Abrir portas onde

e se erg
erguem
rg
guem muros Director: David Pontes Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023 • Ano XXXIV • n.º 12.221 • Diário • Ed. Porto • Assinaturas 808 200 095 • 1,50€
Direc

Exposição Projecto do PS
Restaurantes devem ter
Walt, Mickey a certa hora do dia refeições
mais baratas de excedentes
e amigos Política, 12
nos cem anos Colisão foi simulada
da Disney Os anéis de Saturno serão fruto
do embate de duas luas geladas
em Londres há cem milhões de anos
Cultura, 28/29 Ciência e Ambiente, 30

Registo de trabalhadores domésticos

passa a ser online a partir de Novembro
Entrevista Ministra Ana Mendes Godinho diz que interrupção de baixa médica vai dispensar ida aos serviços
• “Fiscalização inteligente” avança até Änal do ano para detectar falsos recibos verdes Economia, 24 a 26
MOHAMMED SABER/EPA

Gaza
Guerra
para “mudar
a situação
para sempre”
vai deixar
“devastação
humana”
UE acerta
posição sobre
situação no
Médio Oriente

Cinco livros
para entender
o conflito israelo-
-palestiniano
Destaque, 2 a 5

Polónia Salários Moçambique Miranda Sarmento

Oposição terá Disparidades Renamo “Este OE o que dá
condições para entre homens denuncia com uma mão
governar mesmo e mulheres. Será “megafraude” tira ainda mais
com vitória do PiS discriminação? nas autárquicas com a outra”
Mundo, 20 Sociedade, 14/15 e Editorial Mundo, 22 Política, 10/11
ISNN-0872-1556
2 • Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023
Destaque Tema do destaque
Guerra para “mudar
a situação para
sempre” vai deixar
“devastação
humana” em Gaza
Nos cenários menos dramáticos, analistas militares falam em
“semanas muito sangrentas”, para os palestinianos e para os
militares israelitas — e num futuro incerto e cheio de riscos
Sofia Lorena
U
ma guerra para “demolir” o
Hamas”, um grupo de
“monstros sedentos de san-
gue”, em Gaza, prometeu o
primeiro-ministro, Benjamin
Netanyahu, na primeira reu-
nião do “governo de unidade” forma-
do esta semana em Israel. “Vamos
chegar aos túneis, vamos chegar a
todos os operacionais do Hamas, e
enquanto não os tivermos eliminado,
não teremos completado a missão”,
disse o ministro da Defesa, Yoav
Gallant. “Será uma guerra poderosa,
será uma guerra mortífera, será uma
guerra precisa e será uma guerra que
vai mudar a situação para sempre.”
A população de Gaza tem vivido a
paz sob cerco e em intervalos da guer-
ra, mas muitos no enclave palestinia-
no falam de uma violência sem pre-
cedentes. “Cobri quatro guerras aqui.
Nunca antes vi algo assim”, escreve
Rushdi Abu Alouf, jornalista da BBC,
a partir de Khan Younis, a cidade do
Sul de Gaza “de joelhos, com um
milhão de bocas para alimentar”.
Alouf e a família fazem parte das
centenas de milhares que deixaram
o Norte da Faixa após as ordens israe-
litas. Sábado, a ONU já falava em um
milhão de deslocados. “Por mais gra-
ves que tenham sido as guerras ante-
riores, nunca vi ninguém a morrer de
fome e de sede. Agora isso é uma pos-
sibilidade real”, aÆrma, descrevendo
uma cidade a transbordar de gente.
“Nem uma gota de água, nem um
grão de cereais, nem um litro de com-
bustível pôde entrar na Faixa de Gaza
nos últimos oito dias”, disse aos jor-
nalistas Philippe Lazzarini, comissá-
rio geral da agência da ONU para os
refugiados palestinianos. “Enquanto
eu falo, os meus colegas estão a dei-
xar de conseguir prestar ajuda huma-
nitária.”
Israel garantiu aos Estados Unidos
que ia restabelecer o fornecimento de
água em Gaza, mas o Governo expli-
cou depois que isso só tinha aconte-
cido num “ponto especíÆco” — a úni-
ca conÆrmação de água a correr nas
torneiras chegou depois de Beni Shei-
la, um município de 32 mil pessoas
no Sul da Faixa de Gaza.
Mas a grande urgência é mesmo o
combustível, como tem sublinhado
Lazzarini. Sem isso nem as estações
de tratamento de água nem as bom-
bas para encher os tanques funcio-
nam. Ter água potável em Gaza é tão
complicado que muitos compram
água engarrafada todos os dias, mas
essa já se esgotou.
A guerra de 2014, que incluiu uma
invasão terrestre, durou 50 dias:
segundo um inquérito da ONU, as
operações militares israelitas mata-
ram então 551 crianças — um número
que já tinha sido ultrapassado ontem,
no nono dia de uma ofensiva que
Israel diz mal ter começado. Ao todo,
morreram pelo menos 2670 pessoas
no pequeno enclave entre Israel, o
Egipto e o Mediterrâneo. A protecção
civil disse que havia mais de mil desa-
parecidos debaixo dos escombros dos
bombardeamentos.
Até onde poderá Israel ir? Quais são
realmente os seus objectivos? Amos
Yadlin, ex-general da Força Aérea que
cheÆou os serviços secretos militares
israelitas, admite que não seja possí-
vel destruir o Hamas ou qualquer
“tentativa futura de ter um poder
militar” na Faixa de Gaza “até à últi-
ma Kalashnikov”, mas assegura que
será eliminada a sua capacidade para
reconstruir a “força que atacou
Israel”, num assalto que em algumas
horas fez mais de 1300 mortos.
“Vamos demonstrar a todos os nos-
sos inimigos quais são as consequên-
cias se pensarem fazer o mesmo”,
aÆrmou Yadlin, numa entrevista à
revista Time. “Por isso é que vai ser
muito sangrento em Gaza nas próxi-
mas semanas. Tanto em termos
humanitários como militares.”
“Cobri quatro
guerras aqui.
Nunca antes vi algo
assim”, diz Rushdi
Abu Alouf, jornalista
da BBC em Khan
A protecção civil de Gaza diz que há mil pessoas debaixo dos escombros
Num discurso às tropas no Sul de
Israel, o chefe do estado-maior das
IDF (Forças de Defesa de Israel),
tenente-general Herzi Halevi, falou
em atacar “todos” os membros do
Hamas “em todo o lado”, incluindo
casas ou túneis. “Vamos fazer algo em
grande, importante. Mudar a situação
por muito, muito tempo… Esta é uma
grande missão, um grande privilégio.
Façam-no com excelência”, pediu.
Mini-Gaza
Numa análise publicada no site da
CNN, o repórter Ben Wedeman, que
acompanhou várias operações terres-
tres no território, sublinha que os
militares “sempre evitaram as áreas
mais urbanizadas e com mais densi-
dade populacional”, como os oito
campos de refugiados (onde os ana-
listas dizem que estarão alguns dos
155 reféns feitos pelo Hamas), focan-
do-se em “controlar as periferias das
áreas urbanas”.
“A táctica foi sempre mover-se
depressa, controlar o máximo de ter-
ritório possível, mas evitar combates
rua a rua e casa a casa, onde um opo-
nente mais fraco pode tirar partido
do terreno”, diz o correspondente.
Claro que Israel prepara há anos
uma nova invasão, treinando as suas
forças “num centro de guerra urbano
multimilionário no Sul do país, conhe-
cido como mini-Gaza”, lembra a BBC.
Mas se há coisa que o ataque de 7 de
Outubro mostrou é que o Hamas tam-
bém se preparou para tudo. Israel
acredita que o grupo conta com 30
mil combatentes equipados com
“armas automáticas, lança-rockets e
mísseis antitanque”, para além de
“grandes reservas de rockets” e dos
pequenos drones que tem produzi-
do”, enumera a emissora britânica.
As IDF — 170 mil membros em per-
manência reforçados, entretanto,
com mais de 300 mil reservistas —
estão concentradas junto à fronteira.
A Força Área, segundo o comandan-
te, major-general Tomer Bar, ainda
está a “remover todas as ameaças
possíveis” para permitir “a melhor
invasão terrestre possível, com liber-
dade operacional”. E de acordo com
o jornal The Times of Israel, oÆciais
das IDF têm sobrevoado Gaza para
verem os pontos em que as tropas vão
entrar e em que direcções seguirão.
Há poucas dúvidas sobre o que aí
vem, mas ninguém sabe o que se
segue — quando é que será suÆciente
ou o que sobrará de Gaza. Marc
Lynch, cientista político da Universi-
dade George Washington, escreve na
revista Foreign Affairs que não acre-
dita que os líderes que dizem estar ao
lado de Israel “tenham pensado seria-
mente nas potenciais implicações de
uma guerra em Gaza, na Cisjordânia
ou na região”. Muito menos, acres-
centa, nas “implicações legais e
morais da punição colectiva dos civis
de Gaza e da inevitável devastação
humana que está por vir”.
NotíciasFlix
Seis luso-israelitas terão sido raptados pelo
Hamas; outro está ferido e houve duas mortes
P
elo menos seis israelitas
com passaporte português
que tinham sido dados
como desaparecidos desde
dia 7 estarão, afinal, nas mãos do
Hamas. A informação foi
avançada pela CNN Portugal e
pela SIC Notícias, citando esta
última fonte da Comunidade
Israelita do Porto. Para além dos
seis reféns, os ataques do
fim-de-semana passado do
Hamas a Israel fizeram duas
vítimas mortais e um ferido de
nacionalidade portuguesa.
Os reféns do movimento
radical palestiniano com
passaporte português são
Moshe Sadyaan (26 anos), Gilad
Bem Yehuda, Idan Shtivi (ambos
de 28), Liraz Assulin (38), Orin
Bira (53) e Tair Bira (21), estes
últimos, pai e filha.
Idan Shtivi estava no festival
de música trance no deserto do
Negev, em Israel, junto à
fronteira com Gaza, um dos
pontos de ataque dos elementos
armados do Hamas. No local
ficaram pelo menos 250 corpos,
mas o Hamas terá feito dezenas
MUTASEM MURTAJA/REUTERS
de reféns. Duas jovens israelitas
com passaporte português que
estavam também no festival
foram inicialmente dadas como
desaparecidas. Porém, Dorin
Atias, de 22 anos, e Rotem
Neumann, de 25, foram depois
identificadas entre as vítimas
mortais no local do massacre. O
luso-israelita gravemente ferido
no fim-de-semana passado é
Menachem Hillel Ben Kalifa, de
22 anos, internado no Hospital
Hadassah Ein Kerem (Jerusalém).
Estes cidadãos terão adquirido
a dupla nacionalidade através do
regime especial que vigora há
dez anos para os descendentes
dos judeus sefarditas que foram
expulsos de Portugal.
Ao PÚBLICO a embaixada de
Israel em Lisboa disse não poder
confirmar as identidades de
“vítimas mortais, reféns,
desaparecidos ou feridos neste
conflito” que tenham dupla
nacionalidade israelita e
portuguesa porque o Governo não
terá essa listagem dos israelitas
que tenham também outras
nacionalidades. Maria Lopes
Conselho Europeu recupera a iniciativa
Líderes da UE põem fim à cacofonia
com declaração sobre o Médio Oriente
Rita Siza, em Bruxelas
A
o Æm de uma semana de
cacofonia, contradições e
correcções entre os mem-
bros do executivo comuni-
tário e os líderes europeus,
o presidente do Conselho
Europeu, Charles Michel, divulgou
uma declaração de quatro parágra-
fos que pretende esclarecer de uma
vez por todas, e sem margem para
dúvidas, qual é a posição comum
“oÆcial” da União Europeia sobre o
brutal ataque do Hamas em Israel e,
mais genericamente, sobre “a situa-
ção que se vive no Médio Oriente”.
“A União Europeia condena com
a maior veemência possível o Hamas
e os seus ataques terroristas brutais
e indiscriminados em Israel”, e reco-
nhece, com igual veemência, “o
direito de Israel a defender-se, em
conformidade com o direito huma-
nitário e internacional”, diz a decla-
ração, subscrita pelos chefes de Esta-
do e governo da União Europeia.
Os líderes reiteram a importância
de “assegurar a protecção de todos
os civis em todas as circunstâncias”,
e de “prestar ajuda humanitária
urgente” à população debaixo de
cerco total em Gaza. “Estamos pron-
tos a continuar o nosso apoio, em
coordenação com os parceiros”,
garantem.
De resto, os líderes europeus con-
Ærmam o seu compromisso com a
solução de dois Estados como garan-
tia de uma “paz duradoura e susten-
tável”, e o seu interesse em recupe-
rar o processo negocial, sublinhando
a “necessidade de estabelecer um
amplo diálogo com as autoridades
palestinianas legítimas”, juntamente
com os “parceiros regionais e inter-
nacionais que possam ter um papel
positivo a desempenhar na preven-
ção de uma nova escalada” — que
tem de ser evitada, concluem.
A curta declaração, que se seguiu
à convocação de uma cimeira
extraordinária de líderes, que se rea-
lizará amanhã à tarde, por videocon-
ferência, foi a forma encontrada por
Charles Michel para recuperar a lide-
rança política, e restabelecer a cre-
dibilidade institucional da UE, depois
de uma semana desastrosa para Bru-
xelas, em que a comunicação de
crise falhou redondamente, e o ali-
nhamento total da presidente da
Comissão Europeia com o Governo
de Israel a colocou em rota de colisão
com as capitais.
Não só Ursula von der Leyen se
manteve em silêncio perante as “tra-
palhadas” do comissário húngaro,
como decidiu “apagar” o presidente
Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023 • 3
do Conselho Europeu da fotograÆa
que publicou na sua conta da rede
social X (antigo Twitter) durante um
momento solene de homenagem às
vítimas do Hamas organizado pela
presidente do Parlamento Europeu,
com quem viajou até Israel, para
demonstrar in loco a solidariedade
da UE e o seu apoio ao Governo
israelita.
As mensagens, e as acções, da pre-
sidente da primeira Comissão “geo-
política” desagradaram de tal manei-
ra que do palácio do Eliseu, em
França, seguiu um recado, em jeito
de aviso, para lembrar a Ursula von
der Leyen que a posição dos Esta-
dos-membros é expressa pelo Con-
selho Europeu, e que a política exter-
na e de segurança da UE tem um
porta-voz, que é o alto representan-
te Josep Borrell.
Coube ao chefe da diplomacia
europeia desmentir o comissário
europeu para a Vizinhança e Alarga-
mento, Olivér Varhelyi, que sem
consultar o executivo, ou a presiden-
te da Comissão, decidiu anunciar
uma suspensão do apoio ao desen-
volvimento da UE à Palestina. AÆnal,
o que vai acontecer será uma revisão
de procedimentos, de forma a garan-
tir que as transferências comunitá-
rias não chegam a projectos que
possam beneÆciar o Hamas.
Também teve de ser Borrell a assi-
nalar a preocupação europeia com
as acções do Governo israelita “que
violam os princípios do direito
humanitário internacional”: o cerco
total a Gaza e o corte do abasteci-
mento de água, alimentos, combus-
tível e energia, que deixa a sobrevi-
vência de mais de dois milhões de
pessoas em risco.
Há um ano, Ursula von der Leyen
designou como um crime de guerra
a campanha de bombardeamento
das infra-estruturas energéticas da
Ursula von der Leyen com Charles Michel
Ucrânia pela Rússia. “Cortar a água,
electricidade e aquecimento a mulhe-
res e crianças quando o Inverno se
aproxima é um acto de puro terror”,
aÆrmou, num discurso no Parlamen-
to Europeu, em Estrasburgo.
Ajuda humanitária
Mas a presidente da Comissão Euro-
peia demorou a recordar que a lei
internacional humanitária deve ser
respeitada: em modo de contenção
de danos, Von der Leyen anunciou,
numa mensagem publicada no sába-
do na rede social X (antigo Twitter)
a triplicação, de 25 para 75 milhões
de euros, da ajuda humanitária que
a UE vai distribuir este ano na Faixa
de Gaza.
Uma mensagem publicada depois
de uma controversa visita a Israel, e
onde Von der Leyen voltou a não
incluir uma referência à protecção
de civis, ou uma palavra sobre a
“proporcionalidade” da resposta de
Israel — uma questão que foi levan-
tada durante uma reunião ministe-
rial da NATO (ao que o PÚBLICO
apurou, essas preocupações terão
sido transmitidas pela presidente da
Comissão nas reuniões que manteve
com o primeiro-ministro, Benjamin
Netanyahu, e o Presidente de Israel,
mas não foram incluídas em nenhu-
ma das comunicações oÆciais).
Para analistas e diplomatas em
Bruxelas, a reacção da União Euro-
peia à crise do Médio Oriente expôs
os limites da Comissão geopolítica e
da UE como um verdadeiro actor
global: a “vantagem” de ser o maior
doador internacional da Palestina foi
“desperdiçada” em sucessivos erros
de comunicação, e o protagonismo
assumido por Von der Leyen põe em
risco a “boa vontade” do chamado
Sul Global em cooperar com a UE no
apoio à Ucrânia contra a agressão da
Rússia.
REUTERS
4 • Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023
Destaque Conflito no Médio Oriente
Cinco livros
Como entender o conflito israelo-palestiniano?
Uma biblioteca breve pode ajudar
Isabel Lucas
Os livros continuam
a ser um refúgio para
os que procuram entender
o que parece sem sentido:
a guerra
A
mos Oz costumava recorrer
aos escritores russos para
falar de amor e de guerra.
Parecia que tinham a mes-
ma natureza. Continham
em si o conÇito, a tensão, a
potência da violência. Oz, o autor
paciÆsta desaparecido em 2018, foi
dos que escreveram mais sobre a
cisão violenta entre Israel e a Pales-
tina, partindo, quase sempre, do
quotidiano e, através dele, dando a
conhecer o que foram as últimas
décadas na relação entre os dois
povos. Como David Grossman ainda
o faz. No ensaio, na história, prolife-
ram títulos. Muitos não estão tradu-
zidos, mas entre os que existem é
possível fazer uma selecção breve,
diversa, e entrar na complexidade
que nos trouxe aqui, a este Outubro
de 2023, a um dia 7 que vai Æcar na
história da humanidade, e do mal.
Desfazer de mitos
A ideia de que o Estado de Israel se
instalou num território meio desola-
do, empobrecido, historicamente
sem direcção, é discutida e desmon-
tada num livro que contesta a narra-
tiva oÆcial com base no sionismo. Os
Dez Mitos sobre Israel, da autoria do
historiador judaico, dissidente sio-
nista, Ilan Pappé (n. Haifa, 1954, pro-
fessor na Universidade de Exeter,
Reino Unido), foi publicado pela pri-
meira vez nos 50 anos do aniversário
de Israel e é um estudo profundo
sobre uma terra disputada por mui-
tos povos e de como milénios de
história ajudaram a formar uma
identidade. Profusamente documen-
tado, este ensaio põe em confronto
várias teses antagónicas sobre as
suas origens e o percurso históricos
e traz novas versões, perspectivas,
textos, que permitem complexiÆcar
a interpretação tantas vezes simplis-
ta sobre o que divide israelitas e
Dez Mitos
sobre Israel
Ilan Pappé,
tradução
de Miguel Mata
Edições 70,
240 páginas
palestinianos neste momento da
nossa história.
Uma história longa
Como reacção ao recrudescer do
movimento sionista que reclamava o
direito a um país situado no lugar
onde se situava a Palestina, o presi-
dente da Câmara de Jerusalém escre-
veu então uma carta ao fundador do
sionismo, alertando-o para os riscos
que resultariam da escolha daquele
lugar como a terra do povo de Israel.
Ao contrário do que se dizia, a Pales-
tina não era um território sem popu-
lação e, a instalar ali o Estado de
Israel, começava um processo de
colonização não sem resistência.
Palestina — Uma Biografia começa
com esse episódio, narrado por um
descendente do homem que assinou
essa carta, o historiador americano-
palestiniano Rashid Khalidi. Escritor,
ensaísta, catedrático especialista em
temas do Médio Oriente, Khalidi é um
profundo conhecedor da realidade
Palestina —
Uma Biografia
Rashid Khalidi,
tradução
de Carla Ribeiro,
Ideias de Ler,
404 páginas
israelo-palestiniana e um opositor ao
extremismo do Hamas. Aqui, temos
não apenas uma narrativa de factos
ordenados de forma cronológica,
mas uma leitura apaixonante sobre
o drama que alastra somando milhões
de vítimas civis em décadas.
O incómodo banal
Em 2021, o jornalista norte-america-
no de origem judaica Nathan Thrall
publicava uma reportagem na New
York Review of Books. Começava por
contar o entusiasmo de uma criança
palestiniana de cinco anos com o
piquenique que iria fazer no dia
seguinte com outras crianças da sua
idade. Ele e o pai compraram comi-
da. O jornalista especiÆca, dando
detalhes de um quotidiano normal,
antes de um acidente brutal que viti-
mou muitas crianças e feriu outras.
O episódio serve ao jornalista para
intercalar factos da vida de uma
família com o horror do colectivo em
que vivem israelitas e palestinianos,
Um Dia na Vida
de Abed Salama
Nathan Thrall,
tradução de Sara
Veiga,
Livros Zigurate,
208 páginas
JUSTIN LANE/EPA
construindo um retrato lúcido, vivo,
de uma realidade que banalizou o
sofrimento tornando-o quase invisí-
vel até este momento, o momento
em que o terror voltou com uma
dose de violência inédita. Thrall
humaniza-a e, com isso, escancara-a,
tornando-nos insuportavelmente
cúmplices.
Que identidade?
“No nosso bairro o mundo era geral-
mente chamado ‘o grande mundo’,
mas tinha também outros apelidos:
esclarecido. Exterior. Livre. Hipócri-
ta.” A voz é de uma criança que ten-
ta situar-se num universo onde pales-
tinianos e judeus sionistas se juntam
e se dividem, ainda antes da II Guer-
ra Mundial. Como partilham espaços
culturais, ao mesmo tempo que se
olham de lado nas ruas de Jerusalém.
O romance autobiográÆco de um dos
grandes escritores israelitas, Amos
Oz (1939-2018), tornou-se um clássi-
co sobre o dilema que é sentir-se de
duas culturas, uma identidade ferida
por um autor-escritor que lutou pela
paz, por um entendimento entre
palestinianos e israelitas.
A banalidade insuportável
Manifestações pró-israelita e Em 1960, a Ælósofa e pensadora Han-
pró-palestiniana em Times nah Arendt, judia, refugiada nos
Square, Nova Iorque Estados Unidos, ofereceu-se à New
Yorker para cobrir o julgamento de
Adolf Eichmann. Nazi, um dos artíÆ#
ces do Holocausto, fora capturado
pela Mossad a 11 de Maio desse ano
em Buenos Aires e levado até à justi-
ça do Estado de Israel. Seria julgado
pelas maiores vítimas do horror da
No ensaio, na II Guerra Mundial. Da viagem de
Arendt a Jerusalém, saiu uma série
história, proliferam de artigos que deram origem a um
livro publicado em 1962 e protagoni-
títulos. Muitos não zado por uma noção agora célebre:
a banalidade do mal. Arendt, a partir
estão traduzidos, do retrato que faz daquele homem
em tribunal, e do modo como o Esta-
mas é possível fazer do de Israel através dos seus juízes
uma selecção breve se comportou, defende que o mal
está tanto no agressor quanto no
para entrar na agredido que usa no castigo a mesma
violência que condena. Polémico, o
complexidade que livro tem feito escola e é um dos mais
instigantes documentos sobre a natu-
nos trouxe aqui reza humana.
Uma História de Eichmann em
Amor e Trevas Jerusalém
Amos Oz, Hannah Arendt,
tradução de Lúcia tradução de Ana
Liba Mucznick, Correia da Silva,
D. Quixote, Ítaca,
648 páginas 448 páginas
 Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023 • 5

A esperança dos inocentes

Setembro, quando lhe perguntaram
Opinião se não sentia remorsos pela morte
de mulheres nas Torres Gémeas.
Também para os dirigentes do
Hamas não há israelitas inocentes,
como para Netanyahu e a
Álvaro Vasconcelos
extrema-direita israelita não há
de luta pacíÆca pela igualdade de
direitos, inspiradas pela luta contra
o Apartheid, como os sit-ins, em
2021, contra a demolição de casas
em Jerusalém Oriental, os
movimentos feministas, as greves
ou a campanha de boicote de
com um Estado binacional”.
Os meios de ação reÇetiam, nos
últimos anos, a prioridade dada à
luta pelos direitos e a uma vida
digna e em paz. Para os
movimentos anticoloniais, era
legítimo o uso da violência contra
Israel. Já tinha sido assim com a
segunda Intifada, que, ao contrário
da primeira, foi acompanhada por
atentados contra civis. Acabam por
facilitar o objetivo de Netanyahu e
da extrema-direita israelita de
colonização da Cisjordânia e de

P
erante o horror, o que palestinianos inocentes. Israel. Uma dessas manifestações, as forças militares ocupantes, mas tornar inviável a autodeterminação
escrever, o que dizer? Como Que cidadãos normais de uma no essencial pacíÆca, foram as os movimentos pelos direitos dos palestinianos.
não cair no cinismo e no sociedade pacíÆca e democrática, a marchas de Gaza (2018-2019) cívicos adotam outras formas de Também nós temos de ser
pessimismo? Como não ver milhares de quilómetros da tragédia contra o bloqueio da região, que luta. Mesmo assim, é bom lembrar capazes de aÆrmar a crença na
nesta tragédia, feita de do Médio Oriente, não sintam foram violentamente reprimidas, que os movimentos de libertação humanidade comum, quando a
fanatismo e de morte, um empatia pelas vítimas do Hamas, com centenas de palestinianos nacional das colónias portuguesas, tragédia do Médio Oriente se
terrível sinal dos tempos? em nome de um posicionamento mortos, o que valeu a Israel mais com exceção da UPA, sempre projeta cá dentro, como agora em
Poderá a tragédia dar origem à geopolítico, é muito mais uma condenação na Assembleia recusaram a violência contra os França. Para a União Europeia,
solução para a reconciliação alarmante. O niilismo ameaça as Geral da ONU. Também em Gaza se colonos civis, o que lhes permitiu minada pelo discurso racista,
israelo-palestiniana? Neste sociedades democráticas, e assistiu a manifestações pacíÆcas ganhar a simpatia de muitos essencialmente antimuçulmano,
momento, esta questão parece ser Portugal não escapa a esse vírus pelos direitos humanos contra o portugueses. mas também pelo antissemitismo, a
de uma ingenuidade absoluta. A mortal. Trata-se de recusar a Hamas, perante a indiferença da Os atos de terror do Hamas questão é existencial.
situação parece dar razão aos existência de valores éticos que comunidade internacional. enfraquecem o campo da paz, em A União tem de superar a
cínicos e niilistas de todas as devem condicionar a ação humana. O que os paciÆstas palestinianos e acusação de hipocrisia, de dois
tendências. Se nos é difícil nomear a Os Æns não justiÆcam os meios, mas israelitas tinham compreendido é pesos e duas medidas, que está a
natureza da tragédia e do horror, o os meios explicam os Æns. que o objetivo de dois Estados era torná-la inaudível num mundo
que pensarão os palestinianos e Que outro caminho possível é cada vez mais ilusório. O objetivo pós-ocidental. De imediato, signiÆca
israelitas que conseguem escapar defendido por israelitas e passou a ser pôr termo ao Apartheid defender o direito à vida dos
ao desejo de vingança, que palestinianos. Os exemplos são e conquistar a igualdade de direitos, habitantes de Gaza, condenar o
acreditam na paz e na possibilidade numerosos, como a israelita Nurit no quadro de uma unidade política crime de expulsão coletiva e exigir a
de vida em comum na terra mártir Peled-Elhanan, que depois de a sua mal deÆnida, possivelmente um O niilismo ameaça libertação dos reféns. A condenação
em que querem continuar a viver.
Tenho procurado ouvir as vozes da
Ælha ter sido vítima de um ato de
terror escreveu que a tragédia que
Estado laico, multicultural. Já em
1999 Edward Said, em artigo para o as sociedades da brutal violação dos direitos
humanos pelo Hamas deve inspirar
liberdade da Palestina e de Israel,
num diálogo marcado pela enorme
se abateu sobre ela reforçou a sua
“convicção de que só a coexistência
New York Times, considerava que,
dado o colapso de um governo de
democráticas, um discurso que assuma a
universalidade dos direitos
dificuldade de encontrar palavras
que não firam.
entre os dois povos porá termo ao
ciclo de violência e morte de
Netanyahu, era preciso questionar a
solução de dois Estados que saíra do
e Portugal não fundamentais e o respeito por Israel
da carta das Nações Unidas e das
O nosso primeiro dever é assumir inocentes”. processo de paz — “Oslo deÆniu as escapa a esse suas convenções e resoluções.
que a desumanização de
palestinianos e israelitas é o
Nos últimos anos, muitos
palestinianos optaram por formas
condições para a separação, mas a
verdadeira paz só pode resultar vírus mortal Fundador do Forum Demos
primeiro passo para justificar o MOHAMMED SALEM/REUTERS
terror. Daí que seja imperativo ético
condenar inequivocamente os atos
de terror do Hamas. O carácter
hediondo dos crimes do Hamas,
porém, não justifica a
desumanização dos palestinianos e
não pode impedir a condenação
igualmente inequívoca dos
bombardeamentos israelitas sobre a
população de Gaza e a sua punição
coletiva.
Após a guerra dos seis dias, em
1967, Sartre afirmou que estava com
os israelitas com o coração e com os
palestinianos com a razão. Era um
reflexo do sentimento na Europa,
onde ainda estavam bem presentes
as consequências devastadoras do
antissemitismo. Nos anos que se
seguiram a causa palestiniana foi
ganhando o coração de muitos.
Hoje, é fundamental equilibrar o
coração e a razão.
É sinal inquietante dos tempos
que vivemos que se tenha, de novo,
banalizado a tal ponto o niilismo, a
negação absoluta da humanidade
em nome de objetivos considerados
históricos. Em suma, que se
considere que não há inocentes —
uma divisa dos terroristas do século
XXI.
“Não há americanos inocentes”,
afirmou Bin Laden depois do 11 de
6 • Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023

Espaço público

Igualdade de pensamento entre mulheres e homens

C
laudia Goldin ganhou este
Editorial mês o Prémio Nobel da
Economia com uma
investigação sobre a
desigualdade laboral entre
homens e mulheres. A economista
fez uma investigação recorrendo a
Marta Moitinho Oliveira dados históricos, que vão desde o
século XVIII até à actualidade, na
qual aborda as razões da diferença
salarial entre homens e mulheres.
Quando justificou a atribuição do
galardão, a Academia Sueca explicou
que o ponto central na diferença
salarial nos dias de hoje está entre
Há muito trabalho homens e mulheres que têm
para fazer. Não só de exactamente a mesma ocupação e
que essa diferença acontece
promoção de igualdade principalmente devido ao impacto
de tarefas, mas também do nascimento do primeiro filho.
de igualdade de Os salários dos homens e mulheres
pensamento. Para que até têm um nível próximo no início
de carreira, mas a chegada de um
a gestão familiar não filho tem impacto na evolução da
ocupe apenas o espaço carreira de uma mulher. Os salários
mental das mulheres das mulheres podem crescer, mas
menos do que os dos homens.
Um estudo de 2010 de Claudia
Goldin mostra que as mulheres
assumem uma maior
responsabilidade nas tarefas
domésticas do que os homens, o que
limita mais a progressão das suas
carreiras. A esta ideia junta-se outra:
no mercado de trabalho dos dias de
hoje, as empresas de vários sectores
requerem mais disponibilidade aos
seus trabalhadores.
O problema é que, no caso das
mulheres, ao assumirem um papel
mais activo nas tarefas domésticas,
Æcam com menos disponibilidade
para dar resposta a esta exigência do
mercado de trabalho. Este facto
acaba também por gerar leituras
estereotipadas para quem contrata,
que olha para tudo isto com uns
óculos de uma cultura patriarcal.
O Inquérito Nacional aos Usos do
Tempo de 2015, promovido pela
Comissão para a Igualdade no
Trabalho e no Emprego, mostrava,
por exemplo, que as mulheres gastam,
por dia, mais 1h30 do que os homens
em tarefas domésticas. Mas mostrava
ainda outra coisa: que uma grande
parcela das mulheres considera que a
parte que lhes cabe na lida da casa e
a tratar dos Ælhos é justa, mesmo
quando trabalham o dobro.
A cultura da disponibilidade quase
total — que ganhou peso no mercado
de trabalho mas que é um reÇexo do
que se passa nas várias dimensões
das sociedades actuais — tem de
mudar, mas há muito trabalho a
fazer junto dos homens, junto das
mulheres, mas muito especialmente
junto das crianças de hoje, que são
os patrões, chefes e trabalhadores
de amanhã.
Um trabalho não só de promoção
de igualdade de tarefas, mas também
de igualdade de pensamento. Para
que o planeamento das tarefas
domésticas e a gestão da vida das
crianças não ocupem apenas o
espaço mental das mulheres.

