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Joes Shows ERRITORIALIDADE E ECOTONOS , URBANOS: LIMITES EM TENSIONAMENTO Resumo A originalidade deste trabalho consiste na busca pela compreensao das inquietudes das relagses urbanas que caracterizam os “ecotonos urbanos", a partir de revisto bibliografica da expressao territorial que marca e distingue os ecossistemas. A expressao “ecétono” € discutida ¢ recontextualizada sob 0 prisma urbano, por meio de um enfoque transdisciplinar. Na sequéncia, so apresentadas situagbes, particulares, associadas a proposigdes de classificagdes atinentes 20 termo, no ambito das cidades. O mesmo radical grego “otkos” (eco), presente em “ecalogia" e que denata o ambiente intima - a casa -, ‘surge em ecétono, acrescido do grego tonos (ou do latim tonus), que indica tensionamenta. Assim, ecétono, originariamente uma expressdo coloquiaimente encontrada na biologia, referencia-se 8s zonas de transi¢ao entre biocenoses. E a regiao onde biomas tronteiricos, com estruturas e caracteristicas diferentes, encontram- see tensionam-se. Em ambiente urbano, a definigso merece uma aproximagao mais especifice que convida & reflexao da presenca marcantemente antrépica. Implica em reconhecer convivéncias que, muitas vezes, levam a rusgas @ embates sociais de cunho politico, cultural, afetivo, econémice etc. A multidisciplinaridade e @ transdisciplinaridade associadas ao tema demandam certo transito entre as ciéncias naturais e as ciéncias sociais, em suas diversas manifestagoes e aproximagoes. PaLavRas-CHAVE Ecétono. Territorializagao. Desterritorializacao. Reterritorializacao. Tensionamento, HIPTP://DX.DO1.ORG/ 10.1 1606 /189N.2317-2762, POSEAU2020,165420 Ps, Rev: Programa Poe-GrasAngt Urban, FAUUSE Sio Palo, 27, 516165420, 2020, v pos- TERRITORIALITY AND URBAN ECOTONES: LIMITS UNDER TENSION, ABSTRACT ‘The originality of this work consists in the search for an understanding of the concerns of urban relations that characterize the “urban ecotones", based on a bibliographic review of the territorial expression that marks and distinguishes ecosystems, The expression “ecotone” is discussed and recontextualized from an urban perspective, through a transdisciplinary approach. In the sequence, particular situations are presented, associated with propositions of classifications related to the term, within the scope of cities. The same Greek prefix o/kos (eco) present in “ecology”, meaning intimate environment, - the home -, arises in ecotone, added by the Greek suffix fonos (or Latin tonus), indicating tensioning. Therefore ecotone, originally 2 colloquial expression found in biology, refers to the transition zones between biocenoses, It is the region where neighboring biomes, with different structures and characteristics, converge and interact. In an urban environment, the definition deserves a more specific approach, which stimulates a reflection on the notably anthropic presence. That implies recognizing a coexistence that often leads to social raids and clashes of political, cultural, affective and economic nature. The multidisciplinarity and transdisciplinarity associated with the topic requires, to a certain extent, some transit between the natural sciences and the social sciences, in their different manifestations and approaches. Keyworps Ecatone. Territorialization. De-territrialization. Re-territorializatian. Tensioning. Ps, Rey. Programa Ps <4. Arit Urban, FAUUSE Sto Pl, ¥ 27m. 51, 165420, 2020 Ivrropugio A cidade, expressao “prtico-senshel”(LEFEBVRE, 2006) do urbanism, em bua essécia tertile antrpice, 6 olgar das stcializagbes, convergetes ov antagnieas, que marcar carder plural ds interesees de eadasegmento no campo social, alte, ezondmico, cultural etc A leldede} se sua num melo temo, a melo caminho entre squlo que se Chama de ordem prdxima relax dos Inividuos om srupes mals ou ‘menos amplos, mais ou menos organizados e esiruturados, relagaes desses ‘rapes entre ees) ea ordem dlstante, a ordem da socledade,rezid2 por srandes e poderosas insttuigdes (ire, Estado), por um cédigo furiico ‘ormalizado ou na9, por uma “cultura” @ por conyunios signiticantes (LEFEBVRE, 2005, 9.46). E na cidade, campo precipuo das atirmacées, fragilidades, identidades, conexbes, conflitas ¢ rites, que se delineiam mais fortemente as singularidades socioculturas. As interagBes multidimensionais nas cidades reafirmam-se como expressoes de poder e conformam-se, ao longo da tempo, como unidades temitoriais. 