaram
(D) uniformização linguística no entorno do mar e fortemente o desenvolvimento da manufatura e dos
intercâmbios culturais entre os povos da região. produtos romanos frente à concorrência das
(E) mobilidade intensa de bens e interdependência mercadorias estrangeiras.
entre regiões e povos distantes. (E) às vitórias advindas após as Guerras Púnicas, que
foram responsáveis pelo início de um período de
12. (Enem) Ao abrigo do teto, sua jornada de fé começava prosperidade econômica e, consequentemente, paz
na sala de jantar. Na pequena célula cristã, dividia-se a social e estabilidade política.
refeição e durante elas os crentes conversavam,
rezavam e liam cartas de correligionários residentes em 15. (Enem) Com efeito, até a destruição de Cartago, o povo
locais diferentes do Império Romano (século II da Era e o Senado romano governavam a República em
Cristã). Esse ambiente garantia peculiar apoio harmonia e sem paixão, e não havia entre os cidadãos
emocional às experiências intensamente individuais que luta por glória ou dominação; o medo do inimigo
abrigava. mantinha a cidade no cumprimento do dever. Mas,
SENNET, R. Carne e Pedra. Rio de Janeiro: Record, 2008. assim que o medo desapareceu dos espíritos,
introduziram-se os males pelos quais a prosperidade
Um motivo que explica a ambientação da prática descrita no tem predileção, isto é, a libertinagem e o orgulho.
texto encontra-se no(a) SALÚSTIO. A conjuração de Catilina/A guerra de Jugurta. Petrópolis: Vozes,
1990 (adaptado).
(A) regra judaica, que pregava a superioridade
espiritual dos cultos das sinagogas.
O acontecimento histórico mencionado no texto de Salústio,
(B) moralismo da legislação, que dificultava as reuniões
datado de I a.C., manteve correspondência com o processo
abertas da juventude livre.
de,
(C) adesão do patriciado, que subvertia o conceito
original dos valores estrangeiros.
(A) demarcação de terras públicas. (D) No Império, Roma iniciou sua expansão territorial
(B) imposição da escravidão por dividas. para regiões mediterrânicas da atual Europa, do
(C) restrição da cidadania por parentesco. Oriente Médio e do norte da África.
(D) restauração de instituições ancestrais. (E) No final da República, os atores históricos ligados
(E) expansão das fronteiras extrapeninsulares. aos triunviratos buscaram legitimar seu poder por
intermédio do fortalecimento da liberdade do
16. (Ufjf-pism 1) Ao analisar o conceito de “república”, o Senado.
filósofo Renato Janine Ribeiro afirma que:
18. (Ufpr) Leia o trecho abaixo, escrito por Agostinho de
“República é um conceito romano, como democracia é um Hipona (354-430) em 410, sobre a devastação de Roma:
termo grego. Vem de res publica, coisa pública. Surgiu em
Roma substituindo a monarquia, mas monarquia e república Não, irmãos, não nego o que ocorreu em Roma. Coisas
não se definem pelo mesmo critério. Monarquia se define por horríveis nos são anunciadas: devastação, incêndios,
quem manda: significa o poder (arquia) de um (mono) só. Já rapinas, mortes e tormentos de homens. É verdade. Ouvimos
a palavra república não indica quem manda, e sim para que muitos relatos, gememos e muito choramos por tudo isso,
manda. O poder aqui está a serviço do bem comum, da coisa não podemos consolar-nos ante tantas desgraças que se
coletiva ou pública. Ao contrário de outros regimes, e em abateram sobre a cidade.
especial da monarquia, na república não se busca vantagem (Santo Agostinho. Sermão sobre a devastação de Roma. Tradução de Jean
Lauand. Disponível em: <http://www.hottopos.com/mp5/agostinho
de um ou de poucos, mas a do coletivo.” 1.htm#_ftn2>. Acesso em 11 de agosto de 2018.)
RIBEIRO, Renato Janine. A república. São Paulo: Publifolha, 2001, p. 18.

Considerando os conhecimentos sobre a história do Império


Sobre o conceito de república romana e o legado para o
Romano (27 a.C. – 476 d.C.) e as informações do trecho
Brasil, assinale a alternativa CORRETA:
acima, assinale a alternativa que situa o contexto histórico
(A) A base e estrutura do Direito Civil Brasileiro
em que ocorreram os problemas relatados sobre Roma e a
republicano, com seus modelos, métodos e
sua consequência para o Império, entre os séculos IV e V.
conceitos são heranças eminentemente romanas.
(A) Trata-se do contexto das invasões dos povos
(B) Assim como na república brasileira, o poder político
visigodos, sendo uma das causas do final do
em Roma era controlado democraticamente por um
Império Romano do Oriente.
presidente.
(B) Trata-se do contexto dos saques de povos
(C) As causas das reformas políticas são as mesmas
vândalos, sendo uma das causas do final do Sacro
desde a época do Império Romano e estabeleceram
Império Romano-Germânico.
as bases da monarquia brasileira.
(C) Trata-se do contexto das pilhagens de povos
(D) A república romana abriu espaço para uma nova
ostrogodos, sendo uma das causas do final do
forma de organização política, assim como no
Império Bizantino.
Brasil, que viveu a passagem para a monarquia.
(D) Trata-se do contexto das incorporações de povos
(E) A mão de obra escravista deixou de ser aplicada,
vikings, sendo uma das causas do final do Sacro
assim como na república brasileira, que utilizou o
Império Romano do Oriente.
trabalho assalariado dos plebeus.
(E) Trata-se do contexto das invasões de povos
bárbaros, sendo uma das causas do final do Império
17. (Uel) Analise a figura a seguir.
Romano do Ocidente.

19. (Unicamp)

Com base na figura e nos conhecimentos sobre o período de


transição da República para o Império Romano, assinale a
alternativa correta. A imagem acima retrata parte do mosaico romano de
(A) Após a desestruturação da República, os Nennig, um dos mais bem conservados que se encontram
imperadores romanos legitimaram sua posição até o momento no norte da Europa. A composição conta com
sobre fundamentos políticos laicos. 2
(B) Com o término da República e a ascensão do mais de 160 m e apresenta como tema cenas próprias de
Império ao longo do primeiro século a.C., os um anfiteatro romano.
imperadores passaram a ser considerados como https://fr.wikipedia.org/wiki/Perl_(Sarre)#/media/File:Retiarius_stabs_secutor_(
color).jpg.
escolhidos pelos deuses. Acessado em: 12/08/2016.
(C) Durante o colapso da República, ocorreu
inexpressiva participação popular, tendo em vista A partir da leitura da imagem e do conhecimento sobre o
que a escravidão tinha sido abolida no período de período em questão, pode-se afirmar corretamente que a
Espártaco. imagem representa
(A) uma luta entre três gladiadores, prática popular Isso não significa que as religiões tenham vivido em conflito.
entre membros da elite romana do século III d. C, O cristianismo tomou diversas ideias e características do
que foi criticada pelos cristãos. paganismo para si. Os livros escritos no início do Império e
(B) a popularidade das atividades circenses entre os na época da República eram considerados obras-primas da
romanos, prática de cunho religioso que envolvia os literatura, e mesmo os que falavam de outros deuses eram
prisioneiros de guerra. lidos e apreciados pelos cristãos.
(C) uma das ações da política do pão e do circo, Carlos Augusto Ribeiro Machado. Roma e seu império, 2004. Adaptado.
estratégia da elite romana que usava cidadãos
romanos na arena, para lutarem entre si e, assim, Segundo o texto, a ascensão do cristianismo na Roma
divertir o povo. Antiga
(D) uma luta entre gladiadores, prática que tinha (A) não impediu o avanço de outras formas de
inúmeras funções naquela sociedade, como a religiosidade, e o paganismo, apesar de reprimido,
diversão, a tentativa de controle social e a continuou a crescer e manteve-se hegemônico.
valorização da guerra. (B) deu-se a partir das conquistas romanas na
(E) atividade esportiva de origem grega que era Palestina e revelou a correção e a supremacia
praticada pelos jovens guerreiros patrícios. religiosa da fé cristã frente às antigas religiões.
(C) não impediu a manifestação de outras formas de
20. (Upf) A expansão de Roma durante a República, nos religiosidade e, apesar de terem ocorrido tensões,
séculos III e II a.C, com o consequente domínio da bacia algumas antigas práticas religiosas persistiram.
do Mediterrâneo, provocou importantes transformações (D) deu-se a partir das cruzadas, que levaram a fé
políticas, sociais e econômicas, dentre as quais: cristã aos pagãos, judeus e muçulmanos que
(A) Acentuado processo de industrialização, êxodo controlavam as terras do Oriente Próximo.
urbano, endividamento do Estado. (E) deu-se a partir do extermínio dos grupos que
(B) Fortalecimento da classe dos plebeus, expansão da professavam crenças antigas e da eliminação dos
pequena propriedade agrícola, propagação do materiais que contivessem referências ao
cristianismo. paganismo.
(C) Influência intensa da cultura grega, domínio político
23. (Uefs) O processo de declínio do Império Romano do
dos plebeus, grande moralização dos costumes.
Ocidente começou em meados do século IV d.C.,
(D) Fortalecimento do Estado romano, surgimento de
sobretudo em razão da série de problemas que, desde o
uma poderosa classe de comerciantes, aumento do
século III, o assolava, como as invasões bárbaras, a
número de escravos.
crise econômica e a disputa dos militares pelo poder.
(E) Aumento do trabalho livre, maior concentração
(QUEDA DO IMPÉRIO... 2016).
populacional nos campos,enriquecimento da elite
patrícia.
A ligação entre a aludida crise econômica e a formação das
bases do modo de produção feudal se encontram na
21. (Fgv) Podendo-se encontrar na crise do mundo romano
(A) gradual substituição do sistema escravista pelo de
do século III o início da profunda perturbação de que
colonato, baseado na prestação de serviços
sairá o Ocidente medieval, é legítimo considerar as
agrícolas em terras dos senhores, em troca de
invasões bárbaras do século V como o acontecimento
subsistência e proteção.
que precipita as transformações, que lhes dá um
(B) divulgação de uma nova arquitetura, baseada na
aspecto catastrófico e que lhes modifica profundamente
construção de muralhas em torno dos castelos dos
a aparência.
LE GOFF, J. A civilização do Ocidente Medieval. Trad. Lisboa: Estampa, 1983,
senhores, decorrente da necessidade de defesa
v. 1, p. 29. contra as frequentes rebeliões de escravos.
(C) expansão do comércio mediterrâneo, controlado
A crise do mundo romano e a transição para a Idade Média pelos mercadores árabes, que proibiam o comércio
(A) foram decorrentes do fortalecimento do cristianismo dos romanos com o Oriente Médio.
que, a partir do século III, tornou-se a religião oficial (D) organização das corporações de ofício que
do Império Romano. controlavam a produção e os preços das
(B) tiveram entre suas características a diminuição do mercadorias nos países do norte da África.
ingresso de mão de obra escrava e o processo de (E) adoção do cristianismo como religião oficial do
ruralização social. Império, desde o governo de Otávio Augusto e de
(C) foram marcadas pelas catástrofes naturais e pelas Júlio Cesar.
epidemias de peste e lepra que estimularam o
deslocamento para as cidades. 24. (Uece) Plutarco atribuiu ao Tribuno da Plebe, Tibério
(D) levaram ao fortalecimento das instituições públicas Graco, o seguinte discurso dirigido aos pobres de Roma:
romanas e ao desenvolvimento das atividades
mercantis no Mediterrâneo. “As feras que atravessam os bosques da Itália têm cada uma
(E) foram particularmente catastróficas na parte seus abrigos e suas tocas; os que lutam e morrem pela
Oriental do mundo Romano, pela proximidade defesa da Itália só têm o ar e luz e nenhuma outra coisa
geográfica com os povos germânicos. mais. Sem teto para se abrigar, eles vagueiam com seus
filhos e suas mulheres. Os enganam seus generais quando,
22. (Famerp) Durante o século IV, a velocidade da nas batalhas, os estimulam a combater pelos templos de
expansão do cristianismo aumentou muito, seus deuses, pelas sepulturas de seus pais. Isto porque, de
especialmente nas cidades [romanas]. As antigas um grande número de romanos, não há um só que tenha o
crenças continuaram existindo, mas o número de fiéis seu altar doméstico nem seu jazigo familiar. Eles combatem
diminuiu muito. Os cristãos passaram a chamar os e morrem para alimentar a opulência e o luxo de outros, e,
adeptos das outras religiões de pagãos e, em algumas quando dizem que são senhores de todo o mundo, eles não
ocasiões, se dedicaram a destruir seus templos e as são donos sequer de um pedaço de terra”.
Apud Plutarco. Vidas Paralelas. Tomo VI. P. 209-210. Disponível em:
estátuas dos deuses antigos. http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action
=&co_obra=6712
Com essas palavras, o Tribuno Tibério Graco nos informa 27. (ENEM 2020) Ao abrigo do teto, sua jornada de fé
que Roma começava na sala de jantar. Na pequena célula cristã,
(A) possuía uma grande camada social desprovida de dividia-se a refeição e durante elas os crentes
acesso à propriedade, contudo, era essa camada conversavam, rezavam e liam cartas de correligionários
que garantia o sucesso militar e o poderio das elites residentes em locais diferentes do Império Romano
romanas. (século II da Era Cristã). Esse ambiente garantia
(B) tinha uma organização social baseada numa justa peculiar apoio emocional às experiências intensamente
distribuição da riqueza e era alicerçada pelo poderio individuais que abrigava.
militar. SENNET, R. Carne e pedra. Rio de Janeiro: Record, 2008.
(C) tinha uma sociedade baseada na tradição de culto
aos antepassados e todos os romanos tinham sua Um motivo que explica a ambientação da prática descrita
terra e um lugar para cultuar seus entes. no texto encontra-se no(a)
(D) vivia sobre uma constante tensão social em função
do apoio irrestrito dos pobres aos militares, já que (A) regra judaica, que pregava a superioridade spiritual
estes garantiam ao povo a propriedade da terra, dos cultos das sinagogas.
mesmo a contragosto dos latifundiários. (B) moralismo da legislação, que dificultava as reuniões
(E) garantiu a distribuição de terras a todos os plebeus abertas da juventude livre.
e clientes que haviam conquistado à condição de (C) adesão do patriciado, que subvertia o conceito
cidadania. original dos valores estrangeiros.
(D) decisão política, que censurava as manifestações
25. (Ufpr) O cristianismo católico tornou-se religião oficial do públicas da doutrina dissidente.
Império Romano no ano de 380 d.C., data da edição do (E) violência senhorial, que impunha a desestruturação
famoso édito de Tessalônica, outorgado pelo Imperador forçada das famílias escravas.
Teodósio. Desde a sua criação até este momento, a
caminhada foi dura e difícil para os seguidores de Cristo. 28. (ENEM 2020) Na Grécia, o conceito de povo abrange
Exemplo disso foram as perseguições movidas por tão somente aqueles indivíduos considerados cidadãos.
alguns imperadores romanos, eternizadas pelos relatos Assim é possível perceber que o conceito de povo era
fantásticos e emotivos de vários escritores e muito restritivo. Mesmo tendo isso em conta, a forma
historiadores cristãos. democrática vivenciada e experimentada pelos gregos
atenienses nos séculos IV e V a.C. pode ser
Podemos apontar como principais causas dessas caracterizada, fundamentalmente, como direta.
MANDUCO, A. Ciência política. São Paulo: Saraiva, 2011.
perseguições:
(A) O ódio e a intolerância tanto das autoridades como
Naquele contexto, a emergência do sistema de governo
da população pagã do mundo romano, que viam na
mencionado no excerto promoveu o(a)
figura de Cristo e na comunidade cristã uma
(A) competição para a escolha de representantes.
ameaça ao poder do Imperador.
(B) campanha pela revitalização das oligarquias.
(B) A constante penetração de elementos cristãos tanto
(C) estabelecimento de mandatos temporários.
nas filas do exército imperial romano como em
(D) declínio da sociedade civil organizada.
cargos administrativos de elevada importância, que
(E) participação no exercício do poder.
poderiam servir de “mau exemplo” tanto em termos
políticos como ideológicos.
29. (ENEM DIGITAL 2020) Os sofistas inventam a educação
(C) Aspectos de índole moral, na medida em que os
em ambiente artificial, o que se tornará uma das
cristãos eram acusados pelos pagãos de realizarem
características de nossa civilização. Eles são os
orgias e assassinatos de crianças em seus rituais.
profissionais do ensino, antes de tudo pedagogos, ainda
(D) A associação entre os cristãos e os inimigos
que seja necessário reconhecer a notável originalidade
bárbaros que punha em risco a estabilidade política
de um Protágoras, de um Górgias ou de um Antifonte,
e religiosa interna do mundo imperial romano.
por exemplo. Por um salário, eles ensinavam a seus
(E) A necessidade de oferecer à população de Roma
alunos receitas que lhes permitiam persuadir os
“pão e circo”, com os cristãos sendo sacrificados na
ouvintes, defender, com a mesma habilidade, o pró e o
arena do Coliseu para minimizar a ameaça de
contra, conforme o entendimento de cada um.
revoltas populares contra as autoridades imperiais. HADOT, P. O que é a filosofia antiga? São Paulo: Loyola, 2010 (adaptado).

26. (ENEM 2020) Com efeito, até a destruição de Cartago, o O texto apresenta uma característica dos sofistas, mestres
povo e o Senado romano governavam a República em da oratória que defendiam a(o)
harmonia e sem paixão, e não havia entre os cidadãos (A) ideia do bem, demonstrado na mente com base na
luta por glória ou dominação; o medo do inimigo teoria da reminiscência.
mantinha a cidade no cumprimento do dever. Mas, (B) relativismo, evidenciado na convencionalidade das
assim que o medo desapareceu dos espíritos, instituições políticas.
introduziram-se os males pelos quais a prosperidade (C) ética, aprimorada pela educação de cada indivíduo
tem predileção, isto é, a libertinagem e o orgulho. com base na virtude.
SALÚSTIO. A conjuração de Catilina/A guerra de Jugurta. Petrópolis: Vozes,
1990 (adaptado). (D) ciência, comprovada empiricamente por meio de
conceitos universais.
O acontecimento histórico mencionado no texto de Salústio, (E) religião, revelada pelos mandamentos das leis
datado de I a.C., manteve correspondência com o processo divinas.
de
(A) demarcação de terras públicas.
(B) imposição da escravidão por dívidas.
(C) restrição da cidadania por parentesco.
(D) restauração de instituições ancestrais.
(E) expansão das fronteiras extrapeninsulares.
30. (UNICAMP 2020) Os imperadores romanos que
reinaram no século II administraram um vasto império.
Eles se tornaram mais abertamente monárquicos e
dinásticos, particularmente fora de Roma, onde não
precisavam se preocupar com os humores do Senado.
Emergiu uma corte itinerante que competia por
influência. Comunidades provinciais enviavam um
embaixador atrás do outro para acompanhar o
imperador onde quer que ele pudesse estar. Poderiam
encontrar Adriano às margens do Nilo ou
supervisionando a construção da grande muralha que
cruzava o norte da Britânia; ajudando a projetar seu
templo de Vênus diante do Coliseu; fazendo um discurso
para soldados na África. O império era governado de
onde o imperador estivesse.

(Adaptado de Greg Woolf, Roma. São Paulo: Cultrix, 2017, p. 204.)

A partir da leitura do texto, assinale a alternativa correta.


(A) O Senado, composto por notáveis, fazia oposição à
centralização do poder do Imperador e garantia a
centralidade do governo em Roma e a
democratização das decisões governamentais.
(B) O Senado, composto por notáveis, apoiava a
centralização do poder nas mãos do Imperador. A
nova estrutura política do Império permitia a
mobilidade da administração pública representada
pelo Imperador.
(C) O Império, governado por militares, opunha-se às
comunidades provinciais. Isso levou ao
desaparecimento do Senado como instituição
responsável pela administração pública.
(D) O Império romano foi marcado pelas disputas de
poder entre o Imperador e o Senado. Os conflitos
entre eles acabaram por resultar na diminuição do
poder do Senado no que diz respeito à
administração pública.
(E) O Império romano constituído por membros da elite
patrícia manteve, desde a época da Pax romana,
uma relação de convivência harmônica com o
Senado.

GABARITO
1 D 11 E 21 B
2 A 12 D 22 C
3 B 13 D 23 A
4 E 14 B 24 A
5 E 15 E 25 D
6 B 16 A 26 E
7 D 17 B 27 D
8 B 18 E 28 E
9 C 19 D 29 B
10 C 20 D 30 D
INTRODUÇÃO

Em pleno século XXI, mesmo com a farta produção de alimentos e o elevado


desenvolvimento tecnológico-científico, milhares de imigrantes deixam sua terra natal, em
alguns lugares da África e do Oriente Médio, para buscar refúgio na Europa. As cenas de fuga
desses grupos, divulgadas amplamente na mídia e nas redes sociais, são chocantes: pessoas
morrem afogadas, de fome, frio, etc.
O que fazer para ajudar esses imigrantes e refugiados e ainda garantir uma vida digna
à população dos países que os recebem?
O governo da Finlândia, por exemplo, decidiu aumentar o imposto dos mais ricos para
poder abrigar um número maior de refugiados. O Brasil e outros países também decidiram
acolher parte dessas pessoas.
A História nos mostra que migrações em massa sempre ocorreram e, às vezes,
provocaram mudanças profundas na sociedade. Por exemplo, uma das causas da
desintegração do Império Romano foi a migração contínua de povos que vieram do interior da
Europa e da Ásia.
As crenças religiosas estão entre as mais antigas experiências do ser humano em
busca de proteção para a vida e de segurança espiritual diante do fenômeno da morte. A
religião está estreitamente relacionada à história e às formas de organização das sociedades
que lhes deram origem.
Devido a essa historicidade, as religiões costumam ter preceitos, valores e ritos quase
sempre incompreensíveis para quem não conhece a cultura da qual fazem parte. Assim, para
algumas religiões, os sábados são dedicados aos ritos religiosos; para outras, os domingos é
que são considerados sagrados (algumas religiões proíbem o corte de cabelos, outras
determinam que seus seguidores fiquem carecas).
De modo geral, as religiões pregam a paz, o bem e o amor ao próximo. Apesar disso, a
intolerância em relação aos preceitos religiosos alheios já provocou muitas guerras em diversos
períodos da História. Ainda hoje, conflitos como a guerra entre judeus e muçulmanos na
Palestina; entre budistas e hindus no Sri Lanka; e entre muçulmanos e cristãos no Sudão e na
Nigéria, por exemplo, têm componentes religiosos.
No Brasil, depois dos adeptos das religiões de matriz africana, os seguidores do
islamismo são os que mais sofrem com a intolerância religiosa. Em ambos os casos, as
pessoas dessas religiões costumam sofrer com insultos, cusparadas, pedradas, ameaças de
morte.
Nesta Unidade estudaremos: a resistência às invasões do Império Bizantino, que se
manteve até o século XIV, o mundo medieval europeu e o Império Islâmico – contextos
históricos nos quais se desenvolveram o cristianismo e o islamismo, duas das religiões com
mais seguidores no mundo moderno e o Feudalismo.

1. IMPÉRIO BIZANTINO - RENOVAÇÃO ROMANA A LESTE

Bizâncio Menos afetada pela turbulência das invasões do século V, a parte oriental do
Império Romano tornou-se uma potência no mundo mediterrânico ao longo dos séculos
seguintes. Apesar da influência latina, evidente na estrutura política do império, heranças
gregas e asiáticas tornaram a cultura bizantina diferente nos mais variados aspectos: religioso,
arquitetônico, artístico, linguístico. O idioma falado em Bizâncio, por exemplo, era o grego.
A sede do Império Romano do Oriente ou Império Bizantino era a cidade de
Constantinopla, situada na margem ocidental do estreito de Bósforo (atual Istambul, na
Turquia). A cidade era um ponto estratégico, localizada no eixo comercial que ligava o mar
Negro ao mar Egeu. Originalmente, o nome da cidade era Bizâncio; somente no século IV
passou a se chamar Constantinopla, em homenagem ao imperador Constantino.
O Império Bizantino conheceu seu esplendor durante o reinado de Justiniano (527-
565), que procurou restaurar a autoridade imperial em territórios controlados pelo antigo Império
Romano do Ocidente, mantendo o mar Mediterrâneo como eixo da economia. Restabeleceu os
quadros administrativos romanos e determinou a compilação e revisão do Direito Romano. Em
528, nascia o Código de Direito Civil (Corpus Iuris Civilis), cujo livro mais importante, o Código
de Justiniano, afirmava o poder ilimitado do imperador e a submissão de colonos e escravos
aos seus senhores.
O governo de Justiniano também realizou obras de cunho militar, como fortalezas e
castelos, e outras de cunho urbanístico ou religioso, como a monumental Basílica de Santa
Sofia. O cristianismo inspirou a criação de grandes mosaicos, expressão máxima da arte
bizantina, que, além de decorar fontes, igrejas e edifícios públicos, eram um meio de instrução
espiritual para os fiéis. Retratavam a vida de Jesus, dos profetas e dos imperadores bizantinos,
cujo poder era considerado divino. O dourado era usado em abundância e as figuras eram
representadas de frente, ignorando volume e perspectiva. A arquitetura conjugava o arco, a
abóbada e a cúpula, formatos arredondados, com um plano centrado, em forma quadrada ou
em cruz grega.

CESAROPAPISMO

Submetida ao imperador bizantino, a Igreja de Constantinopla se mantinha autônoma


em relação ao patriarca de Roma (o papa). O mesmo ocorreu em outras sedes da Igreja
oriental, incluindo partes da Europa do leste, onde os patriarcas eram autônomos e só
formalmente subordinados ao patriarca de Roma. Nos territórios de Bizâncio, a maior
autoridade da Igreja era o imperador. Portanto, desde o início da Idade Média, ou mesmo antes,
as Igrejas do Ocidente e do Oriente eram quase separadas. No entanto, a ruptura total somente
se consumaria com o Grande Cisma do Oriente, no século XI.

A QUESTÃO ICONOCLASTA

O cristianismo de Constantinopla nem sempre caminhou de mãos dadas com a Igreja


de Roma. Entre os séculos VIII e IX, a representação e o culto às imagens da Virgem, de Jesus,
dos anjos e dos santos foram proibidos no Império Bizantino. Em 730, iconoclastia tornou-se
doutrina oficial, por decreto do imperador Leão III, proibindo o culto às imagens. Artistas,
sacerdotes e fiéis que produziam ou adoravam imagens foram perseguidos. Vários deles
fugiram para o Ocidente. Somente em 843 o culto às imagens foi restaurado.

O IMPÉRIO EM EXPANSÃO

A ambição em resgatar a glória do antigo Império Romano significou a adoção de uma


política expansionista. Utilizando-se de poderosa frota de guerra e de numeroso exército, os
bizantinos realizaram campanhas no Mediterrâneo ocidental, conquistando, durante o século VI,
os reinos vândalos (no norte da África), ostrogodo (na península Itálica) e visigodo (na
península Ibérica). O império de Justiniano firmava-se, assim, como grande potência
mediterrânica.
Após a morte de Justiniano (565), os domínios bizantinos se reduziram no Ocidente,
devido aos ataques dos lombardos (na península Itálica) e dos eslavos (na região dos Bálcãs).
No Oriente Próximo, Bizâncio sofreu derrotas para a Pérsia Sassânida, empenhada em
controlar rotas de acesso ao Mediterrâneo, cujo exército se apoderou da Síria, da Palestina e do
Egito.
A crise provocou mudanças nas instituições bizantinas, durante a dinastia Heráclida
(610-717). A administração foi reestruturada com base em prioridades militares. Até o século XI,
passou-se ainda a conceder terras a particulares em troca da prestação do serviço militar.
Mas nada disso conseguiu restaurar a condição de grande potência que o Império
Bizantino ostentou no século VI. Os bizantinos tiveram de se defender de velhos e novos
inimigos, sobretudo os povos islamizados, que se expandiram durante o século VII.

2. OS POVOS GERMÂNICOS E O IMPÉRIO CAROLÍNGIO

Em contraste com Bizâncio, a Europa ocidental, dominada por diversos povos


germânicos, apresentava cidades destruídas e comércio reduzido. A unidade romana se
fragmentou em um “mosaico de reinos germânicos”. Os visigodos, depois de perderem o sul da
Gália, passaram a dominar toda a Hispânia; os vândalos se estabeleceram no norte da África;
os ostrogodos ocuparam a península Itálica; os anglo-saxões fixaram-se na Britânia; enquanto
borgúndios, francos e alamanos lutavam pela Gália. O resultado dessa disputa foi a ascensão
de um reino forte e duradouro: o dos francos.
A primeira dinastia franca ficou conhecida como merovíngia, em homenagem a
Meroveu, considerado o primeiro rei franco. O período de ascensão dos francos começou em
481, sob a liderança de Clóvis, cujos exércitos derrotaram os alamanos e os visigodos na Gália
e empurraram os borgúndios para o sul. Segundo um cronista da época, a vitória dos francos
sobre os alamanos estimulou a conversão de Clóvis ao cristianismo romano. Em 496, ele foi
batizado em Reims, fato que se tornou um marco importante para a história dos francos e da
Igreja no mundo medieval. Clóvis passou a ser saudado como um “novo Constantino” (primeiro
imperador romano a se converter ao cristianismo, em 312).
Clóvis unificou os francos e fundou uma monarquia cristã em que o poder político era
legitimado pela Igreja de Roma, assumindo o papel de defensor do credo romano. Sua
conversão foi logo seguida por uma guerra contra os visigodos, adeptos da versão ariana do
cristianismo. Em 507, os francos saíram vitoriosos, mantiveram os opositores na península
Ibérica e passaram a controlar a Europa ocidental, com exceção da península Itálica, ocupada
pelos ostrogodos até 526, ano em que o imperador Justiniano recuperou a região.
O vínculo entre a Igreja e os francos, firmado no tempo de Clóvis, foi ainda mais
fortalecido quando Carlos Martel, prefeito do palácio real (maior autoridade militar), impediu o
avanço dos muçulmanos na Europa, na célebre Batalha de Poitiers (732). A vitória dos francos
manteve os seguidores do profeta Maomé na península Ibérica, garantindo o domínio da Igreja
nos territórios conquistados pelos merovíngios. Em 751, Pepino, o Breve, filho de Carlos Martel,
assumiu o trono e exilou o último rei merovíngio.

O IMPÉRIO CAROLÍNGIO

Soberano dos francos desde 771, Carlos Magno venceu os lombardos e tornou- -se
também seu rei. Em 800, foi coroado imperador romano pelo papa, simbolizando a restauração
do Império Romano do Ocidente, que desapareceu no século V. Com dimensões consideráveis
que abrangiam grande parte da Europa ocidental — com exceção da península Ibérica e de boa
parte da península Itálica —, o Império Carolíngio foi dividido em condados, governados por
pessoas de confiança do imperador que lhe prestavam juramento de fidelidade pessoal,
recebendo em troca terras e um cargo. O conde era responsável pela arrecadação dos
impostos e exercício da justiça, podendo nomear auxiliares, os chamados viscondes.
Os ducados eram os únicos territórios livres da administração dos condes, autorizados
a conservar suas próprias leis, embora também subordinados ao imperador. Nas fronteiras do
Império, situavam-se as marcas, confiadas aos marqueses, dotados de poderes militares.
Duques, viscondes e marqueses também recebiam terras como benefício pelos cargos que
ocupavam. Assim formou-se o núcleo da nobreza medieval.
O Império Carolíngio era um império agrário, sustentado pelo trabalho de camponeses
submetidos aos duques, condes e marqueses. Enquanto isso, para além da Marca de Espanha,
na península Ibérica, outra civilização florescia: a islâmica.

3. FORMAÇÃO E EXPANSÃO DO ISLAMISMO

Durante o século VII, enquanto os reinos germânicos disputavam territórios na Europa


ocidental, processo que resultou na expansão do Reino Franco e na formação do Império
Carolíngio, nascia no Oriente um movimento ao mesmo tempo religioso e político que logo
mostraria uma força avassaladora: o islamismo. Os protagonistas dessa história são os árabes.
Os árabes eram povos semitas que viviam na península Arábica. Os que viviam no sul
da península dedicavam-se principalmente à agricultura e ao pastoreio; já os do norte e centro
se ocupavam do comércio caravaneiro, e atravessavam o deserto em camelos para negociar
artigos variados nas cidades do litoral e em oásis do interior. Eles ficaram conhecidos como
beduínos do deserto.
Apesar de desértica, a região apresentava uma economia com notável dinamismo. Nos
oásis, que podiam chegar a dezenas de quilômetros quadrados, havia produção de trigo, figos e
tâmaras, criação de carneiros, cabras e camelos. No litoral da península, as condições eram
ainda melhores, a ponto de ser chamado de Arábia Feliz. Os povos da região se beneficiaram
muito da atividade comercial no mar Vermelho, no golfo Pérsico e no oceano Índico. A
localização geográfica da península — entre África e Ásia, entre o oceano Índico e o mar
Mediterrâneo — foi fator decisivo para o desenvolvimento do trabalho comercial dos árabes.
No sul, os árabes se dividiam em monarquias hereditárias e eram politeístas, enquanto
os do norte se organizavam em confederações e eram muito influenciados pelas culturas grega
e judaica. Chegaram até a utilizar o aramaico — escrita muito usada pelos hebreus, além do
hebraico.
No século IV, as populações locais retomaram os hábitos migratórios (primeiro as do
sul, depois as do norte). A cultura dos beduínos, disseminada entre diversos grupos, ensinava-
os a sobreviver no deserto. A subsistência dependia dos rebanhos, que eram deslocados em
busca de água existente em poços, nas margens de rios temporários (os wahdi ou wadi) e nos
oásis. E dependia ainda do comércio e até mesmo da pilhagem de aldeias.
Os árabes, do norte e do sul, do deserto e do litoral, dividiam-se em tribos ou clãs. O
chefe do grupo era escolhido entre os homens mais velhos e era chamado de sheik. A religião
era o principal elemento de distinção entre esses grupos. Os beduínos adoravam ídolos e
acreditavam que os elementos da natureza (árvores, fontes e, sobretudo, pedras) eram
habitados por espíritos. Tinham o hábito de ir a Meca, uma vez por ano, para depositar no
santuário dessa cidade (a Kaaba ou Caaba) imagens de seus deuses e adorá-los. No entanto,
talvez por influência do cristianismo e do judaísmo, os árabes admitiam a existência de uma
divindade superior chamada Alá.

A REVELAÇÃO DE ALÁ

O mundo árabe se transformou radicalmente no século VII pelo surgimento do


islamismo, a religião criada e pregada por Maomé. Filho de uma família de comerciantes,
Maomé nasceu em Meca, em cerca de 570. Ficou órfão cedo e foi criado por um tio, a quem
acompanhava frequentemente em expedições comerciais para a Síria. Aos 25 anos casou-se
com uma viúva rica, Cadija, com quem teve seis filhos: quatro mulheres e dois homens. Foi
nessa época que passou a conhecer um pouco melhor as culturas judaica e cristã, absorvendo
os preceitos do monoteísmo e da Bíblia.
De acordo com a tradição muçulmana, em 610, aos 40 anos de idade, ele recebeu a
visita do anjo Gabriel, que lhe revelou a existência de um único deus, Alá, ordenando-lhe ainda
que recitasse os versos enviados por ele. Esses versos serviram de base para a criação do
Corão, o livro sagrado do islamismo. Ao iniciar a pregação de uma doutrina monoteísta na
cidade de Meca, Maomé encontrou grande resistência, enfrentando perseguições. Os
comerciantes locais temiam que essa pregação prejudicasse os negócios, pois a peregrinação
anual dos árabes a Meca misturava o comércio com as oferendas a ídolos na Caaba. Maomé
fugiu para Iatreb, futura Medina, em 622, no episódio chamado de Hégira (“fuga” ou “migração”),
marco inicial do calendário muçulmano.
O islamismo é hoje uma das três grandes religiões monoteístas do mundo, ao lado do
judaísmo e do cristianismo. Sua doutrina fundamental reside na crença em um deus único e
invisível, criador de todas as coisas. Assim como nas outras crenças citadas, o Corão afirma
que Adão foi o primeiro homem. Jesus, por sua vez, teria sido apenas mais um dentre outros
profetas. Maomé é considerado pelos muçulmanos o último e principal profeta, ao receber de
Alá (Deus) a grande revelação: “Não há outro Deus senão Alá, e Maomé é seu Profeta”.

OS PILARES DO ISLAMISMO

São cinco os pilares do islamismo que reúnem práticas e preceitos que devem ser
seguidos por seus fiéis: profissão de fé, que consiste em aceitar e professar que Alá é o único
Deus e Maomé, seu Profeta; oração, em que os fiéis devem orar cinco vezes ao dia; caridade,
os muçulmanos devem dispor de 2,5% dos seus rendimentos em benefício dos pobres; jejum,
em que eles devem privar-se de alimentos, prazeres e sentimentos negativos no mês do
Ramadã, que equivale a cerca de 28 dias do calendário gregoriano; peregrinação, os fiéis do
islamismo devem ir a Meca pelo menos uma vez na vida no último mês do calendário islâmico,
desde que tenham condições econômicas de realizar esse preceito.

ASCENSÃO DE MAOMÉ

Em Medina, Maomé tornou-se chefe da primeira comunidade muçulmana e foi


reconhecido como profeta, líder religioso e político. Mas também ali houve problemas, pois
muitos habitantes não aceitavam o islamismo. Por outro lado, em Meca, a pregação de Maomé
tinha fincado raízes, principalmente entre os parentes do Profeta. A rivalidade comercial entre
essas duas cidades acabou por favorecer a consolidação de Medina como “a cidade do
Profeta”, organizando-se tropas para assaltar as caravanas que os negociantes de Meca
enviavam para a Síria.
Após vários conflitos, o islamismo triunfou, tornando-se a base para a unificação dos
árabes, que iniciaram sua expansão ainda nos tempos de Maomé. Meca foi conquistada em
627, e Maomé transformou a Caaba em um ponto de referência do islamismo. Manteve,
portanto, a tradição das peregrinações anuais, mas a redirecionou para o culto exclusivo a Alá.
Por volta de 631, quase todos os povos da península Arábica estavam unificados e eram
governados por Maomé.
A grande expansão do Islã ocorreu, no entanto, após a morte de Maomé, em 632.
Embora não fossem dotados de grande experiência militar, os muçulmanos se destacaram pelo
entusiasmo no combate, adaptando as táticas de ataque que os beduínos costumavam usar em
suas pilhagens no deserto. Os exércitos islâmicos eram numerosos e lutavam determinados a
expandir a sua fé. O primeiro grande avanço se deu no território do Império Bizantino, então
fragilizado. Assim, boa parte do Oriente Próximo passou a ser controlada pelos muçulmanos
nas décadas de 630 e 640, incluindo a Síria, a Palestina e parte da Pérsia.

EXPANSÃO E DIVISÃO DO MUNDO ISLÂMICO

Desde o início, os muçulmanos tinham grandes dificuldades para construir e manter


um império unificado, devido às disputas pelo poder entre grupos rivais. Como não havia regras
para a sucessão, as discórdias se acentuaram após a morte de Maomé. Prevaleceu a ideia de
que um de seus ex-companheiros deveria ocupar seu lugar, restando definir se este deveria ser
ou não parente do Profeta.
A escolha recaiu sobre Abu Bekr, ainda em 632, que se tornou o primeiro califa, isto é,
sucessor do Profeta. Em uma acirrada disputa pelo poder, Otman foi o escolhido, ampliando os
domínios muçulmanos com a conquista das regiões dos atuais Marrocos, Paquistão e Armênia.
Mas sua escolha foi contestada por Ali, um dos genros de Maomé, que mandou assassinar
Otman em 656 e assumiu o poder. Sofrendo oposição dos partidários de Otman, em 661, Ali
também foi assassinado.
Em meados do século VII, Damasco, na Síria, firmou-se como um novo centro de
poder, rivalizando com Medina. As disputas pelo poder não cessaram, e a guerra terminou com
a vitória de Muaway (ou Moaviá), governante de Damasco, sobre Hassan, filho de Ali.
Inaugurou-se, então, em 661, o Califado Omíada, sediado em Damasco, que se manteria até
meados do século VIII.
Após consolidar seu domínio no norte da África, o Califado Omíada foi responsável
pela expansão do Islã pela Europa Ocidental, no começo do século VIII. Os muçulmanos
ocuparam a península Ibérica em 711, derrotando os visigodos, parte dos quais se refugiou nas
Astúrias, extremo norte da península. Surgia assim o Califado de Córdoba, relativamente
independente de Damasco e que durou séculos.
Em 750, um golpe de Estado depôs o Califado Omíada em Damasco e deslocou o
centro de poder para Bagdá, no atual Iraque. Foi a vitória dos descendentes de Abu al-Abbas,
tio de Maomé, pertencente à tribo de Al Abassi. Os abássidas governaram o Oriente
muçulmano até meados do século XIII.

SUNITAS CONTRA XIITAS

O historiador Robert Mantran, um dos maiores especialistas na história islâmica,


sublinha que a disputa política travada após a morte de Maomé deu origem às duas principais
ramificações do islamismo: os grupos dos sunitas e xiitas.
Os sunitas encaravam o califa somente como um chefe cujo dever era manter a paz e
a justiça na comunidade. Para esse grupo, o califa devia pertencer ao grupo dos coraixitas, a
tribo de Maomé, dominante em Meca. O termo sunita deriva de Sunna, coleção de “palavras e
atos” atribuídos a Maomé e posteriormente compilados em livro complementar ao Corão.
Os xiitas diziam que a legítima sucessão do profeta cabia aos descendentes de seu
genro, Ali, com sua filha Fátima. Defendiam que a autoridade máxima do Islã deveria caber aos
imãs, dirigentes espirituais da comunidade, e não aos califas. O termo xiita provém de Shiat Ali,
“os partidários de Ali”. Atualmente, os sunitas são ampla maioria no mundo islâmico,
alcançando quase 90% dos muçulmanos. Os países com o maior número de muçulmanos xiitas
são: Irã, Paquistão, Índia e o Iraque.

4. DIVERSIDADE ECONÔMICA

A base econômica original das sociedades islâmicas era o trabalho agropastoril (cultivo
e pastoreio) dos camponeses em terras pertencentes aos grandes chefes militares e religiosos.
A escravidão era muito difundida nas sociedades muçulmanas, principalmente nas cidades,
onde prevalecia o trabalho de escravos domésticos e serviçais.
A agricultura conheceu desenvolvimento considerável, sobretudo nos cultivos de
algodão, arroz e cana-de-açúcar. O contato comercial entre muçulmanos de regiões muito
distintas do planeta favoreceu o desenvolvimento tecnológico. Por exemplo, técnicas de
irrigação adotadas no Egito foram transferidas e adaptadas para a península Ibérica. A
metalurgia se tornou a mais desenvolvida da época em terras ibéricas, em especial a da cidade
de Toledo, centro famoso pela produção de sabres e adagas.
Nos seus territórios, os muçulmanos desenvolveram instrumentos de crédito e
promoveram a circulação monetária, uma vez que o comércio, inclusive marítimo, era uma das
bases da economia. Os muçulmanos fizeram do Mediterrâneo, a partir do século VIII, aquilo que
os romanos haviam feito na Antiguidade: um mare nostrum (nosso mar). Assim, enquanto o sul
da Europa afirmava-se como um espaço urbanizado e próspero, o norte definia-se como um
mundo essencialmente rural após o fim do Império Carolíngio.

5. OCIDENTE DIVIDIDO

Entendido como patrimônio do imperador, o Estado carolíngio não dispunha de


finanças estáveis. Sustentava-se com serviços e prestações em gênero cobrados de todos os
súditos. Não havia tributação em moeda porque a circulação monetária era restrita. A
monarquia carolíngia também não dispunha de um exército permanente, cabendo aos vassalos
zelar pela defesa do império e alojar os emissários do imperador (missi dominici), encarregados
de fiscalizar a administração. Na verdade, era um império agrário, sustentado pelo trabalho de
camponeses submetidos aos duques, condes e marqueses.
Carlos Magno morreu em 814, com cerca de 70 anos, e foi sucedido por seu filho, Luís,
o Piedoso, que conseguiu manter o império unificado. Após sua morte, em 840, o império foi
dividido entre seus três filhos: Lotário; Carlos, o Calvo; e Luís, o Germânico.
O Tratado de Verdun, assinado entre eles em 843, consolidou a divisão do Império.
Lotário recebeu o título de imperador e ficou com o norte da península Itálica, o sul da
Germânia, a futura Áustria e o território onde hoje se localizam os Países Baixos. Seus
domínios eram a base territorial do Sacro Império Romano-Germânico. Carlos, o Calvo, ficou
com a maior parte da atual França (Francia Ocidental).
Luís herdou a maior parte do território germânico (Francia Oriental). A partir de meados
do século IX, portanto, o Ocidente adquiriu as características que iriam marcar boa parte da
Idade Média: do ponto de vista econômico e social, o triunfo da ruralização; do ponto de vista
institucional, descentralização política. A única força aglutinante era a Igreja de Roma,
autoridade máxima, no plano simbólico, da cristandade medieval.

6. O QUE FOI O FEUDALISMO?


No final do século IX, ocorreram novas invasões na Europa Ocidental, sobretudo de
vikings ou normandos (ao norte), húngaros e sarracenos (na península Ibérica e ao sul da
península Itálica). Essa nova onda de invasões, somada à ruralização e à descentralização
política, favoreceram a formação do feudalismo.
Grande parte das características do mundo feudal, entretanto, já estava presente no
Império Carolíngio: as terras concedidas (condado, marca, ducado) em forma de benefício
(feudo) deram origem aos senhores feudais. Alojados em castelos, os senhores monopolizavam
a função militar e controlavam a população camponesa. Desde o século IV, homens e mulheres
procuravam o campo para fugir das invasões, esvaziando as cidades. Em busca de proteção,
colocavam-se à mercê dos guerreiros, que os usavam para o trabalho rural, formando-se,
assim, o campesinato medieval. O regime senhorial se consolidou no século XI e reduziu o
campesinato à servidão.

SENHORES E CAMPONESES

A servidão se consolidou em decorrência das doações de terras feitas à nobreza


carolíngia, que transferiu a seus primogênitos não só o título de nobreza como o direito de
explorar os camponeses. Dispondo de milícia própria, o senhor feudal tinha o poder de julgar e
punir a população que vivia em suas terras. No centro do domínio senhorial ficava a casa do
senhor, que servia de morada para seus parentes e agregados. Nos arredores, estavam a
reserva senhorial, o manso servil (dividido em parcelas ou tenências familiares) e as terras de
uso comum, como o pasto e o bosque. Os camponeses estavam submetidos a inúmeras taxas,
como estas:
• banalidade: paga pelo uso dos estábulos, moinho, forno e celeiro do domínio
senhorial;
• talha: tributo em gêneros pelo uso das terras camponesas (as tenências);
• corveia: tributo em trabalho na reserva ou castelo senhorial três dias da semana;
• mão morta: taxa para que a família servil permanecesse na terra após a morte de seu
chefe;
• formariage: taxa paga ao senhor quando o servo ou algum parente se casava.