CARTAS AO DIRECTOR
Carmo Afonso, Israel,
Palestina e o Livre
A minha amiga Carmo Afonso
escreveu na sua última crónica, a
propósito da situação em Israel e
na Palestina, que “[Rui Tavares]
assume uma posição divergente
da posição maioritária à
esquerda” e que “Rui Tavares
disse coisas parecidas com as que
a direita diz”. Enquanto “por
outro lado”, lamenta ela, temos a
habitual perseguição ao PCP e ao
Bloco” por causa das declarações
destes partidos sobre os ataques
terroristas em Israel e a escalada
de guerra em Gaza.
Não sei onde é possível
desencantar que a minha posição
seja “divergente da posição
maioritária à esquerda”, e julgo até
ter dados que me permitem
aÆrmar exatamente o contrário.
Vejamos: tive esta passada
semana a oportunidade de
apresentar na Câmara Municipal
de Lisboa, enquanto vereador do
Livre, um voto sobre a situação em
Israel e na Palestina e de fazer uma
intervenção em sua defesa. O
vereador João Ferreira, do PCP,
declarou duas vezes rever-se no
essencial da minha declaração e os
dois vereadores deste partido
votaram, tal como o Bloco de
Esquerda, a favor da moção do
Livre que teve, aliás, aprovação
unânime do PCP ao CDS. No dia
seguinte, na Assembleia da
República, perante uma moção do
Livre sobre o mesmo assunto na
Comissão de Negócios
Estrangeiros, o BE, pelo seu
deputado José Soeiro, votou a favor
de todos os pontos do voto
apresentado pelo Livre. O PS
também votou a favor em ambos os
votos apresentados pelo Livre
tanto na Câmara Municipal de
Lisboa como na Assembleia da
República. Conclusão: não só as
posições do Livre não são
“divergentes da posição
maioritária à esquerda”, como
foram as únicas de um partido de
esquerda capazes de colher
unanimidade à esquerda. Julgo que
esta prova Æca feita.
Poderia alegar-se que talvez a
nossa resolução fosse um texto
anódino ou cheio de “coisas
parecidas com as que a direita diz”,
como escreveu a Carmo. Nada mais
errado.
É anódino instar ao
“cumprimento das resoluções da
Organização das Nações Unidas
que instam ao Æm da ocupação da
Palestina, ao Æm do colonatos
ilegais e ao Æm do sistema de
discriminação sistemática de
palestinianos, que observadores
internacionais designam como
apartheid”? É anódino apelar a
que “não seja cortado o acesso de
água, comida ou energia e que
sejam criados corredores
humanitários para que seja
prestada toda a ajuda e apoio ao
povo palestiniano na Faixa de
Gaza”? É anódino fazer aprovar
um voto na Assembleia da
República que diz que “a União
Europeia deve reconhecer a
independência da Palestina”?
Tudo isto constava dos votos do
Livre. Aliás, isto não é de hoje, mas
sim desde a fundação do partido.
Em 2015, e pela minha boca, o
Livre foi o único partido a exigir o
reconhecimento da independência
da Palestina para formar o que viria
a ser a “geringonça”. Nenhum
outro partido de esquerda o fez. A
Carmo estava lá e viu.
Finalmente pode dar-se o caso
de que o problema não esteja na
condenação, mas apenas nas
“palavrinhas” que se usam, como
lamenta a Carmo. Mas, nesse caso,
e se toda a gente aÆnal condena os
ataques terroristas do Hamas,
como ela alega, não é culpa minha
que de alguns essa condenação só
se tenha vindo a perceber que o era
uns dias depois. Nestes assuntos, as
“palavrinhas” nunca são só
“palavrinhas”. Se se quer
condenar, condena-se com
palavras que se entendam.
Um ataque terrorista é um
ataque terrorista. Um crime de
guerra é um crime de guerra. Uma
limpeza étnica é uma limpeza
étnica. Quem condena qualquer
um desses crimes condena
sempre, a toda a hora, venham de
onde vierem. E essa consistência é
hoje mais importante do que
nunca. Esquerda que é esquerda
reconhece isso, declara-o e
condena quando tem de condenar.
E se a direita disser o mesmo, bem
haja à direita por uma vez.
“As palavras são importantes”,
como dizia Nanni Moretti. Não
consta que seja um cineasta de
direita.
Rui Tavares, deputado
e fundador do Livre
A (in)dignidade humana
O homem é um problema sem
solução. Quando o poder assenta
em armamento, o que pode a
dignidade humana esperar do ser
racional que é a espécie humana?
A História universal é um
manancial de guerras e conquistas
territoriais. Quando o jornalista
Jamal Khashoggi foi desmembrado
na embaixada da Arábia Saudita,
na Turquia, houve sanções? Houve
corte de relações diplomáticas
com a Arábia Saudita? O dinheiro
pesa mais do que a dignidade.
Quando Macron estendeu o tapete
vermelho ao líder máximo da
Arábia Saudita, mostrou a
coerência da União Europeia. O
que podemos esperar dos
dirigentes políticos actuais?
Ademar Costa, Póvoa de Varzim

As cartas destinadas a esta secção têm de ser enviadas em exclusivo para o PÚBLICO e não devem exceder as 150 palavras (1000 caracteres). Devem indicar o nome, morada e contacto
telefónico do autor. Por razões de espaço e clareza, o PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e editar os textos e não prestará informação postal sobre eles cartasdirector@publico.pt

ESCRITO NA PEDRA Já não há desculpa
Se não
acabarmos Ainda ontem
com a guerra,
a guerra acabará
connosco
H. G. Wells
(1866-1946), Miguel Esteves Cardoso
D
escritor inglês antes as pessoas culpavam os
pais ou irmãos mais velhos
pela educação musical que
tinham: aqueles discos todos
lá em casa, aliados ao tédio das
O NÚMERO longas horas sem saber o que
20-40
fazer, produziam surpresas que nunca mais
se esqueciam.
Mas, mesmo nessa pobreza, havia a rádio:
quem não tivesse discos tinha os programas
de rádio de quem tinha.
Hoje, a riqueza é inimaginável: é tão vasta
que um só ser humano é incapaz de explorá-la.
A Internet está cheia de música boa, não só
grátis, como instantânea. E não só
Os novos imigrantes brasileiros instantânea, como instantaneamente
em Portugal vêm de grandes partilhável. Não são só programas de rádio.
cidades e têm entre 20 e 40 São podcasts feitos por quem sabe e conhece.
anos, segundo a coordenadora São gravações feitas pelos próprios artistas. É
da plataforma de dados de uma maravilha.
brasileiros no exterior Depois, há o Spotify e as outras estrimeiras,
ZOOM MALTA
Participante na corrida de beneficência Colour My Run envolvida num banho de espuma durante o percurso, na localidade
de Ta’ Xbiex, em Malta. Ao longo de 5 quilómetros, os participantes são pulverizados com várias cores a cada quilómetro
ou aplicações de streaming, igualmente
espantosas.
O Spotify é um milagre: não é só ter uma
discoteca quase inÆnita de música. É poder
andar com ela no bolso, para ouvi-la onde
quer que se esteja. E poder partilhar a música
que se ouve com qualquer outra pessoa, sem
trabalho nem sacrifício.
Imagine-se como era antes: era preciso Æcar
sem o disco para o emprestar. Era preciso
enviá-lo pelo correio. Custava tempo e dinheiro,
tal como comprar o próprio disco. E o disco
vinha sempre um bocadinho estragado, quando
era devolvido — se tivéssemos essa sorte.
Esperava-se, poupava-se, apanhavam-se
transportes. Quem tinha discos snobava
quem não tinha. A música era usada para
diminuir e afastar.
Esta riqueza ouve-se na música que se ouve
no Spotify: nunca houve, nem de longe, tantos
bons artistas musicais a fazer boa música nova.
As audições de música – as inspirações
para a criação musical – tornaram-se
genuinamente eclécticas, pessoais,
diferentes, extraordinárias.
Então porque é que os tops são tão maus
como eram dantes? Porque é que a música
que se ouve por aí é tão má? Como é que o
gosto popular conseguiu resistir à riqueza?
Como é que conseguiu cingir-se ao que os
avós já conheciam? É o outro milagre.
DARRIN ZAMMIT LUPI/REUTERS
Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023 • 7
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8 • Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023
Espaço público
As vidas palestinianas contam!
Manifesto de apoio e solidariedade com o povo palestiniano
C
ondenamos a morte de civis, de
todos os civis, vítimas dos
ataques dos últimos dias. E
recordamos que Israel incumpre
o direito internacional
ocupando, contra todas as
resoluções das Nações Unidas, Gaza, a
Cisjordânia, Jerusalém Oriental e os Montes
Golã; desde 1948 desrespeita a Resolução 194
da Assembleia Geral da ONU que reconhece
o direito ao retorno a todas/os as/os
refugiadas/os palestinianas/os. Fá-lo com a
conivência de todos os seus aliados,
especialmente os ocidentais, e isto ao Æm de
75 anos de opressão e discriminação que
conÆguram, à luz das convenções
internacionais, uma tentativa de genocídio
do povo palestiniano. É neste quadro que
vimos manifestar o nosso apoio à liberdade e
ao direito de autodeterminação da Palestina
e exigir do Governo português que cumpra o
n.º 3 do art. 7º da Constituição da República
(“Portugal reconhece o direito dos povos à
autodeterminação e independência e ao
desenvolvimento, bem como o direito à
insurreição contra todas as formas de
opressão”) e faça cumprir o n.º 2 do art. 1.º
da Carta das Nações Unidas (“Fomentar
entre as nações relações de amizade
baseadas no respeito pelo princípio da
igualdade de direitos e de autodeterminação
dos povos, e tomar as medidas adequadas
para fortalecer a paz universal”) de que o
Estado Português é subscritor, e se empenhe
num processo que possa contribuir para o
Æm do regime de colonização, ocupação e
apartheid em vigor na Faixa de Gaza,
Cisjordânia, Jerusalém Oriental e também
em Israel, e para que seja garantido o direito
de retorno aos cerca de 6 milhões de
refugiadas/os palestinianos/as expulsas/os
do território onde nasceram e viveram elas/
es e os seus antepassados.
À luz dos princípios do direito
internacional e dos direitos humanos, é
intolerável a reiterada normalização de atos
que visam punir coletivamente toda a
população palestiniana da Faixa de Gaza,
que militares e colonos israelitas estão já a
ampliar à Cisjordânia, a Jerusalém Oriental e
às comunidades palestinianas que vivem
dentro do Estado de Israel, perpetrando
execuções sumárias que se vêm sucedendo.
Não aceitamos esta visão colonial e racista,
na qual apenas as vidas das/os israelitas
importam, e em que as/os palestinianas/os
são descritas/os como “animais” (Yoav
Gallant, ministro da Defesa de Israel),
pessoas sem nome, sem passado, sem direito
a uma perspetiva de futuro em liberdade
naquele que é o seu território ancestral. Em
nome do “direito à defesa” de Israel, há
muito que os seus aliados vêm impedindo
que se sancione e castigue o Estado de Israel
e os colonos pelas campanhas de assassinato
indiscriminado de população civil, nas quais,
segundo dados da ONU (jan. 2008- set.
2023), por cada israelita morto são mortas/
os 21 palestinianas/os, isto é, as/os
palestinianas/os representam 95% de todas
as vítimas mortais. Nem os/as palestinianos/
as, nem ninguém, tem de justiÆcar ou pedir
que se reconheça a sua humanidade e, por
isso, nos recusamos a subscrever uma
narrativa em que a história que nos contam
começa sempre que uma vida israelita é
perdida, omitindo 75 anos de vidas
palestinianas perdidas.
Há mais de um século que a Palestina e o
povo palestiniano estão sujeitos a um
domínio colonial que ainda não cessou e
que o apoio ocidental a Israel só ajuda a
prolongar e agravar. Com esse apoio, o
Estado de Israel foi estabelecido em 1948
O caminho para a paz
passa pelo respeito
dos direitos do povo
palestiniano, com
a criação do Estado
da Palestina, livre
e independente
MUTASEM MURTAJA/REUTERS
sobre a Nakba (“Catástrofe”), um processo
(em curso) iniciado com expulsão e
expropriação de mais de 750.000
palestinianas/os das suas casas, aldeias e
cidades, a que se seguiram décadas de
regime militar de exceção, de destruição de
ecossistemas, de culturas ou de qualquer
outro modo de subsistência, de
empobrecimento, detenção e
encarceramento sem acusação nem direito
a defesa, de morte, tortura e incapacitação
causadas pelos bombardeamentos, pelas
incursões militares e pela carta branca
reconhecida aos colonos para agirem como
bem entenderem em qualquer parte do
território. Quando se descreve os
acontecimentos terríveis do dia 7 de
outubro como “o pior trauma coletivo por
que passou Israel”, perguntamo-nos porque
se ocultam 75 anos de traumas coletivos que
foram e continuam a ser impostos ao povo
palestiniano. Não contem connosco para
colaborar no assassinato da memória da
tragédia palestiniana.
A meses de celebrarmos os 50 anos da
revolução do 25 de Abril de 1974,
expressamos a nossa solidariedade com
quem, na Palestina e no mundo, defende o
Æm do labirinto de opressão, segregação,
ódio e degradação humana que o Estado de
Israel, com a conivência dos seus aliados,
construiu com betão, aço e torniquetes. Ao
“dobrar a aposta”, como está a suceder
neste momento, com mais massacres e com
o encurralamento e a humilhação diária a
que se expõe milhões de palestinianas/os,
Israel e os seus aliados estão a criar as
condições para que dias de violência se
repitam indeÆnidamente. Não aceitamos
que o nosso Governo se solidarize em nosso
nome com o que chama “o direito de Israel
se defender”, confundindo-o com o direito
que este se arroga a espezinhar e matar. Não
se acuse de ambiguidade quem defende o
direito do povo palestiniano à
autodeterminação, enquanto se cala a
condenação de 75 anos de violência
colonial.
É por isto que nos solidarizamos com a
luta de libertação da Palestina, e exigimos
que se abra de uma vez por todas um
caminho que vá além deste statu quo
insuportável feito de opressão e hipocrisia.
Sem descolonização, sem justiça e sem
liberdade não existem caminhos para a paz!
O caminho para a paz passa pelo respeito dos
direitos do povo palestiniano, com a criação
do Estado da Palestina, livre e independente,
no cumprimento do direito internacional e
das resoluções das Nações Unidas.
Meio século depois da guerra colonial, a
maior homenagem que podemos prestar aos
homens e mulheres que dedicaram as suas
vidas a lutar pela emancipação dos povos
por todo o mundo não é considerar as suas
ações como simples património moral, mas
reivindicar hoje o que elas/es reivindicaram
durante décadas: a liberdade e o direito à
autodeterminação de todos os povos.
Primeiros subscritores:
Bruno Costa Investigador; Fernando Rosas
Historiador; Manuel Loff Historiador
Ana Sofia Ferreira Historiadora; André Freire
Politólogo e professor do ISCTE-IUL; Alfredo
Caldeira Investigador; Alma Rivera Deputada do
PCP à Assembleia da República; António Filipe
Professor universitário; Bruno Dias Deputado do
PCP à Assembleia da República; Carolina Costa
Atleta do Sporting Clube de Portugal; Cristina
Nogueira Educadora de infância e dirigente
sindical; Delgado Fonseca Coronel, militar de
Abril e membro da Direção do MPPM; Daniel
Bernardino Ativista laboral; Diana Andringa
Jornalista; Isabel Allegro de Magalhães
Professora universitária; Isabel do Carmo
Médica; Joana Craveiro Encenadora e
dramaturga; João Coelho Dirigente da CGTP-IN;
João Pimenta Lopes Deputado do PCP no
Parlamento Europeu; João Rodrigues Professor
universitário; José Neves Professor auxiliar
NOVA-FCSH; José Soeiro Deputado do BE à
Assembleia da República; Luís Trindade
Historiador; Maria do Céu Guerra Atriz e
presidente do MPPM; Paula Godinho
Antropóloga; Pedro Pezarat Correia Oficial
general reformado; Pilar del Rio Presidenta da
Fundação José Saramago; Sandra Pereira
Deputada do PCP no Parlamento Europeu; Shahd
Wadi Investigadora e ativista; SOS Racismo

O contentor da saúde
Ricardo Arroja
C
om ano e meio de atraso, eis que
os estatutos fundadores da
Direcção Executiva do Serviço
Nacional de Saúde (DE-SNS)
foram Ænalmente publicados. O
Presidente da República, até
aqui várias vezes crítico de tanto atraso,
revelou-se, desta feita, cauteloso, avisando
que ainda teria de analisar o diploma do
Governo, “longo e elaborado”, antes de o
poder comentar. De facto, olhando para a
nova estrutura orgânica, que contemplará 11
departamentos, 4 serviços e até 28 unidades
orgânicas, o caso não será para menos. De
resto, alguns especialistas, ouvidos pela
imprensa, revelaram-se também lestos a
distanciarem-se do diploma, destacando que
ainda haveria muitas perguntas por
responder. Entre tanta hesitação, houve, no
entanto, uma Ægura pública que, à margem
da apresentação dos estatutos da DE-SNS,
decidiu fazer uma aÆrmação contundente: o
senhor primeiro-ministro (PM).
Que aÆrmou então o senhor PM sobre o
SNS? AÆrmou o seguinte: “Nos próximos
dois anos vai haver tensão”! A contundência
da aÆrmação surpreendeu-me, porque o
líder do executivo é conhecido, não pelo seu
pessimismo, mas por ser um optimista
crónico e às vezes ligeiramente irritante. O
que terá então acontecido para a mudança
de tom? A mesma reserva revelada pelos
especialistas numa primeira reacção ao
diploma do Governo? A sensação, que por
vezes perpassa para a opinião pública, de
que a nova estrutura orgânica poderá não
sair do papel? Ou simplesmente o cálculo
político de alguém que pretende moderar as
expectativas associadas à grande reforma do
SNS prometida pelo Governo?...
Independentemente da inclinação que possa
ter para qualquer uma daquelas hipóteses,
há uma coisa que é certa: o
primeiro-ministro está no cargo há 8 anos e
agora é que nos avisa que “vai haver tensão”
no SNS… Francamente!
O estado do SNS é talvez o resultado mais
explícito da falta de governação do Partido
Socialista (PS), tentativamente disfarçada
com uma proposta de reforma difícil de
interpretar. Os hospitais que funcionavam
bem, essencialmente aqueles que eram
geridos por entidades privadas em regime de
parceria público-privada, e um ou outro no
sector público, foram arrasados. Nuns casos,
por imposição ideológica dos “compagnons
de route” do senhor PM, a esquerda radical
que o PS instrumentalizou para tomar o
poder e a quem o Governo teve de dar
alguma coisa em prejuízo dos cidadãos.
Noutros casos, por incapacidade política do
Ministério da Saúde, que, para além de
andar sempre a correr atrás do prejuízo, não
tem rasgo, nem dinâmica, nem estofo para se
fazer sentir face ao jugo centralizador das
Finanças. Oito anos de governação e o
melhor que o PM tem para propor aos
portugueses é sugerir que estes evitem as
urgências do SNS.
Talvez simbolicamente, a DE-SNS continua
instalada em contentores no exterior do
Hospital de São João, no Porto. Mas em breve,
a avaliar pela dimensão que poderá vir a
assumir, a DE-SNS terá de se mudar para
outro lugar. Os dois anos de pré-aviso do PM
poderão ter a ver com isso. Onze
departamentos, 4 serviços e 28 unidades
orgânicas demoram o seu tempo, até todos
estarem instalados, contando também que há
muita gente, proveniente de outros serviços e
instituições do Estado, que será integrada na
DE-SNS. Bem vistas as coisas, não há
optimismo que resista, por mais crónico e
irritante que seja. Na verdade, Æca a ideia de
que estamos a trocar um sistema centralizado
por outro tão, ou ainda mais, centralizado.
Agora seria a altura de descentralizar e não de
fazer o contrário. Para além disso, com tantas
modiÆcações administrativas, de entidades
que, não sendo desmanteladas, serão
absorvidas por outras, a probabilidade de
boicote interno será elevada. É só ver o que
aconteceu com o estabelecimento do Banco
Português de Fomento.
A falta de visão
de conjunto
e a incapacidade
de governar virado para
o futuro, esquecendo
o calculismo político
de curto prazo,
são trágicas
Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023 • 9
O tempo passa depressa. O PM, que
acordou para a falta de médicos e para o
envelhecimento da classe médica, com o
correspondente impacto no pessoal
disponível para fazer serviço de urgência,
andou distraído 8 anos. Há muito tempo,
desde que iniciou funções, que organizações
independentes, como a OCDE, têm vindo a
alertar para a discrepância entre o número
de pessoal médico inscrito na respectiva
ordem proÆssional e o número
efectivamente em exercício e em idade de
fazer serviço de urgência. Resultado? Para
além da guerra que comprou com os
médicos, que também não têm de se sujeitar
a propostas indignas como são as 250 horas
extraordinárias (para compor horários
normais sem escala), em 2023 teremos uma
despesa com pessoal na Saúde quase 10%
superior àquela que tinha sido inicialmente
projectada há um ano.
A falta de visão de conjunto e a
incapacidade de governar virado para o
futuro, esquecendo o calculismo político de
curto prazo, são trágicas. No caso do
orçamento da Saúde, os mais de 500 milhões
de euros a mais em despesa com pessoal este
ano (a diferença entre o valor inscrito na
proposta de OE2023 e a sua execução
estimada, constante na proposta de OE2024)
serão agora compensados, gastando menos
do que inicialmente se previa na aquisição de
bens e serviços (quiçá, material e
medicamentos) e, surpresa (!), na aquisição
de bens de capital (investimento público na
Saúde). Infelizmente, nem o Governo
evidencia capacidade de planeamento, nem
a opinião pública exibe especial sentido
crítico. Caso contrário, o PM não teria o
à-vontade para aÆrmar o que aÆrmou, com
tamanho desplante. Antecipando a próxima
revelação do senhor PM sobre o SNS, admito
que ele possa acordar um dia destes para a
situação de falência técnica em que se
encontram quase todos os hospitais do SNS.
Também já tem anos.
O Orçamento do Estado deveria
contribuir para uma discussão informada e
construtiva sobre cada área governativa. A
Saúde seria certamente beneÆciária desse
maior escrutínio e capacitação dos
cidadãos. No entanto, continuamos a não
ter em Portugal uma abordagem de
orçamentação por objectivos que seja
transversal a todas as áreas governativas. Em
termos concretos, a orçamentação por
objectivos distingue-se pelo facto de propor
para cada ministério não apenas uma
aportação orçamental, mas também
objectivos a cumprir em troca dos fundos
alocados. É assim que fazem os países
desenvolvidos, essencialmente quase todos
os países da OCDE, excepto nós e mais um
ou outro (à última contagem, estávamos na
companhia da Grécia, sem surpresa
também). Trata-se da metodologia
recomendada pelas melhores práticas e que
permitiria aferir duas coisas: a) a eÆcácia do
Governo na obtenção das metas propostas e
b) a eÆciência do gasto público, associada à
acção do Governo. Estamos à espera de quê?
Economista e professor do Iscte
Saltar
Fábrica
de criadas
Afonso Cruz
E
u, em pequena, dava saltos com
os braços estendidos e esperava
que Deus me agarrasse no ar. A
Alexandra, sentada à mesa da
cozinha, escrevia à máquina, de
forma ritmada, intervalando
algumas frases com goles de chá: De facto,
tinha a sensação de que Ele me suspendia por
um momento, um átomo de tempo suspenso,
agarrava-me por debaixo dos braços como
qualquer adulto faria, mas apenas num
instante, quase imperceptível de tão eterno.
Há uns indígenas na Amazónia que dão saltos
quando se cumprimentam [um gole de chá].
Todos temos um certo asco ao chão.
Tendemos a procurar a leveza e encontramos
consolo em segundos de elevação. Mas depois
crescemos. As velhas não saltam, pois não?
Sejam imoderadas, meus futuros cadáveres,
desensinem-se do que vos ensinarem, saltem
[um gole de chá]. Saltem. Isso permite ver,
durante um instante, para lá dos vossos
muros. Meus queridos anjos, meus futuros
cadáveres, recusem ser peças de decoração,
se for isso que vos exigirem, rejeitem ser o
bibelô do lar, e neguem também, se for isso
que vos exigirem, ser apenas o sustentáculo
da vassoura e do pano do pó, não sejam o
sexo decorativo, se for isso que vos exigirem,
não nasceram para criadas, e o peito não é
apenas uma máquina de dar de mamar, por
dentro há um coração e o seu único
batimento sério é a liberdade, se é para viver
somente a limpar a sujidade, façam-no ao
pontapé e aos gritos, que este país silencioso
bem precisa de ser esfregado com essa lixívia
e essa palha-de-aço que provém da revolta.
E andem devagar, sejam deambulantes e
sem pressas [um gole de chá], andar assim é
desenhar poesia, quando encontramos a
velocidade do caracol, surgem perguntas,
experimentem andar assim, essa lentidão
será a porta da rua: rodem a maçaneta e
saiam em liberdade. Porém, andem rápido
noutras ocasiões para chegarem ao vosso
destino e deixarem para trás o medo.
Desassosseguem-se e amem a rua como se
ama um lar, será nela que nos libertaremos da
tirania, não será a ouvir a telefonia e a
engomar camisas. Ora-sus.
A Alexandra interrompeu-se uns segundos,
passou a língua pelo nome de Deus, bebeu
um gole de chá, dobrou em quatro o papel
onde escrevia e colocou-o num envelope.
Não perca o podcast com
Fábrica
de criadas os textos lidos pelo autor.
AFONSO
CRUZ
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10 • Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023
Política PSD mais próximo da luta dos professores
“Este Orçamento o que
dá com uma mão tira
ainda mais com a outra”
Miranda Sarmento O líder da bancada do PSD defende a
“especiÄcidade” dos professores: “Há poucos funcionários
públicos que são colocados a 300 ou 400 quilómetros de casa”
Entrevista
Ana Sá Lopes Texto
Rui Gaudêncio Fotografia
Joaquim Miranda Sarmento era o
“Mário Centeno” de Rui Rio que,
depois, Luís Montenegro foi
buscar para líder parlamentar do
PSD, quando decidiu substituir o
anterior chefe da bancada, Paulo
Mota Pinto. Em entrevista ao
PÚBLICO, Miranda Sarmento
defende que o excedente
orçamental devia servir (mas não
todo) para baixar ainda mais os
impostos às famílias e que só uma
reforma da administração pública
— como aconteceu com a reforma
da Autoridade Tributária —
resolverá o problema da despesa.
Como é que o professor
Joaquim Miranda Sarmento
consegue definir um
Orçamento “pipi”?
Este Orçamento é sobretudo um
orçamento que, em primeiro
lugar, vai a reboque de muitas das
propostas do PSD, nomeadamente
em sede de IRS e na descida desse
imposto. Mas é um Orçamento na
linha daquilo que são os
orçamentos dos governos do dr.
António Costa que prometem
muito, dizem que vão fazer muita
coisa, muito investimento público,
muitas medidas, muitas reformas
e depois, quando passa um ano e
olhamos para a execução daquilo
que foi prometido, é sempre uma
execução muito baixa. O que
temos neste Orçamento, como
tivemos em orçamentos
anteriores, são sobretudo
exercícios de propaganda e uns
tapa-remendos — usando aquilo
que é uma carga Æscal cada vez
mais elevada — para problemas
que são estruturais na sociedade
portuguesa, como é o caso da
pobreza ou o caos no SNS ou os
problemas na escola pública.
Mas era capaz de classificar o
Orçamento como “pipi” e
“betinho”?
Eu classiÆcaria como um
Orçamento que tem um
“powerpoint” muito bonito, mas
depois não é nem o Orçamento
que responde às necessidades dos
portugueses, nem um Orçamento
em que — tendo em conta aquilo
que é o historial do Governo — se
tenha grandes expectativas na
execução.
Discorda do líder do seu
partido, quando classificou o
Orçamento com aquelas
palavras um bocado exóticas…
Não é uma questão de discordar. O
que o presidente do PSD quis
dizer foi exactamente isto. É um
Orçamento que tem uma
apresentação e uma marca —
chame-se-lhe propaganda ou
marketing ou o que se quiser
chamar— muito forte, em que no
papel parece tudo muito bem e
muito bonito, mas depois olhamos
e as medidas são curtas e sabemos
que a execução das medidas, se
seguirmos o historial dos últimos
oito anos, são sempre muito
limitadas.
Há pessoas no PS que dizem
que seria difícil Miranda
Sarmento votar contra este
Orçamento no sentido de que,
ao pôr o défice e a dívida como
o alfa e o ómega, o Governo
capturou o discurso do PSD.
Aliás, começou por dizer que o
Orçamento foi a reboque de
algumas medidas do PSD…
Nomeadamente no IRS, mas isso
já aconteceu no ano passado.
Apresentámos um programa de
emergência social e o Governo a
seguir apresentou o seu programa.
Isso tem acontecido em várias
áreas, em que o PSD apresenta as
suas propostas e os seus
programas e o Governo vem a
seguir e, muitas vezes, segue
parte, ou grande parte, daquilo
que nós apresentamos. Mas isso é
positivo para o país. É pena o
Governo ser reactivo e não
pró-activo. Mas para ser pró-activo
está cá o PSD para apresentar as
medidas que faremos quando
formos governo.
A consolidação orçamental e a
redução da dívida são sem dúvida
muito importantes e quem tenha
lido tudo o que eu escrevi nos
últimos dez anos compreenderá a
minha posição. O problema é a
forma como lá chegamos.
Estamos a fazer uma consolidação
orçamental com base em três
vectores e estão os três errados:
pouco crescimento económico — a
economia portuguesa para o ano
vai crescer 1,5%. Se olharmos para
os últimos 25 anos, a economia
portuguesa não consegue crescer
de forma sustentada e prolongada
no tempo mais do que 2% ao ano.
Segundo, uma carga Æscal cada
vez maior. Nos outros
orçamentos, pelo menos no
papel, a carga Æscal descia e
depois na execução aumentava.
Agora, nem isso acontece. Até no
papel a carga Æscal aumenta. E
terceiro, uma absoluta
degradação dos serviços públicos,
seja na saúde, educação, justiça,
transportes, até na defesa. Ora,
isto é uma consolidação
orçamental muito pouco
sustentável, como foi a do dr.
Mário Centeno entre 2016 e 2019,
que assentou basicamente na
redução de despesa de juros, no
aumento da carga Æscal e no corte
do investimento público.
O aumento da carga fiscal é
motivado por haver mais
pessoas empregadas a fazer
descontos…
O senhor ministro das Finanças Estamos a falar do imposto
diz isso, mas isso tem dois erros automóvel para carros
de base. O primeiro é que a carga anteriores a 2007…
Æscal é um rácio. Neste Orçamento O IVA zero termina em Dezembro
a carga Æscal aumenta, mesmo e aumenta substancialmente a
excluindo as contribuições para a receita. Estamos a falar dessa
Segurança Social. Sendo um rácio,
O que o presidente coisa extraordinária que é um dia
o PIB aumenta, mas para o rácio do PSD quis dizer é anunciar a redução das portagens
aumentar signiÆca que o para depois vir-se a descobrir que
numerador da receita Æscal está a
que é um a redução das portagens é feita à
aumentar mais do que o Orçamento em que custa do aumento do IUC (Imposto
denominador PIB. O segundo Único de Circulação). Isso já é
aspecto é que, quando olhamos
no papel parece habitual nos orçamentos do dr.
para a decomposição do aumento tudo muito bem e António Costa, que carregam a via
da carga Æscal, temos de facto Æscal pela via dos impostos
uma redução ligeira da carga Æscal
muito bonito, mas indirectos. A principal discussão
nos impostos sobre o rendimento depois olhamos em economia é sempre entre
— nomeadamente com as medidas equidade e eÆciência. E o que é
do IRS —, mas temos um aumento
e as medidas extraordinário é que um governo
maior do que essa redução do IRS são curtas do Partido Socialista, que nos
dos impostos indirectos. primeiros seis anos foi apoiado