0 objetivo deste trabalho é lidar com essa questao tertorale, consequentemente, com os possiveis conflitoslimiares entre “ecossistema que se apresentam sob diferentes formas. Originaimente, no universo da biologia, a interface ou membrana que une (ou aparta) os ecossistemas ou biomas € chamada de ecétono. Trata-se de uma zona de estresse. No campo do urbanisme, ecdtone urbano caracteriza-se pelas ‘ensoes emergentes, geralmente de vertente antrapica, em fungao de conatacbes saciais, econBmicas e culturais: “um limite néo é onde algo termina, mas, como os gregos recontieceram, ¢ a partir de onde algo 3 inicio 2 sua esséncia (presenga)” (HEIDEGGER, 1971). Arelevancia desta pesquisa é baseada, principalmente, na forma original de ‘razer a expresséo “ecétona urban” para situagdes reais e diversas, com base ra transposi¢ao de um termo oriundo das cincias naturals e sua aplicagao 20 espaco cultural (das cidades). Como procedimento metodolégico, sera realizada uma revisao bibliogratica, com o objetivo de definir 0 conceito de territério, Subsequentemente, sera definido 0 termo “ecétono urbano”, que surge a partir de fricgdes entre teritérios contiguos, no mbito plural do meio urbano. Por fim, serdo propostas classficagées, em fungao dos tipos identificadas como recorrentes, e exemplificadas situagoes representativas (tipicas) I) Ecétonos Por acées antrépicas com consequéncias em ambientes naturais; II) Ecétonos por zoneamento com consequéncias na segregacao urbana; III) Ecétonos por bruscas transformacdes urbanas com consequéncias socicecondémicas; IV) Ecétonos por desterrtorializacdes com consequéncias nas reterritorializacoes. Atualmente, as situagdes de tensionamento se exacerbaram em diferentes, ‘meios urbanos, como expressoes de ecdtonos urbanos. A recente pandemia COVID-19 evidenciou inequidades sociais e econdmicas, ro Brasil e no mundo. Embora o fata seja subjacente aos propésitos deste <4. Arit Urban, FAUUSE Sto Pl, ¥ 27m. 51, 165420, 2020 pOs- Jes pos- * trabalho, serd realizada breve contextualizago nas consideragtes finais de forma a reforgarjustificativas, no contexte de wuinerabilizacao de certos segmentos sociais. Como abservado por Guattari, em contexto semelhante, ha 30 anos: “Chernobyl e a Aids nos revelaram brutalmente os limites dos paderes ‘téenico-cientifices da humanidade e as "marchas--ré" que a “natureza” nos pode reservar” (GUATTARI, 1990, p.24). TERRITORIO EM DEBATE Lewis Mumford (2008 (1982), p.3) lancou bases importantes para a compreenséo da esséncia das cidades. Destacou que 0s elementos fisicos, em forma de vestigios ou pistas, seriam os aspectos mais superficiais de evidéncias sobre as antigas formas de vida e convivio social, pois sao pouco eficientes para esclarecer passagens culturais, como rituais ou linguagens, assim como processes de socializagao e, por conseguinte, de territorializagao: (..) devemos soguir a trilha para tras, partindo das mais completas festruturas e fungdes urbanas conhecidas, para os seus componentes foriginaries, por mais remotos que se apresantem no tempo, no espaco @ nna cultura, em relagao aos primeiros tells que ja foram abertos. Antes da cidade, houve a pequena povoacao, 0 santudrio e a aldela; antes da aldeia, 0 acampamento, 0 escondenjo, a caverna, 0 montao de pedras; & antes do tudo isso liouve corta prodisposica0 para a vide social que o| ‘homem compartitha, evidentemente, com diversas outras espécies animals. Frederick Clements (1874-1945), no inicio do século XX, no contexto das ciéncias naturais, desenvolveu a ideia de bioma: “A extensdo e o cardter do bioma sao exemplificades na grande paisagem de tipos de vegetacao, com seus correspondentes animais, como pastagens e estepes, tundras, desertos, florestas de coniferas,florestas deciduais ou semelhantes” (CLEMENTS, 1939, p.20). Clements definiu, precocemente, ecologia como “predominantemente, a ciéncia das comunidades populacionais” e observava sua esséncia dinamica. 0 interesse or biomas trouxe, naturalmente, a curiosidade cientifica por “Yronteiras e bordas” (KARK, 2013, p.149), em suas abrangéncias e diversidades biolégicas. ‘No universo urbano, deve-se distinguir com clareza os fundamentos que definem o conceito de terrtério, Segundo Milton Santos (2011, p.11), “O ‘territério & 0 lugar em que desembocam todas as acdes, todas as paixdes, todos cs poderes, todas as forcas, tadas as traquezas, isto é, onde a historia do homem plenamente se realiza a partir das manifestacGes da sua existéncia”. Na escala da cidade, o teritorio refere-se a uma porcao geografica sob agao, dominio, inluéncia ou jurisdi¢ao de determinada comunidade. Nele, consubstanciam-se componentes modelados histdrica e socialmente, por fatores convergentes e divergentes, de ordem cultural, politica, econémica que resultam em certa unidade (mesmo que instévell. So dominios, em légicas e codificagdes proprias e dinamicas, que assumem autonomias, permanéncias, centralidades e articulacdes. A partir do resgate da obra de Souza (2008, .65), vale reforgar a distinc3o entre territério e a respectiva parcela locacional (material) na qual o conceito se