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BASE DE QUESTÕES

Novas obras literárias


Fuvest - Unicamp
Rodrigo Luis

L C C H C NM T
LINGUAGENS CIÊNCIAS CIÊNCIAS DA MATEMÁTICA
E CÓDIGOS HUMANAS NATUREZA
FUVEST & UNICAMP

Prescrição: Em vista da presença de novas leituras obrigatórias nos principais vestibulares de São
Paulo, as questões a seguir, todas inéditas, foram elaboradas pela equipe Hexag, pensando nos aspectos
principais das leituras e nas possíveis questões interdisciplinares. Espera-se que o material seja uma
ferramenta útil e necessária ao aluno que deseja preparar-se melhor para enfrentar a Literatura no
vestibular, utilizando-a como instrumento de análise crítica do mundo.

Fuvest: Base de questões das novas obras - 2020


Quincas Borba demonstrações não chegariam a dar-se, pelo
motivo real de que o homem só comemora
e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e
1. A leitura das obras Machadianas, muitas ve-
pelo motivo racional de que nenhuma pes-
zes, pode ser feita a partir da análise das
soa canoniza uma ação que virtualmente a
personagens femininas, sob o viés, em espe-
destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao
cial, da dubiedade. Pensando nisso, teça um
vencedor, as batatas.”
comentário sobre as seguintes questões:
ASSIS, Machado. Quincas Borba.
a) A relação de Sofia com Carlos Maria.
b) A relação de Sofia com Rubião. O trecho, extraído do sexto capítulo, revela
um diálogo de Quincas Borba com Rubião.
2. Com base na obra Quincas Borba, de Machado O principal objeto desse diálogo, em face
de Assis, assinale a alternativa correta. da relação que as personagens possuem no
a) Ao declarar seu amor por Sofia na festa da momento em que ele acontece, é:
casa de Palha, Rubião vive uma crise moral, a) ensinar o herdeiro universal, Rubião, a lógi-
oscilando entre a culpa e a inocência. ca por trás das plantações de batata.
b) Na tentativa de justificar sua atitude, Rubião b) propagar de forma clara e objetiva a filosofia
atribui a Palha a responsabilidade da decla- do Humanitismo.
ração de amor, ao mesmo tempo que procura c) estabelecer um primeiro contato com Ru-
suavizar a culpa da mulher. bião, já que ele é um capitalista de sucesso.
c) Quando Sofia relata a Palha a declaração de d) assegurar que Rubião é um homem que com-
amor que Rubião lhe fez, o marido reage vio- preende a importância da guerra.
lentamente e jura vingança. e) comover o interlocutor para que, por meio
d) Apesar do jogo de sedução, Sofia não comete
da emoção, ele propague o Humanitismo.
adultério com Quincas Borba, mas o faz com
Carlos Maria, por quem se apaixona perdida-
mente. 4. A respeito do Humanitismo, teça um co-
e) O narrador, no primeiro capítulo da obra, mentário relacionando a tese defendida por
afirma a indiferença da natureza aos risos e Quincas Borba ao posicionamento crítico de
às lágrimas humanos. Machado de Assis.

3. Leia o excerto a seguir: 5. Rubião, logo nos primeiros capítulos, re-


monta sua trajetória como:
“Supõe tu um campo de batatas e duas tribos a) alguém que passou de carpinteiro a empre-
famintas. As batatas apenas chegam para sário, graças à loteria.
alimentar uma das tribos, que assim adquire b) alguém que passou de professor a erudito,
forças para transpor a montanha e ir à ou- graças ao trabalho duro.
tra vertente, onde há batatas em abundân- c) alguém que passou de professor a capitalis-
cia; mas, se as duas tribos dividem em paz ta, graças a uma herança.
as batatas do campo, não chegam a nutrir- d) alguém que passou de empresário a capita-
-se suficientemente e morrem de inanição. lista, graças a sorte.
A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra e) alguém que passou de enfermeiro a comer-
é a conservação. Uma das tribos extermina ciante, graças aos investimentos.
a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria
da vitória, os hinos, aclamações, recompen-
sas públicas e todos os demais efeitos das
ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais

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Gregório de Matos a)
b)
ao naturalismo presente na obra.
aos neologismos encontrados na narrativa.
6. A poesia lírico-amorosa de Gregório de Ma- c) ao elemento fantástico da obra.
tos apresenta uma dualidade barroca que d) ao caráter psicológico do texto.
pode ser dada entre os termos opostos: e) à problematização do indígena na literatura
a) espírito e abstracionismo. nacional.
b) ascetismo e sensualismo.
c) matéria e erotismo. 12. Angústia, de Graciliano Ramos, traz um tipo
d) diáfano e sacro. de narrador que se relaciona às influências
e) profano e erótico. da psicanálise freudiana. Pensando no enre-
do da narrativa, faça um comentário justi-
7. De que forma o amor carnal, presente na po- ficando e exemplificando a afirmação ante-
esia erótica de Gregório de Matos, pode ser rior.
lido como uma fuga da dualidade típica do
barroco? 13. Leia o parágrafo a seguir.

