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Capítulo III

Transformando os dados em realidade

A prática de mostrar apenas na teoria ou em dados estatísticos problemas da educação


e fazer reflexões baseadas nos mesmos pode oferecer uma falsa conclusão da situação
educacional local. É verdade que as estatísticas e números não são formulados do nada, eles
são frutos da teorização da realidade o que muitas vezes os caracterizam como verdade
absoluta. Mas assim como o pensamento, a realidade muda a cada instante e as vezes, os
dados teóricos que são de certa forma estáticos, se distância um pouco da mesma.

Para descrever e por que não traduzir de forma visível os dados estruturais da
educação do valparaíso é necessário abandonar temporariamente a pesquisa bibliográfica e
documental adotando assim uma pesquisa mais descritiva ou visual. O que possibilita uma
aproximação maior de todos os dados e estatísticas sobre a educação municipal bem como
suas conseqüências que foram amplamente descritas no capítulo anterior.
Os objetivos específicos iniciais da pesquisa foram basicamente ilustrar os problemas
relatados e identificar novas situações que não foram sistematizadas em dados ou relatórios
analisados.

A pesquisa foi desenvolvida no Município de Valparaíso de Goiás no período de 08 a


20 de Outubro de 2006. Sua metodologia constitui-se em fotografar escolas municipais 1 dos
principais bairros de Valparaíso (Céu Azul, Valparaíso II, Valparaíso I, Morada Nobre, Jardim
Oriente e Cidade Jardins )2; a biblioteca municipal Cora Coralina e o prédio administrativo da
Secretaria Municipal de Educação (ambos localizados no bairro de Valparaíso II).
O acesso aos prédios e unidades escolares, bem como a permissão do registro
fotográfico, foi regulamentado pelo termo de autorização expedido pela secretária municipal
de educação, cultura, desporto e lazer Maria Rita Ribeiro Guedes Frazão no dia 08 de Outubro
de 2006 . Portanto, não houve nenhum tipo de resistência, intimidação ou mesmo fiscalização
por parte dos funcionários das unidades pesquisadas.

1
A pesquisa se restringiu em escola municipais porque devido ao período eleitoral em que a pesquisa se
desenvolveu as escolas estaduais precisariam convocar o conselho interno escolar para autorizar o registro
fotográfico o que não proporcionariam tempo hábil para analise dos dados recolhidos.
2
Os bairros Pacaembu e Cruzeiro do Sul foram excluídos da pesquisa por não oferecerem segurança básica para
o desenvolvimento da mesma.
Foram tiradas ao todo 671 fotografias sendo que vinte e três da Biblioteca Municipal
Cora Coralina, quinze da SME e seiscentas e trinta e três das unidades escolares. As sete
escolas pesquisadas seguiram dois critérios básicos, estarem localizadas em algum dos
principais bairros do município e ministrarem aulas na modalidade de Ensino Fundamental.
Seguindo esses critérios as escolhidas para análise foram :Escola Municipal Monteiro Lobato,
Escola Municipal Castro Alves, Escola Municipal Céu Azul, Escola Municipal Cidade
Jardins, CAIC , Escola Municipal I-B e Escola Municipal Rui Barbosa. Segue abaixo uma
tabela sobre as escolas bem como sua localização

Nome Localização Área de Total de Total de


atendimento Alunos Docentes

Esc. Mun CAIC Morada Nobre Morada Nobre e 1754 67


Céu Azul
Esc. Mun Céu Céu Azul Céu Azul 2557 65
Azul
Esc. Mun Cidade Cidade Jardins Cidade Jardins e 878 25
Jardins Todo Parque
Explanada
Esc. Mun Rui Jardim Oriente Jardim Oriente 849 18
Barbosa
Esc. Mun Castro Valparaíso II Céu Azul e Setor 660 26
Alves de Chac do
Valparaíso II
Esc. Mun Monteiro Valparaíso II Quadras finais do 546 23
Lobato Valparaíso II
Esc. Mun I - B Valparaíso I Etapa B e Setor 655 23
de Chac. Do
Valparaíso I

Fonte: Pedagógico SME e secretarias das escolas.

1.1 A má utilização interna dos prédios e unidades escolares.

Através da pesquisa é possível notar uma incapacidade de distribuição e organização


espacial tanto nas escolas como nos prédios administrativos e biblioteca.