por partidos de extrema-esquerda
— ainda mais socialistas ou
comunistas do que o Partido
Socialista —, preÆra a tributação
por via indirecta, que é
socialmente muito mais injusta,
mas politicamente tem um efeito
anestesiante muito grande, do que
a tributação via IRS. O que
dizemos é que este Orçamento vai
atrás da medida do PSD na
redução do IRS, mas depois o que
dá com uma mão tira ainda mais
com a outra por via dos impostos
indirectos.
O ministro das Finanças acusa
o PSD de prometer tudo a todos
e ser despesista. Eram
acusações que estávamos
habituados a ouvir o PSD fazer
ao PS. António Nogueira Leite
disse que era difícil estar
contra este Orçamento.
Tenho uma enorme consideração
pelo António. Mas eu acho que é
fácil estar contra este Orçamento,
não contra o seu objectivo Ænal,
mas contra a forma como ele lá
chega. Falta de crescimento
económico, cada vez mais
impostos, cada vez piores serviços
públicos.
Em 2023, a receita Æscal que será
arrecadada, mais do que estava
previsto no Orçamento de 2023,
mais do que aquilo que o Governo
dizia que precisava de cobrar para
realizar a despesa pública e as
funções do Estado — e vai realizar
menos despesa pública do que
aquela que colocou no Orçamento
—, essa receita Æscal andará à volta
Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023 • 11
de três mil milhões de euros a
mais do que o Governo previa. É
preciso devolver uma parte
substancial dessa receita a mais às
famílias. Neste momento, isso é
ainda mais urgente, porque as
famílias portuguesas estão
asÆxiadas pelo aumento do custo
de vida e em muitas famílias pelo
aumento da prestação da casa. É
socialmente injusto o Estado
cobrar mais do que aquilo que
previa — que precisava para
executar a despesa — e não
devolver esse excedente às
famílias.
O Governo executou menos
despesa: só de investimento foram
menos 1500 milhões. Se
estivéssemos a ter excedentes
orçamentais com uma carga Æscal
mais baixa, os serviços públicos a
funcionar e a economia a crescer,
então os excedentes orçamentais
eram muito importantes para
reduzir a dívida pública. Mas
estamos a falar de excedentes
orçamentais quando as famílias
portuguesas estão com a corda ao
pescoço e isso não faz sentido.
Não faz sentido um excedente
orçamental com os serviços
públicos no estado em que
estão?
O excedente orçamental ter sido
atingido da forma como foi e com
as famílias portuguesas na
situação difícil em que estão…
Devia parte substancial dele, não
estou a dizer todo, ser devolvido
às famílias através do IRS.
Mas como se pagam
professores, aos hospitais?
Na parte da despesa tem de haver
reformas estruturais. Há mais de
dez anos que digo que a reforma
mais importante que o país tem
para fazer é a reforma das
Finanças Públicas, a reforma da
gestão Ænanceira do Estado, que
começou em 2015, com a nova Lei
de Enquadramento Orçamental, e
nos últimos oito anos tem estado
praticamente parada. No
Orçamento, aparecem sempre uns
quadros muito bonitos sobre a
reforma Ænanceira do Estado e
depois nada é executado. Aqui
está um exemplo como a teoria e a
prática deste Governo divergem
substancialmente.
Vai tudo para a dívida…
Mas esta reforma não custa muito
Há mais de dez dinheiro. Com 100 a 150 milhões
anos que digo que de euros implementa-se. Eu
costumo dizer que se tivéssemos
a reforma mais investido na parte da gestão da
importante que despesa — na Direcção-Geral do
Orçamento e todas as direcções
o país tem para que em cada ministério tratam da
fazer é a reforma despesa — um décimo do que
investimos na Autoridade
das Finanças Tributária e na cobrança de
Públicas receita, que é talvez o único
serviço que hoje funciona bem, na
lógica de cobrar. Se tiver uma
reclamação à Autoridade
Tributária, já não funciona bem.
Se quiser um reembolso de
imposto, já não funciona bem.
Mas na parte de cobrar é, de facto,
eÆcaz. Se tivéssemos investido
1/10 nos últimos 30 anos na gestão
da despesa, hoje teríamos uma
despesa pública mais eÆciente e
por isso menos carga Æscal e
menos dívida pública. Essa
reforma dá muito trabalho a
implementar. Implica enfrentar
muitas resistências, muita aversão
à mudança, mas do ponto de vista
Ænanceiro não custa muito.
Já fizeram as contas à
devolução do tempo de serviço
dos professores? O Governo diz
que não tem dinheiro.
Isso é extraordinário no nosso
debate político. Quem tem de
fazer as contas e tem de as
divulgar ao país, para a discussão
poder ser transparente, é o
Governo. Quanto é que custa? O
Governo já atirou tantos números
que quase podemos fazer uma
lotaria. O Governo, se tivesse de
forma séria na negociação, diria:
“Meus senhores. Para os
professores isto custa X, para os
professores e para o resto da
administração pública isto custa
Y.” E é com esta base que o país
tem de decidir o que é que faz. Os
sindicatos têm-nos dito que a
medida para os professores custa
entre 250 a 300 milhões de euros.
Já Æzemos um pedido à UTAO
(Unidade Técnica de Apoio
Orçamental) e ao Conselho de
Finanças Públicas para avaliarem
quanto é que custa a contagem de
tempo de serviço dos professores
e nas restantes carreiras da
administração pública. E se a
premissa dos 250 a 300 milhões
for verdadeira, é possível em
cinco anos recuperar o tempo de
serviço dos professores à
cadência de 20% em cada ano, o
que signiÆcaria, pondo a conta
nos 300 milhões, 60 milhões por
ano, num orçamento para a
Educação que são seis mil
milhões no ano passado. Este
ano, 6,4.
E as outras carreiras?
Há aqui especiÆcidades na
Educação que importa considerar.
Primeiro, há poucos funcionários
públicos que são colocados a 300
ou 400 quilómetros de sua casa.
Segundo, temos um problema
grave de atracção de professores e
temos uma situação na escola
pública que, nos últimos quatro
anos — também por via da
pandemia —, se degradou muito.
Se não Æzermos nada, há uma
geração que terá hoje 11 anos e que
entrou para a primária em 2019 e
que perdeu basicamente a escola
primária, que foi feita ou em
pandemia ou sem professores ou
com greves. Estou a falar dos
alunos da escola pública. Esta
geração tem graves falhas de
aprendizagem.
12 • Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023
Política
Desperdício: PS quer obrigar supermercados
a doar alimentos em Ɗm de prazo a IPSS
Maria Lopes
Novas regras deverão
entrar em vigor em Janeiro
de 2025. Haverá incentivos
fiscais no combate ao
desperdício
1.890.000.000 quilos foi a quantida-
de de alimentos desperdiçados em
Portugal em 2020, uma média de 184
quilos por habitante. Apesar da cria-
ção da Comissão Nacional de Comba-
te ao Desperdício Alimentar em 2016
e da respectiva estratégia nacional de
2018, e de a legislação ter sido alimen-
tada com medidas de sensibilização
da prevenção do desperdício como a
doação, o PS quer tornar esse comba-
te mais efectivo.
Para assinalar o Dia Mundial da Ali-
mentação que se comemora hoje, o
PS entregou no Parlamento um pro-
jecto de lei que impõe obrigações aos
restaurantes e aos supermercados
que passam, por exemplo, pela dis-
ponibilização de recipientes para os
clientes levarem as sobras e por acor-
dos com as IPSS para canalizar os
alimentos em Æm de validade mas em
bom estado para consumo.
O diploma, a que o PÚBLICO teve
acesso, propõe regras para a restau-
ração, a distribuição e o sector da
pesca (neste caso apenas princípios
a seguir) que deverão entrar em vigor
Rui Rocha diz que António Costa defende um PRR
permanente por não ter soluções para o país
Maria Lopes
O presidente da Iniciativa Liberal
arrancou com a reunião de ontem
do conselho nacional do partido a
disparar contra o PS mas também
contra o PSD. Rui Rocha acusou o
primeiro-ministro, António Costa,
de não ter soluções estruturais para
os problemas do país e, por isso,
defende em Bruxelas a criação de
um mecanismo europeu permanen-
te parecido com o PRR — Plano de
Recuperação e Resiliência. “Porque
não tem soluções para o país e quer
condená-lo à dependência perma-
nente.”
“Não nos revemos num primeiro-
ministro que, sistematicamente, age
como um mendigo, sempre à espera
da esmola de Bruxelas, de mais um
fundo, de mais dinheiro que lhe caia
Hoje assinala-se o Dia Mundial da Alimentação
no início de 2025. O deputado João
Miguel Nicolau, coordenador do PS
na Comissão de Agricultura, admite
que na discussão na especialidade
possam ser introduzidas medidas
também para o sector agrícola.
A primeira medida transversal é
que estas entidades, que lidam com
a venda e preparação de alimentos,
pela porta dentro”, declarou o líder
liberal. Rui Rocha realçou que o par-
tido foi o primeiro a anunciar o seu
voto contra o Orçamento e que foi
alvo de críticas por isso, mas o líder
liberal defendeu-se contrapondo
auto-elogios: a IL é “muito rápida” no
diagnóstico e a propor soluções para
resolver os problemas, como aconte-
ceu na TAP, nos impostos, na Saúde
e na Habitação.
O líder liberal justiÆcou ainda a
rápida decisão da IL de votar contra
o Orçamento do Estado para 2024
com o facto de este ir aumentar a
cobrança de impostos indirectos em
8,9%, apesar de os directos IRS e IRC
se manterem iguais. Rocha criticou
também a falta de medidas para
empresas: são tão poucas que até na
Efacec o Estado já pôs mais dinheiro
do que aquele que vai aplicar em
têm de passar a ter um Plano de Com-
bate ao Desperdício Alimentar — as
câmaras também devem executar
planos municipais. O chamado “canal
horeca”, que inclui restaurantes,
hotelaria e similares, tem de estabe-
lecer uma política de “desperdício
zero” na confecção, usando, sempre
que possível, todas as partes dos ali-
2024 em medidas de apoio às
empresas.
Para além disso, o OE prevê um
crescimento de apenas 1,5%. “Volta-
mos ao tempo dos crescimentos
medíocres, que não permitem gerar
riqueza, às empresas crescerem e aos
portugueses subirem na vida.” A pro-
posta de Orçamento do Governo “não
resolve nenhum dos problemas
essenciais dos portugueses”: “a baixa
do IRS é mais do que compensada
pela subida dos restantes”. Rocha
disse que nem é possível dizer que
Rui Rocha
presidiu ao
conselho
nacional
para preparar
a convenção
do partido
VERA MOUTINHO
mentos; terá de disponibilizar emba-
lagens para o cliente levar as sobras,
privilegiando as embalagens reutili-
záveis, que possam ser devolvidas e
que usem tara paga.
Estes estabelecimentos também
devem promover uma “rotina de
refeições excedentes a baixo custo, a
partir de certa hora do dia” — ou seja,
Costa dá com uma mão e tira com
duas porque o dinheiro não é dele.
“António Costa tira menos com uma
mão e tira muito mais com as duas.”
E não responde ao problema da falta
de professores, de médicos de família
e de casas.
Os sociais-democratas também não
saíram incólumes. Rui Rocha criticou
a incoerência do PSD, que agita agora
a bandeira da redução do IRS em car-
tazes espalhados pelo país a exigir
baixar impostos já e baixar IRS já, mas
votou ao lado do PS contra a redução
do imposto nos cinco primeiros esca-
lões que a IL propôs há poucos meses.
Rui Rocha prometeu que na discussão
na especialidade a IL “vai apresentar
a proposta de descida do IRS mais
desaÆadora de todas as bancadas par-
lamentares”.
Sobre a Saúde Rui Rocha recordou
aquilo que já hoje acontece através de
projectos como Too Good to Go ou
Fair Meals, admite o deputado. Admi-
te que a iniciativa do PS se inspirou
em soluções já hoje em uso em países
como Alemanha, França e Espanha.
Esgotados estes canais, os restauran-
tes devem ainda procurar encami-
nhar as sobras para doação, e os resí-
duos para a compostagem.
As lojas deverão passar a ter uma
secção para produtos em Æm de vali-
dade a custo reduzido e aos super-
mercados com mais 400m2 será
obrigatório ter acordos de doação dos
excedentes alimentares com entidade
de apoio social, como IPSS e serviços
públicos de apoio social, especiÆca.
Há obrigações para o Governo: a
criação de um prémio nacional de
combate ao desperdício alimentar
através do qual se atribui um selo às
empresas, que lhes permitirá aceder
a incentivos Æscais; a atribuição de
benefícios Æscais, como deduções no
IRC pela doação de alimentos a IPSS,
e a isenção do IVA nos alimentos doa-
dos ou vendidos a baixo custo.
Há muitos pormenores por acertar
no funcionamento destas regras e que
caberá depois ao Governo regula-
mentar em 120 dias — por exemplo,
como impedir que a restauração, o
retalho e a indústria tornem impró-
prios para consumo alimentos não
vendidos e que ainda sejam comestí-
veis, ou a deÆnição das sanções.
a entrevista de Luís Montenegro que,
dando o exemplo de um pescador da
Afurada, disse que este devia ter aces-
so ao SNS, a uma IPSS ou à rede pri-
vada para tratar de um problema de
saúde. “Quando a IL discutiu a revisão
da lei de bases da saúde que permitia
que o pescador da Afurada tivesse
acesso a esses três sectores, o PSD
votou contra”, salientou o líder da IL
cujo trabalho desde Janeiro à frente
do partido é também avaliado nesta
reunião. Talvez por isso tenha feito
questão de classiÆcar o partido como
“o principal factor de oposição” às
soluções da governação socialista.
Sem tocar no tema das regionais
madeirenses, onde a IL foi preterida
pelo PAN no acordo com o PSD, Rocha
desaÆou António Costa a dizer, se um
dia precisar, se volta a fazer acordos
com a “esquerda radical”.
14 • Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023

Sociedade Apesar da enorme evolução, as mulheres ainda Ɗcam para trás no merca

Disparidades salariais
entre homens
e mulheres. E se tudo
for discriminação?
Prémio Nobel da Economia foi entregue a investigadora
norte-americana que estuda as desigualdades laborais entre
homens e mulheres. Portugal não é excepção neste campo
Patrícia Carvalho
Os dados dos mais diversos estudos
vão todos no mesmo sentido: em Por-
tugal, há mais mulheres a saírem de
cursos superiores, a sua taxa de par-
ticipação no mercado de trabalho é
superior à média da União Europeia,
elas são cada vez mais qualiÆcadas e
são a maioria em proÆssões prestigia-
das, como a de juíza ou médica. Mas,
feitas as contas, elas ainda chegam
menos aos lugares de topo da carrei-
ra e, em média, continuam a ganhar
menos do que os homens. Uma dis-
paridade que tem vindo a decrescer,
mas de forma lenta, e que é mais
acentuada na fase mais adiantada da
carreira do que no início. Há vários
factores que contribuíram para esta
realidade que tarda em desaparecer,
mas a pergunta sobre se tudo não se
resume, hoje, a discriminação come-
ça a ganhar força.
Os números mais recentes, relati-
vos a 2021, não deixam margem para
dúvidas: a remuneração-base média
para os homens, em Portugal, situa-
va-se nos 1152,2 euros e a das mulhe-
res nos 999,3 euros. Quando se trans-
punha esses valores para o ganho
médio (que inclui o pagamento de
questão da discriminação no traba-
lho, por questões de gostos ou prefe-
rências, já estar prevista no modelo
de [Gary] Becker desde os anos 1950,
era difícil de aceitar em Economia –
porque ela é muito difícil de provar.
Mas em 2020 um artigo de Almudena
[Sevilla, investigadora de Economia,
Família e Género no Reino Unido]
defendia que a discriminação está por
trás das diferenças de género [no tra-
balho], quer a nível salarial, quer da
representação, e que isto é algo que
precisamos de estudar. Fiquei con-
tente por os economistas começarem
a aceitar esta questão”, diz.
Aliás, a investigadora da Universi-
dade do Minho é a essa luz que enten-
de a atribuição do Prémio Nobel da
Economia à norte-americana Claudia
Goldin, precisamente pelos seus estu-
dos na área da desigualdade laboral
entre homens e mulheres. “Este pré-
mio é dado a uma economista que fez
trabalho de historiadora e, não tendo
esse trabalho implicações directas
nas políticas, acho que ela foi distin-
guida precisamente por levantar estas
questões das desigualdades”, defen-
de Priscila Ferreira.
Uma das virtudes do trabalho de
Claudia Goldin foi demonstrar que,
vai deixando as mulheres — muito
mais sujeitas ao peso do trabalho não
remunerado, como cuidar dos Ælhos,
da casa e dos familiares mais velhos
ou doentes — cada vez mais para trás.
Apesar de os estudos da prémio Nobel
se centrarem nos Estados Unidos da
América, a verdade é que muito do
que ela estudou é idêntico em Portu-
gal. Ou em outros países do chamado
“mundo desenvolvido”.
Estereótipos penalizadores
A socióloga Anália Torres parte de um
estudo que coordenou para a Funda-
ção Francisco Manuel dos Santos, em
2018 (Igualdade de Género ao Longo
da Vida), para lembrar que o proble-
ma das desigualdades entre homens
e mulheres no mercado de trabalho
é “transversal a todos os países da
União Europeia” e não tem dúvidas:
“Tudo isto começa porque o mercado
de trabalho está organizado em ter-
mos de uma ideologia de género.”
A professora catedrática do ISCSP
— Instituto Superior de Ciências
Sociais e Políticas da Universidade de
Lisboa, com um vasto trabalho de
Mais 426 milhões de euros do Orçamento
investigação no campo da família,
lembra as experiências feitas ao longo Promoção da igualdade de género
dos anos em que as empresas rece-

horas extraordinárias ou prémios,
por exemplo), a diferença era ainda
maior – 1395,7 euros para os homens,
1172,1 euros para as mulheres. No pri-
meiro caso, a disparidade global entre
os salários de homens e mulheres era
de 13,3%, no segundo de 16%. Sempre
em desfavor das mulheres. E este
valor era ainda mais marcante entre
os quadros superiores, com a discre-
pância salarial, a favor dos homens,
a atingir os 24,5%, olhando para a
remuneração média, e os 24,8% no
caso do ganho médio.
embora a discrepância salarial entre
homens e mulheres seja relativamen-
te pequena no início da carreira, ela
cresce substancialmente a partir do
momento em que a mulher é mãe,
algo que atribui à forma como o mer-
cado de trabalho está organizado,
exigindo uma disponibilidade incom-
portável aos seus trabalhadores. Gol-
din refere-se mesmo ao que designa
“trabalhos gananciosos”, em que cada
hora é paga num valor mais elevado
quantas mais horas se trabalha, o que
biam curriculum vitae (CV) exacta-
mente iguais em todos os seus cam-
pos, excepto nos nomes de quem os
enviava. “Os resultados mostram que
perante um CV igual, com um nome
de mulher e outro de homem, o
emprego é dado ao homem e não à
mulher, o que mostra que o que está
a atrapalhar é uma percepção do
empregador de que a mulher não se
vai dedicar tanto, que pode ter Ælhos,
que não vai estar tão disponível como
o homem. É discriminação à partida.
O mundo de trabalho é baseado em
O
reconhecimento de que
ainda subsistem diversas
desigualdades de género
em Portugal faz com que o
tema tenha uma dotação própria
no Orçamento do Estado para
2024 (OE2024) que ascende aos
426,27 milhões de euros. O
trabalho é uma das áreas visadas
no conjunto das 564 medidas
que, de alguma forma,
pretendem combater essas
desigualdades. Ainda assim, nos
documentos que acompanham
não a “razão principal” do que é
proposto. E é neste grupo que é
absorvida 81% da dotação
orçamental destinada a este
campo. Este ano, refere-se,
“ainda não foi obrigatório”
preencher o anexo em que eram
identificadas as medidas
destinadas à promoção da
igualdade de género, mas, entre
os programas orçamentais que
o fizeram, destacam-se os da
Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior, Representação Externa

Priscila Ferreira, doutorada em
Economia e que tem investigado as
questões das disparidades salariais
em Portugal, diz que durante muito
tempo o tema da discriminação como
explicação para esta realidade persis-
tente era difícil de aceitar na sua área
— mesmo para ela —, mas que as coi-
sas começam a mudar. “Apesar da
224
euros é a diferença entre o
ganho médio salarial. Dados
de 2021 indicam que o homem
recebia 1395,7 euros contra
1172,1 euros da mulher
estereótipos que são penalizadores
para as mulheres”, defende.
A argumentação utilizada por
Almudena Sevilla no seu artigo de
2020 é similar. A investigadora consi-
dera que a discriminação por ques-
tões de gosto e falta de informação do
empregador sobre o candidato, que
o leva a recorrer aos estereótipos de
o OE2024, explica-se que nem
todas as medidas apresentadas
por 150 entidades são
exclusivamente dedicadas ao
combate à desigualdade de
género, com 39% delas a
apresentarem a igualdade como
“um objectivo importante”, mas
e Trabalho, Solidariedade e
Segurança Social, com este
último ministério a liderar. O
OE2024 chama ainda a atenção
para as consequências que a
desigualdade salarial tem nas
pensões de maiores de 65 anos,
mais baixas para as mulheres.

ado de trabalho
que um homem será mais presente e
produtivo do que a mulher, estão na
base da manutenção das desigualda-
des de carreira entre géneros. Anália
Torres acrescenta que essa escolha
acontece muitas vezes ao nível do
“inconsciente”, de tão enraizados
que estão os estereótipos.
O historiador da Universidade do
Porto Manuel Loè sintetiza a persis-
tência das desigualdades no campo
do trabalho: “A cultura patriarcal con-
tinua nesse sentido muito dominante
e não acho que se tenha alterado de
forma decisiva.”
E, do ponto de vista histórico, Por-
tugal até tem algumas especiÆcidades
que podiam ter contribuído para que
as coisas pudessem ter evoluído de
outra forma. Manuel Loè lembra que
dois factores contribuíram decisiva-
mente para que a sociedade portu-
guesa fosse “forçada” a abandonar “a
mentalidade burguesa de empurrar
as mulheres para o mundo domésti-
co” — a forte emigração do país, que
na primeira metade do século XX era
essencialmente masculina, e a Guer-
ra Colonial.
Forçados a contratar
Na primeira década de 1900 e duran-
te a Guerra Colonial (1961-1974) “os
homens desaparecem de Portugal e
do mercado de trabalho e isso obriga
a que em muitos casos os patrões
abram as portas da contratação às
mulheres”, refere o investigador em
História Contemporânea. Estes dois
factores foram “preponderantes na
normalização do trabalho feminino”,
refere Manuel Loè e estará também
aqui a génese de, actualmente, a par-
ticipação das mulheres portuguesas
no mercado de trabalho ser superior
à média da União Europeia (73%,
quando na UE é 68%).
Contudo, estes dados não contri-
buíram para a valorização salarial do
trabalho feminino e o historiador
explica que isso terá acontecido por-
que, naquelas fases críticas, os secto-
res que mais terão absorvido a força
laboral das mulheres foram os da cha-
mada “indústria ligeira”, com salários
tendencialmente mais baixos.
As mulheres passam assim de uma
situação em que o seu trabalho mui-
tas vezes nem era contabilizado ou
Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023 • 15
ADRIANO MIRANDA
remunerado — como no caso de ser-
viçais domésticas, lembra Loè, em
que o usufruto da alimentação e casa
eram considerados pagamento —,
para uma outra em que, embora
essencial ao funcionamento do país,
vai ocupar cargos de base e com salá-
rios mais baixos.
Junte-se a isto o facto de a respon-
sabilidade da vida de casa permane-
cer, na mentalidade geral, como algo
que é responsabilidade da mulher,
roubando-lhe muitas horas de traba-
lho não remunerado e tempo que
poderia ser dedicado a um maior
investimento na sua carreira, e a
situação da mulher no mercado de
trabalho teima em permanecer num
plano secundário.
A factura paga-a não só a mulher,
mas também o país, em aspectos tão
vitais como a natalidade. Com as
mudanças sociais vividas— acesso ao
divórcio, cada vez mais Ælhos nasci-
dos fora do casamento — a probabili-
dade de uma mulher se ver numa
família monoparental, com um salá-
rio baixo, pesa na hora de decidir ter
Ælhos. Assim como a sua maior esco-
laridade, que a leva a permanecer
Participação das mulheres no mais anos a estudar, adiando a possi-
mercado de trabalho é superior bilidade de ser mãe.
à média da UE Tudo isto contribui para o “Inverno
demográÆco” a que Portugal não
A economista Claudia Goldin escapa – tem das taxas de natalidade
recebeu o Prémio Nobel e fecundidade mais baixas da UE e é
da Economia ao estudar a o país que está a envelhecer mais rapi-
desigualdade laboral de género damente. “As mulheres têm uma
esperança de vida maior do que os
homens, já ronda os 84 anos, e como
têm tido trajectórias de trabalho mais
precárias, a possibilidade de terem
pensões idênticas às deles é menor. E
isto faz com que sejam altamente pre-
Penso que judicadas. Vivem mais anos, têm
as desigualdades menos recursos materiais e mais
queixas de saúde”, refere a demógra-
se estão a esbater fa Ana Fernandes.
nas novas gerações.
Mais poder, mais partilha
As mulheres Apesar deste cenário, todos os espe-
começaram a ter cialistas concordam que houve uma
mais capacidade enorme evolução. Os direitos con-
quistados progressivamente no pós-
de impor o seu 25 de Abril e que levaram a uma maior
ponto de vista liberdade e autonomia – como a lei da
paridade ou da interrupção voluntá-
Ana Fernandes ria da gravidez – ajudaram a que assim
Demógrafa fosse. E medidas mais recentes, como
REBA SALDANHA/REUTERS
a partilha das licenças parentais ou o
acesso a creches gratuitas, mesmo
que possam ser melhoradas, são vis-
tas como passos importantes.
Ana Fernandes mostra-se optimis-
ta. “Penso que as desigualdades se
estão a esbater com as novas gera-
ções. As mulheres começaram a ter
mais capacidade de impor o seu pon-
to de vista, têm mais poder, mais
capacidade de se aÆrmarem no mun-
do público e nos lugares de poder, e
isso é muito bom”, diz. Anália Torres
insiste que é preciso “uma partilha
mais equilibrada” das responsabilida-
des da vida familiar, mas não desani-
ma: “Já temos mudado muito, porque
não havemos de mudar mais? Há um
activismo jovem feminino muito
maior do que há dez anos. Há outro
espírito e recusa em aceitar estas
questões — embora as questões sociais
e culturais não ajudem nada.”
Manuel Loè também bate no mes-
mo ponto: “Os Censos de 1991 mostra-
vam que no conjunto da população
activa portuguesa as mulheres repre-
sentavam menos de 42%, agora são
praticamente 50%. Assumiu-se em
cada jovem geração a partir dos anos
1980 que homens e mulheres traba-
lham, mas ainda não se deu o passo
decisivo de se entender que na orga-
nização das vidas afectivas e familiares
as mulheres têm os mesmos direitos
e devem assumir a mesma autonomia,
o mesmo risco, a mesma mobilidade
geográÆca e proÆssional que os
homens assumem”, defende.
De todos, Priscila Ferreira é a que
admite estar menos animada em rela-
ção ao futuro. Não porque ache que
irá haver um retrocesso e aumentar
a disparidade salarial entre homens
e mulheres, mas porque os estudos
recentes que tem desenvolvido lhe
dizem que a diminuição dessa dispa-
ridade nos anos iniciais de trabalho
não está a acontecer por as mulheres
estarem a conseguir subir as suas
remunerações. Um estudo feito com
Lara Tavares [investigadora do ISCSP]
concluiu que a distribuição salarial
estava a Æcar mais concentrada. O
salário médio passou a pender para
o salário mínimo. Como há mais
mulheres a ganhar o salário mínimo,
“estamos menos diferentes, mas pela
razão errada”.
16 • Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023

Sociedade

Jornalistas portugueses em risco de burnout

Coordenadores do estudo
são da Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas
da Universidade de Nova
de Lisboa
Uma grande parte dos jornalistas
portugueses considera ter níveis
elevados de esgotamento (48%) ou
valores de exaustão emocional entre
o muito e o extremamente elevado
(18%). Junte-se a isto os baixos salá-
rios, receios quanto à sua situação
precária e diÆculdade em conciliar
a vida pessoal com a proÆssional e
a conclusão é esta: “A soma de tudo
isto coloca os jornalistas em burnout
ou risco de burnout.”
Estes são alguns dos resultados
do Inquérito Nacional às Condições
de Vida e de Trabalho dos Jornalis-
tas em Portugal, realizado pelo Sin-
dicato dos Jornalistas, a Casa da
Imprensa e a Associação Portugue-
sa de Imprensa, com o apoio da
Federação Europeia dos Jornalistas.
As conclusões, fruto da análise de
866 respostas recebidas, serão apre-
sentadas hoje, na sede da Casa da
Imprensa, em Lisboa. O inquérito
recolheu 866 questionários, de 119
concelhos, de homens (52%) e
mulheres (48%), jornalistas no acti-
vo ou na reforma. Entre os activos,
abaixo de 65 anos, a média de ida-
des foi de 44,8 anos.
No comunicado que antecipa
algumas conclusões, salienta-se que
A Casa de
Imprensa é uma
das quatro
entidades que
realizaram o
estudo, que é
apresentado hoje
as respostas apontam para uma pro-
Æssão caracterizada pela “sobrecar-
ga laboral, conÇitos éticos, degrada-
ção da qualidade de trabalho, diÆ#
culdade de conciliação entre a vida
proÆssional e a vida familiar, salá-
rios baixos”.
Tudo assente nas respostas reco-
lhidas que indicam, por exemplo,
que, apesar de 80% dos inquiridos
terem formação superior, o salário
médio líquido dos jornalistas no
activo não vai além dos 1225 euros.
Esta é, aliás, a carreira de todas as
que foram analisadas pelo Observa-
tório para as Condições de Vida e
Trabalho em que o número de Ælhos
por proÆssional é mais baixo — a
média não vai além de 1,04 (abaixo
da média nacional de 1,38 Ælhos por
mulher) e 40% não têm Ælhos.
Do inquérito, realizado em Abril e
Maio de 2022, conclui-se ainda que
36% consideram que o salário auferi-
do condiciona a prática proÆssional;
54% estão “inquietos” com a precari-
zação actual da produção jornalística;
59% nunca tiveram formação com-
plementar; 50% trabalham mais de
40 horas semanais; 52% foram blo-
queados no acesso às fontes por auto-
ridades do Estado, mercado ou socie-
dade civil; um terço considera que há
um “desequilíbrio ruinoso” entre a
vida pessoal e proÆssional; e 15,1%
dizem ter sido alvo de assédio moral,
quase sempre (93%) por parte das
cheÆas e/ou patrões.
A equipa de investigadores que
trabalhou os dados recolhidos, coor-
denada por Raquel Varela e Roberto
della Santa, da Faculdade de Ciên-
cias Sociais e Humanas da Universi-
dade Nova de Lisboa, considera que
o jornalismo nacional é caracteriza-
do pela “precariedade laboral, inse-
gurança material e risco estrutural”,
o que classiÆca como “uma tríade
que põe em causa a independência
e a autonomia do trabalho, bem
como a responsabilidade da proÆs-
são para com a sociedade civil”.