Faz-se presente na literatura de Graciliano


8. Gregório de Matos é escritor que se encai-
Ramos um jogo de forças: entre o indivíduo
xa dentro de um período literário conhecido
e o meio social, entre o indivíduo e o meio
como Barroco. Sabendo disso, comente de
físico, entre o indivíduo e ele mesmo.
que maneira os temas tratados por Gregório
de Matos são exemplos de um poeta inserido
Pensando no exposto, relacione o jogo de
dentro da tradição barroca.
forças às seguintes personagens da obra An-
gústia, de Graciliano Ramos.
9. Gregório de Matos apresenta uma vertente a) Luis da Silva.
poética satírica, utilizada para tratar critica- b) Julião Tavares.
mente da sociedade, revelando suas contra- c) Marina.
dições a partir do deboche. Em relação à obra
Quincas Borba, de Machado de Assis, um re- 14. Os ratos (1935) é um romance de Dyonélio
curso semelhante utilizado pelo autor para Machado, que trata da modernidade em seu
expor as contradições sociais é: âmbito urbano. O título faz alusão a um ani-
a) a digressão, que permite ao autor zombar do mal que representa, para muitos, uma pra-
passado. ga urbana. Em Angústia, o narrador-perso-
b) a ironia, que busca dizer sempre o contrário
nagem comenta diversas vezes sobre o fato
do que está sendo colocado.
de não querer ser um rato, mas um homem.
c) a metáfora, que permite sutilmente tecer
Pensando nas transformações sociais que
críticas à sociedade.
ocorreram durante o modernismo, cite de
d) o eufemismo, que trata de maneira exagera-
que forma a simbologia do rato atua, a par-
da os fatos sociais.
tir do comentário da personagem, dentro do
e) a hipérbole, que exprime de forma amena o
livro de Graciliano, estudado como uma obra
deboche proposto.
da segunda geração modernista.

10. Leia o trecho a seguir:


15. Leia o excerto a seguir com atenção.
Que falta nesta cidade?................Verdade
“Eu é que me podia considerar um sujeito
Que mais por sua desonra?...........Honra
feliz. Repetia isso maquinalmente, enquanto
Falta mais que se lhe ponha..........Vergonha.
apalpava as caixinhas de veludo. Soltei-as
MATOS G. Poemas Escolhidos.
com raiva, ergui-me, esfreguei as mãos. O
Relacione o trecho lido, o apelido “Boca do sentido das palavras que me dançavam no
Inferno” e o exílio sofrido pelo autor. Em espírito tornou-se claro. Perfeitamente, um
seguida, teça um comentário pensando no sujeito feliz, que é que me faltava?”
contexto em que se insere a sua poesia. RAMOS. G. Angústia.

O trecho a seguir exemplifica uma das linhas


Angústia trabalhadas nos romances de Graciliano,
sendo ela:
a) a linha sociopolítica.
11. A obra Angústia, de Graciliano Ramos, pode b) a linha irônica.
ser lida como uma obra pertencente à segun- c) a linha psicológica.
da geração modernista, em especial devido d) a linha historiográfica.
e) a linha econômica.

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Unicamp: Base de questões das novas obras - 2020
Sobrevivendo no inferno 19. Leia os trechos a seguir:

