Você está na página 1de 44
a Ambientes de Sedimentacao Costeira e Processos Morfodinamicos Atuantes na Linha de Costa Cleverson Guizan Silva Soraya Maia Patchineelam José Antonio Baptista Neto Vera Regina Abelin Ponzi Orelevo do plan \s geodindmicas internas ou end6genas ta Terra é resultado da agio de for (erremotos e vul forga ‘calor interno do plane! 1 mobilidacle das placas litosfé {0 ferremotos ca formaciio das grandes cadeias de montanhas como os Himalaias, os Alpes, os Andes fe as Montanhas Rochosas. A paisag ntemperismo e erosio, resultantes da int es) ¢ externas ou exdigenas (erosio e intemperismo). A, que produz as ces que produ © vuleanismo, em ten essos externos como uumosfera e da hidros: entao, modelada por pr “Sijeita «.comtinuas alteragdes morfodinamicas, modeladas por processos de origem continental & presenta grande variabilidade temporal ¢ espacial, comportando-se como um sistema Wimentos tectOnicos ao longo das margens continentais, oscilagdes do ni posicional associa 1 CLasstricacAo pa Zona Cosrema Classificagao & uma forma Gil de resumir o conhecimento de uma maneira sistemitica, AS dendo es de tipos de linhas de costa variam bastante em escala de aproximagio compret ais ou locais. Inman e Nordstrom (1971), por exemplo, basearam-se em eritérios da teetOn define trésotssesprincipas de primeira ordem: costa de colisto, costs de afastamento ecostas de mares marginals, tris de arcos de ia. vas costas de colisio io aquelas associadas ao movimento de convergncia de placas Htosf& sicas, comune nas margens continentas do tipo Pacifico ou ativas, como. por exempl, aguelas Loe Hlealas na vota vest das Américas do Sul edo. Nore, Esta Zonas costeiras apresentam tectonic omplenaeativa, sendo earacterizads por uma topograia de alt relevo, com bacias de drenagers peauenas, Devido& pequena dimensdo das plataformascontientaisnestas reas, os sedimentos cafe vrlos pelos rios ou se depesitam em estustios e bias ou so levados diretamente para 0 oceana profundo e, portant, estas regides se caracterizam pela auséncia de deltas importants. ‘Ac conus deafastamentosio decorentes do movimento divergent ere pica itoséricas. Neste co, morfeoga costeira apresenta uma grande diversidade decorente do estigioevolutvo da margem contin Nas margensrecenes,assciadas com os estos inci de abertura (rifle) ¢ expansio do finde evednico, as zonas coseiss assemelhan-se is costa de eolsio, ou sa, relevos acentuados € penos depos delaicos, pois os sistemas de drenagem ainda no tveram tempo para se desenvolvee Trg pla na suséncia de extensts planices costs. O Mar Vermelho eo Golfo de Aden, onde a placas Arabica Africana esto se separa, so exemples cracterstcos deste tipo de cost, As margens continental divergentes cm estgios mais avangados de desenvolvimento e, portato mais antiga 30 pore tectaicamente estiveis, que aprsentam places costs extmsas, de bno relevo esses si drenagem hem desenvolvidos. Os principals exemples sho as margens este da América do Norte ed Suleas margens da Africa eda fia. Grandes sistemas de drenagem desguatn neste tipo de cst, coma teed Amazonas, Ganges-Bhramaputra. Niger, consruindoextensos deltas devido a enorme volumede Seaimentose&presenga de uma larga pataforma continental onde os mesmos so deposits. "As zona costeiras associadas a mares marginas apresentam caractrfstieas semelhantes 3s de smargens de afstamento, ou sea, relevosbaixo e um sistema de drenagem bem desenvolvido. Em vide das pequenas dimensBes dos mares marginas, que Slo protegides dos provessos de ocean Short pela presenga de areos de has a aga das ondasé menos expressiva nests reves. Grandes planices costeras,assoeiadas a extensos deltas desenvolvem-se em umm ambiente de baixa energy propicio a deposigao de expressivos volumes de sedimentas. A regifio do sudeste da Asia & a cexemplo deste tipo de linha de costa, onde se desenvolvem 0s extensos deltas associads a0s ri0s Yangtze, Huang Ho (ielow River), Mekong ¢ Iradway. Outro exemplo caracteristico no Atkntico Norte € a regito do Golfo do México, onde se situa 0 delta do rio Mississippi Esta classificagao tectOniea no se aplica em esealas locais, onde a diversidade dos tipos de Jinhas de costa associa-se a outros fendmenos que também influenciaram na evolugao da morfologia cosieira, Neste sentido, em uma mesma margem continental podemos observar morfologias costeiras distintas, como costdes tochosos e falésias ingremes ou vastas planicies costeiras associadas a deltas ‘e manguezais, muitas vezes dispostos em regides contfguas em um mesmo segmento de costa com: cextensio de dezenas a centenas de quildmetros. Esta diversidade morfol6gica em menor escala deve-se principalmente a controtes ltol6gicos, tectOnicos, estruturais, climéticos © oceanogrificos. Neste sentido, outros sistemas de classificagio tém sido propostos com base nestes outros fatores. ‘Algumas classifieagdes sto baseadas em critérios morfogenéticos, como as de Johnson (1919), Shepard (1963) e Valentin (1969). Este iltimo autor divide as costas entre aquelas que avangaram ¢ aquelas que recuaram, em fungiio de processos de emersio, submersio, erosdo e acresgi, associados: ‘aos fenémenos de variagdes do nivel do mar (transgressdes ¢ regresses marinhas) e a0 suprimento de sediments (Figura 8-1). Amiientes de Sedimentago Costeira e Processos Morfodinimicos Atua tes ma Lina de Costa ” Ss, enero oat, e S | “ - a fe = Om tert ae IX / \ a esata f Figura 8-1, Classficagio de linha de costa proposta por Valentin (1969), Q eixo NW-SE separa litorais com omportamento de avango e com caracteristicas de recuo, No primeiro easo, 0 avango da lina de costa pode ser provocado por emersio ou aporte de sedimentos (progradao). No segunda caso, 0 recuo ca linha de cost devido a subsi sobre 0 aporte x Algumas vezes é possivel relacionar os provessos costeiros as caracteristicas morfolégicus das linhas de costa, Este tipo de classificagdo & extremamente itil, pois permite utilizar eritérios mensurveis, como energia de ondas ¢ amplitude de marés ¢ relaciond-los & morfologia costeira Como cxemplo temos a classificayao de Davies (1973), que, com base na amplitude de marés, de 0s limites de micro-marés (0-2 m), meso-marés (2 4m) e maero-marés (> 4 m), relacionando-os com a morfologia de ambientes costeitos conhecidos, como as ilhas barreiras eas lagunas. Desenvol- vendo a mesma linha de raciocfnio, Hayes (1975), associou a variagao morfolbgica de praias e plani- cies costeiras & amplitude de marés local, demonstrando que feigbes costeiras como deltas, ilhas n regides de macro-marés, barreiras, deltas de marés e canais de maré sio praticamente ausentes ue por sua vez apresentam mais comumente planicies de marés, mangues, paintanos de dgua salgada (salt marshes) bartas estuarinas longitudinais (figura 8-2). Lassere (1979) mostra um esquema clasificatério de ambientes estuarino-lagunares, utlizan- ddo nio somente a ago da amplitude de marés, mas também a influgncia da energia das ondas,apee- sentando situagdes de lagoas fechas, parcialmente fechadas ¢ estudrios abertos (figura 8-3), Podemos considerar que nao existe um sistema tinico de classficagao para os ambientes cos- feiros. As clasificagSes variam em fungio da escala de aproximagio e obviamente em fungi ds Finalidades do estudo que se deseja para a regido de interesse, No entanto os sistemas classificat6rios Permitem a deserigio das caracteristicas morfolégicas¢ hidrodinimicas ds regidescosteras, ado na comparaglo entre areas distintas, no planejamento ¢ organizagiio do uso e ocupagio das egies litordneas is Inuwodugdo & Geologia Marina thas | etas | Aereees Praniies | Maremaso Bareiras | de Maré | Assoc. | deMare | dettare | Mangues | ®*tuaros ef ; a 1 H 1 0 |a a 2 a A 8 = got : : ‘ |S cs Figura 8-2. Distibuigiio dos tipos de ambientes sedimentares costeiros em assnciagao com a amplitude de sna, para situagies de micro-maré (032 m), meso-maé (2.24 m)€ macro-maré (acima de 4 m), Modifieado de Hayes (1975). Infiyencia cescepte da mare Infludneia crescents das ondas Estuario ou Laguna Laguratnecstudrio Laguna beta parciamente fechaca Lagoa fechada Figura 83. Morfologia das lagunas e esturos em associago como a predominnein da energia das ondas ‘da amplitude das marés (modificado de Lassere, 1979. 