As escolas municipais CAIC, Céu Azul, Castro Alves e Cidade Jardins; são exemplos
clássicos dessa má utilização. No CAIC as extensas áreas verdes não são arborizadas e
raramente possui uma estrutura física, e quando possui não a utiliza, o que só favorece a
transformação desses locais em grandes áreas de mato alto que serve de ponto de práticas de
atividades ilícitas para os menores como beber, fumar, usar drogas, brigas e etc. – no colégio
Castro Alves a situação não é muito diferente, apesar de não possuir área verde, possui uma
grande área cimentada que não é utilizada para o laser e nem para práticas esportivas, ou seja,
é desperdiçado um terreno grande que poderia servir tanto para ampliação do prédio escolar
(salas de aula, auditório, biblioteca) como para a área esportiva cultural (exposições, quadras
e etc.). No Céu Azul o caso é ainda mais grave pois a área verde disponível além de não ser
utilizada serve como depósito de lixo e materiais de limpeza. Em uma rápida andada no local
você encontra recipientes de materiais de limpeza, resto de comida e outros tipos de coisas
bem ao alcance dos alunos. Em semelhante situação encontra-se a escola municipal da Cidade
Jardins. Com um terreno enorme a escola ainda não utiliza grande parte do seu terreno que é
minimamente arborizado o que facilita a erosão do solo formando “barrancos” ao redor do
prédio escolar o que pode causar acidentes. A parte não utilizada só estoca lixo.

Desperdiço de terreno limpo e aterrado Imensa área sem utilização nenhuma na


na escola Castro Alves escola municipal CAIC

Esc Mun.Céu Azul,, deposito de lixo e


materiais de limpeza na área verde
Local de mato alto onde os aluno
matam aula na escola municipal CAIC
Barranco que estoca lixo na escola Grande área sem utilização na Esc munc Cidade
municipal da Cidade Jardins Jardins

E essa má utilização não se restringe a áreas verdes não! No CAIC existem várias
salas de aula desocupadas que poderiam servir de salas de pesquisa, estudo e leitura. No Céu
Azul a imensa área destinada ao estacionamento poderia servir para ampliação do prédio
escolar.

Imenso terreno desperdiçado com


Uma das várias salas desocupadas da estacionamento na Esc. Mun Céu Azul
escola CAIC

Já nos prédio administrativo da SME o problema é inverso, não é a disponibilidade de


espaço e sim a falta dele que gera problemas. O prédio possui 6 andares (só que um deles não
é ocupado pela SME) e todos os departamentos da secretaria são centralizados nele, o que
obriga uma má distribuição de divisão. Por exemplo, o departamento de apoio pedagógico ao
professor utiliza um andar inteiro por necessitar de espaço para conferências,
desenvolvimento de dinâmicas e etc., enquanto outro departamento muito importante que é o
do apoio administrativo as secretarias restringe-se a uma sala média o que o obriga a estocar
materiais relativos a departamento de forma inadequada.

Na biblioteca Cora Coralina temos o problema de ocupação espacial que afeta


diretamente os usuários que utilizam a biblioteca para estudar. A área destinada ao estudo que
deveria ser um local calmo e de silêncio é a entrada da biblioteca que por sua vez fica de
frente para a avenida comercial do Valparaíso II, ou seja, um local de barulho considerável. Já
o espaço de exposição Heitor Vila Lobos – também localizado na biblioteca, fica em uma área
isolada da mesma no segundo andar. A inversão de utilização dos dois espaços além de ajudar
no controle dos livros evitando furtos já que a área de estudo ficaria um pouco longe do
acervo (que fica no 1º andar), aumentaria o interesse da população local as exposições do
espaço já que elas estariam em um local mais acessível - no atual local de estudo.

1.2 – A falta de infra-estrutura básica

Outro ponto bastante nítido nos dados coletados pela pesquisa é ausência de uma
estrutura física básica para o desenvolvimento adequado de todas as atividades escolares
pretendidas sejam elas esportivas ou científicas ou mesmo de lazer.

Na escola Monteiro Lobato por exemplo, não possui uma área adequada para a prática
esportiva ou de lazer pelo menos proporcional ao número de alunos, sendo assim, os
professores de educação física e recreação são obrigados a disputar com os moradores a
imensa área de terra ao lado da escola ou a rua residencial, na frente da escola, e assim no
meio de entulhos e carros desenvolverem suas disciplinas. A escola Rui Barbosa não conta
com a mesma sorte da escola Monteiro Lobato. Não possui nenhuma área disponível ao redor
da escola para direcionar as atividades físicas, para isso ela apenas conta com o “campinho de
terra” que em épocas de chuva fica alagado e o minúsculo pátio da escola.

