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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

Jovino José Balbinot


SUMÁRIO

1 A FILOSOFIA............................................................................................. 3
2 FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO ....................................................................... 8
3 AS CONCEPÇÕES DE HOMEM E A EDUCAÇÃO ....................................... 12
4 AXIOLOGIA – A VIDA MORAL, A EDUCAÇÃO E OS VALORES................... 19
5 AS TEORIAS FILOSÓFICAS DA EDUCAÇÃO, RACIONALISMO, EMPIRISMO,
ILUMINISMO, IDEALISMO E REALISMO .................................................... 26
6 O PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO DE EDUCAÇÃO: MARXISMO,
PRAGMATISMO E EXISTENCIALISMO........................................................ 36

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1 A FILOSOFIA

A vida é um contínuo caminhar em um mundo de constantes mudanças e


transformações. O contexto em que se vive faz o homem construir sua vida permeado
de interferências e estabelecendo diversas relações. O desenvolvimento tecnológico e
científico alcançou patamares jamais pensados. As intervenções na natureza, em
direção do progresso, resultaram em transformações climáticas com consequências
irreparáveis. A impressão é que estamos todos de cabeça baixa correndo na direção do
que não sabemos ao certo. Nesse sentido, nos perguntamos: em que a filosofia,
primeiro conhecimento lógico e racional, poderá contribuir para a educação num
momento onde resultado imediato e lucrativo é objetivo prioritário da humanidade?
Os conhecimentos científicos e tecnológicos são extremamente importantes. Mas o
que é o conhecimento? Por que não são todos os homens beneficiados pela
tecnologia? Podemos interferir na vida humana? Qual é a importância do homem
quando não possui mais forças para produzir? O que é a Ética? O que é a Moral? Quem
é o homem, afinal?

Para refletir e buscar respostas para essas e outras questões, organizamos a disciplina
de Filosofia da Educação em temas que percorrem a história do pensamento e
contemplam assuntos relacionados ao ser e ao existir do homem. Desejamos propiciar
a reflexão e a discussão para contribuir na sua formação de profissional do ensino e
aprendizagem. Nossa intenção é despertar o gosto pela filosofia e a busca ao
aprofundamento dos temas em leituras de obras filosóficas.

Estudaremos e discutiremos os seguintes temas:

1. Filosofia.

2. Filosofia da educação.

3. Concepções de homem e a educação.

4. Axiologia – A vida moral, educação e valores.

5. As teorias filosóficas da educação: racionalismo, empirismo, iluminismo,


idealismo e realismo.

6. O pensamento contemporâneo de educação: marxismo, pragmatismo e


existencialismo.

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1.1 A Filosofia e sua origem

Na história do pensamento, encontramos as narrativas míticas como primeira


tentativa de resposta às questões relacionadas ao mundo e ao homem.

Conforme lembra Cotrim (1993), os gregos cultuavam uma série de deuses (Zeus,
Hera, Ares, Atena, etc.) heróis e semideuses (Teseu, Hércules, Perseu, etc.). E
acrescenta que, relatando a vida dos deuses e dos heróis e seus envolvimentos com os
homens, os gregos criaram uma rica mitologia constituída por um conjunto de lendas e
crenças que, por princípios simbólicos, fornecem explicações para a realidade
universal. Sendo assim, podemos afirmar que, o mito foi e continua sendo um relato
importante para explicar os fatos da vida humana.

Sabemos que, muitas são as questões e, portanto, a filosofia permitirá refletir sobre o
sentido da existência humana e sobre os fins da educação. Desse modo, a disciplina
Filosofia da Educação tem como objetivo principal fomentar a dúvida e a reflexão nos
agentes de aprendizado e de mudanças favorecendo a formação crítica, capaz de
buscar a compreensão da realidade social, educacional e pessoal e ainda, discutir o
papel da filosofia na formação histórica do ocidente enfatizando aspectos relacionados
à educação. Também são objetivos da disciplina: compreender o significado e a
importância da filosofia para reflexão das práticas cotidianas e especificamente da
prática docente; entender os entrecruzamentos em filosofia e filosofia da educação;
estabelecer ligações entre os principais períodos da filosofia e a história da educação;
analisar educação a partir das relações sociais, políticas, econômicas e culturais
estabelecidas ao longo da história da humanidade; compreender a educação no
contexto histórico atual do Brasil; compreender o multiculturalismo, as questões de
identidade e diversidade na formação educacional.

1.2 O que é Filosofia?

Perguntar é, entre as habilidades do ser humano, a mais comum e a mais repetida no


cotidiano das pessoas. Desde criança fazemos perguntas como: O que é? Como é?
Quando é? Por que é? Perguntamos porque queremos entender as coisas, o mundo, o
universo e a nós mesmos. E assim, não nos damos conta que na própria pergunta está
implícita uma resposta. Por exemplo, quando perguntamos o que é a educação, já
temos a certeza que é possível educar. Quando buscamos o sentido etimológico do
termo filosofia notamos que a origem é grega e composta por duas palavras: filo e
sofia. Filo significa amante ou amigo e sofia significa sabedoria. Temos que, filosofia
significa “amor à sabedoria”.

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1.3 Filosofia é reflexão

Percebemos que a filosofia está ligada ao conjunto do saber humano. Na sociedade de


transformação em que vivemos, necessitamos do conhecimento e buscamos a
sabedoria. A filosofia é um conhecimento rigoroso e radical, vai às raízes das questões
mais profundamente que qualquer outra ciência; lá onde as outras se dão por
satisfeitas, ela continua a indagar e perguntar.

Chauí (2003, p. 20) considera que:

A reflexão filosófica é o pensamento interrogando-se a si mesmo ou


pensando-se a si. É a concentração mental na qual o pensamento se
volta para si para examinar, compreender e avaliar suas ideias,
vontades, desejos e sentimentos. A reflexão filosófica é radical
porque vai à raiz do pensamento, é um movimento de volta do
pensamento sobre si mesmo para pensar-se a si mesmo, para
conhecer como é possível o próprio pensamento ou o próprio
conhecimento.

A filosofia é um conhecimento e se distingue das outras ciências pelo seu objeto de


estudo. Enquanto estas dedicam a sua pesquisa em problemas específicos, por
exemplo, a geografia estudando a terra e o espaço e a medicina buscando respostas
para a saúde dos humanos, a filosofia volta-se para o ontológico, para o estudo do ser.
Quer entender a essência humana.

1.4 A Filosofia é útil

A sociedade de resultados imediatos considera que ter é mais importante que ser. A
filosofia contribui para o exercício da liberdade do pensar por meio da reflexão crítica
no que se refere à nossa existência, cultura, sentido da vida e contribui para a
construção da nossa humanidade. Neste sentido, nos perguntamos então, qual a
utilidade da filosofia?

Se abandonar a ingenuidade e o preconceito do senso comum for


útil; se não se deixar guiar pela submissão às ideias dominantes e aos
poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação
do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das
criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a
cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes
de si e de suas ações numa prática que deseja liberdade e felicidade
para todos for útil, então podemos dizer que a filosofia é o mais útil
de todos os saberes de que os seres humanos são capazes. (CHAUÍ,
2003, p. 24).

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Filosofar é refletir profundamente acerca da realidade na qual vivemos.
Provavelmente não há pessoa que não filosofe; ou, pelo menos, todo homem se torna
filósofo em alguma circunstância de sua vida. Quando filosofamos, ampliamos a nossa
compreensão do mundo.

Ao filosofarmos, aprendemos a pensar além do que nos ensinaram a respeito do certo


ou errado, do justo ou injusto, libertando-nos de ideias do senso comum, alterando
nosso entendimento, nossas concepções, reeducando o nosso olhar e,
consequentemente, ampliando nossa visão de mundo.

1.5 Filosofia é conhecimento

A filosofia abrange diversos campos de investigação. Aranha (2006) destaca que a


lógica investiga condições de validade dos argumentos e dita regras do pensamento
correto; a metafísica estuda o ser enquanto ser, independentemente de suas
determinações particulares; a teoria do conhecimento estuda as relações entre sujeito
e objeto no ato de conhecer; a epistemologia estuda o conhecimento científico do
ponto de vista crítico; a antropologia investiga a concepção de ser humano; a axiologia
reflete sobre a natureza e as características do valor; a filosofia política busca o
entendimento sobre as relações de poder; a ética reflete sobre as noções, os princípios
e os fins que fundamentam a vida moral; a estética reflete sobre a arte e o sentimento
que as obras de arte despertam nos seres humanos; a filosofia da linguagem é a
reflexão sobre a linguagem como elemento estruturador que explica a relação do ser
humano com a realidade e a filosofia da educação reflete sobre a educação e a
pedagogia. Investiga o ser humano que quer formar, os valores emergentes que se
contrapõem a outros, já decadentes, e os pressupostos do conhecimento subjacentes
aos métodos e procedimentos utilizados. Entre os filósofos há diferenças na definição
destes campos, entretanto, todos tratam dos mesmos assuntos, diferenciando-se
apenas na forma de agrupamento.

Saiba Mais

Marilena de Souza Chauí nasceu em 4 de setembro de 1941. É professora emérita de


Filosofia Política e Estética da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo. Especialista na obra de Baruch Espinoza, é autora de
diversas obras entre as quais, o livro didático Convite à Filosofia.

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Conclusão

Reconhecemos que não é tão fácil apresentar a definição de filosofia, pois estamos
falando de um conhecimento que ultrapassa o período de dois mil e quinhentos anos
de história do pensamento. O objetivo deste capítulo foi demonstrar que em nossa
forma de pensar, acreditar, agir e expressar estão presentes crenças e valores que, na
maior parte do tempo e das vezes, não percebemos. Nas ações humanas estão
intenções e é tarefa da filosofia, através de reflexão e análise, perceber e entender
quais são essas intenções e quais são os objetivos das atitudes no mundo da educação.
Estudar e aprender filosofia significa não estar acomodado com os acontecimentos do
mundo, mas sim, angustiado e entusiasmado em entender o sentido do pensar e do
agir dos humanos.

Referências

CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2003.

COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia: ser, saber e fazer. 8. ed. reform. São
Paulo: Saraiva, 1993.

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2 FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

Como já afirmamos anteriormente, o filosofar é parte inerente ao ser humano. Desde


criança fazemos perguntas sobre o mundo e tudo o que nele percebemos. E a filosofia
da educação? Há relação entre filosofia e educação? Por que filosofia da educação?
Acreditamos que ela é importante porque contribui para uma reflexão crítica sobre as
questões educacionais e possibilita uma compreensão mais profunda da educação, por
meio do entendimento acerca do homem.

2.1 Educação e Filosofia

Severino (1994) defende que a educação é vista pelos homens como uma prática social
e que se desenvolve como atividade de trabalho, utilizando ferramentas simbólicas.
Dizendo de outra forma, o homem é o que ele faz. Nota-se que o trabalho é
preocupação constante entre humanos. E faz sentido, pois dedicamos parte
significativa do nosso tempo e da nossa vida ao trabalho. Se o homem é o que faz
então é necessária a preparação, através do ensino, de uma profissão que satisfaça as
necessidades pessoais e dê um sentido à vida. A escola com o seu currículo, atividades
pedagógicas e os conteúdos programáticos compõe uma das mediações do homem
viabilizando o processo intencional da educação.