8.1.1 Oscilagdes do Nivel do Mar © nivel do mar é 0 referencial utilizado na maioria das vezes para se avaliar variagoes topografia e também na batimettia, No entanto, a superficie ocednica pouco se aproxima de ut superficie totalmente nivelada, seja em escala temporal ou espacial (Pilkey et al., 1989). Varia significativas do nivel do mar ocorrem em fungio de fatores teeténicos, oceanogrificos (corre 0 OUESSESSS'SSSSS; “= Ambientes de Sedimentayio Costera e Processos Morfodinimicos Atuantes na Linha de Costa 179 ), meteorolzicos (ventos, pressdo atmosférica), terrestres (descarga fluvial) e geofisicos (ano- Imalias do geGide causaudas pela distibuigao de densidade das rochas no interior da tera) Grandes oscilagdes do nivel do mar ocorreram no Preponderante na evolugtio das linhas de costa, continenta Periodo Quatetnétio e exerveram um papel ‘ora expondo grande parte das atuais plataformas ‘ra recobrindo parcial ou completamente as ata planicies costeiras. Neste perfodo o Principal fator que causou mudangas no nivel dos oceanos foi o erescimento e desintegragao de seleiras continentais, que foram responsaveis por variagdes globais do nivel dos oceanos, através do fendmeno conhecido como Eustasia, Estima-se que, devido ao degelo das geleiras no Quaterndre, Superior (dltimos 20.000 anos), o nivel do mar global subiu em média 70 a 65 metros, atingindo até ‘mesmo cerea de 100 130 metros em alguns locais (figura 8-4), principalmente na Europa e América do Norte (Milliman and Emery, 1968; Emery, 1980: Peltier, 1988), Por outro lado, as mudangas locais do nfvel do mar podem se justapor aos fendmenos eustiti- cos aumentando ou diminuindo os efeitos globais de subida ou descida do nivel do mat. Assim sendo, 4 resultante desta conjugagio entre os fentdmenos globais e regio do Nivel do Mar Relativo em uma determinada regio, Como men tos losais sio controlados por movimentos tectinicos, fendmenos oceanogriticos ou meteoroléei- 0s, ou por elevadas taxas de sedimentagao, Por exemplo,em dreas menos estiveis da erosta, podem correr Processos de soerguimento ou subsidéncia da regio costeira,causando mudangas bruscas do nel do mat. Estas variagdes bruscas slo comumente associadas a terremotos, que podem soerguer ‘ou rebaixar a superticie do terreno por dezenas de metros em questio de instantes, O ajuste na posigi relativa da litosfera em relagio astenoster, em fungio da sobreposigao 4 cargas sobre a Iitstera e também devido a alteragSes na sua densidade, definem o eauilivie \is determinam o comportamento Oanteriormente, os fendme- “Tempo ( Mihares de anos AP) 20 19 18 17 16 18 18 13 12 19 10 9 8 7 6 5 4 9 | o nivel atual do oceano Profundidades abai el re oe ania it Curva de elevagho do nivel do mar no Quatemiio Superior (dhimos 20.000 anos antes do presen) ica de Davis J. (1997), Observa-se que a fase inca entre 20.000 7.000 anos fol marcads po nea, By elevaas de subida do nivel do mar, com oscilgdes o longo deste interval. Em uma segunds fc ok asd subida do nivel do mar foram menores ene 7.000 3.000 anos, a partir de quando houve uma esate el do mar em tomo de uma posigao proxima 8 atv 180 Introduao & Geologia tileangado mediante © constante balance isostitico da crosta terrestre. Este equilibrio é idncia em outra, que implicam em Forgas. traduzido por soereuimento em uma rca e subsi Tocais, ou mesmo regionais do nivel do mar relative. Par exemplo, Clark eral (1978) definiram seis zonas com comportamento de nivel 30 dlerenciado (figura 8-5), em fungdo do reajusteisostatico devide ao alvio de carga sobre “ontinental aps o recuo das geleras do hemisfério norte (slacio-isostasia) e em fungao da ovobre a itesfera apés o retomo das diguas das geleiras para as bacias ocednicas(hidro-s ‘Emalgumaslishas de costa, principalmente naquélas situadas em margens continental ‘as, pode acorerelevagao do nivel do mar com fentainundagao de reas continents em a hedencia da litsfera medida que a margem continental afasta-se do eixo de espalhamento ico. Avcostas do Mar Vermetho ¢ do Golfo da Califérmia, que esto sendo submetidas a de divergéncia, sto passiveis a este tipo de oscilagao do nivel de mar (Davis Jr 1996). Conelui-se, portanto, que no existe um tnico comportamento de variagdo do nivel is de costa 20 redor do mundo. Por exemplo, na costa ‘do nivel do mat nos tiltimos 10.000 anos (Holoceno) tim tendéncia continua de elevago, desde 15 metros abaixo do nivel do mar atl ha 1.008 A Peaté onivel atual (Heron et a, 1984), No Brasil, trbalhos realizados por Matin etal (i ‘Suguio eral, (1985) sugerem que nos iltimos 10,000 anos o nvel do mar oxcitou na maior FENG Ae a g TTL Soman 000 enos ap. ‘que possa ser aplicado a todas as linha Estados Unidos, as curvas de variagao Figura £5. Diferntescomportamentos eziomis da curva de varia do nivel do mar com base 09 Catechol (1978), Estas variagdes so devidas a comportamentodiferenciado da eros em fun te rostico sips © degelo das geleras no atval peiodo interglacial (fesimenos de slaio-isostasia isostasia). Ambientes dle Seimei o Costeira e Processos Morfodindmicos Atuantes na Linha de Costa 181 litoralleste brasileiro, mostrando um maximo transgressivo de 4 metros acima do nfvel atual hé 5.100 anos A.P, Outras oscilagdes secundétias ocorreram entre 4.100-3.600 A.P. centre 3.000 € 2.500 A.P, (Figura 8-6). Angulo e Lessa (1997) acreditam que as oscilagSes secundérias podem ter sido resultan- tes da imprecisio dos indicadores de nivel do mar utilizados para determinagdo da idade e, por con- seguinte, apresentam uma nova curva mais suavizada, climinando as oscilagées menores que ovorre- am apés 5.100 anos AP. (figura 8-7). Taxas contemporineas de variagdes do nivel do mar s2o comumente estimudas utilizando-se ‘marégrafos. Infelizmente, no entanto, no existe uma rede de marégrafos uniformemente espalhados ao redor do mundo.e muitas das estagdes maregrficas ndo possuem registros suficientemente antigos para se determinar com seguranga as taxas globais de variagSes do nivel do mar. Apesar disto, Gor- 8 gf 22 5 z ; 3 / ANOS AP. x 1000 anos Figura 8-6. Curva de variagio do nivel do mar no litaral brasileiro, modificada de Martin etal, (1979) e de Suguio er al. (1985), Elovagao (m) ‘Anos AP. 10" 8-7. Curva de variago do nivel do mar no litoral brasileiro, proposta por Angulo € Lessa (1997) Ineodugio 8 Geologia Marina 82 nitz et al, (1982), agrupando marégrafos em dreas com caracteristicas semelhantes ao redor do mune do, estimaram que o nivel do mar mundial elevou-se segundo uma taxa de | mm/ano durante 0 século) XIX. Esta taxa correlaciona-se positivamente com 0 valor estimado de elevagao da temperatura glo= bil no mesmo perfodo, sugerindo, portanto, que a maior parte (50 a 60%) da elevagiio do nivel do mae 1 € causada por expansio térmica da égua do mar (Gomitz et al., 1982), O restante, segundo Peltier (1988), seria devido ao degelo de pequenas geleiras continentais (Oatual aquecimento que a terra ver sofrendo & causado pelo continuo aumento da emissio de _guses para a atmosfera desde a revolugio industrial. Este fendmeno, conhecido como efeito estuta, derivado da espessa camada de gases como o di6xido de carbono, metano, vapor d'igua e clorofuor cearbonos (CFC), que envolvem planeta, retendo a radiagio infra-vermelha derivada da energi solar (Hansen er al., 1981). Existerg evidéncias abundantes de que a concentragio de CO. na at fera aumentou de 290 ppm em 1880 (valor estimado) para 315 ppm em 1958 (valor medido) e ppm em 1980 (medido) (Hansen et al., 1984). Este aumento do nivel de CO, correlaciona-se dit mente com um aumento observado na temperatura do planeta em tempos hist6ricos (Neftel er 1985; Wigley et al., 1989). Diversos modelos foram desenvolvidos para estimar as taxas de elevagaio do nvel do mar Fungio do aumento da temperatura global. Os mais conservadores indicam elevagio de 68 em. ano 2100 (IPCC, 1990), enquanto que outros chegam a prever elevagdo de até 2 m no mesmo per (Titus, 1988), ‘A resposta da clevagiio do nivel do mar na linha de costa é imediata, traduzindo-se em afo mento ¢ erosio dos depésitos da planicie costeira. No Brasil, diversos estudos apontam para comportamento de elevago do nivel do mar no ultimo século (Pirazolli, 1986, Silva ¢ Neves, I Harari e Camargo, 1993), 0 que se compatibiliza com a tendéncia erosiva observada em mi setores da linha de costa, como o litoral de falésias do nordeste e al gums praias arenosas em Per buco, Bahia e Rio de Janeiro (Bird, 1987; Muehe, 1994). 