Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A Lei Da Gravidade Não Rege o Voo Dos Anjos 1
A Lei Da Gravidade Não Rege o Voo Dos Anjos 1
Os Cantos
I
II
Pão
a Ora Goldfriend
III
Entre a vertigem do ar
e a abdicação completa das asas
nossos pássaros roubam-se indecisos
perante a miragem do voo
e a conquista silenciosa do ar
subvertendo rápido a estreita condição
de serem também belas feras emplumadas.
IV
A urgência do circo
impede que saibamos o script de antemão.
Além disso é necessário levantar a lona,
dispor cadeiras, preparar o sorriso do palhaço
e compreender também que nem sempre é tempo de aplausos
mesmo porque os papéis são muitos e faltam atores nessa troupe.
É então
que o domador de feras
vê-se equilibrista, mágico e acrobata
e a velocidade inadiável do espetáculo
exige sempre o melhor de seu desempenho.
VI
O Itinerário de Ariel
Sobretudo
o mar quer que se continue assim:
Eleitos do naufrágio
fomos nós, os poucos sobreviventes,
dar à Praia da Conquista.
Era a vida.
E nós, quase abissais
contemplamos então nos olhos uns dos outros
o mesmo ar que se respira em conjunto
quando somos
nada mais
que réus absolutos do mesmo sono.
VII
VIII
IX
Rerum Natura
a William Blake
I
II
A verdejar na floresta
um pássaro branco pousado
ouviu o final da canção
e quis da terra saber
qual o segredo do voo.
III
Quanto à montanha,
se esquecesse a metafísica
de sua imponente altura
sentiria que em seu íntimo
há uma cidade soterrada
e um mapa claustrofóbico e imóvel
está impresso em camadas geológicas
mais reais, embora inertes,
que sua pretensa solidão
Volto a dormir, antes que para vocês
o infortúnio,
faça de mim
um vulcão!
X
A Mandala e o Vitral
a Jalaluddin Rumi
Busquei a métrica de cada cor
para enjaular o sol através dos vidros
no piso gelado da minha catedral sem teto
Tarde da noite
o céu era uma realidade entrevista
pelas paredes nuas
e a lua infiltrava-se em brilhos azulados
cumprindo sua trajetória de sol noturno
em zodíaco de pedra
Encontrei
num rastro de luz que alcancei fugaz
estilhaços vermelhos e amarelos
que aos cacos
descreviam histórias, ilíadas,
apontando o círculo das direções
em minhas janelas entreabertas
e me vi também ali
escrevendo este poema para os deuses
de frente para a eternidade
nu e destemido
livre, numa oração sem palavras
de mãos postas e braços abertos:
anjo sem tempo
XI
Preparação para Fênix
XII
Voo
XIII
Noto
Tento falar dos ventos e são minhas tempestades o que trago à risca,
bebo labaredas enquanto um traço de velocidade
me impede torto que eu veja a pista.
Saio cedo enquanto ainda há estrelas
e cozinho para a cidade fria, embora minha fome maior
fosse envenenar o mundo em alcaloides.
Alfa
Visão
Raga
Beijamos o céu
enquanto nossas bocas ainda cantam
o arado entre dentes da última colheita
e o trigo amarga lêvedo seu futuro de pão entre as estrelas.
Adônis me conduzia
e, buscador ingênuo, cheguei enfim
à Fonte dos Desejos
e pedi meu antigo rosto.
Epithalamium
A vida que passa pode ter um encanto oculto por trás da cena,
das notícias do mundo ao barulho dos vizinhos
dos freios dos automóveis a uma criança que chora sabe-se lá onde.
Esfinge
Ômega
Carrossel
Brilho pelo silêncio de futuros dias que virão.
Varanasi
Um chamado me atende
e incomodado pela ausência
sou obrigado a voltar à eterna Varanasi.
