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Kent. O Geirge - Bismarck e Seu Tempo
Kent. O Geirge - Bismarck e Seu Tempo
6 Editores:
Lúcio Reiner, Manuel Montenegro da Cruz, 1
Maria Riza Bapdsta Dutra e Maria Rosa Magalhães.
Supervisor Gráfico:
Elmano Rodrigues Pinheiro.
Supervisor de Revisão:
José Reis.
Controladores de Texto:
Antônio Carlos Aires Maranhào, Carla Patrícia Frade Nogueira Lopes,
Clarice Santos, Fernanda Borges, Laís Serra Bátor, Maria dei Puy Diezde Uré Helinger,
Maria Helena Miranda, Mônica Fernandes Guimarães, Patrícia Maria Silva de Assis,
Thelma Rosane Pereira de Souza, Wilma G. Rosas Saltarelli
Ficha catalográfica
preparada pela Biblioteca Central da UnB
PREFÁCIO 3
1. A juventude de Bismarck 5
.. O novo “Reich” 85
Impresso no Brasil
Ficha catalográfica
preparada pela Biblioteca Central da UnB
REFÁCIO 3
. A juventude de Bismarck 5
. O novo “Reich” 85
I
PREFÁCIO
Este livro faz um breve relato da vida e das políticas de Otto von Bismarck, tendo
como pano de fundo a Alemanha do século dezenove e se baseia na literatura
surgida depois da Segunda Guerra Mundial. O objetivo deste estudo é familiarizar
os estudantes e o leitor em geral com um resumo dessa literatura1.
Há uma geração atrás, esta tarefa teria sido relativamente fácil. Então, os
historiadores se preocupavam com a história política, particularmente com o
nacionalismo germânico e, com poucas exceções, consideravam Bismarck um dos
maiores estadistas de todos os tempos. A Segunda Guerra Mundial mudou seu
ponto de vista e sua ênfase. Hoje, a história política, apesar de nos dar a base e a
moldura geral para qualquer biografia de Bismarck, é complementada pela
história econômica, social, constitucional e mais recentemente pela história
psicológica2.
Bleichoroeder and the Building of the German Empire” (New York: Alfred A.
Knopf, inc. 1977).
George O. Kent
Washington, D.C.
Junho de 1977
NOTAS
1. O melhor e mais abrangente resumo dos pontos de vista dos historiadores sobre Bismarck. desde
1920 até os anos 50, é o de Oito Pflanze, “Bismarck and the Development of Germany, vol. 1, The
Period of Unification, 1815-1871” (Princeton, 1963), páginas 3-8. Eu indiquei as mudanças mais
significativas da recente literatura histórica nestas notas.
2. Aos familiarizados com a história americana e com os escritos de Charles A. Beard pode parecer
estranho que os aspectos econômicos, sociais e constitucionais tenham sido negligenciados nos escritos
históricos germânicos por tanto tempo. Um exame dos livros mais populares, anteriores a 1940, sobre
Bismarck e a unificação germânica mostrará, porém, que a grande maioria tratava da história política,
negligenciando todos os outros aspectos.
3. M. Stuermer, ed., “Bismarck und die Preussisch-Deutsche Politik,” 1871-1890, (Munique, 1970),
p. 25.
4. Para um exame do que foi escrito recentemente sobre a história germânica veja Geoffrey
Barraclough, “Mandarins and Nazis: Part I,” (The New York Review of Books, 19 de outubro de 1972,
páginas 37-43); “The Liberais and German History: Part II,” ibid., 2 de novembro de 1972, páginas 32-
38; “A New View of German History. Part III,”, ibid., 16 de novembro de 1972, páginas 25-31.
1. A JUVENTUDE DE BISMARCK.
Em Altmark, lar dos Bismarcks por mais de cinco séculos, as condições nào
eram diferentes das existentes no norte e no leste da Prússia. Em princípios do
século XVIII, os Bismarcks adquiriram Schoenhausen, uma propriedade cercada
de areia e de florestas de pinheiros na planície aluvional do Elba, perto de
Tangermuende e de Stendal. Foi ali que nasceu Otto von Bismarck. Seus
antepassados vinham da nobreza e da alta burguesia. No lado paterno, a família
poderia ser localizada até o século XIII, parte da nobreza de Brandenburgo cujos
membros combateram na Guerra dos Trinta Anos, nos exércitos francês e sueco,
por toda a Europa. Apegaram-se à terra, serviram como bailios e juizes, levaram
ridas frugais e sóbrias, e raramente tinham maiores ambições. Embora leais a seu
soberano, eram gente independente. Frederico Guilherme I observou certa vez
que os Bismarcks, os Schulenburgs, os Knesebecks e os Alvenslebens eram
peculiarmente desobedientes a seus soberanos e aconselhou seu sucessor a manter
olho vivo sobre eles. Augusto Frederico, avô de Otto, era conhecido por sua rudeza t
e sua capacidade de beber, bem como por suas proezas como caçador, cavaleiro e
soldado. O pai de Otto, Ferdinando, de índole mais branda, estava mais
interessado em melhorar suas propriedades. Aos trinta e cinco anos desposou
Guilhermina Mencken, de 17 anos, em Potsdan (6 de julho de 1806)6.
exercería papel considerável em sua própria vida8. Sua meninice, embora não
infeliz, deixou poucas recordações agradáveis para o homem. Aos sete anos foi
mandado para um colégio interno em Berlim considerado muito progressista. Aí
ficou até o outono de 1827, quando ingressou no “Gymnasiun” e vivia na casa da
família em Berlim, com uma governanta e um preceptor. Na primavera de 1832
prestou seus exames. Estava pouco acima do estudante médio e se destacava em
Alemão, Latim e História; era mediano em Matemática, Física, Inglês e Francês.
Não mostrava nenhum interesse especial que denunciasse sua carreira futura, e
quando sua màe sugeriu que se preparasse para o serviço diplomático, nada objetou.
Aparentemente nunca cogitou de uma carreira militar9. Foi para a Universidade de
Goettingen no verão de 1832, para estudar Direito, mas deixou-a no outono do
ano seguinte. Embora não pareça ter realizado muito academicamente, ocupou
seu tempo ingressando na “Fraternidade Hanovera”, combatendo em vários
duelos e fazendo amizade com alguns estudantes estrangeiros, entre os quaisjohn
L. Motley, o escritor e historiador americano10.
Sua vida social durante este período é marcada por dois casos de amor, ambos
com moças inglesas; um dos quais interferiu seriamente com seus deveres oficiais.
r
8 George O. Kent
Ele tomou alguns meses de licença, sem permissão de seus superiores, e perseguiu
sua namorada por toda a Europa, para, afinal, perdê-la para um major inglês.
Quando o seu pedido de uma licença adicional (presumivelmente para se
recuperar do caso) foi indeferido, ele pediu e obteve permissão para se transferir
para Potsdam; aí chegou em dezembro de 1837.
A mãe de Bismarck morreu em janeiro de 1838 e dois anos depois seu pai dividiu
a propriedade entre Otto e seu irmão. Otto possuía agora Kniephof, e lentamente
conseguiu melhorar as finanças da propriedade15. Foi durante este periodo que se
tornou conhecido como o “junker maluco”. Suas festas turbulentas, muitos
duelos e a bebida exagerada e especialmente suas brincadeiras pesadas eram
assunto de comentários infindáveis entre os senhores da Pomerânia. Foi também
seu período romântico de “assaltar e forçar". Admirava Lord Byron e amava a
música “revolucionária” de Beethoven; desenvolveu um profundo sentimento
pelas obras de Shakespeare e se interessava por ideais republicanos.
-vida do campo e, talvez para distrair-se, aceitou um cargo na vida pública de seu
zdistrito, e nessa situação foi um dos dois representantes do chefe de distrito local
“Landrat”).
Os pontos de vista de Bismarck não eram por essa época diferentes dos de seus
•vizinhos conservadores. Acreditava nos preceitos morais e nos ideais cristãos e nas
(prerrogativas tradicionais que o faziam livre e independente em suas propriedades
<e lhe conferiam uma autoridade divina em matéria de lei, de polícia e assuntos
«econômicos. Acreditava que somente a nobreza tinha o direito e a competência de
jgovernar um estado germânico e cristão, e que esses direitos tinham de ser
«defendidos contra estranhos, como os judeus18.