8.2 Processos MorropinAmicos Costerros: 05 processos morfodinamicos que atuam na linha de costa sio representados por agbes rais fisicas, bioldgicas e quimicas, que exeroem grande influéncia na modelagem costeira, seja vvés da agio destrutiva erostio) em determinados locais ou da ago construtiva em outros (deposi 0s processos fisicos so basicamente gerados pela ago das ondas e correntes costeiras ou pela das marés. Nos processos biolégicos, os organismos que habitam a zona costeira si0 0$ res por modificagdes através da interagio com os sedimentos e através da bioconstrugao de edi esqueletos earbonaticos, Os processos quimicos sao resultantes do intemperismo das rochas pitaglo de materiais, como os depésitos de sal, conhecidos como evaporitos. 0s prineipais processos fisicos responsiveis pelas modificagdes da linha de costa so. tos a seguir 8.2.1 Ondas A maioria das ondas ocedinicas, conhecidas como ondas de gravidade, sao formadas; do vento, que ao soprar sobre a superficie da ‘gua, forma pequenas ondas capilares. Mant ago do vento, estas pequenas rugosidades da superficie da dgua se somam para produzie ‘maiores, cujo tamanho ¢ limitado pela velocidade e duragdo (tempo) de agiio do vento pela ps seja, aextensdo da superficie aquosa sabre a qual o vento esta soprando. As ondas constituent Ambientes de Se mentasio Costeira e Processos Morfodinimicos Atuantes na Linha de Costa 183 pprocessos marinhos mais efetivos no selecionamento e redistribuigio dos sedimentos depositados nas, regides costeiras e plataforma continental interna, odemos descrever uma oncla através de seus principais parimetros, (figura 8-8) que ineluem: 1) 0 comprimento de onda (L), ou seja, distancia entre duas cristas ou duas cavas sucessivas; 2) a altura (H), representada pela distancia entre a cristae a cava da onda; ¢3) amplitude (a), que corresponde a metade , atingindo velocidades Htorancor porwr erte 0:3 ¢ 1 mst. Estas comentes extabelecem 0 transports de sedinenins Fenda Puitelamente linha de costa, detinindo oprocessoconheco come desi ng nea, Este jenomeno, que se desenvolve melhor ao longo delinhas de costa longas¢ reine de fundamental Feder a isto hlaneiamento do uso e cupagdo do espago costir, Reconhecidamente a interrupgiio 1 Serva ltornea através da consirugao de estuturasfxas como ccpigdee tem causado problemas de desequilfbrio ambiental em diversos locais, em fun ‘io do aprisionamento dos sedimentos A montante do Obstdculo ¢ conseqiente déticit sedimentar a jusante, ocasionsm erostio costeira (igura 8-14). No Brasil est problema tem sido veriticado em viris praias como Olinds we )e Fortaleza (CE Outro processo efetivo de transporte de sedimentos lelamente a costa ocorre diretamemte Pe re “Praia, pela agio do fluxo € refluxo das ondas (swash e backvccty Quando as ondas Suebram obliquamente a linha de costa, o transporte de sedimentos Pelo espraiamento da onda na 188 Introdugio & Geologia Marinha crits 8 On nna oo ase ura 8-13, Padriio de dftasio de ondas na exttemidade de um quebra-mar, Uma onda circular € gerada ma ‘extreidade do obstéculo e entra em intereréncia com as ondas que vm se propagando naturalmente paralele ‘mente ao litral. Ateds do quebra-mar forma-se uma zona de sombra onde apenas as ondas circulars se propac gum, Ao longo da interseg3o das cristas de onda ciculares com as erst paralelas as ondas esto em fas st 6, somam-s, provocando aumento na altura original da onda, Figura 8-14, Guia correntes formado por espigées rochosos instalados no eanal da Flecha, no litoral ‘estado do Rio de Janeiro. As areiastransportadas predominantemente de sul para nore ficam aprisionadas. do obsticulo (esquerda da foto), provocando o alargamento artificial da praia, Em contrapartida, o I norte (direita da foto) sof déficit de sedimentos, apresentando evidéncias de erosdo ¢ reeuo acentuados. ‘de Cleverson Guizan Silva, retiada em 1987, Anbientes de Sedimentagio Coseira e Prosessos Morfodindmicos Atuantes na Linka de Costa 189 face de praia segue a diregio obliqua de propagagao. A corrente de refuxo (backwash), no entanto, ‘nove o sedimento na diregdo do mergulho da face de praia, Como resultado da ago de ondae suces- N48, 08 sedimentos sto movidos paralelamente i cosa, em um pad de zig-zag (figura 1 5). Quando as ondas aproximam-se paralelamente linha da costa, formam-se eélulas decirculagio Introdugdo 8 Geologia ondas, ou devido as irregularidades batimétricas do fundo. Essas correntes de retorno s pelo transporte de sedimentos da praia para a regido submarina ao largo (offshore). Os locais de néncia das correntes de retorno sio reconhecidos pelos banhistas como “‘canais" e sto locals de: para os banhistas ineautos, em fungi das correntes vigorosas que “puxany” em direcdo ao mar. Conhecendo-se estes mecanismos de transporte de sedimentos na regito litorfinea, cstimar os volumes de material envolvidos ¢ se estabelecer cenérios e modelos acerea do comy mento morfol6gico da linha de costa. Estas consideragdes sio fundamentais para o planejarte ‘ocupagao e para 0 desenvolvimento de projetos de engenharia que venham a interferir na dins sedimentar costeira, 8.2.38 Marés As marés sio formadas pela ago combinada de Forgas de atragdo gravitacional entre a terra, «esol, e por forgas centriTugas geradas pelos movimentos de rotago em torno do centro de massa sistema sol-terra-lua que se localiza no interior da tera, a uma distincia de um quarto do raio t Estas forgas estio em equilfbrio, impedindo que a lua seja atrada para a superficie da tera. As; Jasdégua que migram livremente nos oceanos movimentam-se em associagao com estas Forgas, Jecendo os ciclos de maré. Mesmo considerando a menor massa da lua em relagio ao sol, sua proximidade em relagiio tera faz com que seu efeito de atragio gravitacional seja dominant. ‘A forga centrifuga € igual em qualquer local da superficie da terra, no entanto, a forgade: _gravitacional & maior quanto maior fora proximidade em retagio a lua. Assim sendo, na face da voltada para a lua, a forga de atragio gravitacional 6 maior do que a forga centrifuga, enquanto que: Face oposta, a forga centrifuga supera a atragdo gravitacional. As componentes resultantes destas fe produzem dois altos de maré, um na face da terra voltada para lux outro na face oposta (Figura 8+ (Um dia lunar (24 h 50 min) & 0 tempo compreendido entre duas aparéncias sucessivas da em um meridiano exatamente acima de um observador estacionério, Enquanto a terra gira em de seu préprio cixo, o sistema terra-lua também gira na mesma direeo em torno de seu centro massa, Durante uma revolugio completa da terra em tomo de seu eixo (24 h= dia solar), a lua. para leste cerca de 12,2%,e portanto a terra tem que girar por mais 50 minutos para que 0 obse continue alinhado com a lua (figura 8-18). re fe mar lua al Figura 8-17. a) Magnitude e dirego (seta) das forgastativas resultantes da soi yetoral das componente ragio gravitacional da lua eda forga centef aga para um caso hipotstico na superficie de um aceano cont envolvendo toda da terra. b) Deformagao da superficie oceinica resultando em duas zonas de maré alta em ‘opostos da tera, para uma situago onde a lua se situa no mesmo alinhamento do equadortereste Aubjemes de Sedimentagdo Coscia ¢ Processos Morfoindmicos Atuantes na Linha de Cota wt rt