São as atividades práticas que possibilitam ao homem construir sua


própria condição de ser especialmente humano. Ele é em função
daquilo que faz, e não em função de sua situação originária natural.
Por isso, ao contrário do que pensavam os filósofos antigos, não é
bem o agir que segue o ser, mas o ser que segue o agir. Dessa
maneira, trabalhar é condição imprescindível para que o indivíduo se
humanize, para que seja um ser humano. O trabalho é mediação
iniludível da humanização dos indivíduos e, consequentemente, sua
ausência ou deturpação de suas condições constituem mediações da
desumanização. Assim, tanto o trabalho é necessário para humanizar
os indivíduos, como pode também degradá-los e desumanizá-los,
fazendo com que percam sua especificidade humana (SEVERINO,
1994, p. 59).

Se a preocupação com o trabalho é inerente ao ser humano, pois ocupa um terço do


tempo da vida, as demais dimensões da vida humana possuem igual ou ainda maior
importância. Se o trabalho é a mediação do ser humano na relação com a natureza, em
busca do sustento da existência material, a organização social e a relação com os seus
semelhantes produzem o sentido do convívio e da partilha. O ser humano é um ser
com os outros. O lazer, a arte, a música, o esporte, pertencem ao ser humano e
propiciam o prazer da vida. Lembramos também que o ser humano se relaciona

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consigo mesmo e, portanto, é um ser simbólico que encontra sentido nos valores e
interesses que lhe são próprios.

2.2 A reflexão filosófica

A filosofia da educação se debruça sobre esses problemas do homem e da sociedade e


se preocupa em responder questões como: O que é o homem? O que é educação? Por
que educar? É possível educar? Essas e outras questões servem como orientação para
as opções educacionais, dizendo de outra forma, determinarão os fins da educação.

Aranha (2006) lembra que se a filosofia é uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto,
o exercício se dá a partir dos problemas propostos pelo nosso existir e é inevitável que
entre esses problemas estejam os que se referem à educação. Notamos que o
processo ensinar e aprender se torna algo necessário e comum na sociedade. Segue-se
uma rotina pensada e determinada por pessoas escolhidas para pensar a educação. A
filosofia quer entender melhor e, portanto, quer examinar a concepção de
humanidade que orienta a ação pedagógica. Os objetivos educacionais passam pelo
entendimento de quais são os valores que orientam as ações dos educadores.

Cabe à filosofia, entre outras coisas, examinar a concepção de


humanidade que orienta a ação pedagógica, para que não se eduque
a partir da noção abstrata e atemporal de “criança em si”, de “ser
humano em si”, tal como a que persistiu na concepção essencialista
de educação. Do mesmo modo, não há como definir objetivos
educacionais se não tivermos clareza dos valores que orientam nossa
ação. O filósofo deve avaliar os currículos, as técnicas e os métodos
para julgar se são adequados ou não aos fins propostos sem cair no
tecnicismo, risco inevitável sempre que os meios são
supervalorizados e se desconhecem as bases teóricas do agir.
(ARANHA, 2006, p. 25).

No que se refere ao currículo, vale lembrar que é sim preocupação da filosofia


entender quais as intenções do ensinar. A realidade do futuro educador interfere no
seu olhar e pensar sobre o mundo. Sendo assim, a escola se constrói com a presença
dos profissionais de ensino e dos alunos. Quando o currículo é único o indivíduo
desaparece e o resultado estará voltado para os interesses políticos e ideológicos dos
representantes do poder. Os estudantes são ignorados nas próprias características
quando são obrigados a seguir um currículo pensado por um grupo que se apropria de
conteúdos voltados para competências e habilidades que atendem o mundo do
trabalho.

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2.3 O filósofo da educação

A presença do filósofo é exatamente essa de estar em todo o ato educativo e no


cotidiano da vida. Significa ainda, estar atento, pensar, fazer perguntas, duvidar. O
estar presente em tudo resulta na filosofia da linguagem, filosofia política, filosofia da
história, filosofia da comunicação, filosofia jurídica, filosofia da arte, filosofia da cultura
e a filosofia da educação.

Nesse sentido, Perissé (2008) destaca que ao investigar a filosofia verificamos no seu
cerne uma constante relação com a educação, na medida em que ela educa o nosso
pensamento, educa-nos para os valores humanizantes, para a convivência, educa-nos
para saborear a vida e para morrer com dignidade. Quando tomamos conhecimento
que o pensamento é educado, ou dito de outra forma, há a educação do nosso pensar,
a responsabilidade no educador se manifesta intensamente e faz com que surja um
novo agir.

2.4 O Professor de Filosofia

O mundo humano é construído de relações. O professor assume uma identidade que


lhe é própria quando está na relação com os seus alunos. A relação com o outro nos
faz ser. A interação entre professor e aluno possibilita aprendizagem e o resultado é o
conhecimento. Sendo assim, faz-se necessária a conscientização de que cada espaço é
único, cada aluno possui uma identidade resultante das inúmeras relações que
estabelece no mundo. Pensar que vivemos num determinado tempo e espaço significa
tomar consciência de que somos seres da coexistência. No processo do coexistir
construímos sentidos e contribuímos para a realização pessoal, de si e do outro. As
coisas se tornam realidade na exata medida que estão em relação com um ser
consciente que faz com que essa coisa exista, no caso da filosofia da educação,
conhecimento é reflexão e construção. A natureza responde se fizermos perguntas, o
importante é fazer perguntas.

O profissional da educação contribui no processo do pensar e do agir para a


valorização das diversas áreas do saber. Portanto, educação e pedagogia estão no
mesmo caminhar. E a filosofia da educação possibilita uma reflexão contínua e crítica
sobre os assuntos educacionais, trabalhando na compreensão dos objetivos, fins,
problemas do ensino, do homem e da sociedade.

Refletir sobre ação e prática do profissional da educação é tarefa da filosofia da


educação. O resultado dessa reflexão possibilita a compreensão do educador sobre
sua presença no mundo, as intenções de seu trabalho e a responsabilidade de intervir
na formação das futuras gerações da sociedade.

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2.5 A finalidade da educação

Ao pensar sobre a finalidade da educação é necessário que se reflita as concepções de


homem e sociedade. Se considerarmos como Platão, que o homem está entre a
“ignorância e a sabedoria”, que não é um ser acabado e tem potencialidades a serem
desenvolvidas, haverá uma possibilidade de atuação da educação e um caminho para
ela trilhar. Entendemos que a educação deve contribuir para a construção de nossa
humanidade, em outras palavras, a finalidade precípua da educação é a formação
humana do homem, a partir dos valores inalienáveis do ser humano.

Conclusão

A filosofia da educação possibilita ao profissional da educação refletir sobre as


influências das correntes filosóficas na formação do conhecimento humano e sua
relação com as ciências. E ainda, analisar e entender sua prática no exercício do
ensinar. Ele precisa compreender que o mundo se constrói através das diversas
relações que o homem estabelece permeadas pela educação. Portanto, o professor
precisa refletir sobre a realidade que vive e saber de sua função social na profissão que
exerce, contribuindo assim para a formação consciente e de qualidade para seus
alunos.

Referências

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo:
Moderna, 2006.

PERISSÉ, Gabriel. Introdução à Filosofia da Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia da educação: construindo a cidadania. São


Paulo: FTD, 1994.

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3 AS CONCEPÇÕES DE HOMEM E A EDUCAÇÃO
A essência e a existência humana são questões antigas, mas que permanecem muito
atuais. É por isso que continuamos buscando respostas que possam nos ajudar a
definir os rumos da nossa vida. Notamos que a concepção de homem diverge
bastante. Assim nos perguntamos: Por que há essas diferenças nas concepções? Quem
está certo? Qual resposta é verdadeira? Há uma resposta verdadeira?

No mundo antigo encontramos Platão que nos ensina que o homem é um ser de
possibilidades, possui potencialidades que poderão ser desenvolvidas, por isso, a
importância da educação ter clareza de seus objetivos, isto é, que homem quer formar
e para qual sociedade. Já no mundo contemporâneo, a presença de Sartre, nos lembra
que não podemos dizer o que é o homem, porque ele é livre no sentido em que não há
nada anterior à existência que lhe indique o caminho, não há sinais, pistas definidas.
Assim se dá porque, para Sartre, não há uma essência humana, apenas o que há é a
existência. Cada um será o que ele fizer de si mesmo.

3.1 O que é homem?

O que é o homem? É esta a primeira e principal pergunta da filosofia. Se pensarmos


nisto, a própria pergunta não é uma pergunta abstrata ou objetiva. Nasceu daquilo que
refletimos sobre nós mesmos e sobre os outros, queremos saber, em relação ao que
refletimos, vimos, somos e em que coisa podemos nos tornar; se realmente e dentro
de que limites somos protagonistas da história, de nós próprios, da nossa vida e do
nosso destino. Dito de outra forma, estamos diante de uma questão antropológica, a
primeira que se coloca em qualquer situação vivida pelo homem, mesmo que ele
próprio não tome consciência disso, porque todas as nossas concepções de mundo e
formas de agir partem de uma ideia de homem que a elas se encontra subjacente.

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E o que é antropologia? O termo origina-se do grego anthopos
(homem) e logos (teoria, ciência), portanto significa todas as teorias a
respeito do ser humano. Dentre elas, destacam-se a antropologia
científica e a filosófica. A antropologia científica pode ser física ou
cultural. A primeira estuda a evolução humana como corpo físico e
animal, ao longo do tempo, desde os primatas, e a cultural trata das
diferentes culturas sob os mais diversos aspectos, como relações
familiares, estruturas de poder, costumes, tradições, linguagem etc.
A antropologia filosófica é a investigação sobre o conceito que o ser
humano faz de si próprio, de suas faculdades, habilidades e ações
que orientam sua vida, ao responder à questão: “O que é o ser
humano?” (ARANHA, 2006, p. 150).

O conceito de ser humano é preocupação da filosofia da educação quando pergunta:


Que tipo de homem se quer formar? As diversas teorias pedagógicas tentam
compreender o conceito de homem que anima suas diretrizes. Por exemplo: a
educação tradicional valoriza a transmissão da cultura geral e a realização intelectual
do homem. Para cumprir esse projeto, centra a atividade escolar na figura do
professor, transmissor do conhecimento. Já na proposta da escola nova o ensino se
volta à existência, à vida e à atividade do aluno, passando este a ser o centro do
processo. As duas teorias pedagógicas denotam expectativas diferentes de
transformação do homem naquilo que ele deve ser. Em cada uma delas serão
priorizados valores que determinam a escolha dos conteúdos a serem transmitidos e a
maneira de transmiti-los a partir dos objetivos propostos, os quais se postulam a partir
de uma questão essencial que é o tipo de homem se quer formar.

Sendo assim e para facilitar nossos estudos, destacaremos três concepções de homem
que se puseram ao longo da história: a concepção essencialista ou metafísica; a
concepção naturalista ou cientificista e a concepção histórico-social.

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3.2 A Concepção Essencialista ou Metafísica

A busca pela essência humana é antiga. Na Grécia antiga, os primeiros filósofos,


também chamados de filósofos da natureza, trabalharam um novo conceito de
universo e para isso definiram um elemento como princípio de todas as coisas. Os
elementos encontrados diferem entre os pensadores. Tales de Mileto defendeu que é
a água. Para Anaxímenes é o ar. Heráclito disse que tudo está em constante mudança
e o fogo é o elemento necessário para isso. Para Anaximandro é o infinito que dá
origem a todos os seres.