efetiva: Or, so as fronteiras 0 os limites podem sor “invisiveis (conguanto ppossamos tamar como referéneia marcas materials instalados ad loc, <4. Arit Urban, FAUUSE Sto Pl, ¥ 27m. 51, 165420, 2020 assim como rios @ outras feigoes visivels na paisagom), uma fronteira berm pode ser uma linha reta arbitrariamente tragada sobre um mapa em Babinete entzo, intelectualmente, & preciso admitir qua 0 territério @ 0 substrate material que Iho serve de suporte @ referéncia, @ inclusive de ator de condicionamento, por mais que nao passam ser separados Cconcretamente de modo simples (como se pudesse axistir teritoro sem lum substrato), ndo 540, $0 por #880, sindnimos. Ratfestin desenvolveu referéncias a territorialidade, “definida como a reunigo de relagdes que uma sociedade mantém com a exterioridade e a alteridade para a satisfacao de suas necessidades, com objetivo de obter a maxima autonomia compativel com os recursos do sistema” (RAFFESTIN, 2012, p.124) ou ainda “o conceito de terrtorio e terrtorialidade pertencem nao apenas as ciéncias juridicas, mas tamaém a etologia animal, que precede a etologia humana’ (Ibid.). Gregotti (1975, p.68), em “Territério da Arquitetura”, atestou que a “cidade representa 0 esforgo mais notavel, por parte da civilizagdo humana, de uma transformagao completa do ambiente natural, a passagem mais radical do estado de natureza ao estado de cultura”. Em Sua preacupacao fem destacar 0 arquiteto (e 0 urbanista) como formalizador de “objetivos figurativos na atuagao espacial”, no imbricamento entre as definigoes de “Iocalizagao" e “formalizacao", afirmou: pos- |r ‘Naturaimente, somos cénscios de que a realidade teritrial é formada por uma série de estratos bastante complexes e (nteragentes que se Cconstituem em modelos espaciais diferenciades (geograricos, ‘administratives, demogréticos, econémicas etc.), como realidades tisicas ‘que devem ser organizadas entre si com umm objetivo comum que se ‘coneretizaré numa nova *forma do terrtdrio (GREGOTTI, 1975, p.87), Saquet (2007, p.31) compilou diversas atualidades sobre o conceito. Partiu da compreensio basica de que 0 territ6rio & 0 “substratolpalco para efetivagao da vida humana”. Reconheceu-o como um “lugar e meio de producgo social, onganizado e gerido por sujeitos socias, politicos e/ou econémicos” (SAQUET, 2007, p.71)¢ sintetizou: “0 territério, como conceito, tem componentes Imateriais e psicoldgicos, ligados & vida social de grupos separados Interdependentes que organizam o espago e esto em movimento, superando 0s limites e as fronteiras” (SAQUET, 2007, p.69). Logo, a dinamica sociaespacial, com suas especificidades, ganhou importancia como proceso, ‘em um momento de emergéncia da consciéncia ecolégica. Apoiado em Giuseppe Dematteis, Saquet (2007, p.74) apresentou a importancia cultural ambiental (do territério) Demattels(..) afirma que, entre 0 final dos anos 1970 e 0 Inicio dos 11980, altera-se 0 moda de ver 0 teritorio, ou seja, permanece a atencao 4s politicas pablicas e as intervengdes, mas aumenta a atengao as ‘iterengas e as especificidades dos lugares. Ha um Intenso trabalho te6rico-metodoldgico e emplico-reflexivo para compreensso de ‘desiqualdades presentes no territério, principalmente, a partir das relacoes capital-trabalho, do uso do espaco e do movimento, traduzidos na processualidade historica e transescalar (redes de circulaga0 @ ‘comunicagao). A problematica territorial do desenvolvimento, lentamente, ganna centralidade. No entanto, a8 preocupacoes e atengdes com as ‘condicoes ambientals, par exemplo, ganham forca no decorrer dos anos 1980 e, sobretudo, a partir dos anos 1990. Ps, Rev: Programa Poe-GrasAngt Urban, FAUUSE Sio Palo, 27, 516165420, 2020, pos- Souza trouxe também esclarecimentos acerca de sua prépria produgo académica como forma de revisar equivocadas interpretacdes realizadas por outros, que descaracterizaram seu raciocinio. Ressaltou, por exemplo, que: 6.) 0 que “define” teritario &, em primeirissimo lugar, 0 poder (..) 1880 ‘ndo quer dizer, porém, que a cultura (0 simbolismo, as toias do significados, as identidades..) e mesmo a economia (o trabalho, 0s processos de produgao e circutaga0 de bens) nao sejam relevantes ou nao ‘estofam “contemplados” ao se lidar com 0 conceito do territerio’ (SOUZA, 2008, p.59). No ambito da cidade, Souza (2008, p.61) distinguiu “lugares” e “territ6rios” Uma regiao ou um bairo sa, enquanto tals, espacos detinidos, bbasicamente, por identidades e intersubjetividades compartilnadas; 520, pportanta, “lugares”, espacos vividos @ percebidos. Mas uma regigo e um bairro também podem ser nitidamente ou intensamente territrios, em ungao de regionalismas e bairrismas, ou mesmo porque foram “reconhecidos” pelo aparelno de Estado coma unidades espacials formals 4 servigo de sua administragao