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EXMO (A). SR (A). DR (A).

JUIZ (A) DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA


COMARCA DE CACHOEIRA DO SUL - RS

LUAN HERTZ BONODETTO, brasileiro, solteiro, servidor público


estadual, inscrito no CPF sob o nº 489.012.436-58, residente e
domiciliado na Rua Senador Pinheiro Machado, nº 1315, Bairro
Centro, Cidade de Cachoeira do Sul – RS, CEP 96508-031, vem,
por meio de seus procuradores (Doc. 01), respeitosamente, ante
Vossa Excelência, ajuizar a presente

AÇÃO ORDINÁRIA DE DISSOLUÇÃO E LIQUIDAÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE


COM PEDIDO LIMINAR

contra GELSON DOS SANTOS, brasileiro, casado, empresário,


inscrito no CPF sob o nº 477.497.100-12, residente e
domiciliado na Rua Soeiro de Almeida, nº 741, Bairro Soares,
cidade de Cachoeira do Sul – RS, CEP 96509-432; e LX
DROGARIA LTDA., pessoa jurídica de direito privado, inscrita
no CNPJ sob o nº 07.181.742/0001-03, situada na Rua Sete de
Setembro, nº 1490, cidade de Cachoeira do Sul – RS, CEP 96508-
012, aduzindo, para tanto, os fundamentos de fato e direito que
passa a expor:

I. DOS FUNDAMENTOS DE FATO

1.1. Em 31 de março de 2004, foi constituída a sociedade do tipo


limitada ora Requerida, a qual, à época, era denominada
FARMÁBEL LTDA. Inicialmente, seu quadro societário era composto
pelas seguintes pessoas: o Requerente (Luan Hertz Bonodetto), o
Requerido (Gelson dos Santos) e Wellington Hunt Weber.

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1.2. Em 29 de setembro de 2005, foi registrada a primeira
alteração do contrato social. Nesta oportunidade, o sócio
Wellington Hunt Weber se retirou do quadro societário. Com
isso, o quadro societário da sociedade Requerida passou a ser
integrado somente pelo Requerente (Luan Hertz Bonodetto) e pelo
Requerido (Gelson dos Santos).

1.3. Conforme contrato social e alterações que seguem em anexo


(Doc. 02), a administração da sociedade sempre ficou a cargo do
primeiro Requerido. O Requerente apenas figurava na sociedade
como sócio-quotista, não possuindo nenhum poder de
administração, ao passo que é funcionário público estadual,
cuja atividade de administração de empresas é verdade, em razão
de seu cargo.

1.4. O que levou o Requerente a unir-se com o primeiro


Requerido, e constituir, com isso, a sociedade ora Requerida
foi a cumplicidade, lealdade, respeito, confiança, etc. que um
detinha pelo outro. Ou seja, a vontade de ser sócio. Todavia,
com o passar do tempo, principalmente a partir do ano de 2007,
esse elemento subjetivo (vontade de ser sócio) deixou de reinar
entre os sócios, em razão de uma série de discórdias e
conflitos decorrentes do exercício da atividade empresarial.

1.5. A série de notificações e contra notificações apresentadas


pelas partes, bem como o seu conteúdo, denota essa quebra
da affectio societatis. De um lado, o Requerido irresignado e
insatisfeito com o Requeriente. De outro, o Requerente
irresignado com o Requerido, em razão da forma que vinha
administrando a sociedade empresarial (empréstimos elevados,
desmandos contábeis, alienação de bens da sociedade, etc.).

1.6. Portanto, com o passar do tempo, a lealdade, a


cumplicidade, a fidelidade, o mútuo respeito, etc., deixaram de
vigorar entre os sócios. Em função disso, não resta alternativa
a não ser a retirada do Requerente do quadro societário, com a
conseqüente liquidação da sua quota societária.

II. DA QUEBRA DA AFFECTIO SOCIETATIS – DIREITO DE


RETIRADA

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2.1. De início, impende salientar que há duas formas de
constituição da pessoa jurídica do tipo limitada, quais sejam:
de pessoas e de capital. Essas duas possibilidades é que
conferem o caráter híbrido à sociedade limitada.

2.2. Será sociedade de pessoas quando houver animus daqueles


sócios se associarem entre si, ante as suas características
pessoais. Ou seja, permeia entre eles a vontade de constituírem
uma sociedade com tais pessoas, e não diversa – affectio
societatis.

2.3. De outra banda, será sociedade de capital quando


inexistir affectio societatis. Noutros termos, estar-se-á
diante de uma sociedade de capital na hipótese de a
constituição desta independer das características pessoais de
cada sócio e da vontade recíproca de se associarem. Aqui, o que
interessa é o capital empregado na pessoa jurídica, e não as
pessoas que a integram.