10 George O. Kent
Durante este mesmo período, ocorreram dois incidentes que tiveram conside
rável importância na vida de Bismarck. Pela amizade e pela influência de Maria
von Thadden e de Moritz von Blanckenburg, seus pontos de vista religiosos se
alteraram e ele se tornou um cristão devoto (antes professara o ateísmo,
anunciando aos dezesseis anos que não rezava mais), e, através deles também,
conheceu Johanna von Puttkamer, que desposou mais tarde (28 de julho de 1847).
h
Bismarck e seu tempo 11
Sem dúvida, Bismarck estava satisfeito com sua conquista e escreveu a seu
irmão que “falando francamente, estou casando com uma mulher de espírito raro
e nobre, encantadora e fácil de conviver, como não conheci outra. Em matéria de
fé temos diferenças, mais para o seu pesar do que para o meu. mas não tanto
quanto você possa imaginar . certos acontecimentos internos e externos produzi
ram algumas mudanças em meus pontos de vista... de modo que me considero
agora um cristão... além disso, aprecio a devoção nas mulheres”24. Estas observa
ções parecem deixar alguma dúvida sobre a conversão religiosa de Bismarck, mas,
apenas se aplicarmos os padrões normalmente aceitos de ética; isto não seriajusto,
pois o próprio Bismarck só reconhecia como padrões os que empregava; por
exemplo, nunca admitiu a boa fé de um opositor ou a validade de outro argumento
que não o seu próprio. “Não é que Bismarck mentisse... mas ele se sintonizava com
precisão às correntes mais sutis de qualquer ambiente e produzia medidas
ajustadas às necessidades predominantes. A chave do sucesso de Bismarck era a de
ser sempre sincero.”25
Em maio de 1847, entre seu noivado e seu casamento, Bismarck foi enviado
como primeiro suplente de delegado à Dieta Prussiana Unida, quando von
Brauchitsch, o delegado efetivo, adoeceu. Foi então que verdadeiramente come
çou a carreira de Bismarck, quando se tornou óbvio que a arena política era o seu
terreno predileto. Encontrara-se afinal. Na Dieta, Bismarck foi um conservador
moderado. Defendeu o Governo contra a oposição, e a nobreza contra os liberais.
Seu primeiro discurso, em 17 de maio de 1847, causou alguma sensação. Era
dirigido contra os liberais cuja reivindicação por uma Constituição se baseava na
premissa de que as guerras de libertação antinapoleônicas tinham sido inspiradas
pela liberdade e pelo patriotismo e de que o levante popular livrara a pátria da
ocupação estrangeira. Quase desdenhosamente, Bismarck afirmou que não se
podia pedir uma recompensa por se ter resistido a uma derrota tão prolongada. O
movimento de liberação tinha sido patriótico, disse, mas nada tinha a ver com
liberdade e constitucionalismo. No alvoroço que se seguiu a este discurso, ele deu
as costas à Dieta e ficou lendo um jornal até que o barulho cessasse. Este incidente
deu-lhe algum realce, e ele se tornou um favorito na corte do rei junto aos
conservadores.
12 George O. Kent
NOTAS
1 E. R, Huber, “Deutsche Verfassungsgeschichte seit 1789” (Scuttgan, 1957), 1:583-84.
2. A rigor, não havia “Alemanha” antes de 1871, e a referência correta deveria ser “nas Alemanhas” ou
“na Europa Central” Ambas as referências são porém inadequadas e empreguei a expressão
"Alemanha” sempre que me pareceu mais conveniente.
3. W. L Langer, “Poliúcal and Social Upheaval, 1832-1852” (N. York, 1969), páginas 12-14
4. Pela abolição dos direitos feudais os camponeses pagavam de um terço até a metade de sua terra,
recebendo um cercado em terras devolutas de no máximo 1 4%, predominantemente de terrenos
desertos. Grande número de pequenas propriedades foi liquidado e absorvido nas maiores
Bismarck e seu tempo 13
propriedades. (Langer, “Political and Social Upheaval. 1832-1852" p 12.) Veja também o excelente
artigo de Jerome Blum, “The Conditions of the European Peasantry on the Eve of Emancipation,”
Journal of Modern History 46, n? 3 (setembro 1974): 395-424, especialmente pp. 418-20.
5. “Nas províncias orientais do Elba, as reformas agrárias eram feitas quase sempre em proveito dos
grandes proprietários de terra. Os camponeses, de modo geral, foram enfraquecidos,” (H. J.
Puhle, “Agrarische Interessenpolitik und Preussischer Konservatismus’’ (Hanover, 1966), p. 18.
tà. Alguns estudos bismarquianos recentes, empregando uma abordagem psicanalítica, tentaram
cdeterminar a influência paterna no desenvolvimento ulterior de Bismarck e explicar sua intensa sede de
ppoder pela deficiência em integrar as duas diferentes tradições representadas por seus pais. Otto
FPflanze, “Toward a Psychoanalytic Interpretauon of Bismarck". American Historical Review 77, n.° 2
((abril de 1972) 419-44, c Charlotte Sempell, “Otto von Bismarck” (N. York, 1972).
110. Para uma ficçào da vida de Bismarck em Goettingen veja Motley em “Monon’s Hope” (N. York,
11839), onde Bismarck é indiscutivelmente representado por Otto von Rabenmarck. Marcks, “Bismarcks
JJugend”, pp.94-95.
112. Os pais de Bismarck tinham deixado Schoenhausen um ano depois do nascimento de Otto,
rmudando-se para uma propriedade recentemente adquirida, Kniephof, perto de Naugard na
P°omerânia. Marcks, “Bismarcksjugend”, p. 41.
1.3. "Ich will aber Musik machen, wie ich sie fuer gut erkenne, oder gar keine". Marcks, “Bismarcks
[lugend”, p. 167.
1 5. Em princípios de 1947, Kniephof ainda devia 45.000 taleres e Schoenhausen 60.000. Sempell.
‘ Unbekannte Briefstellen Bismarcks", p. 613.
1 i 6. Uma trama, em 3 de abri) de 1833, para tomar Frankfurt, dissolvera Dieta e unificar a Alemanha em
rnoldes liberais. G. A. Rein, “Die Revolution in der Politik Bismarcks" (Goettingen, 1957) p. 53.
22. “Toward a Psychoanalytical Interpretation of Bismarck” p. 424. Estudos e biografias mais velhos e
mais tradicionais, p. ex., E. Marcks, “Der Aufstieg des Reiches: Deutsche Geschichte von 1807 -
1871/78”. 2 vols. (Sruttgart, 1936); E. Brandenburg, “Reichsgruendung”, 2 vols. (Leipzig 1916); A.O.
Meyer, "Bismarck, Der Mensch und der Staatsmann” (Stuttgan, 1949), tomam os pronunciamentos
religiosos do chanceler pelo seu valor nominal, se ao menos tratam deles.
28. H. A. Kissinger, “The Whit Revoluüonary: Reflections on Bismarck”, Dacdalus (verão de 1968),
p. 897.
26. Veja F. Stem. “Gold and Iron: Bismarck. Bleichroeder, and the Building of the German Empire”
(N. York. 1977) p. 12.
1
2. BISMARCK E A REVOLUÇÃO DE 1848
Uma nova geração de escritores começou a usar a crítica e a sátira como armas
políticas e atacou as condições da Alemanha em ensaios,cartas e relatos de viagem.
Fazendo-o, não pouparam nem Goethe, morto em 1832, nem o movimento
romântico; eram a favor do presente contra o passado e não tinham lugar para a
exaltação do romantismo da Idade Média, a devoção católica ou as antigas tribos
germânicas. Em vez disso, admiravam Lutero, a Reforma e o Iluminismo, Kant,
f
Voltaire e Schiller, e consideravam a liberdade o bem mais inestimável.