Já o problema de infra-estrutura da escola Castro Alves não se restringe a área


esportiva. O auditório está inutilizado pela ausência de um forro permanente no teto. O
temporário (normalmente de isopor ou plástico leve), a cada tempestade descola-se do teto o
que coloca a segurança dos alunos em risco. As instalações elétricas da sala dos professores
são todas expostas e as paredes mofadas o que pode causar muitos problemas de saúde.

A caixa d’água do colégio Municipal do Céu Azul está em constante vazamento e nas
janelas de aula são protegidas da claridade pela poeira acumulada, e, no caso das quebradas,
por folhas de papel pardo.

Por falta de espaço no prédio escolar os professores fazem os seus trabalhos extra
classe (elaboração de plano de aula; correção de provas; diálogos interdisciplinares;
elaboração de avaliações) em uma sala minúscula da escola municipal Cidade Jardins.

Os alunos da escola I-B também não possuem local adequado para a prática esportiva.
A escola que possui até uma piscina infantil desativada, restringe o acesso dos alunos também
à inapropriada quadra esportiva no fundo da escola.

1.3 Falta de manutenção das estruturas já existentes

O descaso pelo bem público municipal foi outro fato bastante presente na pesquisa.
Diferentemente das situações relacionadas no tópico anterior; os problemas são de estruturas
existentes mas que se encontram em situações calamitosas.

Acontecimento bastante comum foi encontrar carteiras, mesas entulhadas em algum


canto de sala das escolas. A filosofia é a de que é realmente cômodo jogar de lado o material
do que tentar restaurá-lo. E quando existe a ausência de algum material, como apagador por
exemplo, os professores e alunos improvisam formas de suprir a carência.

A situação dos bebedouros também é semelhante na maioria das escolas. Torneiras


sujas e enferrujadas e até mesmo quebradas obrigam os alunos a procurarem outras fontes
aparentemente mais higiênicas como as torneiras localizadas nas partes externas do prédio
escolar.

Mas a completa falta de manutenção possível é manifestada em dois ginásios, o do


CAIC e o da Escola Castro Alves. O último que já foi o principal ginásio do município está
em ruínas. Hoje ele é nada mais do que uma simplres quadra de futebol (as delimitações e
estruturas de outras modalidades não existem mais) cercada de estrutura de cimento que se
mistura entre arquibancadas e banheiros imundos. A cobertura é apenas um emaranhado de
ferro. O primeiro é ainda mais surpreendente. Aparentemente as estruturas estão aceitáveis,
mas ao visitar as instalações atrás da quadra esportiva, o descaso começa a ser visível. Além
do esgoto a céu aberto, o que antes era uma sala de ginástica não passa hoje de um depósito
muito bem escondido de cadeiras e mesas escolares e materiais esportivos estragados. O
banheiro (se é que podemos chamar de banheiro) está em situação deplorável. As torneiras
não funcionam, os chuveiros estão quebrados, os vasos sanitários estão entupidos de lixo.

Por incrível que pareça todos esses lugares aparentemente estão ativos pois não
possuem nenhum tipo de sinalização proibindo a entrada e são de fácil acesso para os alunos
que os utilizam para “matar” aula; fumar drogas e até praticar sexo (segundo depoimento de
alguns alunos) e prostituição.

1.4 A situação particular das bibliotecas nas escolas

Outro ponto comum nas unidades escolares é a ausência ou quase inexistência de


bibliotecas. Nos raros casos de sua existência sua estrutura é inadequada o que segue a
tendência da biblioteca municipal que por falta de estrutura aloja muitos livros no canto das
paredes sem nenhuma condição para o acesso e manutenção dos mesmos.Que é o que
acontece com a ampla biblioteca do CAIC que além de ter que estocar livros em cantos
também possui problemas de infiltração. E nos muitos casos sua inexistência se deve ao fato
da necessidade de utilizar o espaço reservado para biblioteca com outras atividades, como é o
caso da Escola Municipal Cidade Jardins e da Monteiro Lobato, que utilizam as salas das
bibliotecas. Outras escolas como a I-B não possuem nenhuma sala para esse fim e os livros
existentes na escola ficam localizados todos na sala dos professores.

1.5 A falta de segurança nos prédios e unidades escolares

Além dos problemas estruturais e administrativos exemplificados nos tópicos


anteriores, a pesquisa mostra a precariedade da segurança nas unidades analisadas. Essa
ausência pode tanto ser um reflexo dos problemas já apresentados como também um
problema de falta de recursos humanos.
As escolas de forma geral possuem um vigia para os turnos – diurno e noturno, o que
muitas vezes não é o suficiente, como no CAIC que possui uma longa área para
patrulhamento e terrenos baldios nos arredores ou na Cidade Jardins que também possui uma
área muito grande para ronda o que dificulta o controle de tráfego de pessoas pela escola.