eompleta uma revolugao completacm tomo de seu eino, Neste rus pa lest, que faz com que se necessite de um perfado aticional * que © mesmo ponto fixe na superficie da terra alinhe-se now ann Disto decorre que um dia hutar possui 24 horas ecingUenta minutes ta defasagem de cerea de 50 minutos para o nivel de maré para un ‘mesmo peviodo lua girou cerea de 122 de 50 minstos p fe com © meridian lunar ‘em conseqQncia, em dias sucessivos ore ‘mesmo local fixo ra tera Desde que a Terra estd girandoem tomo de seu cixo, qualquer ponto em sua superficie passa dduas vezes por um periodo de mare by axa maré alta durante um dia lunar (24 h $0 min). diferenga 4 50 minutos do dia tunar em comparagdo com o di solar explica porque as variag alta ¢ baixa ocorrem em horas diferentes durante os eiclos de ma horirio dos picos de maré a entre ma u seja, se acompanharmos o ou baixa em um determinado local, observaremos que a cada dia com uma defasagem horiria de $0 minutos, feito conjuga ds aragio gravitacional do sol umbém exerce modificagdes signi as amplitudes de maré, sendo responsiveis pelas variagies observadas entre (spring tides) eas marés de quadratura (neap ‘ou lua cheia, quando o sistema terra-lus-sol e aacontecem em fases de quarto erescente ot sucessivo eles ovorrerd cativas as marés de sizigia tides). As primeiras ocorrem em periodos de lua nova ‘sti em conjungdo, enquanto que as manés de quadratura minguante, quando o sistema se encontra em oposigio (figura 8-19), Um ciclo completo ocorre ‘envolvendo duas fases de marés de sizigiae duas de quadratura (i Existem variagdes signiticativas dos ciclos de mané de local diferentes amplitudes de maré e por mudang 50 minutos, podem ser registrados comport ra 8-19), I para local, caracterizadas por 'gas em seus perfodos. Durante um intervalo de 24 horas ¢ lamentos de maré semi-diuma, com duas baixa-mare duas rary mares diumnas, com uma preamare uma baixa mar e manés mistas, que envolvens varingBes ir estes dois extremos (figura 8-20), Esta alteragBes locas dos ciclos de manés tine explicagies io entre a forma e dimensdes das bacias oceanicas ¢ o cfeito da Folao da terra (ver capitulo 7), O06 So observa nas zonas costerasresultam do empilhamento amplifiagdo is marés ocenicas, 2 medida que estas se mover sobre a plataforma eontinene c para dentro de Sstuftiosebafas. Nests reas, movimentoshorizonais da coluna d'égua, na forma de correntes de ‘maré causam mudancas do nivel das éguas, resultando n, inundagao periédica das planicies de marés Hoe mera Este fentmenoé de fundamental importinca par a manutengao destes eemssioere que normalmente sustentam uma grande diversidade biolgica A grande importincia das correntes de maré fa modelazem da linha de costa faz cor determinada regido seja de grande signiticax complexas, que envolvem a interag Forga de Coriolis estabelecida pela AS ma no transporte de sedimentos e conseqientemente ue a identificagdo das caracterfsticas da maré em uma ido parao estud dos ambientes de sedimentagio costeira, 192 [7 Maré de Quadrature ~ Mire de Maré do Sizigia : Sizigia Delormacao associada #P> airapdo gravilacional do Sol ravacratra Primera quacratura © quudratura associados is fases de lua cheia, lua nova, quarto quarto minguante em funglo do efeito conjugado de atragio gravitacional exercide pela sole pela li 8.3 AmpreNtes DE SepmentacAo CosTema (Os ambientes de sedimentagao so locais propicios para a acumulagiio dos sedimentos’ portados por processos naturais a partir de diferentes agentes superficiais, como digua de vento, gelo ¢ ago da gravidade, gerando depésitos que se relacionam lateralmente e estrati ‘mente nas trés dimensdes. Nestes ambientes podem ser observadas caracteristicas diagn« agentes ¢ processos deposicionais ¢ erosivos predominantes ao longo do processo de evoll ica e geomorfoligica do local de sedimentagii, Dentre os diversos ambientes de sedimentagdo continentais e marinhos, ocorrem aq tamente localizados na linha de costa, como as praias e barreiras arenosas, estuirios, deltas, € dunas e6licas costeiras. Estes ambientes sio altamente mutiveis, em fungio de sua ‘geogrifica na interface continente oceano, sendo constantemente remobilizados pela ago {ee8s08 costeiros associados as ondas, correntes costeiras e marés e ao aporte de sedimentos. 194 Inteodugio & Geologia Marinha (foreshore). A regidi do pés-praia (backshore) é a zona acima da linha de maré alta, que s6 ¢ alean= «gada pelo mar durante ondas de tempestade, ou durante marés excepcionalmente altas. Apds a face de praia, em diregio.ao mar, a egifio permanentemente coberta pelas 4guas, que compde o prisma praia submerso, é chamada de antepraia (shoreface). A antepraia estende-se desde o limite inferior da face: de praia, até profundidades em torno de 10 a 20 m, onde o fundo submarino normalmente nao é mais ‘afetado pelas ondas de tempo bom. Em termos topognificos, outras feigoes so individualizadas em um tipico perfil de praia (f= ura 8-21). A crista do berma é o ponto de inflexiio topogrifico entre a face de praia e o berma, que um terrago formado na zona de pés-praia, acima do limite superior de alcance da maré mais alts Um ou mais bermas podem estar presentes em um mesmo perfil de praia, caracterizando ago de ‘ondas de maior ¢ menor energi ‘As modificagdes morfoldgicas periddicas que se observam na maioria das praias sto deriva= «las principalmente das alterndncias na enengia das ondas. Ondas pequenas, de tempo bom, tendem & cconstruiras praias, enquanto que ondas de tempestade provocam erosio, transportando o material da praia para a regio submersa imediatamente a0 largo. { Em regides onde se observa uma alternancia sazonal de ondas altas durante o inverno, € ondas pequenas e suaves durante o veri, percebe-se também uma variaglo sazonal nas earacteristicas topogriificas do perfil de suas praias, Durante o vera, sedimentos sio trazidos para as praias,c truindo bermas, enquanto que no inverno, os bermas sao totalmente ou parcialmente erodidos, ando as praias totalmente aplainadas. Os sedimentos removidos do prisma praial emerso durante; inverno sio depositados na drea submersa ao largo, muitas vezes formando barras longitudinais ‘marinas, No veriio seguinte, estes sedimentos sio novamente remobilizados e transportados em di «40 As praias, reiniciando o processo de construgiio de novos bermas. A realizagao de pertis topogrificos praiais sazonais e também durante diferentes condigdes ‘mar é fundamental para o reconhecimento a dindmica de transporte sedimentar em uma determi regitio costeira, Esta técnica, altamente difundida e de custos bastante reduzidos. fornece inf bes valiosas para a construgto de obras de engenharia costeira, permitindo caleular e fazer previs do volume de sedimentos transportados, assim como partes, ou regides, preferenciais de erosio. Ueposicdo de sedimentos, em fungiio de diferentes condigdes de energia do meio marinho. Tra desta natureza tm sido amplamente desenvolvidos no litoral brasileiro desde a década de 70. litoral norte do estado do Rio de Janeiro, por exemplo, Bastos ¢ Silva (2000) caructerizaram variagdes sazonais do prisma praial em diferentes praias entre as cidades de Macaé e Atafona, naj PaswnpRaa Seite $e PSUR ae § jeanne SUBNARINA 5 ae "AO LARGO, § | «— zonave surre . (OFFSHORE)| & /Berme Preamar Behm a = Banco” Caina ‘Crista da “Banco Cana arenoso ermal Figura 8-21, Principais subdivisses morfoldgicas, morfodinamicase hidrodinmicas de uma praia ( de Muche, 1994), Ambientes de Sedimer o Costeira ¢ Processos Morfogindmicos Atuantes na Linha de Costa 19s do rio Paraiba do Sul (figura 8-22), observando variagdes volumétrieas extremas de até 1.300 m? de sedimentos remobilizados por metro linear na pra (1989 a 1994), A classificagiio morfodinamica aia de Atafona durante 0 periodo de levantamento praias foi sugerida em trabalhos realizados na costa da Aus tralia (Wright eta, 1979 a,b; Short & Wright, 1981 e Wright & Short 1984, entre outros). Estes autores integraram fatores morfologicos e hidrodindmicos e reconheceram 6 estigios morfodinimicos distintos, sendo dois deles extremos (refletivo e dissipativo) e quatro intermediérios. Do ponto de vista morfol6- ico, 0 estégio dissipativo comesponde a praias planas e rasas com grande estoque de areia na pate submersa, enguanto que o estigio refletivo é ca raterizado por praias ing mes com pequenoestoque de © extremo dissipative pode ser comparado morfologicamente aos perfis de tempestade em Praias com variagao sazonal. E um perfil aplainado, geralmente composto de areia fina e gradientes Suives, geralmente apresentando extensa zona de surf € mais de uma linha de cearacteriza a ocorn arrebemtagiio, o que icia de virios bancos arenosos paralelos i praia Diino (my 18-22. Varingses morfoldgicas do peril topogritico da praia de Atafona, no ltoral norte do estado do Rio ro em quatro épocas distntas entre 1989 ¢ 1994. 