O SISTEMA DE VASSALAGEM

A vassalidade foi uma das principais características do mundo medieval. Era um ato de
lealdade declarado por um nobre, em geral um cavaleiro (vassalo), a outro nobre (suserano) em
uma cerimônia, chamada homenagem, retratada na iluminura a seguir. Nesse rito, o vassalo, de
joelhos, declarava ao suserano que “era seu homem”, selando o pacto com um beijo. Seguia-se
então o juramento, por meio do qual o vassalo prometia prestar ajuda militar sempre que
requisitado, realizar cavalgadas e dar ajuda financeira a seu suserano, no caso de um saque ou
eventual cativeiro em guerra (para pagar o resgate).
Em troca, no ato da investidura, o vassalo recebia um feudo, na forma de terra, pensão
ou rendimento agrícola. Somente os cavaleiros podiam prestar vassalagem a outro nobre ou
cavaleiro. Primeiro, porque dispunham de cavalo, armaduras e armas, bens de alto valor e
acessíveis a poucos. Segundo, porque se tratava de um pacto entre iguais, entre homens de
mesmo status social. Na imagem, vê-se que ambos estão vestidos com tecidos coloridos. Um
vassalo poderia ter mais de um suserano. A homenagem mais importante prestada por um
vassalo era chamada homenagem ligia.
4. (Uece ) Era costume submeter o acusado de cometer
um crime a um perigo, para ver se era ou não culpado.
Por exemplo, colocar sua mão em água fervendo, ou
1. (UFRN) Os estudos recentes sobre a Idade Média fazê-lo segurar um ferro em brasa dentre outras
avaliam esse período da história como um(a): atrocidades. Acreditava-se que, se inocente, Deus
(A) período de dez séculos durante o qual houve produziria um milagre, não deixando que algum mal
intensa atividade industrial e comercial, sendo a acontecesse ao presumível culpado. A Igreja Católica
cultura intelectual exclusividade dos mosteiros e da lutou contra e procurou extinguir esse costume que era
Igreja. (A) herança do Direito Romano, no qual os acusados
(B) período de obscurantismo e atraso cultural — a não tinham direito a uma defesa baseada em fatos
longa noite de mil anos — em virtude do desprezo fundamentados.
dado à herança intelectual grega e romana da (B) uma prática originária dos primeiros cristãos que,
época precedente. apoiados pela Igreja Católica, acreditavam na
(C) época que pode ser chamada de “Idade das intervenção divina como única forma de justiça.
Trevas”, em razão do predomínio da Igreja, que, (C) proveniente da tradição bárbara dos povos
com sua ideologia, contribuiu para a estagnação germânicos, que tinham uma cultura monoteísta
cultural, a opressão política e o fanatismo religioso. desde antes da chegada do cristianismo na Europa.
(D) época que não se constitui uma unidade: em sua (D) uma tradição que, mesmo rejeitada pela Igreja
primeira fase, houve retrocesso cultural e Católica, perdurou na Europa e em outras regiões
econômico, porém, posteriormente, ressurgiu a vida do mundo até mesmo depois da Idade Média.
econômica e houve grande florescimento cultural. (E) originária da civilização egípcia que gerou
(E) fase da história humana marcada por conflitos influencias sobre a sociedade romana.
armados envolvendo camponeses, nobres e
burgueses contra a igreja católica. 5. (Uepb) Quanto aos povos germânicos que vieram dar
origem aos reinos bárbaros no ocidente europeu
2. (UFRN) Enfrentando grandes dificuldades desde o medieval, pode-se afirmar corretamente:
século III, o Império Romano do Ocidente fragmentou-se (A) No território do antigo Império Romano, um dos
após as invasões dos povos bárbaros e, nesse território, reinos que mais se destacaram no século VII da era
formaram-se novas sociedades. Os historiadores cristã foi o dos hicsos.
consideram esse período como uma nova fase na (B) A presença dos bárbaros no Império Romano foi um
história da chamada Europa Ocidental: a Alta Idade processo que ocorreu gradualmente, iniciado muito
Média, marcada principalmente antes das “invasões”, à medida que eles
(A) pelo poder centralizado nas mãos dos reis, penetravam nos territórios do Império e passavam a
garantindo a estabilidade dos novos Estados que se ser utilizados em trabalhos agrícolas, bem como a
formaram. integrar o exército.
(B) pela religião cristã, que favoreceu a mescla dos (C) O renascimento carolíngio inibiu o desenvolvimento
elementos culturais romanos e germânicos. científico e proibiu a recuperação de obras
(C) pela prosperidade das cidades, lugares preferidos clássicas.
pelos povos germânicos para se fixarem. (D) Com as invasões germânicas foi abolido totalmente
(D) pelo predomínio do regime escravocrata, o qual o direito consuetudinário devido à adoção do Direito
sustentava uma economia comercial dinâmica. Romano.
(E) pelo rompimento, absoluto, entre as tradições (E) Não há registros históricos que apontem a
romanas e os costumes germânicos. contratação de bárbaros como mercenários para
lutar no exército romano.
3. (ENEM DIGITAL 2020) Constantinopla, aquela cidade
vasta e esplêndida, com toda a sua riqueza, sua ativa 6. (Uepa) A ideia de Cristandade na Alta Idade Média da
população de mercadores e artesãos, seus cortesãos Europa Ocidental supunha a união entre os povos do
em seus mantos civis e as grandes damas ricamente continente sob a batuta do alto clero católico. Em termos
vestidas e adornadas, com seus séquitos de eunucos e práticos, esta articulação se fundamentava:
escravos, despertaram nos cruzados um grande (A) na organização centralizada da administração
desdém, mesclado a um desconfortável sentimento de eclesiástica conduzida pelo alto clero, baseada nas
inferioridade. paróquias que dividiam o território europeu.
RUNCIMAN, S. A Primeira Cruzada e a fundação do Reino de Jerusalém. Rio (B) na difusão da chamada “Idade da Fé”, que
de Janeiro: Imago, 2003 (adaptado). assinalou o domínio do fervor religioso católico
encabeçado por lideranças religiosas populares.
A reação dos europeus quando defrontados com essa cidade (C) na interferência de reis e nobres na administração
ocorreu em função das diferenças entre Oriente e Ocidente eclesiástica, o que garantiu um pano de fundo
quanto aos(às) político ao domínio ideológico católico.
(A) modos de organização e participação política. (D) nas guerras entre reinos medievais, cujas regras
(B) níveis de disciplina e poderio bélico do exército. eram estabelecidas pelas lideranças eclesiásticas e,
(C) representações e práticas de devoção politeístas. por isso, não afetavam a unidade religiosa dos fieis.
(D) dinâmicas econômicas e culturais da vida urbana. (E) no controle da vida religiosa com os mecanismos de
(E) formas de individualização e desenvolvimento excomunhão e batismo, o que eliminou qualquer
pessoal. possibilidade de formação de movimentos heréticos.
7. (Uea) Igreja, em torno de 1030, proclamou que, segundo O texto nos revela as principais obrigações servis na idade
o plano divino, os homens dividiam-se em três medieval. Assinale a alternativa que associa corretamente a
categorias: os que rezam, os que combatem, os que obrigação ao trabalho realizado.
trabalham, e que a concórdia reside na troca de auxílios (A) o servo pagava a talha quando ceifava os prados do
entre eles. Os trabalhadores mantêm, com sua senhor, levava os frutos ao castelo, cuidava dos
atividade, os guerreiros, que os defendem, e os homens fossos e colhia o trigo.
da Igreja, que os conduzem à salvação. Assim a Igreja (B) o servo trabalhava apenas de 24 de junho a 30 de
defendia, de maneira lúcida, o sistema político baseado novembro em muitas atividades: dos cuidados com
na senhoria. os animais ao trabalho no campo.
(DUBY, Georges. Arte e sociedade na Idade Média, 1997. Adaptado.) (C) o servo trabalhava e recebia salário, pois pagava no
moinho pela moagem dos grãos e ao forneiro pelo
Segundo essa definição do universo social, feita pela Igreja pão assado.
cristã da Idade Média, a sociedade medieval era considerada (D) o servo devia a seu senhor a corveia, a talha e as
(A) injusta e imperfeita, na medida em que as banalidades pelo uso das instalações senhoriais
atividades dos servos os protegiam dos riscos a que bem como presentes em datas festivas.
estavam submetidos os demais grupos sociais. (E) o trabalho servil era recompensado no Natal,
(B) perfeita, porque era sustentada pelas atividades quando o senhor dava aos servos bolos, finas e
econômicas da agricultura, do comércio e da gordas galinhas.
indústria.
(C) sagrada, contendo três grupos sociais que deveriam 10. (Mackenzie) Aquilo que dominava a mentalidade e a
contribuir para o congraçamento dos homens. sensibilidade dos homens da Idade Média era o seu
(D) dinâmica e mutável, na medida em que estava sentimento de insegurança (...) que era, no fim das
dividida entre três estamentos sociais distintos e contas, a insegurança quanto à vida futura, que a
rivais. ninguém estava assegurada (...). Os riscos da danação,
(E) guerreira, cabendo à Igreja e aos trabalhadores com o concurso do Diabo, eram tão grandes, e as
rurais a participação direta nas lutas e empreitadas probabilidades de salvação, tão fracas que,
militares dos cavaleiros. forçosamente, o medo vencia a esperança.
Jacques Le Goff. A civilização do Ocidente medieval.
8. (Upe) Maomé pertenceu a um ramo menor do clã dos
Quraysh (coraixitas), um dos mais poderosos de Meca. O mundo medieval configurou-se a partir do medo da
Foi criado como mercador e casou-se aos 25 anos com insegurança, como retratado no texto acima. Encontre a
uma rica viúva bem mais velha que ele, chamada alternativa que melhor condiz com o assunto.
Khadija. Supõe-se que, nas suas viagens de negócios, (A) A crise econômica decorrente do final do Império
Maomé teria entrado em contato com árabes judaicos e Romano, a guerra constante, as invasões bárbaras,
cristãos e sido influenciado por eles. a baixa demográfica, as pestes, tudo isso aliado a
(DEMANT, Peter. O mundo muçulmano. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2011. p.
25. Adaptado.)
um forte conteúdo religioso de punição divina aos
pecados contribuiu para o clima de insegurança
Sobre a realidade apresentada no texto, assinale a medieval.
alternativa CORRETA. (B) A peste bubônica provocou redução drástica na
(A) A principal influência que Maomé sofreu do demografia medieval, levando a crenças
judaísmo e do cristianismo foi a crença no milenaristas e apocalípticas, sufocadas, por sua
monoteísmo. vez, pela rápida ação da Igreja, disponibilizando
(B) Maomé não obteve sucesso na tentativa de unificar recursos médicos e financeiros para a erradicação
a península arábica em nome do Islã. das várias doenças que afetam seus fiéis.
(C) O profeta Maomé não obteve resistência para (C) O clima de insegurança que predominou em toda a
empreender a conquista de Meca. Idade Média decorreu das guerras constantes entre
(D) O comércio, atividade desenvolvida por Maomé, nobres – suseranos – e servos – vassalos,
não era comum entre os povos árabes do século contribuindo para a emergência de teorias
VII. milenaristas no continente.
(E) Os árabes, no século VII, não tinham contato com (D) As enfermidades que afetavam a população em
cristãos, só com judeus. geral contribuíram para a demonização de algumas
práticas sociais, como o hábito de usar talheres nas
9. (G1 - ifsp) Em 24 de junho, dia de São João, os refeições, adquirido, por sua vez, no contato com
camponeses de Verson (na França) colhiam os frutos povos bizantinos.
dos campos de seu senhor e os levavam ao castelo. (E) A certeza da punição divina a pecados cometidos
Depois, cuidavam dos fossos e, em agosto, faziam a pelos humanos predominava na mentalidade
colheita do trigo, também entregue ao senhor. Eles medieval; por isso, nos vários séculos do período,
próprios não podiam recolher o seu trigo, senão depois eram constantes os autos de fé da Inquisição,
que o senhor tivesse tirado antecipadamente a sua incentivando a confissão em massa, sempre com
parte. No começo do inverno, trabalhavam sobre a terra tolerância e diálogo.
senhorial para prepará-la, passar o arado e semear. No
dia 30 de novembro, dia de Santo André, pagava-se 11. (Unesp) O cavaleiro é um dos principais personagens
uma espécie de bolo. Pelo Natal, “galinhas boas e nas narrativas difundidas durante a Idade Média. Esse
finas”.Depois, uma certa quantidade de cevada e de cavaleiro é principalmente um
trigo. E mais ainda! No moinho, para moer o grão do (A) camponês, que usa sua montaria no trabalho
camponês, cobrava-se uma parte dos grãos e uma certa cotidiano e participa de combates e guerras.
quantidade de farinha; no forno, era preciso pagar (B) nobre, que conta com equipamentos adequados à
também, e o “forneiro” dizia que, se não tivesse o seu montaria e participa de treinamentos militares,
pagamento, o pão do camponês ficaria mal cozido e torneios e jogos.
imprestável.
(LUCHAIRE, La Société française au temps de Philippe Auguste. Adaptado)
(C) camponês, que consegue obter ascensão social por reunião de histórias registradas entre os Séculos
meio da demonstração de coragem e valentia nas VIII e IX, e lidas ainda hoje no mundo ocidental.
guerras. (C) levaram para a Europa, por meio da ocupação da
(D) nobre, que ocupa todo seu tempo com a preparação Península Ibérica, antigas técnicas romanas de
militar para as Cruzadas contra os mouros. cultivo, habilidades de arte na representação
(E) nobre, que conquista novas terras por meio de sua humana e a perspectiva linear na pintura.
ação em torneios e jogos contra outros nobres. (D) traduziram e difundiram muitos textos,
concretizando importantes realizações, a partir do
12. (Uepa) A cidade medieval era dominada por seus pensamento grego.
campanários: torres e agulhas de igrejas paroquiais, de (E) inventaram o papel, a pólvora, a bússola, o
conventos e, evidentemente, da catedral Romana, astrolábio, os algarismos árabes e a álgebra.
depois gótica, a igreja do bispo era objeto de todas as
atenções [...] a catedral medieval nunca era uma 14. (Upe) A civilização bizantina foi muito mais original e
construção isolada, ela dominava toda uma criativa que, em geral, lhe creditam. Suas igrejas
circunscrição. [...] Eram muitos os carpinteiros, vidreiros abobadadas desafiam em originalidade e ousadia os
e pintores a participar do embelezamento da catedral. templos clássicos e as catedrais góticas, enquanto os
Os ourives e os comerciantes vendiam relicários aos mosaicos competem, como supremas obras de arte,
eclesiásticos, além de tapeçarias de seda e incenso com a escultura clássica e a pintura renascentista.
destinado a enobrecer a liturgia. (ANGOLD, Michael. Bizâncio: A ponte da antiguidade para a Idade Média. Rio
(BROUQUET, Sophie Cassagnes. “Novas cidades, novos ricos”. In: História de Janeiro: Imago, 2002. p. 9. Adaptado.)
Viva. Ano III, N°34, p.44)
Sobre o legado cultural bizantino, assinale a alternativa
A partir da descrição acima sobre a paisagem da cidade CORRETA.
medieval e dos estudos históricos que há sobre este período, (A) Herdando elementos da cultura grega, os bizantinos
afirma-se que a catedral: desenvolveram estudos sobre a aritmética e a
(A) desarticulava os poderes episcopais e políticos, álgebra.
porque os fiéis utilizavam-se do espaço onde (B) Negando a tradição jurídica romana, o império
ocorriam os rituais católicos, para fins comerciais, bizantino pautou sua jurisdição no direito
enfraquecendo os vínculos feudo-vassálicos entre o consuetudinário.
clero, nobreza e os artesãos. (C) A filosofia estoica influenciou o movimento
(B) centralizava as atividades de comércio, agrícola e iconoclasta, provocando o cisma cristão do Oriente
de construção, promovendo a criação de uma rede no século XI.
de trabalhadores de diversas regiões que, (D) O catolicismo ortodoxo tornou-se a religião oficial do
organizadas nas corporações de ofícios, depuseram império após a denominada querela das
o poder do episcopado romano. investiduras.
(C) projetava o poder exercido pelas corporações de (E) A catedral de Santa Sofia sintetiza a tradição
ofício que controlavam o trabalho dos artesãos e artística bizantina com seus ícones e mosaicos.
dos comerciantes, contratados no período das
edificações das catedrais, fortalecendo os mestres 15. (Enem)
de obras e os mercadores. Sou uma pobre e velha mulher,
(D) enfraqueceu o poder dos senhores feudais, ao Muito ignorante, que nem sabe ler.
promover o enriquecimento dos ourives e dos Mostraram-me na igreja da minha terra
comerciantes que se tornaram a nova classe social Um Paraíso com harpas pintado
consumidora dos produtos da Igreja e dos serviços E o Inferno onde fervem almas danadas,
dos clérigos. Um enche-me de júbilo, o outro me aterra.
(E) era objeto de grandes atenções na sociedade VILLON. F. In: GOMBRICH, E. História da arte. Lisboa: LTC. 1999.
medieval, pois não só congregava os religiosos e os
fiéis que para ela se dirigiam, como também atraía Os versos do poeta francês François Villon fazem referência
todo tipo de profissionais, constituindo-se em um às imagens presentes nos templos católicos medievais.
verdadeiro centro cultural, em que relações de Nesse contexto, as imagens eram usadas com o objetivo de
caráter religioso e profissional se inter- (A) refinar o gosto dos cristãos.
relacionavam. (B) incorporar ideais heréticos.
(C) educar os fiéis através do olhar.
13. (Upf) O islamismo é a religião que mais cresce no (D) divulgar a genialidade dos artistas católicos.
mundo contemporâneo. Suas origens remontam ao (E) valorizar esteticamente os templos religiosos.
século VII d.C. e sua expansão foi baseada na Jihad,
guerra santa contra outros povos, especialmente os 16. (G1 - ifsp) Analisando as condições de trabalho da
cristãos. Entre os séculos VII e VIII, foi constituído o Europa medieval, o historiador Marc Bloch afirmou:
Império Árabe-Muçulmano – que dominou a Península
Arábica –, os territórios dos atuais Irã e Iraque, todo o O servo, em resumo, dependia tão estreitamente de um
norte da África e a Península Ibérica (atuais Portugal e outro ser humano que, fosse ele para onde fosse, esse laço
Espanha). Nesse processo de expansão, os árabes o seguia e se imprimia à sua descendência. Essas pessoas,
assimilaram muitos legados culturais de outros povos para com o senhor, não estavam obrigadas apenas às
com os quais conviveram, como as tradições da cultura múltiplas rendas ou prestações de serviços. Deviam-lhe
clássica e oriental. Além disso, fizeram com que valores também auxílio e obediência, e contavam com a sua
culturais da Antiguidade Clássica chegassem ao mundo proteção.
(BLOCH, Marc. A sociedade feudal. Lisboa: Edições 79, s/d., p. 294-295.
moderno. Isso foi possível porque os árabes: Adaptado)
(A) conseguiram profetizar os destinos da humanidade
por meio dos signos do zodíaco. De acordo com o texto, é correto afirmar que a servidão na
(B) difundiram, por intermédio da literatura, a obra mais Europa medieval
conhecida dos chineses, que é Mil e uma Noites,
(A) baseava-se na cobrança de taxas e no trabalho em A partir das informações do texto, é correto afirmar que o
troca de proteção e moradia. contexto histórico em questão é o
(B) organizava a produção monocultora de exportação (A) escravismo antigo.
que predominava no período. (B) capitalismo industrial.
(C) proporcionava ampla mobilidade social para os (C) socialismo soviético.
servos e seus descendentes. (D) feudalismo medieval.
(D) garantia aos servos a participação nas decisões (E) mercantilismo moderno.
políticas dentro dos feudos.
(E) impedia a circulação dos trabalhadores nas 20. (Ufrgs ) Um dos elementos essenciais nas relações
lavouras dos territórios senhoriais. sociais da Idade Média Ocidental foi a instituição da
vassalagem, difundida desde o reinado de Carlos
17. (Pucrs) O feudalismo europeu foi resultante de uma Magno, que consistia em
lenta e complexa integração de estruturas sociais (A) um juramento de compra de terras por um vassalo a
romanas com estruturas dos povos conhecidos como um senhor, as quais eram trabalhadas por servos.
germanos, ocorrida entre os séculos V e IX. Uma das (B) uma relação de dependência pessoal que vinculava,
principais estruturas germânicas que compuseram o por meio de um juramento, um senhor a um
feudalismo foi subordinado, vassalo.
(A) a vila, grande latifúndio que tendia à autossufi- (C) uma concessão temporária de terras do rei a
ciência econômica. funcionários especializados da alta administração,
(B) o colonato, sistema de trabalho que vinculava o que exploravam o trabalho dos servos da gleba.
camponês à terra. (D) uma relação contratual entre um senhor e seus
(C) o burgo, cidade fortificada onde se concentravam servos, que prestavam serviços em troca de
atividades artesanais. proteção.
(D) o comitatus, relação de fidelidade militar entre (E) um contrato revogável de prestação de serviços
guerreiros e seu chefe. temporários por parte de um cavaleiro profissional,
(E) o direito codificado, reunião simplificada de leis a serviço de um senhor.
escritas.

18. (G1 - ifsp) Leia a descrição abaixo.


GABARITO
Esses homens não recebiam salário, mas trabalhavam em 1 D 6 A 11 B 16 A
troca de moradia e proteção. Eles trabalhavam em terras que 2 B 7 C 12 E 17 D
não eram suas, mas de um proprietário que exigia parte da 3 D 8 A 13 D 18 C
produção. Ali viviam até a morte, nunca podendo abandonar 4 D 9 D 14 E 19 D
seu trabalho. Porém, eles não poderiam ser negociados ou 5 B 10 A 15 C 20 B
expulsos da propriedade.

Esse trabalhador descrito identifica-se como


(A) um homem que viveu sob o regime de parceria,
trabalho típico da segunda metade do século XIX no
Brasil.
(B) um escravo da Antiguidade romana, que não
recebia salário nem terras, vivendo ao lado de seu
proprietário.
(C) um servo feudal, preso à terra e às tradições
medievais. Morava no feudo de seu senhor e
pagava pela proteção recebida, a talha e a corveia.
(D) um colono que, após 20 anos de trabalho, recebia a
propriedade da terra, através da Lei de Terras de
1850.
(E) um vassalo que jurava obediência ao seu senhor,
seu suserano. Além dos serviços agrícolas
prestados, esse vassalo ia à guerra, defendendo os
interesses de seu senhor.

19. (Fatec ) A partir do ano 1000, a população europeia tem


um grande aumento. Este crescimento demográfico se
relaciona com as tecnologias desenvolvidas naquela
época, as quais aumentaram a produção agrícola e
melhoraram as condições de saúde e alimentação: a
charrua, substituindo o arado, a utilização do cavalo nas
lavouras, e a rotatividade de plantações, aproveitando
melhor os solos. As populações do período agrupavam-
se em aldeias em volta da igreja e do castelo.
(Le Goff , Jacques. São Francisco de Assis. Rio de Janeiro: Record, 2007, p.
24. Adaptado)
INTRODUÇÃO

Segundo a Organização das Nações Unidas, existem atualmente 196 Estados


soberanos no mundo. Todos contam com território, sistemas jurídico e econômico próprios e
mecanismos de arrecadação de impostos para custear as despesas com saúde, educação,
forças armadas, funcionalismo público, etc.
Tal forma de organização é um fenômeno relativamente recente na História. Durante a
Idade Média, na Europa ocidental, por exemplo, muitas das responsabilidades hoje atribuídas
ao Estado, como a cobrança de impostos, a defesa territorial e a aplicação da justiça, estavam
sob a responsabilidade dos senhores feudais, que concentravam um enorme poder dentro dos
limites de suas terras.
Essa situação começou a mudar a partir do século XI, quando teve início um lento
processo de centralização do poder nas mãos dos reis. A formação das primeiras monarquias
nacionais europeias é o tema deste capítulo.

1. A SOCIEDADE FEUDAL

A formação da sociedade feudal ocorreu no final da Alta Idade Média (séculos V a X),
mas seu amadurecimento somente se deu entre os séculos XI e XV, durante a chamada Baixa
Idade Média. Nessa sociedade, o alto clero e a nobreza possuíam interesses comuns e
concentravam em suas mãos o poder e a propriedade das terras, embora a Igreja estivesse
acima de tudo e de todos.
Como você já estudou no capítulo anterior, existiam dois tipos de relação social na
sociedade feudal, ambas legitimadas pela Igreja: a de vassalagem, que unia os nobres
cavaleiros por compromissos de lealdade pessoal, e a de servidão, que assegurava a
exploração dos camponeses. Desde o século IX, fontes literárias e administrativas descreviam o
mundo medieval como uma sociedade de ordens, composta de três segmentos, com funções
hierarquizadas e distintas: orar, combater e trabalhar. Aos religiosos cabia rezar pelo bem dos
cristãos, inspirando o amor a Deus; aos guerreiros competia proteger a Igreja e defender a
sociedade dos mais diferentes perigos; aos camponeses restava a tarefa de garantir a
sobrevivência material da sociedade, realizando os serviços braçais.
A justificativa dessa hierarquia era religiosa. Os sacerdotes se julgavam superiores aos
cavaleiros porque dedicavam a vida a Deus, orando, conservando sua castidade e, portanto,
exercendo as vocações mais valorizadas pelos cristãos. Alguns religiosos cumpriam à risca
esse papel; outros, nem tanto. À grande parte dos camponeses cabia a obrigação de trabalhar
nos campos. Na época, existia uma crença generalizada de que o trabalho era uma herança do
pecado original. Na Bíblia, no livro do Gênesis, podia-se ler que Adão, depois de expulso do
paraíso por ter cedido à tentação de Eva, recebera de Deus, como castigo, o fardo de trabalhar.
O modelo das três ordens transformava a sociedade feudal em algo criado e desejado por
Deus, inibindo qualquer contestação aos poderes estabelecidos.
Esse caráter eterno e inquestionável da ordem social seria abalado pelo crescimento
comercial, ocorrido na Europa ocidental a partir do século XI. A multiplicação de mercadores,
banqueiros e artesãos afetou a hierarquia da sociedade medieval. Pouco a pouco, surgiram
outras formas de organização social, baseadas em diferentes critérios, como os profissionais. O
mundo do trabalho, até então identificado com as atividades agrícolas, passou a englobar
também aquelas dedicadas ao comércio e ao artesanato. Apesar disso, o modelo das três
ordens se manteve como referência na sociedade medieval.

2. MUÇULMANOS SOB CERCO: AS CRUZADAS

O crescimento comercial não só resultou no primeiro movimento de expansão militar


do Ocidente cristão — as Cruzadas — como também o estimulou. Mas o motivo oficial da
primeira Cruzada foi de inspiração política e religiosa. Convocada em 1095 pelo papa Urbano II,
tinha como objetivo conquistar Jerusalém, a chamada Terra Santa, considerada o berço do
cristianismo. A cidade tinha sido conquistada pelos turcos seljúcidas no século VII e, segundo a
Igreja, precisava ser resgatada das mãos desses infiéis, que, entre outras ações, dificultavam
as peregrinações de cristãos aos lugares sagrados do Oriente.
Além disso, havia uma aparente convergência de interesses entre o papa e o
imperador bizantino: o imperador desejava o apoio militar do Ocidente para deter o avanço
muçulmano no Oriente Próximo, enquanto o papa sonhava em reunificar as Igrejas de Roma e
Constantinopla, separadas pelo Cisma de 1054. O avanço dos cruzados na Terra Santa poderia
aproximar a Igreja de Roma do imperador bizantino, que tutelava a Igreja local. Para encorajar a
participação nas Cruzadas, a Igreja concedeu indulgência plena — isto é, perdão de todos os
pecados — para aqueles que morressem em combate. Partiram para a Terra Santa muitos
cavaleiros da nobreza feudal e outros tantos cavaleiros errantes, homens sem feudo cujas
oportunidades de ascensão social estavam restritas aos prêmios em torneios, ao serviço
mercenário e, com muita sorte, à possibilidade de casar com uma dama da alta nobreza.
Essa união de forças em torno de uma causa comum diminuiu os frequentes conflitos
entre os senhores feudais pela posse de terras. Até então o clero havia se esforçado para pôr
um fim à violência dos guerreiros e proteger de seus ataques o restante da sociedade
desarmada.
No século X, a campanha para cristianizar a cavalaria, conhecida como Paz de Deus,
espalhou-se por toda a França. Os cavaleiros passaram a prestar um juramento sobre relíquias
sagradas em que prometiam manter a paz e proteger a sociedade e não mais invadir
propriedades, saquear seus bens e estuprar mulheres. Entre 1020 e 1040, a Trégua de Deus
instituída pela Igreja reforçou as proibições dirigidas à cavalaria, impondo um calendário que
condenava conflitos nos dias santos.
A Igreja promovia, assim, uma guerra santa, cujos alvos eram o infiel muçulmano e os
territórios sob seu domínio.

OS REINOS CRISTÃOS DO ORIENTE

A primeira Cruzada foi composta de várias expedições. A principal delas foi organizada
em 1095 e chamada de “Cruzada dos Nobres” ou “Cruzada dos Cavaleiros”. Contava com 35
mil guerreiros, dos quais 5 mil eram cavaleiros. A principal liderança coube a Raimundo IV,
conde de Tolouse, cujo exército era o mais numeroso dentre todos da expedição.
A história militar dessa Cruzada foi marcada por atrocidades. O episódio mais famoso
ocorreu quando da vitória dos cruzados em Jerusalém. Há estimativas de que o número de
mortos tenha alcançado 40 mil; além dos muçulmanos, foram alvo do massacre judeus e
cristãos habitantes da cidade.
Em 1099, os cavaleiros retornaram à Europa ocidental com excelente saldo: a
conquista da Terra Santa, transformada em Reino Latino de Jerusalém, e dos condados de
Edessa e Trípoli. Assim, além dos ganhos com os saques efetuados, os cavaleiros foram
recompensados com terras.
Os cruzados que permaneceram na Palestina uniram-se em ordens militares de caráter
religioso. Na Terra Santa surgiram a Ordem do Templo, em 1118, mais conhecida como Ordem
dos Templários, e a Ordem dos Hospitalários de Santa Maria, em 1190, conhecida como
Ordem dos Cavaleiros Teutônicos.

3. AMBIÇÕES NO MAR: GÊNOVA E VENEZA

O controle do Mediterrâneo pelos muçulmanos a partir do século VIII isolou a Europa


cristã. Esse panorama somente mudaria a partir do século XI, com o renascimento comercial e
com a expansão promovida pelas Cruzadas. Veneza, na península Itálica, foi uma exceção,
pois sempre manteve ligações com o Império Bizantino e cresceu sob sua influência.
No século XI, Constantinopla era a maior cidade do Mediterrâneo, com uma população
de 1 milhão de habitantes, e funcionava como centro manufatureiro e político. Veneza servia
como ponto de ligação entre Constantinopla e o mundo feudal, levando a Bizâncio trigo, vinho,
madeira e escravos. Os mercadores venezianos traziam tecidos preciosos fabricados em
Constantinopla e especiarias da Ásia, responsáveis pela mudança do paladar europeu.
Além do comércio com os bizantinos, os venezianos negociavam também com os
muçulmanos do norte da África. A criação de um mercado consumidor para os produtos que
Veneza obtinha no Oriente acabou estimulando o avanço comercial de outras cidades italianas.
Seguindo esse exemplo, habitantes de Gênova se lançaram ao mar no século XI. Com o apoio
fundamental de seus habitantes aos cruzados fixados no Oriente, Gênova funcionou como base
para o envio de reforços militares, atuando contra as esquadras muçulmanas e abastecendo os
exércitos cristãos. Gênova se transformou em uma das potências econômicas do mundo
medieval, ao lado de Veneza. A população genovesa cresceu rapidamente, atingindo cerca de
100 mil habitantes ao longo do século XII, tempo em que Gênova estendeu seu poder sobre
diversas ilhas do Mediterrâneo, como Córsega e Elba.

4. HERESIAS E CONFLITOS SOCIAIS

A palavra heresia é de origem grega e significa escolha. Para a igreja Católica, herege
era todo aquele que difundia ou praticava uma crença contrária aos dogmas (princípios e
doutrinas inquestionáveis) do catolicismo e aos sacramentos e mandamentos da Igreja ou
questionava o poder eclesiástico, sobretudo a autoridade do papa.
O principal movimento herético da época foi o catarismo, que reuniu um número
significativo de adeptos e comunidades em várias partes da Europa ocidental, em particular na
península Itálica e no sul da atual França. O primeiro movimento de expansão do catarismo
ocorreu no século XI. Atraiu justamente cavaleiros pobres, artesãos e mercadores,
desvalorizados socialmente por não terem terras, títulos de nobreza ou por exercerem trabalho
manual.
Os cátaros desprezavam o mundo material e acreditavam que o dever das pessoas era
transformar a realidade e estabelecer uma comunhão com Deus por meio de uma vida moral
irrepreensível. Praticavam jejuns periodicamente, não comiam carne e reprovavam as relações
sexuais, por acreditar que elas tornavam o espírito escravo do corpo. Como não reconheciam a
legitimidade da Igreja, foram perseguidos por autoridades laicas e religiosas.
Diversas comunidades cátaras foram destruídas, principalmente no Languedoc, no sul
da atual França. Nessa região, parte da nobreza e dos artesãos aderiu ao catarismo, e foi
preciso convocar uma cruzada, que durou 20 anos (1209-1229), para combater esse
movimento.

5. RENASCIMENTO URBANO

No século XI, com a ampliação do comércio e a expansão dos espaços urbanos, o


cenário medieval se modificou. Esse processo foi estimulado pela produção de excedentes
agrícolas e pela conquista de territórios sob domínio muçulmano.
A partir dos séculos XI e XII, as cidades episcopais, sedes de bispados, que até então
se limitavam a dirigir as igrejas na sua jurisdição, passaram a abrigar atividades comerciais e
artesanais. Os velhos burgos — fortalezas construídas para assegurar a defesa do senhor e de
seus dependentes — passaram a abrigar, entre suas muralhas, novas áreas de ocupação para
mercadores e artesãos.
Nos entrepostos mercantis, formaram-se verdadeiras praças comerciais. Esses
entrepostos eram frequentemente favorecidos por sua proximidade a rios e mares,
indispensáveis à circulação de mercadorias, e a fortalezas, que garantiam proteção contra
saques e assaltos. Assim, deram origem às cidades medievais.

FEIRAS, MERCADOS, CORPORAÇÕES

A possibilidade de se livrar das obrigações servis atraiu os camponeses para as áreas


urbanas, sobretudo nas cidades que gozavam de autonomia em face dos poderes senhoriais
(Freiburg). Caso o servo não fosse reclamado por seu senhor em um ano, ele ganhava proteção
da legislação municipal. Essa prática acabou transformada em ditado pelos camponeses: “O ar
da cidade liberta”.
A cidade medieval desafiou as hierarquias da sociedade feudal. Estimulou fugas de
camponeses, fez do dinheiro um meio de ascensão social e introduziu mercadores e banqueiros
no cotidiano da vida econômica.
O comércio a longa distância promoveu a formação de feiras que, em certos casos,
tornaram-se mercados permanentes. Esses mercados a céu aberto estimularam o surgimento
de atividades e profissionais indispensáveis, como o serviço de câmbio e homens capazes de
ferrar cavalos, fabricar rodas e eixos para as carroças e abastecer a cidade com alimentos.
Em outras palavras, o renascimento urbano estimulou outra divisão do trabalho. Muitas
das tarefas executadas somente por camponeses passaram a ser desempenhadas por mão de
obra especializada, dedicada principalmente ao artesanato e organizada em corporações de
ofício.

6. OS OFÍCIOS URBANOS

As corporações, ao que tudo indica, surgiram de forma espontânea, mas logo se


tornaram obrigatórias, e as ruas das cidades passaram a ser identificadas pelos serviços ali
realizados. Em toda parte, surgiram ruas de ourives, oleiros, tecelões etc. Muitos ofícios
adquiriram caráter hereditário, passando de pai para filho.
Outro aspecto do renascimento comercial foi o aparecimento de organizações ligadas
ao comércio marítimo, as chamadas guildas. Cada guilda era uma associação de cidades
responsável pelo comércio de certos produtos em determinadas regiões.
Um exemplo é a Liga Hanseática, federação de cidades mercantis atuantes, desde o
século XIII, no comércio do mar do Norte e do mar Báltico. A região de Flandres foi também
muito ativa no comércio do mar do Norte, com destaque para a cidade de Bruges, na atual
Bélgica.

O FLAGELO DA PESTE NEGRA

No noroeste da Europa, entre a primavera e o outono de 1315, ocorreram chuvas


intensas, pouco comuns para essa época do ano. Os campos de cereais ficaram inundados e
as sementes ficaram atrofiadas ou apodreceram. Com isso, o preço do trigo, que era a base da
alimentação dos camponeses, disparou, levando a maior parte da população à fome e
comprometendo sua resistência. Logo, ao flagelo da fome somou-se o da peste negra.
Acredita-se que a peste tenha chegado à Europa por Gênova, na Itália. Um navio
originário de Caffa, entreposto genovês no mar Negro, teria trazido a bordo os ratos que
espalharam o mal pela Europa. Na primavera de 1348, a peste atingiu as demais cidades
italianas, atravessou os Alpes e se alastrou pelo sul do continente. No mesmo ano, chegou
também à península Ibérica e alcançou o norte europeu, aterrorizando escoceses e ingleses.
Em 1349, invadiu o Sacro Império e a Europa oriental.
Cerca de um terço da população europeia morreu em decorrência da peste negra;
algumas aldeias simplesmente desapareceram. Somente no século XVI a população da Europa
conseguiu recuperar os números que possuía antes da peste. Na Inglaterra, por exemplo, uma
população estimada em 3,7 milhões de habitantes, em 1348, caiu para 2,25 milhões, em 1377.
Giovanni Boccaccio, grande escritor de Florença, na Itália, que conheceu de perto os
horrores da peste, disse: Tal situação entrara, com tanto estardalhaço, no peito dos homens e
das mulheres, que um irmão deixava o outro; o tio deixava o sobrinho; a irmã, a irmã e,
frequentemente, a esposa abandonava o marido. Pais e mães sentiam-se enojados em visitar e
prestar ajuda aos filhos, como se o não foram (e essa é a coisa pior, difícil de se crer).
BOCCACCIO, Giovanni. Decamer‹o. São Paulo: Nova Cultural, 2003. p. 12.

Somente no século XIX descobriu-se que a peste negra era um tipo de peste bubônica,
inicialmente transmitida por pulgas.

CÓLERA DIVINA

Os conhecimentos médicos da época foram insuficientes para combater a epidemia. A


cólera divina foi a explicação mais comum para a doença. Os pintores da época a retratavam
com a representação de Deus disparando flechas sobre os humanos, punindo-os por seus
pecados. Muitos acusaram os judeus pelo flagelo, por julgarem que esse povo teria sido
responsável pela crucificação de Jesus. Outros acusavam os leprosos. Na ânsia de aplacar a
ira divina, multiplicaram-se os cortejos de flagelantes, penitentes que desfilavam com o torso nu,
açoitando as próprias costas. Os mais resignados elegeram São Roque como advogado celeste
para os males da peste.
Apesar dos exercícios de mortificação, a peste prosseguiu implacável, passando de
rua para rua, de quarteirão para quarteirão, e assim foi durante anos seguidos. Quando dava
uma trégua, reaparecia de forma atenuada para logo irromper de modo explosivo. Ao menos no
norte da península Itálica, a peste negra se compôs de seis epidemias sucessivas. O mesmo
ocorreu em outras partes da Europa.
Atenuada por curtos intervalos, a peste dominou o século XIV e adentrou o XV,
espalhando a morte por toda parte. As obras de arte da época registraram com detalhes o medo
das multidões, representando danças macabras, ossos e caveiras, e sobretudo a própria morte,
geralmente simbolizada por uma caveira.

7. CONFLITO ENTRE NOBRES: A GUERRA DOS CEM ANOS

Além da peste negra, o século XIV também conheceu a mais longa guerra da Idade
Média, travada entre a monarquia francesa e a inglesa, que ficou conhecida como a Guerra dos
Cem Anos. Na verdade, a guerra durou, entremeada de curtas tréguas, 116 anos, de 1337 a
1453.
O conflito começou com a disputa pela Coroa francesa: Carlos IV, rei da França,
morreu em 1328 sem deixar filhos homens. Eduardo III, rei da Inglaterra, julgava-se o seu
legítimo herdeiro, porque era sobrinho do falecido rei. Ao mesmo tempo, boa parte da nobreza
francesa apoiava Filipe de Valois, primo do rei, que assumiu o trono como Filipe VI, provocando
a reação do rei inglês.
Na época, as guerras não eram conflitos entre Estados nacionais, mas entre nobres,
príncipes e reis por tronos, títulos e domínios territoriais onde pudessem cobrar impostos. Por
isso, não é surpresa que um rei inglês cobiçasse acumular a Coroa da França, com todas as
vantagens e privilégios que poderia obter.
Mas para isso ele precisava do apoio da nobreza francesa. Afinal, o poder dos reis
confrontava-se com o poder dos senhores feudais, os grandes duques e condes. Esse jogo de
alianças era feito de acordo com as tradições feudais, incluindo as lealdades vassálicas e os
interesses econômicos imediatos. Foi o que aconteceu na Guerra dos Cem Anos, que, por isso
mesmo, é um bom exemplo da guerra medieval.

AS VITÓRIAS INGLESAS

Os combates se iniciaram em 1340, com a vitória dos ingleses na Batalha de Sluys, na


região de Flandres (litoral dos Países Baixos), apoiados pelo duque da Bretanha e pelos
mercadores daquela região, com os quais o rei inglês tinha negócios.
A guerra prosseguiu na Normandia (norte da França) com novos triunfos de Eduardo
III, em 1347 e 1348, o que lhe garantiu o controle do canal da Mancha. O rei francês Filipe IV
conseguiu resistir, porque a peste negra forçou a suspensão das hostilidades por alguns anos.
O seu sucessor, João II, tentou reagir, mas não teve sucesso.
Em 1360, houve uma tentativa de paz com o Tratado de Calais, rompido pelos
franceses, que logo equilibraram o conflito. No início do século XV, a Inglaterra partiu para a
ofensiva. O rei Henrique V, grande cavaleiro da casa de Lancaster, aproveitou-se dos conflitos
entre nobres franceses para invadir a França. Em 1415, travou-se a importante Batalha de
Azincourt, quando o exército de Henrique V venceu a cavalaria francesa.
No mesmo ano, comandou a tomada de Paris e consolidou o controle da Normandia.
Pelo Tratado de Troyes, em 1420, o rei da França foi obrigado a deserdar seu filho, cedeu à
Inglaterra todo o norte do reino e aceitou dar a mão de sua filha Catarina a Henrique V, que se
tornou herdeiro do trono francês.

A REVANCHE FRANCESA: JOANA D’ARC

Henrique V morreu pouco depois de voltar à Inglaterra, em 1422. A monarquia


francesa reagiu. Carlos VII, o novo rei da França, ignorou o tratado de 1420 e recrutou
camponeses para formar um poderoso exército que, partindo do vale do Loire, reconquistou os
territórios perdidos.
Nesse contexto, despontou a figura legendária de Joana d’Arc, uma jovem camponesa
que liderou os franceses em várias batalhas, com autorização do rei. Joana procurou Carlos VII
alegando ter ouvido vozes celestiais que a designavam para combater os inimigos do rei
destronado...
O início de uma disputa sucessória na Inglaterra significou a chance para os franceses
retomarem os territórios perdidos durante a guerra. Em 1453, a vitória sobre os ingleses em
Bordeaux pôs fim à guerra centenária, que se iniciou com o conflito entre reis e senhores
feudais, mas deu um importante passo para a formação das monarquias modernas. Carlos VII
reinou até sua morte, em 1461.

8. A CRISE DO FEUDALISMO

A fome, a peste e as guerras causaram estragos sem precedentes na sociedade


europeia no final da Idade Média. A população vivia em completo desamparo. Nos tempos de
trégua a população era assaltada pelas companhias de soldados mercenários que roubavam
víveres e atacavam as mulheres. A eles juntavam-se os bandidos e os camponeses falidos, que
atacavam as terras senhoriais, destruindo estábulos e moinhos, arruinando a economia rural.
Muitos camponeses abandonaram as terras e se refugiaram nas cidades. O abandono
das terras e a mortalidade diminuíram ainda mais as rendas senhoriais, já afetadas pela
diminuição da mão de obra e pela queda na produção agrícola. Além disso, a nobreza perdeu
influência sobre seus dependentes e teve o seu poder enfraquecido.

REAÇÃO SENHORIAL

As guerras trouxeram mudanças significativas à sociedade feudal. A cavalaria, símbolo


da “arte da guerra” na Idade Média, perdeu sua importância com a valorização dos arqueiros e
a chegada das armas de fogo, em especial os canhões. Como a formação dos exércitos não
dependia mais da estrutura feudal, assentada em laços vassálicos, mas sim de soldados que
serviam à realeza em troca de um soldo, o poder militar dos senhores feudais ficou cada vez
mais reduzido.
Eles procuraram aumentar suas rendas impondo multas e taxas, além de impedir que
os camponeses deixassem as terras arrendadas. Em 1349, no auge da peste na Inglaterra, o rei
Eduardo III proibiu o aumento dos valores pagos pelo trabalho de camponeses e artesãos das
cidades.
As taxas e os impostos tornaram-se um enorme flagelo para a população, o que
resultou em uma série de revoltas. Na França, em 1358, surgiram as chamadas jacqueries, que
uniram os camponeses contra as novas imposições senhoriais, tomando várias cidades no
norte e no sul.

9. FORTALECIMENTO DO PODER DO REI

Na Europa medieval do final do século X, eram muitas as limitações para o comércio.


As trocas comerciais eram feitas basicamente em regiões próximas umas das outras. Com as
Cruzadas iniciadas no final do século XI, a possibilidade de compra e venda de produtos
provenientes de regiões longínquas deu origem a diversos tipos de comerciantes ambulantes:
mascates, vendedores de feira, grandes mercadores, etc. Com isso, aumentou a possibilidade
também de lucros maiores, e os comerciantes passaram a percorrer toda a Europa.
Na mesma época, alguns pequenos centros urbanos – vilas, aldeias, cidades –
surgiram como resultado da expansão dos burgos, como eram chamadas as aglomerações que
se formavam em torno de abadias ou de castelos. Os moradores dos burgos eram conhecidos
como burgueses. Muitos eram mercadores e artesãos sem vínculo ou obrigação com o senhor
feudal. Por isso, o termo burguês – inicialmente – era sinônimo de pessoa livre.
Posteriormente, o termo passou a designar indivíduos detentores de dinheiro e dos meios de
produção, como comerciantes, banqueiros e empresários.
Essa pequena “explosão” comercial e urbana foi responsável pelo surgimento da
burguesia. Entretanto, a fragmentação política e econômica dos reinos em feudos dificultava a
expansão dos negócios. Como poderiam os comerciantes calcular o preço de seus produtos se
os senhores feudais dos lugares pelos quais eram obrigados a passar com suas mercadorias
utilizavam moedas, pesos e medidas diferentes?
Para amenizar essa situação, os burgueses procuraram se aproximar dos reis, em
busca de ajuda. Alguns monarcas, por sua vez, interessados em ter acesso ao dinheiro da
burguesia, passaram a adotar medidas que favoreciam as práticas comerciais ou os burgueses.
A partir do século XI, devido a uma série de circunstâncias, os reis foram deixando a
condição de apenas mais um senhor feudal entre muitos. Em algumas regiões, os reis
forneciam apoio militar aos senhores para conter rebeliões camponesas em suas terras e até
intermediavam disputas entre feudos. Ao mesmo tempo, as camadas baixas da sociedade
começaram a ver no rei um defensor contra a opressão dos senhores feudais.
Dessa forma, o poder real tornou-se cada vez maior. Essa mudança foi acompanhada
de alterações importantes no sistema de lealdades. No auge do feudalismo, as pessoas deviam
prestar lealdade em primeiro lugar ao senhor feudal ao qual estavam ligadas. Mas, aos poucos,
começaram a se voltar para o rei, que passava a ser o principal destinatário de sua lealdade.
Por meio de um processo lento e gradual, usando a ação política ou a força, os
monarcas submeteram os poderes locais à sua autoridade, centralizaram o comando do
exército, estabeleceram fronteiras para seus territórios e colocaram os habitantes dessas
regiões sob seu domínio. Assim, surgiram as monarquias nacionais europeias, também
chamadas por alguns historiadores de monarquias feudais.

A CARTA MAGNA E O PARLAMENTO INGLÊS

Cada vez mais afastados do centro de decisões, os senhores feudais procuraram


reagir contra a política centralizadora dos sucessivos reinados. Foram vários os embates entre
reis e nobres. Uma situação que passou para a História como um marco importante desse
processo ocorreu em 1215: um grupo de nobres, chamados genericamente de “barões”, cercou
o rei João Sem-Terra (1199-1216) e suas tropas às margens do rio Tâmisa e, após alguns dias
de luta, conseguiu que o monarca atendesse às exigências de seus adversários contidas em
um documento que passou à História com o título de Carta Magna.
Embrião das futuras garantias gerais do povo inglês, a Carta Magna tinha por objetivo
assegurar apenas os direitos dos grupos sociais mais ricos, estabelecendo limites para o poder
real. Impedia o rei, por exemplo, de aumentar impostos e criar leis sem a aprovação do Grande
Conselho – assembleia formada por representantes da nobreza e do alto clero – e assegurava
proteção contra arbitrariedades do poder monárquico. No século XIII, o Grande Conselho
passou a ser chamado de Parlamento. Em 1350, ele foi dividido em duas Câmaras: a dos
Lordes – formada por nobres e clérigos – e a dos Comuns – composta de ricos comerciantes e
cavaleiros, que até então não contavam com uma forma de expressão de seus interesses.

10. PORTUGAL E ESPANHA

Desde 711, a península Ibérica estava sob domínio dos árabes muçulmanos, também
chamados de mouros pelos cristãos. A partir do século XI, houve uma ofensiva sistemática
contra os muçulmanos – chamada de Reconquista – por meio de um conjunto de lutas
empreendidas pelos cristãos com o objetivo de recuperar as terras invadidas e expulsar os
muçulmanos da península. Pouco a pouco, ao longo de quase quatro séculos, os centros da
cultura árabe na península caíram, um após outro: Toledo (1085), Córdoba (1236), Sevilha
(1248), Cádiz (1262). O último reduto foi Granada, retomada pelos cristãos em 1492 (veja os
mapas abaixo). À medida que os muçulmanos eram expulsos, reinos e condados cristãos
expandiam seus territórios. Lentamente, esse processo levaria à formação de dois Estados
independentes: Portugal e Espanha.

OS MUÇULMANOS NA PENÍNSULA IBÉRICA

Os árabes influenciaram fortemente a cultura e a sociedade da península Ibérica,


especialmente o artesanato e a agricultura. Após a conquista, surgiram pomares e hortas e
foram introduzidos alimentos até então desconhecidos na região, como o arroz, a cana-de-
açúcar e a amoreira. A confecção de tecidos de algodão, de lã e de seda e o trabalho em couro
também prosperaram. Os árabes foram os iniciadores do fabrico de papel em Toledo. Entre as
tantas inovações trazidas pelos muçulmanos, talvez a mais significativa tenha sido a arte da
navegação. O contato com os muçulmanos influenciou o aprimoramento da indústria naval e de
diversos instrumentos náuticos, que se fariam essenciais às Grandes Navegações iniciadas no
século XV.
Texto elaborado com base em: ABRANSON, M.; GUREVITCH, A.; KOLESNITSKI, N. História
da Idade Média: do século XI ao século XV. Lisboa: Estampa, 1978; RAMOS, Fábio Pestana.
No tempo das especiarias: o império da pimenta e do açúcar. São Paulo: Contexto, 2004.

A FORMAÇÃO DE PORTUGAL

No final do século XI, o rei Afonso VI, de Leão e Castela (reinos que junto com outros
formariam mais tarde a moderna Espanha), concedeu ao nobre francês Henrique de Borgonha
o Condado Portucalense, feudo situado no oeste da península. Em 1142, Afonso Henriques,
filho do conde Henrique de Borgonha, declarou-se rei e proclamou a independência do
condado, que passou a se chamar Portugal. Por 240 anos, os reis da dinastia de Borgonha,
fundada por Afonso Henriques, viveram em constante conflito com o reino de Castela. Nesse
período, expandiram o território português em direção ao sul e fizeram de Lisboa capital do
novo reino. Em 1383, morreu o último rei da dinastia de Borgonha e seguiu-se um período no
qual Castela tentou anexar Portugal a seus domínios até que, em 1385, dom João, mestre da
ordem militar da cidade de Avis, assumiu o trono português. Em um episódio que ficou
conhecido como Revolução de Avis, dom João conseguiu consolidar o poder monárquico em
Portugal.

A ESPANHA E A INQUISIÇÃO

Depois das guerras de Reconquista, no início do século XIII, o atual território da


Espanha encontrava-se dividido nos reinos de Aragão, Castela e Navarra. Havia ainda, ao sul, o
reino de Granada, último reduto muçulmano na península Ibérica. Em 1469, Fernando, rei de
Aragão, casou-se com Isabel, filha do rei de Castela. Com a morte do pai, Isabel tornou-se
rainha de Castela. Ela e Fernando decidiram então unir as duas coroas, dando origem ao reino
de Aragão e Castela. Era o primeiro passo para a formação da Espanha moderna.
Logo depois, Fernando e Isabel – conhecidos como reis católicos – firmaram uma
aliança com a Igreja para expulsar muçulmanos e judeus da Espanha. Para isso, o papa Sisto
IV criou na Espanha, em 1478, o Tribunal do Santo Ofício (ou Inquisição), subordinado aos reis
católicos.
Teve início, então, um período de intolerância e perseguições a dissidentes e
opositores por razões políticas e, sobretudo, religiosas. Qualquer acusação anônima podia levar
o acusado ao cárcere, onde as confissões eram extraídas sob tortura. Os bens dos perseguidos
capturados eram confiscados e divididos entre o Estado e a Igreja.
O Tribunal do Santo Ofício era um instrumento inquestionável de poder: sob o terror da
Inquisição, era reprimida qualquer reação, mesmo frágil, de antigos senhores feudais ou de
representantes da burguesia contra a centralização do Estado nas mãos dos reis Fernando e
Isabel.
3. (Unicamp 2020) O surgimento das primeiras
universidades, nos séculos XII e XIII, marca um
momento capital da história do Ocidente medieval. Em
1. (Enem) relação à época anterior, esse momento comportou
elementos de continuidade e de ruptura. Os primeiros
devem ser buscados na localização urbana das
universidades, no conteúdo dos ensinamentos, no papel
social dos homens de saber. Já os elementos de ruptura
foram inicialmente de ordem institucional. No âmbito das
instituições educativas, este sistema era novo e original.
As comunidades autônomas dos mestres e dos
estudantes eram protegidas pelas mais altas
autoridades leigas e religiosas daquele tempo,
permitindo tanto progressos no domínio dos métodos
intelectuais e em sua difusão como uma inserção mais
eficiente das pessoas de saber na sociedade da época.
(Adaptado de J. Verger, Cultura, ensino e sociedade no ocidente nos séculos
XII e XIII. Bauru: EDUSC, 2001, p.189-190.)

Considerando o texto e seus conhecimentos sobre o período


medieval, assinale a alternativa correta.
(A) A Igreja Católica apoiava a estruturação das
universidades medievais, que representavam o
Os calendários são fontes históricas importantes, na medida avanço das ciências e a superação de dogmas e
em que expressam a concepção de tempo das sociedades. das teorias teocêntricas.
Essas imagens compõem um calendário medieval (1460- (B) A organização institucional diferencia as
1475) e cada uma delas representa um mês, de janeiro a universidades medievais das corporações de
dezembro. Com base na análise do calendário, apreende-se ofícios, visto que seu método de estudo estava
uma concepção de tempo calcado na escolástica, caracterizando o atraso do
(A) cíclica, marcada pelo mito arcaico do eterno retorno. mundo medieval.
(B) humanista, identificada pelo controle das horas de (C) Uma ruptura trazida pelas universidades medievais
atividade por parte do trabalhador. foi o início da atuação dos copistas nas bibliotecas,
(C) escatológica, associada a uma visão religiosa sobre que copiavam sistematicamente a produção de
o trabalho. autores latinos críticos aos dogmas religiosos.
(D) natural, expressa pelo trabalho realizado de acordo (D) A institucionalização das universidades medievais
com as estações do ano. era um dado novo no período; essas instituições se
(E) romântica, definida por uma visão bucólica da caracterizavam pelo apoio das autoridades de
sociedade. dentro e de fora da Igreja, e pela maior autonomia e
inserção social de seus membros.
2. (Enem) A Peste Negra dizimou boa parte da população (E) As universidades foram patrocinadas pelo papado,
europeia, com efeitos sobre o crescimento das cidades. para fornecerem profissionais preparados para
O conhecimento médico da época não foi suficiente para atuar num contexto de expansão marítima e
conter a epidemia. Na cidade de Siena, Agnolo di Tura comercial e de declínio da Igreja Católica perante a
escreveu: "As pessoas morriam às centenas, de dia e de formação dos Estados Nacionais, ao mesmo tempo
noite, e todas eram jogadas em fossas cobertas com em que estimulariam a autonomia do conhecimento
terra e, assim que essas fossas ficavam cheias, escolástico.
cavavam-se mais. E eu enterrei meus cinco filhos com
minhas próprias mãos (...) E morreram tantos que todos 4. (Uefs) No Mediterrâneo, “os cristãos não conseguem
achavam que era o fim do mundo." fazer flutuar sequer uma tábua”. Afirmativa de Ibn
Agnolo di Tura. The Plague in Siena: An Italian Chronicle. In: William M.
Bowsky, The Black Death: a turning point in history? New York: HRW, 1971 Khaldun, historiador muçulmano (1332-1406), autor da
(com adaptações). História dos Árabes e dos Berberes.
AQUINO, Rubim S. L. de ET AL. História das sociedades: das comunidades
primitivas às sociedades medievais. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, v. 1,
O testemunho de Agnolo di Tura, um sobrevivente da Peste 1980, p. 343.
Negra que assolou a Europa durante parte do século XIV,
sugere que A análise do historiador árabe do século XIV diz respeito
(A) o flagelo da Peste Negra foi associado ao fim dos (A) ao controle da navegação comercial no contexto do
tempos. mar Mediterrâneo, estabelecido pelos árabes,
(B) a Igreja buscou conter o medo, disseminando o excluindo os reinos europeus da circulação
saber médico. comercial.
(C) a impressão causada pelo número de mortos não (B) à parceria estabelecida entre muçulmanos e judeus
foi tão forte, porque as vítimas eram poucas e para o estabelecimento do monopólio no comércio
identificáveis. marítimo mediterrâneo.
(D) houve substancial queda demográfica na Europa no (C) à autossuficiência da economia feudal europeia na
período anterior à Peste. Baixa Idade Média, o que desestimulava o acesso
(E) o drama vivido pelos sobreviventes era causado às rotas marítimas comerciais do Mediterrâneo.
pelo fato de os cadáveres não serem enterrados. (D) ao atraso no conhecimento da navegação comercial
pelos reinos europeus, especialmente os
localizados na península itálica.
(E) à ausência de portos marítimos no sul da Europa, o
que dificultava a ancoragem de embarcações nas
atividades comerciais.
5. (Unesp) Os mosteiros eram em primeiro lugar casas, (C) estagnação tecnológica, queda demográfica e
cada uma abrigando sua “família”, e as mais perfeitas, guerras prolongadas são fatores que explicam a
com efeito, as mais bem ordenadas: de um lado, desde depressão econômica que marcou a Europa
o século IX, os mais abundantes recursos convergiam ocidental a partir do século XIV.
para a instituição monástica, levando-a aos postos (D) a crise foi provocada pelas divisões internas da
avançados do progresso cultural; do outro, tudo ali se Igreja de Roma, às quais se somariam os conflitos
encontrava organizado em função de um projeto de com o Sacro Império Romano Germânico, levando
perfeição, nítido, bem estabelecido, rigorosamente a uma desorganização política da Europa ocidental.
medido. (E) a depressão econômica foi causada pela expansão
(Georges Duby. “A vida privada nas casas aristocráticas da França muçulmana na Península Ibérica, uma das áreas
feudal”.História da vida privada, vol. 2, 1992. Adaptado.)
que haviam impulsionado o desenvolvimento
econômico da cristandade ocidental.
A caracterização do mosteiro medieval como uma “casa”, um
“posto avançado do progresso cultural” e um “projeto de
8. (Fuvest) Assim como o camponês, o mercador está a
perfeição” pode ser explicada pela disposição monástica de
princípio submetido, na sua atividade profissional, ao
(A) valorizar a vida privada, participar ativamente da
tempo meteorológico, ao ciclo das estações, à
vida política e combater o mal.
imprevisibilidade das intempéries e dos cataclismos
(B) recuperar a experiência histórica e pessoal do
naturais. Como, durante muito tempo, não houve nesse
Salvador durante sua estada no mundo dos vivos.
domínio senão necessidade de submissão à ordem da
(C) recolher-se a uma comunidade fechada para orar,
natureza e de Deus, o mercador só teve como meio de
estudar e combater a desordem do mundo.
ação as preces e as práticas supersticiosas. Mas,
(D) identificar-se com as condições de privação por que
quando se organiza uma rede comercial, o tempo se
passavam as famílias pobres, celebrar a tradição
torna objeto de medida. A duração de uma viagem por
escolástica e agir de forma ética.
mar ou por terra, ou de um lugar para outro, o problema
(E) reconhecer a humanidade como solidária e unida
dos preços que, no curso de uma mesma operação
num esforço de salvação da alma dos fiéis e dos
comercial, mais ainda quando o circuito se complica,
infiéis.
sobem ou descem _ tudo isso se impõe cada vez mais à
sua atenção. Mudança também importante: o mercador
6. (Ulbra) Leia o texto a seguir e responda à questão.
descobre o preço do tempo no mesmo momento em que
ele explora o espaço, pois para ele a duração essencial
“Foram eles que criaram, em fins do século XIII, um
é aquela de um trajeto.
mecanismo para medir o passar do tempo, Jacques Le Goff. Para uma outra Idade Média. Petrópolis: Vozes, 2013.
independentemente da época do ano e das condições Adaptado.
climáticas. Sendo hora do almoço, a pessoa vai para casa ou
para o restaurante e senta-se à mesa. [...] Na Antiguidade, O texto associa a mudança da percepção do tempo pelos
as pessoas comiam recostadas numa espécie de sofá, mercadores medievais ao
apoiadas sobre o antebraço. [...], pegamos os alimentos com (A) respeito estrito aos princípios do livre comércio, que
colher (criada aproximadamente em 1285) e garfo (século XI, determinavam a obediência às regras internacionais
de uso difundido no XIV). Terminada a refeição, a pessoa de circulação de mercadorias.
passa no banco [...] para autenticar documentos, dirige-se ao (B) crescimento das relações mercantis, que passaram
cartório, instituição que [...] preservava a memória de certos a envolver territórios mais amplos e distâncias mais
atos jurídicos (“escritura”), fato importante numa época em longas.
que pouca gente sabia escrever.” (C) aumento da navegação oceânica, que permitiu o
(FRANCO, Hilário. Publicado em “Revista de História da Biblioteca Nacional”, estabelecimento de relações comerciais regulares
disponível em www.revistadehistoria.com.br e acessado em 01/03/2008.)
com a América.
(D) avanço das superstições na Europa ocidental, que
O texto se refere
se difundiram a partir de contatos com povos do
(A) à Antiguidade Clássica na Grécia.
leste desse continente e da Ásia.
(B) ao Período Medieval na Europa.
(E) aparecimento dos relógios, que foram inventados
(C) à cultura Árabe no Extremo Oriente.
para calcular a duração das viagens ultramarinas.
(D) à presença espanhola na América Central.
(E) ao contexto cultural islâmico do Mediterrâneo.
9. (Unicamp) “Uma categoria inferior de servidores que
coexiste nas grandes casas com os domésticos livres
7. (Fgv ) Sem dúvida, podemos afirmar que após uma fase
são os escravos. Um recenseamento enumera em
A de crescimento econômico (1200-1316) a Europa
Gênova, em 1458, mais de 2 mil. As mulheres estão em
Ocidental entrou numa fase B depressiva, que se
uma proporção esmagadora (97,5%) e 40% não têm
estenderia até fins do século XV no sul e princípios do
ainda 23 anos. São totalmente desamparadas; todos na
XVI no centro e no norte.
FRANCO JÚNIOR, H. A Idade Média. Nascimento do Ocidente. 2a ed., São
casa a repreendem, todos batem nela (patrão, mãe,
Paulo: Brasiliense, 2001, p. 46. filhos crescidos) e os testemunhos de processos em que
A respeito da situação de retração econômica apontada pelo elas comparecem mostram-nas vivendo, frequentemente
autor, é correto afirmar que no temor de pancadas. Em Gênova e Veneza, a
(A) a crise manifestara-se desde o século XI e escrava-criada é essencial no prestígio das nobres e
caracterizou-se pela queda demográfica acentuada ricas matronas.
e pela desorganização das atividades agrícolas e (Adaptado de Charles De la Roncière, “A vida privada dos notáveis toscanos
no limiar da Renascença”, em Georges Duby (org.), História da vida privada -
manufatureiras da Europa latina. da Europa feudal à Renascença, vol 2. São Paulo: Companhia das Letras,
(B) a falta de moedas e a ausência de minas na Europa 1990, p. 235-236.)
provocaram a paralisação das atividades mercantis
e levaram à total desarticulação do feudalismo a Sobre o trabalho nas cidades italianas do período em
partir do século XIV. questão, podemos afirmar corretamente que:
(A) O declínio da escravidão está ligado ao novo Esses artesãos começaram a se organizar em Corporações
conceito antropocêntrico do ser humano e a uma de Ofício estruturadas em associações de
nova dignidade da condição feminina no final da (A) artesãos que reuniam todos aqueles que se
Idade Média. dedicavam ao mesmo ofício.
(B) O trabalho servil era predominantemente feminino e (B) associações de artesãos dos mais diversos ofícios
concorria com o trabalho escravo. A escravidão que se uniam com o objetivo de atuar no livre
diminuiu com essa concorrência, desdobrando-se mercado.
no trabalho livre. (C) artesãos de diversos ofícios e trabalhadores
(C) Conviviam inúmeras formas de trabalho livre, assalariados que se uniam com o objetivo de atuar
semilivre e escravo no universo europeu e a no livre mercado.
sobreposição não era, em si, contraditória. (D) camponeses que se reuniam para reivindicar maior
(D) O uso do castigo corporal igualava as escravas a participação política nas cidades.
outros trabalhadores e foi o motivo das rebeliões (E) cavaleiros que se dedicavam, exclusivamente, a
camponesas do período (jacqueries) e agitações proteger os cristãos das ameaças de expansão
urbanas. islâmica.
(E) o trabalho predominante era baseado no escambo
envolvendo vilões e escravos que produziam 13. (Ufu ) Mas o objetivo da produção, mesmo com meios
recursos agrícolas. modestos, não era um fim abstrato como hoje, mas
prazer e ócio. Esse conceito antigo e medieval de ócio
10. (Espcex (Aman) Os últimos anos do século X foram não deve ser confundido com o conceito moderno de
marcados, na Europa Ocidental, pela diminuição das tempo livre. Isso porque o ócio não era uma parcela da
invasões bárbaras e pela queda da mortandade por vida separada do processo de atividade remunerada,
epidemias. Tais fatos geraram estabilidade e antes estava presente, por assim dizer, nos poros e nos
crescimento demográfico. A partir do século XI, o nichos da própria atividade produtiva.
continente experimentaria profundas transformações KURZ, Robert. A expropriação do tempo. Folha de São Paulo, 3 jan.1999. p. 5
(Adaptado).
que levariam ao que se conhece como Renascimento
Comercial.
A noção de tempo livre assumiu uma qualidade positiva
distinta daquela de ócio, em função de estar articulada a um
Com relação ao acima exposto, é correto afirmar que
conjunto de transformações socioeconômicas, localizadas a
(A) o Iluminismo gerou uma mentalidade de busca pela
partir de fins da Idade Média, e que se caracterizava
prosperidade material, o que levou ao incremento
(A) pelo incremento da produção agrícola para o
de práticas comerciais.
mercado interno, responsável pelo chamado
(B) o restabelecimento de rotas comerciais com a
renascimento feudal do século XV.
Oceania favoreceu o estabelecimento de novas
(B) pela crescente mercantilização das terras da Igreja,
empresas de comércio na Europa.
cada vez mais alinhada com as modernas
(C) as Cruzadas impediram a circulação de
concepções sobre o trabalho.
mercadorias entre o Ocidente e o Oriente.
(C) pela descentralização político-administrativa das
(D) a intensificação do comércio provocou o
emergentes monarquias nacionais, fator de estímulo
enfraquecimento de feiras regulares nos
para o crescimento da produção mercantil.
cruzamentos das rotas comerciais.
(D) pela aceleração das atividades urbanas e
(E) os avanços tecnológicos elevaram a quantidade da
comerciais, com o crescimento da produção
produção agrícola e o excedente passou a ser
mercantil e das camadas burguesas da sociedade.
vendido.
(E) pelo crescimento das atividades agrícolas de
subsistência que alimentavam os feudos.
11. (G1 - ifsul) As feiras eram geralmente realizadas nos
burgos (núcleos populacionais que surgiram nas
14. (Ueg ) Leia o texto a seguir.
cercanias dos castelos). Nessa época, os núcleos
urbanos se ampliaram e novos muros foram construídos
A Cruzada foi fonte de enormes infelicidades, desde a
para abrigar a expansão urbana e para proteger as
própria época: a tomada de Jerusalém, em 1099, o saque de
atividades comerciais que eram realizadas nos burgos.
Constantinopla em 1204 são páginas vergonhosas da
história do Ocidente Cristão [...]. É claro que a Cruzada foi
O texto acima refere-se às feiras da Baixa Idade Média, as
muito importante para a identidade da cristandade: um tal
quais constituíam
projeto une uma comunidade, dá-lhe uma unidade.
(A) um instrumento de comércio local das cidades, para LE GOFF, Jacques. Uma longa Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização
abastecimento cotidiano apenas de seus habitantes. Brasileira, 2008. p. 101–102.
(B) áreas exclusivas de venda de produtos agrícolas.
(C) um sistema amplo de comércio da época, que Quando, no século XI, o papa Urbano II convocou a Primeira
abastecia os burgos. Grande Cruzada ao Oriente, usou como justificativa para
(D) locais fixos para comercialização somente da tamanha movimentação de tropas e recursos o projeto de
produção dos feudos. (A) reafirmar a universalidade da fé católica, ameaçada
(E) espaços de comércio de armas para os cavaleiros pelas conversões em massa dos cristãos do Oriente
templários e hospitalários. ao islamismo.
(B) reunificar os Impérios Romano do Oriente e do
12. (Ufsj) A partir do século XI, os povoados denominados Ocidente, separados desde o Édito de Tessalônica
burgos começaram a crescer pelo desenvolvimento do de 395.
comércio. Artigos manufaturados, como tecidos, eram (C) retomar a posse de reinos cristãos ibéricos
produzidos, fazendo com que novas cidades surgissem ocupados por muçulmanos, num projeto militar
e as mais antigas se desenvolvessem. chamado de Reconquista.
(D) defender os cristãos do Oriente e a retomada dos (A) demonstrava o protesto dos moradores das vilas
“lugares santos” que estavam em posse dos camponesas, que estavam denunciando a falta de
muçulmanos. chefes e de fidalgos responsáveis pela guarda e
(E) punir os cavaleiros cristãos que desobedeciam a segurança das casas e castelos feudais.
Paz e a Trégua de Deus, enviando-os em missão (B) indicava o grau de revolta contra a ordem social
suicida ao Oriente. feudal que assegurava à nobreza o direito de
explorar o trabalho servil, garantindo a produção e o
15. (Unesp) Os homens da Idade Média estavam trabalho compulsório mesmo que em situações de
persuadidos de que a terra era o centro do Universo e crise.
que Deus tinha criado apenas um homem e uma mulher, (C) expressava a intolerância em relação ao modelo de
Adão e Eva, e seus descendentes. Não imaginavam que organização social que garantia aos clientes acesso
existissem outros espaços habitados. O que viam no irrestrito às reservas senhoriais onde se localizavam
céu, o movimento regular da maioria dos astros, era a os castelos e as casas dos camponeses.
imagem do que havia de mais próximo no plano divino (D) representava o desenvolvimento moral dos
de organização. habitantes das vilas feudais, onde as revoltas foram
(Georges Duby. Ano 1000, ano 2000: na pista de nossos medos, 1998. mais violentas, pois eram controladas pelos
Adaptado.)
camponeses que se negavam a trabalhar nas
O texto revela, em relação à Idade Média ocidental,
reservas senhoriais.
(A) o prevalecimento de uma mentalidade fortemente
(E) identifica-se com o caráter primitivo dos
religiosa, indicativa da força e da influência do
trabalhadores afastados dos eixos de produção da
cristianismo.
economia feudal que, no momento de falência das
(B) a consciência da própria gênese e origem,
relações de senhorio e vassalagem, invadiram os
resultante das pesquisas históricas e científicas
castelos em busca de proteção.
realizadas na Grécia Antiga.
(C) o esforço de compreensão racionalista dos
18. (Uern) Observe a imagem.
fenômenos naturais, base do pensamento
humanista.
(D) a construção de um pensamento mítico,
provavelmente originário dos contatos com povos
nativos da Ásia e do Norte da África.
(E) a presença de esforços constantes de predição do
futuro, provavelmente oriundos das crenças dos
primeiros habitantes do continente.