ou de seu planejamento, ou ainda porque ‘movimentos socials all passaram a exercer, fortemente, um contrapodar Insurgente. No trabalho de Souza (2008, p.64), se por um lado a cidade, em sua comunicago semiolégica, manifesta suas configuragées formais sintetizadas pela expressio paisagistica, por outro, "como projecao espacial de relagbes de poder, 0 teritério nao pode ser jamais compreendido e investigado (sua origem 25 causas de suas transformacdes) sem que o aspecto material do espaco social seja devidamente considerado". Deve ser entendido, inclusive, que, nas cidades, 0 territério “como fonte de recursos” nao esta necessariamente referenciado "2 apropriagao da natureza” no sentido humanistico, cultural ou simbélico, mas, em geral, na questao material mais visceral, a da especulacao financeira (imobilidra). QUANDO TERRITORIOS RESULTAM EM ECOTONOS |Até aqui, buscou-se ancorar @ pesquise nas diversas acepcdes associadas a0 territério. Agora, aprofunda-se o debate em relagao as insurgéncias associadas aas terrtérios que sugerem cheques e palarizagées, em Ambito urbana. Esta estratégia metodologica deverafacilitar a compreensio do significado de ecéiono urbano (Figura 1), seus processos e componentes. (Odum (1913-2002) possuia especial interesse por ecétonos, em fungao da Fiqueza biologiea, detinidos como areas de transicao entre sistemas ecolégicos adjacentes (ODUM; BARRETT, [1959] 2007), visiveis pela mudanca brusca dos padrées e das estruturas das comunidades, no que tange aos aspectos biofisicos/climaticos ou antropogénicos (MARFO et al., 2019). Os ecdtonas sao reconhecides camo “Areas de transi¢80 que podem servir camo centros de especiagao” (KARK, 2013, p.149), com alta diversidade genética e ‘morfolégica, seja em sistemas aquaticos (estuarios, baias, por exemplo) ou ‘terrestres (florestas, bosques etc). Podem implicar em escalas muito diferentes, camo no caso de biomas controntantes com dimensdes continentais ou Pequenas transigdes entre habitats, e podem variar desde bordas naturals <4. Arit Urban, FAUUSE Sto Pl, ¥ 27m. 51, 165420, 2020 Fgura 1 me A (transigbes de latitude, altitude etc.) até interfaces de origem humana (desmatamento, ocupagoes urbanas etc.) (LOURENGO, 2019), Sao apresentadas, a seguir, as argumentagoes tebricas que embasarao a propasta de classificagio des ecétonos. Evidentemente, a aproximago de cada ‘caso particular auxiliard fortemente o entendimento dos diferentes tipos (de ecétonos) Como sera visto em “Ecdtonos por agdes antrépicas com consequéncias em ambientes naturals”, as intervencses humanas tém tida forte sentido predatério € inconsequente diznte dos ambientes naturais. 0 entendimento do significado dos termos “bioma” e “ecologia”, introduzides por Clements (1939, p.20), no Inicio do século XX, é importante para se compreender como “comunidades Populacionais” invadem (ou séo invadidas), a partir de “fronteiras e bordas” Diferentes biomas tém sofrido degradagées frequentes em fungio da industrializagao e da urbanizagao sem planejamento. A expansao territorial avanga sem precedentes. A perda da biodiversidade, poluiga0 de rios e mares, desmatamento de florestas etc. sao as faces mais conhecidas dessas investidas. Em certo sentido, a pandemia COVID-19 que assola o planeta também representa 0 avango pratico e simbiélico do ser humano sobre florestas outrora Intocadas. Acredita-se que existem poucas regides do planets que nao tenham sofrido consequéncia das atividades antrépicas. No contexto das cidades, a classificagao “Eeétonos por zoneamento com ‘consequéncias na segregacSo urbana” revela que as segregacbes sao evidéncias dos graves desequilibrios socioeconémicos e do desinteresse do poder piiblico fem enfrentar a quesiao. Aglomerados pobres e ricos convivem em ‘ensionamento em seus limites, com servigos e infraestrutura desiguais. Desta rmaneira, configuram-se ecétonos urbanos, em esséncia, Mesmo quando ha planejamento, a organizagao territorial reafirma o interesse pelo distanciamento social. Seja por meio dos instrumentos urbanisticos como o zoneamento, por Ps, Rev: Programa Poe-GrasAngt Urban, FAUUSE Sio Palo, 27, 516165420, 2020, pos- pos- ~ exemplo, ou da criago de condominios “devidamente” distanciados do mundo exterior, por muros, cercas e cameras, Séo estruturas de poder que tendem 2 se perpetuar. Como visto, Milton Santos (2011, p.11) traz a ética de que, na cidade, o territ6rio refere-se a uma porg#o sob dominio de determinada comunidade. Resgata ainda Souza (2008, p.65), que revela que "territrio e 0 substrato material que lhe serve de suporte e referencia” nao podem ser separados concretamente de forma trivial Em outra abordagem especifica em “Ecétonos por bruscas transformagoes turbanas com consequéncia socioeconémicas”, pode-se concluir que o teritério “camo fonte de recursos”, como visto anteriormente, esté referenciada & questdo material mais visceral, a da especulagao financeira (imobiliaria). Souza (2008, 9.59) destaca que o que define o territerio € o poder, mas isso nao significa que a cultura e a economia nao sejam relevantes. Muitas vezes, 0 problema surge quando a economia se traveste de cultura. Embora, por exemplo, a ideia de city marketing, no ambito da competigao entre cidades, nao seja exalamente algo novo - haa vista as exposigdes e feiras mundiais que, hh quase dois séculos, propagandeiam proezas técnicas e modernidades (nem sempre reais) associadas a paises, corporagdes etc.