1
Bismarck e seu tempo 17
influência política nos acontecimentos na Alemanha foi limitada, pois dois de seus
advogados mais conhecidos, Heine e Boerne, estavam exilados na França. Seu
louvor à cultura francesa e às críticas de algumas idéias mais exageradamente
românticas de seus compatriotas eram impopulares neste período de nacionalis
mo nascente. O fato de alguns de seus companheiros serem judeus também não
ajudou o movimento da Alemanha Jovem.
Aos delegados foi dada a escolha entre um programa moderado - uma união
federal sob um monarca liberal com uma constituição elaborada por uma
assembléia nacional - e um programa radical - uma república com sufrágio
masculino universal e abolição do privilégio aristocrático. Este último programa
foi derrotado. O parlamento preliminar recomendou que os delegados ao
parlamento nacional fossem eleitos por sufrágio universal e direto; esta recomen
dação foi ignorada pelos vários estados, sendo a maior parte dos delegados
escolhida por eleitores provenientes das classes abastadas. A grade maioria dos
delegados era de liberais em matéria política e econômica, sem nenhum fervor
revolucionário, mas ansiosos por realizara unificação nacional. Reuniram-se, em
18 de maio de 1848, sob a presidência de Henrique von Gagernh, na sessão de
abertura da Assembléia de Frankfurt.
ocorreu a Roon que Bismarck, então com apenas trinta e três anos, pudesse ser esse
homem.) Concordando com a solução, os dois amigos puseram-se à procura do
Príncipe Guilherme, um declarado conservador e o primeiro na linha de sucessão
ao trono, que eles pensavam ser o homem para resgatar o rei e o trono. Porém, o
Príncipe não pôde ser encontrado; corriam boatos de que havia deixado o pais por
causa de sua impopularidade entre o povo de Berlim.
NOTAS
1. Os slogans equivalentes americanos são “é melhor o governo que governa menos” e “o governo dos
negócios não ê negócio do governo”. A atraente e celebrada expressão “laissez-faire” é geralmente
atribuída a J. C. M. Vincent de Goumay, um comerciante francês do século dezoito e conhecido
administrador. Foi num rasgo de impaciência contra a pletora de regulamentos e barreiras internas que
Goumay exclamou “laissez faire, morbleu, laissez passer, le monde va de lui-même!”. O sentido do
“laissez-faire” como preceito, como rótulo de toda uma doutrina e como uma tendência de política e
de prática que pareceu dominar o mundo ocidental no século dezenove propunha que qualquer
interferência do Estado seria menos produtiva, com ceneza, do que qualquer alocação de recursos
resultante da decisão de concorrência de indivíduos movidos por um cálculo racional de seus
interesses. Excetuavam-se a preservação da ordem interna e da segurança nacional, porém, esperava-se
que a expansão progressivamente desimpedida da divisão do trabalho e o curso do comércio
internacional chegariam a produzir um mundo pacífico. (E. O. Golob, em “Handbook of World
History", ed. J. Dunner (N. York 1967), p. 496.)
3. Jost Hermand, ed., “Das Junge Deutschland: Text und Dokumente” (Stuttgart, 1966), p. 370 etc.
4. O. J. Hammen, “The Red 48 ers: Karl Marx and Friedriech Engels” (N. York, 1969), p. 20 etc. Os
distúrbios de Colônia começaram em novembro de 1837, quando o arcebispo Clemens August von
Froste-Vischering, seguindo a orientação papal, se recusou a seguir a política do governo relativa aos
casamentos mistos. Quando o arcebispo também se recusou a renunciar, “o governo Prussiano
deteve-o e encarcerou-o na fortaleza de Minden... Esta ação arbitrária, que carecia de qualquer
justificativa legal, causou enorme sensação”. Os renanos, já impacientes debaixo da atitude anti-
católica do governo, saíram às ruas. O conflito não foi dirimido até a ascensão dc Frederico Guilherme
IV ao trono, em 1840, quando quase todas as medidas anticatólicas foram revogadas. (H. Holbom, “A
History of Modem Germany, 1684-1840”, (N. York, 1964), pp. 505-508.)
comemorados (“1848 - One Hundred Years After”, Journal ofModern History 2, n? 4, dezembro de
1948). De outro lado, historiadores da República Democrática Alemã observam que os pequenos
burgueses democratas em Frankfun eram fones em palavras e declarações, mas fracos na determina
ção da ação revolucionária. Eles estavam divididos e incapazes de uma liderança revolucionária ativa.
H. J. Bartmuss et al., “Deutsche Geschichte”, 3 vols. (Berlim, 1967-68). Entre os historiadores nào-
alemães, A. J. P. Taylor, em seu “Course of Gennan History'" (N. York, 1946), acredita que a
Assembléia de Frankfurt “sofria mais de excesso de experiência do que de sua falta: excesso de cálculo e
de previdência, muitas combinações intrincadas e excesso de estatismo" e que “a essência em
Frankfun era a da unidade pela persuasão". Para L. B Namier, “o objetivo do Parlamento de Frankfun
era uma verdadeira Pangermânia, e não uma Prússia Maior ou uma Grande Áustria” (L. B. Namier,
“Vanished Supremacies” (London, 1958), p. 28; veja também L. B. Namier, “ 1848: The Revolution of
the Intellectuals" (Londres 1946), versão ampliada de sua Conferência Raleigh de 1944. O relato mais
detalhado e equilibrado é o de F. Eyck, "The Frankfun Parliament. 1848-49” (N. York, 1968). De
acordo com seu trabalho, os liberais moderados e os radicais consideravam “a unificação e o progresso
constitucional aspectos do mesmo problema” A Assembléia de Frankfun fracassou na unificação da
Alemanha devido a insuficiência do apoio público e à falta de interesse tanto da Prússia como da Áustria
A rejeição da coroa por Frederico Guilherme IV não foi tanto um fracasso dos delegados de Frankfun
em elaborar uma constituição adequada, mas. antes de tudo, devido a sua própria convicção "de que
sua aceitação envolvería a Alemanha e possivelmente a Europa em guerra”.
7. Langer, “Political and Social Upheaval, 1832-1852”, p. 412. Os checos da Boêmia e da Morávia,
liderados por Frantisek Palacky, recusaram-se a comparecer à Assembléia. “Os governantes de nosso
povo”, escreveu à Assembléia, em 11 de abril de 1848, “participaram durante séculos da Federação dos
Príncipes Alemães, mas o ‘povo’ (enfatizado) nunca se considerou pane da nação germânica”. (Citado
por Namier, “The Revolution of the Intellectuals, 1848". p. 91.)
8. R Pascal, “The Frankfurt Parliament, 1848, and the Drang nach Osten” Journal ofModern History
18(1946), p. 115; veja também Namier, “1848: The Revoluüon of the Intellectuals”, em todo seu
texto.
9. G. A. Rein, “Bismarcks gegenrevolutionaere Aktion in den Maerztagen 1848”, “Die Welt ais
Geschichte 18 (1953), pp. 246-62; veja também E. Eyck, “Bismarck: Leben und Werk”, 3 vols. (Zurique,
1941-44), 1: 85-90.
10. Rein, “Bismarcks gegenrevolutionaere Aktion", p. 261.
11. Rein, “Die Revolution in der Politik Bismarcks”, pp. 71-75. Como acentuou Fritz Stern, ninguém
avaliou o impacto da Revolução de 1848 sobre Bismarck. “A Resolução deu a Bismarck (como a Marx)
um novo estímulo e uma nova direção. A morte de uma mulher amada trouxe-lhe um novo
compromisso religioso; a iminência da mone de sua monarquia trouxe-lhe uma nova resolução
política. A primeira ensinara-lhe a pobreza do gênero humano; a segunda a fragilidade da maioria dos
homens. Reunidas as duas coisas, deram-lhe um senso mais fone de seu próprio dever e destino.”
(Stern, “Gold and Iron”, p. 13.)