Fórum Médico reúne-se Brasil: novos

hoje para discutir crise
MUNICÍPIO DE LOULÉ
Edital n.º 1820/2023 As estruturas representativas dos
médicos vão reunir-se de emergência
Sumário: CONSULTA PÚBLICA AO MERCADO IMOBILIÁRIO, SEM em Fórum Médico hoje para discutir
COMPROMISSO, PARA AQUISIÇÃO DE LOTES DE TERRENO, NA a actual crise nas urgências e as nego-
ciações com o Governo sobre salários
CIDADE DE QUARTEIRA, FREGUESIA DE QUARTEIRA.
e a carreira médica.
CONSULTA PÚBLICA AO MERCADO IMOBILIÁRIO, SEM COMPROMISSO, O encontro, que está marcado para
PARA AQUISIÇÃO DE LOTES DE TERRENO, NA CIDADE DE QUARTEIRA, hoje às 15h30, na Secção Regional do
FREGUESIA DE QUARTEIRA, MUNICÍPIO DE LOULÉ, NO ÂMBITO DA Norte da Ordem dos Médicos, no Por-
IMPLEMENTAÇÃO DA ESTRATÉGIA LOCAL DE HABITAÇÃO 2019 – 2030 to, acontece depois de o ministro da
Saúde, Manuel Pizarro, se ter reunido
DO MUNICÍPIO DE LOULÉ E DO ACORDO DE COLABORAÇÃO DO 1º.
na semana passada com o bastonário
DIREITO – PROGRAMA DE APOIO AO ACESSO À HABITAÇÃO. da Ordem dos Médicos e com os sin-
Vítor Manuel Gonçalves Aleixo, Presidente da Câmara Municipal de dicatos do sector, aos quais apresen-
Loulé, torna pública a intenção do Município de Loulé de adquirir Lotes tou uma nova proposta, nomeada-
de terreno destinados à construção, com capacidade edificativa, para mente um suplemento de 500 euros
uso habitacional, inseridos em Alvarás de Loteamento, válidos e eficazes, mensais para os médicos que reali-
dotados de infraestruturas, localizados no perímetro da cidade de Quarteira, zam serviço de urgência e a possibili-
freguesia de Quarteira, concelho de Loulé, livres de ónus ou encargos e que dade de poderem optar pelas 35
se encontrem desocupados de pessoas, animais e bens, e que possam a horas semanais. Tanto o bastonário
curto prazo ser alvo de operação urbanística tendo em vista a criação de da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes,
fogos de Habitação Pública Municipal, destinada a arrendamento apoiado como os representantes dos sindica-
tos admitiram haver abertura do
e/ou acessível, nos termos do Acordo de Colaboração celebrado com o
ministério para ir ao encontro das
IHRU, I.P. no âmbito do Programa 1.º Direito, – Programa de Apoio ao
reivindicações dos médicos.
Acesso à Habitação.
À saída da reunião com os sindica-
O Aviso da Consulta Pública encontra-se e está integralmente disponibilizado tos, Manuel Pizarro disse que o Gover-
a todos os Interessados no sítio oficial do Município na internet em: no está “a oferecer aos médicos uma
https://www.cm-loule.pt/pt/menu/414/habitacao-municipal.aspx#consulta- fortíssima valorização da sua carreira,
-ao-mercado-lotes-na-cidade-quarteira nomeadamente do ponto de vista
remuneratório”, algo que aÆrmou
O prazo da apresentação de propostas termina às 23h e 59 minutos do 15º.
“não ter paralelo na administração
dia (dias seguidos) a contar da publicação do presente Edital na 2ª. Série pública”.
do Diário da Republica (Parte H – Autarquias Locais). Para o secretário-geral do Sindicato
Para constar e para os devidos efeitos, vai o presente edital ser publicado Independente dos Médicos (SIM), da
nos termos legais. reunião saíram “sinais encorajado-
res”, nomeadamente em questões
3 de outubro de 2023
como a carga de trabalho necessária
O Presidente da Câmara, e a organização dos serviços.
Vítor Manuel Gonçalves Aleixo Já a presidente da Federação Nacio-
nal dos Médicos (Fnam), Joana Bor-
Publicado no dia 13 de outubro, Diário da República, 2ª- Série PARTE H, Nº. 199 Pág. 393.
dalo e Sá, apesar de admitir haver
abertura do Governo para se aproxi-
mar das reivindicações dos médicos,
adiantou que a Fnam mantém a greve
prevista para 17 e 18 de Outubro.
A reunião de hoje do Fórum Médi-
co decorre também numa altura em
que o Serviço Nacional de Saúde
(SNS) enfrenta uma crise nos serviços
de urgência devido à recusa dos médi-
cos em fazerem horas extraordinárias
além das 150 obrigatórias por lei.
Segundo a presidente da Fnam,
cerca de 2500 médicos já apresenta-
ram a minuta de indisponibilidade,
uma situação que está “a afectar os
hospitais de norte a sul do país”.
Entre os membros do Fórum Médi-
co estão a Ordem dos Médicos, a
Associação Nacional dos Médicos de
Saúde Pública, entre outros. Lusa
Médicos têm greve marcada
para 17 e 18 de Outubro
imigrantes
têm entre 20
e 40 anos
A crescente vaga de imigração brasi-
leira em Portugal vem predominan-
temente das grandes cidades, em
família, de várias classes sociais, e tem
entre 20 e 40 anos, disse à Lusa a
coordenadora da plataforma de
dados de brasileiros no exterior. “É
uma população altamente heterogé-
nea, com condições sociais e econó-
micas muitas impactadas pela situa-
ção que elas tinham no Brasil e que
elas encontram em Portugal tam-
bém”, explicou Camila Escudero.
Além disso, há uma tendência de
“migração não só da pessoa, mas da
família toda, com Ælhos ainda peque-
nos”, sublinhou, estimando que a
“faixa etária está entre os 20 e os 40
anos”.
No início do Çuxo migratório, na
década de 1990, a maioria dos brasi-
leiros imigrantes vinha de “pequenas
cidades, do interior”, só que hoje
“veriÆca-se a saída das grandes cida-
des, das capitais”, explicou.
Em 2013, segundo o Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras (SEF), a
comunidade brasileira em Portugal
cifrava-se em 92.120 pessoas e era a
principal comunidade estrangeira
residente. Uma década depois o
número quadruplicou: numa respos-
ta enviada à Lusa em Setembro, o
SEF precisa que 393 mil cidadãos
brasileiros residem em Portugal, com
maior incidência em Lisboa, Cascais,
Sintra, Porto e Braga. No Ænal de
2022, viviam em Portugal 239.744
brasileiros.

Análise de
dados e IA
estão a transformar
os negócios
O Lisbon Data & AI Forum reunirá
profissionais e entusiastas da
tecnologia para debater tendências
e partilhar boas práticas. O evento
acontece a 24 de outubro, no Centro
Cutural de Belém, em Lisboa.
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Quando?
24 de Outubro de 2023, das 9h00 às 17h00.
Onde?
O Lisbon Data & AI Forum irá decorrer no CCB –
Centro Cultural de Belém, em Lisboa
Como participar?
A inscrição é gratuita e pode ser feita aqui:
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Ricardo Rocha, US Managing
Director & GM @ Noesis
CONTEÚDO
COMERCIAL
O Lisbon Data & AI Forum 2023
irá realizar-se no próximo dia 24
de Outubro no Centro Cultural
de Belém, em Lisboa. Sob o tema
“Leading the future with dataI”,
contará com a presença de
oradores como:
Emmanuel R. Goffi, Head of Research @
Human Technology Foundation;
Fran Rodriguez, Territory Sales Manager
@ Qlik;
Renato Vieira dos Santos, Principal
Solution Architect @ Qlik;
João Martins, Data Analytics & AI Manager
@ Noesis;
Guilherme Ramos Pereira, Executive
Director @ DSPA;
Luís Chaby, Azure Enterprise Sales
Manager @ Microsoft Portugal;
Rui Ramos, Advanced Data Solutions
Manager @ Super Bock Group;
João Sá da Costa, Data Analytics & AI
Manager @ Noesis;
Hugo Pontes, Head Of Digitalization and
Transformation @ Credibom;
Joaquim Nogueira, Customer
Transformation Advisor @ Celonis;
Joel Ferreira, Process Engineer @
Santander Digital Services;
Abel Aguiar, Executive Director & Board
Member @ Microsoft Portugal;
Laurens Vreekamp, Author, Founder and
Design Thinker @ Future Journalism Today;
Gabriel Coimbra, Group Vice President
@ IDC;
Alex Campos, Principal Solution Engineer
@ Cloudera;
Daniela Rocha, Delivery Manager Data &
Analytics @ Sonae MC;
Paulo Moniz, Director - Information
Security and IT Risk @ EDP;
Wilson Lucas, Head of Unit for Digital @
Cohesion and Development Agency;
Fernando Bação, Professor @ Nova IMS
Information Management School;
Fernando Ilharco, Professor @
Universidade Católica Portuguesa;
Luís Barreto Xavíer, President @ Abreu
Advogados Knowledge Institute;
Patrícia Mestre, CMO @ Microsoft
Portugal;
Ricardo Ramos, Global Market Intelligence
@ Qlik;
Sérgio Fernandes, Sales Associate
Director @ Noesis;
Susana Pereira Barbosa, Head of
Information and Technology @ CMVM;
David Filipe Morais, Head of Analytics @
Cofidis;
Andrea Costigliola, Digital Director
Applications and Data Science @ Hovione;
Marisa Martins, Head of Data & BI @
Unicre;
José Rui Gomes, President @APBI and IT
Manager at the University of Minho;
Pedro Caria, Sales Director @ Noesis;
Luís Gonçalves, Data Analytics & AI
Director @ Noesis.
18 • Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023
Local Investigação da Universidade do Porto
GentriƊcação
também
pesa na saúde
e afecta os mais
vulneráveis
Investigadores estudam impacto da
gentriÄcação no bem-estar dos moradores.
Saúde mental é afectada. Efeitos positivos
não chegam aos mais desprotegidos
Camilo Soldado
“Isso era algo mágico na cidade do
Porto, era uma cidade onde casas de
diferentes estratos económicos e
sociais podiam coexistir”, diz uma
participante. “Com tantos turistas,
qual é o meu lugar aqui, no meio dis-
to tudo?”, questiona outro. “Perto de
minha casa, como pode imaginar, é o
caos, não é? Todo o dia”, aponta ain-
da outra participante, que é morado-
ra numa zona do Porto pressionada
pela avalanche de visitantes.
Os relatos resultam das recolhas
que a equipa do projecto Health,
Urban Displacement and Gentrifica-
tion (HUG, na sigla em inglês), coor-
denado pela investigadora do Institu-
to de Saúde Pública da Universidade
do Porto (ISPUP) Ana Isabel Ribeiro,
levou a cabo para estudar as relações
entre gentriÆcação e saúde, partindo
da percepção de habitantes de várias
zonas do Porto.
Quando se fala sobre gentriÆcação,
um processo que, em Portugal, se
tem abatido com particular incidên-
cia em Lisboa e Porto desde meados
da última década, estamos habitua-
dos a associar-lhe consequências
directas na habitação ou no comércio
das zonas mais pressionadas e das
suas ondas de choque. Raramente a
conversa é alargada ao impacto que
este processo tem na saúde dos mora-
dores das áreas onde os seus efeitos
mais se fazem sentir. “A ideia era ten-
tar perceber como o fenómeno da
gentriÆcação urbana na Área Metro-
politana do Porto afecta a saúde física
e mental” das pessoas, aponta Ana
Isabel Ribeiro, que é também profes-
sora na Faculdade de Medicina da
Universidade do Porto (UP).
Até esta fase do HUG, um projecto
Ænanciado pela Fundação para a Ciên-
cia e a Tecnologia que deverá decorrer
até 2025, é possível perceber que a
saúde mental é um dos tópicos que
mais atravessam os relatos dos parti-
cipantes no estudo. E, mesmo que
sejam mencionados possíveis efeitos
positivos de uma cidade que mudou
à boleia do turismo, eles não chegam
à população mais vulnerável.
“Muitas vezes, não era especiÆcado
qual era este impacto”, mas os teste-
munhos obtidos acabam por se rela-
cionar com temas de saúde mental,
menciona o também investigador do
projecto José Pedro Silva, responsável
por redigir o artigo cientíÆco “A
double-edged sword: Residents’ views
on the health consequences of gentrifi-
cation in Porto” (“Uma faca de dois
gumes: perspectivas dos residentes
no Porto sobre as consequências da
gentriÆcação na saúde”, em tradução
livre), já revisto por pares e aceite
para publicação pela revista Social Mapa da gentrificação no Porto TO
Science & Medicine. Zonas: PO R
Enquanto o Porto é visto como “sen- DO
Em processo de gentrificação O
LH
do atractivo para visitantes, migração Nobres não gentrificadas CONCE
transitória e investidores”, há uma
Desfavorecidas
“transformação rápida” de aspectos não gentrificadas RAMALDE
“físicos, socioeconómicos e simbóli-
cos da cidade, especialmente na sua
zona central, de formas contraditó-
PARANHOS
rias”, concluem os investigadores.
Um mapa da gentriÄcação
Se algumas das alterações são descri-
tas como sendo benéÆcas para a saú-
de e bem-estar, outras vão no sentido
contrário: têm “consequências nega- FOZ
tivas” para a saúde mental das pes-
soas e, com menor frequência, na
saúde física. A distribuição das “con-
sequências negativas” na saúde acaba CAMPO ALEGRE
por ser “injusta” e estas parecem ter
maior impacto nas franjas “mais vul- CENTRO
HISTÓRICO
neráveis da população, como os mais R io D o u ro
idosos, pessoas com menores rendi-
mentos e os que vivem em zonas em
processo de gentriÆcação”. 500m
O ponto de partida para a recolha
das percepções dos moradores do Fonte: Projecto HUG - Health, Urban Displacement and Gentrification
 Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023 • 19
PAULO PIMENTA
O processo pode não estar
necessariamente ligado
ao impacto do turismo, já que
há outros factores em jogo
Porto foi o photovoice, um método
que “usa fotograÆas para revelar
signiÆcados e promover a discussão
colectiva”, lê-se no artigo cientíÆco.
Assim, foram distribuídas peque-
nas máquinas fotográÆcas com rolos
de 35 milímetros e capacidade para
36 fotograÆas por 16 moradores de
três zonas diferentes da cidade: seis
pessoas que vivem em áreas em pro-
cesso de gentriÆcação (centro histó-
rico, Paranhos e Contumil), quatro
participantes de zonas desfavorecidas
não gentriÆcadas (Ramalde e Campa-
nhã) e seis outros de zonas nobres
não gentriÆcadas (Foz e Campo Ale-
gre). As sessões de discussão colectiva
foram depois montadas em torno das
fotos que cada grupo produziu.
Os participantes foram selecciona-
dos a partir de um grupo de morado-
res do Porto que o ISPUP tem seguido
desde 1999, a coorte (grupo de indi-
víduos com uma característica em
comum que, no caso, é o local de resi-
dência) EPIPorto. Para chegar ao
mapa da gentriÆcação da cidade,
foram feitos cálculos com base no
Imposto Municipal sobre Imóveis e
nos valores praticados de 2006 a
2009 e de 2015 a 2022.
As áreas onde o IMI registou subi-
das de pelo menos 20% foram consi-
deradas como estando “em processo
de gentriÆcação”. Este processo pode
não estar necessariamente ligado ao
impacto do turismo, admite José
Pedro Silva. “Haverá outros factores,
o fenómeno é complexo”, refere.
Se é consensual ligar a transforma-
ção urbana no centro histórico do
Porto ao enorme aumento de turistas
e novos residentes com maiores ren-
dimentos, na zona de Contumil, onde
o IMI também subiu mais de 20%, não
acontece o mesmo. No entanto, a
Porto zona passou a ser atravessada pela
Linha F do Metro do Porto em 2011.
As zonas “desfavorecidas não gen-
triÆcadas” são as manchas da cidade
onde se praticam os valores mais bai-
CONTUMIL
xos de IMI. Aplica-se o mesmo prin-
cípio às “zonas nobres não gentriÆca-
das”, que é onde os moradores mais
pagam deste imposto municipal.
Perda de identidade
Os aspectos negativos apontados
estão em linha com a literatura cien-
tíÆca que tem vindo a ser publicada
sobre o tema. Os participantes notam
mais multidões no Porto, mais tráfe-
CAMPANHÃ go, mais lixo e mais ruído, factores
vistos como “potencialmente preju-
diciais” para a saúde mental e física.
Acresce que o aumento da pressão
imobiliária levou à subida dos preços
da habitação e muitos dos habitantes
são obrigados a mudar-se para os sub-
úrbios, passando “mais tempo em
deslocações pendulares” e menos
com a família ou dedicado a lazer. Isso
PÚBLICO resulta “em relações familiares menos
BIBLIOTECA DA CENSURA
Obras Apreendidas e Proibidas no Estado Novo
satisfatórias e numa vida stressante,
o que leva a pior saúde mental e, pos-
sivelmente, pior saúde física”.
A gentriÆcação do comércio tem o
seu peso: pode haver menos espaço
para caminhar por conta da prolifera- PARA QUE NÃO SE REPITA
B&B
ção de esplanadas e as lojas destinadas
ao abastecimento alimentar local são
livros. Colecção mensal, ao dia 25 de cada mês. Entre 25 de Abril de 2022 e 25 de Abril de 2024. PVP unitário 9€. Preço total da colecção 225€. Stock limitado.
substituídas por espaços orientados
para o turismo. A população idosa,
“com menor mobilidade, pode ter
acesso diminuído a alimentos ou tor-
nar-se dependente de familiares” que
lhe façam esse tipo de compras.
Depois há a perda do sentimento
de pertença ao lugar. Associações
locais tendem a desaparecer, “lojas
emblemáticas” vão sendo substituí-
das por “lojas indistintas” e de souve-
nirs, orientadas para clientes estran-
Vol.18
geiros. Mas há também pontos posi-
tivos, nota o geógrafo José Pedro Silva.
“As pessoas viram este fenómeno
como tendo também benefícios”,
refere. Estes pontos são associados à
reabilitação de algumas áreas da cida-
de e no efeito que daí pode resultar,
como a melhoria da segurança, tor-
nar o Porto mais cosmopolita, aumen-
to de rendimentos e melhoria de
padrões sanitários e de habitação.
Uma panaceia?
Os resultados obtidos pela equipa de
investigação têm limitações. Por
25 lilivros
exemplo, não tiveram relatos directos
de pessoas que foram forçadas a
abandonar as suas casas como conse-
quência do processo de gentriÆcação.
Acresce que, tendo sido constituído
em 1999, as pessoas mais jovens que
integram a EPIPorto têm, por esta
altura, 50 ou 60 anos.
+9€
A fase seguinte de investigação pas-
sa por ouvir essas pessoas forçadas a
mudar de casa. É mais difícil encon-
trar esses antigos moradores que saí-
ram do seu meio, mas as entrevistas EM BANCA
estão já a decorrer, refere Ana Isabel
Ribeiro. “Os resultados desse subgru-
po vão ser particularmente relevan-
tes”, considera.
O escrit
escritor francês Jean-Paul Sartre, que recebeu e recusou
Também o mapa sob análise do
HUG será alargado à Área Metropoli-
o Prémio
Prém Nobel de Literatura em 1964, teve mais de uma
dezena de obras proibidas. Contudo, a peça de teatro As
25 LIVROS
tana do Porto, explica a coordenado-
ra. Como a equipa já têm informação Moscas, que reimagina a trilogia Oresteia, de Ésquilo, teve
um despacho invulgar: «Visto – Tolera-se a obra».
25 MESES
sobre patologias, saúde mental, parâ-
metros sanguíneos, comportamentos, Segundo o relatório, trata-se de «uma tragédia em três
entre outros dados desta coorte, “vai atos, em que se defende o princípio da liberdade humana
ser possível perceber se pessoas cujo e que contém várias passagens esclarecedoras da filosofia
local de residência foi gentriÆcado existencialista». Ao contrário de outros livros propostos a
tiveram a saúde melhorada ou não”. «proibição rigorosa» por aludirem à obra sartriana, o
Para já, sabe-se que os moradores relatório acrescenta em nota manuscrita: «Não tem
do Porto consideram que a gentriÆ# [aspectos?] políticos». Depreende-se que o censor terá
cação acaba por ter um impacto des- pensado num existencialismo sem comunismo...
proporcional na saúde nos mais Das obras que a Censura autorizava com cortes ou
vulneráveis. Por isso, deve haver proibia, mostramos uma selecção desses raros
investigação que permita desenvol- artefactos culturais que falam do controlo da vida
ver “políticas que distribuam melhor cultural desse período, que são reproduções dos
os benefícios das transformações em originais censurados guardados na BNP e que incluem
curso e compensem os seus danos”, os relatórios de censura, carimbos, selos e rasuras.
lê-se nas conclusões do artigo cien-
Uma colecção comissariada por Álvaro Seiça.
tíÆco. Os investigadores do ISPUP
instam também os responsáveis
nacionais e locais “que vêem a gen-
triÆcação como uma panaceia para
os problemas urbanos a alterarem a
sua posição”.
20 • Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023

Mundo PiS terá sido o mais votado, mas sem maioria para governar

Polónia: bloco da oposição à frente

nas sondagens à boca das urnas
Partido do Governo terá tido mais votos, mas sem maioria para governar. Participação nas eleições
de ontem foi estimada em 73%, superando o recorde em eleições legislativas, que era de 62,7% em 1989
KACPER PEMPEL/REUTERS

Maria João Guimarães,

em Varsóvia
A oposição unida terá conseguido,
segundo as sondagens à boca das
urnas na Polónia, mais deputados do
que o partido no Governo, o Partido
Lei e Justiça (PiS), com uma previsão
de maioria de 248 votos para a Plata-
forma Cívica, de Donald Tusk, junto
com a Terceira Via e a Nova Esquerda,
para 200 do PiS, e 12 da Confedera-
ção, o único partido que poderia
aliar-se ao PiS.
O PiS terá obtido nas eleições de
ontem 36,8%, sendo o partido mais
votado, mas descendo muito em rela-
ção aos 43,6% que conseguiu em
2019. A Plataforma Cívica obteve
31,6%, segundo as sondagens à boca
das urnas da TV privada TVN24, a
Terceira Via 13% e a Nova Esquerda
8,6%. Com a Confederação a acabar
em quinto, com 6,2%, ainda segundo
a sondagem à boca das urnas, mesmo
um bloco incerto com um partido
ainda mais à direita que o PiS não lhe
permitiria manter-se no poder.
Donald Tusk falou mal as projec-
ções foram conhecidas: “Sou o
homem mais feliz do mundo”, decla-
rou, com um grande sorriso. “A
democracia ganhou. A Polónia
ganhou.”
A participação terá atingido 73%,
superando o recorde anterior de
62,7% nas legislativas de 1989. A minu-
tos do fecho das urnas, às 21h locais
(menos uma hora em Portugal conti-
nental), havia Ælas ainda em várias Donald Tusk falou mal as o PiS é pró ou anti-União Europeia, Uma professora que não quis dar o do, pró-Governo, dizia que “o PiS
assembleias de voto, e estas pessoas projecções foram conhecidas: ou sobre o que está nos programas nome (e nem, na verdade, falar mui- venceu, mas a oposição pode ser
poderiam ainda votar, segundo a “Sou o homem mais feliz do dos partidos”, continua. to) disse que estas eleições são impor- capaz de o derrubar”.
comissão eleitoral. mundo”, declarou, com um “O problema deste partido não são tantes “para que seja possível esco- Kisilowski diz que, como a única
O que estava em jogo nestas eleições grande sorriso as propostas políticas”, e sim o facto lher quem irá governar mais tarde o maneira de fazer a transição de poder
era muito, com vários analistas a fala- de se ter lançado “na criação de um país”. Não após estas eleições, mas é o Presidente, Andrzej Duda, dar
rem numa democracia já imperfeita a Estado autoritário”, já que o chefe do sim após as seguintes. posse ao novo primeiro-ministro pes-
arriscar uma descida ainda maior no partido, Jaroslaw Kaczynski (que lide- Ela concorda, apesar disso, com soalmente, há um risco de este não o
caminho iliberal. Os efeitos iriam ser ra o partido mas não o Governo), algumas propostas do Governo, por fazer. “Vamos ver o ruir de um regime
sentidos na União Europeia e poten- “percebeu que não conseguia manter exemplo a de não dar, a partir de autoritário”, adianta, a que se junta
cialmente no apoio à Ucrânia. o poder num sistema democrático certo ponto, mais ajuda às pessoas um ódio pessoal entre os protagonis-
E também era muito para os envol-
O que estava em normal”. que estão na Polónia depois de terem tas, acrescenta, comparando-os com
vidos, já que a oposição prometeu jogo era muito, O PiS levou a cabo uma tentativa de fugido da Ucrânia. “A dada altura, o ex-Presidente do Brasil Jair Bolso-
acusar os governantes do PiS envolvi- capturar o Estado, começando pelo têm de trabalhar para se sustenta- naro e o actual Presidente, Luiz Inácio
dos na rede de corrupção e ainda em
com vários Tribunal Constitucional, e usou recur- rem”, diz. Lula da Silva. “Bolsonaro e Trump
abuso de poder, sublinhou o profes- analistas a falarem sos para beneÆciar a sua campanha também não reconheceram as suas
sor da Universidade Centro-Europeia eleitoral, incluindo fazer a petrolífera Manobras do PiS? derrotas”, sublinha.
Maciej Kisilowski numa entrevista
numa democracia estatal baixar o preço da gasolina. A No entanto, mesmo que se conÆrme Há ainda todos os tribunais que são
ainda antes da divulgação das sonda- já imperfeita proporção de gastos de campanha o resultado das sondagens à boca das controlados pelo PiS, desde o Tribu-
gens à boca das urnas. era, segundo algumas estimativas, de urnas, que costumam ser Æáveis na nal Constitucional até ao organismo
Descrever esta eleição como pola-
a arriscar uma 30 para 1 a favor do Governo. Polónia, há quem tema manobras do responsável pela certiÆcação dos
rizada é, para o analista, um erro. “Há descida ainda Mas muitas pessoas viram estas PiS para se manter no poder. votos. “Eles não tomaram os tribunais
muitos países polarizados. Isso é ver- eleições como a última oportunida- Jaroslaw Kaczynski falou logo a por não gostarem deles, foi precisa-
dade, mas não é o factor mais impor-
maior no caminho de para terminar o curso autoritário seguir a Donald Tusk para mencionar mente para situações como esta”,
tante”, sublinha. “A questão não é se iliberal do PiS. um “resultado incerto”. A TV do Esta- acrescentou o analista.
B&B

A obra emblemática de Maria Lamas sobre

as MULHERES PORTUGUESAS. Um retrato
extraordinário e revolucionário do nosso
país, feito por uma mulher empenhada nos
movimentos de defesa dos direitos das
EDIÇÃO MENSAL mulheres, agora reeditado como há 75
1ª QUARTA DE CADA MÊS anos, em 1948, em 15 fascículos mensais,
com capa dura, os ferros de estampagem
originais e o restauro integral das imagens.
Guarde este documento histórico dedicado
«a todas as mulheres portuguesas (…) que
reflecte o grande sonho de um mundo mais
harmonioso e iluminado de fraternal amor»,
como era o desejo da autora.

+12,90€
EM BANCA
FASCÍCULO 5
22 • Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023
Mundo
Renamo denuncia “megafraude”
e apela à comunidade internacional
António Rodrigues
“Não pode existir uma
democracia para a Europa
e outra para Moçambique”,
diz Momade, que convocou
“manifestação pacífica”
A Renamo convocou manifestações
de protesto contra aquilo a que cha-
mou “megafraude” nas eleições
autárquicas em Moçambique de 11 de
Outubro. Amanhã, Ossufo Momade
quer ver os seus apoiantes na rua
numa marcha “pacíÆca” a nível
nacional contra os resultados oÆ#
ciais. Pelas contas já conhecidas das
Comissões de Eleições Distritais, a
Frelimo venceu em 45 das 46 autar-
quias (há 65 em disputa, mas tudo
aponta para que ao partido no poder
lhe seja atribuída a vitória em 64
delas). Só a cidade da Beira resistiu à
vaga da Frelimo e continuará nas
mãos do MDM.
O líder da Renamo garantiu ontem,
em conferência de imprensa citada
pela Lusa, que o que pretende “é uma
manifestação nacional, não é uma
guerra”, porque os moçambicanos
“estão cansados da guerra”. E pediu
à comunidade internacional que não
Æque calada: “Queremos que a comu-
nidade internacional apareça a dizer
algo sobre o comportamento do par-
tido Frelimo. Não pode existir uma
democracia para a Europa e outra
A reconciliação na Austrália “está morta”
Aborígenes convocam uma
semana de silêncio depois
da derrota do “sim” no
referendo para reconhecer
os Primeiros Povos
O resultado do referendo foi claro:
61% dos australianos votaram “não”
no primeiro referendo em quase um
quarto de século, realizado no sába-
do, para rever a Constituição e criar
um conselho consultivo dos Primei-
ros Povos, chamado A Voz, para
auxiliar o Governo e o Parlamento
na legislação e políticas públicas
que afectam os aborígenes e os nati-
vos das Ilhas do Estreito de Torres.
Para as 984 mil pessoas dos cha-
mados Primeiros Povos, que repre-
sentam 3,8% da população da Aus-
trália, 14 de Outubro foi um dia de
para Moçambique”, aÆrmou, garan-
tindo ainda que a Renamo vai “inter-
por recursos junto das instituições
competentes” contra os resultados
anunciados.
O partido convocou “todos os
moçambicanos” para uma manifes-
tação geral “em repúdio a qualquer
manipulação de resultados, a partir
do dia 17 de Outubro”, tendo esta sido
uma das medidas saídas da reunião
da comissão política realizada na tar-
de de ontem.
Há 48 anos no poder, com todos os
governos provinciais nas suas mãos,
a Frelimo prepara-se para liderar
também todas as autarquias do país,
com a excepção da Beira, onde o
Ossufo Momade deu ontem uma conferência de imprensa
desilusão. Os seus líderes convoca-
ram uma semana de silêncio e reÇe-
xão para digerir aquilo que conside-
ram ser um passo na direcção erra-
da no processo de reconhecimento
público das atrocidades cometidas
historicamente pelos colonizadores
europeus contra os povos que já
viviam na Austrália.
“Ficou muito claro que a reconci-
liação está morta”, disse num deba-
te na NITV Marcia Langton, uma das
autoras do projecto de A Voz e uma
das líderes da campanha do “sim”.
“Penso que terão de passar pelo
menos duas gerações para os aus-
tralianos poderem ser capazes de
esquecer os ódios coloniais e reco-
nhecer que existimos.”
Num comunicado, citado pela
Reuters, as lideranças indígenas
falam na “amarga ironia” de que
“seja o povo que está neste conti-
Movimento Democrático de Moçam-
bique (MDM) terá mantido a autar-
quia, que dirige desde 2009.
A Renamo garante que venceu
estas eleições e, inclusivamente, que
a sua contagem paralela lhe dá a vitó-
ria na cidade de Maputo, a capital
moçambicana, e que a contagem
intermédia é apenas uma consequên-
cia da “megafraude” generalizada
cometida pela Frelimo.
O Centro para a Democracia e
Direitos Humanos denuncia “a pior
fraude em eleições autárquicas em
Moçambique” e avisa para “o espec-
tro de violência generalizada e caos
social” que “paira no ar”.
A contagem paralela da Renamo
LUSA
nente apenas há 235 anos a recusar-
se a reconhecer aqueles que vivem
nesta terra há mais de 60 mil
anos”.
Ao contrário do Canadá e da Nova
Zelândia, por exemplo, países que
passaram pelo colonialismo britâ-
nico mas que reconheceram os seus
povos indígenas na Constituição, a
Austrália continua a manter os seus
Primeiros Povos fora da sua Carta
Magna.
O primeiro-ministro, Anthony
Albanese, apostou parte do seu
capital político na iniciativa e a der-
O líder do
Governo,
Anthony
Albanese,
apostou o seu
capital político
na iniciativa
em Maputo, assente em 98% das actas
das mesas de voto, dá ao seu candida-
to, Venâncio Mondlane, 53% dos
votos, mas os resultados oÆciais inter-
médios colocam a Frelimo à frente, a
distância considerável da Renamo:
59% para o partido no poder, 37%
para a principal força da oposição.
“Demos evidências de que nós
ganhamos”, aÆrmou Ossufo Momade
no Æm da reunião da comissão políti-
ca do partido, advertindo: “Se os tri-
bunais não vão fazer o seu papel, não
é por falta de reclamação.”
“A megafraude e a manipulação
dos resultados eleitorais visam criar
um ambiente de guerra para o senhor
Filipe Jacinto Nyusi [Presidente da
República] e o partido Frelimo man-
terem-se no poder ilegitimamente”,
sublinhou.
O líder do principal partido da opo-
sição quer agora uma reacção popu-
lar “através das manifestações” pací-
Æcas, cujo número de pessoas nas
ruas possa demonstrar o peso do par-
tido. Para que não continuem a pen-
sar que “a única alternativa que a
Renamo tem que usar é a arma”.
Ainda assim, avisou que o desenro-
lar das manifestações “vai depender
do comportamento do regime”.
Estas foram as primeiras eleições
desde que Æcou concluído, em Junho,
o processo de desmilitarização e
desarmamento do partido, que tra-
vou uma guerra civil com a Frelimo
pelo controlo do país. com Lusa
rota do “sim” é também uma derro-
ta do Governo.
Peter Dutton, líder da oposição,
sublinhou, citado pela agência, que
este referendo era algo de que “Aus-
trália não precisava”, porque o seu
único resultado foi dividir a nação.
As lideranças indígenas anuncia-
ram que esta semana as bandeiras
aborígenes e das Ilhas do Estreito de
Torres serão colocadas a meia haste.
Lloyd Walker, antigo internacio-
nal de râguebi e um dos líderes indí-
genas, reconhecendo que o cami-
nho para a reconciliação está mais
difícil, instigou à continuação da
luta. “Podemos dizer que foi derro-
tado na votação, mas, mesmo assim,
ainda há 40% que o queriam. Há
anos não teríamos tido essa percen-
tagem, seguramente”, disse, citado
também pela Reuters. PÚBLICO
com Reuters
Novo sismo
na região
ocidental do
Afeganistão
Um sismo de magnitude 6,4 na esca-
la de Richter deixou pelo menos
dois mortos e 125 feridos após sacu-
dir a região Oeste do Afeganistão na
madrugada de ontem, de acordo
com informações do Centro Sismo-
lógico Euro-Mediterrânico (EMSC),
avançou a Europa Press.
O balanço foi conÆrmado por fon-
tes oÆciais locais ao jornal Hasht e
Subh que alertaram para que este
número poderá vir a aumentar, ten-
do em conta que ocorreu na provín-
cia de Herat, que já estava devastada
pelos dois sismos da semana passa-
da, que provocaram entre 1600 e
5000 mortos, de acordo com fontes
das Nações Unidas e locais.
No entanto, segundo disse à Asso-
ciated Press a organização não-go-
vernamental Save the Children,
foram quatro os mortos provocados
pelo sismo e o Hospital Regional de
Herat recebeu 153 feridos. Todos os
edifícios de Baloch, no distrito de
Rabat Sangi, colapsaram. De acordo
com a ONG, várias aldeias foram
destruídas.
Ao primeiro sismo de ontem, cujo
epicentro foi a mais de 30 quilóme-
tros de Herat, a uma profundidade
de dez quilómetros, segundo o
EMSC, seguiu-se, 20 minutos depois,
um segundo tremor de terra de mag-
nitude 5,6 na escala de Richter, que
aconteceu a uma profundidade
semelhante.
Até agora, o alcance dos danos
causados por estes sismos é desco-
nhecido. Estes eventos acontecem
depois de, na quarta-feira, mais de
100 pessoas terem sido tratadas por
ferimentos na sequência de um sis-
mo de magnitude 6,3 na escala de
Richter, a réplica mais intensa até
então do sismo que atingiu esta
mesma região no dia 7, de acordo
com a organização dos Médicos Sem
Fronteiras.
Sayed Kazim RaÆqi, residente em
Herat, que foi ao hospital para doar
sangue (“temos de ajudar da forma
que pudermos”), disse à Associated
Press que nunca tinha visto tama-
nha devastação. A maioria das casas
da região, situada junto à fronteira
com o Irão, foram destruídas ou
estão daniÆcadas e as “pessoas
estão aterrorizadas”.
O sismo de 7 de Outubro já tinha
deixado aldeias em escombros,
naquele que foi um dos tremores de
terra mais destrutivos da história
recente do Afeganistão. Mais de
90% das pessoas que morreram há
uma semana eram mulheres e crian-
ças, de acordo com informações da
ONU. PÚBLICO com agências
Projectos e jantares:
os pilares de uma boa amizade.
“Os melhores anos da minha vida”. É assim que Álvaro Siza
descreve o trabalho com o arquitecto e amigo Carlos
Castanheira. Com projectos em conjunto na Europa e na Ásia,
os seus percursos cruzaram-se ao longo dos anos em
publicações e exposições, tão numerosas quanto as histórias
pessoais ou os esquissos ao jantar. Uma amizade que continua
a dar
dar frutos,
frutos, ccomo
omo o primeiro
primeiro PPrémio
rémio de
de Arquitectura
Arquite de Taiwan.