-. as proporgdes e alcances de suas iniciativas so superlativas e onipresentes. Neste sentido, ha severas criticas em relagao a determinadas “centralidades urbanas”, supastamente assocladas &s requalificagses urbanas, com verniz cultural au histérico. Na visdo de alguns, trata-se apenas do acirramento de “téticas difusas e escontinuas que radicalizam desigualdades sacioeconémicas e revelam, em seu percurso de afirmacao, o seu proposito nada oculto de promover o mercado alobal de estilos de vida, servigos e imagens” (BARBOSA, 2011, p.127). Assim, esas centralidades artficiais so terrtérios da “exibigo" e do “consumo”, a serem desfrutados por segmentos elitizados da sociedade, em cidades definidas como “hipermercados de simbolos do fetichismo das mercadorias” (BARBOSA, 2011, p.128), em descompasso com as necessidades urgentes e reais de camadas sociais em situag3o de precariedade. Trechos urbanas cam ambiéncias historicas marcantes, zonas portudrias em processo de requalificagao como “waterfront”, cidades que abrigam eventos esportivos de grande porte etc. sao exemplos caracteristicos associados ao city marketing. Nestes casos, os conflitos territariais que justificam a expressio “ecétona” advém de interesse privado que, sob o argumento da revitalizagao ou renovago urbana, chegam 2 realizar agdes violentas (remogdes, descaracierizagbes de ecossistemas naturais, destruigoes do patriménio cultural etc.) que beneficiam apenas extratos mais abastados (empresariais e/ou sociais). TTalvez uma visao ainda mais particular no que tange ao tema “territrio", que ‘também se manifesta em ecétonos urbanes, possa estar associada justamente aqueles que se encontram desterrtorializados: os refugiados. A perda do sentido de cidadania e de identidade social - muitas vezes, pela omisso, inépcia ou opressao do préprio Estado - pode ser gravissima, pois implica a perda do tema do “direito ater direitos” (ARENDT). Contemporaneamente, os refugiados so uma expresso forte da binémia desteritorializagdoreterritorializagao representados pela classificago "Ecétonos por desterrtoralizacdes com consequéncias nas reterritoralizacées”. As Nacses <4. Arit Urban, FAUUSE Sto Pl, ¥ 27m. 51, 165420, 2020 Unidas (UNHCR, 2019) estimam que, ao longo do ano de 2018, diariamente, 37 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas areas nativas. Estes dados representa um niimera oficial de 13,8 milhoes de pessoas somente naquele ano (2018). Historicamente,rgistros de povos rfuglatos exstem ha mats de 2.500 anos Porém, term “gusto” é uilizado desde o século XVI e exteveassociado a assentamentos judeus existent na Italia, divociados da soiedade hegemonicamente crsta, De forma perl, 3 expressao remete-se a espaios sesregades, a confinamentos © a populagdes marginalizadas. Por outro lado, cabe sublinhar que a expresso “diéspora refere-se 20 deslocamento de determinado povo, a partir de uma centalidade original tradicional, de forma espontinea, incentivada ou coerctiva, em ciregdo @ novos lugares, A campreenséo desses dois vocsbulos, um que representa isolamento ("gusto") € outro que denota disperséo ("diéspra"), ajuda a entender como se formam certasclausurasétnicas ou culturas.Esses enclaves sdo expresses histricas das migracées humanas na busca por protegéo por meio de afirmarses coletvas (guetos,coldnias,baitrosétnios et). Como visto, “uma regio ou um bir (..) so espagosdefiidos por identidadese intersubjetividades pés- Jc compatihadas™. A petda destas capacidades leva & busca desesperada por novos lugares: “espacos [a seremvvidese percebidos”. As migracbes dos relugiados passam a representar um “contrepoderinsurgente” de esperanca, ‘mesmo qué inicialmente fragile claudicante (SOUZA, 2008, p.61). Porém, uma “predisposiglo para a vida social que o homem compartlha” (MUMFORD, 2008 {1982 p.3) ou inerente& etologia humana (RAFFESTIN, 2012, p.124). Afinal, quais manifestagdes nao dbvias sao identificadas na cidade que ilustram (08 controntos territoriais e resultam no surgimento dos ecstoncs urbanos? 