12. O. Becker, “Bismarcks Ringen um Deutschlands Gestaltung" (Heidelberg, 1958) pp. 59-69.
k
3. FRANKFURT, SÃO PETERSBURGO, PARIS, 1851-1862
S2 George O. Kent
Um mês antes, Bismarck contraiu uma enfermidade que o afetou até o início
do ano seguinte. (Parece que foi uma lesão na tíbia, depois de uma pneumonia que
o levou à beira do túmulo.). Ele tinha deixado Sào Petersburgo para Berlim em
julho de 1859 e embora tentasse voltar a seu posto (em outubro, ele participou de
uma reunião do czar com o regente em Breslau), não pôde fazê-lo em virtude de
nova crise de saúde. Foi forçado a passar o inverno na propriedade de Von Below,
em Hohendorf, peno de Elbing. Em março de 1860, estava afinal suficientemente
recuperado para ir a Berlim, mas sua volta a São Petersburgo, foi adiada, em parte
por necessitar de repouso e em parte porque estava sendo considerado para
substituir Schleinitz como Ministro do Exterior.
34 George O. Kent.
na Europa. O caminho não era pela Dieta Federal, mas pela União aduaneira
prussiana. Dando aos membros da União Aduaneira representação parlamentar,
os objetivos nacionalistas da Prússia seriam igualmente bem-servidos. Nào só
havería uma legislação comum de comércio e de trânsito, como um exército
comum mantido pelas receitas da União aduaneira. O plano de Bismarck foi
cuidadosamente sintonizado com as opiniões de Guilherme. Ele também tinha
defendido o fortalecimento da União aduaneira, mas, no plano de Bismarck, isto
era apenas um ponto de partida; o parlamento da União aduaneira era o cerne da
questão, pois asseguraria a supremacia da Prússia e a exclusão da Áustria. Ao
apresentar este plano, Bismarck evitou quaisquer referências ao exercício do
poder ou às conquistas territoriais, mas Guilherme não se impressionou e nada
resultou/Contudo, Bismarck continuava a promover este plano quando acompa
nhou o rei às cerimônias da coroação em Koenigsber Frederico Guilherme IV
tinha morrido recentemente, e Guilherme foi coroado rei da Prússia em 2 de
janeiro de 1861) e voltou para Berlim21.
Quando Bismarck voltou para São Petersburgo em fins de 1861, seu futuro
nào estava claro. Tinha havido boatos sobre sua renomeação para Paris ou Londres
e, durante o inverno, quando as condições internas alemãs pareceram piorar (em
relação às reformas federais e um ressurgimento da questão Schleswig - Holstein),
falou- se novamente em sua entrada para o gabinete. Voltou para Berlim, em 10 de
maio de 1862, mas sua audiência com o rei, em 13 de maio, em nada resultou.
Guilherme ainda resistia, possivelmente sob a influência da rainha Augusta.
Afinal decidiu contra a designação de Bismarck. Em vez disso, Bismarck foi
enviado como Ministro para Paris e avisado para não se estabelecer no novo posto
e permanecer à disposição.
Paris nào foi uma nomeação feliz. Bismarck foi sozinho, sem sua família e sem
sua égua favorita, e isto combinado à incerteza quanto ao futuro fê-lo nervoso e
insatisfeito. Sua recepção por Napoleão III foi bastante amável, mas Bismarck
estava enfarado com seus deveres e depois de algumas semanas foi para Londres
para visitara Feira Mundial. Ai encontrou Palmerston, Lordjohn Russel e Disraeli;
perguntado por este sobre o que pretendia fazer quando se tornasse Primeiro-
Ministro prussiano, parece que Bismarck respondeu que levaria a cabo a reforma
pendente do exército, com ou sem o consentimento do parlamento, declararia
guerra à Áustria e unificaria a Alemanha sob a liderança da Prússia23. Disraeli ficou
Bismarck e seu tempo 35
Depois de sua volta a Paris, Bismarck achou que devia tratar de sua saúde e
pediu e obteve licença em julho de 1862 para ir ao Sul da França. Em Biarritz,
encontrou Nicolai e Kathy Orlow (Nicolai era ministro russo em Bruxelas), que
conhecera em Sào Petersburgo. Bismarck passou várias semanas em sua compa
nhia. Tomou-se de amores por Kathy Orlow, jovem bonita e vivaz, que tocava sua
música favorita e com ele fazia longos passeios. Escreveu a sua mulher sobre a
magnífica temporada que estava passando, e Johanna, segura do amor e do
conhecimento de seu marido, ficou contente por ele estar feliz. Foram umas férias
tào boas que ele ultrapassou sua licença e só voltou a Paris em 16 de setembro.
NOTAS
3. Ibid., p. 89.
4. H. Boehme, " Deutschlands Weg zur Grossmacht” (Colônia, 1966), pp. 23-41.
7. A. O Meyer, "Bismarcks Kampf mil Oesterreich am Bundestag zu Frankfurt, 1851 bis 1859"
(Berlim, 1927), pp. 189-206.
9. Concluindo a aliança, a Áustria pretendia garantir seu flanco em caso de complicações com a Rússia.
A Prússia, amplamente pró-Rússia em suas simpatias, tendia à neutralidade e concluindo a aliança
esperava influenciar a Áustria em favor de seus objetivos.
86 George O. Kent.
14. A insanidade do rei inabilitou-o em outubro de 1857, desde então o príncipe Guilherme era o
regente efetivo.
18. O. Becker, “Bismarcks Ringen um Deutschlands Gestaltung” p. 74; G. W., 14. Pane I p. 517; 3:37-38
I
19. Meyer, “Bismarck”, pp. 127-30.
21. H. Oncken, “Die Baden-Badener Denkschrift Bismarcks”, Historische Zeitschrift, 145 (1932), pp
124 em diante.
22. Ele criticava os aspectos negativos e defensivos do programa conservador e ridicularizava a idéia de
solidariedade dos interesses conservadores abrangendo toda a Europa. Ele caracterizava a constituição
vigente da Confederação como uma estufa de idéias revolucionárias perigosas e de idéias panicularis-
tas, e manifestava sua surpresa com o fato de serem tão sensíveis à idéia de representação popular na
Dieta ou no Parlamento da União Aduaneira. (Bismarck a Alexandre Búlow-Hohendorf, 18 dc
setembro de 1861 (G. W., 14, pte. 1, p. 578.)
Chegando em Berlim em 20 de setembro, Bismarck foi ver Roon, que lhe falou do
desejo do rei de abdicar. Nessa tarde, o príncipe herdeiro pediu a opinião
de Bismarck sobre a situação política. Ele evitou responder, não querendo discutir
assuntos que deveríam ser tratados primeiramente com o rei1. Roon viu o rei no
dia seguinte depois da missa e relatou sua impressão de que a brecha no gabinete
era insanável; apelando para o senso de dever do rei, insistiu com ele para não
abdicar enquanto não estivessem esgotados todos os recursos de resolver o conflito
com o parlamento. Aludindo a Bismarck, Roon lembrou ao rei que ainda havia um
homem que não pertencera ao gabinete e estava pronto para assumir essa
responsabilidade. Guilherme hesitava. Ele ainda não confiava cm Bismarck e
mencionou suas desconfianças ao príncipe herdeiro que, embora concordasse
com seu pai, não soube oferecer uma alternativa2. Roon insistiu, mas o rei foi
evasivo. “Ele(Bismarck) não gostaria de assumir, aesta altura” disse a Roon “além
disso, não está aqui e não se podería discutir isso com ele”. “Ele está aqui” replicou
Roon “e ficará satisfeito em atender ao chamado de Vossa Majestade”3. O rei
cedeu.
çào, mas uma vez repelida, a Coroa invocava seus poderes executivos. Ao mesmo
tempo, o governo repetia o pedido de 9,5 milhões de taleres para o período de 1 ?
de maio de 1860 até 30 de junho de 1861, como medida provisória para aumentar
a prontidão de combate das tropas. O Ministro de Finanças, que apresentou o
pedido, reafirmou sua natureza provisória, assegurando aos delegados que, se os
fundos não fossem renovados, a medida global podería ser mais tarde revogada13.