Na mesma época Sócrates desenvolveu um método que usa de constantes perguntas,


considerando a ironia e a maiêutica, na busca da verdadeira essência que estaria
presente em cada ser humano. Para Platão existem dois mundos, o mundo inteligível e
o mundo sensível, e o verdadeiro está no mundo inteligível. O mundo sensível é o
mundo das sombras, das representações e, portanto, um mundo imperfeito. Nota-se
mais uma vez a preocupação com a essência humana. Já para Aristóteles, todas as
coisas possuem em si quatro causas. A causa material, ou a matéria; a causa formal, ou
a forma; a causa eficiente, quem produziu e a causa final, a finalidade. Portanto, a
essência das coisas está em sua matéria, forma, causa eficiência e finalidade.

Notamos que o enfoque é metafísico e as perguntas são: O que é real? O que é


natural? O que é sobrenatural? O ramo central da metafísica é a ontologia, ela
investiga em quais categorias as coisas estão no mundo e quais as relações dessas
coisas entre si. Em metafísica, a essência de algo é constituída pelas suas propriedades.
O oposto da essência são os acidentes da coisa, isto é, aquelas propriedades mutáveis.

Na perspectiva essencialista a educação é concebida como processo


de atualização da potência da essência humana, mediante o
desenvolvimento das características específicas contidas em sua
substância, visando sempre um estágio de plena perfeição e
atualização total. Nessa essência se encontram inscritos valores que
presidem a ação do homem e que definem os fins da educação.
Portanto, os critérios de toda ação são critérios propriamente éticos
(SEVERINO, 1994, p. 35).

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Nesta visão, no entanto, percebemos que há limites. Ou seja, quando consideramos o
interior do indivíduo como centro e que há formas ideais de educação, estamos
determinando a priori o que é o homem e como ele deve ser educado. O importante é
a essência e não existência humana.

3.3 A Concepção Cientificista ou Naturalista

Na Idade Moderna (século XVII), a filosofia de Descartes, racionalismo; Locke,


empirismo, bem como o desenvolvimento do método científico inaugurado por Galileu
e Newton, fez surgir uma concepção de conhecimento que até hoje orienta nossa
forma de pensar: o pensamento científico. A ciência se torna o único caminho
verdadeiro que investiga todas as coisas no mundo. Sendo assim, a responsabilidade
da ciência se torna muito grande, pois o conhecimento obtido por ela será usado na
vida das pessoas. Na tarefa de descobrir a verdade, dentro de sua esfera de atuação, a
ciência precisa de métodos.

Na perspectiva naturalista, a educação é concebida como processo


de desenvolvimento de um organismo vivo, cujas potencialidades
físico-biológicas e sociais já se encontram inscritas no homem, como
ser natural, sempre visando um aumento individual e social da vida.
Fins e valores se encontram, pois, expressos na adequação às leis
naturais que regulam a vida, e os critérios de avaliação são
fundamentalmente técnicos (SEVERINO, 1994, p. 35).

Na educação, a visão naturalista desenvolveu teorias como o behaviorismo. Como


afirma Aranha (2006), o behaviorismo, ou psicologia comportamentalista, influencia
até hoje diversas tendências na educação, inspirando uma metodologia que enfatiza a
rigorosa programação dos passos para se adquirir o conhecimento, bem como as
técnicas e os procedimentos pedagógicos. Skinner, um dos representantes dessa
tendência, criou a ‘máquina de ensinar’. E acrescenta que a tendência naturalista é a
tentativa de adequar as ciências humanas ao método das ciências da natureza, que se
baseia na experimentação, no controle e na generalização, com vistas à eficácia e ao
aprimoramento tecnológico.

No Brasil, as reformas de ensino na década de 1970, basearam-se nos fundamentos


tecnicistas. A intenção era a segurança e o desenvolvimento nacional adotando

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modelos internacionais. No campo da educação são realizadas reformas para atender
às áreas tecnológicas. Assim, o ensino técnico, que formava mão de obra para o
mundo do trabalho, é intensificado e imprime novas mudanças na estrutura
organizacional da formação educacional no Brasil, ainda mais intencionais. No Brasil, a
formação educacional imprime o ser profissionalizante e a presença de técnicos para o
trabalho. Sendo assim, o ensino passa a prestar serviço ao estado e ao mundo do
trabalho para o desenvolvimento econômico.

E nesta concepção, quais são os limites? Notamos que há visão parcial do problema
educacional centrada numa visão mecanicista do homem que determina educação
como adestramento. Ou seja, o resultado no trabalho de ensino e a consequência do
método escolhido e adotado.

3.4 A Concepção histórico-social

Nessa nova perspectiva encontramos uma diferença significativa sobre o conceito de


homem. Há uma superação na visão do homem considerado essência espiritual pelos
metafísicos e considerado corpo natural pelos cientistas. Essa significativa mudança,
caracterizada pela crítica ao mecanicismo newtoniano, ao empirismo de Locke, e pela
primazia do sentimento sobre a razão, desenrolou-se no período do Romantismo
Alemão (século XVIII). Destacamos a presença de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)
que exerceu grande influência, revolucionando, desde então, as teorias pedagógicas.
Rousseau deslocou o centro tradicional do processo educativo, fixado no professor,
para o discípulo. Mais ainda, colocou o sentimento, cuja sede era o coração ou a
consciência moral, no centro de sua visão do homem.

3.5 A Dialética na Educação

Hegel (1770-1831) é outro filósofo que contribui na nova visão de homem como um
ser histórico social em constante mudança. Ao desenvolver a filosofia do devir,
concebeu o ser como processo, como movimento, como vir-a-ser. Com isso, privilegiou
a história, mudando a direção da antropologia: o homem passou a ser pensado como
ser-no-tempo. E aproveitando de Hegel a concepção dialética da história, Marx
transformou o idealismo hegeliano em materialismo: o mundo material é anterior ao
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espírito, e este deriva daquele. De acordo com o materialismo histórico marxista, para
se estudar o homem e a sociedade, é preciso partir da análise do que os homens fazem
e da forma como produzem os bens materiais necessários à vida. Só então será
possível compreender como eles pensam e o que eles são.

Na perspectiva histórico-social, a educação é concebida como


processo individual e coletivo de constituição de uma nova
consciência social e de reconstituição da sociedade pela rearticulação
de suas relações políticas. Fins e valores se definem pelo tipo de
relação de poder que os homens estabelecem entre si, na sua prática
real, sendo os critérios de avaliação da ação e da educação
eminentemente políticos (SEVERINO, 1994, p. 35).

Nota-se que para Marx não há natureza humana universal, como queriam as filosofias
essencialistas. Como seres práticos, os homens se definem pela produção e pelo
trabalho coletivo. Assim, as condições econômicas estabelecem os modelos sociais em
determinadas circunstâncias. Por isso, Marx se recusava a definir o homem de forma
abstrata, buscando compreendê-lo como homem real (concreto), sempre situado em
um contexto histórico-social.

Finalmente, percebemos que a relação do homem com a natureza, com o mundo, com
os outros homens e consigo mesmo, passa por questões filosóficas. No entanto, o
pensar e o agir também são educados nas diversas relações humanas. Sendo assim, a
educação e a filosofia encontram-se no mesmo processo de construção humana.
Somos o que pensamos e pensamos conforme fomos educados.

Saiba Mais

O filósofo Georg Wilheim Friedrich Hegel nasceu em Stuttgart no ano de 1770 e


faleceu em 1831. Foi o principal pensador do idealismo alemão elevando o
racionalismo para o auge da filosofia. Criou o método dialético de pensar que mais
tarde tornou-se referência para o filósofo Karl Marx.

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Conclusão

As concepções de homem apresentadas oferecem algumas possibilidades de estudo e


análise do ser humano. Quem é o homem afinal? É o homem o que ele pensa ser? Ou
ele é o que ele faz? Seria o homem o que ele sente? Ou o que ele acredita? Notamos
que a reflexão é significativa e extensa. No entanto, importa perceber que a
antropologia deve orientar o trabalho do professor. Assim, precisamos entender quais
são as concepções de homem que estão no nosso pensar e na nossa prática.

Referências

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo:
Moderna, 2006.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia da educação: construindo a cidadania. São


Paulo: FTD, 1994.

18
4 AXIOLOGIA – A VIDA MORAL, A EDUCAÇÃO E OS VALORES

A presença da filosofia na educação é necessária. Estudamos até o momento as


diferentes concepções de homem e as diversas teorias do conhecimento. Chegou o
momento de refletirmos sobre outro aspecto de extrema importância referente ao
agir humano. Estamos diante da axiologia, ou seja, queremos entender a importância
dos valores na vida. Sendo assim, nosso estudo se volta para a moral e a ética.

Definir o ser humano como um ser em construção significa conceber que é necessário
ter alguns parâmetros para guiá-lo. Sim, como veremos em alguns momentos do nosso
estudo, o homem é um ser livre e presente no mundo. No entanto, também
afirmamos que esse ser livre é um ser de relações.

4.1 A axiologia

Axiologia ou teoria dos valores. No cotidiano da vida nos perguntamos sobre o sentido
e o valor dos nossos atos e dos nossos pensamentos e assim construímos nosso ser e
existir no mundo.

Aranha (2006) lembra que o ser humano é capaz de transformar a natureza conforme
suas necessidades existenciais, por meio de uma ação intencional e planificada e que
ao estabelecer as suas prioridades, o homem escolhe os meios e os fins da ação a
partir de valores. E acrescenta que desde o nascimento nos encontramos envoltos por
valores herdados, porque o mundo cultural é um sistema de significados estabelecidos
por outros. Somos seres históricos e, portanto, herdeiros das produções dos que nos
antecederam.

Percebemos então que a ação humana é livre, intencional e está relacionada a


necessidades existenciais. Sendo assim, podemos afirmar que os valores internalizados
pelo homem permitem a vida ética. No estudo dos valores, dos princípios, da moral e
da ética, encontramos diversos posicionamentos.

19
4.2 O que é moral?

LA TAILLE (2006) afirma que chamamos de moral os sistemas de regras e princípios


que respondem à pergunta “como devo agir?”. Como todos os sistemas morais
pressupõem, por parte do indivíduo que os legitima, a experiência subjetiva de um
sentimento de obrigatoriedade, identificamos esse sentimento como invariante
psicológico do plano moral. Reservamos o conceito de ética para as respostas à
pergunta “que vida eu quero viver?”, portanto, à questão da felicidade ou vida boa. E
identificamos na expansão de si próprio, a motivação psicológica a ser
necessariamente contemplada, para que um indivíduo experimente o sentimento
perene de bem-estar subjetivo.

A moral está relacionada ao dever e, portanto, está ligada às normas e às leis. Como
devo agir? A resposta nos parece óbvia, ou seja, segundo as normas e as leis das
instituições e do país em que vive. No entanto, a ética está relacionada aos valores e
princípios que resultam na vida boa e na felicidade. A ética responde à pergunta
“como quero viver?” Querer está mais relacionado à vontade do indivíduo e as
escolhas que o mesmo faz no cotidiano da vida.