2.4. No caso em testilha, a empresa requerida é típica sociedade


de pessoas, com intuitu personae, haja vista que o requerente e
o requerido uniram-se em razão da cumplicidade, lealdade,
respeito, confiança, etc. que um detinha com o outro, sendo
estes os motivos preponderantes para a constituição daquela.

2.5. No entanto, com o passar dos anos, em virtude de discórdias


entre os sócios (intransigibilidade quantos aos objetivos da
sociedade), a affectio societatis foi quebrada, havendo a perda
da mútua confiança, da cumplicidade e respeito, restando
inconteste, atualmente, atualmente, a ausência do intuitu
personae ouanimus de ser sócio para com o outro. Com efeito, a
ausência dessas características vem inviabilizando a
operacionalização do empreendimento que fazem parte.

2.6. Por esse motivo, vem o Requerente buscar o seu direito de


retirada da sociedade, o qual é possível a qualquer tempo em se
tratando de sociedade por tempo indeterminado, conforme prevê o
art. 1.029 do Código Civil:

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Art. 1029 – Além dos casos previstos na lei ou no
contrato, qualquer sócio pode retirar-se da sociedade; se de
prazo indeterminado, mediante notificação aos demais sócios,
com antecedência mínima de sessenta dias; se de prazo
determinado, provando judicialmente justa causa. (...)

2.7. Tal dispositivo infraconstitucional decorre da previsão na


Carta Magna, a qual corrobora a pretensão do Requerente;

Art. 5º, XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a


permanecer associado;

2.8. Nessa senda também é o entendimento emanado do TJRS:

APELAÇÃO CÍVEL. DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE. QUEBRA DA AFFECTIO


SOCIETATIS. SÓCIO RETIRANTE. Não há se falar em ilegitimidade
passiva dos requeridos, pois a ação de dissolução parcial da
sociedade não só pode como deve ser promovida pelo sócio
retirante contra a sociedade ou sócios remanescentes em
litisconsórcio necessário. Em relação à impossibilidade
jurídica do pedido, nada impede que o sócio possa retirar-se da
sociedade na qual não tem mais interesse na união comercial.
Não há, pois, se falar em carência de ação Não há falar em
suspensão do feito, pois a parte com quem a autora está em
litígio não é parte no presente feito, mas poderá, querendo,
figurar na qualidade de terceiro interessado. Uma vez
demonstrada que não há mais interesse de um sócio em participar
da sociedade, quebrada aaffectio societatis, o caminho é a
retirada do sócio dissidente, ou a extinção total da empresa,
não havendo necessidade de ser apurada culpa de eventual
desentendimento que ensejou na ruptura dos interesses que os
uniam. Ação que, por sua natureza, em um segunda fase, deve
oportunizar a apuração dos haveres a ser levada a efeito por
perito contábil adotando-se o procedimento previsto nos
artigos 655 a 674 do Código Processual civil de 1939. A data de
saída da autora da empresa ré é a que deverá ser tomada como
base para apuração de haveres, com observância das regras
comerciais, procedendo-se ao levantamento do ativo e do
passivo, dos débitos/créditos, tudo com base no Balanço da

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sociedade. Verba honorária fixada em 15% sobre o valor da
condenação, na forma do art. 20, § 3º, do CPC. AGRAVOS RETIDOS
DESPROVIDOS E APELO DOS REQUERIDOS PROVIDO EM PARTE E RECURSO
ADESIVO DA AUTORA PROVIDO EM PARTE. UNÂNIME. (Apelação Cível nº
70026727172, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Romeu Marques Ribeiro Filho, julgado em 21/01/2009).

2.9. Dessa forma, havendo vontade de um dos sócios de retirar-se


da sociedade, imperioso o seu afastamento, com a dissolução
parcial da sociedade.

III. DO INTERESSE DE AGIR – DESNECESSIDADE DE NOTIFICAÇÃO


PRÉVIA

3.1. O Superior Tribunal de Justiça já sedimentou


entendimento no sentido de que a ausência de notificação prévia
aos sócios remanescentes não obsta a pretensão de dissolução
parcial da sociedade em relação à sua participação. Isso porque
“o ajuizamento da respectiva ação judicial faz presumir o
conflito de interesses a justificar a entrega da prestação
jurisdicional da pleiteada.”

3.2. Com isso, infere-se que a disposição contida no art.


1.029 que prevê que a notificação prévia de sessenta dias é
meramente uma faculdade conferida ao sócio retirante, o qual
poderá optar em ingressar diretamente com medida judicial, haja
vista que a citação possui o condão de suprir a notificação.