Os delegados, acreditando que ainda seriam a voz decisiva na reorganização do
exército e confiando nas afirmações do Ministro das Finanças, aprovaram o
pedido do governo em 15 de maio de 1860, por uma votação de 350 a 2. No mesmo
dia, o governo dissolveu 36 regimentos da milícia; e medidas subsequentes torna
ram ainda mais claro que, longe de considerar estas medidas provisórias, o
governo as tinha como permanentes. Durante a sessão legislativa seguinte, o gover
no não introduziu nenhuma proposta de reorganização do exército, embora
a Câmara baixa por maioria consideravelmente menor, aprovasse de novo as
dotações “provisórias”. Ao mesmo tempo, pediu ao governo para submeter
propostas de reorganização do exército durante o ano seguinte14.
dal. Sua adesão ao rei foi reforçada pela verificação de que a preservação de uma
monarquia pnissiana forte possibilitaria a solução dos principais problemas que a
Prússia teria de enfrentar no fúturo/Bismarck também estava preocupado com a
possível abdicação de Guilherme, que enfraquecería seriamente a causa realista
tão profundamente cara a Bismarck. Em sua opinião, a maioria da Câmara baixa
não era verdadeiramente representativa do povo prussiano, mas tão-somente da
burguesia prussiana. A Prússia era uma criação da dinastia Hohenzollern. Não era
uma nação, pois suas partes oriental e ocidental não tinham identidade nacional.
Uma política prussiana eficiente só seria pois, possível, sob uma forte liderança
monárquica, e isto requeria um exército poderoso sob controle real absoluto22.
;y—Seguindo ordens reais, ele retirou o orçamento para 1863 que havia sido
submetido à Câmara baixa com o orçamento de 1862. Fazendo isto, o governo
tornou impossível qualquer tentativa da oposição eliminar fundos para a
reorganização do exército no ano corrente. Ao mesmo tempo, Bismarck deixou
claro que, se a Câmara baixa recusasse fundos militares para 1862, ele governaria
sem um orçamento. Em seu discurso de 30 de setembro de 1862, defendeu esta
política, lembrando aos delegados que havia aceito a sua nomeação pelo rei com a
condição de que, se necessário, governaria sem um orçamento. O parlamento
prussiano, acentuou ele, não tinha poder exclusivo sobre as dotações. Ao contrá
rio, era necessário que as Câmaras alta e baixa, juntamente com a Coroa, chegas
sem a um acordo. Se um dos três rejeitasse um orçamento proposto, haveria uma
“tabula rasa” - uma pedra limpa. Neste caso, que pode ser considerado uma
emergência, o governo tem o direito de govemar sem um orçamento, pois a Coroa
mantém todos aqueles direitos não conferidos expressamente ao parlamento pela
constituição. Era essa a famosa teoria de Bismarck da “brecha constitucional”24.
Bismarck lembrou aos seus ouvintes que o povo alemão olhava para a Prússia
<y (não pelo seu liberalismo, mas pelo seu poder. Já tinham sido perdidas muitas
oportunidades da Prússia exercer sua liderança na Alemanha. A Prússia precisava
concentrar seu poder; suas fronteiras, tais como fixadas pelo Congresso de Viena,
não são adequadas ao desenvolvimento saudável. “As grandes questões do
momento não serão decididas por discursos e resoluções damaioria - estes foram
os erros de 1848 e 1849, mas pelo ferro e pelo sangue ”25. Esta frase (logo trans
posta para sangue e ferro”) tomou-se instantaneamente famosa. Seu signifi
cado tem sido debatido sem cessar. Contrariamente a muitas interpretações, a
Bismarck e seu tempo 43
A sessão parlamentar de 1863 foi tão fútil como a anterior, exceto que
Bismarck encetou uma campanha contra os liberais em todo o país, restringindo a
liberdade de imprensa c prevenindo os conselhos municipais a não se engajarem
em atividades políticas (isto è, antigovemamentais). Houve considerável protesto
popular contra estas medidas e o principe-herdeiro delas se desvinculou aberta
mente27. Bismarck não tomou conhecimento dos protestos. O Parlamento foi
novamente dissolvido e novas eleições convocadas para 28 de outubro de 1863. Foi
eleita uma maioria liberal ainda maior. O impasse continuava. O governo cobrava
impostos e despendia verbas sem autorização parlamentar; o povo não objetava.
“Na Inglaterra.”, escreveu Lassalle, “se o coletor de taxas viesse cobrar taxas
não votadas pelo parlamento, seria expulso da casa pelos cidadãos. Se o cidadão
fosse detido e levado a julgamento, seria liberado pela Corte e mandado para casa
com um elogio por ter resistido a uma força ilegal. Se o coletor viesse com tropa, os
cidadãos mobilizariam os vizinhos e amigos para se opor à força com a força.
Haveria uma luta com possível perda de vida. O coletor de impostos seria então
arrastado aos tribunais sob acusação de homicídio e sua defesa de que agira
“obedecendo a ordens” não seria aceita pela Corte britânica, pois estivera
engajado em um “ato ilegal”. Ele seria condenado à morte. Se o cidadão e seus
amigos matassem quaisquer soldados seriam liberados pois estavam resistindo a
uma força ilegal”. “E porque todos sabem que isto aconteceria”, escreveu
Lassalle, “todos se recusariam pagar as taxas - mesmo os indiferentes - a fim de
não serem considerados maus cidadãos”.
44 George O. Kent. I
“Na Prússia", continua Lassalle, “é diferente. Se o cidadão prussiano
expulsasse o coletor de impostos que viesse cobrar taxas não aprovadas pela Dieta,
ele seria arrastado ao tribunal para receber uma sentença de prisão por “resistência
à autoridade legal". Se resultassem luta e homicídio, os soldados seriam
protegidos da acusação porque “obedeceram ordens”, enquanto o cidadão que
tentou resistir pela força seria condenado e decapitado. Porque isto é assim e
porque desde o princípio tudo está contra os que se recusam a pagar, o governo se
sente confiante em qualquer ação que empreende e que todos os funcionários lhe
serão leais"28.
Um problema essencial durante o conflito constitucional era o de saber se a
avassaladora maioria liberal da Câmara baixa do parlamento prussiano refletia
exatamente os sentimentos de todo o país29. Bismarck. que compreendia melhor
as realidades políticas que a maioria de seus contemporâneos, duvidava que a
maioria da população prussiana fosse tão liberal como os delegados à Câmara
baixa. A população, acreditava ele, era na maior parte rural e conservadora,
e o sistema de votação de três classes não dava às massas populares oportunidade
adequada para fazer ouvidas as suas vozes. Eis porque Bismarck, para horror de
seus velhos amigos conservadores, favorecia o sufrágio masculino universal.
Acreditava, como Ferdinand Lassalle, que uma aliança entre a nobreza e os
trabalhadores derrotaria a classe média. Porém, isto ainda era coisa do futuro. O
resultado da eleição de 1863 não teria sido materialmente alterado pelo sufrágio
universal, nem o impasse entre o governo e oposição teria sido menos severo. No
entanto, os liberais, a despeito de sua maioria, sentiam-se menos seguros do que
poderia parecer. Eles não estavam certos do apoio que tinham no pais e eram
incapazes de evitar que o governo levasse adiante os seus negócios. Ademais, o
comércio e a indústria estavam prosperando e as políticas econômicas do governo
eram liberais e progressistas30.
Os “junkers”, entretanto, ainda acreditavam que tinham direitos inerentes à
liderança. Eles não compreendiam que a expansão industrial valorizaria suas
propriedades e que aumentaria a demanda por seus produtos agrários, o que, por
seu turno, transformaria os “junkers” em capitalistas da classe superior e
acrescentaria maior poder político à sua riqueza recém-adquirida.
Os liberais pareciam não ter percebido que estes desenvolvimentos lhes
deixavam pouco tempo para realizar seus objetivos. O fracasso dos liberais na
antecipação desta mudança no poder político era talvez devido à sua relutância
em adotar medidas radicais e à sua falta de acuidade política. Bismarck foi o
primeiro a reconhecer esta fraqueza dos liberais e as possibilidades econômicas
dos “junkers”31.
NOTAS
Ilbid. p. 171.
Ilbid. p. 172.
Ilbid
Fuerst Bismarcks Briefc an seine Braut und Gattin”, ed. H. Bismarck (Stuttgan, 1900), pp. 513-14.
FM. Messerschmidt, “Die Armee in Staat und Gesellschaft-Die Bismarckzeit"; em M. Stuermer, “Das
úiserliche Deutschland. Politik und Gesellschaft, 1870-1918" (Duesseldorf, 1970), pp. 90-94.