4.3 A educação e os valores

Segundo Aranha (2006), desde o nosso nascimento nos encontramos envoltos por
valores herdados, porque o mundo cultural é um sistema de significados estabelecidos
por outros. E acrescenta que estamos sempre fazendo juízos de valor, quando as
pessoas e as coisas provocam em nós atração ou repulsa, quando julgamos que algo é
bom ou mau, belo ou feio, se é útil, e assim por diante.

Notamos que estamos sempre pensando e avaliando a partir dos critérios criados na
sociedade em que vivemos. Somos seres presentes numa cultura onde se vive uma
determinada moral e ética e por isso temos condições de fazer o juízo de valor.

Juízos de fato são aqueles que dizem que algo é ou existe, e que
dizem o que as coisas são, como são e por que são. Em nossa vida
cotidiana, mas também na metafísica e nas ciências, os juízos de fato
estão presentes. Diferentemente deles, os juízos de valor são
avaliações sobre coisas, pessoas, situações e são proferidos na moral,
nas artes, na política, na religião (CHAUÍ, 2003, p. 307).

Em todo momento, quando olhamos as pessoas e as coisas, emitimos opiniões acerca


de tudo e assim estamos estabelecendo um juízo de valor. Dizendo de outra forma,
somos construtores de sentido, criamos nosso ambiente, transcendendo os limites
impostos pela natureza. Severino (1994) diria que o homem é um ser eminentemente
prático; sua existência se define com a contínua construção de seu modo de ser,

20
mediante sua prática que é intencional e marcada por uma referência a objetivos e
fins.

Na relação com a natureza, com os outros e com nosso ser subjetivo exercemos uma
ação transformadora consciente a que chamamos de trabalho, instrumento de
intervenção humana no mundo. Ainda em Severino (1994) vemos que é pela mediação
de sua consciência subjetiva que o homem pode intencionalizar sua prática, pois essa
consciência é sensível a valores. E acrescenta que, ao agir, o homem está sempre se
referenciando a valores, de tal modo que todos os aspectos de sua realidade, todos os
objetos de suas experiências, todas as situações que vive e todas as relações que
estabelece são atravessadas por um coeficiente de valoração.

4.4 O homem e a cultura

O homem, pela inteligência, cria formas de adaptação que o permite administrar as


imposições do meio, e ainda, modificar o ambiente. Essas modificações constituem
nossa cultura.

Nós humanos, igualmente, somos produto cultural. Não há humano


fora da cultura, pois ela é o nosso ambiente e nela somos
socialmente formados (com valores, crenças, regras, objetos,
conhecimentos etc.) e historicamente determinados (com as
condições e concepções da época na qual vivemos). Em suma, o
homem não nasce humano e, sim, torna-se humano na vida social e
histórica no interior da cultura. (CORTELLA, 2001, p. 42).

Afirmamos aqui que a cultura é o conjunto de resultados da ação humana sobre o


mundo, em determinado tempo e espaço e por intermédio do trabalho. Por outro
lado, o homem também é um produto cultural, por ser social e historicamente
determinado. Torna-se humano por vivenciar/produzir valores, crenças, regras,
conhecimentos, condições e concepções da época em que vive. Sendo assim, os
valores tornam-se produtos ideais. Toda vez que atribuímos um valor a algo,
estabelecemos algum tipo de comparação. Para existir um processo de comparação
necessitamos de parâmetros de análise. E esses parâmetros são construídos
culturalmente na medida em que nos apropriamos de um sistema de significados já
estabelecidos por outros. Isto acontece de forma dialética, ou seja, na medida em que
nos apropriamos, somos, também, apropriados por esse sistema de significados já
estabelecidos por outros.

Percebemos assim que, conforme atendemos ou transgredimos os padrões


socialmente estabelecidos, nossos comportamentos são avaliados como bons ou maus
e, quanto mais estamos imersos em determinado padrão de socialização, também
avaliamos como bons os comportamentos alheios que se aproximam do padrão
cultural que incorporamos e como maus aqueles que dele se distanciam.

21
No entanto, é necessário justificar que essa padronização de vida permeada por
valores que se tornam universais se consolida nos fundamentos da moral e da ética.

Toda cultura e cada sociedade institui uma moral, isto é, valores


concernentes ao bem e ao mal, ao permitido e ao proibido, à
conduta correta e à incorreta, válidos para todos os seus membros.
Culturas e sociedades fortemente hierarquizadas e com diferenças de
casta ou de classes muito profundas podem até mesmo possuir várias
morais, cada uma delas referida aos valores de uma casta ou de uma
classe social (CHAUÍ, 2003, p. 310).

A moral está em relação com o agir humano no que refere às normas, leis e valores. As
pessoas emitem juízos de valor referentes às mais diversas áreas do existir humano.
Temos então, valores econômicos, vitais, lógicos, éticos, estéticos, religiosos, políticos,
educacionais, e assim, sucessivamente.

4.5 O que é ética?

O estudo da moral e da ética em filosofia da educação tem o objetivo de demonstrar o


quanto o ser humano, que se constrói nas diversas relações e que vive um longo
período da vida na escola, carrega para os diversos espaços da vida o resultado deste
trabalho realizado pela educação.

Se examinarmos o pensamento filosófico dos antigos, veremos que


nele a ética afirma três grandes princípios da vida moral:

1. Por natureza, os seres humanos aspiram ao bem e à felicidade,


que só podem ser alcançados pela conduta virtuosa;
2. A virtude é uma excelência alcançada pelo caráter, tanto assim
que a palavra grega que a designa é arte, que quer dizer
excelência. É a força interior do caráter que consiste na
consciência do bem e na conduta definida pela vontade guiada
pela razão, pois cabe a esta última o controle sobre instintos e
impulsos irracionais descontrolados, que existem na natureza de
todo ser humano;
3. A conduta ética é aquela na qual o agente sabe o que está e o
que não está em seu poder realizar, referindo-se, portanto, ao
que é possível e desejável para um ser humano. Saber o que está
em nosso poder significa, principalmente, não se deixar arrastar
pelas circunstâncias nem pelos instintos, ou por vontade alheia,
mas afirmar nossa independência e nossa capacidade de
autodeterminação (CHAUÍ, 2003, p. 310).

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A ética é a parte da filosofia que se ocupa do estudo dos fundamentos da vida moral.
A ética se pergunta o que é o bem e o mal. A Moral define o que é o bem e o mal,
dependendo de onde se alicerce a análise, quer seja na ordem cósmica, como afirmava
Epicuro; na vontade de Deus, como defendia São Tomás de Aquino; ou em nenhuma
ordem exterior à própria consciência humana, de acordo com a perspectiva
existencialista. Assim, na luta humana para sobrepujar os limites impostos pela
natureza, o comportamento socialmente aceito varia de local para local, de época para
época.

Saiba Mais

Epicuro, filósofo do período helenístico que nasceu em 341 e viveu até o ano de 269
antes de Cristo, afirmava que a filosofia era o caminho da felicidade. O controle do
homem sobre a dor e o prazer resultava na vida feliz.

Conclusão

A formação integral do homem resulta do conhecimento ético, político e estético. O


estudo da moral e da ética é fundamental para qualquer atividade educativa.
Entendemos que a educação e os educadores possuem um compromisso ético voltado
para os sujeitos humanos no desenvolvimento de sua construção pessoal e
profissional. Não é possível conceber a formação dos profissionais da educação que
estarão ligados diariamente com os pequenos cidadãos do mundo, sem pensar no
ensino que objetiva a formação moral e ética. Neste sentido e para complementar
nossos estudos, apresentamos o texto a seguir.

Filhos da Cidadania

Era uma vez uma família, como muitas outras; de um lado o Pai
chamado de Sociedade, do outro a Mãe chamada Cidadania. A
“Cidadania” e o “Sociedade” resolveram que não mais determinariam
normas de conduta para seus filhos e que a partir daquela data eles
teriam que conviver na família em harmonia, mas sem imposições,
pois a “Cidadania” e o “Sociedade queriam ver se seus filhos estavam
prontos para seguir a vida em Democracia.

A Moral, filha do meio foi logo tomando a frente: - Todos devem se


orientar por mim, pois sou eu que direciono a conduta e quem me
contrariar certamente será punido. Vocês sabem muito bem que
Papai (Sociedade) confia muito em mim e certamente a convivência
em harmonia será conquistada nem que seja pela imposição, tenho
regras claras e penalidades baseadas em leis, nada foge a meus
olhos.

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A Ética, filha mais velha, ironizou a moral e disse: – Deixa de ser
metida, tudo o que você faz é baseado nas minhas conquistas, sou eu
que garanto a felicidade, não existe harmonia sem pensar em mim,
muitas vezes as leis são colocadas de lado, e interpretadas segundo
minha visão, sem contar que sua conduta, Dona Moral, é sempre
muito discutida e muitas vezes não é aceita por todos; veja,
antigamente era imoral usar minissaias e a mulher trabalhar fora.
Graças a minha ética, somos todos iguais. Você mudou suas
ignorantes leis, já no meu caso, continuou a falar a Ética, - sou
sempre bem-vinda, tenho portas abertas em todos os lugares a
qualquer época.

Não me venha com essa, disse a Moral, você está ultrapassada, as


pessoas só agem porque têm medo de mim e das minhas punições.
Por exemplo, os motoristas respeitam a velocidade máxima
permitida somente nos trechos em que colocamos radares, eles não
pensam em você, eles têm medo das multas, em rodovias que não
têm radares o número de acidentes é 90% maior do que as que têm
radares.

A Ética baixou a cabeça, por alguns minutos, com tristeza nos olhos,
retomou o fôlego e disse:

A culpa não é minha. As pessoas não me conhecem. Quem me


conhece nem se preocupa com os radares, pois elas sabem dos
perigos do trânsito e respeitam a velocidade em todos os trechos da
rodovia. Se todos agissem sob minha orientação não teríamos
acidentes. Moral, você não garante a harmonia, veja quantas crianças
abandonadas, pessoas vivendo na miséria, pais perdendo seus filhos,
quanta marginalidade e a lei de Gerson... – Tudo isso – comentou a
ética – pode não ser imoral, mas com certeza não têm nenhum
pouquinho de ética.

Nisso o Bom Senso, filho caçula, pediu a palavra e disse:

Meninas, não briguem, na verdade precisamos de vocês duas, pois


não consigo imaginar uma moral que não seja baseada na ética,
como não acredito em ética que desabone a moral; quando a moral
está equivocada a ética entra e muda as leis, não podemos ter
somente a ética porque muitas pessoas são imaturas e não
conhecem a grandeza que está por trás dos seus ensinamentos.
Portanto, precisamos também da moral para orientá-las no processo
de amadurecimento.

Foi quando Papai Sociedade abriu um sorriso e chamou seus filhos


para perto e disse:

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Tenho muito orgulho de vocês meus filhos, tenho certeza que no
futuro, o Bom Senso, a Ética e a Moral construirão famílias
sensacionais com muita harmonia, pois vocês são a cara da sua Mãe:
a Cidadania (MORETTO, 2007, p. 67-68).

Referências

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo:
Moderna, 2006.

CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2003.