Texto 1
16. Leia o excerto a seguir com atenção.
Drauzio Varella, em seu blog
[...] Por isso, matar ou deixar viver consti-
tuem os limites da soberania, seus atributos Na manhã do dia 2 de outubro de 1992, dei
fundamentais. Ser soberano é exercer con- uma aula sobre aids para um grupo de tra-
trole sobre a mortalidade e definir a vida vestis presas na Casa de Detenção – o Caran-
como a implantação e manifestação de po- diru.
der. No meio da explicação, entrou o diretor do
– MBEMBE. Achille. Necropolítica: biopoder, presídio, doutor Ismael Pedrosa, que me
soberania, estado de exceção, política de
morte. São Paulo: n-1 edições, 2018. convidou para um café na sala dele. Foi o
que fiz ao redor do meio-dia, quando a aula
O excerto acima foi extraído do livro Necro- terminou.
política: biopoder, soberania, estado de ex- Na conversa, ele tirou do armário uma tere-
ceção, política de morte, de Achille Mbem- sa, corda improvisada com tiras de cobertor
be. A partir do que foi apresentado, de que enroladas em fios de arame, descoberta na
maneira os eventos narrados em Diário de cela de um ladrão de banco que pretendia
um detento, faixa do disco Sobrevivendo no galgar a muralha, em busca da liberdade.
Inferno, constituem uma espécie de necro- Quando dei por conta, conversávamos havia
política? Teça um comentário a respeito do mais de uma hora. Levantei para me despe-
assunto. dir:
– Já é tarde, estou atrasado e empatando o
17. Observe os versos a seguir: senhor, aqui.
– Que nada, respondeu ele. É sexta-feira, dia
São Paulo, dia 1º de outubro de 1992, 8h da de faxina nas celas para receber as visitas
manhã no fim de semana. É o dia mais tranquilo:
Aqui estou, mais um dia ninguém mata, ninguém morre.
Sob o olhar sanguinário do vigia No fim da tarde, só acreditei que a rebelião
Você não sabe como é caminhar com a cabeça de que falavam era mesmo na Casa de Deten-
na mira de uma HK ção, quando liguei a televisão e reconheci o
Pavilhão Nove no meio da fumaça.
O trecho lido, embora faça parte de uma Foram mortos 111 detentos, o maior massa-
canção, apresenta estruturas típicas de um cre já ocorrido numa prisão brasileira.
outro gênero da escrita: a carta. Essas estru- https://pragmatismopolitico.com.br/2019/04/
drauzio-varella-quem-aplaudiu-massacre-do-
turas são:
carandiru-hoje-cobra-fim-da-violencia.html
a) o cabeçalho e o cenário violento.
b) a interlocução e o cabeçalho. Texto 2
c) o discurso em primeira pessoa e o uso de
siglas. Diário de um detento
d) a presença de um vigia e a interlocução.
Lamentos no corredor, na cela, no pátio
18. Ainda sobre os primeiros versos de Diário Ao redor do campo, em todos os cantos
de um detento, pode-se dizer que o uso de Mas eu conheço o sistema, meu irmão, hã
artifícios típicos do gênero carta confere ao Aqui não tem santo
texto uma maior credibilidade ao construir RACIONAIS MC’S. Sobrevivendo no inferno.
um caráter: São Paulo. Companhia das letras, 2019.
a) testemunhal.
Diário de um detento é uma composição que
b) descritivo.
narra o massacre do carandiru pelos olhos de
c) narrativo.
um dos presos. O texto 1 traz a narrativa de
d) épico.
um médico que esteve presente no presídio
pouco antes dos acontecimentos do dia 02
de outubro. Feita a leitura dos dois trechos,
relacione os trechos em negrito e teça um
comentário a respeito das visões distintas
apresentadas sobre a Casa de Detenção.