“Dissolução parcial de sociedade por quotas. Notificação


premonitória. Honorários de advogado. Precedentes da Corte.
1. Na ação de dissolução parcial de sociedade com a devida
apuração de haveres é desnessária a notificação prévia e os
honorários devem seguir o que estabelece o art. 20, § 4º, do
Código de Processo civil. 2. Recurso especial conhecido e
provido, em parte. (REsp 687.679/PR, Rel. Ministro Carlos
Alberto Menezes Direito, Terceira Turma, julgado em 14/11/2006,
DJ 26/02/2007, p. 584)” (grifo nosso)

3.3. Ainda, esse também é o entendimento predominante no


TJRS:

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“Apelação Cível. Ação de dissolução parcial de sociedade
comercial. Retirada de sócio com apuração de haveres em balanço
de determinação. Possibilidade jurídica do pedido e viabilidade
fática da pretensão. Caso concreto. Matéria de fato.
Inviabilidade da permanência da autora no quadro social.
Inoponibilidade da cláusula de inalienabilidade das suas cotas,
em face da própria sociedade e de seus sócios, para obstar a
sua retirada do quadro social. Irrelevância da ausência de
prévia notificação, suprida pela citação, em face da pretensão
judicialmente resistida. Desnecessidade de dilação probatória
com coleta de prova oral, em face de os fatos serem
incontroversos. Impertinência de perícia contábil, porquanto
não há atos a serem anulados ou haveres a serem apurados nesta
fase processual. Justeza do prazo de noventa dias para
liquidação das quotas, na forma do art. 1.031, § 2º, do CC, não
tendo a empresa ré justificado comprovadamente o seu estatuto
social algo em contrário. Recurso adesivo. Cabível o seu
conhecimento, na medida em que a subordinação ao recurso
principal não é temática, segundo reiterada orientação
jurisprudencial do STJ. Pedido de majoração da verba honorária
do advogado da autora. Descabimento no caso concreto, sendo o
valor arbitrado condizente e proporcional ao labor
desenvolvido. Recursos não providos. (Apelação Cível nº
70042461301, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Ney Wiedemann Neto, julgado em 30/06/2011)

APELAÇÃO CÍVEL. DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE. QUEBRA DA


AFFECTIO SOCIETATIS.IMPOSIÇÃO AO SÓCIO RETIRANTE DE
PERMANÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE. NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL DOS
DEMAIS SÓCIOS. REQUISITO QUE RESTA SUPRIDO PELA
CITAÇÃO.PRECEDENTE DESTA CORTE. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. DATA-
BASE PARA APURAÇÃO DOS HAVERES. AJUIZAMENTO DA AÇÃO.
PRECEDEDENTES DO STJ E DESTE TRIBUNAL. APELO PROVIDO. (Apelação
cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Antônio Corrêa
Palmeiro da Fontoura, julgado em 26/03/2009)

3.4. No caso em apreço, o Requerente optou por ajuizar


diretamente uma ação, porquanto imprescindível a realização de
levantamento contábil, confrontando-se o ativo e o passivo da

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empresa, para apuração de haveres que o Requerente faz jus
diante da liquidação. Não se pode olvidar que uma apuração sob
o fito do Poder Judiciário traz maior segurança às partes
conflitantes, o que, por si só, já justificaria a pretensão do
Requerente.
3.5. Destarte, não havendo óbices à dissolução parcial da
sociedade, com a conseqüente liquidação parcial da sociedade,
medida inarredável é a procedência da presente ação.

III. DO PEDIDO

ANTE O EXPOSTO, requer:

LIMINARMENTE, antes da citação das Requeridas,


nos termos do art. 273, do CPC:

A) sejam antecipados os efeitos da tutela, de


modo a declarar a data do ajuizamento desta demanda como sendo
a data da saída (retirada) do Requerente do quadro societário
da segunda Requerida.

Depois de analisado o pedido formulado em sede de


liminar, requer:

B) a citação das Requeridas, para que, querendo,


apresentem defesa, no prazo legal, sendo advertidas dos efeitos
da revelia e ausência de impugnação específica;

C) a total procedência da demanda, no sentido de:

C.1) declarar resolvida a sociedade em relação ao


Requerente, com a dissolução parcial da Requerida Seven
Serviços Financeiros Ltda. E liquidação das quotas pertencentes
ao Requerente, nos termos do art. 1.031 do CC/02;
C.3) a ratificação da antecipação dos efeitos da
tutela;
D) a produção de todos os meios de provas em
direito admitido, necessários à busca da verdade dos fatos, com
destaque a prova documental, testemunhal e pericial;

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E) a condenação dos Requeridos ao pagamento das
custas processuais e honorários advocatícios, estes a serem
fixados por este juízo, levando em consideração o trabalho
desenvolvido no processo e a digna remuneração do profissional
da advocacia.

Atribui-se a causa o valor de alçada.

Nestes termos, pede-se e espera-se o deferimento.


Cachoeira do Sul, 09 de agosto de 2012.

Fernando Borghese – OAB/RS 39.504

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