0 objetivo mais signticativo deste trabalha é detinir a expresso e propor classificagbes tipicas de “ecdtonos urbanos” associados/referentes a situagoes exemplares e ilustrativas, ou seja, como a teoria manifesta-se na pratica, As friegdes, que t&m como ponto de partida a contiguidade de territérios ou ecossistemas, como analisado, tem caracteristicas, extensces e complexidades, diferentes em cada situacao. Par se tratarem de ecossistemas urbanos, portanto, abertos, instaveis e dindmicos, havera sempre a possibilidade de -genuinas formas de ecdtonos, Antes de serem apresentadas as propostas de classificagbes, adianta-se um pensamento de carater praticamente conclusivo, por meio da reflexao de Félix Guattari 1Na0 haverd verdadeira resposta & crise ecoldgica # nao ser em escala lanetéria © com a condico de que se opere uma autOntica revolucao politica, social e cultural reorientando os objetivos da producao de bens ‘materiais @ imateriais. Essa revolugao devera concernir, portanto, 30 so 4s relagdes de orcas visiveis om grande scala mas também aos dominios ‘moleculares de sensibitidade, de inteligéncia e de desejo. Uma fnalidade {40 trabatno social regulada de maneira univoca por uma economia de Jucro 2 por relagoes de poder sé pode, no momento, lovar a dramaticos ‘masses (...) (GUATTARI,1990, p. 9) Ps, Rev: Programa Poe-GrasAngt Urban, FAUUSE Sio Palo, 27, 516165420, 2020, pos- 1. Ec6roNos POR AGOES ANTROPICAS COM CONSEQUENCIAS EM AMBIENTES NATURAIS Em 2000, Eugene Stoermer e Paul Crutzen cunharam o termo Antrapoceno para definir 0 periodo ou a era geolégica atualmente vivida. A expressao procura sintetizar e simbolizar as transformagbes realizadas pelo ser humano no planeta. 0 rapido crescimento populacional, alem de novos materials, equipamentas, tecnalagias, procedimentas, comportamentos ete. alteraram ciclos biogeoquimicos, langaram gases de efeito estufa de forma vertiginosa, contaminaram efluentes e produziram residuos, em escala jamais presenciada. Apesar das areas reconhecidas como urbanizadas do mundo comporem niveis. dda ordem de 3% (CIESIN, 2005), algumas consequéncias expoem a distin¢ao entre “ecologia da cidade” e “ecologia na cidade”. A justaposicao de ecossistemas de caracteristicas antrépicas e naturais produz antagonismos, normalmente com maior dano (por serem irteversiveis) para as franjas dos ambientes naturais: matas, rios, mares etc. Parém, entre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentével (ODS), propostas pelas Nagdes Unidas, em 2015, ha consideragdes as condigbes ambientais do planeta, cada vez mais ameacadas: A mudianga climatica & um dos maiores desatios do nasso tempo e seus efeitos negativos minam a capacidade de todos os pafses de alcangar 0 ‘desenvolvimento sustentavel. Os aumentos na temperatura global, 0 ‘aumento do nivel do mar, a aciditicacao dos oceanes e outros impactos ‘das mudangas clinsticas estao afetando serlamente as zonas costeiras @ 10s paises castelros de balxa altitude, Inciuindo multos paises menos ‘desenvolvidos e 0s pequenos Estados insulares em desenvolvimento. A Sobrevivencia de muitas sociedades, bem como dos sistemas biotégicos do Dlaneta, esta em risco (NAGOES UNIDAS, 2015), Como agravante, de acordo com © mais recente relatério da respeitada entidade Intergovernmental Pane! on Climate Change (2019), 0 aquecimento global, 20, chegar a 1,5°C acima da temperatura média do periodo pre-industrial, poder acarretar problemas graves e extensos. Caso esse fendmeno ocrra (possivelmente, ainda nesta metade do século), significaré que os gases de efeito estufa terdo se elevado a niveis e a concentragbes demasiadamente altos, com extremos de impactos climaticos. Regides costeiras deverao ser alagades, com ameacas abruptas as cidades, plantacoes e ecossistemas naturais. Deve ser sublinhiado que treze das vinte cidades mais populosas do mundo est30 situadas em regibes costeiras (HANSON, 2009). Como exemplo especifica de ago antrépica em ambientes naturais, presta-se referencia Mata Atlantica. Um bioma composto de diversas florestas, especies f relevos que se estende por 17 estados e que compreende 7 das 9 maiores bacias hidrogréficas do Brasil. Embora o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e a Fundagao SOS Mata Atlantica (2020) tenham relatado, no periodo 2018-2019, queda recente no desmatamento, a Mata Atlantica tem preservada apenas 12,4% da sua érea original. Suas principals ameacas so a exploracao predatéria dos recursos naturais, préticas nao sustentaveis de agropecuaria, industralizagio e urbanizagao sem planejamento e consumo excessivo, lito e poluigao (FUNDAGAO SOS MATA ATLANTICA, 2018). Todos estes fatas possuem relacao direta com impactos em ecossistemas naturais , em carater sist8mico, perda da biadiversidade, aumento da temperatura global <4. Arit Urban, FAUUSE Sto Pl, ¥ 27m. 51, 165420, 2020 « local, degradago de mananciais hidricos, exposigao a doengas, principalmente, das