)j. Huber, “Deutsche Verfassungsgeschichte seit 1789", 3:278. Veja também W. Sauer. “Das Problem
deutschen Nationalstaates”, em H. U. Wehler, ed., "Modeme deutsche Sozialgeschichte”
Colônia, 1968) p. 427.
Ibid. p. 97. Transcendendo a questào financeira e militar, havia uma cisào fundamental entre os
>»ntos de vista da burguesia e da nobreza: “como representantes políticos de uma classe média
oonomicamente emancipada, os liberais prussianos compreendiam mal os remanescentes do velho
ggime, seus privilégios políticos e financeiros, a carga das despesas militares improdutivas sobre a
conomia e sua freqüente atitude protetora em face da burocracia. Para se livrar dessas cadeias, eles (os
aoerais) queriam não só poder econômico com também político. Essa era a situação por volta de 1860:
A Winkler, “Preussischer Liberalismus und deutscher Nationalstaat: Studien zur Geschichte der
ocutschen Fonschrittspartei 1861-66" (Tuebingen, 1964), p. 20.
21. T. S. Hamerow, "The Social Foundations of German Unification, 1858-187 1: Struggles and
Accomplishments". 2 vols. (Princeton, N. J., 1972), 2:158.
24. Ibid., pp. 306-7; O. Pflanze, "Juridical and Political Responsibility in 19,h Century Germany”, em
L Krieger e F. Stem, eds., "The Responsibility of Power” (Garden City, N. Y., 1967), p. 179.
25. G. W. 10:140.
28. Citado por K. S. Pinson, "Modem Germany” (N. York, 1954), pp. 130-31.
29. O conflito constitucional na Prússia é provavelmente o caso mais claro e melhor para demonstrar os
pontos de vista dispares dos historiadores dos últimos cinqüenta anos. Erich Marcks, defensor de
Bismarck e um dos principais historiadores nacionalistas alemães, acreditava que a teoria da brecha
constitucional levantada pelo chanceler não pode ser considerada legalmente errada, embora o
governo exercesse de fato poderes ditatoriais. Segundo Marcks, os liberais e os moderados, apoiados
pela opinião pública, desejavam o parlamentarismo ocidental europeu. Bismarck, não podendo conse
guir um acordo, atirou-se à luta com grande entusiasmo, arrastando o rei consigo. A oposição, por sua vez,
estava pronta a negar seu apoio em caso de guerra.zOs liberais estavam convencidos de que sem o apoio
do povo, a Prússia seria derrotada em semelhante guerra. Esta posição era necessária para livrarem-se
de Bismarck e do odiado governo. A luta dos liberais contra seu próprio Estado era uma pesada e
trágica responsabilidade, segundo Marcks, mas, afinal eles superestimaram sua força, porque o povo
prussiano, basicamente patriota, não os acompanhou.Z(E. Marcks, "Der Aufsúeg des Reiches”).
Apresentando o tradicional ponto de vista liberal, Eugcne N. Anderson, um historiador
americano que muito tem escrito sobre a moderna história européia e alemã, analisa de peno os
panicipantes c as situações em seu "Social and Political Conflict in Prússia, 1858-1864’’ (Lincoln,
Nebr., 1954). Ele acredita que "o povo prussiano, em sua grande maioria, se opunha à preservação dos I
vestígios do Velho Regime e desejava reformas". Eles compreendiam o alcance das questões em causa,
mas, devido a sua falta de experiência própria no governo e seu receio de violência, não atingiram seus
fins. Os liberais, contudo, não se renderam, até que a guerra austro-prussiana lhes deu meios para
conseguir um de seus mairoes objetivos - a unidade germânica. Segundo Anderson, Bismarck não era
somente competente no emprego do poder como também afortunado, beneficiando-se da melhoria da
economia. ■
k I
Bismarck e seu tempo 47
também criaram fortes laços entre o povo e seus príncipes, mais fortes do que entre os outros povos da
Europa Ocidental e sua nobreza local. Estas razões justificam, segundo Winkler, o fato dos liberais
prussianos confiarem na nobreza que, com Stein e Hardenberg, efetuara uma revolução de cima para
baixo (pp. 115-116).
k
Bismarck e seu tempo 51
Para Bismarck, a situação era ainda mais complicada. De um lado, sentia que a
Prússia, neste caso, não podia desprezar os objetivos nacionais alemães se aspirava
à liderança na Alemanha. De outro lado, apoiando o duque de Augustenburgo,
violaria o Protocolo de Londres e teria a Inglaterra, a França e a Rússia contra a
Prússia. Ademais, Bismarck acreditava que não era do interesse da Prússia provocar
tantas perturbações por causa dos objetivos nacionais alemães se, no fim de tudo,
se defrontaria com mais um estado alemão a dar o seu voto contra a Prússia na
Dieta. Uma política mais sábia seria incorporar os ducados à Prússia, se necessário
pela força. Obviamente, Bismarck não poderia anunciar estes objetivos. Ao
contrário, apoiou cuidadosamente a opinião pública alemã, sem contudo endos
sar as reivindicações do duque de Augustenburgo. Ao mesmo tempo, instigou a
Áustria ajuntar-se à Prússia em qualquer ação apropriada contra a Dinamarca. (A
intenção era, principalmente, impressionar a Inglaterra, a França e a Rússia, a fim
de evitar o isolamento da Prússia, assegurando-lhe superioridade militar em caso
de guerra.) Os austríacos, contrários a políticas belicosas, ficariam satisfeitos se a
Dinamarca voltasse às garantias do Protocolo de Londres. O rei Guilherme,
entretanto, estava entusiasmado com o plano de arrancar os ducados da
Dinamarca, colocando-os sob o domínio do duque de Augustenburgo.
52 George O. Kent.
Tinha ficado claro à maior parte dos observadores alemães que a Prússia, sob a
direção habilidosa de Bismarck, tinha se saído melhor do que a Áustria na questão
do Schleswig-Holstein, mas que planos teria para o futuro? A determinação da
política de Bismarck em relação à Áustria é essencial para a compreensão de seus
objetivos de longo alcance: estabelecería se ele planejou e queria ou não a guerra
com a Áustria e também revelaria sua atitude quanto à unificação alemã. Se o seu
objetivo inicial, como acreditam alguns historiadores14, era a cooperação com a
Áustria em troca de hegemonia prussiana na Alemanha do Norte, a unificação de
toda a Alemanha sob a liderança prussiana não era um objetivo sério. Se, porém,
Bismarck era a favor da guerra com a Áustria, sua política declarada de cooperação
austro-alemã era somente um pretexto e a liderança prussiana em uma Alemanha
unificada era um objetivo definido.
L
Bismarck e seu tempo 55
k
Bismarck e seu tempo 57
Não havia possibilidades do plano ser aceito, nem Bismarck o pretendera. Seu
objetivo era obter o apoio das forças nacionais liberais em toda á Alemanha e
desacreditar a política austríaca. Para o rei e os conservadores prussianos era um
plano revolucionário, mas para Bismarck a aliança com o nacionalismo alemão
parecia o único meio de preservar os poderes da monarquia prussiana na idade
moderna. Desde a revolução de 1848, acreditava que as massas eram essencial
mente conservadoras e que o sufrágio universal, longe de auxiliar os liberais,
fornecia uma base sólida de apoio ao governo existente na Prússia.
I
prussiano contra a Itália. Bismarck rejeitou isto prontamente. Sua contraproposta
foi de dar ao rei prussiano mais poder, como comandante federal em chefe da
Alemanha. Os austríacos não podiam aceitar isto. Sentiram que não podiam trair
de novo a pequena confiança que lhes podia restar entre os estados menores; ■
também achavam que deviam ter alguma segurança contra a Itália. Em 28 de maio
de 1866, o governo austríaco rejeitou formalmente o plano Gablenz36.
O fracasso da missão Gablenz ocasionou uma luta pela lealdade dos estados
menores. Muitos eram pró-austríacos, e o máximo que Bismarck podia fazer era
ameaçá-los e cortejá-los. Não teve sucesso. Em l.° de junho, os austríacos,
desafiando a Convenção de Gastein, colocaram o destino futuro dos ducados nas
mãos da Dieta Federal. O jogo estava feito. No dia 9, as tropas prussianas
invadiram o Holstein, mas, para desgosto de Bismarck, não encontraram
resistência austríaca. Dois dias depois, os austríacos pediram à Dieta que
mobilizasse todas as tropas federais e, no dia 14, a Dieta votou o pedido por 9 a 5.
