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FRENTES PARLAMENTARES E PARTIDOS DIVIDINDO O ESPAÇO

DEMOCRÁTICO
Eduardo Antonio Mello Freitas1

Palavras-chaves: Partidos políticos. Frentes Parlamentares. Espaço democrático. Ideologia.

RESUMO

Não se pode falar em democracia sem a presença de algum local onde informações, opiniões,
interesses, propostas, possam ser compartilhadas, discutidas e por que não dizer, criadas.
Quanto a esse local, pode-se dizer que ele será um espaço tanto mais democrático na medida
em que o exercício do poder representar efetivamente o posicionamento dos cidadãos daquele
local (SANTOS, 1989).

Contudo o Brasil é muito grande, é maior do que a Câmara dos Deputados, maior do que o
Congresso Nacional. Para se enxergar todo o Brasil é necessário diminuir a escala, o que se
consegue ao se afastar. Consequentemente, os detalhes são perdidos. Foi este o caminho dos
partidos políticos, que tiveram início em agremiações políticas regionais e que consideravam
mais relevantes as questões locais e os pensamentos políticos próprios das suas regiões do
que as questões nacionais (SOUZA, 2015).

O artigo 17 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) coloca como princípio a ser observado
pelos partidos o caráter nacional. A Lei nº 9.096/1995 exige dos partidos a participação em
uma parte considerável do país em um período de dois anos. Os deputados, portanto, como
representantes eleitos pelo critério da proporcionalidade em relação aos eleitores de seus
Estados, ficam entre a exigência do caráter nacional dos partidos e as questões regionais de
seus eleitores.

Outro aspecto é que o caráter nacional dos partidos não significa que todos eles terão
representantes em todos os Estados da União. Vinte e oito partidos conseguiram pelo menos
uma vaga nas eleições para deputado federal em 2014, dos quais apenas sete partidos
conseguiram um número de deputados maior do que o número de Estados. Por outro lado,
três partidos só conseguiram representante em um Estado. A questão, porém, não se limita à
representação em âmbito nacional dos partidos, mas também com respeito às questões
ideológicas dos mesmos.

Como resultado do sistema eleitoral adotado e do distanciamento das relações de poder na


arena legislativa, acerta Bonavides (2000) ao afirmar que não se deve confundir o voto nas

1
Câmara dos Deputados (eduardo.freitas@camara.leg.br).

Anais da IX Jornada de Pesquisa e Extensão – ISSN: 2317-7640


ideias com o voto nas ideologias, uma vez que, vencido o sufrágio, novas regras passam a
vigorar. Neste contexto, o mais comum é que se espere a defesa de questões ideológicas mais
por parte dos partidos de oposição ou daqueles desejosos de algum tipo de reforma
institucional. Permanece ainda a questão do reconhecimento do espaço como sendo
democrático. Um espaço em que sensível ao outro, um recurso público a ser compartilhado
(PARKINSON, 2012). O parlamento não é um espaço apenas para parlare2, mas também
para sentire3 o outro. O espaço democrático deve ser um espaço de diálogo.

O retorno à defesa das ideias vai além dos partidos e é neste sentido que entram as frentes
parlamentares no espaço democrático. De fato, a força de uma frente parlamentar se fez sentir
nos anos 60, quando foram criadas a Frente Parlamentar Nacionalista (FPN) e a Ação
Democrática Parlamentar (ADP). Nesse momento, o sistema partidário girava em torno das
articulações do PSD (RIBEIRO, 2016), considerado pouco centralizado e não homogêneo
em questões ideológicas (DELGADO, 2003), até que o PTB se tornou majoritário na
formação da FPN (DELGADO, 1989).

As frentes parlamentares podem estar associadas à sociedade civil, tal como ocorreu no
plebiscito que definiu a forma e o sistema de governo (BRASIL, 1993). O Ato da Mesa da
Câmara dos Deputados nº 69 de 2005 (BRASIL, 2005) reconhece as frentes parlamentares
como associações suprapartidárias formadas por parlamentares. As Frentes Parlamentares
poderão, inclusive, requerer a utilização de espaço físico da Câmara dos Deputados para a
realização de reunião.

O objetivo desta investigação é o de verificar a atual influência político-ideológica das frentes


parlamentares nas decisões da Câmara dos Deputados e acordos ou disputas no espaço
democrático.

A metodologia de pesquisa partiu da exploração e análise de dados disponíveis nos sistemas


legislativos da Câmara dos Deputados. Os procedimentos incluem técnicas de coleta e de
tratamento estatístico de dados a partir dos seguintes passos: (1) coleta da composição das
frentes parlamentares e dos partidos dentro de uma mesma legislatura e análise das relações
entre os partidos e frentes parlamentares; (2) coleta da composição das comissões temáticas
permanentes e das proposições que por elas passaram a fim de verificar a proximidade das
frentes parlamentares com os temas e assuntos tratados.

A Figura 1 mostra o resultado da análise, em duas dimensões, das proximidades entre os


partidos levando-se em conta a participação dos deputados nas frentes parlamentares. A partir
dos mesmos dados foram geradas tabelas e gráficos com o grau de participação, as
similaridades. Foram selecionadas algumas frentes para a análise dos temas. Exemplos do
apoio à aprovação da proposição correlacionados com a proximidade político-ideológica
dentro do tema, a despeito da relação de oposição entre partidos, foram encontrados.

2
Falar, em italiano.
3
Ouvir, em italiano.

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Recomenda-se a melhoria da classificação dos diferentes tipos de comissões especiais (hoje
colocados em um mesmo código) a fim de dar clareza na abertura de dados e viabilizar a
ampliação da pesquisa para as comissões especiais criadas para dar parecer a matéria de mais
de três comissões permanentes.
Figura 1 - Proximidade partidos x frentes.

Fonte: elaboração própria.

REFERÊNCIAS
BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 10. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2000.
BRASIL. Lei nº 9.096, de 19 de setembro de 1995. Dispõe sobre partidos políticos,
regulamenta os artigos 17 e 14, § 3º, inciso V, da Constituição Federal. Diário Oficial da
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______. Lei nº 8.624, de 4 de fevereiro de 1993. Dispõe sobre o plebiscito que definirá a
forma e o sistema de governo e regulamenta o art. 2º do Ato das Disposições Constitucionais
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Brasília: Edições Câmara, 2015.
______. Câmara dos Deputados. Regimento interno da Câmara dos Deputados: aprovado
pela Resolução nº 17, de 1989, e alterado até a Resolução nº 20, de 2016. 18. ed. Brasília:
Edições Câmara, 2017.
______. Constituição (1998). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível
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RIBEIRO, Guilherme Leite. As Frentes Parlamentares no contexto político dos anos 1960:
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