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20. Sobrevivendo no inferno é um álbum que foi é nazista. A toda hora e em toda a parte,
estruturado em um formato que remete a: cumprimentamos um pequenino Stalin ou
a) uma carta testemunhal. um pequenino Hitler. Instala-se o Brasil do
b) uma confissão. ódio, ou, melhor dizendo, o antiBrasil. Direi
c) um culto religioso. mesmo que o brasileiro está em processo de
d) uma documento de luto. desumanização. Imaginem cada um de nós
transformado, de repente, na antipessoa.
Conheço vários que perderam qualquer se-
melhança com o ser humano.
A Cabra Vadia Nelson Rodrigues declarou-se, muitas vezes,
um reacionário. No entanto, ao associarmos
Leia o trecho a seguir para responder às o sentido de reacionário aos regimes totali-
questões. tários, dentro da ótica de Nelson, podemos
dizer que na verdade o autor enxergava-se
Mas preciso pluralizar. Não há um medo só. como um:
a) conservador.
São vários medos, alguns pueris, idiotas. O
b) libertário.
medo de ser reacionário ou de parecer rea-
c) stalinista.
cionário. Por medo das esquerdas, grã-finas
d) nazista.
e milionários fazem poses socialistas. Hoje, o
sujeito prefere que lhe xinguem a mãe e não
o chamem de reacionário. É o medo que faz 24. Nelson Rodrigues declarava-se contra qual-
o dr. Alceu renegar os 2 mil anos da Igreja e quer regime totalitário que ferisse a liber-
pôr nas nuvens a “Grande Revolução” russa. dade do indivíduo. Contudo, o autor foi,
Cuba é uma Paquetá. Pois essa Paquetá dá biograficamente, bastante conivente com o
ordens a milhares de jovens brasileiros. E, período da ditadura militar, apoiando-a pu-
de repente, somos ocupados por vietcongs, blicamente. Essa contradição ideológica per-
cubanos, chineses. Ninguém acusa os jovens mite colocar Nelson Rodrigues de fato sob a
e ninguém os julga, por medo. Ninguém quer alcunha que ele mesmo se deu: a de reacio-
fazer a “Revolução Brasileira”. Não se trata nário, conservador. Entretanto, seus textos
de Brasil. Numa das passeatas, propunha-se acabavam por ferir, muitas vezes, também, a
que se fizesse do Brasil o Vietnã. Por que não classe conservadora, pelo fato de:
fazer do Brasil o próprio Brasil? Ah, o Brasil a) apresentarem o moralismo coerente das eli-
não é uma pátria, não é uma nação, não é tes.
b) tecerem elogio honroso à religiosidade.
um povo, mas uma paisagem. Há também os
c) desvelarem o endividamento externo do
que o negam até como valor plástico.
país.
RODRIGUES, N. O ex-covarde. In.: A cabra vadia.
d) exporem as hipocrisias imorais de classes so-
ciais elevadas.
21. De que maneira a crônica O ex-covarde, que
abre o conjunto do livro, relaciona-se com 25. Leia o texto a seguir.
as demais? Isto é, de que forma ela acentua
e/ou indica os temas que serão tratados no Fiz “entrevistas imaginárias” com jogado-
decorrer da obra? Teça um comentário que res, dirigentes de futebol, literatos. Ainda
responda às questões sugeridas. anteontem, o Antônio Callado foi meu con-
vidado no terreno baldio. Mas eu sentia, de
maneira obscura, quase dolorosa, que faltava
22. Pode-se dizer, com base no texto, que Nelson
alguém no capinzal. “Mas quem?” — eis o
Rodrigues tem, sobre a juventude, uma opi-
que me perguntava. — “Quem?” E, súbito,
nião:
um nome ilumina minhas trevas interiores:
a) otimista.
— “D. Hélder!”. De todos os vivos ou mor-
b) esperançosa.
tos do Brasil, era ele o mais urgente, o mais
c) negativa.
premente. E, de mais a mais, uma batina é
d) instável.
sempre paisagística.
RODRIGUES, N. Terreno Baldio. In. A Cabra Vadia.
23. O trecho a seguir foi retirado da Crônica “O
Brasil Nazi-stalinista”, leia com atenção:

Imaginem que falo pensando no Brasil. Veja-


mos os brasileiros. Aqui, o radical de esquer-
da não percebe, ou finge que não percebe,
que é um stalinista. O radical, do outro lado,

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A partir do excerto e de sua relação com a d) mal de chagas.
obra, responda:
a) no que consistem as “entrevistas 30. Leia o trecho a seguir.
imaginárias”?
b) qual a importância da Cabra Vadia para rati- – Não estou de maré, mas explicarei: é pe-
ficação dessas entrevistas? quena. Materializemos as comparações, para
as tornarmos bem claras. Suponhamos, por
exemplo, que a nossa honestidade é um ca-
saco preto e que a das senhoras é um vestido
A Falência branco. Tudo é roupa, têm ambos o mesmo
destino, mas que aspectos e que responsabi-
Leia o trecho a seguir para responder às pró- lidades diferentes!
ximas 2 questões. Disponível em: < http://dominiopublico.gov.br/download/
texto/bi000169.pdf>.Acesso em 03 nov. 2019.