Lex Dei
Trégua
Eclipse
Um traço do mistério
reside no fato de que no caleidoscópio
as cores repetem o mesmo sentido em outra escala.
A Geografia do Agora
Gazal
Exílio
Raga
Emaús
Outros perguntarão:
- De quem são essas marcas que algumas vezes se mesclam
e parecem ser apenas uma?
Como dois versos rimando ao longo da estrada
dizem que vão para dentro,
vindos de uma jornada ao longo do dia.
Enquanto isso a lua amarela
beija o lago frio da madrugada
e deles, não se sabe quem vai ou quem fica.
Autorretrato
Não sei o que isso pôde dizer à sua noite de febre duvidada;
há males que vem para o bem:
Os danos do ultimo Dilúvio
Lavaram a urina dos muros
Ciranda Muiraquitã
a João Guimarães Rosa
Era uma vez uma concha que abrigava em seu íntimo calcário
toda a imensidão do oceano em noites de estrelas.
E os navegantes incautos que tocaram sua superfície branca
ouviram as histórias de ondas e mares distantes
que sua voz de tímpano contava
sobre marinheiros de ébano curtidos a sol e sal
em sua bravura de beleza embriagada.
Jerusalém
2007
Cadernos de Viagem
Recurso
A ferro e fogo
tenho impresso pegadas
e farejado pistas por onde passo
Risos de soslaio...
Emblema
Teorema
No Paraíso ao lado
um Buda sorri quieto
de todas essas histórias
(segredo vivido de não se contar)
16.03.08
Histórias contadas
Romance
a Ora Goldfriend
Em uníssono
fizemos do nosso sonho o próprio baile
e da noite que corria solta
o universo que simplesmente brincava ao nosso redor
sem o peso das catracas,
sem a gravidade das sombras
30.04.11
Termo
Faltam-me os verbos
e o registro dos sonhos conjugados.
Boneca Russa
Brinquedo de Corda
Coração de brinquedo
há tempos ouvi falar dos temporais
e não quis trazer os raios
às cordas dadas por descuido
- metáforas soltas num playground
Lullaby
Sair da hipnose de si
como quem antevisse os espaços
e dispensasse a hora extra no escuro
Dei duro
só pra poder usar batom depois
Os Desertos
Wadi Rum
a Leonardo Mesquita
Qual combustível?
Gênio de todo vapor ruminante...
...Ser argonauta e ainda poder ser nada...
Puzzle
Os verbos se calam
perante a visão do vale e de seus verdes,
diante da amplitude e silêncio
de cada pequena flor que surge quando amanhece.
É uma pena
que o animal transborde os limites da arena
para depois se instalar crescente
em meio à massa dos meus dinossauros
e querer ditar as regras a esta criança
que de tudo sorri
soberana, invisível, divinamente indomável.
Charada
Poente
Convencer-se disto
é este pedaço de régua a que chamamos vida.
Mahamudra
Aqui, dois pássaros pousaram
E o voo
o ruflar de asas
17.07.13
II
Dharmakaya
17.07.13
Puzzle
Incendiaria palavras
para que elas queimassem fundo
seu coração de poeta adormecido
no calor blindado de mil sóis
brilhando limites de um único entardecer .
Os verbos calam
a visão do vale e seus verdes,
diante da amplitude e silêncio
de cada pequena flor que surge quando amanhece.
Nada permanece.
O verso é um brinquedo
Ramadã
Então deixei.
Não pensei mais em medidas
e rasguei todos os calendários
para ficar só com os finais de semana
no quintal da minha Vó Maria
onde fui príncipe, cowboy e índio:
enciclopédia de sonhos soltos num playground.
Tempos depois
quando só sabia contar nos dedos
e tomar um avião era nada mais que brincar de amarelinha,
entre um céu de giz e um inferno de fim de tarde
vi que a vida era pular para dentro da primeira chance
feito um saci de primeira viagem
tentando se esconder de coisa alguma.
