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Contrato de Leasing

➮ Conceito
Entende-se por arrendamento mercantil ou leasing o contrato segundo o qual uma pessoa
jurídica arrenda a uma pessoa física ou jurídica, por tempo determinado, um bem comprado
pela primeira de acordo com as indicações da segunda, cabendo ao arrendatário a opção de
adquirir o bem arrendado findo o contrato, mediante um preço residual previamente fixado.

Na definição doutrinária, arrendamento mercantil é a locação caracterizada pela faculdade


conferida ao locatário de, ao seu término, optar pela compra do bem locado.

➮ Dispositivos legais
O leasing é regulado, no Brasil, pela Lei nº 6.099, de 1974 (alterada pela Lei nº 7.132/83).

Art. 1º, p. único, Lei 6.099/74


Considera-se arrendamento mercantil, para os efeitos desta Lei, o negócio jurídico realizado
entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade
de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora,
segundo especificações da arrendatária e para uso próprio desta.

➮ Quem exerce o leasing?

As operações de leasing somente podem ser exercidas tendo como arrendadora sociedade de
arrendamento mercantil ou instituição financeira, devidamente autorizada pelo Banco Central
do Brasil.

A Sociedade de Arrendamento Mercantil (SAM) realiza arrendamento de bens móveis e


imóveis adquiridos por ela, segundo as especificações da arrendatária (cliente), para fins de
uso próprio desta.

Embora sejam fiscalizadas pelo Banco Central do Brasil e realizem operações com
características de um financiamento, as sociedades de arrecadamento mercantil não são
consideradas instituições financeiras, mas sim entidades equiparadas a instituições
financeiras.

➮ Como ocorre o leasing?

a) o arrendatário indica à arrendadora um bem que deverá ser por essa adquirido;
b) uma vez adquirido o bem, a sua proprietária arrenda-o à pessoa que pediu a aquisição;

c) findo o prazo do arrendamento, o arrendatário tem a opção de adquirir o bem, por um


preço menor do que o de sua aquisição primitiva. Caso não deseje comprar o bem, o
arrendatário poderá devolvê-lo ao arrendador ou prorrogar o contrato, mediante o pagamento
de alugueres muito menores do que o do primeiro arrendamento.

➮ Modalidades

I) Leasing financeiro (leasing puro)

No leasing puro há, assim, uma operação de financiamento por parte da empresa arrendadora.

Nesta modalidade de leasing, o prazo mínimo é de 24 meses. No fim do contrato, o bem pode
ser adquirido por um valor previamente definido com o arrendatário, o que é chamado de
valor residual.

Nesse tipo de operação, cabe ao arrendatário fazer a manutenção do bem que ficou em sua
posse.

O valor da compra, assim como o VRG (valor residual garantido), são pactuados no início do
contrato.

O arrendatário deverá realizar o total dos pagamentos, incluindo VRG, deverá garantir à
arrendadora o retorno financeiro da aplicação, incluindo juros sobre o recurso empregado
para a aquisição do bem.

Concepção clássica dessa espécie contratual, na qual uma instituição financeira arrendadora
adquire um bem e, posteriormente, cede o seu uso temporário ao arrendatário mediante o
pagamento de determinada quantia a título de aluguel, facultando-se, ao final do prazo
pactuado, a opção entre renovação da avença, a aquisição do bem pelo arrendatário ou sua
devolução à arrendadora.

II) Leasing operacional

O prazo mínimo é de 90 dias. O fim do contrato também prevê que o arrendatário faça a
compra do bem. Porém, há uma diferença importante nessa operação. No lugar do residual, o
valor a ser pago é o de mercado.

No leasing financeiro, a responsabilidade é só do arrendatário. Já no leasing operacional, isso


dependerá do acordo feito entre as partes, isto é, do que for estipulado em contrato (pode ser
tanto o arrendatário quanto a arrendadora).
O somatório de todos os pagamentos devidos no contrato não poderá exceder 90% do valor
do bem arrendado.