16. (Ufsm) No princípio do século XII, teve início na Europa


uma economia fundada no comercio, e o centro da vida
social deslocou-se do campo para as cidades, surgindo
uma nova classe social: a burguesia urbana. Também
resultado desse processo, a arte românica passou a ser
abandonada em favor de um novo estilo, a arte gótica, a
qual apresentava as seguintes características A Europa do século XIV foi marcada por desgraças e
arquitetônicas: tragédias. O maior resultado desses problemas foi a crise do
(A) colunas jônicas, capitéis e relicários. feudalismo e do regime senhorial. Assinale as principais
(B) contrastes de luz e sombras, abóbadas e tetos tragédias e desgraças a que se referem a imagem e as
altos. informações anteriores.
(C) vitrais coloridos, muito espaço interno e paredes (A) As desavenças entre católicos e protestantes que
maciças. chegaram a provocar grandes massacres como o
(D) fachadas pesadas, pouco espaço interno e da Noite de São Bartolomeu, na França.
rosáceas. (B) As guerras pelos tronos, no contexto da formação
(E) arcobotantes, arcos ogivais e vitrais. dos Estados Nacionais, que geraram uma
verdadeira guerra civil nos reinos recém-formados.
17. (Uepa) Leia o texto para responder à questão (C) As perseguições atribuídas aos tribunais de
inquisição, que levaram milhares de pessoas,
Então algumas gentes das vilas camponesas, sem chefes, inclusive membros da própria igreja, à condenação
se juntaram em grupos que mal chegavam a cem homens e da fogueira.
cada um deles dizia: “Dize bem! Dize bem! Abominado seja (D) A fome, a Peste Negra e as guerras, tais como, a
aquele por quem venha a retardar-se a destruição de todos Guerra dos Cem Anos, entre Inglaterra e França,
os fidalgos!” Depois se foram sem outro desígnio e sem fatores inequívocos da decadência medieval.
qualquer armamento, afora bastões ferrados e cutelos, rumo (E) A invasão Turco Otomana à Constantinopla, a
à casa do nobre que perto dali morava. Então quebraram a Grande Fome e as Cruzadas.
casa e mataram o cavaleiro, a dama e os filhos, pequenos e
grandes e ataram fogo nos aposentos. Em seguida foram 19. (Ufpr) O Papa Francisco, eleito em março de 2013,
para outro forte castelo onde fizeram coisa pior, violando chamou atenção novamente para a figura de Francisco
mulheres e crianças”. de Assis, considerado o fundador da Ordem dos
(FROISSART, Jean. Crônicas. In Duby, Georges. A Europa na Idade Média. Franciscanos (ou dos Frades Menores) na Baixa Idade
SP: Martins Fontes, 1988, p. 134-135)
Média. Assinale a alternativa que relaciona o contexto
de surgimento dos Franciscanos e sua motivação de
O estado de ânimo dos camponeses, conforme a descrição
ação.
feita no texto, referente ao Século XIV:
(A) Com a retração do renascimento comercial e
urbano, aumentaram a pobreza e o abandono de
crianças, que eram recolhidas pelas Ordens
Mendicantes, dentre elas a dos Franciscanos, para
evitar que fossem recrutadas nas Cruzadas.
(B) O renascimento comercial e urbano gerou um
empobrecimento da Igreja Católica na Baixa Idade
Média, suscitando o aparecimento das Ordens
Mendicantes, dentre elas a dos Franciscanos.
(C) Com o renascimento comercial e urbano, surgem as
Ordens Mendicantes, dentre elas a dos
Franciscanos, que constituíram uma força de
contestação da ordem feudal e do poder econômico
da Igreja.
(D) Com a crescente ruralização e o aumento da
pobreza no espaço europeu, surgiram as Ordens
Mendicantes, como a dos Franciscanos, para se
tornar a principal instância da Igreja Católica.
(E) Com o renascimento comercial e urbano,
aprofundaram-se a pobreza e as desigualdades
sociais, suscitando o aparecimento de várias
Ordens Mendicantes, que pretendiam atuar junto
aos necessitados, entre elas a Ordem dos
Franciscanos.

20. (Ufg) Leia o texto a seguir.

O corpo é considerado perigoso: é o lugar das tentações;


nele se manifesta o que depende do mal; sobre ele se
aplicam os castigos purificadores que expulsam o pecado.
Testemunha, o corpo denuncia as particularidades da alma
por seus traços específicos, mas também pela maneira pela
qual suporta a prova da água ou do ferro em brasa.
DUBY, Georges. A solidão nos séculos XI a XIII. In: DUBY, G.; ARIÈS, P.
(Orgs.). História da vida privada: da Europa feudal à Renascença. São Paulo:
Companhia das Letras, 2006. p. 515-516. (Adaptado).

O dualismo entre corpo e alma era uma característica da


cultura europeia, nos séculos XII e XIII. Com base no texto,
esse dualismo expressava-se
(A) no desprezo com a higienização do corpo, que era
um recurso para encobrir os pecados da alma.
(B) na prática caritativa com os doentes, que se
tornavam exemplo em virtude do sofrimento do
corpo.
(C) na hierarquização entre homens e mulheres, que
regulava a moral segundo os preceitos bíblicos.
(D) no exercício do ritual de exorcismo, que expulsava o
pecado do corpo.
(E) no controle do comportamento, que revelava a alma
resguardada pelo corpo.

GABARITO
1 D 6 B 11 C 16 E
2 A 7 C 12 A 17 B
3 D 8 B 13 D 18 D
4 A 9 C 14 D 19 E
5 C 10 E 15 A 20 E
1. O RENASCIMENTO ARTÍSTICO, CIENTÍFICO E INTELECTUAL

HUMANISMO E RACIONALISMO

A reativação do comércio e a maior circulação de dinheiro entre os séculos XI e XIV


provocaram uma reforma educacional e a formação de escolas e universidades independentes
do controle da Igreja, que se preocupava em formar teólogos, médicos e advogados.
As novas escolas e universidades que surgiram naquele momento afirmavam a
importância central do ser humano, considerado a obra suprema de Deus. Conhecida como
antropocentrismo, essa concepção era coerente com o princípio grego segundo o qual “o ser
humano é a medida de todas as coisas”. O antropocentrismo se chocava com a orientação das
universidades controladas pela Igreja, nas quais o pensamento era dominado pelo teocentrismo
– para o qual Deus (Théos, em grego) é a fonte de todo o conhecimento e deve estar no centro
da reflexão filosófica.
O centro principal de reflexão nas novas universidades passou a ser a atividade
humana e suas diversas ramificações. Dessa forma, foram priorizadas disciplinas voltadas para
os estudos humanos, como Poesia, Filosofia, Gramática, Matemática, História e Eloquência,
além daquelas ligadas ao antigo Direito Romano. Esse movimento de ideias, conhecido como
Humanismo, também procurou resgatar o conhecimento e as artes da Antiguidade clássica e
atingiu outras áreas do saber, como Medicina, Astronomia, Filosofia, Literatura e Artes. Textos
de autores gregos e romanos, que nos séculos anteriores encontravam-se sob o controle da
Igreja, foram recuperados pelos estudiosos laicos. Obras de arte, templos e palácios, objetos de
decoração e peças variadas da Antiguidade clássica passaram a ser a principal referência de
pintores, escultores, decoradores e arquitetos da península Itálica, a partir do século XV.
Como o ser humano estava no centro das atenções, tudo o que se referia a ele deveria
ser valorizado. Difundiu-se entre os estudiosos a ênfase na procura de explicações racionais
(baseadas na razão, não na fé) para os fatos da natureza. Essa corrente de pensamento,
conhecida como racionalismo, contrariava a ideia de que a Igreja e os livros sagrados seriam
suficientes para responder a todas as dúvidas humanas. A partir da península Itálica, a difusão
do humanismo pelo continente europeu deu origem ao Renascimento, um movimento ainda
mais amplo, voltado à renovação intelectual e artística, que alcançou várias áreas do
conhecimento humano.

REFLEXÕES POLÍTICAS E INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA

A principal obra de ciência política do Renascimento foi O príncipe, de 1513, escrita


pelo florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527). No livro, o príncipe (ou rei, governante) não
deveria se deter diante de nenhum obstáculo na luta para conquistar ou conservar o controle de
um Estado, mesmo que isso implicasse o uso da força e da violência contra seus adversários.
Com o Renascimento, a exploração científica do corpo humano e a prática de dissecação de
cadáveres ganharam impulso: órgãos até então desconhecidos foram observados e descritos e
suas funções foram esclarecidas.

GEOCENTRISMO × HELIOCENTRISMO

Segundo a doutrina da Igreja católica, a Terra (geo, em grego) era o centro do


Universo, e o Sol e a Lua gravitavam em seu redor. Essa teoria é conhecida como
geocentrismo. Levado pelo espírito investigativo do Renascimento, o astrônomo polonês
Nicolau Copérnico (1473-1543) contestou essa concepção e propôs o heliocentrismo, afirmando
que a Terra girava ao redor do Sol (helio, em grego). As ideias de Copérnico foram retomadas
por outros cientistas, nas décadas seguintes, como Giordano Bruno (1548-1600), Galileu Galilei
(1564-1642) e Johannes Kepler (1571-1630). Mais tarde, apoiado no trabalho desses cientistas,
em 1687 o inglês Isaac Newton (1643-1727) publicou o livro Principia, que lançou os
fundamentos da Física moderna.

A ARTE RENASCENTISTA

Um dos primeiros pintores a dar caráter artístico à sua atividade e a assinar suas obras
foi Giotto di Bondone (1267-1337), nascido na península Itálica. Ele inovou não apenas ao
retratar pessoas, animais e objetos com grande realismo, mas também por ter introduzido
noções de profundidade na pintura. Dessa forma, abriu caminho para a introdução da
perspectiva, desenvolvida mais tarde por Filippo Brunelleschi (1377-1446), Leon Battista Alberti
(1404-1472) e Leonardo da Vinci. Utilizando princípios matemáticos, Brunelleschi criou o
conceito de perspectiva exata: quanto mais distante um objeto estivesse em relação ao
observador, tanto menor deveria ser representado na tela, para reproduzir fielmente a realidade.
A perspectiva exigia do pintor conhecimentos não só de Geometria e Matemática, mas
também de ótica. Além disso, ele deveria saber reproduzir as variações de cor, de luz e sombra
que a realidade apresentava. Com todas essas mudanças, pintores, escultores e arquitetos
passaram a ser vistos como verdadeiros artistas, não mais como artesãos.

OS MECENAS

Interessadas em se impor socialmente perante a nobreza e o clero, as grandes famílias


de mercadores e banqueiros passaram a custear o trabalho de pintores, escultores e arquitetos
e a exibir em seus palacetes as obras encomendadas a eles. Esses protetores das artes –
encontrados também na nobreza e no alto clero – ficaram conhecidos como mecenas. Com o
mecenato, arte, riqueza e poder ficaram intimamente associados.
Em Florença, por exemplo, o mecenas mais importante era a poderosa família Medici,
que influenciou a vida política da cidade por quase três séculos. Cosimo de Medici (1389-1469),
o patriarca, e seus filhos financiaram as atividades de diversos artistas. Entre os favorecidos
estava Michelangelo Buonarroti (1475-1564), um dos maiores artistas de todos os tempos, que
fez diversas esculturas para a capela dos Medici e também trabalhou para o Vaticano, tendo
redesenhado a Igreja de São Pedro e executado as pinturas do teto da Capela Sistina. Outros
importantes artistas renascentistas foram Sandro Botticelli (1444-1510), Rafael Sanzio (1483-
1520), Ticiano Vecellio (1490-1576) e Paolo Veronese (1528-1588).

RENOVAÇÃO LITERÁRIA

Uma renovação no campo das letras vinha ocorrendo na Europa desde os últimos
séculos da Idade Média, devido principalmente ao trabalho de três escritores da península
Itálica: Dante Alighieri (1265-1321), Francesco Petrarca (1304-1374) e Giovanni Boccaccio
(1313-1375). A (re)invenção, por Johannes Gutenberg, dos tipos móveis de impressão no
século XV foi um fator que contribuiu para consolidar o surgimento de novas formas literárias e
permitiu a publicação de livros com grandes tiragens. Iniciada na península Itálica, essa
renovação literária logo se espalhou para países como Espanha, França, Portugal e Inglaterra.
Em Portugal se destacaram o poeta Luís de Camões (1503-1580), com a forma da
epopeia greco-latina em Os lusíadas, e o dramaturgo Gil Vicente (cerca de 1465-1536), com
peças satíricas como a Farsa de Inês Pereira e o Auto da barca do inferno. Na Espanha, surgiu
o escritor Miguel de Cervantes (1547-1616), autor de Dom Quixote e, na Inglaterra, surgiu
William Shakespeare (1564-1618), considerado por muitos o maior dramaturgo de todos os
tempos e autor de peças como Hamlet, Romeu e Julieta, A megera domada, Macbeth e Rei
Lear.

TIPOS MÓVEIS DE IMPRESSÃO

Os tipos móveis de impressão (feitos de argila cozida e depois de outros materiais) já


haviam sido inventados pelo artesão chinês Bi Sheng entre 1041 e 1048. No entanto, na
Europa, até meados do século XV, a reprodução de um livro era feita manualmente, um a um,
por copistas. Além de lento, esse trabalho podia causar imprecisões, fazendo com que o
mesmo original variasse de uma cópia manuscrita para outra. No invento de Johannes
Gutenberg (cerca de 1397-1468), as letras do alfabeto eram feitas em pequenos blocos de
chumbo – os tipos –, colocados um ao lado do outro para formar palavras, frases e páginas.
Essas eram, depois, impressas em uma prensa.
Cada página montada com os tipos podia ser impressa (ou copiada) várias vezes.
Gutenberg imprimiu seu primeiro livro, uma edição da Bíblia em latim, por volta de 1450. As 180
cópias da primeira edição, impressas em três prensas, somavam 230 mil páginas ao todo e
ficaram prontas em dois anos.
Os tipos móveis de impressão de Gutenberg causaram o impacto de uma revolução na
vida cultural europeia. A nova invenção tornou possível a rápida difusão de livros e,
consequentemente, dos ideais do Humanismo e do Renascimento. Outro resultado do invento
de Gutenberg foram as mudanças na técnica de produção de imagens. Com as novas formas
de impressão, as iluminuras desapareceram para dar lugar a uma nova manifestação de arte
gráfica: a gravura.

3. A REFORMA PROTESTANTE: O CONTEXTO DAS CRÍTICAS À IGREJA

Durante a Idade Média, a Igreja católica era o principal centro de poder na Europa. Sua
influência era tamanha que reis e senhores feudais recorriam a ela para governar. Tanto poder
terreno distanciou a Igreja dos assuntos espirituais. Para muitos de seus integrantes, riqueza e
prazeres físicos tornaram-se mais importantes do que a fé. Essa inversão de valores pôs em
xeque a credibilidade da instituição.
A falta de retidão da Igreja católica nos séculos anteriores contribuiu para a grave crise
do século XIV e afetou a estabilidade e o poder da Igreja. Além das disputas políticas
envolvendo o alto clero, pesaram sobre a instituição denúncias de corrupção e outras
acusações de ordem moral.
Diante desse cenário, alguns filósofos cristãos, influenciados pelo pensamento
humanista, passaram a responsabilizar a Igreja e seus dogmas pela perpetuação da miséria e
da ignorância na sociedade europeia.
Um desses pensadores foi o sacerdote e professor inglês da Universidade de Oxford,
John Wyclif (1324-1384), que dedicou boa parte da vida à crítica indignada da corrupção e da
arrogância vigentes na hierarquia eclesiástica. A mesma atitude adotou John Huss (1371-1415),
sacerdote e reitor da Universidade de Praga (hoje capital da República Tcheca), que
denunciava a venda de indulgências. Tanto ele quanto Wyclif foram acusados de heresia pela
Igreja e condenados à morte na fogueira.
Apesar da repressão da Igreja, o movimento contra as práticas imorais do clero
cresceu de forma contínua: na esfera da reflexão sistemática e teórica, o humanista holandês
Erasmo de Roterdã (1466-1536), em seu Elogio da loucura, condenava a corrupção existente
na instituição; no âmbito da literatura, o escritor francês François Rabelais (1494-1533)
escreveu excelente sátira literária sobre o tema, Gargântua e Pantagruel.
Assim, quando em 1517 o monge Martinho Lutero (1483-1546) protestou contra o
comportamento do alto clero e do papado, outras pessoas sentiram- -se motivadas a fazer o
mesmo. Esse movimento, que ficou conhecido como Reforma, tornou-se tão amplo que
provocou uma cisão na Igreja.

VENDA DE INDULGÊNCIAS

Indulgência é o perdão que a Igreja oferece àqueles que se arrependem de seus


pecados. Nos primeiros tempos, a indulgência assumia a forma de penitência pública –
autoflagelação, por exemplo. Por volta do século XI, as antigas penitências foram substituídas
por prestação de serviços – como amparo aos doentes, construção de igrejas, etc. – ou pela
cooperação com a instituição. Em 1095, o papa Urbano II ofereceu indulgência plena a quem
participasse da Primeira Cruzada.
Nos séculos seguintes, as indulgências se transformaram em cartas vendidas aos fiéis.
Aqueles que as comprassem recebiam o perdão dos pecados já cometidos e, de acordo com o
valor pago, tinham também o perdão dos pecados futuros.
Em 1513, o papa Leão X oficializou a venda de indulgências visando arrecadar
dinheiro para concluir as obras da Basílica de São Pedro, em Roma. A partir de então, o
comércio de indulgências assumiu tamanhas proporções que passou a ser intermediado pela
casa bancária dos Fugger, uma família de banqueiros, transformando-se, de fato, em um
grande negócio.

4. TESES E IDEIAS DE LUTERO

Martinho Lutero era um monge agostiniano que lecionava Teologia na Universidade de


Wittenberg, na atual Alemanha. Em 1517, em uma carta dirigida a seu superior, ele formulou 95
teses, nas quais tecia profundas críticas à venda de indulgências e a outras práticas da Igreja,
por acreditar que elas não encontravam respaldo na Bíblia. As teses de Lutero obtiveram apoio
de diversos príncipes e outros integrantes da nobreza, interessados no enfraquecimento da
Igreja – dona da maior parte das terras da região. Em 1521, Lutero foi excomungado pelo papa
e se recusou a se retratar. Para escapar à repressão da Igreja, refugiou-se no castelo de um
príncipe que o apoiava. Durante seu refúgio, traduziu o Novo Testamento para o alemão e
produziu um grande volume de textos criticando várias práticas da Igreja. Graças à (re)invenção
dos tipos móveis feita por Gutenberg, os escritos de Lutero foram reproduzidos aos milhares em
pouco tempo. As ideias reformistas saíram do âmbito religioso, ganharam as ruas e os campos
e estimularam sentimentos de revolta social e de mudança entre os camponeses.

PROTESTANTES × CATÓLICOS

As propostas reformistas de Lutero difundiram-se rapidamente. Autoridades de várias


regiões da Europa, pressionadas pela população, viam-se obrigadas a expulsar sacerdotes
católicos das igrejas e a substituí-los por religiosos que apoiavam as ideias de Lutero. Em 1529,
o imperador Carlos V exigiu que príncipes e nobres sob seu domínio proibissem o culto luterano
em suas regiões. Essa exigência provocou ainda mais protestos e revoltas, e os principados e
centros urbanos que não acataram a ordem real ficaram conhecidos como Estados
protestantes. A partir de então, os adeptos de Lutero e de outros reformistas seriam chamados
de protestantes. Temendo represálias do imperador, os Estados dissidentes se uniram em torno
da Liga de Schmalkalden e formaram um exército para agir, caso sofressem ataques. As
hostilidades duraram até 1555, ano em que o imperador assinou a paz de Augsburgo,
garantindo liberdade religiosa aos protestantes.
5. O CALVINISMO E A IGREJA ANGLICANA

As propostas de Lutero repercutiram em diversas regiões da Europa e originaram


outros movimentos reformistas. Na França, o frade João Calvino (1509-1564) aderiu ao
movimento reformador em 1533. Perseguido pela Igreja em virtude de suas ideias, foi obrigado
a se mudar para Genebra, na Suíça, onde publicou uma exposição sistemática de seu
pensamento, dando início a uma nova corrente religiosa: o calvinismo.
Para Calvino, apenas as pessoas predestinadas por Deus teriam direito à salvação na
vida eterna. Um dos sinais dessa predestinação seria o sucesso no trabalho e nos negócios. As
pessoas tinham de levar uma vida frugal, trabalhar, guardar dinheiro e investir suas economias
na criação de novas oportunidades de trabalho. Devido a essa visão, o calvinismo encontrou
ampla aceitação da burguesia, que via nele uma justificativa moral e religiosa para a riqueza.
Logo as ideias de Calvino espalharam-se para outras regiões da Europa, encontrando apoio
principalmente nos lugares de desenvolvimento capitalista precoce, como nos Países Baixos
(Holanda) e na Inglaterra.
Na Inglaterra, que já vinha recebendo influências do pensamento protestante, a
reforma foi introduzida pelo rei Henrique VIII (1509-1547), que procurava consolidar seu poder
diante da Igreja católica, detentora de vastas extensões de terras e de poderosa influência
sobre a população. Em 1527, o monarca separou-se de sua esposa, a rainha Catarina de
Aragão, à revelia da Igreja e, em 1533, casou-se com Ana Bolena, uma dama da corte. O papa
Clemente VII, em represália, excomungou o soberano. Em 1534, Henrique VIII conseguiu a
aprovação do Parlamento inglês para separar a Igreja do Estado na Inglaterra e fundou a Igreja
anglicana, cujo chefe seria o próprio rei (ou rainha) da Inglaterra. Com a morte de Henrique VIII,
caberia a sua filha, a rainha Elizabeth I (1558-1603), a tarefa de consolidar o anglicanismo como
religião oficial da Inglaterra.

6. REAÇÃO DA IGREJA CATÓLICA

Diante da difusão do protestantismo, uma série de mudanças foi colocada em prática


pela Igreja católica. Essa reforma interna – ou Contrarreforma, como também é chamada –
levou a Igreja a rever dogmas, valores e princípios. Para se reaproximar da população, foram
criadas organizações encarregadas de ajudar os mais necessitados e levar as Escrituras aos
fiéis. Com esses propósitos, surgiram, por exemplo, a Companhia do Divino Amor e a Ordem
dos Capuchinhos. Para recuperar os fiéis que se converteram ao protestantismo e conquistar
novos seguidores, a Igreja criou ordens evangelizadoras, como a Companhia de Jesus, em
1540, cujos integrantes (os jesuítas) desempenhariam importante papel na difusão do
cristianismo nas terras da Ásia, África e América, a partir do século XVI.

O CONCÍLIO DE TRENTO

Entre 1545 e 1563, na cidade de Trento, na península Itálica, ocorreu um concílio de


bispos e teólogos destinado a restabelecer algumas regras para a Igreja católica e reforçar os
princípios da fé. Entre outras medidas, o concílio decidiu criar seminários para a formação dos
futuros sacerdotes, reforçou a atuação da Inquisição e criou uma lista de livros proibidos aos
católicos. Além de manter o celibato dos padres, o concílio defendeu o culto às imagens e o
recurso às indulgências, proibindo apenas sua venda. O documento reafirmou a importância
dos sete sacramentos e sustentou que o papel do clero era intermediar as relações entre Deus
e as pessoas e interpretar as Escrituras. Ao agir assim, o Concílio de Trento eliminou totalmente
a possibilidade de católicos e protestantes voltarem a se unir sob a mesma Igreja.
(A) o conjunto de artistas em geral.
(B) o movimento racionalista.
(C) os humanistas.
1. (Unesp) Observe a imagem. (D) a Itália, que exportava pintores e escultores.
(E) a Escolástica.

4. (Ufms) Em 2019, completaram-se 500 anos da morte de


Leonardo Da Vinci, considerado um dos maiores
expoentes do movimento denominado Renascimento
Cultural. Esse movimento foi um marco importante na
sociedade ocidental, pois promoveu uma mudança
profunda na maneira de pensar, impactando crenças e
valores que norteavam o homem europeu até então.
Sobre as características do Renascimento Cultural, é
possível inferir que
(A) O conhecimento passou a ser dirigido pelo clero
católico, que administrava escolas e universidades.
Assim, essa nova visão de mundo foi compreendida
A Pietà, escultura de Michelangelo Buonarotti, foi produzida a partir de um único caminho: o da fé e da religião.
nos últimos anos do século XV e revela uma característica (B) Surgiu na Península Itálica no final do século XIV e
importante da arte renascentista: início do XV. Foi marcado por um espírito científico,
(A) o delineamento preciso das formas do corpo de valorização da razão e do raciocínio lógico,
humano, realizado a partir dos estudos de anatomia colocando o ser humano como centro do universo.
pelo artista. (C) Surgiu na Península Itálica no século XVI.
(B) o teocentrismo, explicitado na inexpressividade e no Promoveu mudanças políticas, econômicas e
estatismo da representação das figuras humanas. sociais baseadas nas ideias de liberdade, igualdade
(C) a desproporcionalidade entre os tamanhos dos e fraternidade.
corpos, para evidenciar a grandiosidade da figura (D) Surgiu na Península Itálica no final do século XIV e
de Cristo. início do XV. Nesse contexto, muitos artistas e
(D) a influência da arte religiosa medieval, manifesta na intelectuais foram buscar inspiração num período
tridimensionalidade e na carência de perspectiva da considerado por eles de grandes realizações e
peça. esplendor: o Egito antigo.
(E) o prevalecimento de temática bíblica, com recriação (E) Os renascentistas defendiam uma visão humanista,
precisa e fiel de um trecho do Evangelho segundo naturalista e teocêntrica, buscando superar a
Lucas. antiguidade clássica, período que classificaram
como trevas, devido à falta de produção de
2. (Famerp) [Maquiavel] elogia a República romana como conhecimento.
tendo sido a mais perfeita forma de governo e um 5. (Mackenzie) “Os humanistas, num gesto ousado,
verdadeiro Estado unido pelo espírito público de seus tendiam a considerar como mais perfeita e mais
cidadãos; no entanto, numa época como a sua, seria expressiva a cultura que havia surgido e se
necessário um líder que utilizasse a força como desenvolvido no seio do paganismo, antes do advento
princípio, tese que desenvolve em O Príncipe. de Cristo. A Igreja, portanto, para quem a história
(Teresa Aline Pereira de Queiroz. O Renascimento, 1995.) humana só atingira a culminância na Era Cristã, não
poderia ver com bons olhos essa atitude.”
A obra O Príncipe foi escrita por Maquiavel em 1513 e (SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento. São Paulo: Unicamp, 1988. p.14)
publicada em 1532. Nela, o pensador florentino Quanto aos humanistas, podemos dizer que
(A) rejeita a noção de república, valorizando o princípio
(A) eram em sua maioria cristãos e desejavam
de participação política direta de todos os cidadãos.
reinterpretar o Evangelho à luz da experiência e dos
(B) defende a submissão do poder secular ao poder
valores da Antiguidade. Exaltavam o indivíduo, a
atemporal, reconhecendo a Igreja como o centro da vontade e a capacidade de ação dos homens.
vida política.
(B) valorizavam os antigos gregos e romanos em
(C) analisa experiências políticas do passado e do
detrimento da cultura medieval. Assim, os
presente, propondo um modelo de atuação do
humanistas retornam ao paganismo e fazem dessa
governante. religião sua crença principal provocando a ira da
(D) celebra o princípio da experiência do indivíduo,
Igreja Católica.
identificando os conselhos dos anciãos como
(C) acreditavam que somente Deus é a fonte de
origem de todo poder.
energias criativas ilimitadas, detentor único de
(E) questiona o militarismo da Roma Antiga, sugerindo virtude e glória. Porém, seu teocentrismo não os
aos governantes abandonar projetos imperiais e
impediu de produzir obras que valorizassem a ação
expansionistas.
humana.
(D) acreditavam, inspirados nos valores clássicos, na
3. (Uece) Leonardo da Vinci (1452-1519) considerava a capacidade transformadora dos homens induzidos
pintura uma arte que faz cópia de todas as obras da
por força criadora de Deus. Diante disso, a Igreja
natureza. Assim, o artista é amo e senhor de todas as
Católica adotou uma política de total apoio ao
coisas que podem passar pela imaginação humana.
movimento.
Para ele, a mente do pintor contém tudo o que está no (E) eram orientados pela ideia de submissão total do
universo em sua essência, em presença ou na
homem a Deus e à Igreja. Obedeciam à ordem
imaginação. Na época de Leonardo da Vinci, a pintura
social imposta pelo clero e justificam esse
como expressão artística passou a ter importância
posicionamento a partir dos textos da antiguidade
fundamental para clássica.
6. (Ufpr) Em 1632, o matemático, astrônomo e filósofo (A) A obra de Morus, escrita na Inglaterra, baseou-se
italiano Galileu Galilei (1564-1642) publicou o Diálogo na experiência de soberanos da Itália e da
sobre os dois principais sistemas do mundo, no qual três Alemanha que construíram novas cidades no século
personagens, de nomes Sagredo, Salviati e Simplício, XV, planejadas geometricamente.
debatem sobre a cosmologia copernicana e a (B) Grão-chanceler da Inglaterra, Morus exerceu uma
cosmologia aristotélica. Ainda no mesmo ano, Galileu foi ação humanista em um mundo renascentista de
intimado a comparecer à Congregação do Santo Ofício crises e instabilidades contínuas. Neste contexto
em Roma, acusado de defender as ideias de Copérnico, publicou sua obra Utopia.
consideradas heréticas pela Igreja. (C) A partir do princípio filosófico da utopia, foram
escritos vários tratados renascentistas. O Príncipe,
Considerando o contexto histórico do processo e da de Maquiavel, ilustra a melhor versão do cortesão
condenação de Galileu Galilei pela Inquisição de Roma, é atuante no mundo utópico.
possível inferir que (D) A ilha da Utopia, perfeitamente racionalizada,
(A) A Inquisição proibiu os livros de Nicolau Copérnico, marcou o urbanismo renascentista na Europa e no
relacionando-os ao Index Librorum Prohibitorum, Novo Mundo. O esgotamento dessa ideia de utopia
por divulgarem a heresia protestante. ocorreu com a ideia de distopia, no século XX.
(B) Os inquisidores descobriram, nos diálogos entre as (E) Por ser partícipe da Escolástica, Morus buscou
personagens do livro de Galileu Galilei, passagens harmonizar a fé com a razão na elaboração da obra
em defesa da magia como uma forma legítima de que conseguiu produzir.
conhecimento do mundo natural, motivo para
proibição do livro. 9. (Unesp) Ainda hoje a palavra Renascimento evoca a
(C) O processo contra Galileu foi além de uma ideia de uma época dourada e de homens libertos dos
admoestação, ordenando que abjurasse da teoria constrangimentos sociais, religiosos e políticos do
heliocentrista defendida por Copérnico e não a período precedente. Nessa “época dourada”, o
divulgasse e nem a ensinasse. individualismo, o paganismo e os valores da Antiguidade
(D) Após o Concílio de Trento, os doutores da Igreja Clássica seriam cultuados, dando margem ao
procuraram estabelecer uma atitude de conciliação florescimento das artes e à instalação do homem como
e diálogo com os filósofos naturalistas e centro do universo.
matemáticos, com a finalidade de controlar o (Tereza Aline Pereira de Queiroz. O Renascimento, 1995. Adaptado.)
conhecimento da Natureza.
(E) O livro de Galileu Galilei foi motivo de escândalo e O texto refere-se a uma concepção acerca do Renascimento
condenação, por submeter a teologia à filosofia cultural dos séculos XV e XVI que
natural, questionando os dogmas religiosos e a (A) projeta uma visão negativa da Idade Média e
verdade revelada pelas Escrituras. identifica o Renascimento como a origem de valores
ainda hoje presentes.
7. (Enem) Dois grandes eventos históricos tornaram (B) estabelece a emergência do teocentrismo e
possível um caso como o de Menocchio: a invenção da reafirma o poder tutelar da Igreja Católica Romana.
imprensa e a Reforma. A imprensa lhe permitiu (C) caracteriza a história da arte e do pensamento
confrontar os livros com a tradição oral em que havia como desprovida de rupturas e marcada pela
crescido e lhe forneceu as palavras para organizar o continuidade nas propostas estéticas.
amontoado de ideias e fantasias que nele conviviam. A (D) valoriza a produção artística anterior a esse período
Reforma lhe deu audácia para comunicar o que pensava e identifica o Renascimento como um momento de
ao padre do vilarejo, conterrâneos, inquisidores – declínio da criatividade humana.
mesmo não tendo conseguido dizer tudo diante do papa, (E) afirma o vínculo direto das invenções e inovações
dos cardeais e dos príncipes, como queria. tecnológicas do período com o pensamento mítico
GINZBURG, C. O queijo e os vennes: o cotidiano e as ideias de um moleiro da Antiguidade.
perseguido pela Inquisição. São Paulo: Cia, das Letras. 2006.
10. (Ufu) “Quase toda a soma de nosso conhecimento, que
Os acontecimentos históricos citados ajudaram esse de fato se deva julgar como verdadeiro e sólido
indivíduo, no século XVI, a repensar a visão católica do conhecimento, consta de duas partes: o conhecimento
mundo ao possibilitarem a de Deus e o conhecimento de nós mesmos. Como,
(A) consulta pública das bibliotecas reais. porém, se entrelaçam com muitos elos, não é fácil,
(B) sofisticação barroca do ritual litúrgico. entretanto, discernir qual deles precede ao outro, e ao
(C) aceitação popular da educação secular. outro origina. [...] Por outro lado, é notório que o homem
(D) interpretação autônoma dos textos bíblicos. jamais chegue ao puro conhecimento de si mesmo até
(E) correção doutrinária das heresias medievais. que haja antes contemplado a face de Deus, e da visão
dele desça a examinar-se a si próprio [...].
8. (Unicamp 2020) Em 1516, Thomas Morus criou a ideia
de utopia, ao descrever uma ilha imaginária. Surgia um CALVINO, João. As Institutas ou Tratado da Religião Cristã. São Paulo:
gênero literário, associado à história, à filosofia e à Cultura Cristã. p. 47-48. (Adaptado)
política. A lógica dessa ideia levou à construção de
critérios universalmente válidos para cada atividade,
com normas e códigos. Surgiram assim os tratados A Reforma Protestante pode ser definida como um
sobre o perfeito cortesão, sobre o perfeito homem do movimento de caráter essencialmente teológico com
mundo, sobre a cidade perfeita. inúmeras consequências políticas e religiosas. Uma de suas
(Adaptado de Carlos Eduardo O. Berriel, “Cidades Utópicas do causas foi a inquietação espiritual de parte do clero frente a
Renascimento”. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 56, n. 2. abr./jun. 2004. crise clerical verificada em fins da Idade Média.
Disponível em http://cienciaecultura.bvs.br /scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0009-67252004000200021.)

Considerando o texto acima e seus conhecimentos, é


possível inferir que
Em relação à Reforma Protestante, é correto afirmar que O processo de ressignificação do trabalho nas sociedades
(A) suas raízes podem ser encontradas já em fins da modernas teve início a partir do surgimento de uma nova
Idade Média nas obras e nos pensamentos de mentalidade, influenciada pela
homens, como John Wycliff e Jan Huss, que já, nos (A) reforma higienista, que combateu o caráter
séculos XIV e XV, criticavam a venda de excessivo e insalubre do trabalho fabril.
indulgências e a hierarquia eclesiástica. (B) Reforma Protestante, que expressou a importância
(B) se desenvolveu uma forte crítica ao pensamento das atividades laborais no mundo secularizado.
racional e ao individualismo moderno, devido à (C) força do sindicalismo, que emergiu no esteio do
importância atribuída à Bíblia e a seus códigos anarquismo reivindicando direitos trabalhistas.
morais rígidos. (D) participação das mulheres em movimentos sociais,
(C) a partir da reforma luterana, desenvolveram-se, por defendendo o direito ao trabalho.
toda a Europa, igrejas protestantes e/ou (E) visão do catolicismo, que, desde a Idade Média,
reformadas, centralizadas, cujas autoridade e defendia a dignidade do trabalho e do lucro.
limites se sobrepunham às fronteiras dos Estados
Nacionais do período. 14. (G1 - ifsp) As mudanças econômicas e políticas que
(D) a salvação era obtida por meio da graça de Deus, ocorreram na Europa no início da Idade Moderna
mas também pela participação na eucaristia, levaram a profundas modificações religiosas. Assinale a
momento em que o pão e o vinho se transformavam alternativa que apresenta uma das principais causas da
no corpo de Cristo (transubstanciação), segundo Reforma Protestante.
João Calvino. (A) Proibição, pela Igreja Católica, de empréstimos
(E) ocorreu a partir do apoio do Rei Henrique VIII às financeiros com cobrança de juros, operados pelos
determinações do Papa Urbano II que exigiu a fiéis.
anulação do casamento do Monarca com a Rainha (B) Caça às bruxas com a morte em fogueira das
Catarina de Aragão. condenadas.
(C) Conflito entre burguesia e nobres.
11. (G1 - ifsul) Nos séculos XVII e XVIII, a partir da Europa (D) Empobrecimento da burguesia.
Ocidental, um novo estilo de arte se impôs: o Barroco. (E) Altas taxas cobradas pelo alto Clero.
Rompendo o sóbrio equilíbrio que caracterizava a arte
renascentista, busca comover, deslumbrar e dotar as 15. (Fgv) Leia trechos do Manifesto dos camponeses,
obras de um caráter de espetáculo. O Barroco tinha uma documento de 1525.
ligação profunda com o ideário associado
(A) à Reforma. (...) nos sejam dados poder e autoridade, para que cada
(B) à Contrarreforma. comunidade possa eleger o seu pastor e, da mesma forma,
(C) ao Humanismo. possa demiti-lo, caso se porte indevidamente.
(D) ao Racionalismo. (...) somos prejudicados ainda pelos nossos senhores, que
(E) ao Hedonismo. se apoderaram de todas as florestas. Se o pobre precisa de
lenha ou madeira tem que pagar o dobro por ela.
12. (G1 - ifba) No início do século XVI, Martinho Lutero (...) preocupam-nos os serviços que somos obrigados a
publicizava suas teses contrárias a alguns rumos que a prestar e que aumentam dia a dia (...)
Igreja católica vinha tomando ao longo da idade média. In Antologia humanística alemã, apud Marques e outros. História moderna
através de textos, 2010.
Essa movimentação de Lutero desencadeou um
movimento que foi chamado de Reforma Protestante.
A partir do documento, é correto afirmar que, no território da
A reforma notabilizou muitas críticas à Igreja, dentre elas:
atual Alemanha,
(A) Recusar a importância da terra para os grandes
(A) os movimentos camponeses foram liderados por
proprietários, tirando deles todos o poder divino que
Lutero contra a exploração feita pelos nobres que,
poderiam reivindicar através da nobreza.
de forma ilegal, apropriavam-se das florestas e
(B) Ter sido o elemento fundador do iluminismo que
reprimiam violentamente os movimentos
tanto criticava as ideias mágicas contidas nos
trabalhistas.
milagres católicos.
(B) os movimentos dos trabalhadores em favor das
(C) O refortalecimento do feudalismo.
mudanças propostas por Lutero baseavam-se na
(D) Criticar a prática das indulgências católicas que
solidariedade entre os homens e em contraposição
acarretava na salvação pelo arrependimento e não
ao individualismo tão característico da Idade Média.
pela fé.
(C) a liderança dos movimentos camponeses defendeu
(E) Criar grande preocupação na Igreja Católica,
a exploração dos trabalhadores, na Alemanha,
mantendo sua preocupação centrada na Europa, o
apoiada por Lutero, e, juntos, receberam proteção
que justificou o tardio povoamento do Brasil.
dos nobres locais contra a perseguição feita pela
Igreja Católica.
13. (ENEM 2020) Desde o mundo antigo e sua filosofia, que
(D) as revoltas camponesas irromperam exigindo
o trabalho tem sido compreendido como expressão de
reformas sociais e religiosas que prejudicariam
vida e degradação, criação e infelicidade, atividade vital
parte da nobreza apoiada por Lutero, o qual se
e escravidão, felicidade social e servidão. Trabalho e
colocou abertamente contra os movimentos.
fadiga. Na Modernidade, sob o comando do mundo da
(E) as experiências dos camponeses contra os nobres,
mercadoria e do dinheiro, a prevalência do negócio
apoiados por Lutero, restringiram-se aos aspectos
(negar o ócio) veio sepultar o império do repouso, da
religiosos, isto é, de domínio da Igreja Católica, pois
folga e da preguiça, criando uma ética positiva do
a cooperação entre os trabalhadores e os
trabalho.
ANTUNES, R. O século XX e a era da degradação do trabalho. In: SILVA, J. proprietários marcava a sociedade alemã.
P. (Org.). Por uma sociologia do século XX. São Paulo: Annablume, 2007
(adaptado).
16. (ENEM 2020) Dois grandes eventos históricos tornaram (C) um interesse de conhecer outras religiões e formas
possível um caso como o de Menocchio: a invenção da de culto, atitude estimulada, à época, pela Igreja
imprensa e a Reforma. A imprensa lhe permitiu Católica.
confrontar os livros com a tradição oral em que havia (D) um apoio às iniciativas reformistas dos protestantes,
crescido e lhe forneceu as palavras para organizar o que defendiam a completa liberdade de opção
amontoado de ideias e fantasias que nele conviviam. A religiosa.
Reforma lhe deu audácia para comunicar o que pensava (E) uma perspectiva ateísta, baseada na sua
ao padre do vilarejo, conterrâneos, inquisidores — experiência familiar.
mesmo não tendo conseguido dizer tudo diante do papa,
dos cardeais e dos príncipes, como queria. 19. (ENEM Digital 2020) Sempre que se evoca o tema do
GINZBURG, C. O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro Renascimento, a imagem que imediatamente nos vem à
perseguido pela Inquisição. São Paulo: Cia. das Letras, 2006.
mente é a dos grandes artistas plásticos e de suas obras
mais famosas, amplamente reproduzidas e difundidas
Os acontecimentos históricos citados ajudaram esse
até os nossos dias, como a Monalisa e a Última ceia, de
indivíduo, no século XVI, a repensar a visão católica do
Leonardo da Vinci, o Juízo final, a Pietá e o Moisés, de
mundo ao possibilitarem a
Michelangelo, assim como as inúmeras e suaves
(A) consulta pública das bibliotecas reais.
Madonas, de Rafael, que permanecem ainda como
(B) sofisticação barroca do ritual litúrgico.
modelo mais frequente de representação da mãe de
(C) aceitação popular da educação secular.
Cristo. Como veremos, de fato, as artes plásticas
(D) interpretação autônoma dos textos bíblicos.
acabaram se convertendo num centro de convergência
(E) correção doutrinária das heresias medievais.
de todas as principais tendências da cultura
renascentista. SEVCENKO, N. O Renascimento.
17. (Fgv) Em 1939, atendendo ao apelo do Papa Pio XII, o
Campinas: Atual, 1988 (adaptado).
Conselho de Imigração e Colonização do Ministério das
Relações Exteriores do Brasil resolveu autorizar a
Esse movimento cultural, inserido no processo de transição
entrada de 3 000 imigrantes de origem “semita”.
da modernidade europeia, caracterizou-se pela
Condição sine qua non para obter “o visto da salvação”:
(A) validação da teoria geocêntrica.
a conversão ao catolicismo. Pressionados pelos
(B) valorização da integração religiosa.
acontecimentos que marcavam a história do III Reich, os
(C) afirmação dos princípios humanistas.
judeus, mais uma vez, foram obrigados a abandonar
(D) legitimação das tradições aristocráticas.
seus valores culturais em troca do título de cristão.
[Maria Luiza Tucci Carneiro, O antissemitismo na Era Vargas (1930-1945)]
(E) incorporação das representações góticas.

20. (ENEM Digital 2020) No protestantismo ascético, temos


A situação apresentada tem semelhança com o processo não apenas a clara noção da primazia da ética sobre o
histórico da mundo, mas também a mitigação dos efeitos da dupla
(A) permissão apenas do culto católico no Brasil, moral judaica (uma moral interna para os irmãos de
conforme preceito presente na primeira crença e outra externa para os infiéis). O desafio aqui é
Constituição, de 1891. o da ética, que quer deixar de ser um ideal eventual e
(B) repressão ao arraial de Canudos, no sertão baiano, ocasional (que exige dos virtuosos religiosos quase
pois recaiu sobre os sertanejos a acusação de sempre uma “fuga do mundo”, como na prática
ateísmo. monástica cristã medieval) para tornar-se efetivamente
(C) obrigatoriedade, conforme costume colonial, dos uma lei prática e cotidiana “dentro do mundo”.
SOUZA, J. A ética protestante e a ideologia do atraso brasileiro. Revista
negros alforriados de conversão ao catolicismo para Brasileira de Ciências Sociais, n. 38, out. 1998.
a obtenção da efetiva liberdade.
(D) conversão obrigatória dos judeus na Espanha e em Retomando o pensamento de Max Weber, o texto apresenta
Portugal, a partir do final do século XV, o que gerou a tensão entre positividade éticoreligiosa e esferas
a denominação cristão-novo. mundanas de ação. Nessa perspectiva, a ética protestante é
(E) separação entre Estado e Igreja no Brasil, compreendida como
determinada pelo Governo Provisório da República, (A) vinculada ao abandono da felicidade terrena.
comandada por Deodoro da Fonseca. (B) contrária aos princípios econômicos liberais.
(C) promovedora da dimensão política da vida
18. (Fuvest) “O senhor acredita, então”, insistiu o inquisidor, cotidiana.
“que não se saiba qual a melhor lei?” Menocchio (D) estimuladora da igualdade social como direito
respondeu: “Senhor, eu penso que cada um acha que divino.
sua fé seja a melhor, mas não se sabe qual é a melhor; (E) adequada ao desenvolvimento do capitalismo
mas, porque meu avô, meu pai e os meus são cristãos, moderno.
eu quero continuar cristão e acreditar que essa seja a
melhor fé”.
GABARITO
Carlo Ginzburg. O queijo e os vermes. São Paulo: Companhia das Letras,
1987, p. 113. 1 A 6 C 11 B 16 D
2 C 7 D 12 D 17 D
O texto apresenta o diálogo de um inquisidor com um 3 C 8 B 13 B 18 A
homem (Menocchio) processado, em 1599, pelo Santo 4 B 9 A 14 A 19 C
Ofício. A posição de Menocchio indica 5 A 10 A 15 D 20 E
(A) uma percepção da variedade de crenças, passíveis
de serem consideradas, pela Igreja Católica, como
heréticas.
(B) uma crítica à incapacidade da Igreja Católica de
combater e eliminar suas dissidências internas.
I. OS PORTUGUESES CHEGAM A PINDORAMA

“É a mesma coisa que a gente chegar na casa de alguém e falar: ‘eu descobri essa
casa’.”
É com essa analogia que o jovem Charlie Peixoto procura desconstruir o evento que
ficou registrado em nossa história como “descobrimento do Brasil pelos portugueses em 1500”.
Charlie é um dos quatro componentes do Brô MC’s, um grupo de rap criado em 2009 para
valorizar a cultura indígena por meio da música jovem. As letras são cantadas em guarani e em
português. Não é porque cantam rap, sertanejo, samba ou por morarem em áreas urbanas que
essas pessoas deixam de ser indígenas. Afinal, o que constitui nossa identidade como povo ou
grupo social são valores de pertencimento, que vão muito além das fronteiras geográficas ou
das músicas que cantamos.
Neste capítulo vamos conhecer o processo de colonização das terras que hoje
pertencem ao Brasil e perceber alguns dos graves problemas que a população indígena vem
enfrentando desde a chegada dos europeus.

1. UMA TERRA, MUITOS POVOS

É difícil encontrar dados precisos sobre o número de habitantes do atual território


brasileiro à época da chegada dos portugueses. As cifras variam de 1 milhão a 8,5 milhões de
habitantes, divididos em mais de mil povos, com crenças, hábitos, costumes e formas de
organização específicos. Eles falavam cerca de 1,3 mil línguas distintas, a maioria pertencente
a dois troncos linguísticos; o tupi e o macro-jê.
Entre os povos do tronco tupi estavam os Guarani, os Tupinambá, os Tabajara, os
Carijó e os Tamoio. Esses povos indígenas espalhavam-se pela atual costa brasileira, desde o
Ceará até o Rio Grande do Sul. Já os do tronco linguístico macro-jê encontravam-se
predominantemente nos cerrados, como ocorria com os Bororo e os Carajá. Os Tupi
costumavam chamar essas populações de tapuias, palavra de sentido pejorativo usada para
designar qualquer povo que falasse uma língua diferente da deles.
Alguns povos indígenas foram extintos após o contato com os europeus e seus
descendentes; outros, como os Tupinambá e os Bororo, resistiram, mas sua população foi
bastante reduzida até a metade do século XX. No Brasil, de acordo com o Censo de 2010, os
indígenas somam 897 mil indivíduos, ou seja, 0,4% da população brasileira.
As estimativas indicam que existem hoje no mundo pelo menos 5 mil povos indígenas,
somando cerca de 350 milhões de pessoas. No Brasil, em razão da grande variedade de povos,
acredita-se que sejam faladas pelo menos 170 línguas indígenas. Esse número já foi maior,
uma vez que os Pancararé (BA), os Xocó (CE), os Tupiniquim (ES), os Krenak (MG), os
Carapotó (AL), os Cambeba (AM) e muitos outros povos deixaram de falar o próprio idioma,
adotando o português ou idiomas de outros indígenas.

COTIDIANO DOS POVOS TUPI

Os povos Tupi chamavam o território em que viviam de Pindorama, que quer dizer
“Terra das Palmeiras”. Apesar de partilharem muitos hábitos e costumes, cada povo tinha suas
particularidades. Alguns preservam esses hábitos até hoje; outros, não. Por isso, as
informações a seguir devem ser entendidas como aspectos gerais.
A comunidade tupi costumava viver em pequenas aldeias, onde construía de quatro a
sete malocas de madeira, distribuídas em um grande círculo. As malocas eram grandes
habitações coletivas, sem divisões internas, que abrigavam, cada uma, de trinta a cem pessoas.
O terreiro no centro do círculo formado pelas malocas era a ocara, espaço onde se
realizavam festas e rituais, cerimônias religiosas. A pessoa mais respeitada da aldeia era o
pajé, que desempenhava as funções de médico e sacerdote. O papel do morubixaba, líder da
aldeia tupi, era apenas intermediar as relações entre as pessoas para evitar conflitos. Questões
importantes, como uma declaração de guerra a outra aldeia, eram decididas por um conselho
de chefes das grandes famílias.
Alguns povos Tupi comiam seus inimigos (antropofagia) como forma de homenageá-
los, pois acreditavam que assim assimilavam sua força e sua valentia. E diversos povos
indígenas que viviam no interior supunham que ingerir a carne de um familiar morto por causas
naturais transferia suas virtudes e qualidades para os que a consumiam. A antropofagia,
portanto, fazia parte da cultura desses povos. No século XVI, a prática da antropofagia pelos
indígenas serviu aos europeus de justificativa para a colonização da América.
PRODUÇÃO E ORGANIZAÇÃO SOCIAL

As sociedades indígenas, em geral, realizavam a apropriação coletiva da terra e dos


recursos naturais. A ausência de propriedade privada somada à inexistência de um poder
político centralizado imprimiu a essas comunidades um caráter altamente igualitário. Ou seja, de
modo geral, não existiam privilégios, nem divisão de classes, nem desigualdades sociais.
A divisão do trabalho era feita de acordo com o sexo e a idade. Geralmente, atividades
como derrubar árvores, caçar, pescar, preparar a terra para o plantio, construir malocas, armas
e canoas ficavam a cargo dos homens.
Além de cozinhar, as mulheres cuidavam das crianças, da coleta de frutos, da
plantação, da colheita e da fabricação de utensílios domésticos. Tanto as armas como os
objetos de uso diário eram feitos de pedra, osso, madeira ou barro.
Os que viviam junto aos rios e ao mar tinham na pesca um de seus principais meios de
subsistência. Aqueles que moravam no meio da floresta praticavam mais a caça. Alguns povos
dedicavam-se também à agricultura, plantando milho, mandioca, abóbora, inhame, batata-doce.
Um dos alimentos mais importantes era a mandioca: depois de extraído seu veneno, utilizado
na ponta das flechas, a raiz era transformada em farinha seca, tapioca, beiju e outros alimentos.
Quando o solo se esgotava, o grupo abandonava a aldeia e se estabelecia em outro lugar.