CORTELLA, Mario Sergio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e


políticos. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

LA TAILLE, Yves de. Moral e ética: dimensões intelectuais e afetivas. Porto Alegre:
Artmed, 2006.

MORETTO, Vasco Pedro. Planejamento: planejando a educação para o


desenvolvimento de competências. Petrópolis: Vozes, 2007.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia da educação: construindo a cidadania. São


Paulo: FTD, 1994.

25
5 AS TEORIAS FILOSÓFICAS DA EDUCAÇÃO, RACIONALISMO,
EMPIRISMO, ILUMINISMO, IDEALISMO E REALISMO

O conhecimento é um fenômeno que acompanha a história do homem desde suas


origens, possibilitando novas aprendizagens. Basta observarmos os avanços, numa
rede de relações, das descobertas, invenções, produções e transformações da
realidade nos séculos que se passaram. No entanto, quando queremos entender o que
é o conhecimento nos deparamos com questões fundamentais. Uma das questões é
sobre a essência do conhecimento. Ou seja, o sujeito cognoscente determina ou é
determinado pelo objeto?

Aranha (2006) defende que quando falamos em conhecimento podemos designar não
só o ato de conhecer como uma relação que se estabelece entre a consciência e o
objeto conhecido, mas também o produto do conhecimento, o resultado desse ato -
saber adquirido e acumulado. Quando pensamos escola estamos tratando do
conhecimento produzido e transmitido de forma, muitas vezes, não refletidas de como
se constrói o conhecimento. Destaca ainda a teoria do conhecimento como a parte da
filosofia que investiga as relações entre o sujeito cognoscente (o sujeito que conhece)
e o objeto conhecido no ato de conhecer. Dá como exemplo a forma como
apreendemos o real, se essa apreensão deriva principalmente de nossas sensações, ou
se existem ideias anteriores a qualquer experiência, se é possível conhecer a realidade,
o que é verdadeiro e o que é falso.

Diversos são os estudos e as explicações sobre essas questões. No entanto,


escolhemos trabalhar com cinco possibilidades de resposta: racionalismo, empirismo,
iluminismo, idealismo e realismo.

5.1 O Racionalismo

O conhecimento pela razão é uma concepção antiga e essa forma encontra-se


primeiramente em Platão, que admite a existência de um mundo suprassensível,
denominado mundo inteligível. No mundo sensível vive-se de representações da
realidade perfeita que se encontra no mundo inteligível. O mito da caverna de Platão
mostra claramente a existência dos dois mundos, ou seja, do mundo das sombras ou
mundo sensível e o mundo da verdade e da realidade que é o mundo inteligível. Já
para Santo Agostinho, as verdades e os conceitos são irradiados por Deus para nosso
espírito. Essa duplicidade de mundo é explicada como cidade de Deus e cidade dos
homens. A perfeição e a verdade estão na cidade de Deus, enquanto na cidade dos
homens encontramos a imperfeição.

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No mundo moderno, Descartes e Leibniz são defensores da teoria das ideias inatas,
cujos conceitos são originários da razão.

Descartes, filósofo francês que viveu no Século XVII, entre os anos de (1596 – 1650),
destacou-se por ter afirmado que o conhecimento é resultado da dúvida e se dá
através de um percurso metodológico usando a razão.

Contrim (1993) lembra que, para Descartes, é preciso, inicialmente, colocarmos todos
os nossos conhecimentos em dúvida, questionando tudo para, para analisarmos se
existe algo na realidade de que possamos ter plena certeza. O método cartesiano
considera todas as percepções sensoriais como incertas. O filósofo prosseguiu
colocando em dúvida a existência de tudo aquilo que constitui a realidade e o próprio
conteúdo dos pensamentos. E chegou a conclusão que a única verdade era que os seus
pensamentos existiam.

Descartes só interrompe a cadeia de dúvidas diante de seu próprio


ser que duvida. Se duvido, penso; se penso, existo: “Cogito, ergo
sum”, “Penso, logo existo”. Eis aí o fundamento para a construção de
toda a sua filosofia. Mas este “eu” cartesiano é puro pensamento,
uma res cogitans (um ser pensante), já que, no caminho da dúvida, a
realidade do corpo (res extensa, coisa extensa, material) foi colocada
em questão (ARANHA, 2003, p. 131).

O racionalismo é a forma de entendimento que vê no pensamento, na razão, a


principal fonte de conhecimento humano. Todo verdadeiro conhecimento, segundo o
racionalismo, se funda no pensamento. Este é, portanto, a verdadeira fonte de
conhecimento.

Descartes quer primeiramente oferecer regras certas e fáceis que,


corretamente observadas, levarão ao conhecimento verdadeiro de
tudo aquilo que se pode conhecer. No discurso sobre o método,
estas regras são quatro: 1) a evidência racional, que se alcança
mediante um ato intuitivo que se autofundamenta; 2) a análise, uma
vez que para a intuição é necessário simplicidade, que se alcança
mediante a decomposição do complexo em partes elementares; 3) a
síntese, que deve partir de elementos absolutos ou não dependentes
de outros, e proceder em direção aos elementos relativos ou
dependentes, dando lugar a uma cadeia de nexos coerentes; 4) o
controle, efetuado mediante a enumeração completa dos elementos
analisados e a revisão das operações sintéticas. Em suma, para
proceder com retidão em qualquer pesquisa, é preciso repetir o
movimento de simplificação e rigorosa concatenação, típico do
procedimento geométrico (REALE; ANTISERI, 2005, p. 288).

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Como podemos notar, Descartes apresentou o método com regras certas para que,
com o uso da razão, o conhecimento seja o resultado. Descartes é considerado um dos
principais filósofos racionalistas e defende que só podemos conhecer seguindo os
passos do racionalismo.

5.2 O Empirismo

Para o empirismo, a única fonte de conhecimento humano é a experiência. O sujeito


cognoscente não tira os seus conteúdos da razão, tira-os exclusivamente da
experiência. O ser humano está, por natureza, vazio. Todos os nossos conceitos,
incluindo os mais abstratos, provêm da experiência. O empirismo parte dos fatos
concretos: a criança começa por ter experiências concretas e com base nessas
percepções vai construindo conceitos. John Locke é considerado fundador do
empirismo. Segundo ele o ser humano ao nascer é uma tábula rasa, ou um papel em
branco, que a experiência vai cobrindo aos poucos.

Segundo Contrim (1993), John Locke combateu duramente a doutrina de que o


homem possui certas ideias inatas, isto é, ideias anteriores a toda e qualquer
experiência sensorial. Lembra que, na obra Ensaio acerca do entendimento humano,
Locke afirma que nada existe em nossa mente que não tenha sua origem nos sentidos
e que todas as ideias que possuímos são adquiridas ao longo da vida mediante o
exercício da experiência sensorial e da reflexão. Para Locke, nossas primeiras ideias, as
sensações, nos vêm à mente através dos sentidos (experiência sensorial), sendo
moldadas pelas qualidades próprias dos objetos externos e depois, combinando as
sensações, por um processo de reflexão, a mente desenvolve outra série de ideias que
não poderia ser obtida das coisas externas, tais como a percepção, o pensamento, o
duvidar, o crer e o raciocinar.

Assim, percebemos a diferença clara entre as duas formas de conhecer. Para o


racionalismo só podemos conhecer através da razão e para o empirismo, o
conhecimento se dá através da experiência.

Em primeiro lugar, quando nossos sentidos entram em relação com


objetos sensíveis particulares, transmitem ao espírito muitas
percepções distintas das coisas, segundo os vários modos em que tais
objetos agem sobre nossos sentidos. E assim chegamos a ter ideias
do amarelo, do branco, do quente, do frio, do macio, do duro, do
amargo, do doce, e de todas as que chamamos de qualidades
sensíveis (...). Em segundo lugar, a outra fonte da qual a experiência
extrai as ideias que fornece ao intelecto é a percepção das operações
de nosso espírito em nós mesmos, assim como é aplicado às ideias
que tem; operações que, quando a alma reflete e as considera,
fornecem ao intelecto outro conjunto de ideias que não poderiam ser
obtidas das coisas externas. Tais são: perceber, pensar, duvidar, crer,
raciocinar, conhecer, querer e todas as diversas ações de nosso

28
espírito; e como nós mesmos somos conscientes delas e as
observamos, delas recebemos em nosso intelecto ideias igualmente
distintas como as que provêm dos corpos que agem sobre nossos
sentidos. (REALE; ANTISERI, 2005, p. 112).

No conhecimento empírico, a experiência é dupla. Ou seja, nossa observação tanto


pode visar objetos externos da sensibilidade, como operações internas da própria
mente. No caso dos objetos externos as ideias são de sensação, no segundo caso, de
reflexão. No entanto, sem a sensação a mente não teria com que operar e não teria
ideias de reflexão.

No método empirista, a posição do objeto conhecido é mais


importante que a do sujeito que o conhece, pois a verdade está no
objeto e só pode ser alcançada pela experiência. Da combinação
dessas diferentes posições surgiu o que se denomina ciência
moderna, cuja diretriz foi dada pelo filósofo alemão Immanuel Kant.
Em sua obra Crítica da razão pura (1781), ele afirma que o
conhecimento é sempre algo produzido pela razão, mas que ela
nunca é “pura”, pois depende dos dados obtidos pelos sentidos.
(GALLO, 2014, p. 42).

Immanuel Kant, filósofo alemão, nasceu em 1724 e viveu até 1804 contribuindo,
através do seu pensamento, para a origem de um novo método para o conhecimento
chamado método científico. Kant foi um dos principais filósofos de sua época e
principal representante do Iluminismo. Para Contrim (1993), o papel que Kant atribuiu
ao sujeito representou para a filosofia uma revolução comparável à de Copérnico na
astronomia. Ou seja, antes de Kant, afirmava-se que a função da nossa mente era
assimilar a realidade do mundo, onde se considerava importante a atividade mental do
sujeito ou, dito de outra forma, o racionalismo dogmático, enquanto outros filósofos
ressaltavam o papel determinante do objeto real exterior, ou seja, o empirismo. Kant,
através do racionalismo crítico, formulou a síntese entre sujeito e objeto, entre
racionalismo dogmático e empirismo, mostrando que, ao conhecermos a realidade do
mundo, participamos de sua construção mental, ou seja: das coisas conhecemos a
priori só o que nós mesmos colocamos nelas.

O conhecimento filosófico dá continuidade ao pensamento dos filósofos na história da


humanidade. O que possibilita retornar ao passado, contemplar o que foi pensado e
vivido e, no novo tempo e contexto, elaborar um novo modo de pensar.

5.3 O Iluminismo

O Iluminismo foi um movimento filosófico que se destacou na Europa no Século XVIII e


teve como representantes os filósofos: Jean-Jacques Rousseau (1712-1778);
Montesquieu (1689-1755); Diderot (1713- 1784); Voltaire (1694- 1778) e Immanuel
Kant (1724-1804).

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Desenvolvido principalmente na França, considerada seu centro, mas
com desdobramentos também na Alemanha e na Inglaterra, o
Iluminismo teve como principal característica a defesa da força da
ciência e da racionalidade crítica, capazes de “iluminar” o futuro da
humanidade contra a fé, a superstição e os dogmas. Pelo exercício da
razão e pela produção de conhecimentos, o ser humano seria capaz
de emancipar-se das diversas dominações a que estava submetido –
sociais, políticas e econômicas. O movimento não se limitou à
filosofia, estendendo-se para a arte e, principalmente, para a política
(GALLO, 2014, p. 145).