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24 • Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023
Economia Governo quer instituir reforma a tempo parcial em 2024
Fiscalização inteligente
avança “até Ɗnal do ano”
para detectar falsos
recibos verdes
Ana Mendes Godinho Ministra do Trabalho e Segurança
Social diz que não se pode esperar que 500 inspectores
do Trabalho visitem todas as empresas do país
Hora da Verdade
Raquel Martins e Sandra Afonso
(Renascença) Texto
Nuno Ferreira Santos Fotografia
Ana Mendes Godinho, ministra do
Trabalho, Solidariedade e
Segurança Social, quer apostar na
“Æscalização inteligente” para
detectar situações irregulares no
mercado de trabalho de forma
“mais eÆciente”.
Uma primeira acção de
cruzamento de dados entre a
Autoridade para as Condições do
Trabalho (ACT) e a Segurança Social
permitiu identificar 80 mil
empresas com 350 mil
trabalhadores cujos contratos
ultrapassaram os prazos legais.
Destes, sublinhou, 70 mil ainda não
foram regularizados.
Em entrevista ao PÚBLICO e à
Rádio Renascença, a ministra
anunciou que, até ao final do ano,
será feita uma acção semelhante
para detectar falsos recibos verdes.
“Tudo faremos, com estas novas
formas de detecção, para que se
sinta que somos implacáveis no
combate à precariedade”,
justificou.
Ana Mendes Godinho considera
que o crescimento do emprego tem
sido uma “âncora” do país e destaca
o papel dos trabalhadores
estrangeiros na resposta às
necessidades do mercado de
trabalho. Neste momento, há 650
mil estrangeiros a descontar para a
Segurança Social, o que representa
10% do total de descontos.
Num eventual cenário de
recessão, com o qual já se
confrontam vários parceiros
comerciais de Portugal, admite
que seja preciso fazer aumentos
intercalares no próximo ano?
O que temos feito ao longo dos
últimos anos é responder, em cada
momento, em função das
circunstâncias que temos vivido,
criando mecanismos
extraordinários de apoio ao
emprego ou às famílias.
A opção que fizemos este ano foi
internalizar estruturalmente estes
apoios extraordinários nos grupos
específicos que consideramos que
têm de ter, até para preparar o
próximo ano com uma almofada
especial, apoios excepcionais. Mas
como sempre assumimos, vamos
acompanhando a situação à medida
que evolui.
Pode haver necessidade de
aumentos intercalares de
salários e pensões?
Em 2024, assumimos o aumento
das pensões de acordo com a
fórmula de actualização [prevista
na lei] e que varia entre 5,2% e
6,2%. É um valor acima da inÇação
que, no acumulado, permite que a
pensão média aumente cerca de
29% desde 2015.
Em relação aos salários, com a
assinatura do reforço do Acordo [de
Médio Prazo de Melhoria dos
Rendimentos, dos Salários e da
Competitividade], aumentámos o
valor do salário mínimo. Tínhamos
programado que subisse [de 760
euros] para 810 euros, em 2024,
mas decidimos ir mais longe e
chegar aos 820 euros. Também
decidimos ir mais longe no
referencial para o aumento dos
salários, que passa de 4,8% para 5%.
É um esforço colectivo de
mobilização de instrumentos que,
por um lado, permitem às empresas
ter mais capacidade para aumentar
os salários e, por outro, garantem
rendimentos não salariais, de que
são exemplos o reforço do abono de
família, da garantia para infância ou
da gratuitidade das creches. Há
também novos mecanismos ao nível
fiscal, como a isenção fiscal e
contributiva sobre instrumentos
dedicados à habitação dos
trabalhadores.
O governador do Banco de
Portugal pediu “temperança”
nos salários para manter o
emprego e evitar uma
aterragem brusca da economia.
Como é que interpreta este
alerta de Mário Centeno?
É um retrato do que tem
acontecido. O salário médio
declarado à Segurança Social em
2023 está a aumentar cerca de 8% e
estamos com mais 190 mil pessoas
a descontar do que no ano
passado, o que é um número
impressionante. Se compararmos
o número de trabalhadores
activamente a participar na
Segurança Social neste momento
com o mesmo período de 2015,
temos mais um milhão e 200 mil
pessoas a trabalhar e a descontar.
A leitura que faço do sinal dado
pelo governador do Banco de
Portugal é no sentido do
reconhecimento de que manter o
emprego é a âncora que nos liga a
todos.
Até quando se manterá esta
situação de “pleno emprego”?
Estamos com uma taxa de Neste momento temos cerca de
desemprego historicamente baixa, 650 mil trabalhadores estrangeiros
de cerca de 6,7%, e também a descontar activamente para a
estamos com um número recorde Segurança Social. É um número
de pessoas a descontar para a muito impressionante e que
Segurança Social que, neste mostra o nosso dinamismo
momento, são quase cinco milhões
Temos cerca enquanto país que atrai talento nos
de pessoas. de 650 mil vários segmentos e níveis de
A previsão que fazemos para o qualiÆcações. Temos muitos
próximo ano é uma estabilização da
trabalhadores estrangeiros a trabalhar na área das
taxa de desemprego e um estrangeiros tecnologias, nas áreas cientíÆcas,
crescimento de cerca de 0,4% do nas áreas técnicas. Em 2020,
emprego. É uma previsão
a descontar para criámos uma medida à qual
conservadora da evolução do a Segurança Social chamámos “Número de Segurança
mercado de trabalho, mas também Social na Hora” para tentar cortar
consciente do que pode ser o ano de ciclos quase impossíveis de as
2024. São sinalizadas pessoas entrarem na economia
Independentemente das formal e é impressionante ver o
circunstâncias e de como evoluir a
pelas empresas número de estrangeiros que
situação económica, cá estaremos necessidades nas entraram no sistema. Foram mais
para mobilizar os instrumentos de 350 mil pessoas que obtiveram,
necessários para manter o
áreas tecnológicas, até ao momento, o número de
emprego. da construção Segurança Social na hora. Isto
Qual tem sido o contributo dos mostra que a simpliÆcação é um
trabalhadores estrangeiros para
civil, do turismo factor de inclusão.
este aumento do emprego e e da economia Qual o peso do desconto destes
quantos descontam para a trabalhadores no total?
Segurança Social?
do cuidado Representam cerca de 10% dos

trabalhadores e dos descontos
feitos à Segurança Social.
Quanto ao futuro, de quantos
trabalhadores estrangeiros
precisaríamos e em que áreas?
São sinalizadas pelas empresas
necessidades nas áreas
tecnológicas, da construção civil,
do turismo e da economia do
cuidado. Estamos a procurar
identiÆcar as áreas para fazer uma
ligação entre as necessidades e a
promoção e divulgação no
estrangeiro destas oportunidades
de emprego em Portugal.
Colocámos adidos dedicados ao
trabalho em Cabo Verde, Marrocos,
Timor e Índia. O objectivo é
colocar estes adidos nos países da
Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa, mas estamos a fazer
mais do que isso e optámos por,
em Cabo Verde, Moçambique e
Timor, fazer directamente a
formação nestes países.
Em Julho, a Autoridade para as
Condições de Trabalho (ACT)
identificou 350 mil
trabalhadores cujos contratos
ultrapassaram os limites legais.
Quantos destes trabalhadores
estavam, de facto, em situação
irregular e que medidas foram
tomadas?
Não podemos estar à espera que
500 inspectores vão veriÆcar todos
os locais de trabalho do país e, hoje
em dia, com a inteligência artiÆcial
e com o cruzamento de dados,
conseguimos detectar situações de
forma mais eÆciente.
Pela primeira vez, fizemos uma
acção de cruzamento de dados
entre a Segurança Social e a ACT.
Num primeiro momento, foram
detectados cerca de 350 mil
trabalhadores, em 80 mil empresas,
cujo prazo identificado nas bases de
dados da Segurança Social
ultrapassava o limite legal e as
empresas foram notificadas para
corrigir as situações.
Num segundo momento,
subsistiram cerca de 70 mil
trabalhadores relativamente aos
quais as situações ainda não tinham
Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023 • 25
sido alteradas ou corrigidas. Neste
momento, a ACT e o Instituto
Informática estão a veriÆcar estas
70 mil situações para agir
relativamente às [empresas].
O nosso objectivo é continuar
com este tipo de intervenção de
Æscalização inteligente. Até ao Ænal
do ano contamos fazer uma acção
semelhante de cruzamento de
dados para detecção de falsos
recibos verdes. Gosto de citar o
Papa Francisco quando diz que a
precariedade mata vidas e mata a
sociedade — porque um jovem que
tem um contrato precário ou um
falso recibo verde diÆcilmente terá
capacidade de se autonomizar e de
decidir ter crianças. Tudo faremos,
com estas novas formas de
detecção, para que se sinta que
somos implacáveis no combate à
precariedade que não tem qualquer
justiÆcação.
O Governo quer aproximar a
tributação dos recibos verdes
da tributação do trabalho
dependente, mas a medida não
está prevista no OE. É para
avançar?
Essa é uma medida que incluímos
no reforço do Acordo de
Valorização dos Rendimentos, dos
Salários e da Competitividade. No
caso da Segurança Social já existe
um mecanismo de correcção das
contribuições das empresas,
quando é detectado que um
trabalhador é economicamente
dependente. O objectivo é também
criar mecanismos para que as
opções Æscais não determinem a
perversão do sistema ou a opção
por falsos recibos verdes. É uma
medida para regulamentar e
trabalhar em sede de Concertação
Social com os parceiros.
O IVA zero vai ser substituído
por apoios directos aos mais
necessitados. Há um valor fixo a
atribuir a cada pessoa ou é um
valor que vai ser incorporado
nas próprias prestações sociais?
A opção para 2024 foi reforçar
estruturalmente as prestações
sociais. Nos apoios às famílias com
Pela primeira vez, Ælhos temos um aumento de 22
Äzemos uma acção euros no abono de família e, no
caso das famílias monoparentais,
de cruzamento de, no mínimo, 33 euros. Mas
de dados entre a também antecipámos para 2024 a
convergência complemento
Segurança Social solidário para idosos com o limiar
e a Autoridade de pobreza, o que signiÆca um
aumento no valor de referência de
para as Condições 62 euros por mês, e aumentámos o
do Trabalho valor-base do rendimento social de
inserção em 28 euros por mês.
Modelámos as prestações para
O nosso objectivo garantir que incorporamos os
apoios extraordinários.
é continuar Estes aumentos das prestações
com este tipo decorrem da medida IVA Zero
que foi eliminada?
de intervenção Estes aumentos decorrem de dois
de Äscalização factores: da incorporação dos
apoios extraordinários e da
inteligente incorporação do impacto que a
medida IVA Zero tinha nestes
agregados e nos seus custos com a
alimentação.
A preocupação que tivemos foi
focalizar nas famílias mais
vulneráveis, sobre as quais o
aumento dos bens alimentares tem
mais efeito, dando-lhes um
adicional que passa a ser estrutural
e incorporado na prestação.
Ao nível fiscal, o Orçamento do
Estado (OE) para 2024 está
muito virado para a classe
média, segundo o ministro das
Finanças. O que é neste
momento a classe média?
A grande prioridade que este
Orçamento assume é a valorização
dos rendimentos das famílias e dos
trabalhadores nas suas várias
dimensões, seja na valorização dos
rendimentos não salariais, através
dos apoios sociais, seja na
valorização dos salários e na
diminuição dos impostos sobre o
trabalho.
A redução de impostos é uma
pedra-de-toque do OE para 2024.
Foi isso que nos mobilizou a todos:
seja na redução do IRS; seja no
salário mínimo isento de IRS; seja
através também de uma nova
medida prevê um incentivo fiscal
quando haja partilha na distribuição
de lucros aos trabalhadores.
A saída da Confederação
Empresarial de Portugal (CIP)
deixou o acordo de rendimentos
fragilizado? Prevê que as
associadas da CIP não apliquem
o aumento de 5% previsto?
O acordo inicial e o reforço do
acordo vivem pela força das suas
medidas e dos seus objectivos. Um
exemplo concreto, o incentivo
Æscal de valorização do salário dos
trabalhadores, que é a majoração
em IRC, aplica-se às empresas que
pagarem este aumento.
Que leitura faz do facto de a CIP
ter ficado fora do acordo e de
ter colocado o foco no 15.º mês?
Foram semanas intensíssimas de
diálogo e negociação com todos os
parceiros sociais.
Não houve um tratamento
privilegiado da CIP?
Reuni-me com todos os parceiros
sociais de uma forma muito
intensa, muito participada.
Tínhamos, por um lado, um
documento comum entregue por
todas as confederações patronais e,
depois, tínhamos documentos
entregues individualmente por
cada uma das confederações
patronais e sindicais.
As 54 medidas do reforço do
acordo resultam de um equilíbrio e,
naturalmente, não podem satisfazer
todas as partes. Temos medidas
importantes e de transformação do
mercado de trabalho, como a
criação de um mecanismo de
reforma a tempo parcial.
É para avançar quando?
O objectivo que assumimos foi ser
implementada em 2024.
26 • Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023
Economia Prestação Social Única pode ser criada em 2024
Relação com a Segurança Social
Registo de trabalhadores domésticos
passa a ser online a partir de Novembro
Hora da Verdade
Raquel Martins e Sandra Afonso
(Renascença) Texto
Nuno Ferreira Santos Fotografia
Ana Mendes Godinho,
ministra do Trabalho,
anunciou ainda medidas de
simplificação na relação
com a Segurança Social
No ano passado, o Governo anun-
ciou um programa de simpliÆcação
e transição digital da Segurança
Social. Agora, a ministra do Traba-
lho, Ana Mendes Godinho, garante
que algumas das medidas aí previs-
tas estão prontas para avançar já em
Novembro.
Uma das mais relevantes é a
possibilidade de se fazer o registo
dos trabalhadores domésticos no
site da Segurança Social, quando
até aqui o formulário tinha de ser
enviado por correio ou entregue
presencialmente nos serviços. A
criminalização do trabalho não
declarado, em vigor desde 1 de
Maio, fez triplicar o número de
trabalhadores do sector doméstico
registados e esta medida permitirá
simpliÆcar o processo. Em curso
está também uma avaliação do
regime contributivo destes
trabalhadores, que Ana Mendes
Godinho conta ter concluída no
Ænal de Outubro.
Também no próximo mês avança
o balcão digital da Segurança Social
e a possibilidade de os
trabalhadores interromperem a
baixa por doença através dos
canais online, sem terem de se
deslocar aos serviços, anuncia em
entrevista ao Hora da Verdade do
PÚBLICO-Renascença.
A prestação social única (PSU)
está prometida há vários anos.
Quando é que avança e que
prestações vai abarcar?
Estamos, em conjunto com a
Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico
(OCDE), a fazer uma avaliação do
modelo da PSU, um projecto que
está a ser apoiado pela Comissão
Europeia. O nosso objectivo é que
a prestação seja criada em 2024.
O que temos procurado fazer é
transformar a Segurança Social
para ser cada vez mais simples. Em
Novembro vai avançar o e-balcão
da Segurança Social e, pela
primeira vez, vamos ter um espaço
online onde qualquer pessoa pode
pôr o seu problema para que seja
resolvido naquele canal.
Outra medida que também vai
avançar em Novembro é a
possibilidade de se fazer a
comunicação da contratação de
um trabalhador do serviço
doméstico online.
O e-balcão implica reforço de
pessoal?
O e-balcão faz parte do programa
de transformação digital da
Segurança Social e vai chamar-se
“e-clic”. Implica inteligência
artiÆcial e uma reorganização de
recursos humanos e do modelo de
atendimento, permitindo que haja
uma interacção personalizada
entre as pessoas, as empresas e os
serviços através de um canal
único, com uma resposta única.
Teremos um robot a responder
às pessoas?
Não, terá inteligência artiÆcial na
identiÆcação do historial do
beneÆciário, mas quem
responderá será sempre uma
pessoa de rosto humano.
Foi criado um grupo de trabalho
para reavaliar o regime
contributivo dos trabalhadores
do serviço doméstico. Quando
haverá resultados?
Estou à espera que me
apresentem o relatório. Pedimos
que se Æzesse uma avaliação mais
profunda, nomeadamente sobre
os níveis de protecção dos
trabalhadores de serviço
doméstico.
Quando conta ter o relatório?
Ainda no mês de Outubro, para
depois avaliarmos as alterações
legislativas a fazer. Em qualquer
caso, a partir de Novembro pode
ser feito o registo online.
Ainda em matéria de subsídios,
no próximo ano contam gastar
menos com as baixas por
doença. Como é que esperam
fazer isso, se nos últimos anos
esta despesa tem aumentado
sempre?
Neste momento estamos a
trabalhar em conjunto com o
Ministério da Saúde e com o
Ministério das Finanças para
perceber a evolução das baixas e
fazer uma avaliação das causas
predominantes.
Já agora, há uma medida que
vamos implementar também a
partir de Novembro que é a
possibilidade de a pessoa que está
de baixa regressar
antecipadamente ao trabalho, sem
ter de se deslocar
[presencialmente] aos serviços de
Segurança Social. Uma pessoa que
se sente recuperada vai passar a
poder, através de um clique, gerir a
sua situação na Segurança Social
directa.
Os aumentos das pensões
anunciados dependem de
indicadores que só estão
disponíveis em Novembro. A
sua expectativa é a de que haja
alguma alteração substancial?
A expectativa é a de que os
aumentos serão de acordo com as
previsões que temos. Estes serão
os valores que serão aplicados a
partir de Janeiro: de 5,2% para as
pensões superiores a 3061 euros,
de 5,8% para as pensões entre
1020 e 3061 euros e aumento de
6,2% para as pensões até 1020
euros.
Além do aumento de 6,2% das
Vamos
implementar
também a partir
de Novembro a
possibilidade de a
pessoa que está de
baixa regressar
antecipadamente
ao trabalho, sem
ter de se deslocar
[presencialmente]
à Segurança Social
pensões até 1020 euros, também se
aplicará a mesma regra ao
Indexante dos Apoios Sociais (IAS)
com impacto em muitas prestações
e no valor dos estágios do Instituto
de Emprego e Formação
ProÆssional que passam a barreira
dos mil euros.
Apesar da criação da Pensão na
Hora, a verdade é que continua
a haver atrasos superiores a dois
anos na atribuição das pensões
e a própria provedora de Justiça
tem alertado para isso. Porque é
que o problema continua por
resolver?
Neste momento, temos já 82.400
pensões na hora atribuídas, o que
signiÆca cerca de 70% dos pedidos
que entram. Em 2019, o tempo
médio de atribuição da pensão era
de 218 dias; em 2022, de 54 dias e,
em 2023, de 23 dias.
A sua expectativa é que baixe
ainda mais?
O meu objectivo é que todos sejam
na hora. Começámos com as
pensões de trabalhadores com
carreiras contributivas mais
estruturadas e estamos a alargar a
Pensão na Hora às várias
situações.
Estamos com mais diÆculdade
nas situações em que as carreiras
contributivas são mais complexas.
Quando há carreiras que implicam
uma combinação entre trabalho
prestado no sector privado e no
sector público, ou carreiras no
estrangeiro.
Neste momento estamos a
trabalhar com a Caixa Geral de
Aposentações para garantir uma
maior interoperacionalidade.
Quando espera resultados?
O meu objectivo é que em 2024
consigamos eliminar lastros de
problemas históricos.
No ano passado o Governo
previa um impacto negativo na
sustentabilidade da Segurança
Social decorrente do aumento
das pensões previsto na lei.
Agora, quando se olha para o
relatório da sustentabilidade
publicado com o OE, percebe-se
que, aÆnal, a sustentabilidade
não só melhora, como a própria
almofada das pensões ganha
tempo de vida. Foi uma análise
precipitada a que foi feita em
2022? Como é que se explica
que de um ano para o outro o
cenário mude tanto?
Não se pode falar em análise
precipitada, porque é feita com
base em relatórios do Gabinete de
Estudos e Planeamento no
Ministério do Trabalho. Nessa
altura, porque tínhamos esse
relatório com as projecções a
antecipar os primeiros anos do
déÆce da Segurança Social,
tomámos a decisão difícil de
esperar para ter a certeza da
evolução da economia, do
mercado de trabalho e das receitas
da Segurança Social.
Esse documento não
equacionava um aumento dos
salários de 8% em 2023 e ainda não
equacionava o impacto do acordo
de rendimentos assinado com os
parceiros sociais.
O novo relatório que acompanha
agora o OE para 2024 aponta para
uma situação que garante e
assegura a sustentabilidade da
Segurança Social, com as pensões
garantidas para lá de 2070.
O que vai mudar no Plano
Poupança Reforma do Estado?
Desde já, quero dizer que a adesão
ao regime público de capitalização
vai poder ser feita online e,
quando Æzer a adesão, a pessoa
terá logo cenários de opções de
descontos e das projecções de
rentabilidade. Acontecerá até ao
Ænal deste ano.
O acordo que subscrevemos com
os parceiros sociais foi criar
incentivos para os rendimentos dos
trabalhadores que possam ser
alocados a instrumentos de
capitalização.
Mas o OE não tem medidas
nesse sentido.
Será feito num diploma à parte. O
que temos previsto é que esta
regulamentação será feita em
2024, depois de termos a
conclusão do trabalho da
Comissão da Sustentabilidade da
Segurança Social.
 Público ClassiÄcados • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023 • 27

Fundada em 1988 pelo Professor Doutor Carlos Garcia, a Associação Portuguesa de

Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer - Alzheimer Portugal é uma Instituição Associação Norte de Apoio ao Estudo
Particular de Solidariedade Social. É a única organização em Portugal, de âmbito nacional,
constituída há mais de 30 anos especificamente para promover a qualidade de vida das
Pessoas com Demência e dos seus familiares e Cuidadores. Tem cerca de dez mil associados em todo o país.
dos Tumores Torácicos
Oferece Informação sobre a doença, Formação para cuidadores formais e informais, Apoio domiciliário, Apoio Social e ANÚNCIO Universidade do Minho
Unidade de Serviços de Recursos Humanos

CONVOCATÓRIA
Psicológico e Consultas Médicas da Especialidade.
Como membro da Alzheimer Europe, a Alzheimer Portugal participa ativamente no movimento mundial e europeu M/F
sobre as demências, procurando reunir e divulgar os conhecimentos mais recentes sobre a Doença de Alzheimer, Torna-se público que se encontra aberto processo de recrutamento para a contratação de um
promovendo o seu estudo, a investigação das suas causas, efeitos, profilaxia e tratamentos.
Contactos
Técnico Superior, na modalidade de Contrato de Trabalho a termo resolutivo incerto, ao abrigo do ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA
Código do Trabalho, na Universidade do Minho, sob Ref.ª CTTRI-PTAG-36/23-USFP(1),
Sede: Av. de Ceuta Norte, Lote 15, Piso 3, Quinta do Loureiro, 1300-125 Lisboa - Tel.: 21 361 04 60/8 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
Centro de Dia Prof. Dr. Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2 - Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa - Tel.: 21 360 93 00 REQUISITOS GERAIS DE ADMISSÃO: Por força do previsto nos Artigos 16.º, n.º 2 e 17.º, n.º 1,
Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário «Casa do Alecrim»: Rua Joaquim Miguel Serra Moura, n.º 256 - Alapraia, 2765-029 Estoril - Tel. 214 525 145 a) Possuir grau de licenciatura em Contabilidade, Gestão, Administração Pública, Economia e áreas afins;
E-mail: casadoalecrim@alzheimerportugal.org
b) Não estar vinculado à Universidade do Minho através de um contrato de trabalho por tempo
dos Estatutos da Associação Norte de Apoio ao Estudo dos
Delegação Norte: Centro de Dia “Memória de Mim” - Rua do Farol Nascente, n.º 47A R/C, 4455-301 Lavra - Tel. 229 260 912 | 226 066 863
- E-mail: geral.norte@alzheimerportugal.org indeterminado, ao abrigo do Código do Trabalho, na mesma carreira. Tumores Torácicos, são convocados todos os Associados
Delegação Centro: Urb. Casal Galego - Rua Raul Testa Fortunato n.º 17, 3100-523 Pombal Tel. 236 219 469 - E-mail: geral.centro@alzheimerportugal.org
Delegação da Madeira: Avenida do Colégio Militar, Complexo Habitacional da Nazaré, Cave do Bloco 21 - Sala E, 9000-135 FUNCHAL
O prazo para a apresentação das candidaturas decorre no período de 17/10/2023 a 20/10/2023. para a Assembleia Geral, que se realizará no próximo dia 25
O texto integral do processo de recrutamento e seleção encontra-se disponível em
Tel. 291 772 021 - E-mail: geral.madeira@alzheimerportugal.org
Núcleo do Ribatejo: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31-A, 2080-114 Almeirim - Tel. 24 300 00 87 - E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org https://intranet.uminho.pt/Pages/Documents.aspx?Area=Procedimentos%20Concursais de Novembro de 2023, nas Instalações do Hotel Axis Porto, sito
Núcleo do Algarve da Alzheimer Portugal: Urbanização do Pimentão, lote 2, Cave, Gabinete 3,
Três Bicos, 8500-776 Portimão - Telemóvel: 965 276 690 - E-mail: geral.algarve@alzheimerportugal.org A Diretora de Serviços, Aleida Lopes Vaz Carvalho na Rua Maria Feliciana, n.º 100, S. Mamede de Infesta – Porto,
pelas 1200 horas, com a seguinte ordem de trabalhos:
Um – Apreciação e Votação do Orçamento e do Programa de
Contratação de Pessoal Docente (M/F)
Ação para o ano de 2024 e Parecer do Conselho Fiscal;
CD-CTTI-151-SGRH/2023 - Doutor Paulo Jorge dos Santos Gonçalves Ferreira, Dois – Outros Assuntos.
Professor Catedrático e Reitor da Universidade de Aveiro, faz saber que, pelo
prazo de trinta dias úteis contados do dia útil imediato àquele em que o presente Dá-se conhecimento público de que se encontra aberto A Assembleia reunirá em primeira convocatória às 12:00 Horas.
anúncio for publicitado, se encontra aberto concurso documental, de âmbito o processo de recrutamento de pessoal em regime de Se não estiverem presentes ou representados mais de metade
internacional, para recrutamento de 1 (um) posto de trabalho de Professor dos Associados, reunirá em segunda convocatória às 12:30
Adjunto para a área disciplinar de Engenharia Mecânica, subárea de Automação contrato de trabalho por tempo indeterminado para a
Gestão de Projetos e Contratos integrada na Divisão de
Horas, com qualquer número de Associados.
ou área de Eletrotecnia, subárea de Controlo, visando o desenvolvimento do
domínio das tecnologias na área da automação de processos industriais e da Projetos de Informação e Estratégia Científica da Reitoria Porto, 11 de Outubro de 2023
robótica industrial para a Escola Superior de Design, Gestão e Tecnologias da
Produção de Aveiro-Norte, da Universidade de Aveiro, em regime de contrato da Universidade NOVA de Lisboa: A Presidente da Mesa da Assembleia Geral
de trabalho por tempo indeterminado, ao abrigo do Código do Trabalho e do Dra. Beatriz Fernandes
• 1 vaga de técnico superior (m/f), referência CT-36/2023-
Regulamento sobre Regime das carreiras próprias do pessoal docente em
regime de direito privado da Universidade de Aveiro e respetiva contratação UGPC-DPIEC, ao qual podem candidatar-se os Público, 16/10/2023
(Regulamento n.º 384/2014, de 26 de agosto). indivíduos que reúnam as condições fixadas no aviso
2 - O requerimento de candidatura deverá ser elaborado nos termos do edital
antes referido, publicitado no seguinte endereço eletrónico: https://www.ua.pt/pt/
disponível no endereço:
sgrh/pessoal-docente-novos-concursos-e-ofertas. http://www.unl.pt/nova/nao-docentes
3 - O prazo de candidaturas é de 30 dias úteis, contados a partir da data da
publicação do presente anúncio.
AVISO
O prazo para submissão das candidaturas é de 10 dias
Aveiro, em 27 de março de 2023
O Reitor, Prof. Doutor Paulo Jorge dos Santos Gonçalves Ferreira úteis a contar da data da publicação do presente anúncio. INTERRUPÇÃO DO FORNECIMENTO DE ÁGUA
Na sequência de trabalhos a realizar no âmbito da Empreitada de
“Prolongamento da Linha Amarela do Metro entre Santo Ovídeo e a Vila
D’Este”, da responsabilidade da Metro do Porto, esta Empresa Municipal será
obrigada a interromper o fornecimento de água no período compreendido
AVISO N.º 119/2023 entre as 22h00 do dia 17 e as 08h00 do dia 18 de outubro, afetando várias
Freguesia de Arroios
PROJETO DE OPERAÇÃO DAS ÁREAS DE REABILITAÇÃO artérias das freguesias de Mafamude, Oliveira do Douro e Vilar de Andorinho.
Extrato de Aviso URBANA DE S. MAMEDE DE INFESTA
A lista completa dos arruamentos afetados encontra-se disponível para
4454-510 Matosinhos-Portugal
Av. D. Afonso Henriques
PERÍODO DE DISCUSSÃO PÚBLICA consulta em www.aguasgaia.pt.
A Junta de Freguesia de Arroios torna público que
Luísa Maria Neves Salgueiro, Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, torna
foi publicado no Diário da República 2.ª Série, público no uso das competências que lhe são atribuídas pela alínea t) do artigo 35.º
De forma a evitar eventuais danos nas instalações ou habitações, deverá
N.º194/2023, de 6 de outubro de 2023, Aviso da lei n.º 75/2013 de 12 setembro, que a Câmara Municipal em sua reunião ordinária V. Exa considerar a instalação predial em carga, assegurando-se que
(extrato) N.º 19279/2023, o procedimento concursal, pública de 20 de setembro de 2023, deliberou aprovar nos termos da alínea b) do artigo todas as torneiras se encontram fechadas, conforme o preceituado no
7.º da lei n.º 32/2012 de 14 de agosto o Projeto de Operação de Reabilitação Urbana de Regulamento dos Sistemas Públicos e Prediais de Abastecimento de
no regime de contrato em funções públicas por S. Mamede de Infesta.
Água e de Drenagem de Águas Residuais do Município de Vila Nova de
tempo indeterminado, para preenchimento de Deliberou ainda, nos termos do nº 4 do artigo 17º da lei n.º 32/2012 de 14 de agosto,
(+351) 229 390 900
Contactos

Gaia, não se responsabilizando esta empresa por quaisquer prejuízos

CONHEÇA um posto de trabalho, da carreira e categoria de
Técnico Superior, do Mapa de Pessoal desta Junta
conjugado com o RJIGT, n.ºs 1 e 2 do artigo 89º do decreto-lei n.º 80/2015 de 14 de
maio, mandar abrir o período de discussão pública, pelo prazo de 20 dias, com início 5
dias após a data da publicação deste aviso no Diário da República.
decorrentes deste tipo de situação.