2. MUDANÇA DE ROTA: RUMO A PINDORAMA

O rei dom Manuel, o Venturoso, exultante com o sucesso da viagem de Vasco da


Gama, organizou outra expedição para as Índias. O comando da frota de dez naus e três
caravelas, com 1,5 mil homens a bordo, foi entregue ao capitão-mor Pedro Álvares Cabral.
No dia 22 de abril de 1500, Cabral e sua tripulação avistaram pela primeira vez o
território que ficaria conhecido como Brasil. Na atual baía Cabrália, nas proximidades de Porto
Seguro, na Bahia, portugueses e tupiniquins fizeram contatos amistosos e trocaram presentes.
Os portugueses celebraram duas missas com a presença dos nativos e ergueram uma cruz
para sinalizar a posse daquelas terras pelo reino português.

EXPLORAÇÃO E EXTRATIVISMO

Dom Manuel não se interessou inicialmente em colonizar a região, pois fora informado
de que não havia indícios da existência de metais preciosos. O rei preferiu concentrar esforços
no lucrativo comércio com as Índias. Entretanto, em 1501 e 1503, Portugal organizou duas
expedições com o objetivo de explorar o litoral das terras a oeste do Atlântico.
A única matéria-prima que, de imediato, interessou a Portugal foi o pau-brasil. De seu
tronco vermelho, os indígenas extraíam tinta para colorir as penas com que se enfeitavam.
Como existia também na Ásia, a árvore já era conhecida dos europeus, que utilizavam seu
corante para tingir tecidos. Entretanto, com o bloqueio do comércio pelo Mediterrâneo, o preço
da madeira disparou.
A exploração do pau-brasil se tornou a principal atividade econômica dos portugueses
no atual território brasileiro até 1530. As árvores eram derrubadas pelos nativos, que recebiam
objetos como espelhos, miçangas, pentes, pedaços de pano, etc., em um sistema de troca
conhecido como escambo. Posteriormente, os portugueses começaram a recompensar os
indígenas com tesouras, anzóis, machados de ferro e outros artefatos de metal.
Os utensílios de metal modificaram substancialmente o modo de vida da população
nativa. Por exemplo, os indígenas precisavam de quase três horas para derrubar uma árvore
com um machado de pedra; mas com um de ferro o trabalho levava cerca de quinze minutos.

3. INÍCIO DA COLONIZAÇÃO

Outras importantes nações europeias estavam interessadas em participar do lucrativo


comércio de pau-brasil. Os franceses começaram a organizar expedições para as terras que
Portugal considerava suas, a partir de 1504, ignorando o Tratado de Tordesilhas.
Considerando a grande extensão do litoral e a dificuldade em fiscalizá-lo, o governo
português decidiu colonizar o território. O fidalgo Martim Afonso de Sousa partiu de Lisboa em
1530 tendo como principais missões: capturar embarcações estrangeiras envolvidas no tráfico
de pau-brasil; estabelecer feitorias; e criar núcleos de povoamento.
Em 22 de janeiro de 1532, fundou a vila de São Vicente, no litoral do atual estado de
São Paulo. Ali foram erguidas as primeiras casas, um pequeno forte, uma capela, a cadeia e o
pelourinho. Também foram nomeadas as primeiras autoridades oficiais. Além disso, Martim
Afonso doou terras aos integrantes de sua expedição e ergueu um engenho de açúcar.

CAPITANIAS HEREDITÁRIAS

Como os franceses continuavam a assediar o litoral da colônia portuguesa, o governo


de dom João III decidiu adotar outro modelo de colonização: o das capitanias hereditárias, já
utilizado nas ilhas da Madeira, de Açores e Cabo Verde. O modelo consistia em dividir um
território em grandes extensões de terras e conceder a particulares o direito de explorá-las − os
capitães donatários.
Entre 1534 e 1536, o governo de Portugal dividiu sua colônia na América em quinze
faixas de terra lineares entre o litoral e a linha estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas, que se
estendiam de regiões do atual estado do Pará até Santa Catarina. Para financiar a colonização,
a Coroa portuguesa buscou o apoio da nobreza. No entanto, os nobres não manifestaram
interesse nas terras. Dom João III então concedeu as capitanias a dois grupos: altos burocratas
da corte e militares envolvidos na conquista das Índias.
Os donatários não poderiam vender as capitanias, somente explorá-las. Em
compensação, poderiam concedê-las como herança a seus filhos. Entre seus direitos e suas
atribuições, estavam: fundar vilas, doar lotes de terras (as sesmarias, origem dos primeiros
latifúndios) e nomear ouvidores, tabeliães, escrivães e juízes. Podiam também cobrar impostos
sobre tudo o que fosse produzido na capitania.
Mas nem todos esses privilégios foram suficientes para seduzir alguns donatários:
quatro deles nem sequer saíram de Portugal. Uma das razões é que eles próprios deveriam
arcar com as despesas da viagem até as novas terras.
Dos oito donatários que vieram para suas terras, dois morreram em naufrágios e um foi
morto e comido em ritual pelos Tupinambá; outro foi preso pelos próprios colonos e enviado à
Inquisição portuguesa, sob acusação de heresia; três outros interessaram-se pouco por suas
capitanias. Apenas Duarte Coelho viu seus negócios prosperarem na capitania de Pernambuco.

O território português na América foi dividido em 15 lotes, denominados capitanias hereditárias, com vista em
tornar possível sua colonização lucrativa.

CAPITANIAS DE PERNAMBUCO E SÃO VICENTE

Duarte Coelho fundou as vilas de Igarassu (1535) e Olinda (1537) e promoveu


casamentos entre colonos e nativas como forma de fixar os portugueses à terra. Além de
incentivar a criação de gado e o cultivo de algodão, estimulou o plantio de cana-de-açúcar,
lançando as bases da economia açucareira nordestina: em 1550, já funcionavam em
Pernambuco cinco engenhos de açúcar.
Duarte Coelho foi também um dos primeiros colonizadores a recorrer à mão de obra
africana escravizada.
Depois de Pernambuco, a capitania que melhor se desenvolveu foi a de São Vicente.
Em 1548, já funcionavam nessa capitania seis engenhos de açúcar. Entretanto, a atividade
mais lucrativa para os colonizadores era o tráfico de nativos escravizados: naquele ano, para
uma população de cerca de 600 colonos de origem europeia, havia mais de 3 mil indígenas
escravizados, chamados pelos colonizadores de “negros da terra”.

DAS CAPITANIAS AO GOVERNO-GERAL

Apesar do êxito de Pernambuco e São Vicente, as colônias da América contribuíam


com menos de 3% de todas as rendas da Coroa portuguesa. Tal situação expunha as
fragilidades do sistema de colonização adotado por Portugal: a ligação entre as capitanias
hereditárias era precária, o poder encontrava-se disperso entre os donatários, e os conflitos
com os indígenas se intensificavam.
No fim de 1548, o governo português centralizou o controle da colônia na figura do
governo-geral. O governador-geral passava a ser o principal representante do rei na colônia,
acima dos donatários das capitanias.
Entre as atribuições do governador-geral estavam garantir a defesa do território,
explorar o sertão, distribuir sesmarias, estabelecer alianças com povos indígenas e castigar
duramente aqueles considerados prejudiciais à colonização portuguesa.
O primeiro governador-geral, Tomé de Sousa, chegou à América em 1549,
acompanhado de cerca de mil pessoas. Com ele vieram também seis jesuítas sob a liderança
do padre Manuel da Nóbrega com a missão de catequizar os indígenas. Tomé de Sousa se
instalou na capitania da Bahia de Todos-os-Santos, onde iniciou a construção de Salvador,
primeira capital da colônia. Em pouco tempo, centenas de casas, prédios públicos e uma igreja
matriz haviam sido erguidos; na zona rural, estabeleceram-se fazendas de criação de gado e
plantações de cana-de-açúcar.
Em 1553, Tomé de Sousa foi substituído por Duarte da Costa. Nos cinco anos que se
seguiram, as relações entre portugueses e indígenas pioraram continuamente, pois cada vez
mais os colonos escravizavam nativos para o trabalho na lavoura. Ameaçados em sua
liberdade, os indígenas reagiram.
Duarte da Costa foi substituído em 1558 por Mem de Sá. Em seus catorze anos no
cargo, Mem de Sá protegeu indígenas cristianizados e dizimou centenas de aldeias hostis aos
portugueses, além de ter estimulado o tráfico de africanos escravizados.

PASSADO PRESENTE – DIALOGANDO COM A GEOGRAFIA


A LUTA PELA TERRA

Segundo a Constituição brasileira, as terras onde os povos indígenas se encontram


pertencem à União, mas eles detêm o direito exclusivo de usufruí-las. Esse direito é garantido
após um longo processo, no qual agentes do governo federal identificam o território e
demarcam seus limites. Com a homologação do processo, as terras são registradas em
cartório. Atualmente, existem 698 terras indígenas (TIs), ocupando mais de 13% do território
brasileiro, mas nem todas estão registradas em cartório.
A Constituição proíbe que as terras indígenas sejam ocupadas por terceiros. Afinal, é
delas que esses povos retiram seu sustento por meio da caça, da pesca, do cultivo de
alimentos, etc. Por essa razão, é extremamente importante que os recursos ambientais desses
territórios sejam preservados. Nesse aspecto, porém, a Constituição nem sempre é respeitada.
O território dos Xacriabá, em Minas Gerais, por exemplo, foi demarcado numa área de transição
do cerrado para a caatinga, região desprovida de nascentes e que chega a enfrentar até oito
meses de seca por ano. Em outros lugares, as terras indígenas são constantemente invadidas
por madeireiras ou garimpeiros.
As invasões se acentuaram nas últimas décadas em razão da grande valorização das
chamadas commodities agrícolas. Com a valorização, agricultores passaram a ocupar diversas
áreas indígenas para plantar produtos como soja e arroz. Essa disputa ocorre em todo o Brasil,
especialmente nas regiões Norte e Centro-Oeste. Em Roraima, indígenas da reserva Raposa
Serra do Sol conseguiram, em 2009, após longa batalha judicial, expulsar os invasores de sua
terra, em um caso de grande repercussão no Brasil e no exterior.
Texto elaborado com base em: FAUSTO, Boris; FAUSTO, Carlos. Surto anti-indígena. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 28
abr. 2008; GESISKY, Jaime. Esperança nas aldeias xacriabás. Ciência Hoje, jan.-fev., 2008; COMENDO a Amazônia.
Disponível em: . Acesso em: 21 jan. 2016. De olho nas terras indígenas no Brasil. Disponível em: . Acesso em: 21 jan.
2016.

II. AFRICANOS NA AMÉRICA PORTUGUESA

O Brasil é o segundo país com o maior número de negros no mundo, superado apenas
pela Nigéria, na África. Isso se deve à entrada de africanos escravizados no país, a partir do
século XVI. Entre os séculos XVI e XIX, chegaram ao atual território brasileiro cerca de 3,8
milhões de africanos. Eram pessoas que pertenciam a diferentes povos, falavam diversas
línguas, tinham hábitos e costumes variados, detinham conhecimentos técnicos, agrícolas e
científicos.
Entretanto, essas pessoas não vieram espontaneamente; foram trazidas à força de
suas terras e obrigadas a viver no Brasil e trabalhar em regime de escravidão. Neste capítulo
conheceremos esse processo e de que maneira a violência do movimento de escravidão afetou
o desenvolvimento do continente africano. Veremos também as marcas deixadas pelo grande
intercâmbio pessoal, familiar e cultural entre esses africanos e seus descendentes e o restante
da população que aqui vivia.

1. ESCRAVIDÃO NA ÁFRICA

Os portugueses foram os primeiros europeus a explorar a costa oeste da África, no


decorrer do século XV. Na época, o continente era povoado por diversas etnias e nações, com
estruturas políticas, econômicas e sociais específicas. Alguns desses povos contavam com um
artesanato têxtil importante e com uma significativa atividade de metalurgia. Os portugueses
buscavam riquezas – principalmente ouro – e descobriram que o tráfico de escravizados
poderia render altos lucros.
Já existia escravidão na África, mas suas características eram diferentes das que
seriam impostas aos africanos pelas sociedades europeias. Em muitas comunidades africanas,
o escravizado, seu amo e parentes cumpriam as mesmas tarefas no dia a dia. Em outras,
porém, o escravizado se encontrava à mercê de seus senhores, que podiam castigá-lo
fisicamente e até matá-lo. Os cativos podiam até ser incorporados à família, ainda que com
status diferente em relação às demais pessoas. Nas sociedades constituídas em Estados, os
escravizados prestavam serviços na corte e nas moradias dos nobres. Trabalhavam também
como mineradores, artesãos e agricultores.
A forma mais comum de escravização ocorria em guerras, quando os derrotados eram
feitos cativos pelo povo vencedor. Outro expediente era o sequestro de crianças. Em algumas
regiões, pessoas eram escravizadas como punição por terem cometido assassinato, furto,
adultério ou atos de feitiçaria. Também era comum a escravização por dívidas. Havia ainda
casos de pessoas que, para fugir da fome e da miséria, pediam para ser escravizadas.

2. TRÁFICO EM GRANDE ESCALA

Com a chegada dos portugueses, os africanos começaram a ser vendidos como


escravos em grandes proporções e para diversas regiões do mundo. Segundo o historiador
Fernando Novais, o tráfico negreiro foi uma das atividades comerciais mais lucrativas da Idade
Moderna. O primeiro grupo de cativos chegou a Lisboa em 1441, como prova da exploração da
costa africana. Três anos mais tarde, Portugal realizou a primeira venda pública de pessoas
escravizadas.
De acordo com o historiador Luiz Felipe de Alencastro, 10 milhões de africanos
escravizados desembarcaram no continente americano entre os séculos XVI e XIX. Desse total,
cerca de 3,8 milhões vieram para o Brasil.

PASSADO PRESENTE – DIALOGANDO COM A GEOGRAFIA


A ESCRAVIDÃO NO SÉCULO XXI

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que existam cerca de 21


milhões de pessoas trabalhando como “escravos modernos” em todo o mundo. As principais
vítimas são mulheres e crianças, mantidas como prostitutas, escravas sexuais ou obrigadas a
fazer trabalhos forçados. Muitas dessas pessoas buscavam melhores condições de vida em
países mais desenvolvidos e acabaram caindo nas mãos de traficantes. A OIT calcula que o
tráfico de seres humanos movimenta em torno de 150 bilhões de dólares ao ano. Esse total é
composto tanto da “venda” de pessoas como dos lucros obtidos de atividades que elas
exercem. Trata-se da terceira atividade ilícita mais lucrativa do mundo, depois do tráfico de
drogas e o de armas.
No Brasil, entre 1995 e 2014, mais de 48 mil pessoas foram libertadas de situações
análogas à de escravidão. São frequentes os casos de agricultores levados para trabalhar em
latifúndios que, ao chegar ao destino, são cobrados pelo transporte e pela alimentação
consumida na viagem. É uma dívida que se perpetua e que permanece sempre maior do que o
salário a ser recebido. Nas cidades, são comuns os casos de imigrantes ilegais que trabalham
em condições degradantes em oficinas têxteis.
Texto elaborado com base em: COMBESQUE, Marie Agnés. Entre guerras e miséria: os
escravos de hoje. São Paulo: Scipione, 2002; OIT. Forced labour, human trafficking and slavery. Disponível
em: . Acesso em: 22 jan. 2016; OPERAÇÕES de fiscalização de trabalho escravo. Disponível em: < . Acesso em: 22
jan.2016.

OS AGENTES DO TRÁFICO

Inicialmente, as pessoas eram capturadas em aldeias no litoral do Saara e na região


do Senegal. Com o tempo, os traficantes passaram a fazer acordos com chefes de
comunidades, líderes de aldeias e reis. Os próprios líderes de comunidades entregavam
homens, mulheres e crianças em troca de utensílios de cobre e de vidro, tecidos, cavalos, etc.
Para obter maior quantidade de cativos, os europeus estimulavam guerras entre povos
africanos.
Os mercados de cativos chamavam-se “pombos”. Outra forma de captura consistia em
contratar os pombeiros, que percorriam o interior do continente africano comprando pessoas
capturadas pelos chefes locais. Os pombeiros levavam tecidos, bebidas e búzios para trocar por
cativos. Ao retornarem ao porto de Luanda, em Angola, traziam em torno de 500 a 600
prisioneiros.
Acorrentados uns aos outros, os cativos eram obrigados a percorrer centenas de
quilômetros a pé quase sem descansar, enfrentando fome e doenças. As perdas humanas eram
enormes: estima-se que um entre cada quatro cativos morria nessas viagens. Muitas outras
mortes ocorriam durante rebeliões.
A TRAVESSIA DO ATLÂNTICO

Antes de partirem para a América, religiosos portugueses batizavam os prisioneiros


com nomes cristãos. A Igreja recebia os pagamentos dos comerciantes, com uma taxa extra por
pessoa batizada. O preço dos cativos, segundo o historiador Jaime Rodrigues, variava também
conforme a idade. Acorrentados, os prisioneiros eram levados aos navios – conhecidos como
negreiros – que os conduziriam ao outro lado do Atlântico. As condições da travessia eram
cruéis e degradantes. Para transportar o maior número possível de pessoas, os traficantes
construíam compartimentos tão baixos no porão dos navios que os prisioneiros não conseguiam
ficar de pé.
O tráfico negreiro provocou fortes reflexos na África. O número de homens e
mulheres jovens se reduziu drasticamente, comprometendo o crescimento demográfico e o
desenvolvimento econômico das sociedades africanas. Isso significou a morte de pelo menos
50 milhões de africanos entre os séculos XVI e XIX.
Reinos como Daomé, Angola e Congo transformaram a venda da própria população
em sua principal atividade econômica.

3. A PLURALIDADE CULTURAL

Africanos escravizados chegaram à América portuguesa ainda no século XVI para


trabalhar principalmente nos engenhos de açúcar de Pernambuco e da Bahia. No início do
século XVII, chegaram cerca de 8 mil africanos por ano. Apenas na primeira metade do século
XIX, estima-se a entrada de 1,5 milhão de africanos escravizados no Brasil.
Essas pessoas integravam dois grandes grupos separados por diferenças linguísticas
e culturais: bantos e sudaneses. Originários de regiões da África ocidental imediatamente ao
sul do deserto do Saara, os sudaneses dividiam-se em etnias como hauçás, mandingas,
iorubas, entre outras. Muitos eram muçulmanos alfabetizados, vindos do golfo de Benin. Foram
levados principalmente para a Bahia.

PASSADO PRESENTE – DIALOGANDO COM A LINGUA PORTUGUESA E ARTE


NOSSAS RAÍZES AFRICANAS

Inúmeros exemplos ilustram a presença africana na formação da sociedade brasileira.


É o caso de danças como o samba; o carimbó, típico do Pará; o coco, dança de roda do sertão
e do litoral nordestinos; o maracatu, no Nordeste; e o jongo, batuque comum no Sudeste.
Na culinária, diversos pratos portugueses e dos povos indígenas foram modificados
pela mão africana, que introduziu o azeite de dendê, a pimenta-malagueta e o quiabo, e criou
muitos pratos, como o quibebe, o vatapá, a farofa, o mingau, o bobó, o abará, a canjica, a
moqueca.
No campo léxico, os africanos deixaram a sua marca incorporando à língua portuguesa
palavras como cachimbo, moleque, banana, quitanda, fubá, minhoca, batuque e outras.
Negros e pardos se destacaram – e se destacam cada vez mais – na vida cultural e
política brasileira. Nas Minas Gerais, entre os séculos XVIII e XIX, Chico Rei e Chica da Silva
foram personagens importantes. Ele foi líder de irmandade de libertos, e ela, responsável pela
alforria de muitos cativos. Já Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, consagrou-se como um
dos maiores arquitetos e escultores brasileiros de todos os tempos.
Revoltas contra a escravidão contaram com líderes como Pedro Pedroso (A
Conjuração Baiana); Luíza Mahin, Agostinho e Ambrósio (Revolta dos Malês); e Manuel dos
Anjos Ferreira, Raimundo Gomes e Cosme Bento das Chagas (Balaiada). Outros
afrodescendentes lutaram pela abolição em jornais e tribunais, como o jornalista José do
Patrocínio, o tribuno Luís Gama e o engenheiro André Rebouças.
Na luta contra a discriminação, o preconceito e o racismo na segunda metade do
século XX, Abdias do Nascimento e Lélia Gonzalez se destacaram. Afrodescendentes também
se envolveram na luta por melhores condições de trabalho, como o marinheiro João Cândido, e
na resistência contra a ditadura militar, como Carlos Marighella.
Negros e pardos marcaram igualmente a literatura e o pensamento brasileiro. Esse foi
o caso de Machado de Assis, que muitos consideram o maior escritor brasileiro de todos os
tempos. Negros e pardos eram ainda o romancista Lima Barreto, os poetas Auta de Souza e
João da Cruz e Souza, além do escritor e folclorista Mário de Andrade, do geógrafo Milton
Santos e do historiador Joel Rufino dos Santos. Na atualidade, nomes como os do escritor
Paulo Lins, do poeta Sérgio Vaz e do ativista Celso Athayde destacam-se não só por suas
obras, mas também por promoverem formas novas de circulação de cultura e de valorização do
negro.
Na música popular, inúmeros compositores e instrumentistas de origem africana
colaboraram na criação de gêneros musicais como o chorinho e o samba. É o caso de Alfredo
da Rocha Viana Júnior, o Pixinguinha. Outros nomes de origem africana a se destacar na
música popular brasileira são os de Dona Ivone Lara, Dorival Caymmi, Luís Gonzaga, Ataulfo
Alves, Clementina de Jesus, Agenor de Oliveira (Cartola), Alcione, Nelson Sargento, Paulinho
da Viola, Gilberto Gil, Milton Nascimento e muitos outros.
Os bantos provinham de áreas mais ao sul do continente e também se subdividiam em
vários grupos étnicos: cabindas, benguelas, congos, angolas. Foram levados principalmente
para as capitanias de Pernambuco e do Maranhão e para o sudeste da colônia. Os recém-
chegados eram encaminhados para grandes armazéns em entrepostos como os do Recife e de
Salvador, onde seriam negociados. A partir do século XVIII, a cidade do Rio de Janeiro se
tornou o principal entreposto.

VOCÊ SABIA? - DIALOGANDO COM A GEOGRAFIA

Estima-se que quase 60% dos africanos trazidos à força ao Brasil foram capturados
entre povos bantos da África centro-ocidental, em especial nas regiões dos atuais Congo e
Angola. Por volta de um terço dos cativos que aqui chegaram eram sudaneses da África
ocidental. Na América portuguesa era comum todos serem chamados de “negros da Guiné”
(um dos portos onde eram embarcados na África). O termo era utilizado para diferenciar da
expressão “negros da terra”, muitas vezes usado pelos colonizadores para se referir aos
indígenas escravizados.

4. O COTIDIANO DO ESCRAVIZADO

Nas fazendas, os escravizados cumpriam jornadas de trabalho de até 18 horas diárias.


Não eram raros os acidentes de trabalho, muitas vezes fatais.
Os escravizados que não executassem as tarefas exigidas, apresentassem sinais de
cansaço, cometessem furtos, tentassem fugir ou se rebelar, ou se envolvessem em situações
consideradas irregulares recebiam severos castigos. Nas minas de ouro, eram obrigados a usar
máscaras para não engolirem as preciosas pepitas.
Mal alimentados, extenuados pelo trabalho de sol a sol e vítimas de violência
constante, os escravizados tinham uma expectativa de vida média de dez anos. Ou seja, se
comprado com 15 anos, nessas condições de trabalho, o indivíduo viveria provavelmente até 25
anos de idade.

ESTRATÉGIAS DE RESISTÊNCIA

Para resistir ao cativeiro, alguns escravizados reduziam ou paralisavam a produção.


Outros destruíam máquinas e ferramentas ou incendiavam plantações. Muitas mulheres
provocavam abortos para evitar que seus filhos vivessem na escravidão; também havia casos
de suicídio e tentativas de assassinato de senhores e feitores (encarregados de vigiar o trabalho
dos cativos). A insatisfação dos escravizados se manifestou também em rebeliões como a
Revolta dos Malês (Bahia, 1835) e a Balaiada (Maranhão, 1838-1841).
A forma mais comum de resistência à escravidão eram as fugas. Nas primeiras
iniciativas, os cativos se dirigiam às serras ou às matas, onde se escondiam ou se misturavam à
população mestiça do sertão. A partir do século XIX, os fugitivos tentavam se integrar nas
cidades.
Formaram-se muitos mocambos ou quilombos, comunidades que reuniam centenas, e
às vezes milhares, de pessoas, chamadas de quilombolas. Nesses lugares, africanos e afro-
brasileiros viviam da caça, da pesca, da agricultura e do artesanato. Alguns quilombos
chegavam a comerciar com povoados vizinhos e transformavam-se em prósperas aldeias. No
quilombo, os ex-escravos reafirmavam sua identidade étnica-cultural, procurando cultivar e
preservar valores, tradições e crenças religiosas de suas nações de origem, na África.
Diversas expedições militares visaram destruir os quilombos e reescravizar sua
população. Essa ação repressiva fez com que muitos mocambos se tornassem itinerantes.

QUILOMBO DOS PALMARES

O maior e mais duradouro dos quilombos foi o de Palmares, em terras hoje


pertencentes a Alagoas e Pernambuco. Alguns estudos indicam que teria sido formado nas
últimas décadas do século XVI por negros que teriam fugido de um engenho. Era composto de
vários povoados e somou cerca de 20 mil africanos e afrodescendentes de diferentes etnias,
além de indígenas, pardos e brancos pobres.
Palmares funcionava como um pequeno Estado. Sua estrutura militar permitia resistir
às expedições enviadas pelas autoridades coloniais. Cada mocambo tinha seu chefe, e acima
desses líderes estava o rei. Sua população vivia da agricultura e negociava armas e outros
produtos com os colonos das redondezas. Os negros que fossem para lá espontaneamente
eram considerados livres. Os capturados em assaltos contra engenhos e povoações eram
escravizados.
Os holandeses tentaram destruir o quilombo em três ocasiões, na época em que
dominaram boa parte do atual Nordeste brasileiro, ou seja, entre 1630 e 1654. Depois de
expulsar os holandeses, os portugueses iniciaram ataques sistemáticos contra Palmares. Entre
1672 e 1680, houve praticamente uma expedição militar por ano.
Em 1694, forças comandadas pelo bandeirante paulista Domingos Jorge Velho
invadiram o principal povoado de Palmares. Zumbi, líder do quilombo, escapou, mas foi morto
no ano seguinte. Palmares enfrentou outras 29 expedições até ser liquidado em 1716.
Em 1978, representantes do Movimento Negro Unificado escolheram a data da morte
de Zumbi dos Palmares – 20 de novembro – para celebrar o Dia da Consciência Negra. Em
muitas cidades brasileiras, essa data tornou-se feriado. Atitudes como essa são fundamentais
para que a sociedade brasileira compreenda e tome conhecimento das desigualdades sociais e
étnicas que persistem no país.

ESCRAVIDÃO NAS CIDADES

A mão de obra cativa foi utilizada também nos núcleos urbanos fundados nas Minas
Gerais à época da mineração, a partir do final do século XVII, e na cidade do Rio de Janeiro,
que se expandiu muito com a vinda da família real portuguesa, em 1808.
Na cidade, o escravizado podia se deslocar de um lugar para outro, levando recados
ou compras. No meio rural, isso era praticamente impossível. Além disso, havia senhores
urbanos que alugavam seus escravizados. Muitos foram alugados para trabalhar como
cozinheiros, carpinteiros, amas de leite, etc.
Outros cativos executavam serviços para terceiros em troca de dinheiro. Os chamados
escravos de ganho (ou negros de ganho) entregavam a seu senhor uma quantia estabelecida
e ficavam com o restante do dinheiro. Essa renda era geralmente utilizada para a compra da
alforria. Os africanos e seus descendentes exerceram papel fundamental na formação de nossa
sociedade.

OLHO VIVO - DIALOGANDO COM A ARTE


OS ORIXÁS

Para grande parte dos africanos escravizados, animais e plantas tinham caráter
sagrado. Ao chegarem ao Brasil, suas manifestações religiosas se mesclaram a hábitos e
crenças portugueses e indígenas, dando origem às religiões afro-brasileiras. Em uma dessas
religiões (o candomblé) os orixás são divindades que representam as forças da natureza e têm
características humanas: eles são vaidosos, ciumentos, briguentos, etc. Durante um ritual, os
orixás podem ser invocados para se apossar de algum crente e se comunicar com os mortais.

OLHO VIVO - DIALOGANDO COM A SOCIOLOGIA


AS CONGADAS

As “congadas” são festas populares presentes no Brasil desde o século XVII e são
realizadas ainda hoje por comunidades negras. A comunidade elege um rei e uma rainha e
organiza os festejos com danças e simulações de guerras. A forma varia bastante, dependendo
da região, mas em algumas representações de lutas os nomes dos combatentes são,
respectivamente, d. Afonso I e Nzinga, que simbolizam um rei cristão derrotando uma monarca
pagã. A permanência de uma memória sobre fatos ocorridos em outro continente e em um
passado distante demonstra que a influência das culturas africanas foi poderosa e duradoura no
Brasil. Segundo a historiadora Marina de Mello e Souza:
A fama de Nzinga, assim como a de D. Afonso I, atravessou os séculos e os mares,
sendo evocada em festas populares realizadas no Brasil no passado e ainda hoje. Enquanto
Nzinga ficou ligada à resistência e autonomia dos angolanos, o rei do Congo passou a
simbolizar a conversão dos congoleses ao cristianismo. [...] A despeito de sua conversão [ao
catolicismo] final, é como rainha guerreira que resistiu aos portugueses que Nzinga é lembrada
ainda hoje em Angola, tendo se tornado símbolo nacional de resistência à ocupação. Já nas
festas realizadas por africanos e seus descendentes no Brasil, [...] seu nome é geralmente
associado a inimigos do rei do Congo.
SOUZA, Marina de Mello e. Reis negros no Brasil escravista. História da festa de coroação do rei do Congo. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2002. p. 113.
monopolizado pelo Estado português. […] O
desinteresse português em relação ao Brasil estava em
conformidade com os interesses mercantilistas da
1. (Enem) A língua de que usam, por toda a costa, carece época, como observou o navegante Américo Vespúcio,
de três letras; convém a saber, não se acha nela F, nem após a exploração do litoral brasileiro, pode-se dizer que
L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não não encontramos nada de proveito”.
têm Fé, nem Lei, nem Rei, e dessa maneira vivem Berutti, 2004.
desordenadamente, sem terem além disto conta, nem
peso, nem medida. Sobre o período retratado no texto, pode-se afirmar que o(a)
GÂNDAVO, P M. A primeira historia do Brasil: história da província de Santa (A) desinteresse português pelo Brasil nos primeiros
Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2004 anos de colonização, deu-se em decorrência dos
(adaptado). tratados comerciais assinados com a Espanha, que
tinha prioridade pela exploração de terras situadas a
A observação do cronista português Pero de Magalhães de oeste de Greenwich.
Gândavo, em 1576, sobre a ausência das letras F, L e R na (B) maior distância marítima era a maior desvantagem
língua mencionada, demonstra a brasileira em relação ao comércio com as Índias.
(A) simplicidade da organização social das tribos (C) desinteresse português pode ser melhor explicado
brasileiras. pela resistência oferecida pelos indígenas que
(B) dominação portuguesa imposta aos índios no início dificultavam o desembarque e o reconhecimento
da colonização. das novas terras.
(C) superioridade da sociedade europeia em relação à (D) abertura de um novo mercado na América do Sul,
sociedade indígena. ampliava as possibilidades de lucro da burguesia
(D) incompreensão dos valores socioculturais indígenas metropolitana portuguesa.
pelos portugueses. (E) relativo descaso português pelo Brasil, nos
(E) dificuldade experimentada pelos portugueses no primeiros trinta anos de História, explica-se pela
aprendizado da língua nativa. aparente inexistência de artigos (ou produtos) que
atendiam aos interesses daqueles que
2. (Unicamp 2020) Na América Portuguesa do século XVI, patrocinavam as expedições.
a política europeia para os indígenas pressupunha
também a existência de uma política indígena frente aos 4. (Enem) De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito chã
europeus, já que os Tamoios e os Tupiniquins tinham e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar,
seus próprios motivos para se aliarem aos franceses ou muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos
aos portugueses. ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito
(Adaptado de Manuela Carneiro da Cunha, Introdução a uma história indígena.
São Paulo: Companhia das Letras/Fapesp, 1992, p. 18.) longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja
ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro;
Com base no excerto e nos seus conhecimentos sobre os nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons
primeiros contatos entre europeus e indígenas no Brasil, ares [...]. Porém o melhor fruto que dela se pode tirar me
assinale a alternativa correta. parece que será salvar esta gente.
Carta de Pero Vaz de Caminha. In: MARQUES, A.; BERUTTI, F.; FARIA, R.
(A) A população ameríndia era heterogênea e os História moderna através de textos. São Paulo: Contexto, 2001.
conflitos entre diferentes grupos étnicos ajudaram a
definir, de acordo com suas próprias lógicas e A carta de Pero Vaz de Caminha permite entender o projeto
interesses, a dinâmica dos seus contatos com os colonizador para a nova terra. Nesse trecho, o relato enfatiza
europeus. o seguinte objetivo:
(B) O fato de Tamoios e Tupiniquins serem grupos (A) Valorizar a catequese a ser realizada sobre os
aliados contribuiu para neutralizar as disputas entre povos nativos.
franceses e portugueses pelo controle do Brasil, (B) Descrever a cultura local para enaltecer a
pelo papel mediador que os nativos exerciam. prosperidade portuguesa.
(C) Os indígenas, agentes de sua história, desde cedo (C) Transmitir o conhecimento dos indígenas sobre o
souberam explorar as rivalidades entre os europeus potencial econômico existente.
e mantê-los afastados dos seus conflitos (D) Realçar a pobreza dos habitantes nativos para
interétnicos, anulando o impacto da presença demarcar a superioridade europeia.
portuguesa. (E) Criticar o modo de vida dos povos autóctones para
(D) As etnias indígenas viviam em harmonia umas com evidenciar a ausência de trabalho.
as outras e em equilíbrio com a natureza. Esse
quadro foi alterado com a chegada dos europeus, 5. (Pucsp) Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso
que passaram a incentivar os conflitos interétnicos dele. Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo
para estabelecer o domínio colonial. dela, e não lhe queriam por mão. Depois lhe pegaram,
(E) As nações indígenas eram homogêneas e por isso mas como espantados. Deram-lhes ali de comer: pão e
tiveram condições de fazer resistência aos projetos peixe cozido, confeitos, bolos, mel, figos-passa. Não
de expropriação de suas riquezas por parte dos quiseram comer daquilo quase nada; e se provaram
portugueses. alguma coisa, logo a lançavam fora. Trouxeram-lhes
vinho em uma taça; mal lhe puseram a boca, não
3. (Espcex (Aman) “Os primeiros trinta anos da História do gostaram dele nada, nem quiseram mais.
Brasil são conhecidos como período Pré-Colonial. Nesse “A carta de Pero Vaz Caminha”, maio de 1500. Extraído de Dea Ribeiro
período, a coroa portuguesa iniciou a dominação das Fenelon. 50 textos de história do Brasil. São Paulo: Hucitec, 1986, p. 23.
terras brasileiras, sem, no entanto, traçar um plano de
ocupação efetiva. […] A atenção da burguesia O documento mostra um dos primeiros contatos entre
metropolitana e do governo português estavam voltados portugueses e nativos do atual Brasil. Podemos dizer, entre
para o comércio com o Oriente, que desde a viagem de outras coisas, que a carta, na sua íntegra, demonstra a
Vasco da Gama, no final do século XV, havia sido
(A) superioridade técnica dos europeus em relação aos canibalização dos inimigos alimentavam a
indígenas e os motivos de a conquista portuguesa fragmentação, a dispersão territorial e o revanchismo.
não ter enfrentado resistência.
(B) necessidade de reeducar os hábitos dos indígenas, Em termos simbólicos, o sentido da antropofagia, resultante
cuja alimentação cotidiana era muito menos do enfrentamento entre indígenas pouco antes do início da
diversificada que a dos conquistadores. colonização portuguesa, tem relação com:
(C) importância da chegada dos portugueses ao (A) a necessidade de exterminar os inimigos na
continente americano, pois eles trouxeram melhores totalidade, inclusive pela ingestão física, de modo a
alimentos e melhores hábitos de vestimenta. interditar lhes qualquer forma de sobrevivência ou
(D) variedade de hábitos culturais de europeus e resquício material.
indígenas, ao expor diferenças nas vestimentas, (B) a profunda diferença sociocultural entre os povos
nos utensílios e na alimentação. tupi, que ao longo da expansão tendiam a
(E) harmonia plena com que se deram as relações considerar-se como estrangeiros, habitando regiões
entre conquistadores e conquistados, que se contíguas.
identificaram facilmente. (C) a interferência de navegadores europeus que
alimentavam as dissensões entre os povos
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: indígenas como meio de conquistá-los
Leia o texto para responder à questão. posteriormente.
(D) a disputa territorial com os povos não-tupi, que
[Os tupinambás] têm muita graça quando falam [...]; mas foram praticamente expulsos da costa e obrigados a
faltam-lhe três letras das do ABC, que são F, L, R grande ou adentrar o interior do continente.
dobrado, coisa muito para se notar; porque, se não têm F, é (E) o interesse em assimilar as potencialidades
porque não têm fé em nenhuma coisa que adoram; nem os guerreiras e a bravura dos inimigos, bem como
nascidos entre os cristãos e doutrinados pelos padres da incorporar seu universo social e cosmológico
Companhia têm fé em Deus Nosso Senhor, nem têm adicionado ao grupo do vencedor.
verdade, nem lealdade a nenhuma pessoa que lhes faça
bem. E se não têm L na sua pronunciação, é porque não têm 8. (Pucsp) “O Brasil é uma criação recente. Antes da
lei alguma que guardar, nem preceitos para se governarem; chegada dos europeus (...) essas terras imensas que
e cada um faz lei a seu modo, e ao som da sua vontade; sem formam nosso país tiveram sua própria história,
haver entre eles leis com que se governem, nem têm leis uns construída ao longo de muitos séculos, de muitos
com os outros. E se não têm esta letra R na sua milhares de anos. Uma história que a Arqueologia
pronunciação, é porque não têm rei que os reja, e a quem começou a desvendar apenas nos últimos anos.”
obedeçam, nem obedecem a ninguém, nem ao pai o filho, Norberto Luiz Guarinello. Os primeiros habitantes do Brasil. A arqueologia pré-
histórica no Brasil. São Paulo: Atual, 2009 (15ª edição), p. 6
nem o filho ao pai, e cada um vive ao som da sua vontade
[...].
(Gabriel Soares de Souza. Tratado descritivo do Brasil em 1587, 1987.) O texto acima afirma que
(A) o Brasil existe há milênios, embora só tenham
6. (Unesp) O texto destaca três elementos que o autor surgido civilizações evoluídas em seu território após
considera inexistentes entre os tupinambás, no final do a chegada dos europeus.
século XVI. Esses três elementos podem ser (B) a história do que hoje chamamos Brasil começou
associados, respectivamente, muito antes da chegada dos europeus e conta com
(A) à diversidade religiosa, ao poder judiciário e às a contribuição de muitos povos que aqui viveram.
relações familiares. (C) as terras que pertencem atualmente ao Brasil são
(B) ao catolicismo, ao sistema de governo e ao respeito excessivamente grandes, o que torna impossível
pelos diferentes. estudar sua história ao longo dos tempos.
(C) à fé religiosa, à ordenação jurídica e à hierarquia (D) a Arqueologia se dedicou, nos últimos anos, a
política. pesquisar o passado colonial brasileiro e seu
(D) à estrutura política, à anarquia social e ao vínculo com a Europa.
desrespeito familiar. (E) os povos indígenas que ocupavam o Brasil antes da
(E) ao respeito por Deus, à obediência aos pais e à chegada dos europeus, foram dizimados pelos
aceitação dos estrangeiros. conquistadores portugueses.

7. (Uepa) Os povos tupi correspondiam no século XV a um 9. (Enem) Os vestígios dos povos Tupi-guarani encontram-
enorme conjunto populacional étnico-linguístico que se se desde as Missões e o rio da Prata, ao sul, até o
espalhava por quase toda a costa atlântica sul do Nordeste, com algumas ocorrências ainda mal
continente americano, desde o atual Ceará, até a Lagoa conhecidas no sul da Amazônia. A leste, ocupavam toda
dos Patos, situada nos dias de hoje no Rio Grande do a faixa litorânea, desde o Rio Grande do Sul até o
Sul. De acordo com registros de missionários jesuítas e Maranhão. A oeste, aparecem (no rio da Prata) no
de exploradores portugueses dos primeiros anos da Paraguai e nas terras baixas da Bolívia. Evitam as terras
colonização portuguesa, os povos tupi se disseminaram inundáveis do Pantanal e marcam sua presença
pelo que é hoje a costa brasileira, numa dinâmica discretamente nos cerrados do Brasil central. De fato,
combinada de crescimento populacional e fragmentação ocuparam, de preferência, as regiões de floresta tropical
sociopolítica. Ao mesmo tempo, uma utopia ancestral e subtropical.
cultivada pelos diversos grupos tupi da busca de uma
PROUS. A. O Brasil antes dos brasileiros. Rio de Janeiro: Jorge
“terra sem males”, teria contribuição para sua expansão Zahar. Editor, 2005.
territorial. Os tupi chegaram no início do século XVI à
Amazônia, ocupando a Ilha Tupinambarana como ponto Os povos indígenas citados possuíam tradições culturais
final de sua peregrinação. No caminho percorrido, os específicas que os distinguiam de outras sociedades
povos tupi viviam numa atmosfera de guerra constante indígenas e dos colonizadores europeus. Entre as tradições
entre si e com outros povos não-tupi. Guerras captura e tupi-guarani, destacava-se
(A) a organização em aldeias politicamente Considerando o texto, é correto afirmar que
independentes, dirigidas por um chefe, eleito pelos (A) uma única leva imigratória humana chegou à
indivíduos mais velhos da tribo. América há 70 mil anos e dela descendem as
(B) a ritualização da guerra entre as tribos e o caráter populações indígenas brasileiras atuais.
semissedentário de sua organização social. (B) a concepção dos autores em relação à Pré-História
(C) a conquista de terras mediante operações militares, do Brasil sustenta-se na ideia da construção de uma
o que permitiu seu domínio sobre vasto território. experiência evolutiva e linear.
(D) o caráter pastoril de sua economia, que prescindia (C) os autores descrevem o processo histórico das
da agricultura para investir na criação de animais. populações indígenas brasileiras como uma
(E) o desprezo pelos rituais antropofágicos praticados trajetória fundada na ideia de crescente progresso
em outras sociedades indígenas. cultural.
(D) na época de Cabral, as populações indígenas
10. (Ufpa) Considere o texto a seguir: brasileiras eram numerosas e estavam em um
estágio evolutivo igual ao da Pré-História europeia.
"Em toda a semana [os homens] se ocupam em fazer roças (E) as populações indígenas brasileiras são de origem
para seus mantimentos (que antes não faziam senão as histórica diversa e, da perspectiva linguística, étnica
mulheres)". e cultural, se constituíram como sociedades
("Cartas dos primeiros jesuítas do Brasil (1538-1553)". Editadas por Serafim distintas.
Leite. São Paulo: Comissão do IV Centenário, 1954, v. I, p. 179).

13. (Enem) O índio era o único elemento então disponível


Neste texto descreve-se uma mudança na divisão social do
para ajudar o colonizador como agricultor, pescador,
trabalho indígena (trabalho masculino e feminino), que
guia, conhecedor da natureza tropical e, para tudo isso,
ocorreu no Brasil colonial com a chegada dos padres
deveria ser tratado como gente, ter reconhecidas sua
jesuítas. Contudo, antes desta mudança, cabia aos homens
inocência e alma na medida do possível. A discussão
e às mulheres tupinambás:
religiosa e jurídica em torno dos limites da liberdade dos
(A) os homens derrubavam a floresta, caçavam e
índios se confundiu com uma disputa entre jesuítas e
pescavam, e as mulheres trabalhavam no plantio.
colonos. Os padres se apresentavam como defensores
(B) os homens trabalhavam no plantio, caçavam,
da liberdade, enfrentando a cobiça desenfreada dos
pescavam, e as mulheres derrubavam a floresta.
colonos.
(C) os homens trabalhavam na obtenção de alimentos, CALDEIRA, J. A nação mercantilista. São Paulo: Editora 34, 1999 (adaptado).
e as mulheres na criação dos filhos.
(D) os homens derrubavam a floresta, e as mulheres Entre os séculos XVI e XVIII, os jesuítas buscaram a
obtinham os alimentos. conversão dos indígenas ao catolicismo. Essa aproximação
(E) os homens trabalhavam na obtenção de alimentos, dos jesuítas em relação ao mundo indígena foi mediada pela
e as mulheres na organização das cerimônias (A) demarcação do território indígena.
religiosas. (B) manutenção da organização familiar.
(C) comunicação pela língua geral baseada no tupi.
11. (Fatec) Se levarmos em conta que os colonizadores (D) valorização dos líderes religiosos indígenas.
portugueses mantiveram um contato maior com as (E) preservação do costume das moradias coletivas.
nações tupi, podemos dizer que as sociedades
indígenas brasileiras viviam num regime de comunidade 14. (Unesp) O conceito de “guerra justa” foi empregado,
primitiva, no qual durante a colonização portuguesa do Brasil, para
(A) cabia aos homens, além da caça e da pesca, toda a (A) justificar a captura, o aprisionamento e a
atividade agrícola do plantio a da colheita. escravização de indígenas.
(B) cada família tinha a sua propriedade, apesar de (B) justificar a instalação de missões jesuíticas em
todos trabalharem para o sustento da comunidade. áreas de colonização francesa.
(C) a economia era planificada, e todo o excedente era (C) impedir a prisão e o exílio de lideranças e
trocado com as tribos vizinhas. comunidades nativas hostis à colonização.
(D) tanto a propriedade privada quanto a agricultura de (D) impedir o acesso de protestantes e judeus às áreas
subsistência e a divisão de trabalho obedeciam a de produção de açúcar.
critérios naturais, ou seja, de acordo com o sexo e a (E) impedir que os nativos fossem utilizados como mão
idade. de obra na lavoura.
(E) não existia propriedade privada, pois os únicos bens 15. (Pucsp) Leia as duas estrofes a seguir:
individuais eram os instrumentos de caça, pesca e "Pindorama, Pindorama
trabalho, como o arco, a flecha e o machado de É o Brasil antes de Cabral
pedra. Pindorama, Pindorama
É tão longe de Portugal
12. (Ufscar) (...) Pré-História do Brasil compreende a Fica além, muito além
existência de uma crescente variedade linguística, Do encontro do mar com o céu
cultural e étnica, que acompanhou o crescimento Fica além, muito além
demográfico das primeiras levas constituídas por poucas Dos domínios de Dom Manuel.
pessoas (...) que chegaram à região até alcançar muitos
Vera Cruz, Vera Cruz
milhões de habitantes na época da chegada da frota de
Quem achou foi Portugal
Cabral. (...) não houve apenas um processo histórico,
Vera Cruz, Vera Cruz
mas numerosos, distintos entre si, com múltiplas
Atrás do Monte Pascoal
continuidades e descontinuidades, tantas quanto as
Bem ali Cabral viu
etnias que se formaram constituindo ao longo dos
Dia vinte e dois de abril
últimos 30, 40, 50, 60 ou 70 mil longos anos de
Não só viu, descobriu
ocupação humana das Américas.
(Pedro Paulo Funari e Francisco Silva Noeli. "Pré-História do Toda terra do Brasil."
Brasil", 2002.) Pindorama, de Sandra Peres e Luiz Tatit, in "Palavra Cantada", Canções
Curiosas, 1998.
Entre as várias referências da letra da canção à chegada dos sincretizada com Nossa Senhora da Conceição, e Nanã
portugueses à América, pode-se mencionar Buruku, a mais idosa das divindades das águas, foi
(A) a preocupação com os perigos da viagem, a comparada a Sant’Ana, mãe da Virgem Maria.
distância excessiva e a datação exata do momento VERGER, P. Orixás: deuses iorubás na África e no Novo Mundo. São Paulo:
Corrupio, 1981.
da descoberta.
(B) o caráter documental do texto, que reproduz o tom, O sincretismo religioso no Brasil colônia foi uma estratégia
a intenção informativa e a estrutura dos relatos de utilizada pelos negros escravizados para
viajantes. (A) preservar as crenças e a sua relação com o
(C) a dúvida quanto à expressão mais adequada para sagrado.
designar a chegada dos portugueses, daí a variação (B) compreender o papel do sagrado para a cultura
de verbos. europeia.
(D) o pequeno conhecimento das novas terras pelos (C) garantir a aceitação pelas comunidades dos
conquistadores, indicando sua crença de terem convertidos.
chegado às Índias. (D) integrar as distintas culturas no Novo Mundo.
(E) a diferença entre os termos que nomeavam as (E) possibilitar a adoração de santos católicos.
terras, sugerindo uma diferença entre a visão do
índio e a do português. 19. (Ufrgs) Considere o seguinte trecho da música Fuá na
casa de cabra!, do grupo pernambucano Mestre
16. (Enem) A África Ocidental é conhecida pela dinâmica Ambrósio.
das suas mulheres comerciantes, caracterizadas pela
perícia, autonomia e mobilidade. A sua presença, que No fim da festa e da farra
fora atestada por viajantes e por missionários Cabral não sentiu preguiça
portugueses que visitaram a costa a partir do século XV, Mandou logo rezar missa
consta também na ampla documentação sobre a região. Pra ficar aliviado
A literatura é rica em referências às grandes mulheres Chamando o padre, apressado
como as vendedoras ambulantes, cujo jeito para o Mandou começar ligeiro
negócio, bem como a autonomia e mobilidade, é tão Botando ordem no terreiro
típico da região. Com seu maracá na mão
HAVIK, P. Dinâmicas e assimetrias afro-atlânticas: a agência feminina e Jurando pelo alcorão
representações em mudança na Guiné (séculos XIX e XX). In: PANTOJA. S.
(Org.). Identidades, memórias e histórias em terras africanas. Brasília: LGE;
Que era crente verdadeiro.
Siba e Hélder Vasconcelos. Adaptado do disco Fuá na casa de Cabra/.
Luanda: Nzila, 2006.
Chaos/Sony Music, 1998.
A abordagem realizada pelo autor sobre a vida social da
De acordo com fatos relativos à História do Brasil, assinale a
África Ocidental pode ser relacionada a uma característica
alternativa que corresponde à ideia apresentada pelo trecho
marcante das cidades no Brasil escravista nos séculos XVIII
da música.
e XIX, que se observa pela
(A) O papel das crenças religiosas foi sempre
(A) restrição à realização do comércio ambulante por
secundário na formação do Brasil, não assumindo
africanos escravizados e seus descendentes.
relevância nos acontecimentos políticos da história
(B) convivência entre homens e mulheres livres, de
nacional.
diversas origens, no pequeno comércio.
(B) Pedro Álvares de Cabral abdicou da fé cristã, ao
(C) presença de mulheres negras no comércio de rua
jurar sobre o livro sagrado do islamismo, no
de diversos produtos e alimentos.
momento da Primeira Missa rezada pelos viajantes
(D) dissolução dos hábitos culturais trazidos do
portugueses nas terras americanas.
continente de origem dos escravizados.
(C) A pluralidade de crenças sempre impossibilitou a
(E) entrada de imigrantes portugueses nas atividades
existência de uma religião hegemônica no Brasil.
ligadas ao pequeno comércio urbano.
(D) A condenação das formas religiosas de origem
17. (ENEM 2020) Porque todos confessamos não se poder africana no Brasil teria iniciado desde a chegada da
viver sem alguns escravos, que busquem a lenha e a expedição de Cabral à América.
água, e façam cada dia o pão que se come, e outros (E) O processo de formação cultural brasileiro foi
serviços que não são possíveis poderem-se fazer pelos marcado pela junção de inúmeros fatores oriundos
Irmãos Jesuítas, máxime sendo tão poucos, que seria de culturas diversas, tais como a cristã, a indígena,
necessário deixar as confissões e tudo mais. Pareceme a africana e a islâmica.
que a Companhia de Jesus deve ter e adquirir escravos,
justamente, por meios que as Constituições permitem, 20. (Enem PPL) Quando Deus confundiu as línguas na torre
quando puder para nossos colégios e casas de meninos. de Babel, ponderou Filo Hebreu que todos ficaram
LEITE, S. História da Companhia de Jesus no Brasil. Rio de Janeiro: mudos e surdos, porque, ainda que todos falassem e
Civilização Brasileira, 1938 (adaptado). todos ouvissem, nenhum entendia o outro. Na antiga
Babel, houve setenta e duas línguas; na Babel do rio
O texto explicita premissas da expansão ultramarina
das Amazonas, já se conhecem mais de cento e
portuguesa ao buscar justificar a
cinquenta. E assim, quando lá chegamos, todos nós
(A) propagação do ideário cristão.
somos mudos e todos eles, surdos. Vede agora quanto
(B) valorização do trabalho braçal.
estudo e quanto trabalho serão necessários para que
(C) adesão ao ascetismo contemplativo.
esses mudos falem e esses surdos ouçam.
(D) adoção do cativeiro na Colônia. VIEIRA, A. Sermões pregados no Brasil. In: RODRIGUES. J. H. História viva.
(E) alfabetização dos indígenas nas Missões. São Paulo: Global, 1985 (adaptado).

18. (Enem) As convicções religiosas dos escravos eram, No decorrer da colonização portuguesa na América, as
entretanto, colocadas a duras provas quando de sua tentativas de resolução do problema apontado pelo padre
chegada ao Novo Mundo, onde eram batizados Antônio Vieira resultaram na
obrigatoriamente “para a salvação de sua alma” e (A) ampliação da violência nas guerras intertribais.
deviam curvar-se às doutrinas religiosas de seus (B) desistência da evangelização dos povos nativos.
mestres. lemanjá, mãe de numerosos outros orixás, foi
(C) indiferença dos jesuítas em relação à diversidade tudo isto se compõe a vossa imitação, que, se for
de línguas americanas. acompanhada de paciência, também terá merecimento
(D) sistematização das línguas nativas numa estrutura de martírio.
gramatical facilitadora da catequese. VIEIRA, A. Sermões. Tomo XI. Porto: Lello & Irmão, 1951 (adaptado).
(E) pressão da Metrópole pelo abandono da catequese O trecho do sermão do Padre Antônio Vieira estabelece uma
nas regiões de difícil acesso. relação entre a Paixão de Cristo e
(A) a atividade dos comerciantes de açúcar nos portos
21. (Enem PPL) Devem ser bons serviçais e habilidosos, brasileiros.
pois noto que repetem logo o que a gente diz e creio que (B) o trabalho dos escravos na produção de açúcar.
depressa se fariam cristãos; me pareceu que não tinham (C) a função dos mestres de açúcar durante a safra de
nenhuma religião. Eu, comprazendo a Nosso Senhor, cana.
levarei daqui, por ocasião de minha partida, seis deles (D) o sofrimento dos jesuítas na conversão dos
para Vossas Majestades, para que aprendam a falar. ameríndios.
COLOMBO, C. Diários da descoberta da América: as quatro viagens e o
testamento. Porto Alegre: L&PM, 1984. (E) o papel dos senhores na administração dos
O documento destaca um aspecto cultural relevante em engenhos.
torno da conquista da América, que se encontra expresso 24. (ENEM DIGITAL 2020) Associados a atividades
em: importantes e variadas na evolução das sociedades
(A) Deslumbramento do homem branco diante do americanas modernas, os africanos conseguiram impor
comportamento exótico das tribos autóctones. sua marca nas línguas, culturas, economias, além de
(B) Violência militarizada do europeu diante da participar, quase invariavelmente, na composição étnica
necessidade de imposição de regras aos das comunidades do Novo Mundo. A sua influência
ameríndios. alcançou mais fortemente as regiões do latifúndio
(C) Cruzada civilizacional frente à tarefa de educar os agrícola, em comunidades cujo desenvolvimento ocorreu
povos nativos pelos parâmetros ocidentais. às margens do Atlântico e do mar das Antilhas, do
(D) Comportamento caridoso dos governos europeus sudeste dos Estados Unidos até a porção nordeste do
diante da receptividade das comunidades Brasil, e ao longo das costas do Pacífico, na Colômbia,
indígenas. no Equador e no Peru.
(E) Compromisso dos agentes religiosos diante da KNIGHT, F. W. A diáspora africana. In: AJAYI, J. F. A. (Org.). História geral da
necessidade de respeitar a diversidade social dos África: África do século XIX à década de 1880. Brasília: Unesco, 2010
índios. (adaptado).