– Então não leio. Sei que está cheio de in- O trecho lido representa a fala de um perso-
justiças e de mentiras perversas. Os senho- nagem, em resposta a certos questionamen-
res romancistas não perdoam às mulheres; tos de Catarina, irmã do Capitão Rino. Com
fazem-nas responsáveis por tudo – como se base nisso, explique, em relação às discus-
não pagássemos caro a felicidade que fru- sões que são apresentadas na cena em que o
ímos! Nesses livros tenho sempre medo do diálogo referenciado aparece:
fim; revolto-me contra os castigos que eles a) a metáfora proposta pelo Doutor.
infligem às nossas culpas, e desespero-me b) a importância da personagem Catarina.
por não poder gritar-lhes: hipócritas! hipó-
critas! Leve o seu livro; não me torne a tra-
zer desses romances. Basta-me o nosso, para
eu ter medo do fim.
Raio-X - Análise Expositiva
Disponível em: < http://dominiopublico.gov.br/download/ 1. a) Sofia é uma típica personagem femi-
texto/bi000169.pdf>.Acesso em 03 nov. 2019.
nina machadiana. A partir de uma dis-
simulação que Machado caracteriza como
feminina, Sofia esconde de Palha, seu
26. Situe a fala de Camila na história, utilizan-
marido, a atração por Carlos Maria – per-
do-a para trazer um determinado aspecto da
sonagem de posses. Para não cometer o
relação da mulher com o Doutor Gervásio.
pecado da traição, mas também aproxi-
mar-se da fortuna de Carlos, Sofia arqui-
27. Explique a frase “Os senhores romancistas teta para casá-lo com sua prima.
não perdoam às mulheres”. b) Sofia, com permissão do marido, deixa-se
amar por Rubião. Encantando-o e sedu-
28. A obra “A Falência”, de Júlia Lopes de Al- zindo-o de modo que o casal Palha pu-
meida, retrata o Brasil de uma maneira posi- desse usufruir do dinheiro que o ex-pro-
tiva ou negativa? Justifique a sua resposta. fessor havia herdado de Quincas Borba.
Nas obras machadiana, o “amor” sempre
29. Leia com atenção: se desenvolve em um lógica de interesse.
2. [A] Rubião sente-se atraído por Sofia,
O primeiro caixeiro, seu Joaquim, um ho- mas, compreendendo que ela é uma mu-
mem moreno, picado das bexigas, de olhos lher casada, sente-se, também, culpado,
fundos e maçãs do rosto salientes, gesticu- vivendo, portanto, um dilema moral en-
lava em mangas de camisa, apressando os tre a inocência de seu sentimento e a cul-
carregadores esbaforidos. pa de sentí-lo.
Disponível em: < http://dominiopublico.gov.br/download/ 3. [B] Quincas Borba é apresentado como
texto/bi000169.pdf>.Acesso em 03 nov. 2019. um filósofo excêntrico e louco, no trecho
em questão, sua preocupação está antes
O termo destacado é o nome popular de uma na propagação do Humanitismo de forma
doença bastante comum, famosa por deixar compreensível, clara e objetiva, do que
marcas no rosto, e que só foi erradicada do qualquer tipo de relação com Rubião.
país na década de 80. A partir da leitura do 4. Machado de Assis utiliza-se do Humani-
texto, pode-se inferir que seu Joaquim é tismo para fazer uma crítica às teses po-
uma personagem que teve/tem: sitivistas do período, como o positivismo
a) dengue. e o humanismo. Trata-se de uma satíra ao
b) varíola. cientificismo exagerado e dado por uma
c) caxumba. racionalidade colonizadora, isto é, em