AS NOSSAS
CONHEÇA de Freguesia, para Divisão de Espaço Público As sugestões e informações poderão ser apresentadas nos Serviços Técnicos da
Câmara Municipal de Matosinhos, no Front-Office da Loja do Munícipe, na página da
O Conselho de Administração apresenta, desde já, as suas desculpas pelo
incómodo causado, garantindo, todavia, que os trabalhos serão executados
(DEP), secção de Espaços Verdes e Ambiente.
COLECÇÕES
AS NOSSAS Internet ou por e_mail: mail@cm-matosinhos.pt. com a máxima celeridade de forma a minorar as dificuldades dos moradores.
www.cm-matosinhos.pt
mail@cm-matosinhos.pt

O Projeto encontra-se à disposição, para consulta, no site da Câmara Municipal, em

O prazo de candidatura terminará em 27 de
“Editais e Avisos” e em “Discussão Pública”. Para qualquer esclarecimento queira por favor utilizar o seguinte contacto:
DE
COLECÇÕES outubro de 2023.
Lisboa, 13 de outubro de 2023
Matosinhos e Paços do Concelho, 25 de setembro de 2023 Linha Verde – 800202767
ACESSÓRIOS

A Presidente da Câmara,
DE A Presidente da Junta de Freguesia de Arroios
Maria Madalena Matambo Guerra Domingues Natividade
Vila Nova de Gaia, 15 de outubro de 2023
O Conselho de Administração
ACESSÓRIOS

(Dra. Luísa Salgueiro)

CSC-ASSOCIAÇÃO DE SOCORROS MÚTUOS

DE EMPREGADOS NO COMÉRCIO DE LISBOA
INSTITUIÇÃO PARTICULAR DE SOLIDARIEDADE SOCIAL
Largo de S. Cristóvão, 1 — 1149-053 Lisboa
Pessoa Coletiva N° 500 722 250

CLÍNICA DE SÃO CRISTÓVÃO ANÚNCIO Ref.ª 48/TSDT/2023 ANÚNCIO Ref.ª 54/ADM/2023 ANÚNCIO Ref.ª 59/ADM/2023
ASSEMBLEIA GERAL ELEITORAL
TÉCNICO/A SUPERIOR DE ASSISTENTE ADMINISTRATIVO/A (M/F) ASSISTENTE ADMINISTRATIVO/A
Convoco em sessão extraordinária, nos termos do n.° 1 do
artigo 80.° do CAM para os efeitos estatuídos nos termos DIAGNÓSTICO E TERAPÊUTICA (M/F) SERVIÇO DE GESTÃO DOENTES UNIDADE DE FORMAÇÃO E ENSINO
da alínea b) do artigo 18.°, alínea a) do n.° 1 do artigo 19.°, ÁREA DE ANATOMIA PATOLÓGICA Torna-se público que se encontra aberto, Torna-se público que se encontra aberto,
n.°s 1 e 2 do artigo 20.°, articulado com os n.°s 3 e 4 do
artigo 25.°, dos Estatutos, conjugado com as alíneas i) e j) SERVIÇO DE ANATOMIA PATOLÓGICA por um período de 5 dias a contar da por um período de 5 dias úteis a contar da
do artigo 88.° e artigo 92.° do CAM, e segundo as regras data da publicação do presente aviso, o data da publicação do presente aviso, o
Torna-se público que se encontra aberto, por
do Regulamento Eleitoral, a Assembleia Geral Eleitoral, a processo de recrutamento para Assistente
reunir na sede social, no dia 21 de Novembro do presente um período de 5 dias úteis a contar da data processo de recrutamento para Assistente
da publicação do presente aviso, o processo Administrativo/a para a Unidade de
ano de 2023, com início pelas 09,00 horas e encerramento Administrativo/a para o Serviço de Gestão
de recrutamento para Técnico/a Superior de Formação e Ensino, para preenchimento
às 18,00 horas, com a seguinte ordem de trabalhos: Doentes, para preenchimento de vagas em
Diagnóstico e Terapêutica, Área de Anatomia de vaga em regime de contrato individual
- Eleição dos Corpos Sociais para o quadriénio 2024-2027. regime de contrato individual de trabalho e
Patológica, para o Serviço de Anatomia de trabalho e constituição de bolsa de
Lisboa, 13 de Outubro de 2023 constituição de bolsa de recrutamento.
Patológica, para constituição de Bolsa de recrutamento.
A Presidente da Mesa da Assembleia Geral Recrutamento para preenchimento de vagas em Os requisitos, gerais e específicos, respetiva Os requisitos, gerais e específicos, respetiva
Drª Ana Paula Pereira Berroñes regime de contrato de trabalho. grelha com critérios e ponderações de
Notas: grelha com critérios e ponderações de
1. Na Assembleia, terão capacidade para votar os sócios efetivos, no ple- Os requisitos, gerais e específicos, respetiva avaliação, composição da Comissão de avaliação, composição da Comissão de
no gozo dos seus direitos sociais à data da eleição, tal como estatuído grelha com critérios e ponderações de avaliação,
no n.° 2 do artigo 17.°, dos Estatutos, e n.° 2 do artigo 4.° do respetivo Avaliação e outras informações de interesse Avaliação e outras informações de interesse
Regulamento, nomeadamente, que tenham liquidado as suas quotas, no composição da Comissão de Avaliação e outras para apresentação de candidatura,
ano civil em curso.
para apresentação de candidatura,
informações de interesse para apresentação
2. Foi apresentada, e cumprindo as cláusulas estatutárias, uma única encontram-se disponíveis em versão integral encontram-se disponíveis em versão integral
Lista subscrita, tendo como mandatário o Sr. Dr. Filipe Roque, a qual foi de candidatura, encontram-se disponíveis em
aceite, tendo sido designada como Lista A, conforme o n.° 2 do artigo 7.° no anúncio de recrutamento disponível na no anúncio de recrutamento disponível na
versão integral no anúncio de recrutamento
do Regulamento Eleitoral.
disponível na página eletrónica do HFF,EPE, em página eletrónica do HFF,EPE, em https:// página eletrónica do HFF,EPE, em https://
loja.publico.pt
3. Será publicitada a respetiva candidatura nos termos do artigo 7.° do
Regulamento Eleitoral. https://hff.min-saude.pt/hospital/recrutamento. hff.min-saude.pt/hospital/recrutamento. hff.min-saude.pt/hospital/recrutamento.
4. Após o encerramento do ato eleitoral e do apuramento dos resultados,
INFO: 210 111 010 conforme estatui o artigo 12.° do Regulamento Eleitoral, proceder-se-á
em sessão pública ao Ato de Posse dos novos Corpos Sociais.
Amadora, 16 de outubro de 2023 Amadora, 16 de outubro de 2023 Amadora, 16 de outubro de 2023
28 • Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023

Cultura Gigante dos media celebra com uma exposição e um Ɗlme

Walt, Mickey e amigos

nos cem anos da Disney
em Londres
Centenário do gigante do entretenimento é assinalado com uma
exposição itinerante, Disney100: The Exhibition, em Londres,
e uma curta, Era Uma vez Um Estúdio, por todo o mundo
Reportagem
Rodrigo Nogueira, em Londres
Foi a 16 de Outubro de 1923 que
dois irmãos, Walt e Roy Disney,
fundaram em Hollywood aquilo
que viria a ser a Disney. Primeiro
era um estúdio de animação
chamado Disney Brothers Studio.
Acabaria por se tornar um
conglomerado multinacional, um
gigante dos media e do
entretenimento no geral, que
engloba não só o trabalho do
próprio Disney e do estúdio com
o seu nome, mas também
aquisições recentes como a
Marvel ou o universo Star Wars.
Os seus 100 anos são assinalados
esta segunda-feira, com a estreia
de Era Uma Vez Um Estúdio, uma
curta-metragem de Dan Abraham
and Trent Correy que inclui mais
de 500 personagens deste século
de Disney (vozes icónicas
incluídas, algumas há muito
desaparecidas), e passará no
Disney+, nos canais Fox, Disney e
24Kitchen.
Nela, o animador veterano
Burny Mattinson, que morreu em
Fevereiro e trabalhava na Disney
desde os anos 1950, imagina como
seria se as paredes do estúdio
pudessem falar. E depois as
personagens saem delas. A curta
foi mostrada na quinta-feira
passada em Londres, na festa de
pré-inauguração da exposição
itinerante Disney100: The
Exhibition no centro de exposições
ExCel, na zona leste da cidade,
tendo já passado por FiladélÆa e
Munique, rumando depois a
Chicago (haverá mais viagens à
volta do mundo, ainda por
anunciar), com a presença de,
um vídeo do Rato Mickey vestido à
Fantasia e um actor a fazer de Walt
Disney conta a história do estúdio
dos irmãos. Prefere falar das
técnicas de contar histórias e ter a
história da empresa como ponto
de partida do que seguir uma
cronologia. No início, vemos os
começos com personagens como
Oswald the Lucky Rabbit, cujos
direitos perderam, e depois
criações originais como o próprio
Mickey, que era, sublinha-se
sempre, uma espécie de alter-ego
de Walt Disney, que lhe dava
originalmente a voz. Temos as Silly
Symphonies, a série de curtas
entre os anos 1920 e 1930 que
juntavam animação a música, as
inovações tecnológicas em termos
de animação, a abertura dos
parques temáticos.
Além dos clássicos de animação
que associamos à marca, há de
tudo por ali, em artefactos,
modelos, desenhos, guarda-roupa
que inspirou animação ou foi
usado para Ælmes de imagem real,
música, televisores com vídeos do
próprio Walt Disney a falar, mesas
interactivas, storyboards, adereços
ou jogos. Muitos são réplicas. Até
elementos que não associaríamos
necessariamente à Disney. Há
capacetes de super-heróis Marvel
ou sombras das personagens de
Peter Pan feitas com luzes no chão.
Pode-se, por exemplo, controlar
Rocket Raccoon, dos Guardiões de
Galáxia, ou jogar um ultra-simples
puzzle que revela uma tábua de
madeira usada por Nicolas Cage
em O Tesouro: Livro dos Segredos,
de 2007. Podemos ver
computadores antigos da Pixar
também.
Na penúltima sala (são dez ao
todo), há montras dedicadas às
várias décadas da empresa. Na dos
anos 1990, um capacete de As
Aventuras de Rocketeer,
ferramentas usadas por Tim Allen,
que viria depois a dar voz a Buzz
Lightyear em Toy Story, na
sitcomObras em Casa, ou, num
televisor, imagens de Sarilhos com
Elas, outra sitcom. São tudo
produções da Touchstone
Pictures, que pertencia à Disney.
Nos anos 2000, vemos a saga High
School Musical e uma fotograÆa de
um jovem Zac Efron e uma bola de
basquetebol, bem como adereços
da Dharma Initiative da série
Perdidos e imagens da
sitcomblack-ish — ambas da ABC,
pertença da Disney desde 1996.
Os que fazem a Disney
Becky Cline, que trabalha na
Disney desde 1989, é a directora
dos Arquivos da Disney, que
organizam a exposição e que ao
longo dos anos têm englobado
cada vez mais marcas e
submarcas, à medida que a
empresa se foi expandindo e
fundindo. Ao pé de réplicas de
atracções dos parques temáticos,
explica aos jornalistas, horas
antes da festa, como foi escolher
o que Ægurava ou não nesta
exposição que esteve quase meia
década a ser preparada. A ideia
era ser “uma exposição mais para
a família”, antes preocupada em
“celebrar os 100 anos da Disney”
do que explorar momentos
menos bom ou controversos da
história da empresa, diz ao
PÚBLICO. “São cem anos e muitas
coisas mudam no mundo nesse
tempo. Há coisas que Æzemos há
muitos anos e provavelmente não
faríamos agora, mas eram
aceitáveis na altura. Honramos a explicitamente racista que não perspectiva daquilo que Walt

além de actores com cabeças de
bonecos como Mickey, Pateta ou
Tico e Teco, o animador e
realizador Eric Goldberg ou Bret
Iwan, a actual voz do célebre rato.
A exposição, que está
oÆcialmente aberta desde
sexta-feira e continuará patente
até 2024, recebe os visitantes com
500
Era Uma Vez Um Estúdio,
uma curta-metragem de Dan
Abraham and Trent Correy que
inclui mais de 500 personagens
deste século de Disney
história toda da empresa, mas
quando estamos a celebrar algo
assim escolhemos não incluir
tópicos difíceis. Esses são
cobertos noutros sítios, há livros,
há documentários”, explica.
Não há, por exemplo, alusões a
Song of the South, o oscarizado
Ælme Disney de 1946
costuma ser (e bem) recordado.
“Estamos limitados a 2000 mil
metros quadrados. Só se pode
exibir alguns artefactos e histórias.
O que aconteceu foi que
escolhemos o tema da exposição e
as histórias que queríamos contar e
escolhemos o espólio que ajudaria
a fazer isso. Decidimos contá-la da
Disney começou em 1923 e como
continuámos com essas ÆlosoÆas
até aos dias de hoje”, continua. A
ideia da ÆlosoÆa e da inovação é
muito sublinhada ao longo de toda
a exposição. No Æm, a última
legenda antes de uma sala com
espelhos, estrelas e a silhueta de
Walt Disney a dizer adeus de mão

dada com Mickey, garante-se que a
empresa “acabou de começar”. O
foco, garante, é sempre “a Disney”.
“Há toques das nossas outras
unidades de negócio, como a Pixar,
a Marvel ou Star Wars, e queremos
partilhar também isso, mas esta é
basicamente a história da Disney”,
resume.
Numa das salas, em frente a
artefactos alusivos à pesquisa à
volta do mundo para Ælmes e
outras produções Disney, incluindo
Pocahontas, o já mencionado Eric
Goldberg, co-realizador desse Ælme
de 1998, faz desenhos de
personagens como o Génio de
Aladino, uma criação sua, e fala
sobre a Disney, onde trabalha
desde 1992. Está com uma camisa
FOTOS: DR
Era o próprio Walt Disney,
diz-nos a exposição, que
professava que tudo tinha
começado com um rato.
E tudo continua centrado nele
cem anos depois
Além dos clássicos de animação
que associamos à marca,
há de tudo nesta exposição,
em artefactos, modelos,
desenhos, guarda-roupa,
música, televisores com vídeos
do próprio Walt Disney
a falar, mesas interactivas,
storyboards, adereços ou jogos
com um padrão de Rato Mickey.
Terá sido um compromisso
empresarial? “A minha esposa,
Susan, que é directora de arte de
animação também, faz estas
camisas. Não foi compromisso. Sou
só um geek de animação, adoro
vestir camisas destas. Tenho um
guarda-roupa inteiro e camisas de
animação”, responde.
Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023 • 29
Antes de trabalhar para a Disney,
Goldberg trabalhou com Richard
Williams (1933-2019), o lendário e
oscarizado realizador que foi
responsável pela parte animada de
Quem Tramou Roger Rabbit?, isto
no Ælme, nunca acabado, The Thief
and the Cobbler, que esteve mais de
três décadas em produção. Qual é a
diferença entre trabalhar com
Williams e ir para a Disney?
“Independentemente dos
orçamentos, Richard Williams era
um perfeccionista. Queria que toda
a gente que trabalhava para ele
fosse perfeccionista. E era um
enorme fanático da Disney”,
recorda. Chegava, conta, a pôr
pessoas “a traçar, fotograma a
fotograma”, partes de O Livro da
Selva para perceber como é que a
animação tinha sido feita. “Esse
tipo de dedicação foi algo que ele
nos passou a todos. A transição não
foi difícil. Ele admirava e era amigo
desta gente toda também. E todos
tinham os mesmos objectivos:
como é que criamos personagens
que são memoráveis e
interessantes, quer se faça num
anúncio televisivo de 30 segundos
ou num Ælme?”
No centro de tudo, um rato
Bret Iwan é a voz desse mesmo
rato, Mickey, desde 2009. Como é
fazer a voz de uma personagem
tão icónica, mundialmente
conhecida, mas às vezes apenas
reduzida a um ícone literal, uma
silhueta, sem outras
características? “Percebo a
posição de quem só vê o Mickey
como um ícone, porque, por
muito fã da Disney que eu me
considerasse antes, percebi depois
de vestir esta personagem que
tinha uma percepção muito
pequena de tudo aquilo de que o
Mickey fazia parte. Pensava nele
nos parques temáticos e nas séries
de televisão. Não sabia que
também há videojogos e muitos
brinquedos que falam, anúncios e
álbuns de música”, admite. “E
essa experiência mudou a minha
percepção dele. Agora vejo-o
como um actor multifacetado. Sei
que parece parvo, porque percebo
que é só uma personagem de
desenhos animados, mas ele é
mesmo polivalente e pode ser
apelativo em vários tipos de
produtos diferentes”, diz.
Toda essa descoberta deu a
Iwan “uma percepção mais
completa do quanto o Walt Disney
inÇuenciou o Mickey”. Depois de
pesquisar o seu criador,
reconheceu os interesses e as
origens do próprio Disney no
Mickey. Era o próprio Walt Disney,
diz-nos a exposição, que
professava que tudo tinha
começado com um rato.
E tudo continua centrado nele
cem anos depois.
O PÚBLICO viajou a convite
da Disney
30 • Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023
Ciência e Ambiente Colisão terá acontecido há 100 milhões de anos
Bum! Os anéis de Saturno serão fruto
do embate de duas luas geladas
Há cem milhões de anos, a colisão de duas luas geladas terá originado os famosos anéis de Saturno.
Cientista português no Reino Unido simulou esse choque para provar que este cenário é plausível
Tiago Ramalho
Não é fácil imaginar Saturno despido
dos seus anéis — é uma imagem que
nunca vimos. Mas nem sempre este
gigante do nosso sistema solar teve
estes “colares” a rodeá-lo. Há cem
milhões de anos, este planeta estaria
menos ornamentado enquanto duas
grandes luas geladas se torneavam (e
aproximavam) até colidirem — e bum!
O choque provocou uma debandada
de matéria fragmentada, mas parte
desses detritos de gelo e rocha acu-
mulou-se perto do planeta, tornando-
o o verdadeiro senhor dos anéis.
Este novo cenário é mais uma ten-
tativa para responder a um dos mis-
térios provocados pelas viagens das
sondas Voyager 1 e 2 — ambas conti-
nuam a viajar, mas já bem longe da
Terra. No início dos anos 1980, os
dados recolhidos por estas duas
sondas norte-americanas mostra-
ram que os anéis de Saturno seriam
mais jovens do que os cientistas
pensavam. Ou seja, em vez de terem
a idade de Saturno — 4500 milhões
de anos — teriam cerca de 100
milhões de anos. Havia uma contra-
dição entre os modelos teóricos e os
dados observacionais. Já neste sécu-
lo, a sonda Cassini foi enviada para
Saturno para conÆrmar que os anéis
são mesmo jovens (na grande esca-
la temporal do Universo).
“Os resultados da Cassini mostra-
ram que os anéis são jovens porque
estão expostos ao transporte de mate-
riais à volta do sistema solar. E esses
materiais são tão grandes que os anéis
não podem ser velhos”, explica Luís
Teodoro, cientista português da Uni-
versidade de Glasgow que participa
no estudo que simulou o cenário de
embate entre duas luas geladas. A
investigação publicada na revista The
Astrophysical Journal mostra que, se
houver impacto entre diferentes luas,
é possível libertar material suÆciente
para formar os anéis de Saturno.
“Um colega meu gosta de brincar
com esta ideia: se a primeira gera-
ção de dinossauros tivesse a capaci-
dade de usar um telescópio e obser-
var os anéis de Saturno, não os
conseguia ver”, diz Luís Teodoro,
com uma gargalhada à mistura.
A discussão em torno da idade dos
anéis de Saturno não é, de todo, con-
sensual. Apesar de os cem milhões
de anos serem actualmente um valor
considerado por muitos dos cientis-
tas planetários, a origem destes
anéis é alvo de especulação desde
que foram descobertos no século
XVII: primeiro, em 1610, pela lente
do telescópio de Galileu Galilei, e
depois com a descrição mais precisa
da sua forma de anéis pelo neerlan-
dês Christiaan Huygens em 1655.
E nos outros planetas?
O cenário colocado pela equipa de
Luís Teodoro é a hipótese mais
recente para explicar a acumulação
de fragmentos de gelo e rocha nos
subúrbios de Saturno. Por exemplo,
no ano passado uma equipa lidera-
da por Jack Wisdom, do Instituto de
Tecnologia do Massachusetts (Esta-
dos Unidos), sugeriu que boa parte
do material e estrutura dos anéis se
deveria à aproximação da lua Crisá-
lida a Saturno, cuja interacção gra-
vitacional terá desfeito esta grande
lua gelada — e gerado os fragmentos
que compõem os anéis.
A equipa de Hyodo Ryuki, da Uni-
versidade de Kobe ( Japão), propôs
que o processo se deu mesmo no
período precoce da formação do
nosso sistema solar, com Saturno,
Neptuno, Úrano e Júpiter a captura-
rem os estilhaços desse início vio-
lento e, com isso, a formarem os
seus anéis. Júpiter, Neptuno e Úrano
também têm um sistema de anéis
— apesar de menos vistoso e famoso
do que os anéis de Saturno.
Se regressarmos ao cenário pro-
posto pela equipa de Luís Teodoro,
os estilhaços do choque entre duas
grandes luas geladas teriam de ser
atraídos para o limite de Roche — a
fronteira na qual a gravidade do pla-
neta pode desintegrar luas — e aí,
sim, esses fragmentos de gelo e
rocha poderiam formar os anéis. Os
fragmentos das luas que escaparam
a esta fronteira podem ter colidido
com outras luas ou até criado novos
satélites naturais de Saturno (atra-
vés da aglomeração de matéria).
A simulação utiliza duas luas
semelhantes ao tamanho actual de
Reia e Dione, duas das maiores luas
de Saturno — que têm cerca de meta-
de do tamanho da nossa Lua. Uma
das justiÆcações possíveis para o
choque entre duas luas é a forte gra-
vidade do nosso Sol, que poderá ter
desestabilizado a órbita de algumas
luas e conduzido a este choque.
Estes modelos que procuram
simular, através dos dados conheci-
dos com as sondas Voyager ou Cas-
sini, o passado do Universo são a
máquina do tempo possível para
reconstruir a formação dos anéis de
Saturno e de outros objectos celes-
tes. Luís Teodoro questiona: “Agora
há dúvidas. Será que aconteceu o
mesmo em Júpiter ou Úrano?” É
uma pergunta para futuros testes.
A criação deste cenário permite
que futuras explorações ao sistema
de Saturno possam procurar por
dados observacionais dos impactos
em luas jovens, por exemplo. Neste
momento, há 145 luas conhecidas em
torno de Saturno, depois de a União
Astronómica Internacional adicionar
mais 62 à contagem — é a conÆrmação
da ultrapassagem de Júpiter, que tem
95 luas. Ainda assim, os números não
devem parar por aqui.
Tal como a contagem de luas, a
publicação de novos cenários para a
formação dos anéis de Saturno não
deverá parar com a publicação deste
estudo. É mais uma hipótese plausível
para o aparecimento destes jovens
anéis que abrilhantam um dos maio-
res planetas do nosso sistema solar.
JPL/NASA
A colisão entre duas
luas geladas criou um
“caos” de matéria
espalhada em torno
deste gigante gasoso