4 tendéncia erosiva da praia 6 evidente, com diminui largura da praia em mais de 30 metros neste perfodo (moditicado de Bastos e Silva, 2000). 196 Introdagéo i Geologia Marina O eestigio extremo refletivo ¢ caracterizado por perfis com a face de praia bastante ingreme, ‘com areas normalmente grossas e com ondas comumente quebrando diretamente na face de praia, ccausando uma maior velocidide de espraiamento, (Os quatro estigios intermedisrios apresentam maior complexidade morfol6gica ¢ hidrodin’- ‘mica e caraeterizam-se por praias com grande mobilidade, onde ocorrem seqiiéncias acrescionais, ‘como bancos arenosos longitudinais. A composigio granulomstrica dos sedimentos da praia tem também influéneia direta em sua ‘morfologia. Quando uma onda quebra na praia, sedimentos sto movidos primeiramente em direg30a, costa, e logo apés silo trazidos de volta a0 mar pelo refluxo das Ziguas. A corrente de refluxo é mais fraca, devido a perda de energia em fungdo da percolagio dégua na face de praia. Portanto, grande parte dos sedimentos que sio empilhiados na praia pela onda, nao consegue ser levada de volta pela corrente de refluxo, provocandlo 0 aumento do gradiente da praia. A granulometria dos sedimentos da praia controla diretamente a taxa de percolago, sendo que em areas mais finas, a taxa de percolagao € usualmente bem menor do que em areias grossas ou cascalho. Isto resulta em maior dissipagao da jas mais grossas, ocasionando gradientes bem mais energia da corrente de refluxo nas praias com 2 ‘elevados nessas praia. 8.3.2 Cordées Arenosos (0s corddes ou barreiras arenosas sio feigGes alongadas paralelas a linha de costa. Podem atingir mais de 50 km de extensdo e so normalmente estritos (< | km) ¢ com baixo relevo (< 10m). Aleuns corddes arenosos so totalmente isolados do continente, constituindo as ilhas barreiras (bar- rier islands), ou podem ser ligados ao continente por uma das extremidades, formando os pontais. arenosos (barrier spits), ou ainda ligados por ambos os lados ao continente, compondo as barreiras, ‘ou corddes arenosos propriamente ditos (barrier beaches) (figura 8-23), A origem destas Feigdes costeiras 6 atribuida a trés processos principais: crescimento vertical de barras submarinas (de Beaumont, 1845; Johnson, 1919); crescimento lateral de pontais aren (Gilbert, 1885; Fisher, 1968); ¢ afogamento de praias e dunas costeiras durante eventos de subida nivel do mar (Hoyt, 1967). Uma vez. formadas estas feigdes interagem com 0s processos costei aassociados & agio das ondas, correntes costeiras e marés, que resultam em modificagdes morfolégi Estas feigdes so também extremamente aetadas pelas variagdes do nivel do. Figura 8-23. Variagdes morfolgieus dos corddes arenosos costeizus, constituindo barreiras arenosas (a) ‘Bes urenosos (b) ou ilhas barreias (c) (odificado de Leatherman, 1982) Ambie de Sedimentagao Costera Processes Morfodinimicos Atuantes na Linha de Costa 97 relativo, migrando em diregio ao continente durante processos de subida do nfvel do mar (figura 8- 24). Em fungi deste processo de migragio, as arcias da fice de praia s20 deslocadas em diego ao continente, sendo lancadas sobre os sedimentos lagunares situados no reverso do cordao litorineo. Disto resulta uma seqiiéncia sedimentar caracteristica do processo de transgressao da linha de costa, senido composta por sedimentos arenosos praiais, sobrejacentes a lamas ¢ turfas lagunares (figura 8- 25). Evidéncias do processo de migragio do cordio arenoso em dirego a0 continente a partir de posigdes originalmente mais ao largo, ficam tambxm afogadas na plataforma continental, Em diver- sas reas da plataforma continental brasileira sao reconhecidas feigdes batimétricas caracteristicas de paleo-praias e paleo-lagunas afogadas, muitas vezes sendo confirmadas pela presenga de arenitos de praia ¢ turfas lagunares hoje submersos (Muehe, 1998; Dias et al., 1984). No litoral brasileiro observam-se exemplos de corddes arenosos, ilhas barreiras © pontais arenosos, formados por diferentes processos. Por exemplo, os pontais e ilhas barreitas do litoral do. Rio Grande do Norte, nas imediagdes da cidade de Macau, sio formados por crescimento lateral (igura 8-26) enquanto que 0s corddes arenosos do Rio de Janeiro, que formam o complexo de lagu- nas do litoral leste fluminense foram originados pelo afogamento da linha de costa e migragio da barreira arenosa em diregiio ao litoral durante a elevagio do nivel do mar (Muehe, 1998) (figura 8- 27). Ja na regio da for do rio Paraiba do Sul, também no litoral do Riv de Janeiro, as areias trazidas pelo rio e depositadas em um lobo arenoso submerso sio retrabalhadas pelas ondas, formando barras submarinas que eventualmente crescem verticalmente até a superficie, gerando ilhas barreiras. Estas, por sua vez, erescem também lateralmente, em fungi do transporte por correntes de deriva, wo ‘mesmo tempo em que sto empurradas pelas ondas em diego ao continente, chegando mesmo a se incorporar a linha de costa, isolando pequenas lagunas (figura 8-28). (Os exemplos mais notiveis de complexos de ilhas barreiras continuas ocorrem no litoral Leste dos Estados Unidos, onde as ilhas barreiras isolam extensas lagunas costeiras e estuarios, do contato direto com o oceano (figura 8-29). Diversos trabalhos de pesquisa desenvolvidos nesta regido mos- tram a complexidade deste ambiente deposicional, caracterizando os diferentes sub-ambientes de sedimentagio a ele associados. Antiga nba de ive costa da Baia Pes ‘Antiga localizagao Localzagao preténita da lina Barreira 1 k}—_ = 100.8 1000 vezes H) Elovacio no nivel domar —T, = Migragao horizontal 1, ealiha Barrera igo nivel do mar vel do mar tual 8-24, Migrago deilhas barreras em dire ao continente durante eventos de elevagao do nfvel do mar 9s Figura 8-25, Seqiéncia estratigstien caracteristica de finha de costa trans Ttorineo migrou em ditegao ao continent, passando por cima de sequéncias laguna mot Figura 8-26, has barreiras pontais arenosos no estuiio do ro Agi, proximidades da cidade de (Grande do Norte. Enchorts en Tras Lagoa 10m tam gressive, onde 0 cord ss de planicies de do de Heron era. 1984), rocessos Morfodiniimicas Atuantes na Linha de Costa 199 Ambiontes de Sedimentagao Coste Litoral do estado do Rio de Janciro entre Nites e Saquarema, O corde aren litorineo provo- Figura 8 cout fechamento de uma série de lagoas costeiras, como as de Marica, Gusrapina e Sa sda foz do Rio Paraiba do Sul, E Figura 8.28, Esporses arenosos ¢ithas arreiras nas proximida os corpos aes ‘arenosos so empurrades em diego ao continente, ond isolam pequenas lagunas costeras nas proximi do balnesrio de Gargat. s cordies arenosos, has barreiras e pontais, normalmente isolam lagunas costeiras, poden- do ou nio ser segmentados por canais (inlets) responsdveis pela circulago d’égua entre a ‘oceano aberto, obedecendo 20s ciclos de maré (figura 8-30). Nas desembocaduras destes canais, ‘ocorrem depésitos areno-lamosos conhecidos como deltas de maré, que podem se localizarno inter or da laguna, constituindo os deltas de maré enchente (flood ridal deltas) ou no oceano, formando os de maré associados