Uma das contribuições da diáspora descrita no texto para o


22. (Enem ) Torna-se claro que quem descobriu a África no continente americano foi o(a)
Brasil, muito antes dos europeus, foram os próprios (A) fim da escravidão indígena.
africanos trazidos como escravos. E esta descoberta (B) declínio de monoculturas locais.
não se restringia apenas ao reino linguístico, estendia-se (C) introdução de técnicas produtivas.
também a outras áreas culturais, inclusive à da religião. (D) formação de sociedades estamentais.
Há razões para pensar que os africanos, quando (E) desvalorização das capitanias hereditárias
misturados e transportados ao Brasil, não demoraram
em perceber a existência entre si de elos culturais mais 25. (Ufpa ) No regime escravocrata brasileiro é importante
profundos. observar que os sujeitos escravizados mantinham laços
SLENES, R. Malungu, ngoma vem! África coberta e descoberta do Brasil. de solidariedade, associações religiosas e redes de
Revista USP, n.º 12, dez./jan./fev. 1991-92 (adaptado). sociabilidade, portanto eram agentes de sua história. Ao
rigor do cotidiano violento que lhes impunham os
Com base no texto, ao favorecer o contato de indivíduos de senhores escravocratas, esses sujeitos, como forma de
diferentes partes da África, a experiência da escravidão no reação, praticaram
Brasil tornou possível a (A) fugas em massa o que causou um sério prejuízo
(A) formação de uma identidade cultural afro-brasileira. aos donos de fazendas de café, que contavam com
(B) superação de aspectos culturais africanos por a vigilância de capatazes e a cumplicidade de
antigas tradições europeias. contrabandistas de escravos para seu controle
(C) reprodução de conflitos entre grupos étnicos parcial.
africanos. (B) insurreições, fugas individuais e coletivas,
(D) manutenção das características culturais assassinato de feitores e senhores, o que favoreceu
específicas de cada etnia. a formação de quilombos ou mocambos, sobretudo
(E) resistência à incorporação de elementos culturais após o surgimento do quilombo de Palmares.
indígenas. (C) roubo de produtos da fazenda que terminavam por
ser vendidos na cidade por escravos que viviam
23. (Enem) Em um engenho sois imitadores de Cristo “sobre si”; o resultado das vendas era revertido para
crucificado porque padeceis em um modo muito as irmandades de homens negros e santas casas
semelhante o que o mesmo Senhor padeceu na sua de misericórdia.
cruz e em toda a sua paixão. A sua cruz foi composta de (D) fugas para as matas localizadas em áreas
dois madeiros, e a vossa em um engenho é de três. pantanosas, como forma de dificultar a captura pelo
Também ali não faltaram as canas, porque duas vezes capitão do mato; além disso, os negros contavam
entraram na Paixão: uma vez servindo para o cetro de com a ajuda dos índios catequizados na formação
escárnio, e outra vez para a esponja em que lhe deram de quilombos.
o fel. A Paixão de Cristo parte foi de noite sem dormir, (E) contrabando de café para os navios negreiros
parte foi de dia sem descansar, e tais são as vossas vindos da África, utilizando-se o resultado da venda
noites e os vossos dias. Cristo despido, e vós despidos; para a compra de alforrias e a aquisição de
Cristo sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo armamentos para a defesa dos quilombos.
maltratado, e vós maltratados em tudo. Os ferros, as
prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de
26. (Fac. Albert Einstein - Medicin) “Na sua condição de 28. (Espm) Quem vir na escuridade da noite aquelas
propriedade, o escravo é uma coisa, um bem objetivo. fornalhas tremendas perpetuamente ardentes, o ruído
(...) Daí ter sido usual a prática de marcar o escravo com das rodas, das cadeias, da gente toda da cor da mesma
ferro em brasa como se ferra o gado. Os negros eram noite, trabalhando vivamente, e gemendo tudo ao mes-
marcados já na África, antes do embarque, e o mesmo mo tempo sem momento de tréguas, nem de descanso;
se fazia no Brasil, até no final da escravidão. (...) Seu quem vir enfim toda a máquina e aparato confuso e
comportamento e sua consciência teriam de transcender estrondoso daquela Babilônia, não poderá duvidar,
a condição de coisa possuída no relacionamento com o ainda que tenha visto Etnas e Vesúvios, que é uma
senhor e com os homens livres em geral. E semelhança de inferno.
transcendiam, antes de tudo, pelo ato criminoso. O (Padre Antonio Vieira. Citado por Lilia Schwarcz e Heloisa Starling in Brasil
uma Biografia)
primeiro ato humano do escravo é o crime, desde o
A leitura do trecho deve ser relacionada com:
atentado contra o senhor à fuga do cativeiro. Em
(A) o trabalho indígena na extração do pau-brasil;
contrapartida, ao reconhecer a responsabilidade penal
(B) o trabalho indígena na lavoura da cana-de-açúcar;
dos escravos, a sociedade escravista os reconhecia
(C) o trabalho de escravos negros africanos no
como homens: além de incluí-los no direito das coisas,
garimpo, na mineração;
submetia-os à legislação penal.”
Jacob Gorender. O escravismo colonial. São Paulo: Ática, 1992, p. 62-63. (D) o trabalho de escravos negros africanos no
engenho de cana-de-açúcar;
O texto indica (E) o trabalho de imigrantes italianos na lavoura
(A) a ambiguidade no reconhecimento, pela sociedade cafeeira.
colonial e imperial brasileira, da condição dos
africanos escravizados, que se manifestava 29. (ENEM DIGITAL 2020) Na primeira bica abasteciam os
sobretudo diante de algumas formas de resistência negros, forros e cativos, os mulatos e os índios; na
à exploração. segunda, os moiros das galés, e os da primeira bica,
(B) a precocidade da legislação brasileira contra crimes quando fosse necessário; a terceira e quarta estavam
hediondos e contra o desrespeito, pelos africanos reservadas aos homens e moços brancos; na quinta
escravizados, às obrigações e deveres de todo enchiam as mulheres pretas e na sexta, as mulheres e
trabalhador rural. moças brancas. A quem infringisse esta ordem eram
(C) o reconhecimento, pelos governantes brasileiros na aplicados severos castigos — açoitamento com baraço e
colônia e no império, da necessidade de mediar e pregão, ao redor do Chafariz, sendo de cor; 2 000 réis
controlar as relações dos proprietários rurais com o de multa e três dias de cadeia, sendo branco o
amplo contingente de africanos escravizados. prevaricador.
CAETANO, J. O. Chafarizes de Lisboa. Lisboa: Distri, 1991.
(D) o descumprimento, pelos senhores de escravos no
Brasil colonial e imperial, das leis que regulavam o
A organização dos consumidores nos chafarizes públicos de
trabalho compulsório e que impediam a aplicação
Lisboa no século XVI, descrita no texto, expressava a
da pena de morte aos africanos escravizados.
(A) escassez de recursos hídricos.
(E) a necessidade de substituir a mão de obra escrava
(B) reprodução de distinções sociais.
pelo trabalhador assalariado imigrante como forma
(C) prevenção da transmissão de doenças.
de modernizar a produção.
(D) obsolescência das técnicas de fornecimento.
(E) ineficiência da cobertura de serviços estatais.
27. (Upe-ssa) A história das relações sociais entre jesuítas e
indígenas revela a existência de inúmeros contatos ao
30. (ENEM 2020) A arte pré-histórica africana foi
longo do período colonial, os quais são feitos, desfeitos
incontestavelmente um veículo de mensagens
e refeitos constantemente, não só graças à
pedagógicas e sociais. Os San, que constituem hoje o
multiplicidade de culturas indígenas que os cristãos se
povo mais próximo da realidade das representações
confrontariam, mas também à “inconstância dos
rupestres, afirmam que seus antepassados lhes
selvagens” que os padres imputariam como
explicaram sua visão do mundo a partir desse
característica marcante dos ameríndios. Os indígenas
gigantesco livro de imagens que são as galerias. A
do Brasil mostram-se, entre o dito e o não dito das
educação dos povos que desconhecem a escrita está
cartas, como agentes históricos que interferiam
baseada sobretudo na imagem e no som, no
diretamente na “realidade colonial”, movendo-se e
audiovisual.
adaptando-se, negociando e resistindo, de acordo com KI-ZERBO, J. A arte pré-histórica africana. In: KI-ZERBO, J. (Org.) História
as circunstâncias históricas enfrentadas. geral da África, I: metodologia e pré-história da África. Brasília: Unesco, 2010.
GUIMARÃES, Heitor Velasco Fernandes. O desassossego jesuítico:
resistência indígena à colonização cristã na América Portuguesa do XVI. Texto
integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e De acordo com o texto, a arte mencionada é importante para
Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd- os povos que a cultivam por colaborar para o(a)
Rom (Adaptado) (A) transmissão dos saberes acumulados.
(B) expansão da propriedade individual.
Mediante o contexto descrito, podemos inferir que a (C) ruptura da disciplina hierárquica.
ocupação das terras americanas e o desenvolvimento (D) surgimento dos laços familiares.
produtivo da colônia estavam intrinsecamente dependentes (E) rejeição de práticas exógenas.
(A) da liberdade religiosa promovida pelos jesuítas.
(B) do controle dos habitantes nativos.
(C) da falta total de resistência por parte dos nativos. GABARITO
(D) do apoio dos escravos africanos no domínio dos 1 A 6 C 11 E 16 C 21 D 26 A
índios. 2 D 7 E 12 E 17 D 22 A 27 B
(E) da concordância passiva dos índios na conquista 3 E 8 B 13 C 18 A 23 B 28 D
das terras.
4 A 9 B 14 A 19 E 24 C 29 B
5 D 10 A 15 E 20 D 25 B 30 E
I. ECONOMIA AGROEXPORTADORA BRASILEIRA E COMPLEXO AÇUCAREIRO.

Cada brasileiro consume, em média, 150 gramas de açúcar por dia, segundo pesquisa
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Esse número é três vezes maior
do que o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). É também bem maior que
a média diária de consumo mundial: 57 gramas. Boa parte do açúcar consumido pelos
brasileiros, segundo essa pesquisa, está embutida nos produtos industrializados. Os resultados
do excesso de consumo de açúcar se percebem no aumento de peso da população e na
explosão de doenças como o diabetes tipo 2.
O aumento da produção mundial de açúcar e a disseminação de seu consumo estão
diretamente ligados à história do Brasil. No século XVI, o açúcar era um produto de luxo. O
governo português incentivou o plantio da cana-de-açúcar e a instalação de engenhos em sua
colônia na América, o que transformou a região na maior produtora e exportadora de açúcar do
mundo. Neste capítulo vamos conhecer alguns aspectos desse processo histórico.

1. ARTIGO DE LUXO

O açúcar produzido da cana chegou ao continente europeu no século XII, por


intermédio de mercadores árabes e cruzados. Durante séculos, foi um produto de luxo. Assim, a
implantação bem-sucedida da produção de açúcar de cana nas terras tropicais da colônia
portuguesa na América, a partir do século XVI, garantiu grandes lucros à metrópole. O plantio
da cana e a produção de açúcar da cana eram realizados em grandes fazendas monocultoras
por trabalhadores escravizados, inicialmente indígenas e, mais tarde, africanos.
Como explica o historiador Jorge Caldeira, o negócio do açúcar envolveu pessoas,
instituições e governos de várias partes do mundo: o plantio da cana e a produção do açúcar
eram feitos no Nordeste da colônia portuguesa, mas o financiamento vinha da Holanda, onde
também ocorria o refino do açúcar; os consumidores estavam principalmente na Europa; os
trabalhadores escravizados eram trazidos da África; parte dos insumos vinha da Europa; outra
parte, de vários pontos da América do Sul. Formara-se um verdadeiro mercado global.

PASSADO PRESENTE – DIALOGANDO COM GEOGRAFIA


COMBUSTÍVEL PARA A ECONOMIA

O açúcar obtido da cana-de-açúcar tornou-se um dos pilares da economia da colônia


portuguesa no século XVII. Quase quinhentos anos depois, a cana ganha nova importância ao
se tornar matéria-prima para a produção de etanol, um biocombustível. São várias as críticas
feitas à atual produção de cana-de-açúcar no Brasil. Por exemplo: a cana é cultivada em
grandes extensões de terra que poderiam ser destinadas à produção de alimentos; as lavouras
ocupam áreas de cerrado e floresta Amazônica, prejudicando esses biomas; e, por fim, há
graves denúncias sobre as condições de trabalho dos cortadores de cana, desde a falta de
equipamentos de proteção ou instalações sanitárias inadequadas até a jornada de trabalho
estafante e a exploração de trabalho infantil.

AÇÚCAR E ESCRAVIDÃO NO BRASIL COLONIAL

Depois das grandes descobertas do século XV, em especial da rota marítima para as
Índias, Portugal se tornou o principal fornecedor de especiarias orientais para o consumo
europeu, transformando-se no centro de um poderoso império marítimo. No século XVI, o
frequente assédio dos muçulmanos da Índia às cidades e fortalezas portuguesas ameaçou a
supremacia portuguesa no Oriente, além de onerar os gastos da Coroa na defesa de suas
conquistas no Índico. Os portugueses então desviaram sua atenção para o Atlântico, em
particular para o Brasil.

O BRASIL ENTRE O ATLÂNTICO E O ÍNDICO

Nas três primeiras décadas do século XVI, os interesses de Portugal permaneceram


concentrados no comércio oriental. Nesse momento, o Brasil era um fornecedor de madeiras
tintórias (o pau-brasil), um monopólio do governo que era arrendado a particulares. Por essa
razão, os traficantes de pau-brasil eram chamados de brasileiros. Mas o Brasil era, sobretudo,
uma escala para a frota da Índia.
As diversas investidas de corsários, principalmente franceses, às costas do Brasil
acabaram levando a Coroa a empreender uma colonização pelo sistema de capitanias
hereditárias, a partir de 1534, e a criar um Governo Geral, em 1549. O objetivo básico era
garantir a posse do Brasil como importante região para a rota da Índia, pois a Bahia era ponto
de escala na ida e na volta. Assim, tornou-se necessário controlar o território, povoá-lo e
explorar seu potencial econômico.

A SOLUÇÃO AÇUCAREIRA

A produção de açúcar foi a base da economia colonial por volta de meados do século
XVI, sobretudo nos engenhos de Pernambuco e da Bahia. Mas a primeira experiência ocorreu
em São Vicente: em 1530, Martim Afonso de Souza recebeu ordens para organizar uma
expedição e colonizar as novas terras. Chegou ao Brasil em 1532, trazendo mudas de cana e
vários homens experientes na fabricação do açúcar vindos da ilha da Madeira.
A economia açucareira era um negócio dispendioso, que abrangia a lavoura de cana e
a fabricação do açúcar nos engenhos, ambas feitas com mão de obra escrava. Muitos
historiadores denominam esse tipo de economia tropical de plantation, conceito inglês usado
nas lavouras do Caribe a partir do século XVII.
As principais áreas açucareiras do Brasil foram as capitanias localizadas no atual
Nordeste, sobretudo as de Pernambuco, Rio Grande (do Norte), Itamaracá, Bahia e,
posteriormente, Paraíba. Desde o século XVI o açúcar se tornou o produto de maior valor na
exportação do Brasil.
O centro da economia açucareira que se constituiu na América portuguesa era o
engenho. Em 1711, o jesuíta Antonil se referiu aos senhores de engenho da seguinte maneira:
“O ser senhor de engenho é título a que muitos aspiram, porque traz consigo o ser
servido, obedecido e respeitado de muitos”.

O MUNDO DOS ENGENHOS

Havia diferentes tipos de engenho. Os chamados engenhos reais tinham moendas


movidas a água, mas eram caros e pouco numerosos; a maioria dos engenhos era movida à
força de escravos ou de animais. Os engenhos maiores moíam, além da cana plantada em suas
terras, a que era produzida pelos chamados lavradores — termo que, na linguagem da época,
não designava, necessariamente, trabalhadores rurais.
Os lavradores de cana usavam mão de obra escrava para produzir cana-de -açúcar.
Assim como os donos de engenho, eles tinham uma hierarquia: alguns eram proprietários de
terras e outros alugavam terras de um engenho, onde eram obrigados a moer sua cana, sendo
por isso chamados de “lavradores obrigados”.
Em torno dos engenhos e das plantações de cana havia centenas de produtores de
alimentos, alguns também utilizando mão de obra escrava. Como o engenho não era
autossuficiente em termos de subsistência era necessário comprar alimentos no mercado
interno. Eram os pequenos lavradores de mandioca ou de feijão, por vezes chamados de
“lavradores de roça”, bem como os criadores de gado, que atendiam às necessidades
alimentares da “sociedade açucareira”, incluindo os raros núcleos urbanos.
O trabalho no engenho era bastante diversificado. Havia mestres de açúcar,
carpinteiros, pedreiros, carreiros, oleiros, vaqueiros, feitores etc., além dos escravos do eito,
que trabalhavam na lavoura de cana.
O processo de produção de açúcar exigia máquinas, instalações, animais, grande
quantidade de mão de obra e extensas áreas para o plantio da cana. Parte da cana usada na
produção era comprada de fazendas sem condições de fabricar o açúcar, por falta de
equipamentos ou mão de obra. Nas fazendas de plantação ou nos engenhos, os trabalhadores
escravizados realizavam quase todo o trabalho. Os primeiros a serem escravizados foram os
indígenas, mas já nas primeiras décadas do século XVI teve início a utilização da mão de obra
africana.
Os escravizados cuidavam das plantações, colhiam a cana e a transportavam, com
carros de boi, para a casa da moenda, onde trituravam a cana. Na etapa seguinte,
trabalhadores especializados (nem todos escravizados) transformavam o caldo em açúcar
escuro, mascavo. O produto era, no fim do processo, armazenado e transportado em forma de
tijolos.
Na época de colheita e produção do açúcar, os engenhos funcionavam de 18 a 20
horas por dia. O trabalho era rígido, disciplinado e extenuante. As taxas de acidentes eram
altas, levando à morte de 5% a 10% dos escravizados. Até meados do século XVII, o atual
Nordeste brasileiro liderou a produção açucareira mundial.
A partir de então, dois fatores foram responsáveis pela lenta decadência do açúcar:
internamente, houve secas e destruição de engenhos nordestinos durante a Insurreição
Pernambucana; externamente, a forte concorrência do açúcar que passou a ser produzido no
Caribe pelos holandeses.
DIALOGANDO COM A SOCIOLOGIA
OS TRABALHADORES LIVRES

No engenho, também havia trabalhadores livres – brancos ou ex-escravizados libertos


– que recebiam pagamento. Eles estavam encarregados das atividades mais qualificadas. Eram
o mestre de açúcar, responsável pela qualidade final do produto; o purgador, encarregado da
purificação do açúcar; e o caixeiro, que separava, pesava e encaixotava o produto. Também
recebiam pagamento pessoas de confiança do senhor de engenho, entre as quais o feitor-mor,
que gerenciava todo o trabalho, e o feitor dos partidos e roças, que defendia a terra contra
invasões e fiscalizava os escravizados. Geralmente também eram remunerados os ferreiros, os
carpinteiros, os alfaiates, os cirurgiões-barbeiros, etc.
Nos séculos XVII e XVIII, os senhores de engenho contratavam negros livres ou ex-
escravos libertos para esses serviços, oferecendo-lhes um pagamento inferior ao dos
trabalhadores brancos. Em muitos engenhos, alguns escravizados começaram a executar
tarefas especializadas, o que revelou vantagens para ambos os lados: o fazendeiro reduzia
despesas; o escravizado especializado conquistava uma posição mais elevada socialmente.
SCHWARTZ, Stuart. Escravos, roceiros e rebeldes. Bauru: Edusc, 2001. p. 91-115.
(Adaptado.)
O termo engenho designava, na época, apenas a edificação na qual se fabricava o
açúcar. Mais tarde, passou a indicar todo o complexo que envolvia a produção açucareira: os
canaviais, as matas de onde se extraía lenha para as fornalhas, a casa-grande (residência do
proprietário), a senzala (alojamento dos escravizados), a moenda, os instrumentos de produção,
etc.

VOCÊ SABIA?

Os chamados senhores de engenho desfrutavam de um status social semelhante ao


da nobreza em Portugal. Eles controlavam a vida política da região, e seus parentes detinham
importantes postos públicos. Sua influência se perpetuou ao longo dos séculos, mesmo em
períodos de crise da produção de açúcar. Embora, de modo geral, as esposas dos senhores de
engenho estivessem sob suas ordens e seu comando, muitas não se limitaram a cuidar da
educação dos filhos, da costura das roupas e da supervisão dos escravizados domésticos.
Viúvas tornaram-se administradoras de engenhos e várias mulheres reagiram às imposições
dos maridos, fugindo ou separando-se.

2. O MUNDO DOS ESCRAVOS

A mão de obra indígena predominou na fase inaugural da economia açucareira,


estimulando o tráfico interno de escravos nativos. Mas, ao longo do século XVI, boa parte dos
nativos do litoral foi dizimada pela ação de epidemias, como a varíola. Outra parte da população
nativa do litoral foi controlada pelos jesuítas, que dificultavam a escravização dos indígenas. O
restante dos indígenas fugiu para as matas do interior. No século XVII, a economia colonial do
litoral luso-brasileiro passou a depender cada vez mais do tráfico de escravos africanos.
A principal característica da economia dos engenhos coloniais residia no fato de a
grande maioria dos trabalhadores ser escrava. Até a função de mestre de açúcar — um perito
em todas as etapas da produção, de início contratado na Europa — passou a ser exercida por
escravos. Os feitores, encarregados do controle dos escravos, muitas vezes eram também
escravos.

O DOCE INFERNO DA ESCRAVIDÃO

Padre Antônio Vieira foi o principal jesuíta luso-brasileiro do século XVII. Em cartas,
livros e sermões tratou de todos os assuntos relativos a Portugal e ao Brasil na época, desde a
escravidão até a restauração da soberania portuguesa contra o domínio espanhol.
Leia a seguir a descrição do jesuíta para o trabalho nos engenhos de cana em um
sermão pregado na Bahia em 1633:
E que coisa há na confusão deste mundo mais semelhante ao inferno, que qualquer
destes vossos Engenhos, e tanto mais, quanto de maior fábrica? Por isso foi tão bem recebida
aquela breve e discreta definição de quem chamou a um engenho de açúcar doce inferno. E
verdadeiramente quem vir na escuridade da noite aquelas fornalhas tremendas perpetuamente
ardentes; as labaredas que estão saindo a borbotões de cada uma pelas duas bocas, ou
ventas, por onde respiram o incêndio; os etíopes, ou ciclopes banhados em suor, tão negros
como robustos, que subministram a grossa e dura matéria ao fogo [...]; o ruído das rodas, das
cadeias, da gente toda da cor da mesma noite, trabalhando vivamente, e gemendo tudo ao
mesmo tempo sem momento de tréguas, nem de descanso; quem vir enfim toda a máquina e
aparato confuso e estrondoso daquela Babilônia, não poderá duvidar, ainda que tenha visto
Etnas e Vesúvios, que é uma semelhança dos infernos.
VIEIRA, Antônio. Sermão do décimo quarto do Rosário. In: PÉCORA, Alcir (Org.). Sermões do Padre Antônio Vieira. São
Paulo: Hedra, 2001. p. 655-656.
O TRÁFICO AFRICANO

Uma economia voltada para a produção de açúcar em larga escala para o mercado
externo não poderia se basear no trabalho livre de colonos. Portugal não tinha mão de obra
excedente para tanto e o campesinato do reino não se disporia, em todo caso, a trabalhar em
lavouras tropicais de sol a sol. A saída encontrada pelos colonizadores foi a escravidão,
primeiro dos indígenas, ao longo do século XVI, logo sucedida pela dos africanos, que também
foram utilizados na produção açucareira do arquipélago da Madeira. Muitas sociedades
africanas recorriam à escravidão ou escravizavam prisioneiros de guerra para vender na própria
África.
Muitos chefes e reis africanos já tinham larga experiência nesse tipo de comércio.
Assim, muitos reinos passaram a negociar diretamente com os portugueses e, mais tarde, com
outros comerciantes europeus. Os europeus negociavam acordos com membros importantes
das sociedades africanas. Na compra de escravos pelos portugueses, as mercadorias
envolvidas eram, em geral, cavalos, panos indianos ou europeus, objetos de cobre e de vidro,
espelhos, miçangas, conchas e cauris (espécie de búzios, utilizados como moeda em várias
partes da África).
No início do século XV, não raro trocava-se um cavalo por mais de dez escravos,
dependendo da idade e da saúde deles. No decorrer do século XVII, foram incluídos nesse
comércio armas de fogo, pólvora, tabaco e cachaça, então chamada no Brasil de geribita.

SISTEMAS DE ESCRAVIZAÇÃO

Para recolher os escravos, os negociantes portugueses utilizavam dois sistemas. O


primeiro era o da feitoria, no qual os escravos comprados na África eram reunidos aos poucos,
até completar a carga dos navios. Era dispendioso, pois implicava conseguir autorização do rei
africano local para a instalação da feitoria, além de gastos com a manutenção de
administradores para dirigi-la e protegê-la. O segundo sistema funcionava por meio de barcos
que navegavam ao longo da costa até completar a carga de escravos, levados aos navios em
canoas, sem os gastos com a instalação de fortalezas.
O comércio no interior da África e o deslocamento aos locais de embarque, no litoral,
ficavam totalmente por conta dos africanos, sempre empenhados em manter essas rotas sob
controle.
O tráfico atlântico de escravos foi intenso até o século XIX. Estima-se que entre 12 e
12,5 milhões de africanos entraram na América, dos quais 40%, aproximadamente, foram para
o Brasil, outros 40% para as ilhas do Caribe e menos de 5% para a América do Norte. Os
demais foram para outras partes da América.
A preferência foi sempre pela compra de homens já adultos — mais de 60% de todos
os escravos vendidos na América. A escassez de mulheres dificultava o crescimento vegetativo
da população escrava e, por conseguinte, exigia a manutenção do tráfico para a reprodução da
escravidão.
Em resumo, quanto mais os senhores coloniais precisavam de escravos, mais
comerciantes se empenhavam em adquiri-los e mais guerras se travavam na África para
atender à demanda. Nesse processo, lucravam os traficantes da Europa, os governantes da
África e os intermediários de todos os continentes.

3. UNIÃO IBÉRICA E DOMÍNIO HOLANDÊS NO NORDESTE

Em 1578, o rei de Portugal, dom Sebastião, morreu sem deixar herdeiros. O trono
português foi entregue a seu tio dom Henrique, cardeal de Lisboa, que morreu em 1580,
também sem um sucessor estabelecido. Depois de acirrada disputa entre vários pretendentes, a
Coroa portuguesa acabou nas mãos do rei espanhol Filipe II (1527-1598). Os reinos de
Espanha e Portugal foram unificados, em 1580, na chamada União Ibérica, que vigoraria até
1640.
Com a União Ibérica, adversários da Espanha tornaram-se inimigos de Portugal. Os
holandeses, por exemplo, até então mantinham intensas relações com os portugueses,
principalmente na cadeia produtiva do açúcar. Como a relação entre espanhóis e holandeses
era conflituosa, o governo da União Ibérica fechou seus portos e os de suas colônias aos navios
holandeses em 1621. Para tentar contornar a situação, os comerciantes holandeses passaram
a estimular a ocupação do Nordeste da colônia portuguesa, onde mais se produzia açúcar na
América.

CONQUISTA HOLANDESA

Em 1624, os holandeses fizeram a primeira tentativa de ocupação do nordeste e


ocuparam a cidade de Salvador, sede do Governo-Geral do Brasil. Um ano depois, a ação
militar da União Ibérica na colônia foi fundamental: os holandeses foram derrotados e
abandonaram a cidade. Com o fracasso, a atenção dos holandeses voltou-se para
Pernambuco, o maior produtor de açúcar da colônia luso-espanhola.
Os novos ataques holandeses iniciaram-se em fevereiro de 1630, quando tropas da
companhia das Índias Ocidentais desembarcaram na costa pernambucana e ocuparam Recife e
Olinda, sede da capitania. Para conquistar o apoio da elite local, representada pelos senhores
de engenho, os holandeses garantiram a segurança dos que quisessem retornar a seus
engenhos. Além disso, os holandeses confiscaram e venderam tanto a compatriotas quanto a
luso-brasileiros muitos engenhos abandonados. Com isso, criaram um vínculo com os novos
proprietários, o que foi fundamental para inibir a resistência ao domínio holandês.
Em 1637, os holandeses já controlavam as zonas litorâneas das capitanias de
Pernambuco, Itamaracá, Paraíba e Rio Grande (atual estado do Rio Grande do Norte).

GOVERNO DE MAURÍCIO DE NASSAU (1637-1644)

Em 1637, a Companhia das Índias Ocidentais enviou a Pernambuco o conde João


Maurício de Nassau, com a missão de governar a área ocupada pelos holandeses − que passou
a ser chamada de Nova Holanda. Nassau estabeleceu leis, nomeou juízes e funcionários de
Justiça, implantou um sistema administrativo inspirado no modelo holandês, assegurou
liberdade de crença a todos, garantiu proteção aos judeus em suas sinagogas, estimulou a
diversificação da produção agrícola e procurou recuperar a economia açucareira.
Para tanto, permitiu que a Companhia das Índias Ocidentais concedesse empréstimos
aos senhores que necessitavam restaurar suas moendas semidestruídas durante os anos de
guerra. Além disso, entre 1630 e 1651, os holandeses trouxeram para os engenhos nordestinos
mais de 25 mil africanos escravizados.

A RESTAURAÇÃO PERNAMBUCANA

Em 1640, durante a ocupação de Pernambuco pelos holandeses, Portugal conseguiu


se livrar do domínio espanhol com a ascensão ao trono de d. João IV, da dinastia de Bragança.
O rei tentou negociar com os holandeses a devolução dos territórios conquistados no tempo em
que Portugal estava submetido aos espanhóis, mas os holandeses não cederam.
Em 1644, após Nassau voltar à Holanda, os colonos do Brasil resolveram enfrentar os
holandeses. Motivo: os preços do açúcar vinham declinando desde 1643, e os senhores de
engenho e os lavradores de cana estavam cada vez mais endividados com a Companhia das
Índias Ocidentais.
Em 13 de junho de 1645, iniciou-se a chamada Insurreição Pernambucana. João
Fernandes Vieira era o líder dos rebeldes e um dos maiores devedores dos holandeses. André
Vidal de Negreiros era o segundo no comando dos rebeldes. Os indígenas potiguares, liderados
por Felipe Camarão, e a milícia de negros forros, liderada por Henrique Dias, uniram esforços
contra os holandeses.
Essa aliança produziu o mito de que a guerra contra o invasor holandês “uniu as três
raças formadoras da nação brasileira”, sobretudo entre os historiadores do século XIX. No
entanto, houve indígenas lutando nos dois lados. Entre os potiguares, por exemplo, Pedro Poti
— primo de Filipe Camarão — lutou do lado holandês. Entre os africanos, nunca houve tantas
fugas em Pernambuco como nesse período, o que encorpou a população dos quilombos de
Palmares.
Nessa ocasião, partindo do Rio de Janeiro, Salvador Correia de Sá reconquistou
Angola, em 1648, rompendo o controle holandês sobre o tráfico africano. A economia
pernambucana sob domínio da Holanda viu-se em crescente dificuldade para obter escravos.
Em 1649, os rebeldes pernambucanos alcançaram vitória decisiva na segunda Batalha dos
Guararapes. Em 1654, tomaram o Recife e expulsaram de vez os holandeses do Brasil.
Em 1661, Portugal e Países Baixos assinaram um tratado de paz, em Haia, pelo qual
os portugueses se comprometeram a pagar uma pesada indenização aos holandeses em
dinheiro, açúcar, tabaco e sal.

II. A OCUPAÇÃO DO INTERIOR DA COLÔNIA, A MINERAÇÃO E AS ATIVIDADES


SUBSIDIÁRIAS NO PERÍODO COLONIAL.

São Vicente (SP), Olinda (PE), Filipeia de Nossa Senhora das Neves – atual João
Pessoa (PB) –, Salvador (BA) e São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ) são algumas das cidades
brasileiras fundadas pelos primeiros colonizadores. Há também cidades erguidas por jesuítas e
outros religiosos, como a vila de São Paulo de Piratininga (SP). Outras decorreram da ação dos
bandeirantes, em sua busca por riquezas e indígenas para escravizar – caso de Desterro, atual
Florianópolis (SC), Mariana (MG), Cuiabá (MT), Itu (SP), etc.
No nordeste, Campina Grande (PB), Crato (CE) e Oeiras (PI) nasceram das atividades
de criação de gado que avançaram Sertão adentro a partir do século XVII. Como veremos neste
capítulo, ao ultrapassar a linha de Tordesilhas, as bandeiras ajudaram a expandir os domínios
portugueses na América e contribuíram para a consolidação da atual extensão territorial do
Brasil.
1. EXPANSÃO NO NORTE E NORDESTE DA COLÔNIA

Até o final do século XVI, o território da colônia portuguesa na América era o mesmo
que o Tratado de Tordesilhas definira em 1494. Além disso, até o começo do século XVII, o
interior permaneceu praticamente inexplorado pelos portugueses. A Coroa portuguesa chegou a
empreender incursões, conhecidas como entradas, mas quase todas foram dizimadas por
doenças ou por ataques indígenas.
Ainda no início do século XVII, o governo da União Ibérica iniciou a colonização da
região norte do atual território brasileiro para conter o assédio de outros povos europeus. Em
1616, por exemplo, uma expedição construiu um forte na baía de Guajará, no rio Pará, em torno
do qual nasceu a atual cidade de Belém.

INTERIOR NORDESTINO

A ocupação, pelos colonizadores, das regiões mais distantes do litoral só teve início
com a introdução do gado no nordeste e o cultivo em larga escala do tabaco.
Tanto em São Vicente como na Bahia a força do gado era utilizada no transporte de
cana-de-açúcar, nas moendas dos engenhos e na aragem da terra. Com o tempo, carne e leite
bovinos tornaram-se importantes fontes de alimentação dos colonos. O surgimento de novos
engenhos no litoral, principalmente no nordeste, levou à expansão da pecuária. Criados soltos,
os rebanhos se reproduziam sem controle, derrubando cercas e destruindo plantações. Assim,
em 1701, o Governo-Geral determinou que o gado bovino fosse criado a uma distância mínima
de 10 léguas (cerca de 66 quilômetros) do litoral.
Esse foi um fator decisivo para a colonização do interior do território. A partir do
Recôncavo Baiano, estabeleceram-se currais ao longo do rio São Francisco e de seus afluentes
e, mais tarde, do rio Parnaíba. Em 1594, havia cerca de 47 currais nas margens do São
Francisco; em 1640, já eram mais de 2 mil.
De Pernambuco, o gado seguiu em direção à Paraíba, ao Rio Grande do Norte e ao
Ceará. Para quebrar a resistência dos povos indígenas à tomada de terras pelos colonos, o
Governo-Geral e os grandes fazendeiros contratavam sertanistas da capitania de São Vicente.
No curso dessas lutas, milhares de indígenas morreram ou foram escravizados.

FAZENDAS DE GADO

As fazendas de gado se estabeleciam geralmente ao longo dos rios. Suas instalações


eram simples: uma casa de barro coberta com palha ou folhas de carnaúba e um curral de
pedra ou madeira. Fazendas mais estruturadas contavam com instalações como casas de
farinha e tendas de ferreiro e de fiar algodão.
Os grandes pecuaristas permaneciam na Zona da Mata, cuidando de seus engenhos
de açúcar, e deixavam o rebanho sob a supervisão de um vaqueiro. O supervisor era auxiliado
por alguns trabalhadores livres, conhecidos como “fábricas”, e negros escravizados, indígenas e
mestiços. De acordo com a historiadora Tanya Maria Pires Brandão, os escravizados
fabricavam utensílios como selas e artefatos de madeira e barro. Em geral, depois de cinco
anos de trabalho o vaqueiro recebia crias suficientes para montar seu próprio rebanho. Já os
“fábricas” recebiam pagamento mensal ou anual.

CULTIVO DO TABACO

O cultivo de fumo (ou tabaco) foi, até o final do século XVIII, a terceira mais importante
atividade econômica da colônia. O plantio dessa espécie originária da América era considerado
simples, e os gastos com seu beneficiamento eram baixos.
Nos primeiros tempos da colonização, o tabaco era plantado em meio às hortas.
Naquela época o produto tinha ampla aceitação no mercado externo. Na África, o fumo era
utilizado como moeda no comércio de escravizados. Conforme aumentou o interesse
estrangeiro pelo produto, grandes proprietários escravistas passaram a cultivá-lo em regiões
como o Recôncavo Baiano e o litoral das capitanias de Pernambuco e Maranhão.

2. SURGIMENTO DAS BANDEIRAS

Fundado em 1554, o povoado de São Paulo de Piratininga, na capitania de São


Vicente, seria outro centro irradiador da expansão para o interior da colônia portuguesa.
Elevada à categoria de vila em 1560, São Paulo era o ponto de partida das bandeiras,
expedições armadas que conquistaram o território dos atuais estados de Mato Grosso, Paraná,
Santa Catarina e parte dos atuais Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e São Paulo. As
bandeiras eram organizadas por particulares, que, com recursos próprios, se embrenhavam
pelo Sertão em busca de ouro, prata e pedras preciosas.
Os integrantes dessas expedições ficaram conhecidos como bandeirantes.
APRESAMENTO DE INDÍGENAS

As bandeiras buscavam, além de metais e pedras preciosas, capturar indígenas e


vendê-los como escravizados para a lavoura. Algumas reuniam mais de mil pessoas na vila de
São Paulo. Geralmente descalços e armados, os bandeirantes seguiam o curso dos grandes
rios para penetrar interior adentro. Indígenas de aldeias aliadas ou assimilados à vila
participavam dessas expedições como guias, caçadores ou cozinheiros.
Os bandeirantes se beneficiaram da cultura indígena, sobretudo no que se refere ao
conhecimento da natureza, para desbravar e conquistar o interior. Também chamados de
sertanistas, eles logo descobriram o potencial da fauna e da flora. Quando os bandeirantes
retornavam, traziam centenas e até milhares de indígenas escravizados. Eram chamados pelos
bandeirantes de “negros da terra”.

CONFLITO COM OS JESUÍTAS

Os jesuítas se opunham às expedições (bandeiras). Em 1570, a Coroa portuguesa


estabeleceu que apenas indígenas capturados nas chamadas “guerras justas” poderiam ser
escravizados. Eram consideradas guerras justas aquelas que fossem iniciadas pelos indígenas
ou as que visassem punir aldeias hostis aos portugueses. Longe de proteger os indígenas, a lei
permitiu aos bandeirantes justificar todo tipo de escravização como decorrente de guerras
justas.
De início, os paulistas capturavam os indígenas próximos da vila; posteriormente,
foram procurá-los Sertão adentro; por fim, decidiram capturar os nativos que viviam em
aldeamentos jesuíticos.
Segundo o historiador John Monteiro, os paulistas costumavam cercar a aldeia e coagir
seus habitantes a acompanhá-los até São Paulo. As aldeias que oferecessem resistência eram
incendiadas e seus moradores, assassinados. Um dos principais alvos dos bandeirantes foram
as reduções dos jesuítas espanhóis em regiões onde hoje se encontram o Paraguai e os
estados do Paraná, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Os confrontos
deixaram um saldo de milhares de indígenas mortos e mais de 30 mil escravizados.
No caminho até São Paulo, muitos nativos morriam em razão dos maus-tratos.
Crianças, idosos ou enfermos acabavam assassinados no caminho. A maioria dos
sobreviventes era vendida aos agricultores paulistas. O excedente era normalmente negociado
com os donos de engenho do Rio de Janeiro e do nordeste.
Como as bandeiras ultrapassavam constantemente a linha do Tratado de Tordesilhas,
houve conflitos entre espanhóis e portugueses. As disputas pela posse da região próxima ao rio
da Prata estenderam-se por mais de um século e afetaram diretamente os indígenas que viviam
em reduções jesuíticas.

SERTANISMO DE CONTRATO

O governo-geral e os grandes proprietários de terras contratavam bandeirantes para


destruir quilombos e combater grupos indígenas considerados rebeldes. Esse tipo de serviço
ficou conhecido como sertanismo de contrato. Em 1675, bandeirantes paulistas foram enviados
ao nordeste para pôr fim à chamada Guerra dos Bárbaros (1683-1713), série de conflitos entre
colonizadores luso-brasileiros e indígenas que já viviam no interior dos atuais estados do Ceará,
Paraíba e Rio Grande do Norte. Além disso, sertanistas foram os principais responsáveis pela
destruição do Quilombo dos Palmares.

3. OURO E DIAMANTES DO BRASIL

O fim da União Ibérica em 1640 e a consequente ascensão ao poder da dinastia de


Bragança criaram mais problemas do que soluções para Portugal. Além de enfrentar uma longa
guerra contra a Espanha, que se prolongou, com enorme custo, até 1668, os portugueses foram
obrigados a pagar indenizações à Holanda depois da vitória na Insurreição Pernambucana, em
1654, sob o risco de suas colônias e navios serem atacados pela poderosa marinha flamenga.
A situação se agravou na segunda metade do século XVII. Apesar da recuperação das
capitanias açucareiras do Brasil, os portugueses tiveram de conviver com a concorrência do
açúcar produzido nas Antilhas inglesas, francesas e holandesas. Os mercadores holandeses,
por exemplo, eram os maiores distribuidores do açúcar na Europa e, obviamente, priorizaram a
mercadoria de suas ilhas caribenhas depois de expulsos do Brasil.
Na década de 1690, um fato espetacular mudou totalmente esse quadro de penúria: a
descoberta de uma quantidade até então nunca vista de ouro de aluvião no interior do Brasil,
numa região que passou a ser conhecida como Minas Gerais. Uma onda impressionante de
aventureiros do Brasil e de Portugal se dirigiu para o lugar em busca do metal precioso que, de
tão abundante, parecia inesgotável.
Os bandeirantes paulistas estavam acostumados, desde o século XVI, a armar
expedições ao interior do território para escravizar indígenas, e foram eles os responsáveis pela
descoberta do ouro. Os paulistas solicitaram o monopólio das explorações, não sendo
atendidos. Não puderam controlar a entrada dos emboabas (estrangeiros), como eram
denominados pelos paulistas os portugueses vindos do reino e os que chegavam de outras
capitanias.
Em 1707, estourou a chamada Guerra dos Emboabas, que durou até 1709, com a
derrota dos paulistas. Para melhorar a arrecadação dos impostos e submeter a população, em
1709 foi criada a capitania de São Paulo e Minas do Ouro separada da capitania do Rio de
Janeiro. Surgiram vilas e outros núcleos urbanos para receber a burocracia administrativa e o
aparelho fiscal.
Apesar de vencidos e, num primeiro momento, expulsos das áreas de conflito (vales do
rio das Velhas e do rio das Mortes), o fato era que somente os paulistas tinham experiência em
encontrar jazidas de ouro. Foram formalmente perdoados pelo governador da nova capitania, o
Conde de Assumar, em 1717. Os dirigentes metropolitanos não só reconheciam sua
competência nas explorações, mas também avaliavam que somente com eles não era possível
organizar estabelecimentos fortes e duradouros.
Logo que se esgotava uma mina, saíam em busca de novos veios. Assim, os paulistas
foram obrigados a compartilhar a exploração do ouro com os emboabas. Mas mantiveram suas
andanças exploratórias, descobrindo campos auríferos ainda em Goiás e Mato Grosso.

ORGANIZANDO A EXPLORAÇÃO

O governo tomou diversas e duras medidas para controlar a região aurífera. Criou em
1702 a Intendência das Minas, órgão que tinha entre suas funções zelar pela cobrança do
quinto real, reprimir o contrabando e repartir os lotes de terras minerais – denominados datas.
Quando da descoberta de algum veio aurífero, o descobridor deveria comunicar o fato
às autoridades. Em tese, todas as jazidas eram propriedade do rei, que poderia conceder a
particulares o direito de explorá-las. O intendente, então, repartia as datas, sorteando-as aos
solicitantes. O descobridor escolheria as duas datas que mais lhe interessassem, livrando-se do
sorteio. O Guarda-Mor da Intendência escolhia, em nome da Fazenda Real, a data do rei, que
era leiloada e arrematada por particulares, os contratadores, em troca de um pagamento.
Só podiam solicitar datas os proprietários de escravos. Cada escravo representava, em
medidas da época, o equivalente a 5,5 metros de terreno, e um proprietário poderia ter no
máximo 66 metros em quadra, denominada data inteira.
Para explorar as jazidas das datas, organizavam-se as lavras, forma de exploração em
grande escala com aparelhamento para a lavagem do ouro. O ouro encontrado fora das datas,
em locais franqueados a todos, era minerado pelos faiscadores, homens que utilizavam
somente alguns instrumentos de fabricação simples, como a bateia e o cotumbê, trabalhando
por conta própria.
Foram criadas ainda as Casas de Fundição, vinculadas às Intendências. Elas deviam
recolher, fundir e retirar o quinto da Coroa, transformando-o em barra, única forma autorizada
para a circulação do metal fora da capitania.
Desde o início, a mineração exigiu maior centralização administrativa, o que
diferenciava as Minas de outras regiões exportadoras da Colônia. As Intendências, por
exemplo, eram subordinadas diretamente à metrópole, e não às autoridades coloniais.
A descoberta de diamantes, em 1729, no que então passou a chamar-se Distrito
Diamantino, com sede no Arraial do Tejuco, provocou medida ainda mais drástica: o ir e vir de
pessoas ficou condicionado à autorização do intendente.

VOÇÊ SABIA?
EM DIAMANTINA: CHICA DA SILVA

Francisca era filha da negra Maria da Costa e do português Antônio Caetano de Sá.
Escrava de Manuel Pires Sardinha, com ele teve um filho, Simão, libertado pelo pai quando
batizado.
Em 1753, foi comprada e alforriada pelo contratador de diamantes João Fernandes de
Oliveira, português. Adotou o nome de Francisca da Silva de Oliveira e viveu com o contratador
entre 1753 e 1770, em um relacionamento estável que resultou em treze filhos. João Fernandes
reconheceu – legitimou – todos os filhos, prática comum na época, mas não se casou com
Chica da Silva, nome pelo qual ficou conhecida.
Chica adotou os costumes dos grupos de elite de Minas Gerais. Aprendeu a ler e a
escrever, foi proprietária de vários escravos e de uma casa com capela.
João Fernandes teve de voltar a Portugal em 1770, mas manteve contato e deu apoio
a todos os filhos, concedendo dotes às filhas que casaram com pessoas da elite.
Chica morreu em 1796, recebendo cortejo fúnebre como pessoa de importância. Chica
da Silva teve uma história de vida parecida com as de algumas ex-escravas do período colonial
do Brasil. Após se libertar do cativeiro, conseguiu ascender socialmente e usufruir o prestígio
reservado aos membros mais proeminentes da sociedade de Minas Gerais, mesmo não sendo
casada pelos laços sagrados do matrimônio católico.
Esse esboço de sua vida contrasta com a imagem divulgada no Brasil até pouco tempo
atrás: a de uma mulher sensual e lasciva.

A INTEGRAÇÃO DA ECONOMIA COLONIAL


Na época da descoberta do ouro, havia dois caminhos que levavam às Gerais: um que
partia de São Paulo (que ficou conhecido como Caminho Velho das Gerais) e outro do porto de
Parati; eles se encontravam na serra da Mantiqueira. Para ir do Rio de Janeiro às Minas, o
viajante tinha de ir de barco até Parati e, de lá, após atravessar a serra do Mar, encontrar o
caminho de São Paulo. Era um caminho muito acidentado e, para percorrê-lo, demorava cerca
de dois meses, viajando-se, como era o costume, até o meio-dia.
Foi determinada a construção de uma nova via, ligando diretamente a cidade do Rio de
Janeiro às Minas de Ouro, conhecida como Caminho Novo das Gerais.
Em todos os caminhos foram estabelecidos registros, que funcionavam como postos
de fiscalização e de cobrança de taxas sobre os produtos vendidos na região. Era tarefa dos
agentes conferir se o ouro que era transportado para o Rio de Janeiro havia sido tributado.
Também os registros foram objetos de contratos entre a Real Fazenda e particulares
(contratadores), que poderiam, por um certo tempo, explorar a arrecadação.
O ouro do Brasil permitiu à Coroa portuguesa considerável aumento de suas rendas.
Sua exploração possibilitou ainda uma maior ocupação do interior do Brasil, empurrando cada
vez mais os limites da linha de Tordesilhas para o oeste. Incentivou, também, o surgimento de
atividades econômicas complementares à mineração, como a criação de mulas no Rio Grande
do Sul, os únicos animais capazes de transportar mercadorias nos íngremes caminhos das
Minas.
O declínio da mineração foi tão rápido quanto o aumento de sua produção. Em 1780, a
renda obtida com a mineração era menos da metade do que em seu apogeu, trinta anos antes.
Esse declínio se deveu, basicamente, ao fato de a maior parte do ouro das Minas ser de
aluvião, facilmente encontrado e extraído e rapidamente esgotado.

MINAS GERAIS: UMA SOCIEDADE “ALUVIAL” E URBANA

O ouro de aluvião é encontrado em depósitos de cascalho, areia e argila que se


formam junto às margens dos rios, sendo de fácil e barata extração – ao contrário da prata do
Peru e do México, encontrada em grandes profundidades da terra e que exigia altos
investimentos para ser extraída.
Apesar de o escravo ter sido a principal mão de obra na mineração do Brasil, a
facilidade da extração do ouro de aluvião fez com que milhares de pessoas sem grandes
posses tentassem a sorte na região das minas. A migração para o Brasil na “idade do ouro” foi
tamanha que as autoridades portuguesas chegaram a temer que Portugal ficasse despovoado
de população masculina.
Uma lei de 1720 proibiu o embarque de portugueses para o Brasil, exceto para ocupar
cargo público. A lei era frequentemente burlada, mas restringiu um pouco a migração. A
mineração estimulou o tráfico de cativos da África, fazendo de Minas Gerais uma das regiões
com a maior concentração de escravos da Colônia, somente atrás da Bahia e do Rio de
Janeiro.
Segundo o historiador Sérgio Buarque de Holanda, na época do auge do ouro, um
terço da população das minas se dedicava à exploração do metal precioso. Os demais estavam
ligados ao comércio, à lavoura de alimentos, ao tropeirismo (transporte de mercadorias através
de tropas de mulas), ao artesanato e às profissões liberais.
O expressivo mercado interno e a maior centralização administrativa teriam criado em
Minas Gerais uma sociedade com características urbanas, diferente das outras regiões
coloniais, dominadas pelo mundo rural. Minas se distinguiria do resto do Brasil por ser uma
sociedade mais diversificada e com hierarquias mais fluidas. Uma sociedade de meio “aluvial”,
como bem caracterizou Sérgio Buarque de Holanda.

4. AJUSTES COLONIZADORES: AS REFORMAS POMBALINAS

A exploração de ouro e diamantes no Brasil permitiu ao governo português resolver por


bom tempo o problema do déficit de sua balança comercial. A economia portuguesa era
dependente das importações, sobretudo de trigo e têxteis.
O Tratado de Methuen, firmado em 1703 entre os governos português e inglês,
favoreceu em grande medida essa transferência, pois isentava de tributos os tecidos de lã
britânicos vendidos em Portugal e, em contrapartida, os vinhos portugueses exportados para a
Grã-Betanha.
Porém, Portugal precisava muito mais de tecidos que a Inglaterra de vinhos. E, não
satisfeitos, os mercadores ingleses também contrabandeavam barras de ouro em seus navios
de guerra, oficialmente isentos de vistoria. Assim, grande parte do ouro foi transferida para
outros reinos, principalmente a Grã-Bretanha. Além disso, o longo reinado de d. João V foi um
período de extravagâncias, em que foram erigidas construções imponentes – como as do
Palácio e Real Convento de Mafra e do Aqueduto das Águas Livres – e montadas magníficas
bibliotecas, como a de Coimbra, a de Mafra e a do Colégio Oratoriano de Lisboa.
Nas duas audiências públicas semanais, o rei dava moedas de ouro aos pobres. Em
outras palavras, a maior parte do ouro arrecadado pela Coroa foi utilizada em obras suntuosas
de elevado custo. Muitos estrangeiros, na época, criticavam essa escolha, pois achavam que o
rendimento do ouro deveria ser investido na economia.
A Coroa portuguesa continuou dependente dos rendimentos de suas colônias de além-
mar e das importações, para suprir as necessidades do mercado interno. D. João V morreu, em
1750, deixando o governo atolado em dívidas. O reino que d. José I assumiu naquele ano
estava economicamente comprometido. Várias autoridades das Minas Gerais já informavam
que a produção do ouro estava em declínio.

O TERREMOTO DE LISBOA E A ASCENSÃO DE POMBAL

Nesse contexto, Sebastião José de Carvalho e Melo se tornou o ministro mais


importante do reinado de d. José I. Conhecido como Marquês de Pombal (título obtido só em
1770), seu prestígio cresceu após o terremoto que sacudiu Lisboa em 1755. O abalo sísmico,
agravado por inúmeros incêndios, destruiu quase dois terços da cidade, arrasando igrejas,
casas e prédios públicos.
Cerca de 10 mil pessoas morreram no dia da catástrofe, e milhares ficaram
desabrigadas. O rei, forçado a abandonar o Palácio da Ribeira, mandou erigir um complexo de
tendas no alto da freguesia da Ajuda, de onde despachava com seus ministros. O novo
“palácio” acabou conhecido como “Real Barraca da Ajuda”!
O futuro Marquês de Pombal convenceu o rei a reconstruir Lisboa, em vez de transferir
a capital para Coimbra, como alguns sugeriam. O ministro tornou-se, a partir de então, o real
governante de Portugal, conduzindo o Estado com mão de ferro até a morte de d. José I, em
1777.

AS COMPANHIAS DE COMÉRCIO

O período pombalino causou enorme impacto em Portugal e suas colônias. A política


econômica do ministro foi traçada para fortalecer as finanças reais e incentivar o comércio.
A algumas companhias privilegiadas foi concedido o monopólio do comércio de uma
região ou produto por prazo determinado. Assim surgiram as Companhias de Comércio do
Estado do Grão-Pará e do Maranhão (1755), da Pesca das Baleias (1756), de Agricultura das
Vinhas do Alto Douro (1756) e de Pernambuco e Paraíba (1759). A criação dessas companhias
descontentou uma infinidade de comerciantes de Portugal, da África, da Ásia e do Brasil.
Igualmente polêmico foi o incentivo às manufaturas em Portugal, por meio de
empréstimos e isenções fiscais concedidos aos fabricantes de têxteis, ferragens, vidros, louças
e papel. Nesse caso os descontentes foram os comerciantes que lidavam com importação.
As tentativas para modernizar a economia portuguesa incluíram ainda a criação de
escolas de comércio e de leis restritivas à escravidão no reino (1761). Uma decisão importante
foi a abolição da diferença entre cristãos-velhos e cristãos-novos (1773), livrando os
comerciantes de origem judaica da ameaça inquisitorial. Tratava-se de uma política de
aproximação entre o Estado e os comerciantes – muitos dos quais eram cristãos-novos –, e
resultou no progressivo enfraquecimento da Inquisição.
A oposição ao ministro se manifestou em muitos lugares, até mesmo com revoltas e
motins. Mas ele suprimiu toda e qualquer contestação com máximo rigor, chegando a prender
ou mandar executar diversos opositores. A nobreza tradicional, provocada pelo ministro desde o
início do reinado de d. José I, era um de seus mais fortes opositores. Pombal havia restringido,
por exemplo, a importação de tecidos, carruagens e móveis, atingindo os hábitos de consumo
aristocráticos.
Após 1755, o ministro passou a nomear somente pessoas de sua confiança para os
cargos-chave do Estado, contrariando as tradicionais indicações da alta nobreza – que também
não tolerava o fato de o filho de um modesto fidalgo de província exercer tamanho poder no
reino português.

ADMINISTRAÇÃO POMBALINA NA COLÔNIA

O ministro dedicou grande atenção ao mundo colonial, em especial ao Brasil. Extinguiu


e criou órgãos, sempre com o objetivo de centralizar o poder na metrópole, reduzindo a
autonomia local. Transformou as capitanias hereditárias que ainda estavam em mãos de
particulares em capitanias reais. Transferiu a capital de Salvador para o Rio de Janeiro e elevou
o Brasil à categoria de Vice-Reinado.
Além de criar as companhias de comércio, promulgou o Diretório dos Índios, passando
a jurisdição dos aldeamentos indígenas, antes sob controle de ordens religiosas, para
funcionários reais (diretores). Converteu os indígenas em “súditos livres da Coroa” e proibiu o
ensino da língua geral, tornando obrigatório o aprendizado da língua portuguesa.
Adepto dos ideais iluministas e do estímulo ao comércio, Pombal estava convencido de
que os privilégios da nobreza deviam ser restringidos. Acreditava, também, que os jesuítas
detinham um poder exagerado, sujeitando-se pouco à Coroa portuguesa.
Em 1759, Pombal expulsou os jesuítas do império português e confiscou todos os bens
da Companhia de Jesus. Uma das principais consequências desse ato foi a reforma do ensino,
sobretudo a do currículo da Universidade de Coimbra: o ensino passou a priorizar as Ciências
Naturais, a Filosofia e a Matemática. Pombal estava determinado a secularizar a sociedade
portuguesa, isto é, a remover a forte influência do poder eclesiástico e da religião nos negócios
do Estado.
Em resumo, a política pombalina foi conduzida com determinação e violência.