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favor do império português. corrobora para o desenvolvimento da si-
5. [C] Questão que verifica se o aluno rea- tuação clímax: o crime.
lizou a leitura da obra compreendendo 12.Angústia trabalha com um narrador em
seu enredo. Antes de receber uma he- primeira pessoa, de modo que a narra-
rança de Quincas Borba, Rubião atuava tiva adquire um tom confessional, mas
como professor. Há, inclusive, no início também ambíguo, já que passamos a ler
do romance, um momento de reflexão da a história com base no que quer nos mos-
personagem em que a colocação de que trar determinada personagem. A narração
passara de professor a capitalista é feita em primeira pessoa é, também, princípio
pelo próprio Rubião. para explorar o psicológico enquanto te-
6. [B] Entre espírito e matéria, a lógica oria freudiana, pautada na psicanálise,
barroca impera na obra de Gregório de no lembrar e no esquecer. O romance em
Matos, de modo que sua poesia lírica se primeira pessoa é, portanto, pouco con-
desenvolve entre o carnal, o sensual, e as fiável, mas, ao mesmo tempo, necessário
reflexões ascéticas sobre a vida. para construção de uma narrativa sobre e
7. Em Gregório de Matos, não só como opo- para dentro do indivíduo.
sição pecadora, mas também como liber- 13.
tação o amor carnal pode ser entedido. a) Luis da Silva é uma personagem que não
Vale ressaltar a dualidade Barroca que se conforma com a realidade que lhe é
se manifesta no período, de modo que a dada. Herdeiro de latifundiários senho-
fuga do mundo sacro-profano poderia ser res de engenho, ele não consegue com-
dada como um ápice de corporeidade, isto preender a decadência de sua posição,
é, por meio das relações carnais, associa- haja vista que os engenhos passam a ser
das à poesia erótica-satírica do escritor. substituídos pelas usinas, fruto da indus-
8. Gregório de Matos trabalha temas religio- trialização. Há uma opressão social que
sos ao mesmo tempo em que trabalha, em aumenta sua angústia na figura de Julião
oposição ao ideal católico, o pecado e a Tavares, filho de homens ricos que soube-
vida desregrada como materiais poéticos. ram lidar com a chegada da industriali-
Essa crucial oposição de valores permite zação, migrando para uma nova classe so-
aproximar o poeta dentro da escola bar- cial: o empresário. Tudo isso se relaciona
roca, que situava o homem entre o teo- ao meio em que vivem as personagens, o
centrismo e o antropocentrismo, sobretu- sertão, cuja falta de políticas sociais gera
do como uma resposta às manifestações uma ordem social particular e específica.
político-religiosas do período (reforma x b) Julião Tavares é visto, pelo olhar de Luis
contrarreforma). da Silva, como uma cobra. É assim que
9. [B] Questão que trabalha duas das obras Luis da Silva apresenta personagens cujo
solicitadas pelo vestibular. A questão as- meio social em que elas se constroem as
socia o sarcasmo de Gregório de Matos à moldaram como empresárias. Julião Ta-
ironia machadiana. Exigindo do aluno a vares representa o filho de latifundiário
compreensão sobre recursos literários co- que, após passar um tempo estudando
muns a cada um desses escritores. fora do sertão, retorna como um rico ne-
10.Gregório de Matos foi conhecido como “o gociante, para quem os olhares se voltam.
boca de inferno”. Seu apelido deve-se, em Uma figura que incomoda aqueles ainda
especial, à sua poesia satírica, sempre re- presos a uma ordem social antiga, a dita
cheada por palavras de baixo calão. Vale elite do atraso.
ressaltar que essa poesia satírica também c) Marina é uma mulher estereotipada
foi responsável por manifestar as expres- pela literatura. Uma mulher do sertão
sões populares acerca do governo baiano que sabe que o casamento é a única for-
durante a vida do autor; em resumo, as ma de ascenção social possível. Assim,
constantes críticas à organização social ela é movida por interesse financeiro, de
da Bahia no século XVII fizeram com que acordo com a descrição de Luis da Silva.
os governantes exilassem Gregório de Marina acaba sofrendo, em sua posição
Matos como uma forma de censurar o po- de mulher, as opressões não só do meio
eta. físico em que se insere, mas também pe-
11.[D] Apenas a alternativa [D] traz uma las do seu papel social, como no episódio
compreensão que associa corretamente a do aborto.
obra referenciada à geração modernista 14.Os ratos mencionados por Luis da Silva
a que ela pertence. Aspirando um exis- durante a obra podem ser entendidos
tencialismo sartreano, Angústia constrói- como uma simbologia popular, em que o
-se como um romance psicológico, em rato é um símbolo de fraqueza e de re-
que tudo que acontece a protagonista pulsa por parte da sociedade. No entanto,