As raparigas, o suicídio
e a televisão que se quer estranha
Série de seis episódios sobre um presente envenenado que estraga os planos de uma
jovem. Os planos eram o suicídio e o presente é uma casa. Humor negro no TVCine
Joana Amaral Cardoso
Está Mesmo Tudo Bem é uma tradu-
ção competente para o título original
da série que se estreia hoje às 22h10
no TVCine Edition, Totally Completely
Fine. Mas uma tradução excelente
teria sido a frase que dava título à
apresentação da série aos jornalistas
por parte dos canais TVCine: “É OK
Não Estar OK.” É uma questão de gos-
to, mas também de adequação a uma
geração em crise. Não é por acaso
que um dos cartazes mais memorá-
veis da primeira manifestação geral
pela habitação, em Abril, dizia:
“Senhorios é bué cringe.” Nem é por
acaso que na segunda manifestação,
no Æm de Setembro, esse cartaz foi
replicado. Há mensagens que resul-
tam e que falam com (pelo menos)
uma geração.
Mas divergimos, ou tergiversamos,
o que na verdade é bastante adequado
a Está Mesmo Tudo Bem, uma série
centrada numa jovem de vinte e pou-
cos anos em plena crise mas que se vê
constantemente enredada nas crises
dos outros. Tipo uma idosa enleada na
vedação de arame farpado com a qual
acaba a fumar erva. Porque não?
No mesmo dia da manifestação
pelo direito à habitação — sim, já che-
garemos à série, mas a seu tempo,
porque há ideias e uma “vibe” a
cimentar —, Jessica Grose apelava no
New York Times para que os criadores
“tornem outra vez a televisão e os
Ælmes estranhos”. É alguém que anda
pelo TikTok e pelo YouTube perante
o desinteresse da televisão linear e a
perda de identidade das plataformas
de streaming. Ora, Ænalmente as boas
notícias, embora não sejam exacta-
mente as que Grose esperava, são que
ainda há televisão suavemente estra-
nha, descomprometidamente des-
confortável e que vem de uma linha-
gem que ela até é capaz de reconhe-
cer. Só não é norte-americana. “Se
você gostou de Bad Sisters, então vai
gostar disto”, arrisque-se, qual Ama-
zon das sugestões televisivas.
Ou “se você gostou de The End of
the F***ing World, então vai gostar
disto”. Ou ainda, sem ter muito a ver,
“se você gostou de Sex Education,
então vai gostar de Está Mesmo Tudo
Thomasin McKenzie, a neozelandesa de Jojo Rabbit, é a protagonista da série Está Mesmo Tudo Bem
Bem”. Na verdade, como uma ques-
tão de premissa, está-se mais no ter-
ritório Por 13 Razões do que qualquer
uma das séries acima. Mas é a tal
“vibe”, a sensação que se transmite
quando se aborda o tema do suicí-
dio, do trauma, da culpa, das jovens
raparigas e mulheres mas com
humor seco e espírito rebelde de que
Está Mesmo Tudo Bem.
Negrume e comédia
Parece por Æm necessário apresentar
brevemente o enredo desta série, que
consiste em seis episódios e dos quais
o PÚBLICO viu os dois primeiros. O
avô de Vivian morre precisamente
quando ela ponderava matar-se. E
deixa-lhe uma casa, onde está cons-
tantemente a ser confrontada com
essa ideia. A casa (convém também
talvez dizer que esta é uma série aus-
traliana e que tem cenários a condi-
zer) Æca num penhasco frente ao mar
que, depois de algumas peripécias, se
torna numa espécie de campo de trei-
no anti-suicídio. Não explicar como
nem porquê é da mais singela etique-
ta para com o potencial espectador.
Mas o que se pode dizer é que a
protagonista, Thomasin McKenzie, a
neozelandesa de Jojo Rabbit, está de
se ver e que a premissa da série torna
não só as suas querelas familiares
numa forma de habitar Vivian com
mais personagens peculiares — ou
“quirky “, como diriam os ingleses —,
dando a conhecer os seus irmãos e
respectivas órbitas, como também
torna a casa numa espécie de porta
giratória de Æguras deste e de outros
tempos. Tudo alimenta a intriga que,
voltemos uns parágrafos acima, não
há dados suÆcientes para dizer que
está ao nível de Bad Sisters, por exem-
plo, mas que dá vontade de ver mais
um episódio. Há tanta oferta e tanta
dispersão que esta é uma informação
tão válida quanto outra qualquer.
A seriedade do tema, que esconde
outro tema igualmente sério, é como
o “gaslighting” em Bad Sisters ou a
Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023 • 31
ecrãs
DR
sociopatia em The End of the F***ing
World — abordada de uma forma
ligeiramente descadeirada, algures
entre o humor e o respeito pelas
questões de saúde mental que susci-
ta, o que perfaz televisão um boca-
dinho estranha.
Escrita e produzida por Gretel Vella
(The Great), foi considerada pelo jor-
nal The Age como “uma das séries
australianas mais ambiciosas da era
do streaming”, e tem o selo Sundance
Now, um serviço de vídeo on-demand
do Festival de Sundance e suas marcas
de audiovisual. É mais uma série que
se serve dos recursos da comédia para
lidar com o negrume da vida mental.
McKenzie disse à imprensa que sofre
de ansiedade e que quis com a série
“permitir às pessoas serem confusas
e imperfeitas e dar-lhes a autorização
para não estarem sempre bem”. Por-
que é OK não estar OK.
A série tem um novo episódio a
cada segunda-feira e depois Æca dis-
ponível na plataforma TVCine+.
Guia
publico.pt/streaming
Estreias da semana
HBO MAX
Rick and Morty
Segunda-feira
Custa a acreditar, mas já é a sétima
temporada de Rick e Morty. O
tempo voa quando nos
divertimos. Uma das mais
elogiadas e amadas séries de
animação tresloucadas dos
últimos anos.
TVCINE EDITION
This England
Quarta-feira
Kenneth Branagh está quase
irreconhecível no papel de Boris
Johnson, o ex-primeiro-ministro
britânico que marcou o “Brexit” e
a pandemia, escândalo atrás de
escândalo. O título da série é
inspirado em Shakespeare e esta
foca-se nos primeiros meses de
Johnson como chefe do executivo.
É um docudrama que inclui
momentos traumáticos, como as
primeiras reacções à covid-19, e
que tem a autoria de Michael
Winterbottom e Kieron Quirke.
NETFLIX
Corpos
Quinta-feira
Minissérie que parte da premissa
seguinte: um corpo é descoberto
em Longharvest Lane, em
Londres, nos anos de 1890, 1941,
2023 e 2053; é o mesmo corpo;
quatro detectives em quatro eras
diferentes têm de tentar resolver o
enigma que, obviamente, também
é uma espécie de conspiração.
Série britânica de oito episódios.
RTP2
Um Dia na Agricultura
Portuguesa
Domingo
Documentário de Francisco
Teotónio Pereira, em estreia,
sobre os sucessos da agricultura
portuguesa. Percorre todo o país
ao longo de um ano.
32 • Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023
Guia
Cinema
Porto
Cinemas Nos Alameda Shop e Spot
R. dos Campeões Europeus 28 198. T. 16996
The Nun II: A Freira Maldita M16. 14h10,
17h20, 20h30; Mistério Em Veneza M12.
17h40, 20h20; Os Mercen4rios M14. 20h50;
O Criador M12. 21h30; Patrulha Pata 13h30,
16h, 18h50 (VP); Golpe de Sorte M12. 13h20,
16h10, 19h, 21h40; Os Três Mosqueteiros:
D’Artagnan M12. 14h30, 18h, 21h; Estranha
Forma de Vida M14. 14h, 15h50, 17h50;
Borboletas - Uma Aventura Com Pinta M6.
14h10, 17h (VP); No Verão Passado M14. 20h;
Os Aventureiros - A Origem M6. 15h10
Medeia Teatro Municipal Campo Alegre
R. das Estrelas. T. 226063000
A Sibila M12. 18h30, 21h30
Aveiro
Cinemas Nos Glicínias
C.C. Glicinias, Lj 50. T. 16996
Os Mercen4rios M14. 13h10, 16h, 18h50,
21h30, 00h10; O Criador M12. 14h30,
17h30, 20h45, 23h50; Patrulha Pata: Super
Filme M3. 13h20, 15h45, 18h10 (VP); Golpe
de Sorte M12. 19h20, 22h, 00h30; O
Exorcista: Crente M16. 13h50, 16h30, 19h10,
21h45, 00h25; Os Três Mosqueteiros:
D’Artagnan M12. 18h30, 21h15, 24h;
Aventura Espacial M6. 14h10, 16h45 (VP);
Estranha Forma de Vida M14. 20h30,
22h20, 00h20; Borboletas - Uma Aventura
Com Pinta M6. 13h40, 16h15 (VP)
Braga
Cinemas Nos Braga Parque
Quinta dos Congregados. T. 16996
Retaliação M12. 21h, 23h20, 00h35; The
Nun II M16. 21h10, 23h50; After 13h20, 18h,
21h50, 00h15; Os Mercen4rios M14. 13h,
15h30, 18h10, 21h20, 24h; O Criador M12.
14h10, 17h30, 20h40, 23h40; Patrulha
PataM3. 13h50, 18h30 (VP); Golpe de
Sorte M12. 13h30, 16h, 18h20; O Exorcista:
Crente M16. 14h, 17h20, 20h20, 23h; Os Três
Mosqueteiros: D’Artagnan M12. 13h05,
15h50, 18h40, 21h30, 00h20; Aventura
Espacial M6. 14h20, 16h40 (VP); Estranha
Forma de Vida M14. 19h, 20h50, 22h40,
00h30; Borboletas - Uma Aventura Com
Pinta M6. 13h10, 15h30, 17h50 (VP); 57
Segundos M14. 21h40, 00h10
Cineplace Nova Arcada - Braga
Av. De Lamas. T. 253112913
A Sibila M12. 17h40, 21h; Elemental M6.
16h50 (VP); Os Super Fixes! M6. 14h, 15h50
(VP); Os Super Fixes! M6. 15h20, 17h10 (VP);
Mistério Em Veneza M12. 19h, 21h10; Os
Mercen4rios M14. 14h10, 16h30, 18h40,
21h50; O Criador M12. 21h; Patrulha Pata
Xplace Atmos - 15h10, 17h20, 19h30 (VP);
Golpe de Sorte M12. 19h10; O Exorcista:
Crente M16. Xplace Atmos - 14h20, 16h50,
19h20, 21h50; Os Três Mosqueteiros:
D’Artagnan M12. 14h20, 16h50, 19h20,
21h10, 21h50; Aventura Espacial M6. 15h
(VP); No Rasto do Assassino M16. 21h20;
Estranha Forma de Vida M14. 14h, 19h30;
Borboletas - Uma Aventura Com Pinta M6.
14h40, 16h40, 18h50 (VP); No Verão
Passado M14. 15h30; 57 Segundos M14.
14h30, 16h40, 18h50, 21h; Os Aventureiros
- A Origem M6. 17h40, 19h40, 21h40; Os
Três Mosqueteiros: D’Artagnan M12.
Xplace Atmos - 14h, 16h30, 19h, 21h30
Teatro Circo
Av. da Liberdade, 697. T. 253262403
O Sol do Futuro M12. 21h30
Castelo Branco
Cinebox
C.C. Alegro Castelo Branco. T. 760789789
O Criador M12. 18h50; Patrulha Pata: Super
Filme M3. 14h10, 16h30 (VP); Golpe de
Sorte M12. 14h, 16h40; O Exorcista:
Estreias
Estranha Forma de Vida
De Pedro Almodóvar. Com
Pedro Pascal, Ethan Hawke,
Manu Ríos, José Condessa.
FRA/ESP. 2023. 31m. Drama,
Western. M14.
Um “western” rodado no deserto
de Almeria (sul de Espanha),
realizado e escrito por Pedro
Almodóvar, cujo título é inspirado
no fado com o mesmo nome de
Amália Rodrigues.
A Sibila
De Eduardo Brito. Com Maria
João Pinho, Joana Ribeiro,
Sandra Faleiro, João Pedro Vaz.
POR. 2022. m. Drama. M12.
Produzido por Paulo Branco, esta
é a adaptação do mais famoso
romance de Agustina Bessa-Luís e
resulta de um desaÆo lançado por
Mónica Baldaque, Ælha da
escritora.
57 Segundos
De Rusty Cundieff. Com
Morgan Freeman, Josh
Hutcherson, Greg Germann.
EUA. 2023. 99m. Thriller. M14.
Um “thriller” de Æcção cientíÆca
que tem por base um conto
escrito pelo inglês E.C. Tubb,
sobre um anel capaz de fazer o
seu utilizador recuar 57 segundos
no tempo.
Os Três Mosqueteiros:
D’Artagnan
De Martin Bourboulon. Com
François Civil, Vincent Cassel,
Romain Duris, Pio Marmaï,
Eva Green, Louis Garrel.
ALE/BEL/FRA/ESP. 2023. 121m.
Acção, Aventura. M12.
Uma aventura de capa e espada
que adapta, uma vez mais, o mais
célebre romance de Alexandre
Dumas que se inspira em
personagens reais e segue factos
importantes ocorridos em França
durante o século XVII.
Borboletas
Uma Aventura Com Pinta
De Sophie Roy. CAN/ALE.
2023. 82m. Animação. M6.
Patrick é uma borboleta-monarca
que nasceu com uma asa maior
do que a outra. Isso, como seria
de esperar, cria um desequilíbrio
que torna difícil o acto de voar.
No Verão Passado
De Catherine Breillat. Com Léa
Drucker, Samuel Kircher, Olivier
Rabourdin, Clotilde Courau.
FRA/NOR. 2023. 104m.
Drama. M14.
Anne é uma respeitada advogada
que se especializou na área dos
direitos de crianças e
adolescentes. Com um casamento
feliz, leva uma vida tranquila. Mas
tudo se desmorona quando o
enteado se muda para sua casa.
Cartaz, críticas, trailers
e passatempos em
cinecartaz.publico.pt
Crente M16. 16h10, 21h30; Os Três
Mosqueteiros: D’Artagnan M12. 14h, 19h,
21h35; 57 Segundos M14. 19h, 21h40
Coimbra
Auditório Salgado Zenha
Universidade de Coimbra. T. 239410408
No Verão Passado M14. 15h
Casa do Cinema de Coimbra
Av. Sá da Bandeira 33. T. 239851070
O Sol do Futuro M12. 16h30; A Bela
América M12. 14h30; Golpe de Sorte M12.
18h20; No Verão Passado M14. 21h30
Cinemas Nos Alma Shopping
R. Gen. Humberto Delgado. T. 16996
A Sibila M12. 14h10, 16h10, 18h30, 21h;
Missão Impossível Atmos - 13h35, 17h10,
20h50; Oppenheimer M14. 13h30, 17h20,
21h10; Mistério Em Veneza M12. 13h50,
16h20, 18h50, 21h30; Os Mercen4rios M14.
19h40, 22h10; Patrulha PataM3. 14h, 16h40
(VP); Golda M12. 13h20, 16h, 18h40, 21h20;
A Bela América M12. 17h30; Golpe de
Sorte M12. 14h20, 16h50, 19h20, 21h50; Os
Três Mosqueteiros: D’Artagnan M12. 13h40,
16h30, 19h10, 22h; Aventura Espacial M6.
14h40, 17h (VP); Estranha Forma de
Vida M14. 19h, 21h40; No Verão
Passado M14. 14h30, 19h50, 22h20
Cinemas Nos Fórum Coimbra
Fórum Coimbra. T. 16996
The Nun II: A Freira Maldita M16. 18h20,
21h20; After - Depois de Tudo M14. 14h40,
18h10, 21h10; Os Mercen4rios M14. 13h40,
16h20, 19h10, 21h50; O Criador M12. 14h20,
18h, 21h40; O Exorcista: Crente M16. 13h50,
16h30, 19h20, 22h10; Borboletas - Uma
Aventura Com Pinta M6. 14h10, 16h40, 19h
(VP); 57 Segundos M14. 21h30; Os
Aventureiros - A Origem M6. 15h30
Teatro Académico de Gil Vicente
Av. Sá da Bandeira. T. 239855630
A Sibila M12. 18h, 21h
Figueira da Foz
Cinemas Nos Foz Plaza
C. C. Foz Plaza, R. Condados. T. 16996
Mistério Em Veneza M12. 19h10, 21h40;
Os Mercen4rios M14. 14h40, 17h15, 21h30;
O Criador M12. 14h10, 18h, 21h40; A Bela
América M12. 14h, 17h30, 21h; Os Três
Mosqueteiros: D’Artagnan M12. 14h30,
17h45, 21h20; Aventura Espacial M6.
15h, 17h (VP)
Matosinhos
Cinemas Nos MarShopping
Leça da Palmeira. T. 16996
The Equalizer 3 12h30, 15h10, 18h, 21h30,
23h50; The Nun II M16. 21h50, 00h20;
Mistério Em Veneza M12. 18h30, 21h, 23h20;
Os Mercen4rios M14. 13h40, 16h10, 18h50,
21h40, 00h10; O Criador M12. 12h45, 15h40,
18h20, 21h10, 24h; Patrulha Pata 12h50, 15h,
17h10, 19h30 (VP); O Exorcista: Crente M16.
12h40, 15h30, 18h10, 20h50, 23h30; Os Três
Mosqueteiros: D’Artagnan M12. 13h10,
15h50, 18h40, 21h20, 00h05; Aventura
Espacial M6. 10h45, 13h50, 16h;
O Exorcista: Crente M16. Sala IMAX
- 13h30, 16h10, 19h, 22h
Cinemas Nos NorteShopping
C.C. Norteshopping, Lj 1117. T. 16996
Oppenheimer M14. 23h; The Nun II Atmos
- 13h40, 18h40, 21h50, 00h30 ; After 13h10,
15h20, 17h50; Mistério Em Veneza Atmos -
20h20, 22h40 ; Os Mercen4rios M14. Sala
Atmos - 13h20, 15h50, 18h30, 21h10, 23h50 ;
O Criador M12. Sala NOS XVISION - 14h,
17h10, 20h50, 24h; Patrulha Pata M3. Sala
Atmos - 12h50, 15h10, 17h40 (VP); Golpe de
Sorte M12. Sala Atmos - 13h50, 16h20,
18h50, 21h40, 00h20; O ExorcistaAtmos -
12h40, 15h30, 18h20, 21h20, 00h10 ; Os Três
Mosqueteiros: D’Artagnan M12. 18h, 21h30,
00h25; Estranha Forma de Vida M14. 13h,
15h, 17h, 19h, 21h; Borboletas - Uma
Aventura Com Pinta M6. 13h30, 15h40
(VP); 57 Segundos M14. 20h40, 23h20;
Os Aventureiros - A Origem M6. 16h10
Penafiel
Cinemax - Penafiel
Ed. Parque do Sameiro. T. 255214900
The Nun II: A Freira Maldita M16. 21h40;
After - Depois de Tudo M14. 15h; Os
Mercen4rios M14. 17h30, 21h50; Patrulha
Pata: Super Filme M3. 15h20, 17h20 (VP);
Golda M12. 19h30; O Exorcista: Crente M16.
14h50, 21h50; Os Três Mosqueteiros:
D’Artagnan M12. 19h20; 57 Segundos
M14. 17h10; Os Aventureiros M6. 19h40
Vila Nova de Gaia
UCI Arrábida 20
Arrábida Shopping. T. 223778800
A Sibila M12. 13h50, 15h55, 18h30, 21h15;
Elemental M6. 13h25, 15h50 (VP); Missão
Impossível - Ajuste de Contas: Parte
Um M12. 18h25; Barbie M12. 16h55, 22h;
Oppenheimer M14. 18h, 21h50; Os Super
Fixes! M6. 14h30, 16h30 (VP); The Equalizer
3: Capítulo Final M16. 13h45, 16h20, 18h55,
21h50; The Nun II: A Freira Maldita M16.
22h05; After - Depois de Tudo M14. 14h,
16h20, 18h50, 21h25; Mistério Em
Veneza M12. 13h35, 16h10, 18h50, 21h40;
Os Mercen4rios M14. 13h40, 16h10, 18h45,
21h30; O Sol do Futuro M12. 18h40, 21h20;
O Criador M12. 13h15, 16h, 19h, 21h55;
Patrulha Pata: Super Filme M3. 14h20,
16h50, 19h10 (VP); Dumb Money M12. 21h55;
Golda M12. 14h15, 16h40, 19h10, 21h35;
A Bela América M12. 13h35, 16h05, 18h35,
21h35; Golpe de Sorte M12. 14h25, 16h45,
19h15, 21h40; Orlando - A Minha Biografia
Política M14. 19h30; O Exorcista:
Crente M16. 13h45, 16h25, 19h05, 22h; Os
Três Mosqueteiros: D’Artagnan M12. 13h30,
16h15, 18h55, 21h45; Aventura Espacial M6.
13h50 (VP); Estranha Forma de Vida M14.
13h40, 15h30, 18h, 21h10; No Verão
Passado M14. 13h55, 16h30, 19h05, 21h45;
57 Segundos M14. 14h10, 16h35, 19h, 21h30;
Os Aventureiros M6. 14h05, 16h15
Vila Real
Cinemas Nos Nosso Shopping
Alameda de Grasse 244. T. 16996
The Nun II: A Freira Maldita M16. 20h30;
Mistério Em Veneza M12. 14h15, 19h, 21h25;
Os Mercen4rios M14. 13h30, 16h15, 18h30,
21h10; O Criador M12. 12h50, 15h50, 18h40,
21h50; Patrulha Pata 13h20, 15h40, 18h10
(VP); Golpe de Sorte M12. 13h, 15h20, 17h50;
Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan M12.
13h10, 16h, 18h50, 21h50; Estranha Forma
de Vida M14. 20h15; 57 Segundos M14. 14h,
16h30, 19h10, 22h; Os Aventureiros 16h40
Viseu
Cinemas Nos Fórum Viseu
Fórum Viseu. T. 16996
Oppenheimer M14. 13h15, 17h, 20h45;
Mistério Em Veneza M12. 14h50, 17h40,
21h30; Os Mercen4rios M14. 14h, 16h30,
19h15, 21h45; A Bela América M12. 13h30,
15h55, 18h40, 21h10; Golpe de Sorte M12.
14h30, 16h45, 19h, 21h20; Aventura
Espacial M6. 13h45, 18h (VP); Estranha
Forma de Vida M14. 16h, 22h
Cinemas Nos Palácio do Gelo
The Nun II M16. 21h; After 13h20, 15h40,
19h15, 21h50; Os Mercen4rios M14. 14h30,
17h, 20h45; O Criador M12. 18h35, 22h;
Patrulha Pata 13h10, 15h30, 17h50 (VP);
O Exorcista 13h50, 16h20, 18h50, 21h30;
Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan M12.
14h, 16h45, 19h30, 22h10; Borboletas - Uma
Aventura Com Pinta M6. 14h15 (VP); Os
Aventureiros - A Origem M6. 16h30 (VP)

Lazer
TEATRO
Plim — Tás Óptima
PORTO Coliseu Porto Ageas.
Dias 16/10 e 17/10, às 21h30.
M/12. 18€ a 35€
Depois de uma primeira
temporada intitulada Passa Lá na
Agência, é tempo de conhecer o
segundo tomo da comédia que
acompanha o dia-a-dia de uma
agência de inÇuencers. O texto
vem assinado por Salvador
Martinha e João Maria, dupla que
sobe ao palco para o interpretar,
juntamente com Inês Aires
Pereira. Uma produção da agência
WSA, com encenação de Rui M.
Silva.
EXPOSIÇÕES
Not Post-Modernism. Dan
Graham e a Arquitectura
do Século XX
PORTO Museu de Serralves.
De 14/10 a 31/3. Segunda a
sexta, das 10h às 18h; sábados,
domingos e feriados, das 10h às
19h. 13€ (18€ com acesso a
todos os espaços da fundação)
A derradeira exposição de Dan
Graham (1942-2022) destaca a
arquitectura e “a forma como a
habitamos colectivamente”,
elementos centrais no trabalho do
artista norte-americano que, por
conta da extensa e multifacetada
produção, é também um
“protagonista inclassiÆcável da
arte contemporânea”, dita a folha
de sala. Jan Duiker, Lina Bo Bardi,
Atelier Bow-Wow, Sverre Fehn,
Itsuko Hasegawa, Kazuo
Shinohara, Anne Tyng e Vilanova
Artigas são os oito arquitectos que
inÇuenciaram a sua obra e que
aqui estão representados por
conta da admiração que Graham
lhes tinha. Com curadoria
partilhada com Bartomeu Marí, a
mostra está organizada em pares,
permitindo “leituras criativas e
uma evolução dinâmica de ideias
e formas”, explicam.
A Natureza Não Faz Barulho
[Nature Makes No Noise]
BRAGA GNRation.
De 14/10 a 31/12. Segunda a
sexta, das 9h30 às 18h30;
sábado, das 10h às 18h30.
Grátis
Criada pelo croata Davor
Sanvincenti, em colaboração com
as portuguesas Adriana Romero
e Joana Patrão, uma instalação
construída a partir de sons
e imagens de animais do Parque
Nacional da Peneda-Gerês.
Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023 • 33
Guia
Jogos Jogue também online.
Palavras-cruzadas,
bridge e sudoku em
publico.pt/jogos
Cruzadas 12.221 Paulo Freixinho
palavrascruzadas@publico.pt
HORIZONTAIS: 1 - A maioria dos israelitas quer que ele se demita logo depois da
guerra. 2 - Avançavas. Calças largas e curtas. 3 - Mar de (...), onde navega o império
chinês de pesca em águas longínquas. Antigo (abrev.). 4 - Cortar rente. Lentigem.
5 - Continente perdido. Anno Domini. 6 - Castelo de (...), a prisão d’O Conde de Monte
Cristo. Lugar oculto. 7 - Poetas e cantores ambulantes entre os Gregos antigos.
Forma abreviada de Manuela. 8 - Que me pertence. Partido Popular. Oportunidade.
9 - Hora canónica corresponde às 15 horas. Redes Energéticas Nacionais. Comparecer.
10 - No caso de. Segue tendência ocidental na falta de recrutamento militar.
11 - Fibra sintética poliamida. Sufixo (abundância).
VERTICAIS: 1 - Acreditem. Estanho (s. q.). 2 - Malhadouro. Charles (...), foi um
multimilionário considerado um exemplo entre os filantropos (1931-2023). 3 - Parede
de barro e cascalho apertado entre tabuões. Dueto. 4 - Doença respiratória. Variante
do pronome “o”. Haste horizontal da charrua. 5 - Despovoas. Ligado (inglês). 6 - Itérbio
(s. q.). O dó antigo. Plano de Recuperação e Resiliência. 7 - “Livra-te dos (...) e livrar-te-ei
dos males”. Impulso violento. 8 - Símbolo de hectare. Alvorada. Desguarnecidos.
9 - Igualar (regional). Junte. Jogo estratégico para tabuleiro, com origem na antiga
China. 10 - Pede água de Alqueva a Portugal. 11 - Condição. Margem.
Solução do problema anterior
HORIZONTAIS: 1 - Colonatos. 2 - Íman. Lo. Oca. 3 - Guimarães. 4 - Bio. LA. Iole. 5 - Mu. Nd. Ai.
6 - Lagisquet. 7 - Obi. Ou. Ba. 8 - Aro. Inter. 9 - Uni. Pt. Elis. 10 - Pensões. Oto. 11 - Amores. Usos.
VERTICAIS: 1 - Címbalo. Upa. 2 - OM. Abanem. 3 - Lago. Girino. 4 - ONU. Mi. Sr. 5 - Iluso. Põe.
6 - Alma. Quites. 7 - Toa. Nu. 8 - Ridente. 9 - Soão. Elos. 10 - Cela. Brito. 11 - Caseira. SOS.
João Fanha © Alastair Chisholm 2008
Bridge bridgepublico@gmail.com Sudoku www.indigopuzzles.com
Dador: Norte A saída a espadas cria-nos sérios Problema 12.212 (Fácil)
Vul: Todos problemas de comunicações. Se
tirarmos as nossas vazas de espadas
NORTE antes de ceder a mão no naipe de
Ƅ AKQ54 paus, deixamos que a defesa venha a
Ɔ 65
Ƈ 1076 fazer uma ou duas vazas a espadas,
ƅ AK10 para além do pau e das três copas:
OESTE ESTE cabide! Então o que fazer? A solução é
Ƅ J10987 Ƅ 63 simples: faça a primeira vaza de
Ɔ A87 Ɔ KJ109 espadas e jogue de seguida o 10 de
Ƈ J93 Ƈ Q852 Solução 12.210
paus! A defesa faz e joga o Valete de
ƅ J9 ƅ Q73
SUL copas. Pequena da nossa mão. Virá de
Ƅ2 seguida o 10 de copas e nós pequena
Ɔ Q432 novamente! Na terceira volta de
Ƈ AK4
copas, Oeste ficará em mão no Ás
ƅ 86542
(podia ser o Rei, não haveria diferença)
e terá de jogar um ouro. Ás de ouros,
Oeste Norte Este Sul pau para o Ás, Rei de paus e as duas
1Ƅ passo 1ST vazas de espadas antes de voltar a Sul
passo 2ST passo 3ST através do Rei de ouros para encaixar
Todos passam ainda os dois pauzinhos que já estão
firmes!
Leilão: Qualquer forma de Bridge.
Considere o seguinte leilão: Problema 12.213 (Média)
Carteio: Saída: JƄ. Qual a melhor linha Oeste Norte Este Sul
de jogo? 1Ƅ
passo 2Ƅ passo ?
Solução: Vazas são sete para já, e a
maior esperança de vir a obter as duas O que marca com a seguinte mão?
que faltam reside no naipe de paus, ƄKQ9752 ƆA ƇA1095 ƅK5
terá de estar dividido 3-2. Mas isso só
não basta. É necessário também Resposta: Marque 4Ƅ. Temos 16
contar que haja uma situação de pontos de honra e mais quatro ou
Solução 12.211
bloqueio das copas, que impeça a cinco de distribuição. Embora seja
defesa de alinhar quatro vazas nesse uma mão enorme, o que é certo
naipe. O Ás e o Rei de copas divididos é que, perante um parceiro que
é tudo o que é necessário. Se Oeste promete no máximo 10 pontos, não
fizer a vaza de paus que temos de será fácil encontrar a mão que se
ceder e atacar copas, temos de “encaixa” na perfeição para haver
guardar a Dama bem guardadinha na cheleme. O mais sensato é fechar
mão de Sul, e esperar que o naipe em partida, até porque assim
fique “travado” a uma dada altura. E estaremos a “poupar” o parceiro
ainda há mais! O que falta ainda? para outras mãos mais exigentes.
34 • Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023
Guia
CINEMA
Ponto de Ebulição
Cinemundo, 17h25
Num só plano-sequência, Philip
Barantini mostra, neste drama
britânico de 2021, a tensão que se
vive dentro de um restaurante de
renome londrino. Tudo centrado
na Ægura do chef e dono, Andy
Jones (Stephen Graham). O
restaurante acabou de perder a
classiÆcação de segurança e
limpeza. Para piorar, na mesma
noite, um chef famoso visita o
restaurante acompanhado de uma
famosa crítica de comida. Ao
mesmo tempo, há ainda um
pedido de casamento numa mesa.
É a tempestade perfeita para o
lodo. Ponto de Ebulição entra na
maratona Rota dos Sabores,
emitida neste Dia Mundial da
Alimentação. Começa com Paz
pelo Chocolate (às 12h20), continua
com A Mãe É Que Sabe (14h) e O
Fundador (15h30), e termina com
A Viagem dos Cem Passos (19h).
A Praia
AXN White, 22h17
Danny Boyle dirige esta
adaptação, nomeada para o Urso
de Ouro em Berlim, do romance
de culto de Alex Garland. É a
história de um jovem viajante
norte-americano (Leonardo
DiCaprio) que procura alguma
coisa que dê sentido à sua vida.
Em Banguecoque, conhece um
casal de franceses (Guillaume
Canet e Virginie Ledoyen) e um
homem (Robert Carlyle) que lhes
fala de uma ilha paradisíaca e,
logo a seguir, é encontrado morto.
Os três jovens partem em busca
desse lugar — e de si próprios —,
com resultados inimagináveis.
Querido Diário
RTP2, 23h42
Querido Diário é um misto de
comédia e documentário
autobiográÆco, assinado por
Nanni Moretti. O Ælme, que valeu
ao cineasta o prémio de melhor
realizador em Cannes em 1994,
divide-se em três partes: na
primeira, Moretti percorre de
vespa as ruas de Roma, no Verão;
na segunda, viaja com um amigo
pela Sicília; na terceira, consulta
médicos por causa dum linfoma.
SÉRIES
Magnum P.I.
Fox, 22h15
Começa a quinta temporada do
reboot da série dos 1980 e 90 que
tinha Tom Selleck como
protagonista. Aqui, quem ocupa o
papel e usa a camisa havaiana do
detective privado (mas não o
bigode) é Jay Hernandez. Para
seguir à segunda-feira.
Televisão Os mais vistos da TV
Sábado, 14
Festa é Festa VIII
% Aud. Share
TVI 8,9
Jornal da Noite SIC 8,5
Festa é Festa VIII TVI 7,6
Jornal Nacional TVI 7,4
Alta Definição SIC 7,2
FONTE: CAEM
RTP1 RTP2
6.00 Bom Dia Portugal 10.00 Praça da 6.24 Folha de Sala 6.29 Clube da
Alegria 12.59 Jornal da Tarde 14.15 Europa 7.00 Espaço Zig Zag
Hora da Sorte - Lotaria Clássica 14.25 10.40 Ruas com História e Memória
Topíssima 15.03 A Nossa Tarde 17.30 11.08 O Exército dos Marabus:
Portugal em Directo Mulheres em Luta pelos Hargila
12.01 Vida Após Vida 12.55 E2
- Escola Superior de Comunicação
19.00 Telejornal Social 13.25 A Arte da Cura
13.53 Folha de Sala 14.00 Sociedade
Civil 15.07 A Fé dos Homens
19.36 Futebol: 15.43 Portuguese Soul
Bósnia-Portugal 16.12 Mare TV 16.58 Espaço Zig
(qualificação Zag 20.32 Folha de Sala
Euro 2024) 20.36 Segredo Ancestral:
Guardiões da Medicina Indígena
21.52 Codex 632
21.30 Jornal 2
22.43 Joker
22.01 Ameaça Invisível
23.43 S.W.A.T.: Força de Intervenção
22.47 Visita Guiada 23.33 Folha de
Sala 23.42 Querido Diário 1.22 Esec TV
1.10 A Essência 1.30 Grandiosa 1.49 Sociedade Civil 2.56 A Revolta
Enciclopédia do Ludopédio 3.57 Joga Quem Quizzer 4.22 Volta ao
2.20 Topíssima Mundo 4.34 As Constituições 5.27 4
Caminhos para Fátima 5.52 Folha de
Sala 5.59 A Fé dos Homens
SIC TVI
6.00 Edição da Manhã 8.15 Alô 6.15 Diário da Manhã 6.59 Esta Manhã
Portugal 9.20 Casa Feliz 13.00 10.05 Dois às 10 12.58 TVI Jornal
Primeiro Jornal 14.50 Linha Aberta 14.50 A Herdeira
rdeira
16.00 Júlia 16.05 Goucha
cha
18.00 Morde & Assopra
18.45 Flor do Caribe 18.10 Big Brother
19.15 Casados no Paraíso 19.57 Jornal Nacional
19.57 Jornal da Noite
oite 21.40 Festa É Festa
21.30 Papel 23.00 Queridos Papás
Principal
0.00 Big Brother
22.45 Flor Sem Tempo 2.15 Doida por Ti
0.05 Travessia 0.45 Terra Brava
1.30 Passadeira Vermelha
3.20 Casados no Paraíso 3.15 Mistura Fina
RTP1 9%
19,8
RTP2 0,7
18,4 SIC 14,9
TVI
16,7
16,0 12,5
Cabo
22,2
43
TVCINE TOP
18.00 Space Jam: Uma Nova Era (VP)
19.55 Sentido Único 21.30 Ossos e Tudo
23.40 Tão Perto, Tão Longe
FOX MOVIES
17.45 The Mechanic - O Profissional
19.14 Platoon - Os Bravos do Pelotão
21.07 Era Uma Vez Um Estúdio 21.15
Profissão: Duro 23.15 Perigo Extremo
0.45 Identidade Desconhecida
HOLLYWOOD
18.00 Tigerland - O Teste Final 19.45
A Ressaca 21.30 O Último a Cair 23.15
Blunt Force - Jogo Sangrento 0.55
Imperdoável
AXN
17.00 S.W.A.T.: Força de Intervenção
17.50 The Rookie 19.30 Mentes
Criminosas 21.10 Hudson & Rex 22.52
Chicago Fire 23.44 Ponto de Mira
FOX
17.09 Investigação Criminal: Los
Angeles 18.49 FBI 20.26 Magnum P.I.
23.00 Era Uma Vez Um Estúdio 23.08
Exodus: Deuses e Reis
DISNEY CHANNEL
17.15 A Maldição de Molly McGee
18.05 Hamster & Gretel 18.55 Kiff
19.15 Era Uma Vez Um Estúdio (VP)
19.25 Os Green na Cidade Grande
DISCOVERY
17.06 Mestres do Restauro 18.07
Construções no Alasca 19.04 Aventura
à Flor da Pele 21.00 Aventura à Flor da
Pele XL 22.54 Aventura à Flor da Pele:
Brasil 0.52 Aventura à Flor da Pele XL
HISTÓRIA
17.37 Salazar, Lisboa e a Segunda
Guerra Mundial 18.31 A Engenharia
de Hitler 20.45 A Última Viagem
de Cristóvão Colombo 22.15
Conquistadores 23.49 Pablo Escobar:
Operação Narco
ODISSEIA
17.44 Costa Rica 18.37 Wild Tube
19.23 Mundos Inexplorados com Steve
Backshall: Making of 20.12 Lendas das
Profundezas Marinhas 20.56 Amazónia:
O Mundo Perdido 21.46 Uma Quinta, 9
Filhos e 1.000 Ovelhas
Está Mesmo Tudo Bem
TVCine Edition, 22h10
Estreia. Luto, trauma, tendências
autodestrutivas e outros temas
pesados são abordados com
ironia, leveza e (anti-)humor, nesta
produção australiana com
assinatura de Greta Vella. Gravita
sobre Vivian (Thomasin
McKenzie), uma jovem adulta em
rota descendente e tragicómica
que herda do avô uma
propriedade à beira de um
penhasco. O lugar é conhecido
por atrair pessoas que querem pôr
Æm à vida. O avô de Vivian tentava
demovê-las e ela dá por si a fazer o
mesmo, ainda que não tenha
propriamente o perÆl ideal. Para
ver semanalmente.
DOCUMENTÁRIO
Mare TV
RTP2, 16h12
Novos episódios da série
documental alemã que procura
revelar “o encanto e a natureza
singular da vida no mar”, numa
diversidade de aspectos que vão
da observação de baleias e outros
animais marinhos (alguns, pouco
conhecidos) a testemunhos de
marinheiros e pescadores,
passando por visitas a locais
exóticos e pela análise do
potencial dos oceanos.
DESPORTO
Futebol: Bósnia-Portugal
RTP1, 19h36
Directo. A selecção das “quinas”
desloca-se a Zenica para
reencontrar a equipa da
Bósnia-Herzegovina, na fase de
qualiÆcação para o Euro 2024.
Para a selecção nacional, é um
jogo apenas para cumprir
calendário, uma vez que Portugal
já está apurado, depois da
campanha tranquila em que
garantiu a liderança do Grupo J
com sete (em sete) jogos ganhos,
27 golos marcados e apenas dois
sofridos. O árbitro turco Halil
Umut Meler dirige a partida.
INFANTIL
Era Uma Vez Um Estúdio (VP)
Disney Junior, 15h
No dia em que a Disney faz cem
anos, o canal estreia uma curta
de animação em que uma
multidão de personagens deste
universo “se une para um
reencontro alegre, divertido e
emocionante que termina
com uma foto de grupo
megaespecial”. A comemoração
do centenário prossegue com
apontamentos d’O Mágico Mundo
das Músicas Disney espalhados
pela programação do dia.
 Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023 • 35