DIALOGANDO COM A ARTE


O BARROCO NO BRASIL

O estilo barroco da Europa havia sido reproduzido por diversos artistas, que recebiam
os ensinamentos de mestres em oficinas de talha e escultura espalhadas pelas cidades da
colônia. As obras dos artistas de Minas Gerais também sofreram influência desse estilo, mas
foram elaboradas com materiais existentes no Brasil, como a pedra-sabão.
A principal expressão artística do Brasil no século XVIII foi a obra de Antônio
Francisco Lisboa, o Aleijadinho.
Os dados de sua vida não são bem conhecidos. Consta que nasceu em Vila Rica, filho
de um arquiteto português e de sua escrava, nascida na África. Era, portanto, um mestiço. Teria
nascido em 1730 e falecido em 1814.
Aleijadinho foi vítima de uma doença que lhe consumia os dedos dos pés e das mãos.
Foi escultor, entalhador e arquiteto. Projetou a igreja de São Francisco de Assis, de Vila Rica
(atual Ouro Preto). Sua obra mais conhecida é o conjunto de estátuas dos doze profetas de
Congonhas do Campo, em Minas Gerais, todas em pedra-sabão.
Valentim da Fonseca e Silva, o Mestre Valentim, outro artista de porte e da mesma
época, também natural de Minas Gerais e mestiço, foi o idealizador e criador do Passeio
Público do Rio de Janeiro, de diversos chafarizes em ferro fundido e de imagens sacras. Assim
como Aleijadinho e muitos outros, suas origens não são conhecidas. Presume-se que tenha
nascido em Serro do Frio, em Minas Gerais, em torno de 1745, e falecido no Rio de Janeiro, em
1813.

Pintura realizada no teto da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto. Esta
igreja é obra de Aleijadinho e a pintura é de Ataíde, em que a questão étnica é evidente,
pois tanto Nossa Senhora como os anjos são representados como se fossem mulatos.

Exemplo da arquitetura civil nas Minas do século XVIII é a Casa da Câmara e Cadeia,
hoje Museu da Inconfidência, localizada em Ouro Preto.
A produção colonial brasileira nos dois primeiros séculos era
caracterizada
(A) pelo projeto de instalação de várias manufaturas
1. Se o açúcar do Brasil o tem dado a conhecer a todos os voltadas para o refino do açúcar.
reinos e províncias da Europa, o tabaco o tem feito (B) pelo estabelecimento de um regime fundamentado
muito afamado em todas as quatro partes do mundo, à diversificação de produtos agrícolas.
nas quais hoje tanto se deseja e com tantas diligências e (C) pela adoção de uma política colonial baseada na
por qualquer via se procura. Há pouco mais de cem monocultura e no trabalho escravo.
anos que esta folha se começou a plantar e beneficiar (D) por adotar práticas do liberalismo econômico em
na Bahia [...] e, desta sorte, uma folha antes desprezada relação aos comércios interno e externo.
e quase desconhecida tem dado e dá atualmente (E) por uma orientação colonial baseada na pequena
grandes cabedais aos moradores do Brasil e incríveis propriedade rural para o abastecimento interno.
emolumentos aos Erários dos príncipes.
ANTONIL André João. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. 4. A família patriarcal fornece, assim, o grande modelo por
São Paulo: EDUSP, 2007. Adaptado. onde se hão de calcar, na vida política, as relações entre
governantes e governados, entre monarcas e súditos.
O texto acima, escrito por um padre italiano em 1711, revela HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo:
que Companhia das Letras, 1995. p. 85.
(A) o ciclo econômico do tabaco, que foi anterior ao do O fragmento do texto sugere que,
ouro, sucedeu o da cana-de-açúcar. (A) na formação da sociedade brasileira, as relações de
(B) todo o rendimento do tabaco, a exemplo do que parentesco e amizade foram abandonadas no
ocorria com outros produtos, era direcionado à equilíbrio social.
metrópole. (B) na implantação do Estado-nação, evidencia-se o
(C) não se pode exagerar quanto à lucratividade distanciamento dos padrões ligados a
propiciada pela cana-de-açúcar, já que a do tabaco, comportamento e costumes.
desde seu início, era maior. (C) na composição das relações de poder, constata-se
(D) os europeus, naquele ano, já conheciam a presença de padrões de tradição e de liderança
plenamente o potencial econômico de suas colônias familiar.
americanas. (D) na definição da organização estatal, as estruturas
(E) a economia colonial foi marcada pela sociais foram reguladas pelo exercício da justiça.
simultaneidade de produtos, cuja lucratividade se (E) na construção do Estado nacional, as relações de
relacionava com sua inser-ção em mercados poder foram isentas da influência das células
internacionais. familiares.

2. Quando Portugal dividiu o Brasil em capitanias, entre os 5. O açúcar e suas técnicas de produção foram levados à
direitos dos donatários estava o de escravizar os nativos Europa pelos árabes no século VIII, durante a Idade
e exportá-los para a Europa. Esse direito vacilou ao Média, mas foi principalmente a partir das Cruzadas
longo das décadas seguintes, com Estado e Igreja (séculos XI e XIII) que a sua procura foi aumentando.
oscilando entre o desejo de protegê-los e a pressão Nessa época passou a ser importado do Oriente Médio
populacional pela necessidade de mão de obra. A e produzido em pequena escala no sul da Itália, mas
cultura da cana-de-açúcar não teria sido possível de continuou a ser um produto de luxo, extremamente caro,
outra forma. Aos portugueses não havia caminho de chegando a figurar nos dotes de princesas casadoiras.
sustento que não a lavoura de açúcar, imensamente CAMPOS, R. Grandeza do Brasil no tempo de Antonil (1681-1716). São Paulo:
Atual, 1996.
lucrativa, mas muito trabalhosa.
DORIA, Pedro. 1565: Enquanto o Brasil nascia: a aventura de portugueses,
franceses, índios e negros na fundação do país. Considerando o conceito do Antigo Sistema Colonial, o
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. açúcar foi o produto escolhido por Portugal para dar início à
colonização brasileira, em virtude de
Segundo o texto anterior, a cultura da cana-de-açúcar no (A) o lucro obtido com o seu comércio ser muito
Brasil vantajoso.
(A) sofreu perdas com a falta de investimentos da (B) os árabes serem aliados históricos dos
Coroa. portugueses.
(B) foi favorecida pelo processo de escravização (C) a mão de obra necessária para o cultivo ser
indígena. (D) as feitorias africanas facilitarem a comercialização
(C) concorreu com a exportação de indígenas para a desse produto.
Europa. (E) os nativos da América dominarem uma técnica de
(D) teve início antes das capitanias hereditárias serem cultivo semelhante.
instaladas.
(E) permaneceu limitada aos domínios territoriais 6. Na verdade, o que Portugal queria para sua colônia
interioranos. americana era que fosse uma simples produtora e
fornecedora dos gêneros úteis ao comércio
3. As primeiras mudas de cana-de-açúcar foram plantadas metropolitano e que se pudessem vender com grandes
em 1553 na capitania de São Vicente. Foram trazidas lucros nos mercados europeus. Este será o objetivo da
pelos colonos que chegaram com Martim Afonso de política portuguesa até o fim da Era Colonial. E tal
Souza. Em pouco tempo, o açúcar passou a ser a mais objetivo ela o alcançaria plenamente, embora
importante atividade comercial da colônia, superando a mantivesse o Brasil, para isto, sob um rigoroso regime
extração de pau-brasil. de restrições econômicas e opressão administrativa; e
MARTINS, Ulisses. Economia açucareira e mineradora. Educação. Seção abafasse a maior parte das possibilidades do país.
História. Disponível em: <http://educacao.globo.com>. Acesso em: 5 nov.
PRADO, Júnior, C. História do Brasil.
2015.

Pela leitura do texto, podemos concluir que


(A) apesar de o Brasil ser uma colônia de exploração, (A) permitiu tanto o surgimento de uma ampla camada
os princípios mercantilistas não foram aplicados de pequenos proprietários, cuja produção se voltava
aqui com rigor, o que possibilitou o desenvolvimento para o mercado interno, quanto a implementação de
de atividades que visavam ao crescimento da sólidas parcerias comerciais com o restante da
Colônia. América.
(B) mesmo tendo a Metrópole se afastado dos (B) determinou tanto uma rigorosa hierarquia
princípios econômicos do sistema colonial, os seus nobiliárquica nas terras coloniais, quanto o confisco
objetivos foram plenamente alcançados. total e imediato das terras comunais cultivadas por
(C) apesar de a colonização atender aos princípios grupos indígenas ao longo do litoral brasileiro.
mercantilistas, estes, em grande parte, não foram (C) envolveu tanto a cessão vitalícia do usufruto de
respeitados, uma vez que a economia colonial se terras que continuavam a ser propriedades da
voltou mais para o comércio interno. Coroa, quanto a orientação principal do uso da terra
(D) a metrópole se interessava pelo desenvolvimento para a monocultura exportadora.
econômico da Colônia e, por isso, preocupava-se (D) garantiu tanto a prevalência da agricultura de
em incentivar toda atividade que explorasse os subsistência, quanto a difusão, na região amazônica
recursos que viessem a beneficiar a terra. e nas áreas centrais da colônia, das práticas da
(E) a montagem da empresa colonial obedecia aos pecuária e da agricultura de exportação.
princípios do mercantilismo e, nesse sentido, Lisboa (E) assegurou tanto o predomínio do minifúndio no
preocupou-se em incentivar na Colônia as Nordeste brasileiro, quanto uma regular distribuição
atividades complementares à economia de terras entre camponeses no Centro-Sul, com o
metropolitana. objetivo de estimular a agricultura de exportação.

7. Se eu pudesse alguma coisa para com Deus, lhe rogaria 9. Os escravos são as mãos e os pés do senhor de
muita geada nas terras de serra acima, porque a cultura engenho, porque sem eles no Brasil não é possível
da cana nessas terras, onde se faz o açúcar, tem fazer, conservar e aumentar a fazenda, nem ter engenho
abandonado ou diminuído a cultura do milho e do feijão corrente. E do modo como se há com eles, depende tê-
e a criação dos porcos; estes gêneros têm encarecido, los bons ou maus para o serviço. Por isso, é necessário
assim como o trigo, o algodão e o azeite de mamona; comprar cada ano algumas peças e reparti-las pelos
tem introduzido muita escravatura, o que empobrece os partidos, roças, serrarias e barcas. E porque comumente
lavradores, corrompe os costumes e leva ao desprezo são de nações diversas, e uns mais boçais que outros e
pelo trabalho de enxada; tem devastado as matas e de forças muito diferentes, se há de fazer a repartição
reduzido a taperas muitas herdades; tem roubado com reparo e escolha, e não às cegas. No Brasil,
muitos braços à agricultura, que se empregam no costumam dizer que para o escravo são necessários
carreto dos africanos; tem exigido grande número de PPP, a saber, pau, pão e pano. E, posto que comecem
mulas que não procriam e consomem muito milho. mal, principiando pelo castigo que é o pau, contudo,
(Adaptado de José Bonifácio de Andrada e Silva, Projetos para o Brasil. São prouvera a Deus que tão abundante fosse o comer e o
Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 181-182.)
vestir como muitas vezes é o castigo, dado por qualquer
causa pouco provada, ou levantada; e com instrumentos
De acordo com o texto acima, podemos concluir que, para
de muito rigor, ainda quando os crimes são certos, de
José Bonifácio, o cultivo da cana-de-açúcar:
que se não usa nem com os brutos animais.
(A) estimulava o desenvolvimento da economia, pois (Adaptado de: ANTONIL, A. J. Cultura e opulência do Brasil por suas
exigia maior emprego de escravos na agricultura, drogas e minas. 3.ed. Belo Horizonte: Itatiaia/Edusp, 1982. p.89. Coleção
intensificando o comércio de africanos. Reconquista do Brasil. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/
download/texto/bv000026.pdf>. Acesso em: 1 ago. 2012.)
(B) favorecia o desenvolvimento social, pois o
encarecimento de gêneros como milho, feijão,
No fragmento sobre a escravidão no Brasil, o autor
porcos e trigo levava ao enriquecimento de
(A) minimiza a importância do trabalho escravo na
pequenos proprietários rurais.
economia.
(C) prejudicava a economia do país, pois desestimulava
(B) ressalta a inferioridade religiosa dos negros.
o cultivo de outros produtos agrícolas, encarecendo
(C) assegura que as punições evitavam a
os gêneros alimentícios.
desobediência dos escravos.
(D) prejudicava o meio ambiente, pois devastava as
(D) enfatiza as boas condições de alimentação dos
matas e reduzia o cultivo de milho, o que dificultava
cativos.
a procriação das mulas.
(E) sugere que os senhores muitas vezes exageram
(E) prejudicava o crescimento da ciência agrícola, pois
nos castigos físicos.
desacreditava as técnicas mercantilistas que
orientavam o mundo do açúcar, o que garantia
10. "[...] assistimos no final do século XVII, após a
padrões cumulativos.
descoberta das minas, não a uma nova configuração da
vila nem à ruptura brusca com o padrão anterior, ao
8. O Brasil colonial foi organizado como uma empresa
contrário, à consolidação de todo um processo de
comercial resultante de uma aliança entre a burguesia
expansão econômica, de mercantilização e de
mercantil, a Coroa e a nobreza. Essa aliança refletiu-se
concentração de poder nas mãos de uma elite local. A
numa política de terras que incorporou concepções
articulação com o núcleo mineratório dinamizará este
rurais tanto feudais como mercantis.
COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República, 1987. quadro, mas não será, de forma alguma, responsável
por sua existência."
BLAJ, Ilana. A trama das tensões. São Paulo: Humanitas, 2002, p.125.
A constatação de que \"Essa aliança refletiu-se numa política
de terras que incorporou concepções rurais tanto feudais
As transformações citadas no texto se relacionam ao
como mercantis\" justifica-se, pois a política de terras
processo de consolidação da economia mineradora no
desenvolvida por Portugal durante a colonização brasileira
Brasil, dentre as quais se destaca
(A) o reforço do caráter litorâneo da colonização (C) A luta dos emboabas ilustra o processo de
portuguesa em função do apogeu da cana de conquista de fronteiras do império português nas
açúcar e da busca de pau-brasil. Américas, enquanto na África os portugueses se
(B) o enfraquecimento do trabalho escravo na Região retiravam definitivamente, no século XVIII.
Sudeste em função da rápida mobilidade social na (D) A monarquia portuguesa administrava territórios
região. distintos e vários sujeitos sociais, muitos deles em
(C) a intensificação do comércio e da vida urbana, e a disputa entre si, como paulistas e emboabas,
articulação de um mercado interno tendo como foco ambos súditos da Coroa.
o Centro-Sul. (E) A monarquia portuguesa pouco interferiu nas
(D) a queda do perfil demográfico da região da relações entre paulistas e forasteiros mantendo-se
mineração em função das severas leis impostas em um padrão imparcial de administração.
pelo Estado português.
(E) a manutenção da Zona da Mata Nordestina como 13. A invasão holandesa fez parte do projeto de ocupação e
centro dinâmico da economia devido às suas administração do Nordeste brasileiro por meio da
relações políticas com a região das minas. Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. Após a
União Ibérica, a Holanda resolveu enviar suas
11. expedições militares para a conquista da Região
Nordeste. O objetivo dessa nação era restabelecer o
comércio do açúcar com o Brasil, proibido pela Espanha.
Em 1637, a Holanda enviou o conde Maurício de
Nassau para administrar as terras conquistadas e
estabelecer uma colônia no Brasil. Até 1654, os
holandeses dominaram grande parte do território
nordestino.
Sobre a administração de Nassau no Nordeste do Brasil,
é correto afirmar que
(A) estabeleceu relação violenta entre holandeses e
senhores de engenho brasileiros, destruindo-os e
trazendo novos colonos para a região.
(B) incentivou empréstimos à mineração e
desestruturou os engenhos de açúcar do Nordeste,
mudando o eixo econômico para o Sudeste.
(C) introduziu inovações com relação à fabricação de
açúcar, destruindo a lavoura canavieira e passando
PRADO JUNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, a produzir açúcar de beterraba.
2006. (D) favoreceu um clima de intolerância e falta de
liberdade religiosa, impondo a todos o islamismo,
A análise do mapa permite concluir que, durante a religião predominante na Holanda até os dias
mineração, atuais.
(A) foram construídas ferrovias para interligar as (E) modernizou a cidade de Recife, construindo diques,
regiões produtoras. canais, pontes e jardins, organizou os sistemas de
(B) desenvolveu-se um mercado interno para abastecer coleta de lixo e determinou a construção de um
a região mineradora. jardim botânico.
(C) foi estabelecido o sistema de porto único,
semelhante ao das colônias espanholas. 14. \"... todos os gêneros produzidos junto ao mar podiam
(D) incentivou-se a entrada de imigrantes platinos para conduzir-se para a Europa facilmente e os do sertão,
servir de mão de obra nas minas. pelo contrário, nunca chegariam a portos onde os
(E) foi estabelecida uma malha rodoviária ligando as embarcassem, ou, se chegassem, seria com despesas
regiões produtoras à capital da colônia. tais que aos lavradores não faria conta largá-los pelo
preço por que se vendessem os da Marinha. Estes
foram os motivos de antepor a povoação da costa à do
12. Emboaba: nome indígena que significa \"o estrangeiro\", sertão.\"
atribuído aos forasteiros pelos paulistas, primeiros (Frei Gaspar da Madre de Deus, em 1797.)
povoadores da região das minas. Com a descoberta do A leitura do fragmento nos permite inferir que no período
ouro em fi ns do século XVII, milhares de pessoas da colonial brasileiro:
colônia e da metrópole vieram para as minas, causando (A) a existência de um mercado interno era impedida
grandes tumultos. Formaram-se duas facções, paulistas pelas dificuldades geográficas.
e emboabas, que disputavam o governo do território, (B) a colonização possuiu por muito tempo um caráter
tentando impor suas próprias leis. litorâneo.
(Adaptado de Maria Beatriz Nizza da Silva (coord.), Dicionário da História da (C) a especulação sobre o preço dos alimentos era uma
Colonização Portuguesa prática comum.
no Brasil. Lisboa: Verbo, 1994, p. 285.)
(D) o sertão era economicamente mais importante do
que o litoral.
Sobre o período em questão, é correto afirmar que:
(E) o Brasil era um importante mercado consumidor da
(A) As disputas pelo território emboaba colocaram em
Europa.
confronto paulistas e mineiros, que lutaram pela
posse e exploração das minas.
(B) A região das minas foi politicamente convulsionada
desde sua formação, em fi ns do século XVII, o que
explica a resistência local aos inconfidentes
mineiros.
15. Os tropeiros foram figuras decisivas na formação de (D) tiveram papel decisivo no êxito da catequese
vilarejos e cidades do Brasil colonial. A palavra tropeiro indígena.
vem de "tropa" que, no passado, se referia ao conjunto (E) propiciaram o desenvolvimento da urbanização da
de homens que transportava gado e mercadoria. Por Região Amazônica.
volta do século XVIII, muita coisa era levada de um lugar
a outro no lombo de mulas. O tropeirismo acabou 17.
associado à atividade mineradora, cujo auge foi a
exploração de ouro em Minas Gerais e, mais tarde, em
Goiás. A extração de pedras preciosas também atraiu
grandes contingentes populacionais para as novas áreas
e, por isso, era cada vez mais necessário dispor de
alimentos e produtos básicos. A alimentação dos
tropeiros era constituída por toucinho, feijão preto,
farinha, pimenta-do-reino, café, fubá e coité (um molho
de vinagre com fruto cáustico espremido). Nos pousos,
os tropeiros comiam feijão quase sem molho com
pedaços de carne de sol e toucinho, que era servido
com farofa e couve picada. O feijão tropeiro é um dos
pratos típicos da cozinha mineira e recebe esse nome
porque era preparado pelos cozinheiros das tropas que
conduziam o gado.
Disponível em:http://www.tribunadoplanalto.com.br. Acesso em: 27 nov. 2008.

A criação do feijão tropeiro na culinária brasileira está


relacionada à
(A) atividade comercial exercida pelos homens que
trabalhavam nas minas.
(B) atividade culinária exercida pelos moradores Mapa das Cortes [Mapa do Rio de Janeiro]. Mapoteca do Itamaraty, Rio de
cozinheiros que viviam nas regiões das minas. Janeiro.
(C) atividade mercantil exercida pelos homens que
transportavam gado e mercadoria. Esse mapa serviu de base aos representantes das Coroas
(D) atividade agropecuária exercida pelos tropeiros que portuguesa e espanhola para o estabelecimento do Tratado
necessitavam dispor de alimentos. de Madrid, assinado em 1750, que definiu os novos limites
(E) atividade mineradora exercida pelos tropeiros no na América entre as terras pertencentes a Portugal e à
auge da exploração do ouro. Espanha.

16. Bandeiras e expedições de apresamento (1500-1720) Considerando-se o processo de formação territorial do Brasil,
é correto afirmar que
(A) a formalização de tratados entre os países
europeus e a forte vigilância das fronteiras
funcionou para evitar a violação dos mesmos por
parte dos colonos.
(B) o tratado mencionado no texto ratificou as decisões
do Tratado de Tordesilhas, assinado em 1594,
evitando, assim, possíveis conflitos entre os países
ibéricos.
(C) os colonos espanhóis frequentemente entravam em
possessões portuguesas, gerando conflitos e a
realização de novos tratados territoriais.
(D) a imediata implementação do Tratado de Madrid foi
fundamental para a definitiva configuração territorial
que o Brasil possui até os dias atuais.
(E) a questão dos limites e povoamento dos territórios
coloniais ibéricos acabou sendo orientada mais pela
ação dos colonos do que pelos tratados territoriais
estipulados.

18. Trecho do testamento da paulista Maria do Prado


(1663)
MONTEIRO, John Manuel. Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens
e São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. p. 13. (adaptado) Declaro que não possuo escravo algum cativo, mas somente
possuo como é uso noventa almas do gentio da terra as
No contexto do Período Colonial brasileiro, as expedições quais tratei sempre como filhos e na mesma formalidade as
representadas no mapa deixo a meus herdeiros.
FIGUEIREDO, Luciano. História do Brasil para os ocupados. 1. ed. Rio de
(A) contribuíram para a ampliação dos limites territoriais Janeiro: Casa da Palavra, 2013. (fragmento)
lusos no Brasil.
(B) relacionavam-se à defesa das fronteiras contra Interpretando o excerto anterior, pode-se inferir que
invasões estrangeiras.
(C) eram patrocinadas pelo Estado português contra
expedições particulares.
(A) o trecho documental revela que a matriarca (A) a redução no emprego da mão de obra escrava e a
desconsidera as relações de propriedade no que facilitação da entrada de imigrantes na colônia.
concerne à exploração do trabalho africano. (B) a implementação do regime de intendências e a
(B) a composição faz admitir que, no Brasil Colônia, formação de nova estrutura administrativa na
existiu, de forma geral, maior tolerância com os colônia.
nativos, considerados selvagens da terra. (C) a concentração das atividades econômicas no
(C) o fragmento leva ao entendimento de que, no interior da colônia e o abandono do comércio
processo de formação do povo brasileiro, existiu agroexportador.
maior empatia com os tupis, o que minimiza a (D) o aumento dos intercâmbios comerciais com a
exploração destes. América hispânica e a constituição de um mercado
(D) a peça documental transporta para a realidade de aurífero no continente.
muitas famílias no Brasil Colonial, quando as (E) o contato direto da Inglaterra com as riquezas do
relações emotivas se sobrepunham à empresa território brasileiro e a dificuldade portuguesa de
mercantil. manter o monopólio comercial.
(E) o relato testamentário conduz à compreensão de
que índios foram explorados no sistema produtivo, 22. (Unesp) O consumo dos alimentos nas propriedades de
chegando a ser transmitidos como herança familiar. monocultura de cana-de-açúcar estava […] baseado no
que se podia produzir nas brechas de um grande
19. O tráfico negreiro paralisou o crescimento da população sistema subordinado ao mercado externo, resultando em
na África. No século XVII, a população africana equivalia uma grande quantidade de farinha de mandioca, feijões
à da Europa e representava um quinto da população do de diversos tipos, batata-doce, milho e cará comidos
globo. No século XX, representava menos da décima com pouco rigor, além de uma cultura do doce,
terceira parte da população mundial, segundo Maurice cristalizada na mistura das frutas com açúcar refinado e
Halbwachs. simbolizada, popularmente, pela rapadura.
(Paula Pinto e Silva. “Sabores da colônia”. In: Luciano Figueiredo (org).
História do Brasil para ocupados, 2013.)
Por meio do tráfico, o Brasil recebeu grandes contingentes
de escravos africanos, que se distribuíram, no território, da
O texto caracteriza formas de alimentação no Brasil colonial
seguinte forma:
e revela
(A) na produção do café, em São Paulo, desde o século
(A) o esforço metropolitano de diversificar a produção
XVII; a partir de século XVIII, na Bahia e em
da colônia, com o intuito de ampliar as vendas de
Pernambuco.
alimentos para outros países europeus.
(B) os maiores contingentes de escravos africanos
(B) a diferença entre a sofisticação da alimentação da
vieram para as áreas produtoras de açúcar,
população colonial e o restrito conjunto de alimentos
posteriormente para a região das minas e, só mais
disponíveis na metrópole.
tarde, para São Paulo, na produção de café.
(C) a articulação entre um sistema de produção voltado
(C) para Minas Gerais, logo no início do século XVI, em
ao atendimento das necessidades e interesses da
seguida para o Espírito Santo, Pará e Alagoas, com
metrópole e as estratégias de subsistência.
a produção de açúcar e, por último, para
(D) o interesse dos grandes proprietários de terras na
Pernambuco e Bahia.
colônia de produzir para o mercado interno,
(D) na região algodoeira, onde o modo escravista de
rejeitando a submissão ao domínio metropolitano.
produção foi dominante e, em seguida, para a
(E) a separação entre as lavouras voltadas ao
região da borracha.
fornecimento de alimentos para os países vizinhos e
(E) no Rio de Janeiro, com a vinda da Família Real, e
as plantações destinadas ao consumo interno.
no Rio Grande do Sul, como a mão de obra de uma
agricultura do tipo familiar.
23. (Fuvest) [No Brasil] a transição da predominância
indígena para a africana na composição da força de
20. (Enem) Quando a Corte chegou ao Rio de Janeiro, a
trabalho escrava ocorreu aos poucos ao longo de
Colônia tinha acabado de passar por uma explosão
aproximadamente meio século. Quando os senhores de
populacional. Em pouco mais de cem anos, o número de
engenho, individualmente, acumulavam recursos
habitantes aumentara dez vezes.
GOMES, L. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte suficientes, compravam alguns cativos africanos, e iam
corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil. acrescentando outros à medida que capital e crédito se
São Paulo: Planeta do Brasil, 2008 (adaptado). tornavam disponíveis. Em fins do século XVI, a mão de
obra dos engenhos era mista do ponto de vista racial, e
A alteração demográfica destacada no período teve como a proporção foi mudando constantemente e favor dos
causa a atividade africanos e sua prole.
(A) cafeeira, com a atração da imigração europeia. Stuart Schwartz, Segredos internos. São Paulo: Companhia das Letras, 1988,
(B) industrial, com a intensificação do êxodo rural. p.68.
(C) canavieira, com o aumento do apresamento
indígena. Com base na leitura do trecho e em seus conhecimentos,
(D) mineradora, com a ampliação do tráfico africano. podemos afirmar corretamente que no Brasil
(E) manufatureira, com a incorporação do trabalho (A) a implementação da escravidão de origem africana
assalariado. não fez desaparecer a escravidão indígena, pois o
emprego de ambos poderia variar segundo épocas
21. (Unesp) A exploração do ouro, na região das Minas e regiões específicas.
Gerais durante o século XVIII, implicou um conjunto de (B) do ponto de vista senhorial, valia a pena pagar mais
transformações no perfil geral da América portuguesa, caro por escravos africanos, porque estes viviam
tais como mais do que os escravos indígenas, que eram mais
baratos.
(C) o comércio de escravos africanos foi incompatível (A) A crise do açúcar brasileiro acarretada pela
com o comércio de indígenas, porque eram concorrência com o açúcar antilhano dinamizou o
explorados por diferentes traficantes, que tráfico de escravos para o sudeste da colônia.
competiam entre si. (B) A geritiba e a tabaco eram os únicos produtos
(D) havia crédito disponível para a compra de escravos aceitos nas trocas entre traficantes de escravos
africanos, mas não de escravos indígenas, pois a africanos e baianos.
Igreja estava interessada na manutenção de boas (C) O preço do escravo africano caiu vertiginosamente
relações com os nativos. no litoral brasileiro, durante o século XVIII, devido
(E) a escravização dos indígenas pelos portugueses foi às crises econômicas coloniais.
impossibilitada pelo fato de que os povos nativos (D) A lucratividade do tráfico negreiro está relacionada
americanos eram contrários ao aprisionamento de com o baixo custo na aquisição dos escravos em
seres humanos. território africano e o alto valor desses vendidos no
litoral brasileiro.
24. (Ufrgs) Leia o seguinte texto a respeito das disputas (E) A economia brasileira foi menos dependente da
fronteiriças entre as coroas ibéricas no sul do continente mão de obra escrava, durante o século XVIII, devido
americano, ao longo do século XVIII, e o protagonismo à mineração e a uma nova dinâmica econômica.
indígena no contexto de tais disputas.
26. (G1 - cftrj) “A religião aparece desde o início como o
Durante um período de conflito agudo nas reduções, em discurso legitimador da expansão que era vista, assim
meados do século XVIII, os Guarani escreveram como a conquista espiritual; é junto ao papado que os
intensamente, os documentos produzidos por eles permitem reinos ibéricos, pioneiros da colonização e expansão,
repensar as relações estabelecidas com o território buscam autoridade para dirimir as disputas pela partilha
missioneiro e, especialmente, suas formas de ação política. dos mundos a descobrir e, a partir daí, a legitimação da
Esse conjunto de documentos indica uma discussão pouco conquista pela catequese"
referida pela historiografia dedicada ao tema, ou seja, a (NOVAIS, Fernando A. In SOUZA, Laura de Mello. História da vida privada no
Brasil: cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo Companhia
existência da defesa por escrito de um direito a resistir a uma das Letras, 1997.)
ordem real injusta dos Guarani em redução [...]. A disputa
pelas fronteiras na América do Sul, resultado da rivalidade O papel da Igreja Católica foi preponderante na colonização
entre as duas monarquias ibéricas, esteve caracterizada por portuguesa no Brasil. Entre as opções abaixo aponte aquela
uma ativa participação dos agentes locais. Diante das que representa uma ação da igreja católica durante todo o
implicações dessa permuta, a elite indígena procurou período colonial que esteja presente no texto citado.
estabelecer negociações que lhe garantissem o controle das (A) A fundação das missões jesuítas com o objetivo de
terras orientais. catequizar os índios.
NEUMANN, Eduardo Santos; BOIDIN, Capucine. A escrita política e o
pensamento dos Guarani em tempos de autogoverno (c.1753). Revista (B) A criação do Conselho ultramarino pelo papado.
Brasileira de História, v. 37, n. 75, 2017, p. 98. (C) Adoção do Calvinismo como princípio regulador da
ação dos jesuítas.
Em relação a essas disputas, é correto afirmar que (D) A elaboração de justificativas teológicas que
(A) as rivalidades entre Portugal e Espanha, pelo condenavam a escravidão africana e o tráfico
controle das terras na região das Missões, negreiro.
desconsiderou a participação dos indígenas. (E) A criação da Companhia das índias Orientais para
(B) a historiografia sempre se referiu ao papel garantir o abastecimento da Capitania do Maranhão
desempenhado pelas lideranças indígenas como com mão de obra escrava negra.
parte da elite letrada na América do Sul.
(C) os conflitos pela definição das fronteiras garantiram 27. (Fuvest) “A base física do Brasil, ao principiar o século
a completa submissão das populações indígenas às XVIII, era profundamente diversa daquela que, mesmo
reduções jesuíticas. numa interpretação liberal do Tratada de Tordesilhas,
(D) as sociedades guaranis tinham o costume de resistir fora assentada no diploma de 1494. A expansão ao
às ordens reais emitidas por escrito pelas coroas longo do litoral levara ao Oiapoc, no norte, e ao Prata,
ibéricas. no sul. O rush do ouro estava determinando a ampliação
(E) a escrita serviu como importante fator de resistência da área oeste do mesmo modo por que a ‘droga do
e de negociação dos interesses indígenas e de sertão’ explicava a façanha da incorporação do mundo
mediação com os colonizadores europeus. amazônica. Toda uma geografia nova, política, social e
econômica se estava escrevendo na América
25. (Mackenzie) “Com a longa depressão dos preços do portuguesa [...].”
açúcar brasileiro que persistiu na maior parte do século Arthur F. Reis. "Os tratados de limites". História geral da civilização brasileira,
t.I, v.1, p. 396.
XVIII, o tráfico baiano com a Costa da Mina tornou-se a
principal fonte de escravos na economia colonial em um
A partir da leitura do trecho e de seus conhecimentos, é
sistema assemelhado ao uso da geritiba (cachaça) pelos
correto afirmar que:
comerciantes do Rio na compra de escravos em
(A) o Tratado de Tordesilhas representou uma
Benguela e Luanda. Os baianos compravam escravos
permanente barreira a exploração econômica dos
no ocidente da África com tabaco de rolo feito com a
sertões portugueses da América, e só foi
parte não vendida da colheita e resultante de um
ultrapassada no século XVIII por sertanistas que
processamento inferior que o tornava um produto
passaram a agir junto à Coroa Portuguesa.
agrícola de baixo custo em relação à indústria do fumo
(B) a ocupação da Amazônia foi determinante na
orientada para mercados metropolitanos.”
(PANTOJA, Selma e SARAIVA, José Flávio. Angola e Brasil nas rotas do formação do território português da América porque
Atlântico. Rio de Janeiro: Bertrand, 1998. p.27) as drogas do sertão puderam ser exploradas por
longos períodos, ao contrário do efêmero ouro de
É possível inferir que o trecho acima indica que Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.
(C) embora a mineração tenha interiorizado a presença (C) À expansão para o interior paulista pelas entradas e
portuguesa no continente, a definição das fronteiras bandeiras.
territoriais do Brasil só se completaria (D) À colonização do sul através da pecuária.
definitivamente muito depois, no começo do século (E) Ao povoamento das Capitanias Hereditárias.
XX.
(D) mesmo com o rush minerador a economia colonial 30. (Unesp) “Nossa milícia, Senhor, é diferente da regular
portuguesa continuou isolada em relação aos que se observa em todo o mundo. Primeiramente
principais circuitos econômicos europeus de sua nossas tropas com que vamos à conquista do gentio
época, situação que só alteraria na primeira década bravo desse vastíssimo sertão não é de gente
do século XIX. matriculada no livro de Vossa Majestade, nem obrigada
(E) a realidade econômica de Portugal e Espanha no por soldo, nem por pagamento de munição."
séculos XVII e XVIII tornou o Tratado de (Carta de Domingos Jorge Velho ao rei de Portugal, em 1694.)
Tordesilhas obsoleto, uma vez que neste período
importava menos o comércio extrativista e mais a De acordo com o autor da Carta, pode-se afirmar que
produção industrial. (A) os bandeirantes possuíam tropas de mercenários,
pagas pela metrópole, com o objetivo de exterminar
28. (Fgv) Podem-se apanhar muitos fatos da vida daqueles indígenas.
sertanejos dizendo que atravessaram a época do couro. (B) havia proibição oficial de capturar índios para a
De couro era a porta das cabanas, o rude leito aplicado escravização e os bandeirantes pretendiam evitar
ao chão duro, e mais tarde a cama para os partos; de ser punidos pelos colonos e pelos espanhóis.
couro todas as cordas, a borracha para carregar água, o (C) os exércitos portugueses, organizados na colônia,
mocó ou alforge para levar comida, a maca para guardar tinham a particularidade de serem compostos por
roupa, a mochila para milhar cavalo, a peia para prendê- indígenas especializados em destruir quilombos.
lo em viagem, as bainhas de faca, as broacas e surrões, (D) algumas tribos indígenas ameaçavam a segurança
a roupa de entrar no mato, os banguês para curtume ou dos colonos e as bandeiras eram tropas
para apurar sal. encarregadas de transportar os nativos para as
(Capistrano de Abreu. Capítulos de história colonial: 1500-1800, 2000.) reduções religiosas.
(E) muitas das bandeiras paulistas eram constituídas
O texto descreve a cultura material da pecuária, que a partir por exércitos particulares, especializados em
do século XVI estendeu-se ao interior nordestino da colônia exterminar e capturar indígenas para serem
do Brasil. A criação de gado escravizados.
(A) empregava predominantemente a mão de obra
escrava africana e consolidou a pequena
propriedade rural às margens dos grandes rios da
região. GABARITO
(B) contribuía com o complexo econômico litorâneo e 1 D 6 E 11 A 16 E 21 B 26 A
funcionou em um regime de contenção econômica 2 D 7 B 12 A 17 B 22 C 27 C
de gastos devido ao aproveitamento de recursos 3 C 8 D 13 B 18 C 23 A 28 B
locais. 4 D 9 C 14 B 19 C 24 E 29 D
(C) transgredia os ordenamentos legais da 5 D 10 C 15 D 20 C 25 D 30 E
administração metropolitana e jamais se
caracterizou como atividade econômica lucrativa.
(D) deslocava o centro dinâmico da exploração
econômica da colônia e contribuiu para o
adensamento demográfico em novos territórios.
(E) favorecia o surgimento de cidades
autoadministradas e revelou a existência de jazidas
de metais preciosos nas áreas recém-descobertas.

29. (Uel) “Como não se tratava de regiões aptas para a


produção de gêneros tropicais de grande valor
comercial, como o açúcar ou outros, foi-se obrigado para
conseguir povoadores (...) a recorrer às camadas pobres
ou médias da população portuguesa e conceder grandes
vantagens aos colonos que aceitavam irem-se
estabelecer lá. O custo do transporte será fornecido pelo
Estado, a instalação dos colonos é cercada de toda
sorte de providências destinadas a facilitar e garantir a
subsistência dos povoadores; as terras a serem
ocupadas são previamente demarcadas em pequenas
parcelas, (...) fornecem-se gratuitamente ou a longo
prazo auxílios vários (instrumentos de trabalho,
sementes, animais, etc.)."
(PRADO JÚNIOR, C."História econômica do Brasil". 27 ed. São
Paulo: Brasiliense, 1982. p.95-6.)

Com base no texto, é possível afirmar que o autor se refere:


(A) À colonização do sertão nordestino através da
pecuária.
(B) À ocupação da Amazônia através das drogas do
sertão.
1. AS REVOLTAS COLONIAIS – MOVIMENTOS NATIVISTAS E EMANCIPACIONISTAS

O fim do domínio holandês sobre o Nordeste do atual território brasileiro não significou
o fim dos problemas dos senhores de engenho ali estabelecidos. Após desocuparem a região,
os holandeses levaram para sua colônia no Caribe os conhecimentos de todas as etapas da
produção do açúcar, adquiridos nos 24 anos em que permaneceram nas terras da colônia
portuguesa.
O açúcar produzido no Caribe tornou-se forte concorrente do produto nordestino,
levando a uma crise econômica na colônia portuguesa na América. Com isso, a insatisfação dos
colonos cresceu e, nas décadas seguintes, vários conflitos decorreram dessa situação.

REVOLTA DOS BECKMAN (1684)

A utilização de mão de obra indígena escravizada era constante nos engenhos do


Maranhão, apesar da oposição dos jesuítas. Graças à influência dos religiosos sobre a
monarquia católica portuguesa, desde o século XVI a metrópole vinha impondo limites à
escravização dos indígenas. Em 1680, o príncipe regente, dom Pedro, proibiu a escravização
de mais indígenas, determinou a libertação dos cativos e estabeleceu que recebessem terras
para cultivo. O descumprimento das ordens significaria severas punições.
As medidas revoltaram os donos de engenho maranhenses. Para resolver a escassez
de mão de obra e estimular a economia do norte da colônia portuguesa, o governo português
criou, em 1682, a Companhia Geral de Comércio do Estado do Maranhão. Entre outros fins,
essa Companhia deveria abastecer a região, todos os anos, com quinhentos africanos
escravizados vendidos a preços prefixados, comercializar mercadorias vindas da Europa e
comprar os produtos locais a preços tabelados. Entretanto, os objetivos não foram cumpridos, o
que aumentou ainda mais a insatisfação dos colonos.
Em fevereiro de 1684, os colonos depuseram o governador da capitania e colocaram
em seu lugar uma Junta Geral constituída por representantes do clero, da elite e do povo e
liderada por Manuel Beckman. Em seguida, extinguiram a Companhia Geral de Comércio e
expulsaram do Maranhão os jesuítas ligados ao Convento de Santo Antônio, mandando-os de
volta a Portugal.
A Coroa portuguesa estabeleceu um novo governador, Gomes Freire de Andrade, que
anulou os atos da Junta Geral e trouxe de volta os jesuítas. Como punição, Manuel Beckman e
Jorge Sampaio foram mortos; Thomas Beckman foi deportado para Pernambuco.

GUERRA DOS MASCATES (1710-1712)

Durante os séculos XVI e XVII, Olinda foi a sede da capitania de Pernambuco e uma
das vilas mais ricas da colônia portuguesa. Mas, entre 1630 e 1654, durante o domínio
holandês na região, o povoado de Recife deixou de girar em torno da pesca e ganhou porto,
palácios, pontes, residências.
Após a expulsão dos holandeses, Recife logo se transformou no mais importante
centro comercial de Pernambuco. Os comerciantes portugueses dali se transformaram na
principal liderança econômica da capitania. Com isso, ocuparam o lugar até então pertencente
aos senhores de engenho de Olinda, que se julgavam a “nobreza da terra” e chamavam os
comerciantes da cidade vizinha pejorativamente de mascates, pois consideravam o comércio
uma atividade desprezível.
Apesar disso, os donos de terras recorriam a empréstimos dos mascates quando se
viam em apuros financeiros. Essa prática se tornou mais constante depois de 1700, por causa
de sucessivas quedas no preço do açúcar no mercado internacional.
Valendo-se de seu poderio econômico, os mascates conseguiram que, em 1709, o rei
dom João V elevasse o povoado de Recife à categoria de vila, com o direito de instalar uma
Câmara Municipal e criar mecanismos legais para cobrar as dívidas em atraso.
Em 1710, os recifenses ergueram na praça central um pelourinho − principal símbolo
da autonomia administrativa de uma vila − e elegeram seus primeiros representantes na
Câmara Municipal. No mesmo ano, uma tropa de mil homens a serviço dos senhores de
engenho de Olinda invadiu Recife e destruiu o pelourinho. Em seguida, o governador da
capitania foi deposto.
Os confrontos só terminaram em 1711, com a chegada de um novo governador
nomeado pela Coroa. Com um saldo de 154 mortos, a chamada Guerra dos Mascates
confirmou a elevação do Recife à condição de vila e estimulou os sentimentos nativistas entre
setores da sociedade pernambucana, dando origem à ideia de um governo independente da
metrópole.
A GUERRA DOS EMBOABAS (1707 - 1709)

Emboabas era o nome pelo qual ficaram conhecidos os forasteiros na região das
Minas. O conflito se arrastou por cerca de dois anos, com inúmeras cenas de violência
praticadas por ambos os lados.
O líder dos paulistas era Borba Gato, enquanto o português Manuel Nunes Viana, que
vivera na Bahia e mudara-se para a região das Minas do Rio das Velhas, liderava os emboabas.
As autoridades da região eram paulistas. Os emboabas acusavam-nas de
arbitrariedades de toda ordem. Já os paulistas estavam descontentes com o monopólio exercido
pelos emboabas sobre o gado bovino para abastecimento da região.
As escaramuças começaram em 1707, com o linchamento de dois paulistas. No ano
seguinte, Borba Gato tentou expulsar Nunes Viana do distrito do Rio das Velhas, mas não
conseguiu seu intento. Pelo contrário, os paulistas passaram a ser desarmados pelos
emboabas, tendo de se retirar da região do Rio das Velhas e de Vila Rica. Os emboabas
aclamaram Nunes Viana governador da região. Seus auxiliares diretos eram Francisco do
Amaral Gurgel e Bento do Amaral Coutinho, conhecidos por agir com extrema violência.
O episódio mais conhecido dessa guerra — denominado Capão da Traição — ocorreu
quando Coutinho, tentando expulsar os paulistas da região do Rio das Mortes, massacrou
alguns deles. O número de mortos é calculado em 50, mas vários autores exageraram,
chegando a escrever que teriam sido 300 os paulistas mortos à traição.
Após vários confrontos, com dezenas de mortos de ambos os lados, o conflito terminou
em 1709. Para tentar impor a autoridade da Coroa, foram criadas a Capitania Real de São
Paulo e Minas do Ouro e as três primeiras vilas mineiras.

A REVOLTA DE VILA RICA (1720)

As câmaras municipais tinham um papel relevante, pois, muitas vezes, cabia a elas
providenciar a cobrança dos tributos, mas esse poder municipal passou a ser reduzido, já que a
Coroa tinha interesse na maior centralização possível do poder. Um protesto contra essa
diminuição de poder das câmaras municipais ocorreu em Pitangui, em 1719.
A determinação para que se criassem Casas de Fundição em Minas Gerais aumentou
a insatisfação e transformou-se em revolta. Cerca de 2 mil pessoas marcharam de Vila Rica
para Ribeirão do Carmo (Mariana), onde ficava o governador, Conde de Assumar. Contando
com poucos soldados, Assumar achou prudente concordar com o que os amotinados exigiam: a
diminuição dos impostos e a não instalação das Casas de Fundição. Mas não pretendia cumprir
o acordo.
Tão logo recebeu reforços, e já tendo identificado os líderes, invadiu Vila Rica, prendeu
os mais destacados e enviou-os para Portugal. Mandou queimar as fazendas de Pascoal da
Silva Guimarães e reservou a pena mais violenta a um português, de nome Filipe dos Santos.
Foi morto no garrote, depois esquartejado por cavalos e teve seus pedaços pregados em
postes, para servir de exemplo.
Como consequência desse conflito, a Coroa determinou a separação da região das
Minas da de São Paulo, passando a constituir uma capitania independente: Capitania de Minas
Gerais, cuja capital era Vila Rica.

2. REBELDIAS, INCONFIDÊNCIAS E CONJURAÇÕES

O final do século XVIII foi marcado pela Declaração de Independência dos Estados
Unidos da América (1776), pela eclosão da Revolução Francesa (1789) e pela Revolução do
Haiti (1790). Esses acontecimentos tiveram enorme repercussão na Europa e no mundo
ultramarino. O absolutismo e o sistema colonial mercantilista foram colocados em xeque.
O Brasil não ficou de fora desse contexto revolucionário. A Inconfidência Mineira de
1789 é a rebelião mais famosa, mas houve outras que merecem atenção: a Conjuração do Rio
de Janeiro (1794) e a Conjuração dos Alfaiates, na Bahia (1798). Nenhuma dessas revoltas,
porém, chegou a se concretizar, sendo abortadas ainda no estágio inicial.

VIRADEIRA REACIONÁRIA

Com a morte de d. José I, em 1777, o trono português foi assumido por sua filha: d.
Maria I. A expectativa dos portugueses era a de que a rainha virasse pelo avesso a política de
Pombal. Por isso, sua política foi conhecida como Viradeira.
De fato, assim que assumiu a Coroa, d. Maria I libertou cerca de 800 pessoas presas
por motivos políticos e repatriou outras, exiladas pelo ministro. As companhias de comércio do
Brasil também foram abolidas, favorecendo a participação de um número cada vez maior de
comerciantes nos circuitos do Atlântico.
Muitas medidas tomadas por Pombal, entretanto, permaneceram inalteradas,
principalmente a de estimular as manufaturas em Portugal. Em 1785, a rainha proibiu as
atividades de ourives e a instalação de manufaturas no Brasil (com exceção dos tecidos
grosseiros de algodão, destinados aos mais pobres e aos escravos), na tentativa de criar na
colônia um mercado consumidor exclusivo das manufaturas portuguesas.
O reinado de d. Maria I também teve de enfrentar levantes, como uma conspiração na
colônia de Goa, na Índia, em 1787, severamente reprimida, e as conjurações no Brasil. A essas
ameaças somava-se o pavor de uma revolta de escravos, como a que ocorrera no Haiti. O
Brasil, afinal, possuía uma das maiores concentrações de escravos da América.
D. Maria I governou até 1792, quando caiu em estado de demência, abalada com a
morte do esposo, o príncipe consorte d. Pedro III, e de seu primeiro filho. O governo de Portugal
foi assumido por d. João, duque de Bragança, elevado a príncipe regente.

A DERRAMA EM MINAS GERAIS

Desde 1750, a Coroa portuguesa estipulava a cota de 100 arrobas anuais de ouro
para enviar à metrópole, suspeitando, com razão, de que muito ouro estava sendo
contrabandeado. Em 1788, a capitania devia à Real Fazenda a impressionante quantidade de
538 arrobas de ouro. O risco da derrama produziu um duplo descontentamento: da população,
com a possibilidade de ter de arcar com despesas para as quais não tinha recursos suficientes,
e dos contratadores, apavorados com a execução de suas dívidas. Foi a motivação da
Inconfidência ou Conjuração Mineira.

A INCONFIDÊNCIA MINEIRA (1789)

A Inconfidência Mineira foi articulada por homens da elite de Minas Gerais, incluindo
intelectuais, grandes negociantes, elementos do clero e até membros da administração da
capitania. A razão imediata foi a ameaça, em 1788, do governador de Minas Gerais, Visconde
de Barbacena, de cobrar todos os impostos atrasados de uma só vez – medida conhecida como
derrama.
Em Minas Gerais havia muitos homens formados nas universidades europeias, em
particular em Coimbra. Em torno deles, surgiram grupos para discutir poesia, filosofia e os
acontecimentos do mundo.
O grupo de Vila Rica (atual cidade de Ouro Preto) era o mais destacado, com três
grandes lideranças: o secretário do governo de Minas, advogado e poeta Cláudio Manuel da
Costa; o ouvidor da capitania e também poeta Tomás Antônio Gonzaga; e o cônego Luís Vieira
da Silva, entusiasmado com a independência dos Estados Unidos.
A situação em Minas inspirava cuidados. Os mais importantes contratadores de
impostos deviam somas enormes à Real Fazenda, e os responsáveis pela fiscalização nada
haviam feito para cobrá-las. A chegada do governador, em 1788, agravou as tensões, porque
tinha instruções expressas para cobrar os impostos atrasados.
Uma conspiração foi articulada pelo grupo de Vila Rica, vários deles contratadores em
débito com a Coroa, como resposta às atitudes do novo governador. Previam a adesão da
população de Minas à revolta caso a derrama fosse executada.
Alguns conspiradores chegaram a esboçar um projeto de emancipação política,
inspirados no sucesso da independência dos Estados Unidos. A ideia era fazer a independência
de Minas e proclamar uma república, com capital em São João Del Rei – cujo lema, em latim,
era Libertas quae sera tamem (“Liberdade ainda que tardia”).
A república imaginada pelos inconfidentes se limitava basicamente a Minas Gerais ou,
quando muito, às capitanias próximas. Nela seriam criadas uma universidade, uma casa da
moeda e uma fábrica de pólvora. Nenhuma intenção foi escrita, para não figurar como prova da
conspiração; se alguém fosse apanhado, deveria negar a existência de qualquer movimento. O
projeto, entretanto, foi por água abaixo. A derrama foi suspensa em março. Desapareceu o
principal motivo para a adesão da população ao movimento. Mas, nos bastidores, houve uma
denúncia. Joaquim Silvério dos Reis, membro da conspiração e um dos maiores devedores de
Minas, denunciou a conjuração ao governador, fornecendo os nomes dos principais envolvidos.
Silvério dos Reis recebeu em troca o perdão de sua dívida.
Muitos inconfidentes foram presos e interrogados. Surpreendeu a todos a prisão de
homens prestigiados na capitania, entre eles Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da
Costa, que consta ter se suicidado na prisão, embora alguns achem que foi assassinado.
Proclamada em 1791, a sentença foi duríssima: onze réus foram condenados à forca e sete, ao
desterro (exílio) na África. Mas, no ano seguinte, a pena de morte de todos foi transformada em
desterro, exceto no caso do alferes Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes.
Tiradentes era o mais ardoroso dos inconfidentes, divulgando abertamente suas ideias.
Preso, manteve-se fiel às suas crenças até o final e foi apontado como o principal líder do
movimento, o que não era verdade. Tiradentes foi executado na forca, na cidade do Rio de
Janeiro, em 21 de abril de 1792, e depois esquartejado. Sua cabeça foi exposta num mastro
erguido na praça principal de Vila Rica, e as demais partes do corpo foram afixadas nos
caminhos para as Minas.

HERÓI?

Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes, foi um dos mais
entusiasmados participantes da Inconfidência Mineira, de 1789. Depois de sua morte por
enforcamento e posterior esquartejamento, foi considerado por alguns historiadores como
revolucionário; por outros, como um falastrão. Na segunda metade do século XIX, mesmo
admitindo-se seu papel secundário no movimento, sua imagem foi comparada à de Cristo,
beijando os pés e as mãos de seu carrasco, e Joaquim Silvério dos Reis, o delator, foi
comparado a Judas. Depois da proclamação da República, em 1889, adquiriu o status de mártir
da Independência. Em 1890, o dia 21 de abril, data de sua execução, foi transformado em
feriado nacional. Um decreto de 1965 proclamou-o “patrono cívico da nação brasileira”.

A CONJURAÇÃO DO RIO DE JANEIRO (1794)

A chamada Conjuração do Rio de Janeiro sequer chegou a se articular de fato, a ponto


de alguns historiadores a chamarem de “a conjuração que não houve”. O vice-rei Conde de
Resende, escaldado com o caso de Minas Gerais, passou a desconfiar das reuniões que
membros da elite intelectual do Rio de Janeiro realizavam na Sociedade Literária, fundada na
década de 1770. Mas as reuniões eram inofensivas: não passavam de encontros para discutir
filosofia, religião e política, como na maioria das academias literárias da Colônia. Se de fato
alguns dos participantes possuíam, em suas bibliotecas, livros considerados subversivos, não
existe nenhuma evidência de que conspiravam contra Portugal. O vice-rei, em dezembro de
1794, mandou prender vários membros da Sociedade Literária, que acabaram processados
pelo crime de conjuração. Nenhum deles foi condenado, por absoluta ausência de provas
incriminadoras.

A CONJURAÇÃO DOS ALFAIATES (1798)

A Conjuração dos Alfaiates, também conhecida como Conjuração Baiana, foi


diferente das duas anteriores. Nela, estiveram envolvidos membros dos grupos populares, como
alfaiates, soldados e ex-escravos, além de poucos intelectuais.
Em 12 de agosto de 1798, foram colados panfletos em diversos pontos de Salvador
contendo as mais variadas reivindicações: aumento do soldo das tropas, liberdade para
comerciar com outros países, combate aos preconceitos contra negros e mestiços e, o que mais
incomodou as autoridades, a intenção de proclamar uma “República Bahiense”, em que todos
teriam “liberdade, igualdade e fraternidade”. As autoridades coloniais logo partiram para a
repressão do movimento.
Como nas outras conjurações, muitas prisões foram realizadas e vários suspeitos
foram processados. Mas, no caso baiano, a repressão foi feroz: dois soldados e dois alfaiates,
um deles ex-escravo, foram enforcados em 1799. A sentença dos quatro condenados foi
praticamente idêntica: enforcamento seguido de degola e esquartejamento. É mais do que
evidente que a ferocidade da repressão na Bahia se deveu à condição popular dos acusados.

3. PERÍODO JOANINO E A TRANSIÇÃO PARA A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL


A FUGA DA CORTE PORTUGUESA

No início do século XIX, os planos de expansão do imperador francês Napoleão


Bonaparte estavam em franco desenvolvimento. Em sua pretensão de conquistar a Europa,
acabou desafiando a Grã-Bretanha. O exército napoleônico era imbatível, mas a supremacia da
marinha britânica era incontestável. A França napoleônica decretou, então, o Bloqueio
Continental, que consistia em impedir os navios ingleses de ancorar nas cidades portuárias
europeias. A expressão “bloqueio continental” remete ao decreto de Napoleão Bonaparte, de
1806, que declarava estar a Inglaterra em “estado de bloqueio”, ou seja, que estava proibido o
comércio com os ingleses. Napoleão, então, passou a forçar os outros reinos europeus a
aderirem ao bloqueio.
Foi nesse contexto que o governo de Napoleão voltou seus olhos para o pequeno reino
de Portugal, aliado à Grã-Bretanha havia mais de um século, que poderia abrir o caminho da
França para a Ásia, a África e, principalmente, o Brasil, fonte principal das rendas portuguesas.
D. João exercia a regência de Portugal desde 1792, pois sua mãe, d. Maria I, abalada
pela perda de um filho e do marido em um curto período de tempo, estava impossibilitada de
reinar.
Apesar de pressionado pelos franceses, o príncipe regente d. João e seus conselheiros
evitavam aderir ao Bloqueio Continental e se indispor com os ingleses. Chegaram a esboçar o
fechamento dos portos lusitanos aos ingleses, no entanto voltaram atrás. D. João parecia
vacilar, mas procurava ganhar tempo. Com isso, conseguia contornar as pressões da França,
sem ferir diretamente a Inglaterra. Entretanto, essa era uma estratégia com dias contados.
A partir de julho de 1807, Napoleão ameaçou invadir o território português caso d. João
não rompesse com a Inglaterra. Todos os meios diplomáticos de Portugal foram acionados para
tentar demover os franceses dessa decisão, sem resultado. Nesse meio-tempo, o ministro
inglês, lorde Strangford, auxiliado pelo português d. Rodrigo de Souza Coutinho, conde de
Linhares, tentava convencer d. João a mudar a sede do reino para o Brasil.
O objetivo imediato da mudança para o Brasil era fugir de Portugal para manter intacta
a Coroa portuguesa. Mas o plano de alguns conselheiros era mais ambicioso: formar um
imenso império luso-brasileiro no Atlântico, transferindo a sede do governo português para o Rio
de Janeiro, capital do Vice-Reinado do Brasil.
Os preparativos para a viagem foram acelerados com a notícia de que o general
francês Jean-Andoche Junot, à frente de um exército de 23 mil homens, estava prestes a invadir
Lisboa, vindo da Espanha. A esquadra, levando boa parte da Corte portuguesa, partiu na
manhã de 29 de novembro de 1807, escoltada por navios britânicos. Logo em seguida, as
tropas francesas chegaram à cidade. Segundo relatos, o tão temido exército era bem menos
numeroso e estava bastante enfraquecido, com soldados maltrapilhos, esfomeados e sem
munição suficiente para conquistar o que quer que fosse.