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levando em consideração o contexto mo- importa com a população carcerária, de
dernista e de industrialização, podemos modo a, inclusive, como fica exposto no
entender que a recusa de Luis da Silva relato de Drauzio, maquiarem os reais
em se tornar um rato pode ter relação acontecimentos do hostil ambiente que é
com a proposta de Dyonélio, haja vista o a cadeia para o público geral.
fato de o rato, dentro da obra urbana, ser 20.[C] A obra é organizada de forma simi-
um animal símbolo da modernidade, que lar a um culto religioso, tal qual atesta
aparece em grande número em função Acauam Oliveira, autor do prefácio da
da aglomeração urbana: a fundação das edição em livro: […] cântico de louvor e
cidades como conhecemos hoje. Assim, o proteção direcionado ao santo guerreiro
rato acaba sendo um símbolo da não indi- (“Jorge de Capadócia”); leitura do evan-
vidualização do indíviduo moderno, algo gelho marginal (“Gênesis”); entrada em
que, dada a leitura de Angústia, também cena do pregador do proceder, explican-
pode ser entendido como uma das preo- do (ou confundindo, a depender da ne-
cupações/medos/angústia de Luis da Sil- cessidade) os sentidos da palavra divina
va. (“Capítulo 4, versículo 3”); o momento
15.[C] O trecho em primeira pessoa, as inda- dos testemunhos das almas que se per-
gações de cunho emocional e existencial deram para o diabo, com resultados trá-
e a reflexão do sujeito sobre si são traços gicos (“Tô ouvindo alguém me chamar”
que aparecem no excerto e mostram que e “Rapaz comum”); intermezzo musical
o romance segue uma linha psicológica para velar aquelas mortes, interrompen-
majoritariamente, em relação a outros do por tiros que fazem recomeçar o ciclo;
traços também trabalhados na obra e na a pregação ou mensagem central (massa-
segunda geração modernista. cre do Carandiru) que liga o destino da-
16.Sobrevivendo no inferno é, sem dúvida, queles sujeitos ao de toda a comunidade
uma obra que aborda a vivência negra na (“Diário de um detento”), chave de com-
sociedade, bem como a recepção crítica, preensão do destino de todos e descrição
por parte da comunidade negra, sobre as do próprio inferno; exemplos do modo de
políticas públicas que tangem essa popu- atuação do diabo no interior da comuni-
lação. Necropolítica é um termo utilizado dade (“Periferia é periferia”); exemplos
para se referir a uma política que trata a do modo de atuação do diabo fora da
soberania como a manipulação do direito comunidade (“Qual mentira vou acredi-
de existir. Diário de um detento, ao tratar tar”). Ao final, um momento de autorre-
do Massacre do Carandiru, expõe uma ne- flexão sobre os limites da própria palavra
cropolítica que se sustenta com base em enunciada (“Mágico de Oz” e “Fórmula
raça e classe, isto é, que atua majoritaria- mágica da paz”) e os agradecimentos a
mente contra negros e pobres. todos os presentes, verdadeiros portado-
17.[B] São estruturas do gênero carta a in- res da centelha divina (“Salve”).
terlocução com o leitor (Você) e o cabeça- 21.O ex-covarde é a crônica de abertura de A
lho que situa o momento da escrita. Cabra Vadia. Nela, Nelson defende que as
18.[A] Tem-se no uso da estrutura epistolar, pessoas têm medo de se declararem rea-
uma forma de conferir credibilidade ao cionárias. O ex-covarde, portanto, é aque-
texto, na medida em que o relato deixa le que, segundo o autor, perdeu o medo de
de ser dado por um terceiro e passa a ser ir de encontro ao que a juventude propõe
visto como um relato testemunhal de al- como revolução: “Hoje, o sujeito prefere
guém que viveu o massacre narrado. que lhe xinguem a mãe e não o chamem
19.No texto de Drauzio Varella, Ismael Pe- de reacionário”. Nelson se coloca como al-
drosa, diretor da fundação Carandiru, guém que perdeu esse medo e, portanto,
atesta que tudo vai bem na prisão, nin- tratará de falar/expor o que, segundo ele,
guém mata, ninguém morre. Contudo, são as verdades que censuram a liberdade
o mesmo dia trouxe o massacre de 111 do indivíduo e as hipocrisias dos que se
presos. O trecho da música destaca que a dizem revolucionários.
perversidade do sistema, ao expor “aqui 22.[C] Nelson Rodrigues coloca a juventu-
não tem santo”, frente ao massacre; fica de no patamar de falsos revolucionários,
claro, então, que Mano Brown não está fa- tecendo sobre ela comentários negativos
lando dos encarcerados, mas também, e, durante toda a obra. Para ele, os jovens
quiçá sobretudo, dos que encarceram. Da estavam reproduzindo os mesmos ideais
relação das falas está colocado um regime dos regimes totalitários.
de negligência estrutural (que passa às 23.[B] Ao se colocar como um reacionário,
esferas particulares) por parte do Esta- Nelson Rodrigues estava se dispondo
do em relação aos detentos, que pouco se contra o que os jovens diziam, o que era,