Umbílico
Porém,
reconstruirei pedra sobre pedra,
juntarei uivando todos os meus cacos
denunciando que a tal queda
era apenas ficar distraído
encostado no batente
deixando passar o tempo,
passando a vida a limpo, de rastros
me carimbando torto pelo chão
a chamar os cães plantonistas para decifrar o enigma.
Absurdo!
Permitem jardins
ao redor das indústrias e automóveis.
1985
Perdido
Porto
Sonâmbulos
eles apenas dissolvem-se.
Eu abraço o Oceano
assim como abraço os desertos
e as estrelas em noites sem lua.
Faço o possível
para cumprir o impossível do tempo:
Cada momento é prova do imediato,
cada voo rasante o universo num piscar de olhos.
Saio da penumbra
e já vislumbro o farol com o qual sonhei.
Os instrumentos emudeceram
perante a estranha coincidência
entre os pássaros da floresta
e os ventos das montanhas quando se calaram.
Um amor deserto
que restabelecesse a música dos ventos
aos sopranos pelas encostas e penhascos
onde só as águias alcançassem,
da mesma matéria-prima que constrói pirâmides, esfinges
e sentimentos desregrados.
A rosa púrpura
Paisagens efêmeras
e contos mal estabelecidos
aprendidos de não sei quem.
Hinos ao Sol
a Arthur Rimbaud
Oráculo
20.08.13
Os deuses vêm
a MLML
Só um dedo de tempo
e um beijo atirado ao longe
para decifrar os selos árabes
que continuam para além daquela eternidade anunciada
e que ainda não era eterna,
mas apenas um limite e um conceito acreditados
para que no fundo do tacho só restasse uma pergunta:
Quem sou eu quando sou?
Dardos
a Maria Lucia Merola
Então sua flecha de anjo dourado que me atravessa sem fazer ruídos
divide meu coração em lucidez e só-luz.
Sem reservas entrego meu peito aberto de guerreiro
latejando farto um ritmo já em turbinas,
mas no todo sendo o silêncio
do anjo sem nome quando abençoou Jacó depois da luta.
Finda fábula.
31.08.13
Demiurgo
a Maria Lucia Merola
Ato falho.
Fosse um pássaro
voltaria aqui todos os dias
cantar indefeso esse jardim
enquanto meu voo não partisse.
Fosse aedo
inventaria mil cordéis em odisseias
sem precisão alguma de viola nessa roda
só pra ser dono do repente à minha volta
e recriar a rosa que lavrei em seus cabelos
num pretexto para a próxima primavera.
Para a Via Láctea as estações são nada mais que uma célula,
sequer um átomo.
Romãs
a Maria Lucia Merola
E em questão de segundos,
impávida sem fim,
a segunda romã me perguntou sobre a terceira,
não mais presente.
16.09.13
Equinócio
a MLML
ΓΝΩΘΙ ΣΕΑΥΤΟΝ
(Pórtico do Oráculo de Delfos)
a MLML
03.10.13
Diâmetros
a MLML
Outra vez, antes de amanhecer
recolhi na toalha de mesa esquecida ao relento
a fria claridade bordada no tecido das constelações
que luziam cúmplices o cobalto da galáxia o tempo todo
enquanto eu dormia.
Fria claridade.
25.10.13
Kailash
...Indus...
...Sutlej...
...Brahmaputra...
Nosso desejo maior de nutrir o mundo em alcaloides
é fazer da luz espessa do termômetro, uma neblina
para arrefecer qualquer temperatura
que porventura ainda não tivermos decifrado
apenas para afastar as miragens da febre que encanta
mas não sacia sede alguma.
Ilusão sôfrega...
...Karnali...
Mouraria
a Magali Merola
28.12.13
Alfama
a Magali Merola
Epifanias...
Fado de Lisboa
a Magali Merola
“Vivo. De quê?
Nem infância ou futuro decrescem.
Numerosas e múltiplas existências
transbordam de meu coração.”