No leasing operacional, a seu turno, o bem já integra o patrimônio da arrendadora, a qual o


transfere onerosamente a terceiros com a exigência de contraprestação pelo uso da coisa e
pela prestação de serviços específicos manutenção e conservação.

III) Lease-back (leasing de retorno)

É uma modalidade leasing específica utilizada por empresas com a finalidade de captar
recursos financeiros e posteriormente, readquirir o bem objeto do contrato de leasing.

Pelo contrato de lease back, uma empresa, precisando de dinheiro, vende o próprio imóvel
em que opera a uma arrendadora e firma com esta um contrato de leasing. Assim, recebe o
valor da venda do imóvel, permanece nele mediante o contrato de leasing e ao final tem a
opção de readquirir o bem.

Por fim, no lease-back, uma sociedade empresária aliena determinado bem à arrendadora que,
posteriormente, cede a coisa de volta em arrendamento mercantil à alienante, mecanismo
normalmente utilizado para incrementar o capital de giro da arrendatária.

IV) Leasing imobiliário

É modalidade de leasing pela qual o arrendador, a pedido do arrendatário, compra um terreno


e nele constrói um imóvel, alugando-o para o arrendatário com a opção de compra ao final.

➮ Vedação ao self-leasing

É proibido uma empresa de arrendamento mercantil pertencente a um grupo econômico fazer


um contrato de leasing com outra empresa pertencente ao mesmo grupo econômico.

➮ Valor residual

O valor residual é o preço estipulado para o exercício da opção de compra, ou valor


contratualmente garantido pela arrendatária como mínimo que será recebido pela arrendadora
na venda a terceiros do bem arrendado, na hipótese de não ser exercida a opção de compra.

➮ Restituição do valor residual

Assim, no que tange a devolução do VRG, havendo a rescisão do contrato, deve ser
determinada a reintegração do bem na posse do arrendador, por conseguinte, será devida a
restituição do VRG, via de regra, não havendo razão plausível para se admitir que
mencionado numerário fique à disposição do arrendador.
STJ (Súmula 584), pois, restou decido por aquela Corte que tais valores pagos
antecipadamente a título de VRG devem ser restituídos desde que o valor da venda do bem
seja igual ou superior ao valor residual garantido. Caso seja inferior, o arrendatário pagará a
diferença ou compensará com o VRG.

“ARRENDAMENTO MERCANTIL - VALOR RESIDUAL GARANTIDO (VRG)


DEVOLUÇÃO. Se o resultado da venda somado ao VRG eventualmente pago for inferior ao
VRG previsto no contrato, nenhuma devolução será devida ao arrendatário. Por outro lado, se
o produto da venda somado ao que já estiver quitado como VRG diluído ou antecipado
ultrapassar o que estava estabelecido no contrato, o restante poderá ser restituído ao
arrendatário, conforme dispuserem as cláusulas contratuais (STJ - REsp 1099212).”

➮ Natureza Jurídica

Natureza jurídica – O arrendamento mercantil é de natureza complexa, compreendendo uma


locação, uma promessa unilateral de venda (em virtude de dar o arrendador opção de
aquisição do bem pelo arrendatário) e, às vezes, um mandato, quando é o próprio arrendatário
quem trata com o vendedor na escolha do bem.

Cada um desses atos e contratos dá origem a obrigações: pela locação, o arrendatário é


obrigado a pagar as prestações, enquanto que o arrendante é obrigado a entregar a coisa para
que o arrendatário dela use; pela promessa unilateral do arrendador, aceita pelo arrendatário,
aquele se obriga irrevogavelmente a vender a coisa pelo valor residual, findo o contrato; pelo
mandato, o arrendador, no caso mandante, responde pelos atos praticados pelo arrendatário,
adquirindo a coisa por este escolhida e pagando ao vendedor o preço convencionado.

O contrato se forma, quase sempre, por escrito, mas nada impede que seja firmado
verbalmente. Fica sujeito às provas comuns dos negócios jurídicos (Código Civil, art. 212).