se que em dreas onde deslo deltas de maré vazante (ebb-tidal dettas). Os canais ¢ seus depdsitos de del arenoso. Normalmente observa ago das marés, os canais so mais inst podem mi existe um predominio d ar lateralmente ao longo do cord o das ondas sobre 200 Introdugao & Geologia Marina Figura 8-29, IIhas bareiras no litoral da Carolina do Norte, leste dos Estados Unidos (imagem do Sates Landsat 7 -tnpzlipao.gsfe.nasa gov. cando-se mais freqilentemente. Dependendo do volume d’égua da laguna ¢ da amplitude da I ais podem ser também efémeros. No litoral do Rio de Janeiro, diversas lagunas ras, como a de ltaipd, apresentayam, até recentemente, canais efémeros, que rompiam abrupt quando o nivel de dgua das lagoas estava muito elevado, Hoje em dia, na lagoa de Itaips, 0 canal aacesso foi fixado por guias corrente artificiais, mantendo-o permanentemente aberto. Um mecanismo importante responsivel pela abertura de canais nos codes arenosos, ros sio as marés meteorolégicas (storm surges), que na realidade sio causadas pelo empitha 1 de encontro a linha de costa durante a passagem de um evento de tempestade. Cabe let wai {que 0 rompimento do cordio ocorre de dentro da laguna para 0 oceano, quando os canais exis no tém a capacidade de escoar toda a égua empilhada no litoral, apés a passagem da tempestade litoral leste dos Estados Unidos € no Golfo do México, tém sido observados diversos evento) agem de furacdes. rompimento do corddo arenoso e estabelecimento de canais apos a pass (Os subambientes emersos (figura 8-30) associados aos corddes litoraneos propriamente is, dunas costeiras e pelos leques di praiamento (washover fans) siio representados pelas praia Lltimos so depésitos arenosos, formados pela transposigZo (overwasht) das arcias da praia sedimentos lagunares do reverso do condo arenoso, durante eventos de tempestade, Nas mar laguna, desenvolvem-se as plantcies de maré, os manguezais ¢ os marismas (salt marshes). A. silo das planicies de maré depende da amplitude de maré local. Sio reconhecidos trés setores Ambientes de Sedimentago Costeta e Processas Morfodinamicos Atwantes na Linh de Costa 201 Leque do epraiamento Figura 8-30, Ambientes costeiros associads aos sistemas de corddes arenosos ¢ilhas barreiras tos, representados pelas planicies de supramaré, intermaré e de inframaré. As primeiras sio aquelas elevadas, inundadas apenas durante as marés mais altas (sizigia). As planicies de inter- ‘maré situam-se na zona diariamente exposta ¢ recoberta pelas guas durante os ciclos de maré, A. regitlo de inframaré corresponde aos bancos areno-lamosos totalmente submersos localizados nas ‘margens da laguna, Os manguezais e marismas desenvolvem-se nas planfcies de intermaré e suprama- ré. Os mangues sto caracterfsticos de ambientes tropicais, onde se desenvolyem espécies vegetais, especificas adaptadas para a vida em ambientes mixohalinos. As drvores de mangue posstiem um intrincado sistema de rafzes aéreas que servem de armadilha para o aprisionamento dos sedimentos finos trazidos pelas correntes fluviais e correntes de maré. Os marismas ocorrem em regides tempera das ¢ se caracterizam pela colonizagtio de gramineas e juncais, também adaptadas para ambientes com salinidades elevadas, Da mesma forma que os manguezais suportam uma diversidade biolégica importante e slo responsaveis pelo actimulo de sedimentos finos, facilitando o desenvolvimento das planicies de maré através da acresciio vertical dos bancos lamosos. No litoral brasileiro, os mangues desenvolvem-se nos principais estusrios lagunas ¢ bafas, em toda a extensdo desde o Amapé até Santa Catarina, Marismas ovorrem no litoral do Rio Grande do Sul, associados aos sistemas lagunares das lagoas dos Patos e Mi 8.3.3 EsruArios Estudrios to corpos d“égua costeiros, semiconfinados, onde ocorre a mistura de égua doce, vinda do continente, com gua salgada do oceano (Pritchard, 1967). A ago das mares, ventos, ondas ea imtrodugio de 4gua doce dos ries, produzem gradientes de densidade que determinam os proces 505 de circulagdo estuarina, Além disso, a circulaglo no interior do estudrio ¢tambm influenciada pelo tamanho e forma da bacia Estuérios slo ambientes costeiros de vida efémera no tempo geoldgico, derivados do afoga- imento da linha de costa em fungi da elevagio relativa do nivel do mar, Estes ambientes atwam como depSsitos efetivos dos sedimentos fluviais, impedindo que grande parte destes cheguem & regio da plataforma continental. Além dos sedimentos continentis trazidos pelos rios, os esturios também 202 Inuredugao a Geologia Marina recebem sedimentos da plataforma intema e de éreas costeiras adjacentes,trazidos pela deriva litori- nea, Sendo ambientes propicios & sedimentagdo, a tendéncia & de serem completamente colmatados so longo de sua evolugio, transformando-se em planicies costeiras emersas e, caso a sedimentago fluvial seja mantida a niveis importantes, evoluindo para sistemas deltaicos. Estudrios sto encontrados ao redor do globo em qualquer condigao de clima © maré, sendo mais hem desenvolvidos nas planfcies costeras das médias latitudes, ao largo de plataformas conti= nentais extensas que softeram submersio em fungio da clevagio relativa do nivel do mar. A dltima transgressio marinha do Holoceno provocou a inundago dos vales fuviais, vales glaciais, ordes, bafas protegidas por barreiras arenosas, ou baias derivadas por eventos de subsidéncia tectOnica, dando origem a maioria dos estudrios atuais, (ambiente estuatino pode ser subdividido em trés zonas com base na interagao entre o prism de maré ea descarga fluvial: zona estuarina fluvial, ou cabega do esturio, regido onde a sani das aguas & sempre menor que 1 psu, mas 0s efeitos da maré ainda so observados: zona estuari rmédia, regio que apresenta uma variagao de salinidade entre | 35 psu e onde ocorre intensa mist centre dguas oceinicas ¢ figuas fluviais; e zona estuarina costeira, ou desembocadura, onde a sal de observada coincide com a salinidade oce‘iica. As variagGes entre volume da descarga fluvial e amplitude de marés, além de fatores ‘ondas e também ventos, promovem modificagdes nos padrdes de circulagao estuarina permit classificagio dos estuirios. Quando 0 estuério & dominado pelo rio é classificado como um estusrio altamente estrati ddo ou de cunha salina (Figura 8-31a). Neste tipo de estuério a salinidade das éguas de superficie € menor que a salinidade das dguas do fundo, apresentando uma diferenga acentuada no perfil ver de salinidade. A grande maioria dos sedimentos trazida pelos rios€ levada para a regio ocedniea 1ua superior e pouca sedimentagdo ocorre dentro do corpo estuarino. Exemplo de estustio altamente estratificado é 0 Rio Mississipi, no Golfo do México, Estados Unidos. Quando os efeitos de turbuléncia causados pelas correntes de maré e ondas no int estuétio sio dominantes, o estudrio & classificado como totalmente misturado (figura 8-31). estuirio o perfil vertical de salinidade & homogéneo, ou seja, a salinidade das éiguas superfici igual A salinidade das dguas do fundo. A satinidade da égua $6 varia lateralmente sendo mais regio ocednica e mais baixa em diregdo a0 continente, Um exemplo é a Bafa de Delaware, Estados Unidos. Quando a velocidade da descarga fluvial e as correntes de maré so compariveis, 0. classificado como parcialmente estratificado ou parcialmente misturado (figura 8-31). Neste: rio o aumento de salinidade se da de maneira gradativa tanto na diregio vertical quanto na hori Exemplo tipico é a Baia de Chesapeake na costa leste dos Estados Unidos. E importante salientar que como a circulagio das éguas de um estudrio depende dit ddas condigdes hidrodindmicas reinantes, um mesmo estusrio pode apresentar comportamentos} tos de eirculagio, ou seja, um estudrio pode se comportar em um momento como bem estat ‘momentos depois, apresentar circulagio totalmente misturada, bastando para isto que oot ddanga nas condigdes hidrodinimicas locais (por exemplo, durante a passagem de uma fr Além disso, um mesmo estuério pode