As ideias iluministas como a liberdade, igualdade e fraternidade, voltadas à defesa do


ser humano, influenciaram na independência das colônias na América e na Revolução
Francesa.

Na educação, o filósofo iluminista que mais se destacou, foi Jean-Jacques Rousseau.


Aranha (2006) lembra que, antes do Iluminismo, os fins da educação encontravam-se
na formação do indivíduo para Deus ou para a vida em sociedade, mas com Rousseau,
a formação do ser humano passou a ser integral, ou seja, o ser educado para si
mesmo.

O centro, no mundo moderno passa a ser o indivíduo e esse busca respostas na


filosofia e na ciência para que seja autossuficiente e assim se baste a si mesmo. O
homem é reconhecido e valorizado pela sua autonomia e liberdade, capaz de tornar-se
cidadão.

5.4 O Idealismo

Importante dizer que para a filosofia, idealismo significa ter consciência da realidade.
São as ideias que produzem a realidade porque o ser é dado pela consciência sobre o
ser. Somos o que pensamos. E neste sentido vamos entender quais os principais
representantes desta forma de pensar e as origens de sua filosofia.

Os seguidores do idealismo acreditam que a ideia é a única verdade. Ou seja, a


verdade existe independentemente de nós entendermos e aceitarmos. Entre os nomes
mais importantes no mundo filosófico destacamos Platão na Antiguidade e Santo
Agostinho na Idade Média. Para Platão a verdade está no mundo inteligível e por meio
do esforço filosófico poderemos alcançá-la além da representação da verdade que está
no mundo sensível. Para Santo Agostinho também, a verdade que está ligada a Deus,
pode ser alcançada através do uso da razão.

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No mundo moderno Hegel foi o filósofo que melhor representou o idealismo. Esse
filósofo alemão, Friedrich Hegel, nasceu no ano de 1770 e viveu até o ano de 1831.
Propôs um sistema filosófico considerando o mundo em constante movimento e num
contínuo processo histórico voltado para o alcance da autoconsciência humana e da
razão. Severino (1992) acrescenta que foi pensando no princípio da contradição que
Hegel concebeu sua filosofia que valoriza a história, a evolução e a transformação.
Para ele, o real no seu conjunto e todas as coisas em particular existem num processo
contínuo de mudança e, o mais importante, trata-se de uma evolução por contradição:
esse é o processo dialético. As coisas mudam constantemente e no seu interior
carregam o seu contrário. A vida caminha para a morte. O novo se transforma em
velho. O branco ganha cores escuras e assim todas as coisas se transformam. Hegel
denomina dialética ao processo que passa por um momento de afirmação, por um
momento de negação e por um momento de superação, cada um deles se
posicionando em relação ao seu anterior. É a tese, a antítese e a síntese.

Podemos tomar como exemplo, a título de uma ilustração bem


simplificada, o caso da formação do ser humano individual. Essa
formação começa no estágio da infância. A criança é um organismo
vivo que mal se desprega do mundo natural, como se prolongasse
sua vida uterina, confundindo-se com o mundo que o envolve e não
se distinguindo dos objetos. Faz corpo com seu ambiente, não tem
consciência da própria autonomia. É o seu momento de tese. Mas, na
vida do ser humano, esse estágio é logo negado pelo estágio da
adolescência. É o estágio em que o indivíduo se nega como criança,
recusa a condição infantil e se representa como absolutamente
autônomo, quer viver como se não dependesse de mais ninguém. Daí
os famosos conflitos. Nega tudo que questiona sua autonomia,
rebela-se contra toda autoridade. Nega para se afirmar num outro
patamar. Momento da antítese. Mas eis que chega a idade adulta: o
que é de fato amadurecer, ser adulto? É dar-se conta de não ser mais
tão dependente do outro (como vivenciava a criança) nem tão
independente em relação ao outro (como extrapolava o
adolescente). O adulto é um ser autônomo dentro de limites
objetivos que condicionam todo indivíduo humano. Momento da
síntese (SEVERINO, 1992, p. 135-136).

Percebemos a origem de um novo método de compreensão da realidade, o método


dialético. Hegel desenvolveu a filosofia do devir, tudo está em movimento e faz parte
da transformação. Também podemos dizer que tudo é processo. Assim, Hegel
desenvolve a dialética idealista, ou seja, a realidade é a manifestação da ideia.

Pensar a educação como processo significa pensar na educação em transformação.


Assim que, nenhum modo de pensar a educação é absolutamente verdadeiro ou falso,
sagrado ou profano, nobre ou vulgar, rico ou indigente. Não posso afirmar que um
modo de pensar seja melhor que o outro. No entanto, o importante é que o
pensamento cuide de experimentar e questionar sempre.
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Para os idealistas o ensino deve voltar-se para a busca da verdade por meio da razão e
assim alcançar a autorrealização. É na relação com a totalidade da existência, o
cosmos, que adquirirmos o verdadeiro entendimento de nós mesmos. Para os
idealistas religiosos a principal função da educação é abrir a alma para Deus.

Outro aspecto importante dos pensadores idealistas e defender um ensino profundo.


Por isso, defendem métodos baseados em diálogo com outras pessoas. Acreditam que
o estudante deve ser encorajado a desenvolver hábitos de entendimento, paciência,
tolerância e trabalho árduo. A metodologia de palestras é um recurso valorizado, assim
como, a aprendizagem por imitação.

Por idealismo entendemos a concepção segundo a qual o nosso


conhecimento não está assentado na experiência sensível, que por ser
transitória, não fornece certeza alguma, e sim no acesso a uma realidade
não sensível, composta por ideias. O melhor exemplo que podemos dar de
uma “realidade não sensível” seria: aquela na qual habitariam as figuras
geométricas de duas dimensões – os círculos e os quadrados perfeitos, que
jamais poderiam existir em nosso mundo, e, portanto, não podem ser
percebidos por nossos sentidos (um círculo que vejo desenhado num papel
é um objeto tridimensional: o traço do lápis tem profundidade e largura)
(PORTO, 2012, p. 10).

Destacamos que para os idealistas o uso de materiais que ajudem nas habilidades de
leitura e escrita é importante, mas acreditam que estes materiais devam ser utilizados
no sentido de ensinar o aluno a pensar, desenvolvendo habilidades conceituais,
estimulando ideias a respeito do mundo e das coisas. O objetivo do uso da literatura
em geral além do entretenimento possibilita explorar materiais que tragam a ideia de
verdade, fraternidade, família e muitas outras. Tornando-os mais nobres e racionais,
pois as ideias podem modificar vidas.

Nesta visão de que tudo está em processo, o aprendiz é visto como imaturo. Sendo
assim, o professor deve ser alguém capaz de guiar o estudante pelos caminhos
corretos. Desta forma, deve ser alguém bem informado, detentor de grande
conhecimento e boas qualidades pessoais. Portanto, o professor tem grande
importância na educação, pois é um modelo para o aprendiz. Sócrates, para os
idealistas, é o modelo de professor: encorajava os alunos a fazerem perguntas, num
ambiente apropriado para a aprendizagem.

32
Na concepção idealista destacamos os filósofos Platão na Antiguidade, Santo
Agostinho da Idade Média. Nesta visão notamos uma filosofia da educação
conservadora, elitista. Platão, por exemplo, defende uma elite intelectual formada por
filósofos-reis. Santo Agostinho acreditava na superioridade da vida monástica, pois
nela usufruíam-se as mais elevadas qualidades de vida e inteligência. Para esses
filósofos, a função do professor não seria transmitir conhecimento, mas conduzir o
aluno na busca do conhecimento que está em seu interior. No entanto, essa educação
não seria para todos, mas para alguns poucos escolhidos.

5.5 O Realismo

O realismo é uma das filosofias mais antigas do mundo ocidental e possui algumas
variações, ou seja, o realismo Aristotélico, o realismo moderno e o realismo
contemporâneo. A filosofia antiga, representada pela metafísica de Aristóteles, parte
da afirmação de que a realidade ou o ser existem em si mesmos independente da
mente humana e que, enquanto tais, podem ser conhecidos pela razão. No mundo
moderno a preocupação teve outra direção, seria possível conhecer a realidade? É
considerando esses conhecimentos que faremos nosso estudo sobre o realismo e o
realismo na educação.

Podemos, então, perguntar: O que é isso que chamamos de coisa real


(coisas naturais e coisas artificiais ou culturais)? Diremos que uma
coisa é chamada real porque pertence a um conjunto de entes que
possuem em comum a mesma estrutura ontológica: são entes que
existem fora de nós, estão no mundo diante de nós, isto é, são um
ser; são entes que existem quer nós os percebamos ou não, quer nós
os usemos ou não; estão presentes no mundo, mesmo que não
estejam presentes para nós, pois podem estar presentes para todos
ou ficar presentes para nós em algum momento, isto é, são uma
realidade; são entes que começam a existir e podem desaparecer,
mesmo que seu desaparecimento seja muito mais lento do que o
nosso, são entes que duram e possuem duração, isto é, são
temporais; são entes que se transformam no tempo, são produzidos
pela ação de outros e produzem outros, obedecendo a certos
princípios, isto é, são causas e efeitos, são causalidades. Ser,
realidade, temporalidade e causalidade é um conceito ontológico,
que descreve a essência dos entes chamados “coisas” (CHAUÍ, 2003,
p. 205).

A realidade está e existe independentemente da consciência humana. As coisas são.


No entanto, no momento que tomamos consciência da existência das coisas e do
mundo, isso se torna realidade para nós. Sendo assim, nossa intenção é compreender
a educação como realidade existente. A princípio, percebemos que o realismo é a
corrente filosófica que se opõe ao idealismo.

33
Os filósofos realistas afirmam que a educação deve propiciar ao aprendiz estudar o
mundo, experimentá-lo, pesquisar a matéria. Se todas as coisas possuem em si quatro
causas, conforme afirma Aristóteles, a causa material, formal, eficiente e a causa final,
essa deve ser a compreensão dos jovens estudantes. Assim, a investigação científica
pode conduzir aos mais profundos e fundamentais tipos de questões filosóficas e
auxilia o indivíduo a tornar-se consciente de si mesmo, sendo, portanto capaz de
pensar suas próprias ações.

Os realistas pensam a educação como processo contínuo de desenvolvimento da alma


humana, por meio da experiência. A preocupação é equipar os estudantes com
conhecimento objetivo do passado e do presente e auxiliá-los no avanço do
conhecimento, provendo conhecimento básico e essencial aos mesmos.

Para os filósofos realistas a educação deve ter um caráter prático, defendendo uma
visão de que se aprende mais verdadeiramente no mundo material onde realmente se
vive. A única realidade é o mundo material e o estudo do mundo exterior é o único
meio confiável de encontrar a verdade.

Para Chauí (2003), realismo é a posição filosófica que afirma a existência objetiva ou
em si da realidade externa como uma realidade racional em si e por si mesma e,
portanto, que afirma a existência da razão objetiva. Sendo assim, as escolas devem
ensinar os fatos fundamentais sobre o universo, apresentando os materiais de estudos
de forma agradável e interessante. A observação e experimentação são instrumentos
imprescindíveis para o conhecimento. Não podemos nos restringir apenas ao fato, mas
ao modo de como se chegar ao mesmo.