Não confundir leasing com compra e venda à prazo, pois neste primeiro a compra é
facultativa.

Conforme o art. 11, parágrafo primeiro, da Lei n. 6.099/74, o arrendamento mercantil que não
se enquadre nesta definição legal, quanto às relações entre as partes, será considerada uma
locação com a opção de compra (compra e venda a prazo), conforme disposição abaixo:

"Parágrafo primeiro: A aquisição pelo arrendatário de bens arrendados em desacordo


com as disposições desta Lei será considerada operação de compra e venda a prestação."

➮ Classificação

É um contrato atípico, classificado pela doutrina como:


– Complexo;
– Misto;
– Fiduciário;
– Nominado;
– Consensual;
– Sinalagmático.

O arrendamento mercantil pode ser considerado como consensual, obrigatório que se torna
pelo simples consentimento das partes; bilateral, criando obrigações para o arrendador (pôr a
coisa à disposição do arrendatário, vendê-la no caso desse optar, ao final, pela compra,
recebê-la de volta, não havendo compra ou renovação) e para o arrendatário (pagar as
prestações convencionadas, devolver a coisa, se não houver a compra da mesma ou a
renovação do contrato); oneroso, havendo vantagens para ambas as partes; comutativo, sendo
certas as prestações; por tempo determinado e de execução sucessiva. É, como foi dito, no
Direito brasileiro, um contrato nominado, regendo-se pelos dispositivos da Lei nº 6.099, de
1974. É, também, um contrato intuitu personae, devendo ser executado pelas partes
contratantes sem que haja permissão de serem as mesmas substituídas na relação contratual.

➮ Obrigações das partes

I) Arrendador

Como obrigações do arrendador destacam-se o dever de ele adquirir de outrem o bem para
ser dado em arrendamento, pôr esse bem à disposição do arrendatário, entregando-lhe para
uso e gozo, muito embora a propriedade continue com o arrendador; vender o bem ao
arrendatário, findo o prazo contratual, pelo valor prefixado ou fixado de acordo com as
disposições contratuais; receber a coisa de volta, se não houver compra final ou renovação do
contrato; finalmente, renovar o contrato, se o arrendatário assim o quiser, mediante a fixação
de novo valor para as prestações.

II) Arrendatário

Ao arrendatário cabe pagar, na forma combinada, as prestações convencionadas; responder


pelo pagamento dessas prestações, se o contrato foi interrompido por sua causa; zelar pela
conservação do bem que lhe foi arrendado, respondendo pelos prejuízos que causar ao
mesmo; devolver a coisa, findo o contrato, não havendo optado pela compra ou pela
renovação do contrato.

➮ Súmulas
No contrato de arrendamento mercantil (leasing), ainda que haja cláusula resolutiva expressa,
é necessária a notificação prévia do arrendatário para constituí-lo em mora. (SÚMULA 369,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 16/02/2009, DJe 25/02/2009).

Súmula 293 do STJ, que prevê que: "A cobrança antecipada do valor residual garantido
(VRG) não descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil".

Resolução nº 2.309 de 28 de agosto de 1996, do Conselho Monetário Nacional, em seu


artigo 7º, que prevê que “a arrendatária pagará valor residual garantido em qualquer momento
durante a vigência do contrato, não caracterizando o pagamento do valor residual garantido o
exercício da opção de compra”.

➮ Descaracterização do contrato de leasing

TRIBUTÁRIO. DESCARACTERIZAÇÃO DO CONTRATO DE ARRENDAMENTO


MERCANTIL (LEASING). PRAZO MÍNIMO DE VIGÊNCIA. VIDA ÚTIL DO BEM
ARRENDADO. AUSÊNCIA DE OMISSÃO.

(...) II - É possível a descaracterização do contrato de arrendamento mercantil (leasing) se o


prazo de vigência do acordo celebrado não respeitar a vigência mínima estabelecida de
acordo com a vida útil do bem arrendado.