camadas sociais mais desassistidas, dentre outras consequences. IL. Ec61oNos oR ZONEAMENTO COM CONSEQUENCIAS NA SEGREGAGAO URBANA As formas planejadas mais rigorosas de zoneamento urbano baseiam-se nos. preceitos funcionalistas defendides pela Carta de Atenas. Esse manifesto, Fedigido inicialmente por Le Corbusier e aprovado no IV° CIAM, em 1933, ddeterminava a separagao da moradia, trabalho, lazer e circulagao. A importancia do zoneamento foi marcante no século XX e ainda se faz fortemente presente nos dias atuais, com instrumentos estratégicus de segregacoes de usos, mas, sabretuda, de segregacdes socials: “O masterplan foi ‘o enfoque “criativa” e progressista da cidade, assim como o zoneamento foi o instrumento primério de sua implementagdo” (GARLAND; MASSOUMI; RUBLE, 2007, p.214) Outrossim, Meyer (1979, p.160) observou especificamente em relagao a Brasilia, inaugurada em 1960 e concebida sob os mais estritas preceitos do Uurbanismo Moderno, que “a organizacao espacial da cidade, baseada na selorizag2o, criou uma opasigao entre os espacos do poder politico e espaca ablico”. A segregacao de atividades prejudicou a diversidade e a vitalidade Urbana e acabou por acirrar distanciamentos sociais. Meyer complementa seu raciocinio, em referencia ao Plano Diretor de Brasilia: “O solo urbano: mercadoria (...) esta fora do alcance da populacdo de baixa renda, ou melhor, Ge renda insuficiente para consumir tal "mercadoria”. Para morar € necessério entao sair, o que é um contraste entre 0 que esté no interior ¢ no exterior do Plano-Piloto” (MEYER, 1979, p.161), No Plano Piloto (PP) concentram-se os extratos socials mais elevados e o poder institucional. Nas “cidades-satélites", foram alocadas as populagBes mais obres, As consequéncias das restrigbes advindas da setorizagao urbana sao ‘acitas, mas contundentes. $20 universos apartados pela setorizacao, neste caso, socioeconémica, A cidade do Rio de Janeito igualmente reproduz, ha cerca de cinco décadas, esse modelo. Em 1969, foi implantado o Plano Diretor da Barra da Tijuca, elaborado pelo urbanista Lucio Costa, mesmo autor do PP de Brasilia. Atividades privadas foram/séo previstas, ampliadas e incentivadas no interior os canjuntos de equipamentos residenciais, corporativos, comerciais ete. Houve/ha um grande distanciamento material, e, mais ainda, simb6lico do uso pablico. Os muros, cercas e equipamentos de seguranga tornaram-se a clara fronteira que aparta os universos da cidade e dos condominios residenciais, corporativos, comerciais (shopping centers) etc. Caldeita identiticou na cidade de Sao Paulo — de forma igualmente visivel em ‘muitas cidades brasileiras, - que segregacdes ou enclausuramentos 40 promovidos por meia de unidades equipadas com cémeras, cercas e muros que distanciam grupos socias: “diferentes classes sociais vivem mats prOximas umas dias outras em algumas areas, mas s80 mantidas separadas por barreiras fisicas <4. Arit Urban, FAUUSE Sto Pl, ¥ 27m. 51, 165420, 2020 pos- pos- e sistemas de identificag3o e controle” (CALDEIRA, 2003, p.255). Ha uma “nova” forma de morar que se estende ao trabalhar, comprar, circular e se divert (0s condomintos fechados sao @ versao residencial de uma categoria mats ampla de novos empreendimentes urbanos que chamo de enclaves Tartificados. Eles estao mudande consideravelmente @ maneira como as ‘pessoas das classes média e alta vivem, consomern, trabalnam e gastam ‘seu tompo de lazer. Eles estd0 mudando o panorama da cidade, sou ppadrao de segregacao espacial e 0 caréter do espaco pilblica @ das Interapoes pulbicas entre as classes. Os enclaves fortiticados incluem Cconjuntos de escritéries, shopping centers, @ cada voz mars outros lespagas que tm sido adaptados para se conformarem a esse modelo, ‘como escolas, hospitals, centros de fazer e parques tematicas (CALDEIRA, 2003, p.258), Alexander, na revista Architectural Forum, em 1965, no artigo “Uma cidade nao é uma arvore”, questionou o racionalismo modernista relativa as cidades planejadas, nas quais se encontram estruturas abstratas, contrapostas as formas mais “naturais” - construidas gradativamente pelas muitas camadas. interdisciplinares, multitemporais e multiautorais. Bettencourt (2016, p.53), em referéncia ao urbanismo modernista, em publicacao em homenagem aos 50 anos desse texto de Alexander, comentou com irania: Eu me recordo em pensar sobre 0s argumentos de Alexander em recente visita a Brasiia, Eu estava no "setor dos noteis” e tinna um compromisso no “sotor dos bancos”. Fur informado que farmacias eram encontradas apenas no “setor de farmacias" do outro lado da cidade, que por sua vez fra afstante do “setor de restaurantes”. Apesar disso, Brasilia desde sua ‘concepezo “como uma arvore” mudou muito, € mais “misturada”, pelo ‘menos em termos de