apresentar mais de um tipo de estraificagao das simultaneamente. Por exemplo, a Bafa de Guanabara apresenta dguas bem misturadas na sua cenquanto que na regio da ponte Rio-Nitersi, situada ha 8 km de distincia da desem ‘iguas sGo parcialmente misturadas (Kjerfve et al., 1997). Esturios de cunha salina e parcialmente estraificados podem apresentar uma te distinta, denominada de zona de turbidez méxima. Nesta regitio € observada uma. nicos Atwantes na Linha de Costa 205 Ambientes de Sedimentagao Costeira e Processos Morfodin ra 8-31. Classfieagio dos esturios de acordo com o tipo de estraificagio da coluna dua, (a) Estwio teem estratitieado, ou de cunha salina. (b) Estudio parcialmente misturado, (e) Esturio totalmente misturado. s niimeros indicam os valores de salnidade que so constantes ao longo das linas representadas nos trés nos em suspensiio na coluna dua ‘exemplos. Os pontos indicam a densidade dos sedi sedimentos em suspensio que pode ser cerca de 100 vezes superior as regi As correntes residuis que trazem gua ocednica para dentro dos estuirios diminuem em diregao a0 continente, até eessar por completo junto ao fundo do esturio, em um ponte conhecido como ponto Nulo, Este local nio é fixo, ou seja, move-se para frente e para trés, em fungdo de variagGes no fluxo vial e na intensidade da corrente de maré. Os sedimentos transportados pela dguas salgadlas que se ‘continente permanecem em suspensiio nas proximidades do ponto nulo, deter- jo da zona de turbidez maxima, fundamental na deposigao de sedimentos finos dentro dos, estudrios: agregagao biol6gica efloculao. Estes fendimenos sto responsiiveis pelo aumento da velo. Cidade de decantagio das particulas finas, que normalmente levariam dias inteitos para se deposita es a montante ea jusante. move em direcao. minando portanto a forma Dois fendmenos t&m importinc ‘em junto ao fundo. Alguns organismos que viver nos estuirios, principalmente os filtradores, como ‘ostras © outros moluscos so responsiveis pela agregagio bioldgica. Estes organismos ingerem as particulas de argila em suspensio na agua e posteriormente as expelem na forma de pelotas fee: ‘que se depositamn mais rapidamente no fundo, © fendmeno de floeulago ocorre quando existe @ mistura da gua doce com a gua salgada no estusrio, Normalmente, as particulas de argila transpor- clétrica negativa em sua superficie e, portanto tadas em suspensiio na digua doce possuem uma ca 208 Introdugio & Geologia Marina se repelem mutuamente. Quando ocorre a mistura com gua salgada, o efeito neutralizador causado. por citions livres na sigua do mar permite a aproximagio por forgas de atragiio molecular das particu- Jas de argila, provocando sua floculagio e deposigaio junto ao fundo. ‘A origem dos sedimentos que chegam & regio estuarina é variada, englobando desde a bacia rem, « plataforma continental, a atmosfera, erosio dentro do corpo estuarino e sedimentos de deposigdo estuarino seré entio controlada pela quantidade dos sedimentos disponiveis, pela inte= rigao dos processos hidrodindmicos e pela geomorfologia do fundo. Em conseqiléncia, o volume sedimentos que se deposita no estusrio pode ser bem distinto do volume de suprimento sediment Erosio, transporte, deposicZo ¢ finalmente, compactagao so fendmenos comuns do sedimentar dentro dos estuérios (figura 8-32). Estes processos so diferenciados de acordo com natureza dos sedimentos, porque os sedimentos lamosos coesos respondem de maneira distinta hidroxtindmica comparades aos sedimentos arenosos nido-coesos. Um sedimento de fundo lat ccoeso ¢ mais resistente & eroso que um sedimento arenoso, porque apés a compactagio, mais ene 6 requerida para mover o sedimento coeso devido a forte ligagao criada entre as particulas. (0s estufrios podem ser classificados como dominados por rios, ondas ou marés, de ‘com a maior ou menor influéncia destes fatores sobre a distribuig2o e deposi¢o de sedimentos. Nos estuirios dominados por ris, ainfluéncia da descarga e da carga sedimentar fluvial ra a capacidade das ondas e marés. Nestes casos, podem se desenvolver deltas de fundo de quando for grande a quantidade de sedimentos trazidos pelo rio e quando © corpo aquoso onde: semboca 0 curso fluvial for raso ¢ plano, como ocorre no litoral do Golfo do México, nos est das baias de San Antonio ¢ Galveston. Quando a morfologia da bacia receptora for mais acent 10 deltas de fundo de baia podem estar ausentes, embora a influéncia fluvial seja ainda domi ‘como ocorre no caso da baia de Chesapeake no litoral leste dos Estados Unidos (Davis Jr, I DANTERO 00.GRHO jn) ooo oot es 1 0 100 1000 8 VELOCIOADE PRINCIPAL (em) on vu Figura 8.32. Processos de erosio, transporte e deposigao de sedimentos em Fungo da velovidade do samo das particulas sedimentares, Ambientes de Sedimentag’o Costera e Processos Morfodindmicos Atuantes na Linha de Costa 205 Os estuitios dominados por ondas apresentam um zoneamento bem definido composto por juma regio oceiniea arenosa, onde normalmente ocorrem cord&es e pontas arenosos que se antepde Perpendicularmente 3 desembocadura seguida por uma regido central onde os sedimentos finos pre= dlominam ¢ uma regido interna dominada por depdsitos fluviis arenosos que desenvolvem delta de fundo de baia (Figura 8-33). Um exemplo caracteristico & o estuitio do tio Agi, no municipio de Macau, estado do Rio Grande do Norte, onde pontais arenosos se desenvolvem pela corrente de {eriva ltorinea, formando, em sua retaguarda, um ambiente estuarino protegido da ago das ondas onde desenvolvem-se manguezaise planicies de maré, Os sedimentos aenosos Mluviai, que compe tum delta de fundo de baa, sio depositados abruptamente e progradam sobre as lamas da plancie de mares que dominam a regido do estudrio médio. Deltas de maré vazante ocorrem na desembocadura ddosistema estuarino, formando depésitos areno-lamasos que sao retrabalhados pelas ondas ¢ corren. tes de maré (Silva, 1991), Os estuérios dominados pela agio bidirecional das marés nto possuem nenhuma barreira em sua desembocadura, tendendo a apresentar uma morfologia em forma de fun (Vigura 8-34. A grande nergia das marés provoca a mistura total das éguas do estutio, sendo também responsivel por correntes Vigorosas, capazes de transportar sedimentos arenosos para dentro e para fora do estutio, Assim sendo, desenvolvem-se bancos arenosos alongados perpendicularmente a linha de costa ¢ Planicies arenosas extensas no estuério médio. Os sedimentos Fnos so em sua maioriatransportados Para fora do estuério, ou depositam-se em suas porgdes mais internas, Os exemplos mais conhevidos 4c 0 estuitio de Gironde na Franga amine Fava igura 8-33. Configuragdo morfoligicac dos subambientes sedimentares de um estuiio em uma regio onde a erga das onda € dominante, Na lina de costa ocorrem esporbes cilhas barreirase deltas de maréenchente > interior do estudri desenvolven-se deltas estuarinos(madificado de Dalrymple eta, 1982), 206 Introduga0 a Geologia Figura 8.34, Morfologia em forma de funil de um estuirio em uma regio onde a energa das marés€ dor sobre a energia das ondas. Bancos arenosos longitudinais ocorrem na desembocadura do estuirio (modi de Dalrymple e al, 1992), 8.3.4 Devras (© termo “delta” foi primeiramente aplicado pelo fildsofo grego Hersdoto no quinto antes de Cristo para descrever os depSsitos aluviais, em forma triangular, dispostos na planicie ‘ado rio Nilo, no Egito. Desde entio, esta denominagao vem sendo usada para deserever estas fe ‘seogrificas, sendo também incorporada na literatura geol6gica, com um sentido genético, para crever os depésitos fluvio-marinhos que ocorrem nas desembocaduras de canais fluviais que guam em lagos ou no oceano (Morgan, 1970; Coleman e Wright, 1975). Os depisitos de Fluvial retrabalhados na bacia receptora ¢ re-incorporados 4 planicie deltaica também sao consi dos como pertencentes ao sistema deltaico (Coleman ¢ Prior, 1982; Miall, 1984). (s deltas sio geralmente associados a rios com grande descarga fluvial aportando em receptoras onde os processos