Co se não abastasse o reduzido número de vigias (e não de guardas) para comprometer


a segurança nas unidades escolares, a precariedade dos muros (tanto no Colégio Municipal
Cidade Jardins como no Rui Barbosa) são extremamente baixos ou depredados; as condições
dos alambrados que na escola CAIC são tão inadequados que é possível entrar e sair da escola
sem passar pela guarita como se fosse uma entrada normal (aliás, a própria população utiliza a
entrada pelos alambrados para encurtar “caminhos” como se fossem vias de trânsito livre); os
extintores de incêndio que na maioria das escolas estão jogados ou na sala dos professores ou
nas “salas depósitos” enquanto deveriam estar instalados nos corredores e pátios; o livre
acesso dos alunos a áreas de alto risco de acidentes como nas áreas em construção e na de
material inflamável (nessas áreas não existe nenhum tipo de sinalização indicando perigo de
acidentes) e a depredação das guaritas; os diversos buracos abertos no meio de pátios e
quadras esportivas, desviam a atenção dos vigias que também acabam prestando os primeiros
socorros quando os acidentes acontecem.

Um controle maior acontece na SME onde na entrada é feito o controle das pessoas
que entram e saem mas apenas um vigia é responsável pela segurança. A situação mais
preocupante é da Biblioteca Cora Coralina que nas inúmeras visitas feitas a biblioteca não foi
identificado nenhum funcionário responsável pela segurança tanto dos funcionários como do
acervo de livros.

1.6 A completa ausência da comunidade nas unidades escolares

A constatação mais triste que a pesquisa proporcionou não foi por incrível que pareça a
falta de manutenção, elaboração e utilização lógica das estruturas físicas nem mas a flata de
segurança. O que realmente impressiona é o descaso da comunidade local em relação as
escolas. Além de não ajudarem as unidades escolares propondo melhorias, as comunidades
locais usam o espaço escolar principalmente como depósito de lixo.
E a sua participação não se restringe a apenas jogar lixo não. Os arredores da escola estão
sendo utilizados como ponto de vendas de drogas. A depredação dos muros e paredes são em
grande parte feita pelas gangues rivais que não possuem nenhuma relação com a comunidade
escolar. Isso é facilmente constatado pois o interior da maioria das escolas não possuem sinais
de depredação juvenil.

1.7 As soluções criativas das unidades escolares

A pesquisa apresentou dados novos principalmente no que se diz respeito a aspectos


positivos do cotidiano escola como por exemplo o fato de algumas escolas possuírem projetos
interessantes para combater a depredação e utilizar melhor seus espaços físicos.
No Caic os vários painéis localizados em lugares estratégicos ( bibliotecas, refeitórios,
área administrativa e corredores) combate a pichação. O resultado é impressionante, onde
existem os painéis não existe nenhuma marca de depredação já nos espaços vazio sim. Projeto
semelhante é o da Esc. Mun. Rui Barbosa que colocaram murais de trabalhos dos alunos em
quase todas as paredes do pátio o que extinguiu as pichações no ambiente escolar.
A escola municipal da Cidade Jardins para mudar o ambiente frio da cozinha da escola
incentiva as merendeiras criarem painéis temáticos para seu ambiente de trabalho o que torna
o ambiente mais alegre e produtivo. Na mesma escola a diretora iniciou o projeto “Copa na
Sala” que incentivou os alunos a decorarem suas salas e cuidarem delas. A copa do mundo
passou mas as mudanças parecem que vão durar. O forro do teto que é de isopor e que
costumava está cheio de gomas de mascar e papel higiênico molhado, agora dá lugar a lindos
murais e no lugar do papel pardo que ficava grudado nas janelas para diminuir a claridade
existem hoje cortinas de t.n.t .
As mudanças ou idéias não são só no âmbito material não! Na escola municipal céu Azul
o pátio coberto era o local de brigas constantes hoje é o local de atividades culturais onde foi
improvisado um palco e um alegre mural. Lá na hora do “recreio” a criançada dança, lê
histórias e etc...
Já na escola municipal Monteiro Lobato o a iniciativa foi ambiental. Os professores
sempre que possível organiza campanhas com os alunos de preservação da mata que cerca a
escola que é vítima de uma erosão descontrolada e do grande volume de lixo depositado
pelos moradores.

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