No dia seguinte, a Prússia fez ultimatos, que foram rejeitados, à Saxônia, Hanover
e Kassel. Nesta noite, as tropas prussianas começaram a mover-se e, em 21 de
junho, cruzaram a fronteira da Boêmia.
■
Bismarck e seu tempo 61
Rússia e fez saber em São Petersburgo que “se deve haver revolução, antes a
faremos do que a sofreremos”40.
L
Bismarck e seu tempo 63
'-'A.
A reação externa à formação da Confederação Germânica do Norte foi
relativamente branda. O gênio de Bismarck era reconhecido e admirado em toda a
parte; enquanto o domínio prussiano não se estendesse além do Meno, as
potências européias não estavam particularmente preocupadas.
i
Bismarck e seu tempo 65
ficou logo claro que a chancelaria federal seria combinada com as funções de
Ministro-Presidente e Ministro do Exterior prussiano; este posto foi, de fato,
criado em função de Bismarck. A responsabilidade do futuro chanceler não foi
explicada. Não foi estipulado a quem respondería e como esta responsabilidade
seria implementada. Quando muito a responsabilidade do chanceler era política
ou moral, mas não legal51.
68 George O. Kent.
Bismarck. e com ele a opinião pública alemã, sabiam que a posição interna de
Napoleão se tinha enfraquecido pelos reveses diplomáticos da guerra austro-
prussiana, do problema de Luxemburgo, da derrocada militar no México e dos
desenvolvimentos políticos na Itália61, que não lhe seria possível sobreviver a
outra derrota diplomática ou militar. Em seguida à vitória da Prússia sobre a
Áustria, a opinião pública francesa começou a sentir que o prestígio do país tinha
sofrido consideravelmente. Como resultado, Napoleão III tentou reconquistar
algumas de suas antigas glórias, vendo a fronteira Nordeste da França como área de
possível expansão. Luxemburgo parecia uma área especialmente adequada para
compensação. Luiz Napoleão esperava comprar o ducado do rei da Holanda e, como
era parte da União Aduaneira Germânica (e um antigo membro da Confederação
Germânica), travou negociações com Bismarck a fim de obter a aprovação de seu
esquema. Bismarck disse que concordaria desde que os arranjos fossem feitos
pronta e silenciosamente e sem envolvê-lo de modo algum. Os franceses, contudo,
dirigiram mal o negócio. Noticias da compra pendente foram conhecidas
prematuramente; o rei da Holanda mudou de idéia quando as negociações
estavam quase completadas e Bismarck foi interpelado no “Reichstag” sobre a
questão. A indagação do “Reichstag” partiu de Bennigsen e acredita-se que a nota
de Bennigsen, beligerantemente nacionalista - exprimindo maior determinação
de impedir qualquer tentativa de ceder antigo território alemão, da pátria —, tenha
sido redigida por Bismarck Entretanto, sua resposta foi cautelosa e calma,
deixando claro que não resistiría à opinião pública. Os franceses, não é necessário
dizê-lo, ficaram ofendidos e sentiram-se traídos por estas démarches62. Estava
igualmente claro que qualquer movimento de Bismarck que desafiasse ou apenas
parecesse desafiar a posição ou o prestígio da França provocaria uma violenta
resposta de Paris. Nessas circunstâncias, o que se necessitava para exacerbar os
sentimentos nacionais franceses era apenas um pretexto plausível. Bismarck
encontrou-o no caso da candidatura Hohenzollern ao trono espanhol.
mente estava relutante, mas finalmente aprovou (19 de junho de 1870), a pedido
de Bismarck. Guilherme foi persuadido pelo relatório extremamente favorável de
Bucher e Versen, que tinham sido enviados a Madri para fazer um relatório sobre
as condições na Espanha. Hoje, têm-se como certo que esses “relatórios” foram
preparados em Berlim e provavelmente sob a supervisão de Bismarck64. O clima
na Espanha, ao contrário do que diziam os relatórios, era sumamente desfavorável
a um príncipe Hohenzollern.
Depois das eleições, Thiers, que tinha sido eleito chefe do governo, foi a
Versalhes para ulteriores negociações com Bismarck; depois de longas e difíceis
reuniões, foi assinada uma paz preliminar, em 26 de fevereiro de 1871. Ela
garantia à Alemanha a anexação da Alsácia e de parte de Lorena, uma indenização
francesa de cinco bilhões de francos e a ocupação do Norte da França pelos
alemães como garantia do pagamento. Thiers conseguiu manter Belfort para a
França, mas teve de permitir a entrada de alemães em Paris. Um tratado definitivo
seria assinado mais tarde77.
Baviera tinha a chave do novo “Reich”. Se sua oposição pudesse ser vencida,
os outros estados sulinos seguiríam seu exemplo. Se ela ficasse de fora, o “Reich”
se enfraquecería e se tornaria aberto à influência austríaca e francesa. Ao mesmo
tempo, Bismarck sentia que uma pressão indevida sobre a Baviera devia ser
evitada, de modo a não complicar futuros acontecimentos. Depois da vitória de
Sedan, a Baviera reconsiderou sua posição e iniciou negociações com Bismarck. A
Baviera queria o direito de enviar e receber representantes diplomáticos, de
concluir tratados (contanto que não fossem contrários aos interesses federais) e,
em tempo de paz, manter seu próprio exército, seu sistema postal e telegráfico e
seus próprios poderes legislativo, administrativo e financeiro. O obstáculo real era
sua recusa de ingressar no novo “Reich” debaixo da existente constituição alemã
do Norte. Os negociantes bávaros pediam uma reorganização da união federal em
uma nova base, menos centralizada, que daria à Baviera uma posição especial.
NOTAS
1. Citado por R. H. Lord, “Bismarck and Rússia in 1863”, American Historical Review 29 (out. 1923),
p. 26.
3. Ibid. p. 472. Sobre a atitude dos liberais em relação à questão polonesa, veja Winkler, “Preussischer
Liberalismus”, pp. 34 a 41.
5. W. E. Mosse, “The European Powers and the German Question, 1848-1871” (Cambridgc, 1958),
pp. 115-16.
7. Sugeriu-se que Bismarck desejou usar a crise e uma guerra conseqüente para aliviar c talvez resolver a
crise constitucional doméstica. (Lord, “Bismarck and Rússia in 1863”), pp. 47-48.
8. Veja o cap. 2.
10. A obra padrão ainda é L. D Steefel, “The Schleswig-Holstein Question” (Cambndge, Mass., 1932).
12. K. A. P. Sandford, “Great Britain and the Schleswig-Holstein Question, 1848-1864” (Toronto,
1975), p. 67 em diante.
13. Para um relato minucioso do interesse dos liberais prussianos sobre a questão de Schleswig-
Holstein, veja Winkler, “Preussischer Liberalismus”, p. 41 em diante.
14. F. Thimme, editor dos trabalhos políticos de Bismarck (G. W., vols. 4-6b), acreditava que a política
exterior de Bismarck em relação à Áustria foi fonemente influenciada pelas considerações domésticas
conservadoras (o desejo de reprimir a oposição liberal e restabelecer e aumetnar o poder real) c que sua
cooperação com a Áustria na questão com o Schleswig-Holstein não pretendia alcançar maior poder
para a Prússia. Segundo Thimme, o verdadeiro alvo de Bismarck, era uma aliança com a Áustria,
conquistando-lhe o favorecimento e a confiança, e, deste modo, atingir a hegemonia prussiana na
Alemanha do Norte. Assegurados os interesses vitais da Prússia e com uma cooperção confiante e
duradoura entre as duas potências germânicas ambas podiam combater o inimigo comum: o
constitucionalismo e a revolução. Só depois da Convenção de Gastein é que Bismarck considerou
perdidas todas as possibilidades de cooperação com a Áustria. O acordo secreto da Áustria com a
França era uma indicação muito mais segura de sua política pré-guerra do que os entendimentos
anteriores de Bismarck com a Itália o era de parte da Prússia. (Introdução a G. W., 5: x-xii).