Rilke
Homem insone perante a lição das flores,
sinto-me pequeno diante delas
mas trago inteiro teu jardim por dentro.
Tudo conspira
além das cordas
e do bojo sonâmbulo da guitarra
a cantar navios
além do Bojador.
19.01.14
Cinderela
Um corisco de meteoros
atravessa a densa neblina habitada dos últimos invernos.
Quem determina?
Eu acordo do Livro.
Tudo ao mesmo tempo agora.
Finda fábula!
O Marinheiro
Sina de Argonauta?
Na alegoria da ponte
para ir de uma margem à outra
é preciso viver a trajetória passo a passo.
Não há sequer como medir os abismos das entrelinhas
ou olhar para trás e marcar um retorno,
tal é o arado resfolegante da vida!
16.02.14
A Abelha e a Cigarra
Meu sangue é meu preço. Veias que saltam o garrote que tortura.
Pavio aceso
canto conjugado em explosão de mil versos
perante um exército cego de formigas dos meus medos.
Ein Karem 16.02.14
Manhã de Carnaval
Puro delírio...
No milagre
da multiplicação
os deuses trazem a fome com o pão embaixo do braço.
Lastro
(Sobre o mudo vasto do mundo)
Nada...
É possível ser flor nesta existência,
ter a consciência febril dos perfumes,
a qualidade quente e úmida da floresta
e a aceitação de cada nova estação surgindo intensa.
II
Ao mesmo tempo,
começaram a sussurrar entre paredes
sobre a possível loucura do príncipe,
que mesmo quando cercado por toda a corte,
sentava-se em seu trono olhando na transparência do teto
o avesso dos tapetes com o deleite solar de quem adivinhasse estrelas.
III
Os pisos do palácio
jamais foram revestidos.
Arpeggio
a Fabio Crescimano
Linguagem.
Sempre
o canto dos pássaros
durante todo o dia
evoca um cantar
num tom mais alto
em voos rasantes,
sons de abismos
e mais distante constelação.
Aerodinâmica nervosa:
precisa como trajetória de bumerangue
voltando sempre ao mesmo destino
por conhecer o truque das curvas.
Certeza de haver pássaros
mesmo sem vê-los:
a experiência de ouvir
comove visões em asas soltas.
Tudo asas.
Dharamsala
Ladakh
Cante!
Segredos são música sem palavras,
gosto marinho que atinge a pineal
antes que lábios beijem úmidos
os ouvidos dos ventos num crepúsculo sem medo.
Cante!
Lição de Aquarela
Resta-nos o padrão
de consultar sua intensidade
através da projeção dos nossos corpos
em forma de sombra,
o que também é um testemunho da luz
vinda do alto.
Hélices
a Alaa Awad
Hoje eu cantaria para você
uma canção que falasse dos abismos
que escondem universos insondáveis
entre oceanos que nos separam
e ao mesmo tempo nos congregam,
réus impunes do mesmo ar rarefeito
que embriaga e alucina tempestades à risca.
Emaranhado de estrelas
o ninho morno da Poesia cria, irreparável
essa linguagem muda de estátuas
que não precisa justificar o belo
a não ser pela arrebatada presença das pedras
que um dia foram talhadas
independente dos mapas que nos circundam
e dos limites que aparentemente nos impõem
as longitudes do que sempre está perto...
A grandeza é a mesma.
As impressões talvez mais retumbantes.
Mas a alma que está ali tem a mesma quietude
ampliada em 360 graus sublimes
de decolagens e chão.
Hélices...
Em terras aborígenes
não se afiam bumerangues.
Lavra
Matita Perê
Vertigem.
Aqui
a perspectiva da floresta dispensa telescópios
porque se agasalha sob o teto da noite negra
onde não há sombra de hierarquia entre os bichos
e um reflexo de lua é só mais um corpo celeste
refletido no lago onde as rãs cantam modestamente
num mesmo uníssono sem precisão de maestros.