III - Nos termos do art. 8º do anexo da Resolução n. 2.309/96 e art. 23 da Lei n. 6.099/74, o
prazo mínimo de vigência do contrato de arrendamento mercantil financeiro é de (i) dois
anos, quando se tratar de bem com vida útil igual ou inferior a cinco anos, e (ii) de três anos,
se o bem arrendado tiver vida útil superior a cinco anos.

➮ Responsabilidade civil

Enquanto a arrendatária não exerce a opção de compra, a arrendadora tem a posição


contratual de locadora e a situação jurídica de proprietária do bem. Em princípio, portanto,
deveria responder por danos provenientes do uso do bem de sua propriedade. Mas, não
obstante, a jurisprudência tem entendido que não se pode responsabilizá-la neste caso. A
Súmula 492 do STF, referente à responsabilização dos locadores de veículos, não tem sido
aplicada às sociedades operadoras de leasing.

APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZATÓRIA. COLISÃO ENTRE VEÍCULOS. EM ACIDENTE


DE TRÂNSITO QUE ENVOLVE VEÍCULO OBJETO DE ARRENDAMENTO
MERCANTIL, A RESPONSABILIDADE CIVIL PELO EVENTO CULPOSO É
EXCLUSIVA DO ARRENDATÁRIO. TAL RESPONSABILIDADE DECORRE DA POSSE
E NÃO DA PROPRIEDADE LIMITADA DO VEÍCULO, SENDO A ARRENDANTE
PARTE ILEGÍTIMA PARA FIGURAR NO POLO PASSIVO DA AÇÃO DE REPARAÇÃO
DE DANOS. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE QUE SE RECONHECE. EXTINÇÃO
EM RELAÇÃO À INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. ENTENDIMENTO CONSOLIDADO
NA CORTE ESPECIAL. RECURSO PROVIDO. (TJ-RJ - APL: 04205797620128190001
RIO DE JANEIRO SAO JOAO DE MERITI 4 VARA CIVEL, Relator: ODETE KNAACK
DE SOUZA, Data de Julgamento: 21/11/2017, VIGÉSIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL,
Data de Publicação: 22/11/2017)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS CAUSADOS


EM ACIDENTE DE TRÂNSITO. SENTENÇA DE EXTINÇÃO, DIANTE DO
RECONHECIMENTO DA ILEGITIMIDADE PASSIVA. ARTIGO 267, INCISO VI, DO
CPC/73. RECURSO DO AUTOR.

ALEGAÇÃO DE RESPONSABILIDADE DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA, PORQUE O


VEÍCULO CAUSADOR DO SINISTRO ESTÁ REGISTRADO EM SEU NOME.
INSUBSISTÊNCIA. BEM QUE É OBJETO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL.

RESPONSABILIDADE CIVIL EXCLUSIVA DO ARRENDATÁRIO, QUE DETÉM A


POSSE DIRETA. ILEGITIMIDADE PASSIVA DA ARRENDADORA. PRECEDENTES.
SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. "[. . .] a instituição
financeira arrendadora ou proprietária de veículo envolvido em acidente de trânsito não tem
legitimidade para responder por demanda na qual se pleiteia indenização pelos danos
decorrentes do sinistro." (TJRS - Apelação Cível n. 70071653034. Décima Segunda Câmara
Cível. Rel. Des. Umberto Guaspari Sudbrack. Data do julgamento: 30.03.2017).

➮ Leasing x locação

O contrato de leasing, apesar da sua proximidade com o contrato de locação, com este não se
confunde juridicamente, visto que nem ao menos é regulado pelas normas relativas ao
aluguel.

O que diferencia o leasing de um contrato de locação é o fato de que naquele, o arrendatário,


ao final do contrato, poderá optar, por ato unilateral de vontade, entre renovar o contrato,
devolver o bem ou comprá-lo, pagando o valor residual garantido.

Para Iran Furtado filho, o leasing não é somente locação com promessa de venda, mas sim
uma locação com consignação de promessa de compra, com um elemento novo: o
financiamento. Ou seja, é uma alternativa de financiamento.

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