pequenos negéclos e servigas e Isso é umm fato positivo: esta sendo adaptada para ser uma cldade real e se tomar menos pparocida com uma arvore. Eu fiquei feliz em me deparar com um novo ‘centro comercial proximo ao meu hotel, com estilo Americano, que (com ‘seu Jello artiicial proprio) continha grande parte das tungoes basicas sod (© mesmo toto Ha também situacoes em que a materializacao das situacées de pobreza Urbana (WRATTEN, 1995), assim como culturals, se dao por segregacbes como {guetos, favelas etc. ou, ainda, pela periferizagio dos assentamentos das camadas mais pobres da populagao, a partir da precarizacao das condigées de lemprego e de transporte ou da valorizacao especulativa do solo urbano em regides centrais (HUGHES, 2004) De acordo com 0 World Cities Report (2016), em 1990, 689 milhées de pessoas viviam em favelas em todo o mundo, Em 2000, eram 791 milhoes e, em 2014, estimava-se que 881 milhes de pessoas estavam nessa situagao, © ue representa aproximadamente 30% da populagao urbana dos paises em esenvolvimento. Isso signitica que as acentuadas diterencas sacioeconémicas refletem-se em conformacbes que possuem diferentes denominacdes, como: slums, tent cities, shanty towns, bidonvilles, baraccopoli, invasiones, cotonias, barrios populares, barriadas, villas miseria, fevelas etc. So espacos desiguais, fem relagao aos segmentos formais da cidade, com forte incempletude das politicas e agdes do Estado, principalmente, no que concerne & infraestrutura, a0s padides edilicios e normatives, a vulnerabilidade ambiental, & ameaca aos. Ps, Rev: Programa Poe-GrasAngt Urban, FAUUSE Sio Palo, 27, 516165420, 2020, direitos humanos (SOUZA E SILVA et al., 2009). A segregacao social, evidentemente, cri tensdes entre partes formais © trechos marginalizados, sujeites a diseriminagao e a0 contlite socioecanémico, além de tavorecer 0 poder paralelo, a inércia social e a desesperanca IIL. EcOTONOS POR BRUSCAS TRANSFORMAGOES URBANAS COM CONSEQUENCIAS SOCIOECONOMICAS Possivelmente, ainda por inflexive!heranga modernist, ha petsistente aificuldade em se lidar com tragos do passado, no trato da arquiteturae do urbanism. Agdes de compatibilidade social e ambiental duvidosa estabelecem- se de forma descuidada, Tecidos urbanos so esgarcados. Sob nomenclaturas como "revitalizagao urbana’, “restauracao urbana’, “regeneracéo urbana’, dentre outras expressées Vistosas, em geral, a8 ages parecem ndo aleancar suas promessas: “no processo de implementagSo, a renovagio urbana frequentemente ignora seus objetivos fundamentaise até mesmo traz problemas como a exclusdo socal, o enfraquecimento da identidade social e@ busca excessiva por luero” (YE, 2019), pés- Barbosa (2011, p.126-127), em severa critica 4s “remodelagbes urbanisticas alobais", afirma: Ha poucas surpresas na atual ressonancla das concepeoes que definem 2 ‘cidade como um mosaico de fragmentos e seu cortejo de intervencoes urbanas seletivas, orientadas para o resgato ~ pela roqualificacso dos lugares — “da meméria cultural”, dos “lagos de identidada”, a “singularidade histérica’, entim, da “vida comunitéria', elos considerados indisponsaveis para roconsituir 2 civiidada, a paz social, 0 progresso e, ‘evidentemente, atrair bons negdclos, tecnologia e empregos. Configuram- ‘se como taticas ditusas @ descontinuas que radicalizam desigualdades socioacondmicas e revolam, em sou percurso de afirmacae, 0 sou propésito nada oculto de promover o mercado global de estilos de vida, ‘serigas e Imagens. As chamadas revitalizagdes urbanas, no contexto de planejamentos estratégicos, - em programas arquitet6nicos e urbanisticos recorrentes, — em zonas portuarias, bairrs antigos, espagos de cultura espetaculosos ete, continuam, inabalavelmente, presentes nas ultimas trés ou quatro décadas, no rmelhar estilo preconizado longinquamente por Baltimore ou Boston. A questao fundamental, na referéncia particular aos ecétones urbanos, é que assentamentos antigos, singelos e populares, frequentemente fragilizam-se violentamente pela proximidade com iniciativas empresariais. Nos limites entre um universo e outro, modalidades de comércio e de servico alteram-se, formas, de transporte alinham-se com extratas sociais mais elevados ou turisticos, pardmetros urbanisticos ignoram pré-existéncias e provocam exacerbados processos de gentrificagao. Arantes (2000, p.14), ironicamente, questiona: Politicas (urbanas) de matriz identitéria podem ser estrategicamente lanejadas? Algo como calcular 0 espontdneo ou derWar a integridade ou autenticidade de uma escolha racional - para falar como os economistas 4o individualismo metodoldgico, — que implica ponderacces do tipo custo/ eneticio, qualidaderprego etc.) <4. Arit Urban, FAUUSE Sto Pl, ¥ 27m. 51, 165420, 2020

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