O Leão de Dentro
a Radha Vasumathi
Só o tutano do espírito
capaz de vibrar seu princípio a cada instante
compreende...
Big Ben
Big Bang
Tanto faz!
Intermezzo:
Ela cantou:
O tempo não volta: enlaça!
Intraduzíveis sentinelas
da grandeza do espírito
que não conhece tempo, espaço, vida ou morte
os livros sagrados são cantados,
na busca da irreproduzível linguagem do eterno.
Ariadnes em prelúdios,
intercedam fios nessas meadas de presságios,
contos de fada à guisa de faróis,
e deuses que nos mantenham neste mesmo porto
de nenhuma conclusão,
onde o pensar em qualquer partida
já é em si mesmo uma conquista
e o tratar de ser luz, seu único parâmetro.
Tablacadabra
Ecossistema
Depois
assustado por algum ruído
voou para flores mais próximas
...E a gata
atacou em golpes de trapézios
sem alçar zás de passarinhos!
Ciranda
As alcachofras fosforescentes
assistiram tudo isso junto ao entardecer
pelos muros do hospício
Viver as palavras como enigmas
decifrando a vida em parábolas sem fim
sempre por ser contada, sem desfechos ou prelúdios
sem amarrar conclusões que não condizem,
apenas reticências que jamais prescrevem...
Os Mapas do Destino
Percurso
Há muito tempo
trouxe um fardo que a poeira foi comendo pela estrada
sem deixar rastros, cúmplice e companheiro do vento
que apagou todos os vestígios sem deixar endereços ou mapas.
Já faz tempo.
que as bússolas foram atravessadas
e os astrolábios beijados em diários de viagem
borrados de batom quando faltavam palavras
Índex
Silêncio.
Cortinas
Ela existe.
De Profundis
Aeon
a MLML
O laboratório às escuras
não adivinha os efeitos da vida ao ar livre.
Martelos, definitivamente,
não abrirão picada mato adentro.
Tudo é um fio colorido no espaço pela ilusão de tempo.
Resta-nos a obrigação de sermos grandes
apesar do limite de carne e sangue.
Ergue-nos a precisão de mais um sorriso a estender
nossa capacidade elástica além das medidas,
rugas e intempéries em rosto resignado
frente à impiedade dos calendários.
Persisto.
Berimbau
a Naná Vasconcelos
Seus búzios...
encantos de chuva regendo num flash
o ritmo aceso de trovões e raios
partindo céus e seus abismos
Destino
A telepatia
inimiga dos poetas
entende depressa ao deus-dará
que na beira do mar
à revelia
Escravos de Jó
jogavam caxangá
9.03.16
Dorso
Mosaicos de ouro
na luz do sol percorrendo a casa vazia e suas paredes:
relógios outros que os cantos e rodapés não acompanham.
mosto
malte
restilo
a transparência estática das garrafas
não conhece o decantar dos campos de colheita:
imolação e glória no Valhala
Ad astra
Um véu
dissimula a linha horizontal do tempo
da linha vertical:
membrana que envolve a densa camada de neblina
que perpassa audiência e trapezistas:
vida em estado de urgência
no circo sempre por começar.
Catracas
Intermezzo:
Entreatos
Efígie
Petardos
As portas da eternidade
permanecerão abertas o tempo todo.
Somos aqueles que negam a travessia de seu umbral
por sua fantástica e evidente proximidade,
muito maior e mais íntima que nossos próprios umbigos.
Mediterraneios
Num mar metálico
o sol era um reflexo entre cobres e pratas
quando se punha:
vertigem de quem pôde ler seu tempo
pela clara referência do horizonte
em espelho de ritmos escatológicos.
Alaranjado
ele hesitou seu mergulho
panorâmico e complementar
como um pecado insondável
até tocar sua garganta de fogo
na superfície da linha
e incontestável, beber o mar inteiro
que vencido
escureceu então por entre as brumas.
