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Os Dervixes Numa Noite de Setembro
Os Dervixes Numa Noite de Setembro
21 Setembro
A vista do mar no alto de Haifa é maravilhosa. Ver todos aqueles navios dispersos,
diferente da perspectiva que tenho em Akko, onde todos parecem alinhados numa
mesma rota, mais a grandeza incomparável da paisagem com o porto de embarcações
gigantes em primeiro plano e Akko brilhando ao fundo numa visão de areias e
neblinas…
E depois ir até a cidade baixa num sushi, um verdadeiro descalabro, onde o bairro
árabe esconde uma vida de tráfico e crimes favorecidos pela proximidade do porto foi
visitar o inferno bem mobiliado depois da redenção do céu em altitudes. Haifa é uma
montanha de contrastes! Incrível estar no litoral e não ter um único restaurante de
sushi que preste! Uma mentirada! Em Akko não há, claro! A população não tem
poder aquisitivo para isso! E pior de tudo é que os israelenses se metem a fazer as
coisas com ares de quem manja todas. Grandes mascarados.
Exames feitos, minha consulta com o urologista ficou marcada para início de
novembro! Mas sinto o organismo recuperado e a covid desconvidada.
Gostaria de falar mais da biografia de Fernandinho mas quero ouvir suas impressões
a respeito, ou esperar que você leia para poder dizer algo sem dar spoiler.
Mas entendi finalmente a visão Pessoana do Quinto Império e a compreensão do
autor a respeito. Isso sempre me intrigou. Mas é indubitável a importância de
Fernando Pessoa no sentido de despertar a atenção do mundo para a literatura
portuguesa. A gente consegue vislumbrar isso hoje pela reação das pessoas.
Porém discordo redondamente com o biógrafo quando atribui o crescimento da
espiritualidade na poesia de Fernando Pessoa como conectado principalmente à visita
do mago inglês. De jeito algum!
Percebi que Richard Zennith contesta um pouco a biografia escrita por João Gaspar
Simões. Há de se entender, antes de mais nada, o contexto em que foi elaborada. Era
outra época, muito do que hoje é usual ou normal não era em 1950, quando a
biografia foi lançada, quinze anos após a morte de FP, o que já considero um avanço
inteligente e sagaz. João Gaspar Simões era um homem do seu tempo, não era
Fernando Pessoa, assim, não poderia compor uma obra genial nem mesmo ao tratar
de um gênio. Fernando Pessoa foi genial até mesmo naquilo que nunca escreveu. É
estrela de primeira grandeza! Só o Universo pode entender a unidade do plural!
Para mim, a leitura desse livro, feita em longas e consecutivas tardes depois do
colégio na Biblioteca Mário de Andrade em São Paulo, abriu um emaranhado de
vislumbres da vida do nosso amado poeta mas não saldou muitas portas que
entreabriu. Talvez eu também nem tivesse maturidade para entender tanta gira. O que
podia um rapaz alegrinho de 16 pra 17 anos, começando a se deslumbrar com a vida e
os amores, realmente abocanhar daquilo tudo? Para mim foi essencial e me deu a
visão de um contexto geral do enigma.
Algo que gostaria de ressaltar foi a impressão que resultou do nome da editora que FP
abriu num certo momento. Ela era grafada Ibis, sem acento. Seria então a forma
inglesa do nome. I bis. O eu duplo. Não sei se essa era a intenção de FP. É dedução
minha. Mas é interessante constatar, não?
Senti muita falta de informações sobre Adolfo Casais Monteiro. Queria que mais
sobre ele fosse escrito. O epílogo nem o menciona. Uma pena! Mas talvez fosse
karma do professor Casais Monteiro, o de permanecer sempre esquivo.
Pensei esses dias que um bom período para ir ao Brasil seria no outono, entre maio e
junho. É sua estação preferida do ano e da qual também gosto muito. O que acha,
Mará? Vou enviar esse e-mail assim mesmo, sem muito polimento. Apenas para
atualizar nossa correspondência. Todo meu Amor. Sempre. No Dharma. C.