UM OUTRO OLHAR ACERCA DA FUGA DA FAMÍLIA REAL PORTUGUESA PARA O


BRASIL

As crônicas sobre a saída da Corte portuguesa da Europa são contraditórias. Contam


que na noite de 26 de novembro nobres esbaforidos teriam corrido rumo ao cais e alguns, na
tentativa de alcançar a nado as embarcações, teriam morrido afogados. Consta que d. João
seguiu para o cais disfarçado, tendo sido levado nos braços até a embarcação.
Hoje, os historiadores alegam que essa imagem está mais para o anedótico do que
para a realidade, embora concordem que a situação não foi nem um pouco tranquila.
Saída confusa ou não, o certo é que não era uma viagem de indivíduos com seus
pertences pessoais: era todo o aparato necessário para manter os negócios do governo e a
dinastia de Bragança no poder que se transferia para o Brasil. Um observador da época
afirmou:
“A desgraça, a desordem e o espanto existiam por toda a parte em Lisboa, quer em
terra quer no mar (...). Copiosas e tristes algumas lágrimas derramaram-se por esta ocasião,
uns choravam a separação de pais, maridos, filhos e mais pessoas queridas, outros a criticar
posição da pátria invadida por exército inimigo e ao recordarem-se dos males que iriam sofrer
ficando sem protetores e no meio dos terríveis franceses.”
SCHWARCZ, Lilia Moritz. “O dia em que Portugal fugiu para o Brasil”. Revista de História da Biblioteca Nacional. Disponível
em: . Acesso em: 11 jan. 2016.

NO BRASIL

D. João chegou a Salvador, na Bahia, em 22 de janeiro de 1808, onde permaneceu por


um mês. Na antiga capital da colônia, o príncipe assinou a Carta Régia que liberou os portos
brasileiros às nações amigas. Com a ocupação francesa em Portugal, o governo tinha de
providenciar com rapidez o acesso a sua principal fonte de receitas: os impostos alfandegários.
A Carta ordenava que todas as mercadorias fossem admitidas nas alfândegas do
Brasil, transportadas ou não por navios portugueses, pagando o imposto de 24% sobre seu
valor. Determinava, também, que tanto os súditos de Portugal como os estrangeiros poderiam
exportar para qualquer porto os produtos do Brasil – com exceção do pau-brasil e do diamante
–, pagando os impostos usuais.
Os comerciantes locais ficaram muito satisfeitos, pois se abriu a possibilidade de
negociarem diretamente com outros mercados. Estavam preparados para o novo papel, pois
praticavam rotineiramente, desde o século XVIII, o tráfico de escravos, em um comércio que
envolvia várias praças mercantis do Brasil, da Ásia e da África. Os grandes prejudicados foram
os comerciantes de Portugal, que perderam a exclusividade na intermediação entre os
mercados colonial e europeu.

INGLATERRA MONITORA O BRASIL

Em troca da escolta à família real, os ingleses exigiram, entre outras medidas, acesso
privilegiado ao mercado consumidor do Brasil. A abertura dos portos coloniais, em 1808,
significou uma concessão aos britânicos, pois apenas eles podiam suprir o mercado colonial
com bens industrializados. Por conta das invasões napoleônicas, os comerciantes da França e
da Espanha estavam proibidos de entrar nesse negócio.
Como sempre, d. João, ouvindo ministros, foi cauteloso e custou a executar o
combinado. Mais que isso, proibiu que a navegação costeira fosse feita por estrangeiros e
diminuiu de 24% para 16% as tarifas alfandegárias pagas por comerciantes portugueses. Os
ingleses, insatisfeitos, intensificaram a pressão sobre o governo português.
Em 1810, graças à influência do ministro conde de Linhares, defensor da aliança com a
Inglaterra, d. João assinou dois tratados com os britânicos: o de Aliança e Amizade e o de
Comércio e Navegação. O principal artigo estipulava o imposto de 15% sobre os produtos
ingleses, menos do que os produtos portugueses, que continuavam taxados em 16%. Os
demais países pagariam 24% de imposto. Um dos resultados desse tratado foi a entrada
impressionante de comerciantes e de produtos ingleses no Brasil.

NOVOS RUMOS

Com a derrota definitiva de Napoleão, em 1815, o governo de d. João restabeleceu


relações diplomáticas com a França e os demais reinos até então ocupados pelos exércitos
napoleônicos.
Com a intenção de ampliar as relações externas portuguesas, providenciou-se o
casamento do príncipe d. Pedro com a princesa da Áustria, d. Leopoldina, irmã da segunda
esposa de Napoleão Bonaparte. Outra medida importante foi a elevação da colônia à categoria
de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, em 1815, por sugestão do ministro francês
Talleyrand. Com isso, o Rio de Janeiro passou a ser reconhecido como sede da monarquia
lusa, garantindo a participação portuguesa no Congresso de Viena. Esse ato parecia
demonstrar que d. João pretendia manter definitivamente a Corte no Rio de Janeiro.

REINO TROPICAL: PERÍODO JOANINO

Além da abertura dos portos às nações amigas, outras medidas importantes foram
tomadas pelo governo de d. João, como a suspensão da proibição de manufaturas estabelecida
por d. Maria I, em 1785.
No governo “joanino”, criou-se o primeiro Banco do Brasil, fundou-se o Jardim
Botânico, organizou-se a Academia Militar, a Escola de Belas-Artes e a Biblioteca Real (futura
Biblioteca Nacional), com cerca de 60 mil obras vindas de Portugal. Instalou-se também o
primeiro curso superior do Brasil: a Escola de Cirurgia da Bahia. Várias instituições foram
transferidas de Lisboa para o Rio de Janeiro. Liberou-se a tipografiaa, antes proibida, permitindo
que se criassem jornais e se editassem livros. A Gazeta do Rio de Janeiro foi o primeiro jornal a
ser editado no Brasil, em setembro de 1808. Depois dele, apareceram outros, como o Jornal do
Comércio, publicado até os dias de hoje.
Por influência do conde da Barca, adepto da aproximação com a França, um grupo de
artistas foi convidado para vir ao Brasil divulgar os aspectos louváveis da cultura francesa, na
época considerada o ideal de civilização.
Em abril de 1816, chegou ao Rio de Janeiro o que se convencionou chamar de missão
artística francesa, liderada por Joachim Lebreton, os irmãos Taunay (um pintor e o outro
escultor), o arquiteto Grandjean de Montigny e o famoso pintor Jean-Baptiste Debret. Todos
haviam servido ao governo de Napoleão e caíram em desgraça após a derrota do imperador e a
Restauração dos Bourbons ao trono francês.
Mas não vieram só franceses. Naturalistas de várias partes do mundo estiveram no
Brasil para estudar suas exuberantes ora e fauna, destacando-se o príncipe prussiano
Maximilian von Wied-Neuwied, o francês Auguste de Saint-Hilaire, o barão Georg Heinrich von
Langsdorff, Karl Philipp von Martius e Johann Baptist von Spix.
O pintor austríaco Thomas Ender veio na comitiva da princesa Leopoldina e, junto com
os naturalistas Martius e Spix, compôs a missão austríaca. Outros estrangeiros deixaram
abundantes registros sobre o Brasil, como o português de origem inglesa Henry Koster, que se
tornou senhor de engenho em Pernambuco, o comerciante inglês John Luccock e o
comerciante francês Louis- -François de Tollenare. Os relatos das viagens e o material
iconográco deixados por eles são, até hoje, valiosíssimos para o conhecimento do Brasil desse
período. No campo militar, o governo português mandou invadir a Guiana Francesa, em 1809,
em retaliação à invasão napoleônica do reino, e conquistar a Cisplatina, futuro Uruguai, em
represália à conquista de Olivença, no reino, pelos espanhóis. Não foi pouco!

FRACASSO DA OUTRA INDEPENDÊNCIA: REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA DE 1817

Os pernambucanos tinham uma tradição de luta que vinha desde a invasão holandesa
(século XVII) e da Guerra dos Mascates (início do XVIII). A capitania de Pernambuco,
açucareira, contava com famílias tradicionais de grandes senhores de escravos e comerciantes
ricos. A intensa atividade econômica tornava-a uma das capitanias que mais sofriam com os
impostos da Coroa.
A instalação da Corte portuguesa na América trouxe para a população mais pobre a
esperança de um período de prosperidade. Ao contrário disso, a necessidade de aumentar os
impostos para implantar a Corte no Rio de Janeiro provocou descontentamento ainda maior em
todos os segmentos da população. O quadro se agravou com a seca de 1816, que afetou a
economia açucareira e a produção de alimentos.
O incidente que provocou o início da chamada Revolução Pernambucana foi a prisão,
em 1817, de um grupo de militares que o governador julgou suspeito de sedição. Ao executar a
ordem do governador, um dos militares matou seu comandante, provocando um motim que se
espalhou pelas ruas de Recife, com ataques às autoridades portuguesas. O governador
negociou sua retirada para o Rio de Janeiro, sem tentar conter os revoltosos.
Vendo-se senhores da situação, os amotinados constituíram um governo provisório,
nos territórios que hoje pertencem aos estados de Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande
do Norte, criando uma república com o intuito de elaborar uma constituição. Chegaram a buscar
apoio em Washington e Londres, solicitando, sem sucesso, o reconhecimento da separação de
Portugal e do governo sediado no Rio de Janeiro.
As lideranças do movimento, entretanto, dividiram-se quanto ao projeto de abolição da
escravidão. Enfraquecidos pelo não reconhecimento externo da independência e pela divisão
interna, os rebeldes não resistiram ao bloqueio marítimo e às tropas enviadas da Bahia. Em 19
de abril, Recife foi retomada, seguindo-se uma intensa perseguição aos amotinados. Vários
líderes foram executados e mais de 250 pessoas foram enviadas às prisões da Bahia, até a
anistia aprovada pelas Cortes portuguesas, em 1821.

INDEPENDÊNCIA MONÁRQUICA

A vinda da Corte portuguesa para o Brasil estava de acordo com o projeto de vários
políticos e intelectuais de formar um império luso-brasileiro com sede no Rio de Janeiro. Mas o
período joanino não foi nada tranquilo, com muitas guerras e conflitos, como a invasão da
Guiana Francesa (1809) e da Banda Oriental do rio da Prata (1816) e o movimento separatista
em Pernambuco (1817).
Em Portugal, sobravam problemas com a permanência da Corte no Rio de Janeiro. Na
cidade do Porto, em 1818, comerciantes, magistrados e militares criaram uma sociedade
secreta, o Sinédrio, para discutir as ideias liberais e contestar o regime absolutista dos
Bragança e a presença militar inglesa, comandada pelo marechal Beresford, titulado Lorde
Protetor de Portugal. Em 1820, o grupo iniciou uma insurreição, conhecida como Vintismo ou
Revolução Constitucionalista do Porto, que acabou por tomar as ruas e se estender pelo
restante de Portugal, incluindo Lisboa.
Vitoriosos, os rebelados criaram juntas governativas e iniciaram os preparativos para
elaborar uma Constituição que colocasse limites ao poder real. Eleições para uma constituinte
foram convocadas e realizadas em Portugal e no Brasil. Em 1821, reuniram-se as Cortes
portuguesas, formadas por deputados eleitos no reino e nas províncias ultramarinas, que
transformaram o reino numa monarquia constitucional.
D. João VI e seus conselheiros oscilavam entre duas possibilidades: voltar a Portugal
com a Corte e aceitar a Constituição, mantendo-se rei, ou permanecer no Brasil sob o risco de
ser destronado em Portugal. D. João decidiu retornar a Lisboa, o que fez em 26 de abril de
1821, deixando no Brasil seu filho mais velho e herdeiro, d. Pedro, como príncipe regente. A
permanência de d. Pedro tinha como objetivo criar na antiga colônia uma autoridade central
para controlar as províncias, evitando a fragmentação do território.
(C) A mobilização de séquitos nos passeios, como
evidência do medo da violência nos centros
urbanos.
1. (Espcex (Aman)) No início do século XVIII, a (D) A inserção de cativos na prestação de serviços
concorrência das Antilhas fez com que o preço do pessoais, como fase de transição para o trabalho
açúcar brasileiro caísse no mercado europeu. Os livre.
proprietários de engenho, em Pernambuco, para (E) A concessão de vestes opulentas aos agregados,
minimizar os efeitos desta crise, recorreram a como forma de amparo concedido pela elite
empréstimos junto aos comerciantes da Vila de Recife. senhorial.
Esta situação gerou um forte antagonismo entre estas
partes, que se acirrou quando D. João V emancipou 4. (G1 - col. naval) Leia texto a seguir.
politicamente Recife, deixando esta de ser vinculada a
Olinda. Tal fato desobrigou os comerciantes de Recife Em 1682, foi criada a Companhia Geral do Comércio do
do recolhimento de impostos a favor de Olinda. O Estado do Maranhão, com o objetivo de controlar os atritos
conflito que eclodiu em função do acima relatado foi a entre fazendeiros e religiosos na disputa pelo trabalho
(A) Revolta de Beckman. indígena, mais barato que o africano, e incentivar a produção
(B) Guerra dos Mascates. local... A companhia venderia aos habitantes do Maranhão
(C) Guerra dos Emboabas. produtos europeus, como azeite, vinho e tecidos, e deles
(D) Insurreição Pernambucana. compraria o que produzissem, como algodão, açúcar,
(E) Conjuração dos Alfaiates. madeira e as drogas do sertão, para comercializar na
Europa. Também deveria fornecer à região quinhentos
2. (Uece) Ocorridos entre os meados do século XVII até as escravos por ano, uma fonte alternativa de mão de obra,
primeiras décadas do século XVIII, os movimentos diante da resistência jesuítica em permitir a escravidão de
nativistas apresentam-se como os primeiros sinais de nativos. Os preços cobrados pela companhia, entretanto,
uma crise do sistema colonial. eram abusivos, e ela não cumpria os acordos, como o
fornecimento de escravos.
Sobre esses movimentos, é correto afirmar que VICENTINO, Claudio e DORIGO, Gianpaolo. História Geral e do Brasil.
Editora Scipione, SP, 2010 – p. 358.
(A) tinham como principal objetivo a separação política
entre colônia e metrópole, com a autonomia
O texto acima descreve uma situação que colaborou para o
administrativa e a formação de novas nações livres
acontecimento de um conflito, no período colonial brasileiro
nas regiões onde ocorriam.
ocorrido na segunda metade do século XVII, que ficou
(B) em Minas Gerais, com a Guerra dos Emboabas e a
conhecido como
Revolta de Felipe dos Santos, no Maranhão, com a
(A) Guerra dos Mascates.
Revolta dos Beckman, e em Pernambuco, com a
(B) Guerra dos Emboabas.
Insurreição Pernambucana e a Guerra dos
(C) Revolta de Felipe dos Santos.
Mascates, aparecem as divergências entre os
(D) Revolta de Amador Bueno.
interesses dos colonos e os da metrópole.
(E) Revolta de Beckman.
(C) ocorreram somente em locais que vivenciavam
crises econômicas, como o Rio Grande do Sul
5. (Espm) Das minas e seus moradores bastava dizer que
(Farroupilha 1835-1845) e Pernambuco (Revolução
é habitada de gente intratável. A terra parece que
Pernambucana de 1817).
evapora tumultos; a água exala motins; o ouro toca
(D) somente a Confederação do Equador, ocorrida no
desaforos; destilam liberdades os ares; vomitam in-
nordeste brasileiro, pode ser tomada como um
solências as nuvens; influem desordens os astros; o
legítimo movimento nativista, uma vez que não
clima é tumba da paz e berço da rebelião; a natureza
pretendia a separação política em relação a
anda inquieta consigo, e amotinada lá por dentro é como
Portugal, mas, somente, maior autonomia
no inferno.
administrativa. Lilia Schwarcz e Heloisa Starling. Brasil: uma Biografia.

3. (ENEM DIGITAL 2020) As pessoas do Rio de Janeiro se


fazem transportar em cadeirinhas bem douradas O texto é parte do discurso histórico e político sobre a
sustentadas por negros. Esta cadeira é seguida por um sublevação que nas minas houve no ano de 1720 e que o
ou dois negros domésticos, trajados de librés mas com governador Pedro Miguel de Almeida e Portugal, o conde de
os pés nus. Se é uma mulher que se transporta, ela tem Assumar, fez chegar às mãos das autoridades régias em
frequentemente quatro ou cinco negras indumentadas Lisboa.
com asseio; elas vão enfeitadas com muitos colares e
brincos de ouro. Outras são levadas em uma rede. Os A respeito da sedição de Vila Rica, em 1720, é correto
que querem andar a pé são acompanhados por um assinalar:
negro, que leva uma sombrinha ou guarda-chuva, como (A) os sediciosos planejavam forçar a coroa a
se queira chamar. suspender o estabelecimento das casas de
LARA, S. H. Fragmentos setecentistas. São Paulo: Cia. das Letras, 2007
(adaptado).
fundição, onde se registrava o ouro em barras e se
deduzia o quinto por arroba, o imposto devido ao
Essas práticas, relatadas pelo capelão de um navio que rei;
ancorou na cidade do Rio de Janeiro em dezembro de 1748, (B) os sediciosos planejavam forçar a coroa a abolir a
simbolizavam o seguinte aspecto da sociedade colonial: derrama, que determinava a cobrança de todos os
(A) A utilização de escravos bem-vestidos em impostos atrasados;
atividades degradantes, como marca da hierarquia (C) os sediciosos rebelaram-se contra forasteiros que
social. eram beneficiados pela coroa com privilégios na
(B) A devoção de criados aos proprietários, como exploração das jazidas auríferas;
expressão da harmonia do elo patriarcal.
(D) os projetos dos sediciosos eram o rompimento com "Estado Negro" encravado no Brasil escravista. Sobre o
Portugal, a adoção de um regime republicano é a tema, é correto afirmar:
criação de uma universidade em Vila Rica; (A) No Brasil as comunidades remanescentes dos
(E) a sublevação desafiou a ação do marquês de quilombos foram aniquiladas e com elas também a
Pombal que havia determinado o monopólio régio tradição oral dos povos africanos.
sobre a extração de diamantes. (B) Vieira e outros jesuítas justificaram e defenderam a
escravidão dos negros, combinando a ideia de
6. (Espcex (Aman)) No Brasil colônia, particularmente no missão com a de ordem escravista.
séc. XVIII, ocorreram dois movimentos revolucionários (C) As tropas locais, instruídas pelos jesuítas,
que ficaram conhecidos como Inconfidência Mineira negociaram pacificamente a rendição dos
(1789) e Conjuração Baiana (1798). mocambos da Serra da Barriga.
(D) O insucesso das diversas expedições contra
Quais características são comuns entre eles? Palmares não alterou a política de prevenção contra
(A) A influência do pensamento iluminista e a fugas e ajuntamentos de fugitivos.
participação maciça de pessoas da elite da (E) A palavra "milagre" usada por Vieira significa o
sociedade local. triunfo da libertação dos negros do cativeiro.
(B) Foram inspiradas pelo lema Liberdade, Igualdade e
Fraternidade e pretendiam acabar com a 9. (ENEM 2020) O movimento sedicioso ocorrido na
escravidão. capitania de Pernambuco, no ano 1817, foi analisado de
(C) Queriam romper com a dominação colonial e formas diferentes por dois meios de comunicação
tiveram influência do pensamento iluminista. daquela época. O Correio Braziliense apontou para o
(D) Foram sufocadas sem grande derramamento de fato de ser “a comoção no Brasil motivada por um
sangue, pois havia grande participação de pessoas descontentamento geral, e não por maquinações de
ligadas à elite da sociedade local. alguns indivíduos”. Já a Gazeta do Rio de Janeiro
(E) Pretendiam acabar com a escravidão e estabelecer considerou o movimento como um “pontual desvio de
a independência política do Brasil. norma, apenas uma ‘mancha’ nas ‘páginas da História
Portuguesa’, tão distinta pelos testemunhos de amor e
7. (Fac. Albert Einstein - Medicin) Crise do sistema colonial respeito que os vassalos desta nação consagram ao seu
é, portanto, aqui entendida como o conjunto de soberano”.
tendências políticas e econômicas que forcejavam no JANCSÓ, I.; PIMENTA, J. P. Peças de um mosaico. In: MOTA, C. G. (Org.).
Viagem Incompleta: a experiência brasileira (1500-2000). São Paulo: Senac,
sentido de distender ou mesmo desatar os laços de 2000 (adaptado).
subordinação que vinculavam as colônias ultramarinas
às metrópoles europeias. Os fragmentos das matérias jornalísticas sobre o
(Fernando A. Novais. Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial
(1777-1808), 1981.) acontecimento, embora com percepções diversas,
relacionam-se a um aspecto do processo de independência
A crise mencionada no texto pode ser associada, entre da colônia luso-americana expresso em dissensões entre
outros fatores, (A) quadros dirigentes em torno da abolição da ordem
(A) ao fim do colonialismo europeu nas Américas e na escravocrata.
África e ao surgimento de ideias sociais libertadoras (B) intelectuais laicos acerca da revogação do domínio
nos dois continentes. eclesiástico.
(B) à consolidação da hegemonia marítima britânica e (C) grupos regionais acerca da configuração político- -
às limitações impostas pela Inglaterra ao tráfico territorial.
atlântico de escravos. (D) homens livres em torno da extensão do direito de
(C) ao crescimento do republicanismo no Brasil e ao voto.
esforço de redemocratização política empreendido (E) elites locais acerca da ordenação do monopólio
na Europa e na América. fundiário.
(D) à influência crescente dos Estados Unidos nas
decisões políticas brasileiras e à ampliação do 10. (Ufal) Considere o texto.
comércio com os países hispano-americanos.
(E) ao declínio da política mercantilista na Europa e ao O negro, a princípio tão medroso do tapuia e do mato grosso,
avanço das propostas reformistas e liberais na se assenhoreou depois de algumas das florestas mais
economia e na política. profundas do país e submeteu às suas tentativas rudes de
colonização policultora, realizadas quase dentro das florestas
8. (Uel) virgens (...). O máximo de aproveitamento da vida nativa.
Inclusive das palmas das palmeiras para numerosos fins, a
"Oh se a gente preta tirada começar pela habitação: arte em que o negro se tornou o
das brenhas da sua Etiópia, rival do indígena, a ponto do mucambo de palha ter se
e passada ao Brasil, tornado tão ecológico como qualquer palhoça indígena. O
conhecera bem quanto deve a Deus exemplo de Palmares já se tornou clássico. E é tão
e à sua Santíssima Mãe conhecido que seria banal recordá-lo ainda uma vez. Mesmo
por este que pode parecer porque não é o único na história do Nordeste.
(Gilberto Freyre. "Nordeste". Rio de Janeiro: Record, 1989. p. 81)
desterro, cativeiro e desgraça
e não é senão milagre
O autor mostra como os habitantes dos quilombos do
e grande milagre!"
(Antonio Vieira, 1633.) Nordeste, no período colonial, exploravam o meio ambiente.
Analisando o texto, pode-se afirmar que o autor sugere que
As palavras do Padre Vieira representam as os quilombolas
inquietações e hesitações de autoridades régias,
eclesiásticas e de colonos frente à mais emblemática
rebelião de quilombos coloniais, o Quilombo de Palmares - o
(A) entraram em conflitos com os índios pela disputa O intelectual e advogado, autor da poesia acima, foi um dos
por terras férteis. integrantes da mais importante revolta colonial brasileira,
(B) organizaram seu modo de vida adequando-se às conhecida como Inconfidência Mineira.
condições naturais.
(C) destruíram as condições ambientais com a Sobre esse movimento podemos afirmar que
colonização policultora. (A) era de natureza nativista e influenciado pelos
(D) evitaram adentrar na floresta por medo de serem discursos iluministas. Buscava a proclamação da
atacados por índios. república, que teria Ouro Preto como capital,
(E) contribuíram, como os fazendeiros, na devastação também o perdão de todas as dívidas para com a
das florestas naturais. Fazenda Real.
(B) manifestava-se contra os rigores da política fiscal
11. (Ufjf-pism 1) Observe as imagens abaixo: metropolitana sobre a Capitania das Minas,
exercida através da Casa de Contratação, e
inspirava-se nos ideais revolucionários franceses.
(C) visava à independência econômica e à política da
Colônia. O levante foi deflagrado quando se exigiu o
pagamento dos impostos atrasados pelas Casas de
Fundição em todo o país.
(D) era de caráter nacionalista, visando à
independência da Colônia e ao rompimento dos
lanços com a metrópole, com o livre direito de
implantação de manufaturas nas capitanias e ao
comércio exterior.
(E) foi ideologicamente influenciado pelos princípios
iluministas, divulgados em Minas por uma elite
intelectual e acolhidos pela população local, devido
à crise econômica.

13. (Uefs) A Inconfidência Mineira (1789) e a Conjuração


Bahiana (1798) expressaram localmente o conjunto de
mudanças ocorridas no Mundo Ocidental a partir de
meados do século XVIII. Apesar de suas diferenças, os
dois movimentos opunham-se
(A) à submissão colonial implícita na política
mercantilista metropolitana.
(B) à importação de ideais iluministas pela cultura
brasileira.
(C) à divisão do país entre ricos donatários
portugueses.
(D) à influência das independências das Colônias
Inglesas da América.
(E) à participação de homens livres pobres na
preparação da independência.
Considerando seu conhecimento sobre os dois movimentos
a que se referem as imagens, é possível inferir que 14. (Mackenzie) A Inconfidência Mineira representou
(A) A composição social dos dois movimentos era potencialmente uma das maiores ameaças de
diferente e, por isso, os dois defendiam o fim da subversão da ordem colonial. O fato de ter ocorrido na
desigualdade de classe e raça. área das Minas, área na qual a permanente vigilância e
(B) Os líderes dos dois movimentos se mantinham repressão sobre a população eram as tarefas maiores
afastados do povo, evitando a participação dos das autoridades públicas, indica um alto grau de
pobres, escravos e sendo contrários à escravidão. consciência da capacidade de libertação da dominação
(C) Os negros e ex-escravos mantinham-se na metropolitana.
liderança dos dois movimentos, defendendo o fim Resende, Maria Eugênia Lage de. A Inconfidência Mineira. São Paulo: Global,
do pacto colonial e a independência do Brasil. 1988.
(D) A presença dos negros nos dois movimentos foi
decisiva para o projeto de resistência social e luta De acordo com o texto acima assinale a assertiva correta.
armada contra Portugal e a burguesia brasileira. (A) A opulência da produção mineradora alcançou o
(E) A diferença social entre os dois movimentos foi seu apogeu na segunda metade do século XVIII,
fundamental para os dois projetos, que se aumentando a ganância da metrópole portuguesa,
distinguiam, sobretudo, no que se refere à defesa que acreditava que os mineiros estivessem
do fim da escravidão. sonegando impostos e passou a usar de violência
na cobrança dos mesmos.
12. (Mackenzie) (B) O descontentamento dos colonos aumentava de
“O resto empório das douradas Minas acordo com o preço das mercadorias importadas, já
Por mim o falará: quando mais finas que eram proibidas as manufaturas na Colônia.
Se derramam as lágrimas no imposto Além disso, os jornais que circulavam na região,
Clama o desgosto de um país decadente. ” alertavam a população sobre a corrupção nos altos
cargos administrativos coloniais.
(Cláudio Manoel da Costa)
(C) Sofrendo violenta opressão, a classe dominante (D) em 1789 e 1798, seus líderes projetaram a
mineira conscientizou-se das contradições entre os possibilidade de rompimento definitivo das relações
seus interesses e os da metrópole. Influenciada políticas com a metrópole, diferentemente do que
pelo pensamento iluminista e na iminência da ocorrera com as sedições anteriores.
cobrança da derrama em Vila Rica, em 1789, (E) em 1789 e 1798, diferentemente do que se dera
preparou uma insurreição. com as revoltas anteriores, os sediciosos tinham o
(D) Contando com adesão e apoio efetivo de diversas claro propósito de abolir o tráfico transatlântico de
parcelas da população mineira, os insurgentes escravos para o Brasil.
reivindicavam um governo republicano inspirado
nas ideias presentes na Constituição dos EUA, mas 17. (Enem) O instituto popular, de acordo com o exame da
foram traídos por um dos participantes em troca do razão, fez da figura do alferes Xavier o principal dos
perdão de suas dívidas pessoais. Inconfidentes, e colocou os seus parceiros a meia ração
(E) Mesmo sem ter ocorrido de fato, a Inconfidência de glória. Merecem, decerto, a nossa estima aqueles
Mineira, o apoio recebido da população revoltada e outros; eram patriotas. Mas o que se ofereceu a carregar
influenciada pelos ideais iluministas, demonstrou a com os pecadores de Israel, o que chorou de alegria
maturidade do processo pela independência do quando viu comutada a pena de morte dos seus
país. Tal engajamento vai estar presente durante companheiros, pena que só ia ser executada nele, o
todas as lutas em prol da nossa emancipação. enforcado, o esquartejado, o decapitado, esse tem de
receber o prêmio na proporção do martírio, e ganhar por
15. (Uece) Atente ao seguinte enunciado: “Nove anos após todos, visto que pagou por todos.
a Inconfidência Mineira, idealizada e liderada por ASSIS, M. Gazeta de Notícias, n. 114, 24 abr. 1892.
membros da elite da capitania de Minas Gerais
(advogados, magistrados, militares, padres e ricos No processo de transição para a República, a narrativa
contratantes), uma nova revolta ocorreu na Colônia, machadiana sobre a Inconfidência Mineira associa
contra a dominação portuguesa. Essa, entretanto, não (A) redenção cristã e cultura cívica.
ficou restrita a um pequeno grupo da elite de brancos e (B) veneração aos santos e radicalismo militar.
intelectuais ou às ideias políticas liberais. Teve a (C) apologia aos protestantes e culto ufanista.
participação e mesmo a liderança de pessoas oriundas (D) tradição messiânica e tendência regionalista.
dos grupos desprivilegiados (mulatos, brancos pobres, (E) representação eclesiástica e dogmatismo
negros livres e escravos), dela participaram o médico ideológico.
Cipriano José Barata de Almeida, os soldados Lucas
Dantas do Amorim Torres e Luís Gonzaga das Virgens e 18. (Ufjf-pism 2) A transferência da Corte portuguesa para o
os alfaiates João de Deus do Nascimento e Manuel Brasil em 1808 abrange um conjunto de transformações
Faustino dos Santos Lira. Seus objetivos incluíam, além únicas que significaram um marco e um “impacto
da autonomia em relação a Portugal, a implantação de dramático” para a vida cotidiana da cidade do Rio de
um governo republicano, a busca por igualdade racial Janeiro e para todos os súditos que integravam este
com a abolição da escravidão e o fim dos privilégios vasto império.
sociais e econômicos das elites, com a diminuição dos
impostos e com aumentos salariais para o povo”. Das alternativas abaixo, marque a alternativa CORRETA:
(A) A abertura dos portos às nações amigas em 1808
O enunciado acima se refere ao movimento separatista criou disposições legais que prejudicaram o
colonial denominado desenvolvimento industrial do Brasil e ainda
(A) Conjuração Baiana, de 1798. contribuíram para o fim da escravidão.
(B) Revolução Pernambucana, de 1817. (B) Com a vinda da família real ao Brasil, instituiu-se
(C) Revolução Praieira, de 1848. uma distribuição de propriedades privadas, via
(D) Confederação do Equador, de 1824. sistema de sesmaria, com objetivos de ampliar a
doação de terras para os súditos da nova sede da
16. (Fuvest) Os ensaios sediciosos do final do século XVIII monarquia portuguesa.
anunciam a erosão de um modo de vida. A crise geral (C) A transferência da Corte para o Rio de Janeiro
do Antigo Regime desdobra-se nas áreas periféricas do levou à criação de um conjunto importante de
sistema atlântico – pois é essa a posição da América instituições, tais como a Intendência Geral da
portuguesa –, apontando para a emergência de novas Polícia e o primeiro banco a funcionar em terras
alternativas de ordenamento da vida social. brasileiras, o Banco do Brasil.
István Jancsó, “A Sedução da Liberdade”. In: Fernando Novais, História da (D) Uma das primeiras medidas da família real ao se
Vida Privada no Brasil, v. 1. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. instalar no Rio de Janeiro foi abrir espaço para
Adaptado.
maior participação dos setores populares nas
questões políticas do império português.
A respeito das rebeliões contra o poder colonial português na
(E) Dentre as transformações mais impactantes
América, no período mencionado no texto, é correto afirmar
ocorridas com a chegada da corte em 1808, pode-
que,
se mencionar a modernização do Brasil e a abolição
(A) da mesma forma que as contestações ocorridas no
da escravidão, prejudicando os cafeicultores e
Maranhão em 1684, a sedição de 1798 teve por
grandes proprietários rurais.
alvo o monopólio exercido pela companhia
exclusiva de comércio que operava na Bahia.
(B) em 1789 e 1798, tal como ocorrera na Guerra dos
Mascates, os sediciosos esperavam contar com o
suporte da França revolucionária.
(C) tal como ocorrera na Guerra dos Emboabas, a
sedição de 1789 opôs os mineradores recém-
chegados à capitania aos empresários há muito
estabelecidos na região.
19. (Fgv) A primeira medida importante tomada pelo
Príncipe-Regente após sua chegada foi o Alvará de 1o
de abril de 1808. O propósito fundamental do ato
legislativo era promover a industrialização do Brasil.
Alguns importantes incentivos foram concedidos por
meio do Alvará de 28 de abril de 1809: isenção de
imposto de exportação para manufaturados nacionais,
uso obrigatório de bens nacionais pelas tropas reais e a
distribuição anual de 60 mil cruzados entre os industriais
na tecelagem de algodão, lã e seda.

(Carlos Manuel Peláez e Wilson Suzigan. História monetária do Brasil, 1981.


Adaptado.)

Considerando as informações do texto e conhecimentos


sobre a transferência da Corte portuguesa para o Brasil,
pode-se afirmar que o governo
(A) promovia a industrialização do país, cobrando
impostos elevados de mercadorias importadas da
Inglaterra.
(B) procurava ampliar o mercado consumidor interno,
abolindo gradualmente a exploração do trabalho
escravo.
(C) desenvolvia a indústria armamentista, objetivando a
expulsão das tropas bonapartistas do território
português.
(D) visava aparelhar a colônia como o centro do
Império, viabilizando as políticas econômicas
contrárias aos estatutos coloniais.
(E) invertia a ordem do domínio colonial, bloqueando o
desenvolvimento da economia manufatureira no
reino de Portugal.

20. (Enem) Eu, o Príncipe Regente, faço saber aos que o


presente Alvará virem: que desejando promover e
adiantar a riqueza nacional, e sendo um dos mananciais
dela as manufaturas e a indústria, sou servido abolir e
revogar toda e qualquer proibição que haja a este
respeito no Estado do Brasil.
Alvará de liberdade para as indústrias (1º de Abril de 1808). In: Bonavides, P.;
Amaral, R. Textos políticos da História do Brasil. Vol. 1. Brasília: Senado
Federal, 2002 (adaptado).

O projeto industrializante de D. João, conforme expresso no


alvará, não se concretizou. Que características desse
período explicam esse fato?
(A) A ocupação de Portugal pelas tropas francesas e o
fechamento das manufaturas portuguesas.
(B) A dependência portuguesa da Inglaterra e o
predomínio industrial inglês sobre suas redes de
comércio.
(C) A desconfiança da burguesia industrial colonial
diante da chegada da família real portuguesa.
(D) O confronto entre a França e a Inglaterra e a
posição dúbia assumida por Portugal no comércio
internacional.
(E) O atraso industrial da colônia provocado pela perda
de mercados para as indústrias portuguesas.

GABARITO
1 B 6 C 11 E 16 D
2 B 7 E 12 E 17 A
3 A 8 B 13 A 18 C
4 E 9 C 14 C 19 D
5 A 10 B 15 A 20 B
Atualmente, o Brasil, que é um país de proporções continentais, tem governo
republicano e regime presidencialista, com voto universal para os principais cargos dos poderes
Executivo e Legislativo. Homens e mulheres, a partir dos 16 anos, analfabetos ou doutores,
pobres ou ricos, de qualquer etnia ou religião, têm o mesmo direito ao voto. Mas esse direito ao
voto universal foi uma conquista da população que aconteceu lentamente. Nos primeiros
tempos do Brasil como país independente – que, de colônia de Portugal, se transformou em
uma monarquia constitucional –, pouco havia mudado em relação à cidadania: o voto era
censitário e exclusivamente masculino para os poucos cargos eletivos. Além disso, a escravidão
foi mantida, em um mundo liberal cada vez mais partidário da abolição.

1. AS CORTES DE LISBOA

Em Portugal, as Cortes de Lisboa tenderam a tratar cada província do Brasil como uma
unidade autônoma, de modo a diminuir o poder centralizador que d. Pedro tentava impor.
Desgastado financeiramente, já que a Corte de d. João levara para Portugal todas as reservas
dos cofres, d. Pedro chegou a solicitar a d. João, em carta, dispensa “deste emprego”.
Nesse meio-tempo, começaram as pressões das Cortes portuguesas e do próprio d.
João VI para que o príncipe regente também voltasse a Portugal. Após receber uma
representação de mais de 8 mil assinaturas de pessoas do Rio de Janeiro, ele decidiu, em 9 de
janeiro de 1822, permanecer na América, mantendo vivo o projeto do Brasil como Reino Unido
a Portugal.
O episódio acabou conhecido como o Dia do Fico. Os integrantes das Cortes
portuguesas, ao mesmo tempo que defendiam uma monarquia constitucional para Portugal,
inspirada no liberalismo, pensavam em rebaixar o Brasil à condição que possuía antes de 1815:
colônia. Foi nessa altura que, como reação às tentativas de recolonização, começou a ganhar
corpo entre as elites brasileiras a proposta de independência.
O primeiro a defender a ideia publicamente foi Joaquim Gonçalves Ledo, no jornal
Revérbero Constitucional Fluminense, em 30 de abril. O clima ficou cada vez mais favorável à
ruptura, com a circulação de panfletos e jornais em defesa da emancipação. Enquanto isso, d.
Pedro escolhia um novo ministério, liderado por José Bonifácio de Andrada e Silva, natural da
cidade de Santos, em São Paulo. Ele tornou- -se o principal conselheiro do príncipe e, por isso,
ficou conhecido como o Patriarca da Independência, embora sua posição tenha sido antes de
tudo cautelosa.
Em 3 de junho de 1822, d. Pedro convocou eleições provinciais para compor uma
Assembleia Constituinte para o Brasil, demonstrando que estava disposto a enfrentar Lisboa. O
ato que marcou o rompimento definitivo com Portugal foi, porém, o decreto assinado por d.
Pedro em agosto, definindo como inimigas todas as tropas enviadas de Lisboa sem o seu
consentimento.
Em 7 de setembro de 1822, d. Pedro proclamou a independência no famoso Grito do
Ipiranga. O Brasil manteve a sua integridade territorial e passou a ser uma das únicas
monarquias da América de vida longa.

2. CIDADANIA E EXCLUSÃO NA CONSTITUIÇÃO IMPERIAL

O “Grito do Ipiranga”, em 7 de setembro de 1822, foi um ato simbólico do momento em


que o príncipe regente d. Pedro declarou o Brasil independente de Portugal, como resposta às
pressões exercidas pelas Cortes portuguesas para recolonizar o Brasil.
E em 10 de dezembro de 1822, d. Pedro foi coroado imperador do Brasil. Logo
eclodiram revoltas contrárias à independência em várias províncias ocupadas por tropas
portuguesas que se mantiveram fiéis às Cortes de Lisboa, em especial no norte (Grão-Pará,
Maranhão e Bahia) e no sul (Cisplatina).
Somente no final de 1823 o impasse estava superado, com todas as províncias
incorporadas ao novo Império do Brasil. A maior resistência ocorreu na Bahia, onde os
partidários das Cortes portuguesas dominavam a política local desde 1821. A rica área agrícola
de Cachoeira, na região do Recôncavo baiano, entretanto, aliou-se ao príncipe em meados de
1822.
Começaram então as lutas entre as tropas portuguesas, lideradas pelo Governador
das Armas, Inácio Luís Madeira de Melo, e parte da população, incluindo os escravos. Para
enfrentar os portugueses, foram contratados mercenários estrangeiros, como o almirante inglês
Thomas Cochrane, que bloqueou o porto de Salvador. Tropas terrestres, lideradas pelo francês
Pedro Labatut e depois por José Joaquim de Lima e Silva, derrotaram as tropas portuguesas
em julho de 1823.

A DISSOLUÇÃO DA ASSEMBLEIA CONSTITUINTE

Enquanto as lutas ocorriam, ganhava intensidade um novo conflito, que tinha como
cenário a Assembleia Constituinte, convocada para elaborar a Carta Magna do novo país.
Essa Assembleia era composta de quase uma centena de deputados provinciais, que
representavam a elite ilustrada e intelectual do império em construção. Mais da metade era
formada em Coimbra, e muitos tinham atuado no governo de d. João VI.
Tão logo iniciaram os trabalhos na Assembleia, em 3 de maio de 1823, dois grupos se
configuraram: de um lado, o chamado Partido Brasileiro, que propunha uma monarquia
constitucional em que o imperador devia se submeter às leis; de outro, o Partido Português, que
defendia o fortalecimento do poder do imperador. Não eram partidos políticos como os que
conhecemos hoje, mas correntes de opinião.
Outra grande disputa entre os dois grupos ocorria em relação ao governo das
províncias. Os “brasileiros” pretendiam que fosse eleita uma junta governativa local, que daria
maior autonomia às províncias. Já os “portugueses” desejavam que o imperador indicasse um
presidente que poderia ser removido quando julgasse necessário; ou seja, defendiam a
centralização do poder na figura imperial.
D. Pedro e seus partidários defendiam a restrição do poder de decisão das províncias
com o argumento de que havia o risco de algumas imprimirem um movimento de independência
em relação ao recém-criado Império do Brasil, alimentando o que consideravam uma anarquia.
Já os “brasileiros”, por sua vez, viam com desconfiança a centralização do poder, suspeitando
de uma continuidade do despotismo português. Os grupos políticos concordavam quanto à
manutenção da escravidão e à unidade territorial.
Um esboço do projeto da Constituição foi apresentado em setembro de 1823. Esse
projeto recebeu o apelido de “Constituição da Mandioca”, porque poderiam ser votantes nas
eleições primárias os homens que tivessem renda anual equivalente a 150 alqueires de farinha
de mandioca. Os ânimos estavam alterados há tempos. Os “brasileiros”, representados
principalmente pelos irmãos Antônio Carlos de Andrada e Silva e José Bonifácio, defendiam um
poder limitado do imperador, que não poderia: ser governante de outro reino; dissolver o
Parlamento; comandar as Forças Armadas. Também seria obrigado a acatar as decisões do
Poder Legislativo. Além disso, José Bonifácio havia apresentado à Assembleia um projeto que
previa a extinção gradual da escravidão.
Nem bem os artigos começaram a ser votados, d. Pedro I dissolveu a Assembleia
Constituinte, na madrugada de 12 de novembro daquele ano, por considerar inaceitável a
possibilidade de o poder do império ser dividido entre vários organismos. O episódio ficou
conhecido como “Noite da Agonia”. Os irmãos Andrada foram presos e deportados.
No mesmo decreto que dissolveu a Assembleia Constituinte, d. Pedro convocou um
grupo para elaborar uma carta constitucional a seu modo: o Conselho de Estado, composto de
seis ministros e mais quatro membros, todos nascidos no Brasil. Ele mesmo presidia o
Conselho. Em março de 1824, a população do Brasil recebeu pela primeira vez uma
Constituição. Ela foi outorgada (imposta) por d. Pedro I, que instituía quatro poderes: o
Executivo (exercido pelo imperador e pelos seus ministros de Estado), o Legislativo (composto
de senadores e deputados gerais e provinciais), o Judiciário (formado pelos juízes e pelos
tribunais) e o Moderador (exercido exclusivamente pelo imperador). As províncias seriam
governadas por um presidente nomeado pelo imperador.
Os atos centralizadores de d. Pedro I não passaram sem reação. Em diversos lugares
surgiram atitudes contra os portugueses que ocupavam cargos da administração, que eram
proprietários de grandes unidades produtoras e dominavam o comércio de escravos e de
gêneros alimentícios. Qualquer atitude de proteção a portugueses em detrimento dos brasileiros
era vista com desconfiança. O português era identificado pelos brasileiros como o antigo
domínio metropolitano. E o imperador estava no centro dessa tensão, por não ter nascido em
terras brasileiras e ser visto como defensor dos interesses portugueses.

A CONSTITUIÇÃO DE 1824

Outorgada por d. Pedro I em 25 de março de 1824, a Constituição imperial definia a


forma de governo como uma monarquia hereditária, constitucional e representativa. Vários
pontos eram iguais aos do projeto elaborado pela Assembleia Constituinte de 1823; mas havia
importantes diferenças, como a divisão do poder político incluindo o Moderador, cuja finalidade,
segundo seus defensores, era zelar pelo equilíbrio entre os outros poderes. Na prática, era um
instrumento para permitir que o imperador interferisse nos demais poderes.
A Constituição instituía ainda o catolicismo como religião do Estado e permitia os cultos
privados de outras religiões, desde que seus templos não ostentassem seus símbolos. Eram
considerados cidadãos brasileiros todos os homens livres e libertos (ex-escravos) nascidos no
Brasil. Quanto aos nascidos em Portugal – diferentemente do projeto de 1823, que os excluía
da cidadania –, foram reconhecidos como cidadãos todos aqueles nascidos no reino ou em
outras colônias que, residentes no Brasil, tivessem aderido à independência. Os libertos
nascidos na África foram excluídos da cidadania.
O Legislativo era dividido entre Senado (vitalício) e Câmara de Deputados (eleita por
um período de quatro anos). Os eleitores das províncias votavam em nomes para o Senado,
formando uma lista tríplice, encaminhada ao imperador – cabia a ele a escolha nal. Os
deputados eram eleitos pelo maior número de votos. Em ambos os casos, a eleição era indireta:
em eleições primárias, era escolhido um corpo eleitoral (os eleitores), que depois elegeria os
deputados e os senadores.
Nas eleições primárias, estavam excluídos do direito de voto os criados de servir, os
menores de 25 anos (a não ser os casados), os religiosos regulares, os criminosos e os que
não tivessem renda mínima anual de 100 mil réis. Nas eleições de segundo nível, só podiam ser
eleitores aqueles que tivessem 200 mil réis ou mais de renda anual. Embora fossem votantes
nas eleições primárias, nesta segunda fase os escravos alforriados (libertos) nascidos no Brasil
não tinham direito ao voto, mesmo tendo a renda anual estipulada. As mulheres também não
foram incluídas; o voto feminino nem ao menos fora questionado naquele momento.
Só podiam ser candidatos aos cargos de deputado e senador (três por província), além
das exigências anteriores, homens católicos que possuíssem uma renda entre 400 mil e 800 mil
réis, respectivamente. Essas determinações acabaram por criar uma divisão entre cidadãos
passivos (os excluídos do direito ao voto) e cidadãos ativos (subdivididos em cidadãos ativos
votantes e cidadãos ativos eleitores e elegíveis). Não havia necessidade de ser alfabetizado.
A Constituição não alterou o regime escravista vigente. Os políticos, de maneira geral,
sabiam ser esse o ponto mais delicado. Era consenso entre as elites intelectuais que o Brasil
não sobreviveria sem a mão de obra escrava. Assim, a Constituição de 1824 foi omissa em
relação à escravidão. Isso significava que o regime escravista seria regido pelo direito de
propriedade sem interferência do Estado na relação entre senhores e escravos.

IMPÉRIO EM CONSTRUÇÃO

Durante a construção do Império, dois importantes pontos se impunham nesse


processo: a unidade territorial em torno do governo do Rio de Janeiro e o reconhecimento
internacional de sua independência. Ambos foram conquistados a duras penas.

A CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR

A dissolução da Assembleia Constituinte e a outorga da Carta de 1824 acirraram os


ânimos no Brasil, principalmente em Pernambuco. O que incomodava os pernambucanos,
assim como os membros da elite de outras províncias das atuais regiões Nordeste e Norte, era
a falta de autonomia em decorrência da opção de d. Pedro por manter um regime centralizado
com sede no Rio de Janeiro.
D. Pedro I havia nomeado um presidente de província indesejado pelas elites
regionais. Foi o pretexto para o surgimento, em julho de 1824, da Confederação do Equador,
movimento que tinha como objetivo tornar independente a província de Pernambuco e reunir as
províncias do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e, talvez, Piauí e Pará. Os rebeldes
pretendiam criar um governo confederado e republicano, com ampla autonomia das províncias.
Várias lideranças que haviam participado da Revolução de 1817 estavam presentes na nova
rebelião, entre elas Frei Caneca.
Essa conspiração foi reprimida violentamente pelas tropas do governo, lideradas por
Francisco Alves de Lima e Silva. Em novembro foram executados os principais líderes, incluindo
Frei Caneca. O Império Brasileiro saiu ileso desse combate, mas o prestígio do imperador ficou
ainda mais abalado.

O RECONHECIMENTO DA INDEPENDÊNCIA

Para que um país se torne independente, é necessário que haja um reconhecimento


diplomático por parte de outros países. No caso do Brasil, como nos das outras ex-colônias da
América, era necessário que a antiga metrópole reconhecesse a independência, pois isso
abriria caminho para que países aliados a ela fizessem o mesmo.
D. Pedro I enviou embaixadores a alguns países, mas encontrou muita resistência. O
governo dos Estados Unidos não via com bons olhos o regime monárquico de governo, mas foi
o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil, em 1824. Anal, a defesa do princípio de
independência das colônias da América falou mais alto. Por outro lado, países com governos
tradicionais viam com desconfiança os movimentos constitucionais e inspirados no ideário
liberal, além de nenhum deles querer tomar a decisão antes do reconhecimento de Portugal.
Somente os Estados Unidos e o México o zeram sem depender da aceitação portuguesa.
O imperador ainda teve de buscar o apoio diplomático britânico para obter o
reconhecimento externo, principalmente de Portugal. Mas a Grã-Bretanha temia que, caso
aceitasse a independência do Brasil à revelia de Portugal, pudesse perder o domínio que
exercia há séculos sobre a monarquia lusa, além dos privilégios alfandegários nos portos
brasileiros conquistados com os Tratados de 1810.
Os ingleses propuseram, então, uma solução negociada entre os países. A proposta
da Grã-Bretanha foi aceita e, em 1825, Portugal reconheceu a independência do Brasil em troca
de uma indenização de 2 milhões de libras esterlinas paga pelo governo brasileiro (a maior
parte emprestada da Grã-Bretanha) e da concessão do título, meramente honorífico, de
Imperador do Brasil a d. João VI. Por sua vez, os ingleses exigiram do Brasil, ainda, a
renovação dos Tratados de 1810.
Desse jogo diplomático, os britânicos saíram com enormes vantagens. Portugal teve
suas compensações. O Brasil saiu independente, mas tornou-se um grande devedor da Grã-
Bretanha, além de ter sido obrigado a reconhecer a prioridade britânica em seu comércio
internacional. Mesmo assim, o governo achou o tratado vantajoso.

O DESGASTE DO IMPERADOR

Em 1824, foi a vez de os habitantes da província Cisplatina iniciarem um movimento


com o objetivo de se separar do Brasil. Eles pretendiam adotar um regime republicano e se
anexar às Províncias Unidas do Reino do Prata (atual Argentina). A antiga disputa da região
entre portugueses e espanhóis ganhou nova versão no confronto entre Brasil e Argentina, em
particular Buenos Aires, dando início à guerra em 1825.
A localização da Província era estratégica para o contato com as províncias brasileiras
do interior. Caso a Cisplatina fosse anexada a Buenos Aires, ambas as margens do Prata
seriam por ela controladas, situação totalmente indesejável para o Brasil.
D. Pedro I deu grande importância ao fato, iniciando uma reação que levou à falência
os cofres públicos. Imaginava que, derrotando os revoltosos, acabaria com as aspirações
republicanas na Cisplatina e mostraria a superioridade do regime monárquico. Não teve êxito.
Em 1828, com a mediação britânica, a Cisplatina não ficou com nenhum dos lados:
transformou-se em um Estado independente, com o nome de República Oriental do Uruguai.
O desgaste de d. Pedro I em decorrência da derrota na guerra aumentou com os
acontecimentos em Portugal. Com a morte de d. João VI, em 1826, o imperador do Brasil,
herdeiro legítimo do trono português, teve de optar por uma das duas Coroas. Escolheu a do
Brasil, abdicando ao trono do reino europeu em favor de sua filha mais velha, nascida no Rio de
Janeiro, d. Maria da Glória – ainda criança, mas prometida como esposa ao irmão do
imperador, d. Miguel.
Dois anos depois, d. Miguel deu um golpe de Estado e assumiu o poder, com o apoio
de sua mãe, d. Carlota Joaquina. D. Miguel era o escolhido das elites portuguesas como
representante da ordem absolutista anterior a 1820.
Cada vez mais preocupado com os problemas políticos de Portugal e em defender os
interesses da filha, d. Pedro I desagradava a diversos setores da sociedade brasileira. O
tesouro encontrava-se falido: os gastos para enfrentar a Confederação do Equador e a Guerra
da Cisplatina eram superiores à arrecadação. Em 1829, o Banco do Brasil decretou falência.
Além disso, na esfera pessoal, era público que d. Pedro I mantinha diversas relações fora do
casamento, a mais conhecida com d. Domitila de Castro, que chegou a ser agraciada com o
título de Marquesa de Santos. Após a morte da imperatriz d. Leopoldina, em 1826, d. Pedro I
casou-se com d. Amélia de Leuchtenberg, princesa nascida em Munique, e a Marquesa de
Santos afastou-se da Corte. Os rumores diminuíram, mas a imagem de d. Pedro I já estava
muito desgastada aos olhos dos políticos e da população.

D. PEDRO ABDICA

O descontentamento com o imperador chegou ao auge no final da década de 1820. Ele


enfrentava desde uma oposição moderada – como a do jornal Aurora Fluminense, defensor do
sistema representativo contra o autoritarismo do imperador – até uma oposição radical, como a
dos jornais O Repúblico, que defendia a república, e o Malagueta, que defendia a autonomia
provincial.
A situação de d. Pedro I tornou-se insustentável com a mudança do ministério, em
1830. O imperador foi acusado de escolher ministros ligados diretamente a sua posição política,
desconsiderando os interesses de boa parte dos brasileiros. Foi de grande impacto o
assassinato do imigrante italiano Líbero Badaró, em fins de 1830, que se identificava como um
jornalista liberal, criticava a monarquia e era editor do jornal O Observador Constitucional; o fato
aumentou a atmosfera de insegurança. Em 15 de março de 1831, no Rio de Janeiro, os
conflitos entre brasileiros e portugueses culminaram na chamada Noite das Garrafadas, em que
brasileiros atacaram com pedras e garrafas os portugueses que organizavam uma grande festa
para recepcionar o imperador, que voltava de uma viagem feita a Minas Gerais.
Derrotado, d. Pedro I não resistiu. Em 7 de abril, optou por abdicar do trono brasileiro
em favor de seu filho, d. Pedro de Alcântara, então com 5 anos, nomeando José Bonifácio como
tutor. Como o herdeiro era menor de idade, o governo do Império foi exercido por uma
Regência.
3. MONARQUIA SEM IMPERADOR

Quando d. Pedro I abdicou do trono do Brasil, em 1831, seu filho, d. Pedro de


Alcântara, foi aclamado “Imperador Constitucional Pedro II em sua menoridade”, tendo como
tutor José Bonifácio de Andrada e Silva. Nenhum parente do jovem imperador tinha condições
de assumir a regência, como era comum nas monarquias europeias. Com a Assembleia
Legislativa em recesso, alguns senadores e deputados que estavam no Rio de Janeiro
indicaram uma Regência Trina Provisória.
Dois meses depois, em junho, essa regência foi substituída por uma Regência Trina
Permanente, eleita pela Assembleia Geral. Foi determinado o que a regência não poderia fazer:
declarar guerra, conceder títulos de nobreza, vetar leis e dissolver a Câmara. Isso significava
que, pela primeira vez, o Brasil teria uma Assembleia Legislativa com poder decisório, algo
próximo do que ocorria no sistema parlamentar.
Nesse momento, a situação política se polarizou: de um lado estavam os restauradores
ou caramurus, centralistas, que pretendiam trazer de volta d. Pedro I; de outro, os liberais
radicais, conhecidos como exaltados ou jurujubas, que pretendiam acabar com o Poder
Moderador, o Senado Vitalício e o Conselho de Estado, instrumentos próximos aos ideais
absolutistas. Defendiam ainda maior autonomia para as províncias e, alguns, até mesmo o
federalismo e a República.
Entre os dois lados, havia os moderados ou chimangos, grupo bastante diversificado,
que tinha como objetivo manter a integridade do território e a ordem interna. Então à frente do
governo, os moderados consideravam a abdicação uma vitória da união do povo e das tropas,
no sentido de consolidar a real independência do país. Todavia, era um período tenso.