O método defendido pelos realistas é o expositivo, assim que, qualquer outro método
que venha a ser utilizado deve buscar um conhecimento organizado e fidedigno. O
estudo prático também é defendido por essa corrente filosófica. Assim que, os
professores devem ter uma visão crítica do que fazem e servem de modelos para o
desenvolvimento de futuros estudantes.

Saiba Mais

O Iluminismo foi a filosofia da Europa no Século XVIII. Liberdade, igualdade e


fraternidade são os princípios do Iluminismo. Os principais representantes são os
filósofos: Jean-Jacques Rousseau (1712-1778); Montesquieu (1689-1755); Diderot
(1713- 1784); Voltaire (1694- 1778) e Immanuel Kant (1724-1804).

34
Conclusão

O estudo das teorias do conhecimento é indispensável para a educação. A experiência


nos mostra que toda prática representa uma teoria. Os principais pensadores da
humanidade produziram teorias e essas definiram métodos e escolheram conteúdos
para o cotidiano da escola.

Para melhor compreender o ser humano e a sua prática, no contexto em que vive, é
necessário entender o que ele pensa e quais os objetivos dos que o ensinaram a
pensar dessa forma.

Referências

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo:
Moderna, 2006.

______; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo:
Moderna, 2003.

CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2003.

COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia: ser, saber e fazer. 8. ed. reform. São
Paulo: Saraiva, 1993.

GALLO, Sílvio. Filosofia: experiência do pensamento. São Paulo: Scipione, 2014.

PORTO, Leonardo Sartori. Filosofia da educação. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.
(Coleção Passo-a-passo).

REALE, Giovani; ANTISERI, Dario. História da filosofia: de Spinoza a Kant, v. 4. São


Paulo: Paulus, 2004.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia. São Paulo: Cortez, 1992.

______. Filosofia da educação: construindo a cidadania. São Paulo: FTD, 1994.

35
6 O PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO DE EDUCAÇÃO: MARXISMO,
PRAGMATISMO E EXISTENCIALISMO
As correntes filosóficas do mundo moderno, racionalismo, empirismo, idealismo e
realismo, contribuíram na origem de novas concepções educacionais. Nesta unidade,
nosso estudo se centraliza no pensamento contemporâneo de educação e
apresentaremos o marxismo, o pragmatismo e o existencialismo.

6.1 O Marxismo

Na história do pensamento encontramos diversas formas de ver, perceber e pensar o


mundo e as coisas nele contidas. Notamos que o tempo e o espaço, ou melhor, que o
contexto interfere no pensamento do homem. Karl Marx nasceu no século XIX e viveu
entre os anos de 1818 a 1883. O contexto em que Marx nasceu e cresceu era de
desenvolvimento industrial e de crescimento econômico. Portanto, o centro de
pesquisa e estudo do filósofo é a economia. Na época da universidade, o jovem Marx
conheceu os seguidores e as ideias do filósofo Hegel e por esse pensamento foi
bastante influenciado. Vale destacar o conceito de dialética e de alienação que
exerceram maior influência na sua forma de viver em relação ao mundo.

Aranha (2003) lembra que, ao analisar o ser social, Marx desenvolve uma nova
antropologia, segundo a qual não existe natureza humana idêntica em todo tempo e
lugar. O ser humano é o protagonista da história e, portanto, constrói o mundo e
constrói a si mesmo. E acrescenta que, como o existir decorre do agir, o indivíduo se
autoproduz à medida que transforma a natureza pelo trabalho. Por ser o trabalho uma
ação coletiva, a condição humana depende da sua existência social. Por outro lado, o
trabalho é um projeto e como tal depende da consciência que antecipa a ação do
pensamento. Com isso se estabelece a dialética pensar-agir.

Notamos com clareza a diferença entre o método dialético de Hegel e do filósofo Karl
Marx. Ou seja, Hegel, como filósofo idealista, parte da tese, antítese e síntese no
sentido da ideia. Enquanto que a dialética de Marx é materialista, ou seja, parte da
realidade.

36
Marx chama de práxis a ação humana transformadora da realidade.
Nesse sentido, o conceito de práxis não de identifica propriamente
com a prática, mas significa a união dialética da teoria e da prática.
Isto é, ao mesmo tempo em que a consciência é determinada pelo
modo como é produzida a existência, também a ação humana é
projetada, refletida e consciente. Por isso a filosofia marxista é
também conhecida como filosofia da práxis. (ARANHA, 2003, p. 265-
266).

Marxismo é essa filosofia que se desenvolveu a partir do pensamento e atuação de


Karl Marx. Ele trabalhou conceitos como luta de classes, mais-valia, alienação e
ideologia todos voltados à prática do homem através do trabalho na realidade em que
vive. No entanto há uma diferença em Hegel que pensa a alienação como a
incapacidade de reconhecer a verdade e conectada ao pensamento humano. Para
Marx, a alienação não é do espírito que objetiva a si próprio, mas ocorre com o
operário por ele não ter o controle do produto do seu trabalho, portanto a alienação é
do trabalho. E acrescenta que, o homem apenas pode ser compreendido nas relações
com outros homens, ou nas relações sociais. Ele é um ser em contínua atividade no
mundo buscando transformá-lo e transformando a si mesmo. O homem é produto e
produz as circunstâncias sociais.

Segundo o materialismo marxista, as relações humanas com a


natureza no esforço de produzir a existência e as relações entre
proprietários e não proprietários é que configuram as formas de
pensar, como moral, direito, filosofia, ciência, educação, e assim por
diante. Para Marx, esses dois níveis de realidade – a produção
material e a produção simbólica – são explicados pelos conceitos de
infraestrutura e superestrutura: a infraestrutura ou estrutura
material da sociedade é a base econômica, isto é, as formas pelas
quais são produzidos materialmente os bens necessários à vida (...) e
a superestrutura corresponde ao modo jurídico-política (estado,
direito etc.) e à estrutura ideológica (formas de consciência social). A
superestrutura compreende as instituições criadas para organizar as
relações humanas, bem como se revela no modo de conceber o
mundo, expresso nas obras de literatura, filosofia, códigos, costumes,
concepções políticas etc. (ARANHA, 2006, p. 195).

O marxismo teve grande influência na formulação de críticas à sociedade capitalista e


suas instituições sociais, entre elas, a educação escolar. A educação para o marxismo é
uma atividade humana intencional e deve visar transformação social. Neste sentido, a
educação dos educadores é uma preocupação relevante. A educação marxista critica
uma atuação pautada na distinção das classes sociais. Ela deve ser pública, pois todos
devem ter acesso à educação. A filosofia marxista contribuiu para a formulação de
muitas propostas educacionais alternativas.

37
6.2 O Pragmatismo

Do grego, pragma significa ação, prática e prático. Portanto, o princípio fundamental


do pragmatismo consiste em valor, exatidão e importância de um pensamento ou de
uma teoria considerarem as consequências de ordem prática, concreta, que deles
advêm. Segundo William James, o pragmatismo volta-se para o concreto e o
adequado, para os fatos, a ação e o poder. Os pragmáticos buscam processos que os
possibilitem a realizar coisas que funcionem melhor para se atingir os objetivos
desejados. A experiência humana é um ingrediente importante da filosofia
pragmatista. John Dewey é um dos mais importantes adeptos do pragmatismo,
doutrina desenvolvida principalmente pelo filósofo norte-americano William James.

Em suas obras fundamentais sobre educação, John Dewey aponta


para a importância de o educador criar um ambiente de
aprendizagem estimulante que seja capaz de provocar interesse do
educando. O seu diagnóstico é claro, a fim de atingir as camadas mais
profundas do entendimento do aluno, e é preciso engajá-lo na sua
educação, torná-lo um sujeito ativo desse processo (GHIRALDELLI,
2014, p. 101).

O objetivo maior do pragmatismo é exatamente esse de fazer com que o estudante


seja o sujeito ativo no processo do seu ensino e aprendizagem. Para os filósofos
adeptos ao pragmatismo a educação é uma necessidade da vida e assim, ela renova as
pessoas para que possam enfrentar suas dificuldades nos problemas com o ambiente.
Dewey acrescenta que a educação não deveria ser apreciada apenas como ensino
escolar e aquisição de disciplinas acadêmicas, mas como parte da própria vida.

O pragmatismo defende que a educação não deve ser tratada como uma preparação
para a vida, mas como uma parte relevante da vida realmente vivida pelas crianças.
Busca conciliar o respeito pelas potencialidades naturais do indivíduo e a necessidade
de prepará-lo para a vida social respeitando o normal desenvolvimento da natureza do
aluno.

Segundo John Dewey, a educação tem uma tarefa maior no desenvolvimento dos
indivíduos. Ele acreditava no poder da educação como instrumento de reconstrução da
sociedade. O estudante, de forma consciente se torna capaz de dirigir a vida social e
individual, pois este é o modo pelo qual se alcança a democracia. Afinal a educação para o
crescimento vem junto com a educação para a sociedade democrática. Dewey defendia a
democracia, no sentido que todas as pessoas tivessem uma vida mais justa em
oportunidades e participação. Por isso, defendia que a educação deveria ser um meio para
ajudar na renovação social. Para os pragmáticos, toda vez que ocorrem mudanças sociais,
o programa educacional deve ser reconstruído para enfrentar os novos desafios,
ajudando-nos a enfrentar mudanças ambientais e afetando também nosso caráter.

38
Ghiraldelli (2014) destaca que, todo esforço filosófico pedagógico de Dewey se resume
em tentar mostrar que a qualidade de uma experiência depende da unidade entre
vontade e pensamento. Quanto mais os dois estiverem trabalhando juntos, mais
sucesso terá a ação. A fim de aprender a traçar metas razoáveis, o indivíduo deve
poder encontrar, desde o início da educação básica, um ambiente escolar propiciador
desse encontro entre sua vontade e o conteúdo do ensino.

O aluno ao reconhecer que o ensino faz parte de sua construção pessoal e social dará
sentido, através da experiência em sociedade e com autonomia, para a construção do
seu ser.

Lembramos que, para a pragmática, a pedagogia deve ser ativa e o método de ensino
deve ser experimental, flexível, aberto, dinâmico e orientado para desenvolver a
capacidade do indivíduo de pensar e participar de forma inteligente da vida social. Os
programas de ensino não podem separar as disciplinas de estudo de forma estanque,
isolando-as entre si e desvinculando-as de sua base social comum – a história da
humanidade. O método de ensino deve contemplar o trabalho intelectual ao manual, a
teoria à prática.

O espaço físico para o ensino deve ter prédios e equipamentos funcionais, fáceis de
serem adaptados. Por isso, afirmam que não há uma maneira única de educar crianças;
consequentemente devemos conhecer vários elementos que possam ser usados.
Outro aspecto importante é que os interesses e necessidades das crianças devem ser
atendidos, o que não quer dizer que devamos deixá-las fazerem o que quiserem, mas
aproveitar seus interesses e curiosidades em favor de um conteúdo relacionado a
qualquer disciplina acadêmica.