As maiores decolagens
hibernam um plano divino:
escondem seu jugo
num harém de sonhos mirabolantes
em patíbulos.
Mirobálano
As montanhas do espírito
independentemente se organizam
para me contar os segredos
da luz de todas as manhãs.
Sem mapas...
Misterioso
Astrolábios
O trem de viver
Prossigamos!
Enquanto algo hiberna e decanta
muito se sedimenta.
Canção de Guerra
Sem outros mapas que não abismos de estrelas para onde voltar.
Eu me atrevo
mas traço planos frágeis em barcos de papel
enquanto meus piratas cometem pesadelos em pilhagens
contra meus sonhos que nunca dormem e jamais naufragam.
Ciranda
Ao final, mar e céu nada mais são que uma mesma e intrínseca verdade.
Não há outro mar que não abismos de estrelas.
Tudo está muito perto. Nosso binóculo ao contrário
é que insiste em ver a paisagem na contramão.
Meadas
Em sentido inverso
Ariadne mapeou os atalhos
para a saída do labirinto
e chegou nua à câmara do Minotauro
seguida por Teseu.
Pouco importa.
O céu, ainda que por uma única vez
foi a expressão fugaz de nossa substância!
O Coração do Sol
Axis Mundi
a Jean Rondeau
Pólen
Em seguida,
voou colorido por alguns dias
em sua coroa de coragem,
feito uma flor que se decidisse em movimento,
cobrindo assim todo um céu de abismos
em beijos e perfumes.
Alfanje
a Ahmed Diab
Em sua gênese,
sulcos revolvidos, marcas e veios
formados ao longo do tempo
que o húmus guardou em véus
de Perséfone, por segredos de abismo
num caminho de conquista da paisagem.
Dos vincos talhados
que curso e fado do arado mapearam
em rastro de encantos,
sementes germinaram.
E na pista
desse itinerário percorrido
Deméter foi coroada em Elêusis.
a Thomas Dunford
Mandrágora
Babel que traz nas entrelinhas seus próprios dicionários,
enviesada, a vida vai folheando e traduzindo seus avessos
no filme imaginário entre espaço e tempo.
Sol
a Ahmed Diab
Julho 2018
Tarab
A dor jamais adianta seu tempo de ferida
pelo consolo imediato da cicatriz.
Qibla
Só por risco,
rir para cima
como nas embalagens:
Cuidado:Vidros
A Mandala de Cinzas
Em contagem regressiva
também os foguetes são lançados
para além da gravidade
como se a areia fosse uma experiência imperceptível,
independente da posição
em que a ampulheta do acaso estiver.
Num palco inafiançável por marionetes invisíveis
a vida, urgente coreografia
deverá ser irremediavelmente dançada
mesmo que jamais compreendida de antemão:
Impreterível esgrima sem máscaras.
Pérolas e Sementes
Um sol cria sua ferida de luz entre o coração e as retinas
e uma clara chama incinera sonhos desfazendo-se com eles.
Prana
Plânctons
Após explosões inevitáveis,
junto os mosaicos em estilhaços pelos corredores.
Há sempre um vitral para ser atravessado pelo sol.
À Terra
Taranto
A Amyr Klink
A Reinvenção do Olhar
Mandrake
Reza
Farruca
Se persisto
é porque no íntimo meu lema é tempestades à risca,
cumpridas em meio ao calor da paisagem
e da gravidade que nenhum astronauta ousa ignorar.
Soa o alarme!
Legato
A Voz da Floresta
Birutas
Manhã
De viola em viola
Aletrist tanto fez
que acabou tirando Jimi Hendrix de ouvido.
Calam-se os astrônomos
perante o insubstancial Nada
de sabor único, indelével,
pervasivo e espontaneamente presente.
A Pérola Negra
Enquanto isso
o sol que brilha sobre o movimento das águas
cria serpentes móveis de luz nas areias