DECISÕES DA REGÊNCIA

O ministro da Justiça, padre Diogo Antônio Feijó – a grande figura política daquele
momento –, reorganizou as forças militares com a intenção de conter os inúmeros levantes de
tropas e as manifestações populares que explodiam por todo canto, principalmente no Rio de
Janeiro. Em 18 de agosto de 1831, criou a Guarda Nacional, uma das mais importantes
instituições do Império.
Ao contrário das milícias coloniais, a Guarda Nacional não era uma força de reserva do
Exército. Era uma corporação paramilitar, composta de cidadãos eleitores das grandes cidades
(ou seja, com renda anual de pelo menos 200 mil réis) entre 25 e 60 anos e cidadãos votantes
dos demais municípios (com renda mínima anual de 100 mil réis). O que definia a Guarda
Nacional era, portanto, a cidadania, pois participavam dela os cidadãos ativos. Era, em resumo,
o controle dos cidadãos ativos, proprietários, sobre os despossuídos e os escravos.
Em novembro de 1832, foi finalizado o Código de Processo Criminal, que estabeleceu
novas regras para o exercício da justiça. Uma medida de destaque foi a ampliação do poder dos
juízes de paz, que tiveram permissão para prender, julgar e, em caso de emergência, convocar
a polícia ou a Guarda Nacional.
Em 1834, um Ato Adicional à Constituição de 1824 aumentou a autonomia das
províncias ao transformar os conselhos gerais de província em assembleias legislativas
provinciais. Com isso, cada província passava a ter o poder de criar leis específicas, desde que
não ferissem a Constituição, o que satisfazia os liberais. O Ato Adicional também transformou o
Rio de Janeiro em município neutro, capital do Império. Além disso, estabeleceu a Regência
Una, instituindo um só regente, que deveria ser escolhido por meio de eleição, medida que
agradava aos moderados.

CLIMA DE REBELIÃO

Em 1835, a Regência Una foi assumida por Diogo Feijó, eleito em votação apertada,
com pouco mais da metade dos votos, numa demonstração clara de que enfrentaria grande
oposição em seu governo. Logo explodiram rebeliões em várias províncias, algumas
reivindicando mais poder, outras com objetivos separatistas e até mesmo tendência
republicana. Todas com maior ou menor mobilização popular.
Muitos avaliavam que a menoridade de d. Pedro de Alcântara, então um menino com
nove anos, fragilizava o poder central – julgava-se que um Império sem imperador era um
convite às dissidências de todo tipo. Diversas revoltas eclodiram. As tropas imperiais e a
Guarda Nacional reprimiram violentamente as revoltas – com exceção da Farroupilha, que teve
desfecho negociado, mais favorável aos revoltosos por ter sido liderada pela elite, formada
pelos grandes estancieiros gaúchos.

4. ELITES REBELDES, REVOLTAS POPULARES


CABANAGEM

No Grão-Pará eclodiam conflitos desde a independência do Brasil. Grupos ligados aos


interesses portugueses se mantinham fiéis à ideia de um império luso-brasileiro. Havia também
um ressentimento com o excessivo poder exercido pelo governo central sobre as províncias. O
clima explosivo se completava com as divergências internas das elites locais, além das
péssimas condições de vida dos mais pobres.
Nesse contexto ocorreu a Cabanagem (1835-1840), nome derivado de cabana, tipo de
habitação usada pela população pobre, às margens dos rios. Essa população, formada por
indígenas, negros e mestiços, participou ativamente do movimento. Mas a revolta foi provocada
por divergências ocorridas entre as elites locais, que aspiravam ao direito de escolher os
presidentes de província.
Em 1832, o desembargador José Mariani, presidente indicado pela Regência, foi
impedido de tomar posse. O novo presidente indicado, Lobo de Souza, tentou uma política
conciliatória, sem êxito. Sofria séria oposição de fazendeiros e pequenos proprietários, como
Félix Malcher, Manuel Vinagre e Eduardo Angelim, que contavam com o apoio tanto da
população miserável quanto do bispo da cidade de Belém.
Em novembro de 1834, as tropas provinciais assassinaram Manuel Vinagre. Foi a gota-
d’água para que, em 1835, os rebeldes atacassem e tomassem a cidade de Belém.
Assassinaram então Lobo de Souza e seu comandante de armas. Formaram um governo e
espalharam o movimento pelo interior da província. Os cabanos governaram Belém por dez
meses. Mas o novo presidente de província, Félix Malcher, recusava- -se a romper de forma
radical com o Império. Mandou prender seu antigo aliado, Angelim, e destituir o comandante de
armas fiel aos mais radicais.
Aproveitando-se da fragilidade gerada pelo conflito entre as lideranças cabanas, as
tropas imperiais recuperaram a capital. O movimento permaneceu pelo interior numa luta de
guerrilha que só foi encerrada em 1840. Estima-se que a revolta, caracterizada pela ampla
participação popular, resultou na morte de quase 30% dos habitantes da província.

SABINADA

A Sabinada ocorreu em Salvador, entre novembro de 1837 e março de 1838. Envolveu


pessoas ligadas ao meio urbano, como profissionais liberais (médicos, advogados e jornalistas),
pequenos comerciantes, funcionários públicos, artesãos e militares, muitos deles ex-escravos
ou seus descendentes. Ela representou, basicamente, uma reação dos grupos liberais
exaltados ao domínio do governo central sobre as províncias, ou seja, ao processo de
centralização na regência de Araújo Lima, que sucedeu padre Feijó em 1837.
O movimento, liderado pelo médico Francisco Sabino (daí o nome da rebelião),
começou com a revolta das tropas do forte de São Pedro. O projeto inicial era separar a Bahia
do restante do país, mas logo os rebeldes admitiram manter a separação somente até d. Pedro
completar 18 anos e assumir o trono. Não havia consenso entre os líderes sobre a escolha de
um regime republicano, por isso a ideia conciliatória de lealdade ao monarca. Em relação à
escravidão, os líderes acenavam com a possibilidade de alforriar (libertar) os cativos nascidos
no Brasil (o que excluía os africanos) que pegassem em armas para combater as tropas oficiais,
alistando-se no batalhão dos “Libertos da Pátria”. Seus proprietários seriam indenizados pelo
governo de Sabino. Todavia, não havia um projeto de abolição.
A rebelião teve um fim rápido. Uma violenta repressão foi articulada pelo governo
imperial, cujas tropas tomaram Salvador em março de 1838. Mais de 1 200 pessoas morreram e
quase 3 mil foram presas. Os líderes foram presos e condenados à morte por fuzilamento ou
forca. Em agosto de 1840, entretanto, beneficiando-se do decreto imperial de 22 de agosto, que
anistiava todos os envolvidos em crimes políticos, foram anistiados ou degredados para outras
províncias do Brasil.

BALAIADA

Em 1838, estourou no Maranhão e no Piauí a revolta conhecida como Balaiada, que


envolveu os mais variados grupos sociais. Originou-se das divergências políticas entre as elites
conservadoras e liberais, mas acabou fora de controle, com a adesão de pobres e escravos. Os
liberais, conhecidos como “bem-te-vis” – nome do jornal que publicavam, Bem-te-Vi, tinham o
apoio de grandes proprietários rurais e dos segmentos médios urbanos. Opunham-se aos
grupos conservadores da região, ironicamente chamados por eles de cabanos, compostos de
negociantes portugueses, produtores de algodão e grandes criadores de gado.
A Balaiada começou como uma reação dos liberais ao governo conservador do
presidente da província, o cabano Vicente Camargo. O conflito teve início quando a assembleia
provincial votou uma lei que criava os cargos de prefeito para cada comarca, de subprefeito e
de comissários de polícia para cada distrito, nomeados pelo presidente de província. Como os
cabanos monopolizaram os cargos, muitos deles, de origem portuguesa, passaram a perseguir
os bem-te-vis.
A crise tomou proporções maiores quando outros grupos entraram em cena. A primeira
adesão foi a de vaqueiros, pequenos agricultores e artesãos, que, estimulados pelos discursos
liberais, colocaram-se ao lado dos bem-te-vis. Um dos focos do conflito eclodiu como reação ao
recrutamento forçado de pequenos agricultores ou criadores, que eram obrigados a servir nas
tropas oficiais. A ausência desses homens desarranjava a organização familiar de trabalho.
Por isso, a situação tornou-se explosiva quando Raimundo Gomes, um vaqueiro e
administrador da fazenda do padre liberal Inácio Mendes, conduzia uma boiada já vendida a
outro pecuarista. No meio da viagem, seus homens foram recrutados à força, incluindo seu
irmão. Inconformado, invadiu a cadeia e soltou seus companheiros, dirigindo-se para o interior e
organizando uma coluna contra as forças conservadoras.
Logo a seguir, Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, pequeno agricultor e fabricante de
cestos, teve seus filhos recrutados e, muito pior, as filhas estupradas por um oficial das tropas
provinciais. Manuel acabou se tornando um dos líderes mais populares da rebelião contra o
governo cabano do Maranhão. Inclusive, o nome Balaiada deriva de seu ofício: produzir balaios
(cestos) para o transporte de mercadorias.
A revolta ainda teve um terceiro foco: uma insurreição de escravos, liderada pelo
liberto Cosme Bento das Chagas, o Preto Cosme, que chegou a arregimentar quase 3 mil
negros, entre escravos e libertos. A região contava com uma proporção expressiva de escravos
e de quilombos desde a segunda metade do século XVIII, sobretudo nas plantações de
algodão, exportado para a Inglaterra.
Cosme articulou os quilombolas e planejou um levante de escravos, o que inquietou os
líderes bem-te-vis, que não tinham a menor intenção de abolir a escravidão. No momento em
que o movimento havia assumido um caráter de revolta popular, com a participação de
lavradores pobres, quilombolas e escravos, o governo regencial reprimiu a rebelião com
máxima violência.
O general Luís Alves de Lima e Silva, nomeado presidente da província, logo tratou de
recompor as forças na região. Em 1840, prometeu anistia aos líderes balaios e bem-te-vis que
auxiliassem o exército no combate aos rebeldes liderados por Preto Cosme, o que foi
prontamente aceito. Raimundo Gomes foi um dos balaios que aceitou a anistia. Manoel dos
Anjos morreu em combate. O saldo da repressão foi a morte de mais de 3 mil rebeldes e a
prisão de outros milhares.
Por conta do seu desempenho, Luís Alves de Lima e Silva recebeu o título de barão de
Caxias, em referência à cidade conquistada aos rebeldes no Maranhão. Depois, foi intitulado
conde (1845), marquês (1852) e duque de Caxias (1869).

REBELIÃO DE ELITE: FARROUPILHA

No Rio Grande de São Pedro (atual Rio Grande do Sul) irrompeu a revolta mais longa
do período regencial, de 1835 a 1845. Foi a única que buscou separar radicalmente a província
do Império e implantar um regime republicano. A revolta ficou conhecida como Guerra dos
Farrapos ou Farroupilha, porque os insurgentes – proprietários rurais e grandes criadores do
Rio Grande – foram chamados de farrapos, em tom pejorativo, pelos oficiais das tropas
imperiais.
No século XVIII, o sul do Brasil era uma importante área de criação de gado, tanto
bovino, para a produção de charque e couros, quanto muar, para o transporte de mercadorias
pelo interior do Brasil. Por ser uma região de fronteira entre a América portuguesa e a
espanhola, sua ocupação, ainda no início do século XVIII, resultou na criação de uma elite
militarizada. Os estancieiros e os charqueadores escravistas eram os grupos mais poderosos
do lugar, e também os mais incomodados com o centralismo político do governo imperial. Tanto
liberais como conservadores do sul consideravam que o governo da Corte privilegiava as
províncias do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e de São Paulo.
O presidente da província do Rio Grande tomou medidas que desagradaram a esses
grupos. Aumentou os impostos, em particular os que taxavam o gado na fronteira com o
Uruguai, onde muitos criadores do Brasil possuíam terras e rebanhos. Já os charqueadores
queixavam-se da ausência de taxas sobre a carne salgada proveniente de proprietários do
Uruguai e da Argentina. A política alfandegária do governo central favorecia os grandes
fazendeiros escravistas da região do Vale do Paraíba; eles estavam interessados em manter
baixos os preços do charque importado, pois era a base da alimentação, incluindo escravos. A
produção dos campos gaúchos era totalmente direcionada para o mercado interno, por isso,
para concorrer com o charque importado, os charqueadores tinham de abaixar os seus preços.
Também causou insatisfação o fato de o governo regencial ter estabelecido um corpo
militar no sul, sustentado com o dinheiro dos impostos, diretamente subordinado ao governo
central no Rio de Janeiro, instituindo a figura do comandante de armas. Isso desafiava a
tradição regional das milícias ou exércitos particulares controlados pelos estancieiros gaúchos.
Considerando essas medidas uma afronta, os rebeldes chefiados por Bento Gonçalves
tomaram a capital, a cidade de Porto Alegre, em 20 de setembro de 1835. O vice-presidente da
província, Marciano Pereira Ribeiro, favorável aos farroupilhas, assumiu o poder e foi
acompanhado por vários oficiais do Exército.
Após intensos combates, em 1836, proclamaram a República Rio-Grandense,
derrotada logo no ano seguinte pelas tropas imperiais. Bento Gonçalves foi capturado em
combate e levado preso para a Bahia. Fugiu em 1837, retomando o comando dos rebeldes. As
vitórias farroupilhas levaram à proclamação da República de Piratini, em 1838, sob a
presidência de Bento Gonçalves, tornando a província autônoma. A influência do
republicanismo do Uruguai e da Argentina contribuiu para a solução republicana do governo
rebelde.
REPRESSÃO E NEGOCIAÇÃO

O governo central não deu trégua, mantendo a pressão contra os revoltosos. Durante
os conflitos, novos nomes se incorporaram aos farroupilhas e se destacaram entre eles, como o
estancieiro David Canabarro, o revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi e sua mulher, Anita
Garibaldi. Os rebeldes avançaram por Santa Catarina, tomando a cidade de Laguna, onde
instalaram a República Juliana (assim chamada em razão do mês de criação), derrotada pelas
tropas imperiais pouco depois. Em função do golpe da maioridade, em 1840, que tornou o
jovem d. Pedro imperador, o governo propôs a anistia a todos os revoltosos. Mas os farrapos
não aceitaram a rendição.
Como nas revoltas ocorridas em outras províncias, a Farroupilha também se
enfraqueceu com as divergências entre seus líderes. Alguns, como David Canabarro, passaram
a defender a autonomia provincial, sem romper com o Império; outros, como Bento Gonçalves,
mantinham-se convictos na ideia de separação definitiva do Rio Grande e de criação de uma
república federativa no sul.
Nos últimos anos, o governo farroupilha foi liderado pelos moderados e monarquistas
mais favoráveis ao acordo com o governo imperial. O governo do jovem imperador prometera
atender a algumas das principais reivindicações do movimento, como a taxação sobre o
charque importado da região do Prata em 25%. Sem dúvida, a solução para a revolta dos
farrapos caminhava mais para a negociação do que para a repressão violenta.
Em 1842, Luís Alves de Lima e Silva foi nomeado presidente da província e
comandante de armas. Combinando medidas repressivas e negociação, conseguiu, após
sucessivas vitórias das tropas imperiais, a rendição dos farrapos. David Canabarro assinou o
acordo em 1845; em troca, solicitou a anistia a todos os revoltosos, a incorporação dos oficiais
farroupilhas ao Exército e a transferência de todas as dívidas da República de Piratini para o
governo. Assim terminou a revolta que, entre todas as outras, representou o maior risco para a
unidade territorial do Império.

5 REBELIÕES ESCRAVAS

A rebelião dos quilombolas de Preto Cosme, no Maranhão, foi uma entre várias
revoltas de escravos ocorridas no período regencial. O aumento do tráfico de africanos
escravizados, sobretudo a partir da década de 1830, contribuía para a tendência às revoltas e a
formação de quilombos. Além disso, havia grandes dissidências nas elites do país. As classes
senhoriais estavam divididas, e isso favoreceu rebeliões escravas em toda parte. Algumas
revoltas escravas desafiavam frontalmente os senhores e as autoridades.

CARRANCAS

A revolta do município de Carrancas, província de Minas Gerais, em 1833, foi um


movimento liderado pelo escravo Ventura Mina, nascido na África e propriedade do deputado
Gabriel Francisco Junqueira. Ventura e dezenas de escravos mataram o filho do deputado e
outras nove pessoas, sendo três crianças.
O péssimo tratamento dado aos escravos da família Junqueira foi o argumento usado
pelos líderes para amotinar os escravos e fugir para o interior. Parte do grupo permaneceu na
fazenda, enquanto alguns foram para outra propriedade da família, provavelmente com a
intenção de conseguir o apoio de mais escravos. Lá, encontraram forte resistência não só do
proprietário como de seus escravos, que mataram Ventura Mina e outros membros do levante.
Essa rebelião acabou por difundir terror na região. Até então, o assassinato de
senhores de escravos e seus familiares era uma iniciativa individual, resultado do desagrado de
um ou mais escravos pelo tratamento recebido. Não eram rebeliões coletivas, como essa
liderada por Ventura.
Na Revolta de Carrancas, o castigo foi exemplar, com demonstração clara de que
sublevações desse tipo não seriam toleradas: 17 escravos foram sentenciados à pena de morte
por enforcamento. Acredita-se que a revolta motivou o decreto de 10 de junho de 1835, que
previa pena de morte para qualquer escravo rebelde.

OS MALÊS

Na cidade de Salvador, na Bahia, uma tentativa de sublevação foi severamente


reprimida: a Revolta dos Malês, em 1835. Dela participaram os malês, nome dado aos
muçulmanos nascidos na África, muito numerosos em Salvador naquele momento, fossem
escravos ou libertos. Nenhum escravo ou alforriado nascido no Brasil tomou parte da rebelião, o
que demonstra uma divisão por origem entre os escravizados da cidade.
Tudo indica que a origem da insatisfação desses muçulmanos foi a repressão das
autoridades locais a suas manifestações religiosas, como a destruição de uma mesquita na
freguesia de Vitória e a interrupção de uma festa islâmica em novembro de 1834.
A partir daí, prepararam um levante, que deveria ocorrer às cinco horas da manhã do
dia 25 de janeiro de 1835. Três libertos, entretanto, denunciaram o projeto, precipitando os
acontecimentos. Antes do horário previsto para o motim, forças policiais invadiram uma casa
onde cerca de 60 africanos se reuniam. Eles resistiram à invasão e saíram pelas ruas, usando
armas cortantes, mas acabaram derrotados pelas forças oficiais, que utilizavam armas de fogo.
Os revoltosos não atacaram os senhores nem invadiram ou incendiaram casas, como
na Revolta de Carrancas, em Minas. O projeto era transformar os brancos e os cativos nascidos
no Brasil em escravos. Cerca de 600 africanos, entre escravos e libertos, aderiram ao levante.
Centenas foram presos, sendo quatro deles condenados à morte.

MANUEL CONGO

A Revolta de Manuel Congo, em 1838, no município de Paty do Alferes, Rio de


Janeiro, foi planejada para reunir escravos de diferentes senhores e criar um quilombo nas
matas do município, situação comum durante todo o período em que houve escravidão no
Brasil. O levante reuniu cerca de 200 cativos. Assim como outras rebeliões escravas, essa
também foi reprimida pela Guarda Nacional e pelo Exército, sob o comando de Luís Alves de
Lima e Silva. Os rebeldes foram caçados e capturados, sendo 16 acusados de crime de
insurreição e, portanto, sujeitos à pena de morte. Levados a julgamento, o único enforcado foi
Manuel Congo, líder da rebelião. Os demais foram condenados a receber açoites e a andar com
gonzos no pescoço por três anos.

6. A CONSOLIDAÇÃO DO IMPÉRIO

Em 1835, como vimos, a Regência Trina foi substituída pela Regência Una, assumida
pelo padre Diogo Antônio Feijó. Por todo o país estouravam rebeliões, que colocavam em risco
a unidade do Império. Os opositores de Feijó viam em suas concessões às províncias o motivo
da desorganização e da anarquia que se propagavam no país. Sem apoio nem mesmo dos
antigos aliados e enfermo, Feijó renunciou ao cargo em 19 de setembro de 1837, indicando
para substituí-lo um de seus ministros, o político conservador Araújo Lima.
No ano seguinte, Araújo Lima foi eleito regente e inaugurou o período denominado
Regresso – uma política de fortalecimento do poder central, como nos tempos de d. Pedro I.
Contava com o apoio de parte significativa das elites, que nesse momento temia a eclosão de
novos levantes populares, principalmente os de escravos.
O ministério conservador nomeado pelo regente restringiu os poderes das províncias.
Entre outros atos, retirou as atribuições de polícia dos juízes de paz, transferindo-as para juízes
municipais indicados pelo poder central, e retirou das Assembleias provinciais o direito de
nomear magistrados e superiores da Guarda Nacional. Essas decisões foram resumidas, em
1840, na Lei Interpretativa do Ato Adicional de 1834, que na prática anulava os efeitos do
próprio Ato Adicional. A elite política do Império estava convencida, nessa altura, de que “era
preciso parar o carro da revolução”.

MAIORIDADE ANTECIPADA

Para valorizar o trono e a figura do futuro monarca, Araújo Lima mandou espalhar
retratos do jovem imperador pelas diversas repartições públicas do Brasil. De acordo com a
Constituição, d. Pedro só assumiria o governo em 1843, ao completar 18 anos. Mas a situação
tornava urgente, aos olhos do governo, uma medida que reforçasse o poder do Império.
Os liberais propuseram, então, antecipar a maioridade de d. Pedro, na época com 14
anos de idade. Foram, por isso, identificados como progressistas, em contraste com os
regressistas. Assim, em 15 de abril de 1840, os liberais criaram o Clube da Maioridade.
Logo depois, um requerimento assinado por 18 senadores e 40 deputados foi entregue
ao jovem d. Pedro pedindo que assumisse o governo. Perguntado se preferia assumir o trono
em dezembro, para quando estava sendo preparada a aclamação, ou imediatamente, d. Pedro
respondeu: “Quero já”. Então, no dia seguinte, 23 de julho de 1840, foi aclamado imperador do
Brasil. Começava o Segundo Reinado.

CONVERSA DE HISTORIADOR

Para entender o vocabulário político da Regência e do Segundo Reinado

Caramurus: Defensores do retorno de d. Pedro I ao poder, depois da abdicação de 1831.


Assim chamados em função do nome do jornal que publicavam no Rio de Janeiro. Após a morte
de d. Pedro I, em 1834, deixaram de existir.
Chimangos ou ximangos: Políticos moderados, que se posicionavam entre os extremistas
caramurus e os jurujubas, do período regencial. O nome teve origem no Rio Grande do Sul,
onde os moderados não tinham expressão política, e significa uma caça com a qual não vale a
pena gastar chumbo.
Farroupilhas ou farrapos: Designação pejorativa criada pelos restauradores e liberais
moderados para insultar os liberais exaltados. Foi inspirada nos trajes considerados
maltrapilhos de Cipriano Barata, deputado de tendência liberal, representante da Bahia nas
Cortes de Lisboa, em 1821. O nome foi dado aos rebeldes do Rio Grande de São Pedro na
mais longa revolta do Império.
Jurujubas: Liberais exaltados do período regencial. O nome é uma referência à praia de
Jurujuba, na cidade de Niterói, de onde partiram populares em direção ao Campo de Santana,
na cidade do Rio de Janeiro, no dia 7 de abril de 1831, exigindo a volta do ministério deposto
pelo imperador. O episódio, que contou com o apoio do Exército, foi o estopim para a abdicação
de d. Pedro I.
Luzias: Liberais do Segundo Reinado. O termo é uma alusão aos liberais exaltados que foram
derrotados pelo barão de Caxias na cidade de Santa Luzia, em Minas Gerais, na revolta liberal
de 1842. Saquaremas: Membros do Partido Conservador no Segundo Reinado. Era uma
alusão à fazenda de Monte Alegre, de propriedade do Visconde de Itaboraí (um dos principais
líderes do partido), localizada no município de Saquarema, onde se reuniam muitos políticos
conservadores.
(E) anarquistas, por isso defendiam, além da derrubada
do governo monárquico e absolutista, o fim da
escravidão em terras pernambucanas.
1. (Famerp) A independência foi, desse modo, ruptura e
continuidade. 4. (G1 - col. naval) Leia o texto a seguir.
(Miriam Dolhnikoff. História do Brasil Império, 2019.)
"Assim, a 14 de novembro de 1822, dois meses após sua
Na independência brasileira, uma ruptura e uma proclamação, fazia-se ao mar a primeira esquadra brasileira,
continuidade podem ser exemplificadas, respectivamente, rumo a Montevidéu, com a missão de expulsar as forças que
(A) pelo esforço de unificação nacional e pelo respeito lutavam para manter a Província Cisplatina sob o domínio
aos direitos trabalhistas. português."
(B) pelo afastamento da Grã-Bretanha e pela http://www.marinha.mil.br/content/historia-naval
aproximação com os Estados Unidos.
(C) pela fragmentação política do território e pela Sobre o contexto da criação da primeira esquadra brasileira,
hegemonia política das elites rurais. é correto afirmar que ela teve como objetivo
(D) pelo rompimento em relação ao império português e (A) reimplantar o comércio marítimo brasileiro que era
pela preservação da escravidão. dependente de navios portugueses e de seus
(E) pela implantação do sistema republicano e pelo comerciantes que controlavam os portos nacionais.
estímulo à produção agrícola. (B) combater e expulsar as principais forças militares
fiéis ao governo português existentes em algumas
2. (Unesp) No que dizia respeito ao Estado a ser províncias que dificultavam a organização interna
construído, genericamente o modelo disponível era do Brasil independente.
aquele que prevalecia no mundo ocidental. Tratava-se (C) conquistar a Província Cisplatina dos portugueses e
de organizar um aparato político-administrativo com torná-la uma república independente, libertando o
jurisdição sobre um território definido, que exercia as novo Estado uruguaio do jugo opressor dos
competências de ditar as normas que deveriam regrar europeus.
todos os aspectos da vida na sociedade, cobrar (D) promover a escolta de navios mercantes no oceano
compulsoriamente tributos para financiá-lo e às suas Atlântico que se encontrava repleto de corsários
políticas, exercer o poder punitivo para aqueles que não estrangeiros que não reconheciam a independência
respeitassem as normas por ele ditadas. do Brasil.
(Miriam Dolhnikoff. História do Brasil império, 2019.) (E) libertar todos os povos de outras colônias do
domínio português, promovendo a independência
O texto refere-se à organização política do Brasil após a da Cisplatina, de Angola e de Moçambique.
independência, em 1822. O novo Estado brasileiro foi
baseado em padrões 5. (Fatec) O Brasil foi o principal destino dos africanos
(A) federalistas e garantia completa autonomia às escravizados especialmente no século XIX. Ainda que
províncias. pressões internacionais pusessem cada vez mais
(B) liberais e contava com sistema político restrições ao tráfico transatlântico, os portos do sudeste
representativo. do país, vários deles clandestinos, foram o destino de
(C) absolutistas e fundava-se no exercício dos três cerca de três quartos das pessoas escravizadas no
poderes pelo imperador. Brasil entre 1822 e 1866. A escravidão mantinha, dessa
(D) elitistas e era controlado apenas pelos portugueses forma, o seu papel fundamental na economia brasileira e
residentes no país. na formação das relações sociais do país.
(E) democráticos e permitia a ampla participação da
população brasileira. Assinale a alternativa que corresponde corretamente ao
contexto apresentado no texto.
3. (S1 - ifpe) A Confederação do Equador de 1824 é um (A) O Brasil proibiu oficialmente a entrada de africanos
marco na luta social contra o absolutismo monárquico. escravizados e a sua comercialização em 1866, o
Amplas camadas da população local participaram do que levou à abolição da escravidão na década
conflito. Comerciantes, padres, militares, negros e seguinte.
pardos, e até senhores de engenho se envolveram no (B) O sudeste brasileiro, cuja economia se baseava
conflito que opôs setores da população pernambucana à principalmente na cafeicultura, recebeu a maior
Monarquia de D. Pedro I. parte dos africanos escravizados no Brasil do
século XIX.
Sobre os pensamentos que fundamentaram a luta dos (C) A Inglaterra teve êxito em coibir o tráfico
revoltosos, é CORRETO afirmar que foram ideias transatlântico em 1888, ano em que ocorreu a
(A) liberais e constitucionalistas, oriundas dos princípios abolição da escravidão no Brasil, nos Estados
iluministas então em expansão na Europa e nos Unidos e no Caribe.
Estados Unidos. (D) A escravidão indígena, em detrimento da
(B) absolutistas moderadas, uma vez que os revoltosos escravidão africana, foi predominante nos
ainda pensavam em manter a monarquia, desde chamados ciclos do ouro e do café nos séculos XIX
que constitucional e respeitando a autonomia e XX.
provincial. (E) Os escravizados aportados no Brasil após 1822
(C) socialistas, o que justifica a presença expressiva de vinham, em maior número, do chamado Chifre da
negros e pardos e de padres sensíveis às injustiças África, região menos vigiada pela marinha britânica.
sociais e ao racismo.
(D) inspiradas na Igreja Católica Romana, instituição
que, naquele momento, procurava distanciar-se das
monarquias europeias, o que justifica a participação
de padres.
6. (Uefs) A igualdade de interesses agrários e (D) as guerras travadas contra o exército napoleônico,
escravocratas que através dos séculos XVI e XVII na Europa, e o envolvimento do Brasil, na Guerra
predominou na colônia, toda ela dedicada com maior ou da Cisplatina, provocaram, em ambos os casos, a
menor intensidade à cultura do açúcar, não a perturbou enorme insatisfação popular e revolta, diante do
tão profundamente, como à primeira vista parece, a elevado número de combatentes mortos.
descoberta das minas ou a introdução do cafeeiro. Se o (E) a retomada de políticas absolutistas, como o
ponto de apoio econômico da aristocracia colonial estabelecimento do Poder Moderador, no Brasil,
deslocou-se da cana-de-açúcar para o ouro e mais tarde dando plenos poderes a D. Pedro I e, na Europa, a
para o café, manteve-se o instrumento de exploração: o dura repressão contra as ideias liberais, deflagradas
braço escravo. pela Revolução Francesa, ocasionaram uma
(Gilberto Freyre. Casa-Grande & Senzala, 1989.) enorme insatisfação popular.

O excerto descreve o complexo funcionamento do Brasil 8. (Uece) Atente ao seguinte fragmento da obra da
durante a colônia e o Império. Uma de suas consequências historiadora Emília Viotti da Costa, a respeito do
para a história brasileira foi processo de independência do Brasil:
(A) a utilização de um mesmo padrão tecnológico nas
sucessivas fases da produção de mercadorias de “A ordem econômica seria preservada, a escravidão mantida.
baixo custo. A nação independente continuaria subordinada à economia
(B) a existência de uma produção de mercadorias colonial, passando do domínio português à tutela britânica. A
inteiramente voltada para o abastecimento do fachada liberal construída pela elite europeizada ocultava a
mercado interno. miséria e a escravidão da maioria dos habitantes do país.
(C) a liberdade de decisão política do grupo dominante Conquistar a emancipação definitiva da nação, ampliar o
local enriquecido com a exploração de riquezas significado dos princípios constitucionais seria tarefa
naturais. relegada aos pósteros”.
(D) a ausência de diferenças regionais econômicas e COSTA, Emília Viotti da. Introdução ao estudo da emancipação política do
culturais durante o período colonial e imperial. Brasil. In: MOTA, Carlos Guilherme (Org.). Brasil em perspectiva. 16. ed. Rio
de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1987. p.125.
(E) a manutenção de determinadas relações sociais
num quadro de modificações do centro dinâmico da
Considerando o processo de independência do Brasil, é
economia.
possível inferir que
(A) Não ocorreu nenhuma ocultação dos reais
7. (Mackenzie) “A cena de uma rua é, a um só tempo, a
problemas sociais e econômicos do país após a
mesma de todo o quarteirão. Os pés de chumbo
independência, já que a elite local buscou
(portugueses) deixam que a cabralhada (brasileiros) se
solucioná-los imediatamente.
aproxime o mais possível. E inesperadamente, de todas
(B) Apenas ocorreu a independência econômica do
as portas, chovem garrafas inteiras e aos pedaços sobre
Brasil, mas não a política, pois a elite nacional
os invasores. O sangue espirra, testas, cabeças,
europeizada submeteu-se aos interesses da
canelas... Gritos, gemidos, uivos, guinchos.
É inverossímil. Inglaterra.
E a raça toda, de cacete em punho, vai malhando... E os corpos a cair (C) Pelo fato de a monarquia ter sido logo adotada
ensanguentados sobre os cacos navalhantes das garrafas. ” como forma de governo, a independência não
(Correia, V.,1933, p. 42)
representou mudanças sociais significativas, pois
estas ficariam a cargo de gerações futuras.
O episódio, descrito acima, relata o enfrentamento entre
(D) Não houve acordo de independência com os
portugueses e brasileiros, em 13/03/1831, no Rio de Janeiro,
Britânicos, que reagiram o quanto puderam à
conhecido como Noite das Garrafadas. Essa manifestação
independência do Brasil, já que ela representaria a
assemelhava-se às lutas liberais travadas na Europa, após
real autonomia econômica do país.
as decisões tomadas pelo Congresso de Viena.
(E) O Príncipe Regente acordou com a elite agrária
brasileira a elaboração de uma Constituição
A respeito dessa insatisfação popular, presente tanto na
Democrática que limitava ações do poder executivo.
Europa, após 1815, quanto nos conflitos nacionais, durante o
I Reinado, é correto afirmar que
9. (Fmp) O texto a seguir é um fragmento de decreto de D.
(A) D. Pedro II adota a mesma política praticada por
Pedro I, de 1823, em que o imperador dissolve a
monarcas europeus; quando, ao outorgar uma carta
Assembleia Constituinte.
constitucional, contrariou os interesses, tanto da
classe oligárquica, fiel ao trono, quanto das classes
Havendo Eu convocado, como Tinha Direito de convocar, a
populares, as quais permaneceram sem direito ao
Assemblea Geral, Constituinte e Legislativa, [...] e havendo
voto.
esta Assemblea perjurado ao tão solemne juramento, que
(B) o governo brasileiro também se utilizou de
prestou á Nação [...]: Hei por bem, como Imperador, e
empréstimos junto à Inglaterra, aumentando a
Defensor Perpetuo do Brasil, dissolver a mesma Assemblea,
dívida externa e fortalecendo a economia inglesa, a
e convocar já huma outra na forma das Instruções, feitas
fim de sanar o déficit orçamentário e suprir os
para a convocação desta, que agora acaba; a qual deverá
gastos militares em campanhas contra os levantes
trabalhar sobre o Projecto de Constituição, que Eu Hei-de em
populares.
breve Apresentar; que será duplicadamente mais liberal, do
(C) D. Pedro I, buscando recuperar sua popularidade,
que a extincta Assemblea acabou de fazer.
iniciou uma série de visitas às províncias revoltosas D. PEDRO I. Decreto de dissolução da Assembleia Nacional Constituinte, em
do país, adotando a mesma estratégia diplomática 12 nov. 1823 apud PEREIRA, V. “A longa ‘noite da agonia’”. Revista de
que alguns regentes europeus, nessa época, História da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro: SABIN, ano 7, n. 76, jan. 2012,
p. 42.
praticaram, sem contudo, lograrem nenhum
sucesso político.
Com base na justificativa do ato político explicitado no texto
do decreto, e analisando as suas consequências, identifica-
se um antagonismo entre:
(A) Monarquia e República reconhecia a independência do Brasil, mediante:
(B) Capitalismo e Socialismo (A) a renovação dos tratados comerciais de 1810;
(C) Imperialismo e Independência (B) a concessão aos portugueses da Ilha de Trindade;
(D) Absolutismo e Liberalismo (C) a assinatura de um acordo de reciprocidade;
(E) Nacionalismo e antilusitanismo (D) o compromisso assumido pelo Brasil de cessar o
tráfico negreiro;
10. (Udesc) Em 25 de março de 1824, Dom Pedro I (E) o pagamento pelo Brasil de uma indenização de 2
outorgou a Constituição Política do Império do Brasil. milhões de libras.
Em relação à Constituição de 1824, é possível inferir
que 13. (Uece) Observe o seguinte enunciado:
(A) O Texto Constitucional foi construído coletivamente
pela Câmara de Deputados, votado e aprovado em “Com a dissolução da Assembleia Constituinte, em 12 de
25 de março de 1824. Expressava os interesses novembro de 1823, aumentou a insatisfação com o governo
tanto do partido liberal quanto do partido de D. Pedro I, sobretudo no Nordeste. Em 2 de julho de
conservador, para o futuro na nação que recém 1824, em Pernambuco, Manuel Carvalho Paes de Andrade
conquistara sua independência. lança o manifesto que dá origem ao movimento. Contudo,
(B) A Constituição de 1824 instaurava a laicidade no antes da manifestação ocorrida no Recife, apoiada por
território nacional, extinguindo a religião católica Cipriano Barata e por Joaquim da Silva Rabelo (o Frei
como religião oficial do império e expressando Caneca), ambos experientes revoltosos, a província do
textualmente que “todas as outras religiões serão Ceará já tinha sua manifestação contrária ao Imperador,
permitidas com seu culto doméstico, ou particular ocorrida no município de Nova Vila do Campo Maior (hoje
em casas para isso destinadas, sem forma alguma Quixeramobim), em 9 de janeiro de 1824 e liderada por
exterior do Templo”. Gonçalo Inácio de Loyola Albuquerque e Melo (o Padre
(C) A organização política instaurada pela Constituição Mororó)”.
de 1824 dividia-se em 4 poderes: Executivo,
Legislativo, Judiciário e Moderador, sendo que este O movimento ocorrido no Brasil durante o Império a que o
último determinava a pessoa do imperador como enunciado acima se refere é denominado
inviolável e sagrada. (A) Revolução Pernambucana.
(D) A Constituição de 1824 determinou a cidadania (B) Revolução Praieira.
amplificada e o direito ao voto para todos os (C) Contestado.
nascidos em solo brasileiro, independentemente de (D) Confederação do Equador.
gênero, raça ou renda. (E) Revolta dos Malês.
(E) A Constituição de 1824 promoveu, em diversos
artigos, ideais de cunho abolicionista. Tais ideais 14. (Fuvest) A Cabanagem foi uma revolta social ocorrida no
foram respaldo para movimentos políticos Norte do Brasil entre 1835 e 1840 e se insere em um
posteriores, tais como a Revolta dos Farrapos e a contexto frequentemente chamado de “Período
Revolta dos Malês. Regencial”. Trata-se de uma revolta que, junto a outras
do mesmo período, indica:
11. (Enem (Libras)) Constituição Política do Império do (A) o impacto, no Brasil, de conflitos de fronteira com os
Brasil (de 25 de março de 1824) países hispânicos recém formados na América.
(B) expansão de interesses imperialistas franceses e
Art. 98. O Poder Moderador é a chave de toda a organização alemães em meio a geopolítica da 2ª Revolução
política, e é delegado privativamente ao Imperador, como Industrial.
Chefe Supremo da Nação, e seu Primeiro Representante, (C) a capacidade negociadora das elites imperiais em
para que incessantemente vele sobre a manutenção da evitar que questões regionais desembocassem em
independência, equilíbrio e harmonia dos demais Poderes conflitos armados.
Políticos. (D) a persistência, no contexto nacional brasileiro, de
Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 18 abr. 2015 (adaptado). disputas entre jesuítas e governantes em torno da
exploração do trabalho escravo.
A apropriação das ideias de Montesquieu no âmbito da (E) o caráter violento e socialmente excludente do
norma constitucional citada tinha o objetivo de processo de formação do Estado nacional brasileiro.
(A) expandir os limites das fronteiras nacionais.
(B) assegurar o monopólio do comércio externo. 15. (Unesp)
(C) legitimar o autoritarismo do aparelho estatal.
(D) evitar a reconquista pelas forças portuguesas. Artigo 1º – Todos os escravos, que entrarem no território ou
(E) atender os interesses das oligarquias regionais. portos do Brasil, vindos de fora, ficam livres [...].
Artigo 2º – Os importadores de escravos no Brasil incorrerão
12. (Espm) Vossa majestade verá que fiz de minha parte na pena corporal do artigo cento e setenta e nove do Código
tudo quanto podia e, por mim, no dito tratado, está feita Criminal, imposta aos que reduzem à escravidão pessoas
a paz. É impossível que vossa majestade, havendo livres [...].
alcançado suas reais pretensões negue ratificar um
tratado que lhe felicita seus reinos, abrindo-lhe os portos (Lei de 7 de novembro de 1831. https://camara.leg.br.)
ao comércio estagnado, e que vai pôr em paz tanto a
nação portuguesa, de que vossa majestade é tão digno A Lei de 7 de novembro de 1831, também conhecida como
rei, como a brasileira, de que tenho a ventura de ser “Lei Feijó”,
imperador.
Paulo Rezzuti. D. Pedro: a história não contada. O homem revelado por cartas
e documentos inéditos.

O fragmento é parte da carta de D. Pedro a D. João VI,


versando sobre o tratado por meio do qual Portugal
(A) proporcionou a imediata superação da escravidão (E) Ocorreu na província de Pernambuco e teve por
no Brasil, que se consolidou com a entrada maciça motivação a criação do Poder Moderador que
de imigrantes europeus a partir da década de 1870. permitiu a D. Pedro I atitudes autoritárias.
(B) teve efeito reduzido, pois o tráfico internacional de
escravos e a entrada de mão de obra africana no 18. (Usf) A carta de despedida de D. Pedro I é um dos
território brasileiro persistiram nos governos documentos que assinalam o triunfo do Partido
sucessivos do país até a metade do século XIX. Brasileiro sobre o Partido Português e a passagem do
(C) foi promulgada por pressão da Coroa inglesa, que Primeiro Reinado ao Período Regencial. Em 1834, foi
determinou que navios britânicos apreendessem promulgado um Ato Adicional à Constituição, que
todas as embarcações suspeitas de tráfico de tentava conciliar os interesses das facções políticas.
escravizados. Esse período conturbado de nossa história,
(D) proibiu a escravidão no Brasil, embora a escassez caracterizado por lutas entre restauradores, exaltados e
de mão de obra assalariada tenha levado à moderados, assim como pelas rebeliões provinciais que
manutenção do emprego de mão de obra de colocaram em risco a integridade territorial e política do
escravizados até a década de 1880. país, encerrou-se em 1840, com o golpe da maioridade
(E) resultou da guinada ocorrida no Período Regencial, e o início do Segundo Reinado.
quando o Brasil assumiu diretrizes liberais e COSTA, Luís César Amad & MELLO, Leonel Itaussu de Almeida. História do
Brasil. São Paulo: Scipione, 2007, p.169. (Adaptado).
ilustradas na condução da política econômica e no
reconhecimento dos direitos humanos.
Ao ler o texto, percebemos que surge, após o Primeiro
Reinado, uma nova fase para a história política brasileira.
16. (Upf) É praticamente um consenso historiográfico a
Durante essa fase ou período,
interpretação de que onde houve escravidão, houve
(A) ocorreu a manutenção do Conselho de Estado,
resistência. Os escravos jamais se conformaram com a
órgão que assessorava o imperador no exercício do
perda da liberdade e as rebeliões representaram a
poder Moderador.
principal forma de resistência coletiva.
(B) a Revolução Farroupilha, que apresentava caráter
separatista e republicano, foi motivada pelo
Sobre o tema, responda: qual foi a maior revolta de cativos
descontentamento com a política tributária aplicada
no Brasil, liderada por escravos muçulmanos, tendo a
à província, entre outros fatores.
participação de africanos e crioulos, escravos e libertos,
(C) o Golpe da Maioridade, desfechado pelo Partido
atingindo mobilização de cerca de 600 revoltosos?
Conservador, trouxe harmonia política às próximas
(A) Revolta de João Congo.
quatro décadas, evitando confrontos ideológicos
(B) Revolta de Nazaré das Farinhas.
entre os partidos da época.
(C) Levante dos Malês.
(D) o Brasil experimentou pela primeira vez o sistema
(D) Insurreição do Haiti.
parlamentarista, que ficou conhecido como
(E) Revolta de Carrancas.
“parlamentarismo às avessas”, visto que o Primeiro-
Ministro tinha poderes reduzidos.
17. (Ufu) “[...] foi o mais notável movimento popular do
(E) foi marcado por grandes conflitos externos, como foi
Brasil. O único em que as camadas mais inferiores da
o caso da Guerra do Paraguai, que, ao seu final,
população conseguiram ocupar o poder de toda uma
elevou o prestígio do exército brasileiro no contexto
província com certa estabilidade. [...] primeira
da política nacional.
insurreição popular que passou da simples agitação
para uma tomada efetiva de poder.”
PRADO JÚNIOR, Caio. Evolução Política do Brasil e outros estudos. São 19. (Espcex (Aman))
Paulo: Brasiliense, 1975. p. 69. (Adaptado)
"... Caxias tinha visão certa de que pacificar é um esforço por
A citação acima diz respeito à Cabanagem, uma das costurar... de concessões recíprocas, de vontade sincera,
principais revoltas ocorridas no chamado Período Regencial tudo voltado para a conciliação... "
Brasileiro. Acerca desse movimento, é possível inferir que Neto, Jonas Correia em Revista Militar / Edição comemorativa do Bicentenário
de Caxias, 2003, pág 9
(A) ocorreu na cidade de Salvador, em 1835, com
significativa participação de africanos escravizados
O fragmento de texto acima ressalta uma das características
de origem muçulmana. O levante durou menos de
marcantes de Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de
24 horas e foi duramente reprimido. Os revoltosos
Caxias, evidenciada durante sua carreira militar: ser um
sobreviventes foram mortos, presos ou degradados.
pacificador.
(B) ocorreu no Maranhão entre os anos de 1838 e 1841
Das rebeliões listadas abaixo, ocorridas no Brasil durante os
e foi liderado por homens pobres (com apoio de
1º e 2º Reinados, as que tiveram participação efetiva de
escravos, de vaqueiros e mesmo de alguns
Caxias foram a
fazendeiros) que enfrentaram grandes proprietários
(A) Revolta dos Malês; e Questão Religiosa.
de terra, comerciantes e autoridades políticas.
(B) Sabinada; e Guerra dos Farrapos.
(C) ocorreu na província da Bahia entre os anos de
(C) Cabanagem; e Revolução Praieira.
1837 e 1838. Seu objetivo era, dentre outros, a
(D) Conjuração baiana; e Sabinada.
criação de uma república de caráter transitório até
(E) Balaiada; e Guerra dos Farrapos.
que Dom Pedro II alcançasse a maioridade.
(D) ocorreu na província do Grão-Pará, entre 1835 e
20. (Mackenzie) “Em agosto de 1791, passados dois anos
1840, em decorrência da exploração sofrida pelos
da Revolução Francesa e dos seus reflexos em São
trabalhadores submetidos a um regime de trabalho
Domingos, os escravos se revoltaram. Em uma luta que
de semiescravidão. Esses foram violentamente
se estendeu por doze anos, eles derrotaram, por sua
reprimidos e aproximadamente 30 mil pessoas
vez, os brancos locais e os soldados da monarquia
morreram assassinadas por tropas imperiais e em
francesa. Debelaram também uma invasão espanhola,
incêndios.
uma expedição britânica com algo em torno de sessenta
mil homens e uma expedição francesa de semelhantes
dimensões comandada pelo cunhado de Bonaparte. A (A) O golpe foi uma manobra das elites políticas, que
derrota da expedição de Bonaparte, em 1803, resultou criaram uma forma de alterar a Constituição e
no estabelecimento do Estado negro do Haiti, que contemplar os seus interesses durante o período
permanece até os dias de hoje”. regencial, fato criticado por Alencar ao fazer uma
anedota com o chocolate.
C. L. R. James. Os jacobinos negros: Toussaint L’Ouverture e a revolução de (B) Ao entregar o poder a um jovem de 14 anos,
São Domingos. São Paulo: Bomtempo, 2000, p.15
alegando ser maior de 18, os políticos do Império
manifestavam uma ousada visão política para evitar
Acerca da independência do Haiti e de seus reflexos em
a influência da Inglaterra nos assuntos brasileiros,
outras regiões da América, assinale a alternativa correta.
preservando seus interesses como donos de
(A) O movimento foi realizado sob a égide dos ideais
escravos.
liberais e nacionalistas, defendidos, por sua vez,
(C) O golpe foi uma resposta dos conservadores às
pelo Iluminismo francês. Seu sucesso foi
propostas liberais que pretendiam estabelecer a
determinante para a realização de importantes
República no país, e Alencar apontou uma prática
transformações estruturais nas sociedades das
política dos parlamentares que é recorrente na
novas nações latino-americanas.
história do país.
(B) Trata-se de uma articulação escrava que, sob
(D) José de Alencar expressou sua decepção com os
influência direta dos interesses geopolíticos
políticos e, ao registrar sua visão sobre o Clube da
estadunidenses e dos ideais iluministas, colocou em
Maioridade, o escritor contribuiu para inibir
xeque o controle francês sobre a ilha. Seu sucesso
procedimentos semelhantes durante o Império,
incentivou o surgimento do movimento zapatista,
assegurando uma transição pacífica e legal para a
em 1994.
República, em 1889.
(C) Resultado de insatisfações sociais e políticas da
(E) O golpe da maioridade teve por objetivo permitir que
população escrava, demonstrou a força popular no
o Partido Conservador alcançasse o poder e
contexto do surgimento dos Estados nacionais na
definisse os projetos políticos do Brasil.
América Latina. Seu sucesso influenciou Simon
Bolívar e San Martín a iniciarem as lutas pelas
22. (Ufjf-pism 2) Leia atentamente o texto abaixo e em
independências na América do Sul.
seguida responda:
(D) Apesar de seu sucesso, o movimento resultou na
ascensão de governantes corruptos que, longe de
O Ato Adicional de 1834 reformou a constituição em sentido
resolverem as desigualdades sociais, contribuíram
descentralizante. Criou as assembleias provinciais,
para a consolidação de grupos oligárquicos no
concedendo mais poder às províncias, e aboliu o Conselho
poder. Esses aspectos determinaram o surgimento
de Estado. À maior descentralização seguiu-se um
do caudilhismo no contexto da América Latina
recrudescimento dos conflitos e revoltas provinciais. Nunca
independente.
houve período mais conturbado na história do Brasil.
(E) Foi a única revolta escrava bem-sucedida da CARVALHO, J. M.. D. Pedro II: ser ou não ser. São Paulo: Companhia das
História americana e as dificuldades que tiveram Letras, 2007, p. 36.
que superar coloca em evidência a magnitude dos
interesses envolvidos. No Brasil, sua influência As revoltas ocorridas durante o período regencial
pôde ser sentida na articulação que levaria à expressavam um grande descontentamento com o projeto
Revolta dos Malês, em 1835. centralizado de Estado, liderado pelas elites enraizadas na
Corte.
21. (Unicamp) O escritor José de Alencar relata como
ocorriam as reuniões do Clube da Maioridade, Sobre as revoltas regenciais é possível inferir que:
realizadas na casa de seu pai em 1840. Discutia-se (A) os revoltosos eram formados, exclusivamente, por
nessas ocasiões a antecipação da maioridade do grandes proprietários de terra que disputavam entre
imperador D. Pedro II, então com apenas 14 anos, para si o direito de maior representatividade e projeção
que ele pudesse assumir o trono antes do tempo no cenário nacional.
determinado pela Constituição. No fim da vida, José de (B) em sua maioria, as revoltas regenciais ameaçavam
Alencar rememora os episódios de sua infância e chega a unidade do Império por meio de reivindicações
a uma surpreendente conclusão: os políticos que que poderiam levar à fragmentação do território em
frequentavam sua casa na ocasião iam lá não porque pequenas repúblicas.
estavam pensando no futuro do país, mas apenas para (C) índios e africanos foram os grupos sociais que
devorar tabletes e bombons de chocolate. Conforme o representaram maior resistência aos movimentos
relato do escritor, os membros do Clube da Maioridade, revoltosos, lutando ao lado do governo imperial.
discutindo altos assuntos na sala de sua casa, pareciam (D) a luta contra a escravidão era uma reivindicação
realmente gente séria e preocupada com os destinos do comum a todas as revoltas que ocorreram no
Brasil, até que chegava a hora do chocolate. período, representando o início das manifestações
abolicionistas no país.
Para Alencar, a discussão política no Brasil se resumia a um (E) o sucesso dos conflitos armados contribuiu para
“devorar de chocolate”, isto é, cada um defendia apenas que as províncias alcançassem maior autonomia
seus interesses particulares e nada mais. administrativa e suas elites pudessem implementar
Adaptado de Daniel Pinha Silva, “O império do chocolate”, em projetos políticos baseados no federalismo.
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/leituras/o-imperio-do-chocolate.
Acessado em: 01/08/2016.

Sobre o Golpe da Maioridade e a visão de José de Alencar a


esse respeito, é possível inferir que:
23. (Ueg) Leia o texto a seguir. A partir das fontes visuais reproduzidas e de seus
conhecimentos, assinale a alternativa correta.
A construção dos Estados Nacionais significou um longo (A) A única monarquia americana precisou afirmar a
processo de lutas sociais e políticas, em que se figura do governante e sua memória política,
confrontaram adversários poderosos, muitas vezes recorrendo à imagética da autoridade real francesa
acompanhados de longas guerras civis, envolvendo grande do Antigo Regime. Este mecanismo foi enaltecido
parte da sociedade, de abastados fazendeiros a pobres pela imprensa do liberalismo constitucional.
peões. (B) Debret usou o quadro de Rigaud como referência
PRADO, M.L.C. América Latina no século XIX: tramas, telas e textos. São visual e preparou retratos em seu estúdio no Rio de
Paulo: Edusp, 2004. p. 75.
Janeiro. Isto era importante, pois a autoridade
monárquica joanina assentou-se na liturgia política
O texto citado refere-se ao contexto de emancipação política
e no pouco uso da violência.
dos países latino-americanos. Um caso singular de libertação
(C) O retrato de D. João não foi pintado para ser
na qual o país emancipou-se lutando contra outra nação
exposto, embora existisse no Rio de Janeiro da
americana foi o
época um circuito expositivo de salões de belas
(A) do Uruguai, que consolidou a sua formação
artes, pinacotecas, museus, onde pudesse ser visto.
nacional em 1828, após vencer o Brasil na chamada
Tais espaços foram renomeados na República.
Guerra da Cisplatina.
(D) O projeto de europeização da corte do Rio de
(B) do México, que se emancipou politicamente em
Janeiro e a necessidade de afirmar a autoridade de
1821, lutando contra os Estados Unidos para
D. João VI levaram a uma política de fomento à
preservar parte de seu território.
imagética do poder baseada, aqui, na da monarquia
(C) de Cuba, que se tornou independente em 1898,
francesa.
após derrotar facções que representavam os
(E) A pintura de D. João foi produzida como forma de
interesses econômicos norte-americanos.
demonstrar a sua capacidade administrativa
(D) da Venezuela, que teve a sua liberdade assegurada
pautada pelo diálogo, enquanto que o retrato do Rei
em 1831, após uma guerra de libertação contra a
Luís XVI expõe a imagética de um governante
Grã-Colômbia, criada por Simon Bolívar.
absolutista.
(E) do Haiti, que promoveu uma revolução dos
escravos em 1804 e teve que enfrentar as forças
militares das Províncias Unidas da América Central.
GABARITO
24. (ENEM DIGITAL 2020) Depois da Independência, em
1822, o país enfrentaria problemas que com frequência 1 D 6 E 11 C 16 C 21 A
emergiram durante a formação dos Estados nacionais 2 B 7 E 12 E 17 D 22 B
da América Latina. Em muitas regiões do Brasil, essas 3 A 8 C 13 D 18 B 23 A
divergências foram acompanhadas de revoltas, inclusive 4 B 9 D 14 E 19 E 24 A
contra o imperador D. Pedro I. Com a abdicação deste,
5 B 10 C 15 B 20 E 25 D
em 1831, o país atravessaria tempos ainda mais
turbulentos sob o regime regencial.
REIS, J. J. Rebelião escrava no Brasil: a história do Levante dos Malês em
1835. São Paulo: Cia. das Letras, 2003 (adaptado).

A instabilidade política no país, ao longo dos períodos


mencionados, foi decorrente da(s)
(A) disputas entre as tendências unitarista e federalista.
(B) tensão entre as forças do Exército e Marinha
nacional.
(C) dinâmicas demográficas nas fronteiras amazônica e
platina.
(D) extensão do direito de voto aos estrangeiros e ex-
escravos.
(E) reivindicações da ex-metrópole nas esferas
comercial e diplomática.

25. (Unicamp 2020)


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