costeiros, como ondas e mares nao sio fortes o suficiente para\ totalmente 0s sedimentos que ali chegam. Os rios com grande carga sedimentar normalmente ‘gem uma grande bacia de drenagem com varios tributdrios, que contribuem com agua e sedi para. sistema, Estes fatores sto fung20 do clima (precipitagio, erosio, intemperismo), da do relevo locais, Ambientes de Sediment #40 Costcirae Provessos Morfodinimicos Atuantes na Linha de Costa 207 Os diversos tipos de sistemas deltaicos resultam da interagdo entre os processos fluviais Imarinhos, entre os quais destacam-se a influéncia da descarga fluvial ea ago das ondas e das corren tes de maré. A maioria dos deltas atuais ocorre nas regides de médias e baixas latitudes (as altas latitudes estio dominadas por geleiras). Ao set u redor se encontram planicies de inundagiio e sreas com alt produtividade biolégica €fertilidade, 0 que os fazem importantes dreas de conservagug ambiental, Também sio regides com acumulagio répida de sedimentos arenosos e matétia organi (estos de plantas e plancton marinho derivado da alta produtividade local), portanto, sedimentos deliaicos antigos sio importantes fontes de petrdleo, wise carvao, (Os deltas sio ambientes transicionais,altamente mutiveis, que em muitos aspectos lembram Os sistemas estuarinos (Davis Jr, 1994). Ambos sio altamente influenciados por fatores fluviais ¢ marinhos, sendo sitios importantes de sedimentagdo. Em termos morfoldgicos. no entanto, os estud. {es formanse em locais reentrantes, normalmenteabrigados da linha de costa, enquanto que os deltas sho felgdes protuberantes que marcim 0 avango (prograclagdo) da linha de costa em diteeto a0 ceano em fungdo da grande quantidade de sedimenios trazidos pelo canal fluvial. Alguns estudrios em regies de intensa sedimentagdo Muvial podem ser completamente preenchidos por sedimentos Garo os sedimentos fluviais cheguem a atingir ditamente o litral, podem evoluir para depSsitos deltaicos, Muitos dos deltas modernos evoluiram a partir do prec’ nchimento dos estustios formados durante a tiltima transgresstio marinha do Quatematio, Os fendmenos de sedimentagao e erosio responsiveis pela evolugio dos sistemas deltaicos jnitragem continuamente através de processos construtivos, associados a0 sistema fluvial, o rea bathamento eredistribuigdo de sedimentos por processos destrutivos, dominaados por ondac- eorren tes do meio receptor Galloway ¢ Hobday, 1983), Nadesembocadura ou foz do canal espalhamento e deposigdo dos sedimentos dependem de tres fatores: a inéreia da descarga aquosa: a flutuabilidade dos so densidade entre as dimentos devido a0 contraste de 8 dau, € a fricgdo jumo ao fundo, que por sua vez & controlada pela Profundidade da bacia receptora nas proximidades da foz (Coleman e Prior, 1980). Os sedimentos mais grossos, arenosos, iransportados como cary de tragdo ou rolamento junto ao undo, sio depo Sitados logo nas proximidades da desembocadura, desenvolvendo as barras arenosas de d dura (figura 8-35). Os sedimentos mais finos, inclu nboca indo areins muito finas e siltes so depositados Iogo a seguir, em Aguas pouco mais profundas, a medida que a turbuléncia diminui, desenvolvendon Pars superior do pré-delta. As lamas do pré-deta depositam-se mais adiante ainda, por processos Fentos de decantagto a partir do material em suspensto na gua (Figura 8-35). Osselecionamento granulométrico dos sedimentos finos a partir da for & do pela diferenga de densidade entre as dguas Nuviais ¢ lima estratificagio bem definida das massas. Sservado nos estudrios altam altamente influencia- narinhas. Caso ocorra o estabelecimento de igua, desenvolvendo uma cunha salina, conforme ob- mle estratificados, os sediments finos permanecem em suspensio na at or distincias maiores antes de se agregarem por floculagao,e sofrerem decantagdo (Figu & Est tipo de fluxo, onde a densidade da égua do ambiente receptor é maior do que a densidade dguas fluviais € denominado de hipopicnal (Bates, 1953). Se a baci 0 de uma grande carga sedimentar de areias por tragao e rolament fiindo podem levar ao seccionamento das batras de dese! sceptora for rasa, ou no Fricgdo e turbuléneia junto embocadura, desenvolvendo verdadeiras Jimitados lateralmente por diques marginais. Estes dando otigem a canais distributérios (figura 8-35) (Gallo- sagens, ou canais submersos na frente deltaict Aguas mais densas, de cursos fluviais com ‘grande carga sedimentar, muitas vezes também “emperaturas muito baixas, ao desaguarem em lagos de égua dace ou mesmo no oceano, podem Tnwoxlugo 3 Geologia Mai Figura 8-38. Configuragio da frente deltaca, com deposigao dos sedimentos arenosos transportados peo ‘rihutdrioe retrabalhados pelasondas na barra de desembocadur e deposigao de sedimentos lamosos por ‘i nas egies mais profundas e de menor energa, constituindo o prodelta, Modificado de Coleman ano (1964). ‘mergulhar por baixo das aguas menos densas do meio receptor, esenvolvendo 0s fluxos hiperpi (Bates, 1953), Nestes casos forma-se uma corrente de densidad junto ao fundo, com grande is que pode transportar a carga de fundo por maiores distincias, selecionando as sedimentos a0 do percurso a medida que a velocidade do fluxo diminui (Figura 8-36b) Em caso de densidades iguais entre as éguas fluviai e a bacia receptora, desenvolver fNuxos homopicnais (Bates, 1983). Nestes casos, a mistura imediata dos corpos aquosos result rpida deposigao dos sedimentos. Se o gradiente da bacia receptora for clevado, a deposiglo areias nas proximidades da foz se d& por processos de avalanche, gerando camadas inclinadas, nhecidas como camadas frontais (foresets), enquanto que o material fino deposita-se por d ‘e comrentes de turbidez, gerando as camadas de functo (bottomsets). Os deltas assim form: ‘denominados de deltas do tipo Gilbert (figura 8-37), em referéncia ans estudos de G. K. (1885) em um pateo-delta pleistocénico formado no lago Bonneville nos Estados Unidos. © resultado geral do processo de selecionamento dos sedimmentos € a dimvinuiglo g granulometria quanto maior for a distincia a partir da foz, ov sea 08 sedimentos arenosos: tram-se nas proximidades da desembocadura enquanto que as lamas depositam-se ao largo, na do pré.delta, Isto resulta em uma seqincia estratigrfica caracterstica dos depositos delta ‘mostram um aumento granulomeétrico dos sedimentos da base para topo da sequéncia (Ngura ‘Um processo consirutivo importante, igualmente responsivel pela progradacao da Ii ‘costa em ambientes deltaicos, ocorre durante as grandes cheias fluviais, quando os diques Ambientes de Sedimentago Costeta € Processos Morfodinimicos Aruantes na Linha de Costa 209 Fluxo Hiperpienal Material dopositadé no fundo Fluxo Hpopicnal Agua do mar Floculagao pracipitagao do material om suspensaio A => Material de tundo > Material om suspense i doce e sedimentos nas desembocaduras deltaicas. Nos receptora é maior do que a densidade das figuas do earl favial promovendo uma estratificagao ca coluna dgua, onde os sdimsentosfinos deposits por deca 0. Nos fluxos hiperpicnais(b), a densidade das dguas da bacia receptoa¢ inferior a densdade das Sguas do anal fluvial, Neste caso. fluxo denso ocorr junto a0 Fundo, transportando sedimentos po ragao por maieves distdneias. Modifieada de Bates (1953). Figura 8-36, Processos associados & descarga de 6 Auxos hipopienais (a) a densidade das guas da bac dos canais distributdrios sto rompidos, formando lobos de deposico secunditios, conhecidos como lobos de crevasse (crevasse splay lobes). Estes lobos arenosos podem se sobrepor lateralmente, sen- dloresponsiveis pela construgio da planicie deltaca (Figura 8-38). Este fendmeno tem sido largamen- te documentado na for do rio Mississippi. onde seis lobos de crevasse formaram-se, em tempos historicos, preenchendo as reentrancias existentes entre os canais distributirios na desembocadura fluvial (Coleman e Gagliano, 1964), ‘aualmente responsiveis pela prosradasio deltaica so os processos de avulsdio do canal prin-

Você também pode gostar