A pedagogia de Dewey situa-se justamente no meio dessas duas


posições. Para ele, a aptidão e o conteúdo não devem estar
separados, mas se complementarem. O conteúdo, entendido como o
meio social e cultural no qual o educando está inserido, não possui
apenas uma função informativa, mas também tem a função de
colocar o educando no espírito do seu tempo (GHIRALDELLI, 2014, p.
101).

O trabalho do professor segue um currículo integrado, diversificado, vinculado à


experiência. O currículo deve incluir questões relacionadas à vida como saúde, higiene,
família, economia, e aspectos que valorizam estudos sobre sexualidade, educação
física, ambiental e outros. Esse trabalho não dispensa as disciplinas tradicionais, mas
essas são trabalhadas de forma que ajude o estudante a pensar relacionando-as com a
vida.

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O professor, profissional conhecedor profundo do conteúdo, deve ser um guia para os
estudantes, alguém instruído que os ajude a encontrar caminhos e não um dominador
que sufoque a criatividade ou os interesses/curiosidades.

Concluindo, toda a escola está consciente e envolvida, com objetivos claros e respeito
aos seus protagonistas da construção de conhecimento, a prática de ensino se torna
mais confiante e o resultado será o envolvimento dos alunos usando de suas
experiências para o exercício da democracia.

6.3 O Existencialismo

A busca de sentido para a existência humana é o objetivo dos filósofos existencialistas.


Destacamos aqui Heidegger (1889-1976); Merleau-Ponty (1908-1961) e Jean-Paul
Sartre (1905-1980) como os principais representantes desta forma de pensar e de
conceber o mundo e realidade.

Para Sartre, apenas os seres humanos são conscientes e a consciência


é o único ser-para-si em meio a um mundo de coisas, de seres-em-si.
No caso das coisas, a essência vem em primeiro lugar, dando uma
identidade a cada ser. Mas, no caso do ser humano, por ser
consciente (ter ciência de alguma coisa é saber; ter consciência é
saber que sabe), a existência é anterior à essência. Isso significa que
primeiro existimos, somos lançados no mundo, para que depois
possamos ser alguma coisa. Nascemos sem essência e sem
identidade e as construímos enquanto existimos, ao longo de nossas
vidas. É por isso que Sartre abandona a noção de natureza humana,
que se refere a uma essência comum a todos os humanos, para falar
em uma condição humana. (GALLO, 2014, p. 42).

Jean-Paul Sartre, como um dos mais importantes representantes do existencialismo,


proclama que a existência precede à essência. Nessa, primeiro o homem existe e na
existência ele vai se constituir.

Na realidade, a compreensão filosófica da realidade é um fim em si


mesma na exata medida em que a existência humana como um todo
é sua meta! Todo o esforço da consciência filosófica na busca do
sentido das coisas tem, na verdade, a finalidade de compreender de
maneira integrada o próprio sentido da existência do homem!
Temos, então, de fato, uma nova pragmaticidade: o homem não
consegue viver e existir apenas como um fato bruto, ele sente a
necessidade inevitável de compreender sua própria existência.
(SEVERINO, 1992, p.24).

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Para o existencialismo a essência humana se constrói na existência concreta. O homem
nasce sem essência, e somente depois, a partir de sua existência, irá construir sua
essência como homem. A presença da filosofia na educação dos homens é
extremamente necessária, pois trabalha de forma reflexiva o sentido do ser e do
existir.

6.4 O Existencialismo e a Educação

O objetivo da filosofia da educação é de contribuir na reflexão sobre a realidade


concreta em que o aluno vive e, assim, ao tomar consciência da própria vida, buscará
interferir e transformar o mundo e a si mesmo na busca de sentido para a própria
existência.

Que significará aqui o dizer-se que a existência precede a essência?


Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no
mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o concebe o
existencialista, se não é definível, é porque primeiramente não é
nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. [...]
O homem é, não apenas como ele se concebe, mas como ele quer
que seja; como ele se concebe depois da existência, como ele se
deseja após este impulso para a existência; o homem não é mais que
o que ele faz. (SARTRE, 1973, p. 12).

Para o Existencialismo o ser humano constrói o próprio ser por meio das escolhas que
ele faz constantemente. Sendo assim, torna-se responsável pelo que é. Dito de outra
forma, somos o resultado das escolhas que fizemos e, portanto, também somos
responsáveis por nós mesmos. Sendo assim, a filosofia se torna imprescindível para a
tomada de consciência de que somos os responsáveis pelo sentido de nossa existência.
Uma pergunta surge diante do que está sendo discutido: como ensinar para a tomada
de consciência? Contemplando a abordagem de ensino em perspectiva, o ser humano
é um ser de relações. Sendo assim, a tomada de consciência está nas relações que se
estabelece com o mundo, com os outros e consigo mesmo.

Quando dizemos que o homem se escolhe a si, queremos dizer que


cada um de nós se escolhe a si próprio; mas com isso queremos
também dizer que, ao escolher-se a si próprio, ele escolhe todos os
homens. Com efeito, não há dos nossos atos um sequer que, ao criar
o homem que desejamos ser, não crie ao mesmo tempo uma
imagem do homem como julgamos que deve ser. Escolher ser isto ou
aquilo é afirmar ao mesmo tempo o valor do que escolhemos,
porque nunca podemos escolher o mal, o que escolhemos é sempre
o bem, e nada pode ser bom para nós sem que o seja para todos.
(SARTRE, 1973, p. 12-13).

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Na relação com o outro descobrimos nosso ser existente. É na relação com o outro que
tomamos consciência da presença dos valores necessários para a vida. Eis, a
necessidade da presença filosófica, da tomada de consciência da realidade, para uma
vida alicerçada em valores e princípios que caminha de forma justa na busca de
sentido da existência humana.

De modo geral, identificamos nos filósofos existencialistas algumas


concepções básicas, cujo traço comum é a visão dramática do destino
do homem. Vejamos: O ser humano é representado como uma
realidade imperfeita, aberta e inacabada, que foi “lançada” ao
mundo e vive sob-riscos e ameaças. A liberdade humana não é plena,
mas condicionada às circunstâncias históricas da existência. Nesse
sentido, o querer não se identifica ao poder. O homem age no
mundo superando ou não os obstáculos que se lhe apresentam. A
vida humana não é um caminho linear em direção ao progresso, ao
êxito e ao crescimento, ao contrário, ela é marcada por situações de
sofrimento, como doença, dor, injustiças, luta pela sobrevivência,
fracasso, velhice e morte. Assim, não podemos ignorar o sofrimento
humano, a angústia interior, a exploração social. É preciso considerar
esses aspectos adversos da vida e encará-los de frente (CONTRIM,
1993, p. 276).

Sendo assim, para o existencialismo, a educação verdadeira é aquela que possibilita ao


homem a construção de sua essência a partir da liberdade. A educação deve
transformar o homem em ser autêntico, e não em apenas mais um no rebanho.
Portanto, a educação para a reprodução do sistema não serve para o existencialismo,
pois transforma o homem em inautêntico, já que o ensina a respeitar a moral da
aceitação e da submissão.

Se, com efeito, a existência precede a essência, não será nunca


possível referir uma explicação a uma natureza humana dada e
imutável; por outras palavras, não há determinismo, o homem é
livre, o homem é liberdade. (...) É o que traduzirei dizendo que o
homem está condenado a ser livre. Condenado porque não se criou a
si próprio; e, no entanto, livre porque, uma vez lançado ao mundo, é
responsável por tudo quanto fizer. (SARTRE, 1973, p. 15).

O homem, na sua liberdade, se torna responsável pela construção do seu ser. Essa
ênfase na individualidade, no entendimento de nós mesmos, das nossas angústias,
medos e frustrações são notáveis nas influências do existencialismo na educação.
Assim que, os existencialistas defendem a diversidade na educação, não apenas no
currículo, mas também no modo como os conteúdos são ensinados. Alguns
estudantes, afirmam que, aprendem melhor por um método, e outros por um método
diferente. Muitas opções de aprendizado devem estar abertas a eles.

42
6.5 O Pensamento Contemporâneo de Educação

No pensamento contemporâneo, encontramos filósofos defendendo o currículo


existencialista, devido a sua importância frente aos aspectos da existência humana.
Por meio das humanidades, os existencialistas tentaram despertar os indivíduos para o
sentido da vida e do mundo que os circundam. A área de ciências humanas desponta
em um currículo existencialista, porque lidam com os aspectos essenciais da existência
humana, como as relações entre as pessoas, o aspecto trágico, assim como o feliz, da
vida humana, e os aspectos absurdos, assim como os significativos, da vida.

A filosofia contribui para que o aluno compreenda o sentido das coisas e das relações
que estabelece com o mundo, com os outros e consigo mesmo. A busca pelo sentido
da existência humana sempre esteve presente na história do pensamento. No entanto,
se na Antiguidade as respostas eram encontradas na crença de um destino traçado
pelos deuses, a presença da filosofia traz novos ensinamentos e o ser humano passa a
ser responsável por conduzir sua existência.

Saiba Mais

Os filósofos Heidegger (1889-1976), Merleau-Ponty (1908-1961) e Jean-Paul Sartre


(1905-1980) viveram no Século XX e presenciaram duas grandes Guerras Mundiais. O
sentido da vida, a angústia, o tempo, o ser e o existir constituem o centro de suas
reflexões filosóficas dando origem ao Existencialismo.

Conclusão

O estudo do marxismo, pragmatismo e existencialismo demonstrou as mudanças do


pensamento filosófico no mundo contemporâneo. Mudanças no pensamento
significam mudanças na prática. Pensar que o homem é um ser histórico social
determinado pelas condições materiais em que vive significa tomar consciência que
ele é o protagonista da própria história e que se faz necessário agir no trabalho de
transformação de si mesmo e do mundo em que vive. Por outro lado, quando
concebemos que o ser humano aprende fazendo, a transformação acontecerá na
escola mudando a maneira de ensinar e de fazer educação. Por último, pensar que a
existência precede a essência e que o ser humano está jogado no mundo totalmente
livre para fazer suas escolhas, significa dizer que a educação é responsabilidade de
todos e que é construída de forma consciente e participativa.

43
Referências

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo:
Moderna, 2006.

______.; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo:
Moderna, 2003.

CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2003.

COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia: ser, saber e fazer. 8. ed. reform. São
Paulo: Saraiva, 1993.

DEWEY, John. Democracia e educação: introdução à filosofia da educação. 3. ed. Trad.


Godofredo Rangel e Anísio Teixeira. São Paulo: Nacional, 1959.

GALLO, Sílvio. Filosofia: experiência do pensamento. São Paulo: Scipione, 2014.

GUIRALDELLI JR., Paulo; CASTRO, Susana de. A nova filosofia da educação. Barueri, SP:
Manole, 2014.

PORTO, Leonardo Sartori. Filosofia da educação. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.
(Coleção passo-a-passo).

REALE, Giovani; ANTISERI, Dario. História da filosofia: de Spinoza a Kant, v. 4. São


Paulo: Paulus, 2004.

SARTRE, Jean Paul. O existencialismo é um humanismo. In: ______. O existencialismo


é um humanismo; A imaginação; Questão de método. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
(Os pensadores; v. 45).

SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia. São Paulo: Cortez, 1992.

______. Filosofia da educação: construindo a cidadania. São Paulo: FTD, 1994.

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Você também pode gostar