Guia

Meteorologia ESTREIA
E ST
PORTUGAL 2.ª
2 .ª FEIRA
PRÓXIMOS DIAS PORTO
Viana do Castelo Terça-feira, 17 Quarta-feira, 18 Quinta-feira, 19 NOVO
N O
22º Bragança DIÁRIO
DIÁ
20 º
19º
17º 21º 17º 21º 14º 20º
Braga 14º
21 º Índice UV Baixo Índice UV Baixo Índice UV Médio
18 º Vila Real
20º Porto Vento Moderado Vento Fraco Vento Moderado
2,0m
18º Humidade 84% Humidade 70% Humidade 72%
22 º 15º
20º

Viseu
Guarda
MEDIDOR DE CO2 QUALIDADE DO AR
Aveiro 22 º
22º 20º 18º Mauna Loa, Havai Portugal
º 18º Partes por milhão Porto Coimbra
(ppm) na atmosfera
Coimbra Valores por semana Lisboa Évora
22º
14º Semana de 1 Out. 418,34 Ana Sá Lopes e Helena Pereira
Castelo Branco Faro
Há um ano 415,34
21 º Há dez anos 393,46 desmontam os soundbites do dia.
Leiria 19º
23º Semana de 24 Set. 418,29 Excelente Razoável A política de todos os dias num
18º
Nível de segurança 350 Mau Não é saudável diálogo moderado por Ruben Martins.
Nível pré-industrial 280 Nada saudável Perigoso De segunda a sexta-feira.
Santarém
Portalegre
24 º
º 21º
20º SOL LUA Já disponível em todas as plataformas
14 Out. 18h55
de podcasts e em publico.pt/podcasts
Lisboa
23 º 22 Out. 04h29
20º Évora
Setúbal 24º 28 Out. 21h24
22º 20º Nascente Poente Nascente Poente

EM OUTUBRO,
17º 5 Nov. 09h37
07h46 18h57 09h28 19h47*
*de amanhã

EUROPA
REFORÇAMOS A EQUIPA
Sines Beja
26º Helsínquia

PODCASTS
23º 18 º Estocolmo
20º 20º Oslo
Talín

1,5m Riga
Copenhaga

Vílnius
Dublin Berlim
Amesterdão
Londres Varsóvia
Sagres 24º
18º Bruxelas
24º Faro Praga
20º Paris
Viena Budapeste
23º Genebra
0,8m
Açores Milão

Roma
O PÚBLICO FICA NO OUVIDO
Corvo
Istambul
Madrid
Flores Lisboa
Graciosa 3.ª
3 .ª F
FEIRA
23º 22º Atenas
22º NOVO
N OV
22º 2,8m
São Jorge 21º SEMANAL
SEM
23º
4m 5.ª
5 .ª FEIRA
F
Faial
Terceira TEMPERATURAS ºC NOVO
N OV
Pico SEMANAL
SEM
23º São Miguel
Min. Máx. Min. Máx.
22º 20º Amesterdão 6 13 Roma 16 24
2,8m Atenas 16 27 Viena 1 14
Ponta Delgada 4.ª
4 .ª F
FEIRA
Berlim 4 11 Bissau 25 34
REGRESSO
R EG
Sta Maria Bruxelas 6 12 Buenos Aires 12 24
QUINZENAL
QUI
Madeira Bucareste 4 18 Cairo 21 30
5.ª
5 .ª FEIRA
F
Porto Santo Budapeste 3 14 Caracas 20 30
NOVO
N OV
Copenhaga 4 11 Cid. do Cabo 15 26
Madeira SEMANAL
SEM
25º 28º 28º 25º Dublin 7 12 Cid. do México 9 22
18º 18º
1m 2m Estocolmo 4 9 Díli 23 34
Frankfurt 4 12 Hong Kong 23 29
Funchal Genebra 6 15 Jerusalém 14 22
Istambul 14 20 Los Angeles 16 30
MARÉS Preia-mar Baixa-mar *de amanhã Kiev 4 11 Luanda 23 29 4.ª
4 .ª F
FEIRA 6.ª
6 .ª FEIRA
Londres 9 14 Nova Deli 19 30 NOVO
N OV NOVO
N OV
Leixões m Cascais m Faro m
Madrid 15 21 Nova Iorque 10 16 QUINZENAL
QUI SEMANAL
SEM
10h27 0,6 10h00 0,8 09h56 0,6 Milão 8 18 Pequim 8 20
16h38 3,4 16h12 3,4 16h23 3,3 Moscovo 2 8 Praia 25 34
Oslo 4 10 Rio de Janeiro 23 30
22h43 0,6 22h16 0,8 22h12 0,6 Paris 6 14 Riga 3 10
04h54* 3,4 04h29* 3,4 04h40* 3,3 Praga 1 10 Singapura 27 34
Fontes: AccuWeather; Instituto Hidrográfico; NOAA-ESRL
36 • Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023

Desporto Fase de apuramento para o Euro 2024

Roberto Martínez não sabe

o que é perder nos apuramentos
Seleccionador de Portugal tem três partidas para alcançar o seu melhor registo numa qualiÄcação
para a fase Änal de um grande torneio de nações, melhorando o seu registo ao serviço da Bélgica
JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Paulo Curado
Se há algo que o treinador Roberto
Martínez pode relevar na sua carrei-
ra como seleccionador é o facto de,
até hoje, nunca ter perdido qual-
quer partida de qualiÆcação para a
fase Ænal de um grande torneio.
Entre a Bélgica — que orientou de
2016 a 2022 — e Portugal, o espanhol
disputou 35 partidas, permitindo
apenas três empates e vencendo
destacadamente os grupos onde
esteve inserido. Uma marca que os
três adversários que restam à selec-
ção nacional ainda podem inter-
romper, a começar hoje à noite pela
Bósnia.
Como técnico dos belgas, Martí-
nez começou a dar nas vistas na
qualificação para o Mundial 2018.
Num grupo que incluía Grécia, Chi-
pre, Bósnia, Estónia e Gibraltar, o
técnico viu a sua equipa ceder
somente um empate, frente aos gre-
gos (1-1). No Ænal, tinha carimbado
a presença na fase Ænal na Rússia,
com uns impressionantes 43 golos
marcados (média de 4,3 por encon-
tro) e seis sofridos.
Seguiu-se a qualiÆcação para o
Euro 2020, ainda mais imaculada
do que a anterior. Com a Rússia,
Escócia, Chipre, Cazaquistão e São
Marino pela frente, a Bélgica venceu
todas as partidas, assinando 40
golos (média de quatro por jogo) e
sofrendo três.
Pouco problemático foi ainda o Último treino da selecção Alemanha no Verão do próximo ano, dial 2018, a Bélgica impôs um 9-0 a da Bélgica. Os resultados vêm em
apuramento para o Mundial 2022, nacional antes do jogo o treinador tem ainda condições Gibraltar, o mesmo número de golos decrescendo. Atingiu as meias-Ænais
que seria de má memória para o de hoje contra a para superar o seu melhor registo, marcados recentemente por Portu- no Mundial 2018 — tendo afastado o
seleccionador. País de Gales, Rep. Bósnia-Herzegovina na qualiÆcação para o Euro 2020. gal frente ao Luxemburgo, que já Brasil nos quartos-de-Ænal (2-1) —,
Checa, Bielorrússia e Estónia foram Com 27 golos marcados (ao ritmo tinha brindado com 6-0, num total acabando travado pela França, que
os oponentes, acabando por impor de quase 3,9 por encontro) e dois de 15 golos sem resposta apontados haveria de se sagrar campeã. No
dois empates aos belgas: Rep. Checa sofridos (todos no último encontro, ao conjunto do grão-ducado. Euro 2020, caiu nos quartos-de-Ænal
(1-1) e País de Gales (1-1). com a Eslováquia), a equipa nacio- Não foram propriamente excep- com a Itália (2-1), após deixar pelo
No Ænal, os números foram com- nal vai ainda medir forças com o ções. Ainda no apuramento para o caminho os portugueses de Fernan-
parativamente mais modestos, com
25 golos (3,1 por encontro) aponta-
Classificação Liechtenstein (a 16 de Novembro),
no principado, e com a Islândia (19
Mundial da Rússia, com a Bélgica,
bateu a Estónia por 8-1 e Gibraltar por
do Santos (1-0).
Mas o pior viria com o último
dos e seis sofridos. Martínez sairia GRUPO J de Novembro), com o apoio do seu 6-0. Na qualiÆcação para o Euro Mundial, no Qatar, em que Æcou
do comando da selecção belga no Islândia-Liechtenstein 19h45 público, juntando-se a estas duas a 2020, São Marino foi brindado tam- pela fase de grupos, com uma vitó-
Luxemburgo-Eslováquia 19h45,SPTV5
Ænal do torneio disputado no Qatar, Bósnia-Portugal 19h45, RTP1 partida desta noite com os bósnios. bém com um 9-0, somando-se ainda ria frente ao Canadá (1-0), uma der-
sendo pouco tempo depois o esco- Encontros onde são esperados e um 6-1 a Chipre. Na corrida para o rota com Marrocos (2-0) — que seria
lhido pela Federação Portuguesa de J V E D M-S P desejados golos dos portugueses, Mundial 2022, a Bielorrússia foi a também o carrasco de Portugal — e
Futebol para suceder a Fernando Portugal 7 7 0 0 27-2 21 até porque já não existe a pressão vítima, com um 8-0, somando-se ain- um empate a zero com a Croácia.
Santos. Eslováquia 7 4 1 2 10-5 13 da qualiÆcação. da um mais modesto 5-2 à Estónia. Resultados que levaram muitos bel-
E quando falta ainda a Portugal Luxemburgo 7 3 2 2 8-17 11 E as goleadas têm sido frequentes O reverso da medalha para o gas a criticar o que chamaram des-
disputar três partidas até ao Ænal da Bósnia-Herzegovina 7 3 0 4 7-9 9 nas duas selecções treinadas por seleccionador espanhol têm sido as perdício de uma das melhores for-
qualiÆcação para o Euro 2024, com Islândia 7 2 1 4 11-10 7 Martínez — com números de antiga- fases Ænais das grandes competi- nadas de futebolistas talentosos na
Liechtenstein 7 0 0 7 1-21 0
a garantia de já ter os dois pés na mente. Na qualiÆcação para o Mun- ções, até agora sempre ao serviço história do país.
 Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023 • 37

Desporto

Espanha, Escócia e Turquia

estão na fase final do Euro 2024
2024, ao golear em casa a Letónia por
Estas selecções juntam-se Classificações 4-0, com golos de Yunus Akgün, aos
às quatro que já estavam 58 minutos, Cenk Tosun, aos 84’ e
90’+2’, e Kerem Aktürkoglu, aos 88’.
apuradas para a prova GRUPO A GRUPO D A Espanha, campeã europeia em
que vai ser disputada Noruega-Espanha 0-1 País de Gales-Croácia 2-1
Geórgia-Chipre 4-0 Turquia-Letónia 4-0 1964, 2008 e 2012, vai somar a 12.ª
na Alemanha presença, e oitava consecutiva, a
J V E D M-S P J V E D M-S P Escócia, que nunca passou a fase de
Espanha, Escócia e Turquia garanti- Espanha 6 5 0 1 19-3 15 Turquia 7 5 1 1 13-6 16 grupos, cumprirá a quarta, e segun-
ram ontem o apuramento para a fase Escócia 6 5 0 1 12-3 15 País de Gales 6 3 1 2 8-8 10 da seguida, e a Turquia, semiÆnalis-
Ænal do Campeonato da Europa de Noruega 7 3 1 3 11-9 10 Croácia 6 3 1 2 10-4 10 ta em 2008, a sexta, e terceira de
futebol de 2024, juntando-se a Portu- Geórgia 6 2 1 3 9-13 7 Arménia 6 2 1 3 8-9 7 “rajada”.
Chipre 7 0 0 7 2-25 0 Letónia 7 1 0 6 5-17 3
gal, Bélgica, França e à anÆtriã Ale- Os dois primeiros de cada um dos
manha. GRUPO I 10 agrupamentos qualiÆcam-se para
GRUPO E Suíça-Bielorrússia 3-3
Dois dias depois de lusos, belgas e Polónia-Moldova 1-1
a fase Ænal, enquanto as restantes três
Roménia-Andorra 4-0
franceses, os espanhóis selaram o Rep. Checa-Ilhas Feroé 1-0 Kosovo-Israel adiado vagas sairão dos play-off, a disputar
apuramento no Grupo A, ao vence- J V E D M-S P
pelos quatro melhores classiÆcados
rem na Noruega por 1-0, com um golo J V E D M-S P Roménia 8 4 4 0 13-4 16 de cada uma das três principais ligas
de Gavi (49 minutos), resultado que Albânia 6 4 1 1 11-3 13 Suíça 7 4 3 0 20-8 15 da Liga das Nações (A, B e C) que não
afastou os nórdicos, de Erling Haa- Rep. Checa 6 3 2 1 8-5 11 Israel 6 3 2 1 7-7 11 conseguirem o apuramento directo.
land, e qualiÆcou também a Escócia. Polónia 7 3 1 3 9-9 10 Kosovo 7 1 4 2 8-8 7 A fase Ænal do próximo Europeu
No Grupo D, a Turquia também Gavi marcou o único golo Moldova 6 2 3 1 6-6 9 Bielorrússia 8 1 3 4 7-14 6 realiza-se na Alemanha, de 14 de
assegurou a presença no Alemanha da Espanha na Noruega Ilhas Feroé 7 0 1 6 2-13 1 Andorra 8 0 2 6 3-17 2 Junho a 14 de Julho de 2024. Lusa

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AVISO

RE
1. Nos termos e para os efeitos previstos no n.º 2 do artigo 47.º da
Lei n.º 19/2012, de 8 de maio, torna-se público que a Autoridade
da Concorrência recebeu, em 10 de outubro de 2023, a notificação
prévia de uma operação de concentração de empresas apresentada

FL
ao abrigo do disposto no artigo 37.º do referido diploma.
2. A presente notificação respeita à aquisição do controlo exclusivo
de duas unidades de negócio da Lennox Internacional Inc. (“Ativos
Lennox”), por um fundo luxemburguês assessorado pela Syntagma
Capital Management S.A. (“Syntagma”).

EX
3. As atividades das empresas envolvidas são as seguintes:
• Syntagma – sociedade assessora de fundos de capital de risco
(private equity), que investe em empresas que podem beneficiar
de conhecimentos operacionais práticos de modo a acelerar o seu
crescimento e melhorar o seu desempenho.
• Ativos Lennox – correspondem às unidades de negócio AVAC,
para dispositivos de aquecimento, ventilação e ar condicionado
e REFCOM para refrigeração comercial. Em Portugal a Lennox
Água, Fonte de Vida
apenas está presente através da unidade de negócio AVAC.
A água é vida: garante a existência dos seres humanos, a biodiversidade e o equilíbrio
4. Quaisquer observações sobre a operação de concentração em dos ecossistemas. Para além de garantir a subsistência, tem um papel essencial na
causa devem identificar o interessado e indicar o respetivo endereço qualidade de vida das pessoas por ser indispensável às atividades económicas, sejam
serviços ou produtos.
postal, e-mail e n.º de telefone. Se aplicável, as observações devem
ser acompanhadas de uma versão não confidencial, bem como da A 16ª edição do š*Aa*Ó͓͓̾—ƀčŏıŚ͓ĆČ͓AŚƔŚĥƀãnjã͓
N¢͓Ζ͓őŚƳŚþãőÿŚ, pretende retratar e
fundamentação do seu caráter confidencial, sob pena de serem aumentar a compreensão das pessoas, incluindo das novas gerações, através do
tornadas públicas. ÏŅĹĘåÏĜĵåĹƋŅ Ú± ĜĵŞŅųƋ¶ĹÏĜ± Ú± ŸƚŸƋåĹƋ±ÆĜĬĜÚ±Úå å ÚŅŸ Ú埱ĀŅŸ ÚåŸƋå ųåÏƚųŸŅ
űƋƚų±Ĭţ åÏŅųųåĹÚŅ º üŅƋŅčų±Ā±Ø ŧƚåųåĵŅŸ ÏŅĹƋųĜÆƚĜų ޱų± ± ĵƚÚ±ĹÓ± ÚŅŸ
5. As observações devem ser remetidas à Autoridade da Concorrência, comportamentos, aumento da perceção, por parte dos cidadãos e da sociedade em
no prazo de 10 dias úteis contados da publicação do presente Aviso, čåų±ĬØÚ±ĜĵŞŅųƋ¶ĹÏĜ±ÚŅÚ埱ĀŅÚ±ŸƚŸƋåĹƋ±ÆĜĬĜÚ±ÚåÚåŸƋåųåÏƚųŸŅţ
Pretendemos uma mudança acentuada nos comportamentos, em especial dos
indicando a referência Ccent. 62/2023 –Syntagma/Ativos Lennox,
decisores políticos, e também dos agentes económicos e da sociedade civil em geral.
através do e-mail adc@concorrencia.pt.

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38 • Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023
Desporto
A África do Sul ganhou a batalha de Saint-Denis
David Andrade
Num grande jogo entre
sul-africanos e franceses,
os campeões do mundo
derrotaram os anfitriões
do Mundial de râguebi
Depois de um grande Irlanda-Nova
Zelândia na véspera, ontem, em
Saint-Denis, a segunda “Ænal ante-
cipada” nos quartos-de-Ænal do
Mundial 2023 voltou a ter um nível
impressionante. No Stade de France
a anÆtriã França teve pela frente a
campeã do mundo África do Sul e,
num jogo disputado a um ritmo alu-
cinante — seis ensaios nos primeiros
30 minutos —, o jogo foi decidido
por um detalhe: um invulgar blo-
queio numa conversão de um ensaio
de Thomas Ramos retirou aos fran-
ceses dois pontos que, no Ænal dos
80 minutos, Æzeram toda a diferen-
ça. Com a vitória, por 29-28, os
“springboks” vão reeditar com a
Inglaterra, que derrotou Fiji (30-24)
a Ænal do Mundial 2019.
No segundo duelo nos quartos-
de-Ænal entre favoritos que colocou
o Hemisfério Norte contra o Hemis-
fério Sul, as selecções europeias
voltaram a sair derrotadas, mas, tal
como a Irlanda contra a Nova Zelân-
dia, a França caiu por mérito da
África do Sul.
Num jogo que à meia hora tinha
já três ensaios para cada lado, o
pequeno Cheslin Kolbe acabou por
ter um papel decisivo. Aos 23’,
depois de Peato Mauvaka marcar o
segundo ensaio da França, o ponta
Alterações à lei de bases da actividade física e desportiva são bem-vindas
Opinião
José Manuel Constantino
É positivo o anúncio por parte do
Governo de pretender introduzir
alterações ao actual regime da lei
de bases da actividade física e
desportiva.
Passaram dezasseis anos sobre a
última revisão e há aspectos da
realidade desportiva nacional que
justiÆcam alterações ao texto
actual.
Uma operação que comporta
riscos. O maior é o de reduzir a
dos “springboks” fez um raro blo-
queio na conversão de Ramos e, três
minutos depois, Kolbe fez o terceiro
ensaio sul-africano.
Com 22-19 para os franceses ao
intervalo, a segunda parte teve menos
vertigem e mais ponderação, mas um
ensaio do imponente Eben Etzebeth,
aos 67’, logo seguido de uma penali-
dade a mais de 50 metros dos postes
de Handre Pollard, colocou a África do
Sul com quatro pontos de vantagem
(29-25) que a experiência dos cam-
peões do mundo — a equipa com a
média de idades mais elevada na pro-
va — soube gerir nos minutos Ænais.
política e a estratégia para o
desporto a um processo de
produção desenfreada de
regulação — normalmente reactiva
a fenómenos mediáticos
circunstanciais — sem cuidar de
avaliar a sua implementação, o seu
impacto e a sua eÆcácia.
Razão pela qual antes de
qualquer alteração normativa
importa ter presente que a
discussão a fazer é política e só
depois jurídica. Deixar que a fase
da discussão se reduza a dilemas
redactoriais em torno desta ou
daquela norma é escolher um
caminho estéril de jurisdicialização
do desporto, persistindo em
operar sem uma política pública
Com a vitória por um ponto na
“batalha” de Saint Denis, a África do
Sul acaba com o sonho francês de
conquistar pela primeira vez um
Campeonato do Mundo, tal como
na véspera a Nova Zelândia tinha
feito com a Irlanda.
Na outra partida, uma semana
depois de perder contra Portugal
em Toulouse, Fiji apresentou-se
perante a Inglaterra com cinco
mudanças no “XV” em relação ao
duelo com os “lobos” e, no Ænal,
pode lamentar os erros que come-
teu, que podem ter custado à selec-
ção do PacíÆco uma inédita presen-
que lhe sobreleva e a qual regula.
Sendo o documento que reÇecte
aquilo que são as determinações
constitucionais, a lei de bases, não
pode deixar de respeitar as várias
dimensões do desporto e os seus
contextos organizativos
(educativo, recreativo,
competitivo) num delicado
equilíbrio que reÇicta o grau
assimétrico do próprio
desenvolvimento do desporto. E
este é o seu principal problema.
Num país como Portugal, com
acentuadas assimetrias entre as
diversas dimensões do desporto e
as suas diferentes modalidades,
estamos perante um exercício
complexo, porque a tendência
SARAH MEYSSONNIER/REUTERS
A França bem tentou impor-se
à África do Sul, mas a maior
experiência dos sul-africanos
fez a diferença
Num jogo disputado a um
ritmo alucinante — seis
ensaios nos primeiros
30 minutos —, o jogo foi
decidido por um detalhe
natural é o de legislar em função
daquilo que é dominante e, em
alguns casos, hegemónico. Ora,
não podendo ignorar essa parte da
realidade, também não é
recomendável que se desvalorize
ou ignore a outra parte.
Uma discussão pública sem
balizas ou temas-chave, sem
pessoas preparadas para
coordenar a discussão corre o risco
de se tornar um exercício
improdutivo, longe do pretendido,
e até contraproducente num
diploma que visa dar forma às
bases da política desportiva
nacional. AÆrmamo-lo, com as
naturais reservas de quem não
conhece as dezenas de debates que
ça nas melhores quatro equipas da
prova.
Porém, no Ænal, não houve qual-
quer surpresa: a equipa favorita
ganhou e os ingleses voltaram a ser
ingleses. Com um râguebi cínico e
nada atractivo, mas profundamente
eÆcaz e Æel ao seu jogo de conquista
de terreno ao pé, os ingleses num
ápice marcaram dois ensaios —
Manu Tuilagi (14’), Joe Marchant
(23’) —, colocando-se a vencer, por
12-0.
A partir daí, o jogo mudou e ape-
nas Fiji, e por três vezes — Viliame
Mata (28’), Peni Ravai (64’), Vilimo-
ni Botitu (68’) —, conseguiu ensaios,
mas a habitual Æabilidade de Owen
Farrell no jogo ao pé (o abertura
marcou 20 pontos), Æzeram a dife-
rença no Ænal: 30-24.
Cumpridos os quatro jogos dos
quartos-de-Ænal do Mundial 2023, a
partir da próxima sexta-feira o Stade
de France começa a receber a luta
pelos dois lugares na Ænal de 28 de
Outubro. Assim, na primeira meia-
Ænal, vão estar frente a frente a Nova
Zelândia e a Argentina, sendo que o
favoritismo recai por inteiro para o
lado dos “all blacks” no confronto
com os “pumas”.
No sábado, também em Saint-De-
nis às 20h, os vice-campeões do
mundo vão ter muitas diÆculdades
para conseguir repetir a presença
que alcançaram em 2019 no Japão.
Ainda sem mostrarem um râguebi
convincente, a Inglaterra terá de
exibir argumentos (que ainda não
mostrou) para impedir que os
“springboks” voltem a marcar pre-
sença numa Ænal.
o tema está a suscitar. AÆrmamo-lo
baseado em evidências anteriores
que, oxalá, desta feita, não
ocorram.
Pesem embora todos estes
receios, a oportunidade agora
criada pela iniciativa
governamental deve ser
aproveitada. Participando e dando
os contributos que a experiência
recomenda sem expectativas de
que as mudanças, quaisquer que
sejam, transformarão de imediato
o desporto nacional, mas que
podem ser úteis a que as políticas
de desenvolvimento o alcancem.
Presidente do Comité Olímpico
de Portugal

Oliveira empurrado para a gravilha
em dia de sonho para Bagnaia
O português acabou
no 12.º lugar depois
de um incidente
com o seu ex-colega
de equipa Brad Binder
O piloto italiano Francesco Bagnaia
(Ducati) recuperou ontem a liderança
do Mundial de MotoGP, perdida na
véspera, depois de vencer o Grande
Prémio da Indonésia, 15.ª prova da
temporada, em que Miguel Oliveira
(Aprilia) foi 12.º classiÆcado.
O piloto português cortou a meta a
36,639 segundos do vencedor, com o
espanhol Maverick Viñales (Aprilia) na
segunda posição, a 0,306 segundos
Oliveira arrancou do 12.º lugar,
mas à terceira volta já era sexto clas-
siÆcado. O próprio Francesco Bag-
naia, que partiu imediatamente atrás
Miguel Oliveira não repetiu a vitória de há um ano na Indonésia
do português, era sexto na primeira
volta e terceiro na terceira. E tam-
bém Jorge Martin (Ducati), que che-
gava a esta corrida principal do
Grande Prémio da Indonésia na lide-
ALEJANDRO GARCIA/EPA
rança do campeonato depois da vitó-
ria na corrida sprint da véspera, teve
um bom arranque: o espanhol arran-
cou do sexto lugar, mas saltou para
a liderança logo na primeira curva.
Público • Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023 • 39
Apesar de ter chegado à sexta posi-
ção, Miguel Oliveira acabou por esta-
bilizar no sétimo posto e, numa altu-
ra em que o português estava a lutar
pela oitava posição (Miguel Oliveira
tinha sido, entretanto, ultrapassado
pelo italiano Marco Bezzecchi, em
Ducati), Brad Binder (KTM) abalroou
Oliveira, forçado a sair de pista e a
perder nove posições — o português
acabaria por recuperar até ao 12.º
lugar Ænal, mantendo o 13.º posto do
campeonato, com 73 pontos.
Uma volta depois, na 12.ª, Jorge Mar-
tin, que seguia já com uma vantagem
confortável, perdeu a frente da sua
moto e acabou na gravilha, desistindo
e abrindo a porta à recuperação do
campeão Bagnaia, que recuperou o
comando do campeonato, com 18 pon-
tos de vantagem sobre o espanhol.
A próxima ronda disputa-se dentro
de uma semana, na Austrália.
Desporto
Nuno Borges
cai na final e falha
conquista de
quinto challenger
O tenista português Nuno Borges
perdeu ontem a Ænal do challenger
de Shenzhen, sendo derrotado pelo
norte-americano Aleksandar Kova-
cevic em dois sets.
Terceiro cabeça-de-série do
challenger chinês, o número um
nacional viu o 146.º jogador mundial
contrariar o seu favoritismo e impor-
se por renhidos 7-6 (7-4) e 7-6 (7-5),
em uma hora e 45 minutos.
Borges, 85.º do ranking ATP, não
tinha perdido qualquer set na cami-
nhada para a Ænal em Shenzhen, a
sua terceira da temporada e oitava
da carreira no circuito challenger.
Campeão em Monterrey e Phoenix
no início do ano, Nuno Borges pro-
curava o quinto título challenger da
carreira, que lhe permitiria igualar
os compatriotas João Sousa e Nuno
Marques em número de troféus con-
quistados neste circuito.
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Segunda-feira, 16 de Outubro de 2023
BARTOON LUÍS AFONSO
Está a decorrer um massacre
Sementes
de alfarroba
Carmo Afonso
O
direito internacional
dá provas de não
servir para muito.
Israel violou a lei
quando cortou o
fornecimento de
eletricidade, água, combustíveis e
comida na Faixa de Gaza.
Viola a lei quando bombardeia
áreas residenciais, hospitais,
abrigos das Nações Unidas ou
escolas, viola a lei quando
dá avisos prévios impossíveis
de cumprir e claro que
viola a lei quando mata civis. Mas
nada disto tem consequências.
Está a decorrer um massacre à
vista de todos. O número de
mortos que se perspectiva e a
forma como estão a tentar
eliminar os palestinianos da região
obrigam a falar em genocídio e
limpeza étnica.
Os ataques do Hamas foram
uma carnificina e devem ser
classificados, sem reservas, como
atos terroristas. O que não
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podemos é aceitar que sirvam de
legitimação para matar civis
palestinianos e para o
cometimento generalizado de
crimes de guerra por parte de
Israel. Só que é precisamente isso
que está a acontecer.
Vários representantes do Estado
de Israel deixaram claro que não
distinguem civis palestinianos de
milicianos do Hamas. O ministro
da Defesa israelita, Yoav Gallant,
ao anunciar os cortes no
fornecimento de bens essenciais,
chamou aos palestinianos animais
e disse que Israel agiria em
conformidade. O Presidente de
Israel, Isaac Herzog, acusou os
civis de estarem envolvidos nos
ataques: “Poderiam ter-se erguido
e ter lutado contra aquele regime
maligno.” Estes dirigentes
verbalizaram aquilo que teríamos
cautela em concluir: que Israel
quer punir o povo palestiniano
coletivamente pelos atos do
Hamas.
Aproximadamente metade
da população em Gaza é
constituída por crianças. As
crianças não são do Hamas e não
são cúmplices de ataques
terroristas. São, como as crianças
e bebés israelitas que o Hamas
matou, puramente vítimas de uma
guerra extremamente violenta. Na
Faixa de Gaza, desde domingo,
Israel matou mais de 700 crianças
palestinianas. São números
adiantados pela Unicef, que fala
também em 2450 crianças feridas.
Estamos a falar de crianças,
aquelas que temos a missão
sagrada de proteger.
Aos que decretaram que não
pode existir um “mas” quando se
condenam os ataques do Hamas,
digo que concordo. Mas exijo
igualmente que condenem a
matança que Israel está a fazer na
Palestina e que o façam sem
qualquer adversativa. É um
princípio de humanidade e de
decência. A quem não for capaz de
o fazer, recomendo que se remeta
ao silêncio e que se abstenha de
exigir tomadas de posição a
terceiros.
Outra vez: está a decorrer um
massacre na Faixa de Gaza. É
obrigatório que os líderes de todas
as forças políticas em Portugal
esclareçam se condenam, ou não,
a atuação do Estado de Israel. É
inaceitável que sejam poupados a
tomar uma posição sobre este
tema. É mesmo preciso saber se
consideram que esta barbárie está
legitimada, se tem atenuantes ou
se é tão imperdoável como os
ataques do Hamas.
O mesmo para o Governo.
Tirando uma declaração de
António Costa no Æm-de-semana,
que apontava para a crítica ao
ataque de Israel a civis, apenas
temos visto membros do
Governo posicionarem-se ao lado
da União Europeia (UE). Sucede
que a posição da UE é parcial e,
por isso, injusta. As palavras de
Ursula von der Leyen em Israel, ao
lado de Netanyahu, foram de
apoio sem restrições à reação
militar de Israel. Foi na sexta-feira,
quando já tinham decorrido vários
dias sobre o início dos
bombardeamentos das forças
1 MÊS
GRÁTIS
APP DISPONÍVEL NAS LOJAS
militares israelitas sobre civis
palestinianos. Razões já existiam,
e de sobra, para não ter dado uma
carta branca ao genocídio.
A falta de iniciativa e de
coragem para condenar a atuação
de Israel, que se vê por cá, é a
mesma que caracteriza a
comunidade internacional.
Quando isto acabar, contarão
muitos milhares de mortos
palestinianos e aí existirá uma
qualquer condenação ao
Estado de Israel. Renovarão os
votos de “Never again”,
mas será, como sempre, tarde de
mais. Teremos falhado aos
palestinianos e seremos uma
comunidade internacional mais
desmoralizada. O que há para
fazer teria de ser feito agora, mas
nada faz prever que assim seja. À
hora a que escrevo, as Nações
Unidas nem exigiram um
cessar-fogo a Israel e poucos
interpelam a organização para o
fazer. Parecemos aceitar
coletivamente que o destino
daquelas pessoas está traçado e
que não há nada a fazer por elas.
Na Faixa de Gaza vivem pessoas
iguais a nós. Tenho a certeza que
muitos convivem bem com o que
se está a passar porque não
acreditam nisso.
Advogada