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para muitos, revolução, para Nelson era trágico dos romances tornava as histó-
apenas degradação, balbúrdia e totalita- rias de amor inconclusas; portanto, para
rismo, assim, o autor se via, dentro da Camila, os escritores trabalhavam as mu-
sua postura conservadora, como um liber- lheres apenas como bode expiatório, cul-
tário, em fato. padas pelas ações e sem jamais um final
24.[D] Apesar de ser politicamente contra feliz.
diversos movimentos de igualdade pe- 28.A obra retrata o Brasil no final do século
los quais lutavam os jovens, Nelson, em XIX e de forma bastante negativa, uma
sua obra, muitas vezes por conta de um vez que expõe como o racismo e a desi-
discurso libertário e sem pudores, tecia gualdade social e de gênero ainda sus-
diversos comentários sobre a hipocri- tentam as relações, bem como institui,
sia presente em todas as classes sociais, em âmbito geral, a falência de diversos
fossem os jovens, os conservadores, os meios que não se coadunam mais com a
reacionários e os revolucionários. Para modernidade, em especial, a ideia do ca-
Nelson, tudo e todos eram objetos de sua samento a que Camila se submete.
escrita. 29.[B] Seu Joaquim apresenta em seu ros-
25. a) Segundo o autor, o único jeito de se to os traços da varíola, doença que só foi
realizar uma entrevista de verdade com erradicada do país no século XX. “picado
uma personalidade é se a entrevista for das bexigas” é uma forma popular de se
imaginária; do contrário, os entrevista- referir a doença viral. Trata-se de uma
dos não se sentiriam aptos a deixarem a questão interdisciplinar, que pode apare-
verdade ao entrevistador. Assim, as en- cer dentro do vestibular da Unicamp.
trevistas imaginárias se tornam as en- 30.a) Segundo a metáfora do autor, a fide-
trevistas possíveis, a única entrevista em lidade masculina era algo socialmente
que o entrevistado é, de fato, verdadeiro. não esperado e facilmente perdoado,
b) A Cabra Vadia é uma simbologia dada por muitas vezes como uma mancha em um
Nelson que compõe o ambiente perfeito casaco negro, que simplesmente se limpa
de uma das entrevistas imaginárias, es- ou se esconde; em oposição, a fidelidade
sas que só poderiam ocorrer em um ter- feminina se mostra com um fino bran-
reno baldio, isto é, em sigilo, e com uma co tecido, em outras palavras, algo tão
cabra vadia como testemunha, isto é, com socialmente esperado que a menor das
um animal que não compreende, não está manchas ou suspeita de manchas já era
interessado e nem pode repetir o que foi algo aparente, visto, cujo estrago rara-
dito em entrevista, de modo a confirmar mente podia ser desfeito.
a ideia de que as entrevistas verdadei- b) Catarina é irmã do capitão Rino. A perso-
ras não acontecem, pois os entrevistados nagem é apresentada como uma mulher
preocupam-se, o tempo todo, com a sua que luta declaradamente pela emancipa-
imagem. ção feminina e que se mostra contra a
26. Doutor Gervásio foi o responsável por instituição do casamento por interesses
ensinar muitas coisas para Camila. A re- financeiros. Na obra, ela atua como uma
lação dos dois funcionava não só como personagem explicitamente feminista
uma relação de amantes, mas como uma com cujas ideias Camila tem contato na
espécie de relação entre professor e alu- cena do jantar e que, de algum modo, le-
na. Doutor Gervásio era quem lhe trazia vando em consideração o final do roman-
livros e músicas, e dava a Camila (não de ce, permanecem dentro dela.
propósito, necessariamente) meios de co-
nhecer o mundo e subverter o cenário em
que ela se encontrava. A fala dela acon- Gabarito
tece, justamente, antes dessa relação de
estudante se desenvolver, quando ela de-
2. A 3. B 5. C 6. B 9. B
clara não ler os romances, explicando seu
motivo. 11. D 15. C 17. B 18. A 20. C
27.A fala de Camila aponta para um criti-
cismo que se faz sobre a literatura, em 22. C 23. B 24. D 29. B
que os escritores românticos colocavam
as mulheres como objetos idealizados
em sua obras, fazendo as histórias gi-
rarem em torno dessas personagens de
modo que, muitas vezes, as ações boas
e/ou ruins tinham como origem/culpa
as mulheres. Além disso, o comum final

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L C LINGUAGENS
E CÓDIGOS

C H C N
CIÊNCIAS CIÊNCIAS DA
HUMANAS NATUREZA

M T MATEMÁTICA

BASE DE QUESTÕES
Novas obras literárias
Fuvest - Unicamp 2020

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