16 G. W„ 5: 96-103.
17. Em interessante c profundo estudo sobre a possibilidade dc guerra no verão de 1865 (“Kriegsgefahr
und Gasteiner Konvention: Bismarck, Eulenburg und die Vertagung des preussisch-oesterreichischen
Krieges im Sommer 1865”, em I. Geiss e B.J. Wendt, eds., “Deutschland in der Weltpolitik des 19. und
20. Jahrhundens" (Duesseldorf, 1973), pp. 89-103), J. C. G. Roehl concorda com R. Stadelmann, que
acredita ter sido a situação política européia, no verão de 1865, um momento ideal para Bismarck
declarar guerra à Áustria. A Inglaterra estava preocupada com a Guerra Civil americana, a França com
sua aventura mexicana e a Rússia com assuntos internos devidos às seqüelas da Guerra da Criméia.
Nenhuma dessas potências poderia vir em auxílio da Áustria, c, além disso, a Áustria tinha
perturbações constitucionais e financeiras em seu próprio campo. Como esta situação nào podia
prolongar-se indefinidamente, o tempo era inimigo dc Bismarck; porque ele deixou de tirar vantagem
desta ocasião favorável é uma questão que nos deixa intrigados. Ou ele desejava sinceramente evitar a
guerra e entender-se com a Áustria ou, embora decidido a fazê-la, ainda não havia terminado seus
preparativos. Stadelmann prefere a última razão, embora também considere a influência da opinião
pública c haja a possibilidade de Bismarck ter atendido as duas razões simultaneamente. (Stadelmann
mostra que Guilherme I e seus conselheiros eram a favor de uma política antiaustríaca mais acentuada
do que pensavam os historiadores alemães da velha escola: R. Stadelmann, “Das Jahr 1865 und das
Problem von Bismarcks deutscher Politik”, Historische Zeitschrift, suplemento n9 29(Munique, 1933),
citado por Roehl, “Kriegsgefahr” pp. 90-91).
25. Stern, “Gold and Iron”, p. 69. A propriedade em questão era a ferrovia Colônia - Minden.
26. Nào obstante serem conhecidas há muito tempo as relações de Bismarck com Bleichroeder e a
importância do papel deste, esses detalhes só foram tratados recentemcntc por Fritz Stern em seu
excelente e profundo estudo “Gold and Iron”.
28. A. J. P. Taylor, “The Struggle for Mastery in Europe, 1848-1918” (Oxford, 1954), pp. 163-65.
76 George O. Kent.
36. A motivação de Bismarck para considerar o plano não está bem clara. Provavelmente era pane de
seu esforço duplo para conseguir a supremacia prussiana na Alemanha. Um plano seguia uma política
aparentemente belicosa e o outro uma via pacífica. O plano Gablenz era pane do segundo e também
servia para fonalecer a resolução do rei, caso falhasse a política pacífica. (E. Eyck, “Bismarck”,
2:174-81). Para uma apresentação dos vários pontos de vista dos historiadores sobre a missão Gablenz e
a atitude de Bismarck para com ela, veja O. Becker, “Bismarcks Ringen um Deutschlands Gestaltung”,
cap. 4. n.° 4, pp. 843-44.
38. Pflanze, “Bismarck and the Development of Germany”, vol. 1, pp. 301-3. “Bleichroeder... transferiu
400.000 taleres aos revolucionários húngaros” (F. Stem. “The Failure of Illberalism” (N.Y., 1972
p. 62). Veja também Stem, “Gold and Iron” pp. 89-90.
39. Sobre o tratamento de Frankfurt por Bismarck, veja Stern, “Gold and Iron” pp 90-91.
40. G. W., 6:120 Pflanze “Bismarck and the Development of Germany”, vol. 1 pp. 306-10.
43. Sobre a cisão dos liberais, veja Winkler, “Preussischer Liberalismus”, p. 93 em diante.
44. G. A. Kertesz, “Reflections on a Centenary”, Historical Studies of Australia and New Zealand 12
(oul 1966), pp. 333-42.
45. K. G. Faber, “Realpolitik ais Ideologie”, Historische Zeitschrift 203, agosto de 1966), pp. 1-45.
Winkler acha errado acusar os liberais de terem optado pelo poder contra a liberdade em 1866. De seu
ponto de vista seria razoável esperar que a posição fonemente autoritária da Prússia seria diluída pela
unificação da Alemanha. (Winkler, “Preussischer Liberalismus”, p. 122). Veja também G. R. Mork,
Bismarckand the Capitulation of German Liberalism”, Journal ofModern History 48 n.° 1 (março de
1971): 59-75.
46. Bismarck passou os últimos dias de outubro e os primeiros de novembro, em Putbus, no mar
Báltico, recuperando-se de uma enfermidade. Bussmann, “Das Zeitalter Bismarcks”, p. 96.
Bismarck e seu tempo 77
48. H. Heiftcr, “Die Deutsche Selbstverwaltung im 19. Jahrhundcn”, 2? cd., (Stuttgan. 1969), acha
que a hegemonia prussiana na Confederação da Alemanha do Norte e posteriormente no "Reich”,
conservou o particularismo prussiano. Do mesmo modo se preservou o particularismo dos estados
menores germânicos, deixando a porta aberta para que ingressassem mais tarde na Confederação
(p. 468).
49. O texto desta cláusula estipulava que “os regulamentos e decretos do Presidente Federal fossem
emitidos em nome da Confederação e exigiam, para a sua validade, a contra-assinatura do Chanceler
Federal que aceitava a co-responsabilidade”. (Anigo 172/2, conforme citado por R. Morsey, “Die
oberste Reichsverwaltung unter Bismarck, 1867-1890” (Muenster, 1957) p. 19. Veja também E. Hahn,
“Ministerial Responsibility and Impeachment in Prússia 1848-1863”, Central European History 10, n?
1 (março 1977): 3-27.
51. Durante o período de Bismarck no cargo, ele não era responsável nem perante o “ Reichstag” e nem em
face do Conselho Federal, mas, exclusivamente perante o rei. Sua demissão em 1890 não foi devida à
perda de confiança de qualquer corpo legislativo, mas somente porque o rei perdera a confiança em
seu ministro. Morsey, “Die oberste Reichsverwaltung” pp. 21-23; Pflanze, “Juridical and Political
Responsibility”, p. 173, n? 17. Quanto às opiniões de Bismarck sobre a responsabilidade ministerial
veja Hahn, “Ministerial Responsibility”, pp. 24-25.
52. Citado por G. P. Gooch, “Studies in Modem History" (N. York, 1968) p. 227.
55. J. Becker, "Zum Problem der Bismarckschen Politik in der Spanischen Thronfrage 1870”,
Historische Zeitschirift 212, n? 3 (junho de 1971): 529-607.
58. Alexandre foi a Paris em junho de 1867 para visitar a exposição e encontrar-se com sua amante.
Princesa Catarina Dolgoruky, W. E. Mosses, “The European Powers and the German Question”, 1848-
1871, p. 270 n? 3.
59. Na época, havia fones indícios de um entendimento franco-austríaco (novembro de 1867 - janeiro
de 1869) e boatos de uma reaproximação austro-prussiana. Esta foi energicamente desmentida por
Bismarck, W. E. Mosse, “The European Powers”, pp. 279-83.
61. Em seguida à derrota das forças republicanas chefiadas por Garibaldi, os franceses ocuparam Roma
em 1849 para assegurar a futura segurança do papa e da Igreja. Em 1864, Napoleào 111 mudou de
política, para espanto de muitos católicos na França, numa tentativa de captar a simpatia dos italianos,
e assinou a Convenção de Setembro com o governo italiano. De acordo com seus termos, os italianos
prometiam não atacar o território papal; em troca, o governo francês concordava em retirar suas tropas
dentro de dois anos, fazendo-o em dezembro de 1866. Em outubro do ano seguinte, as tropas francesas
78 George O. Kent.
voltaram, depois do fracasso de uma insurreição em Roma e dos voluntários de Garibaldi terem
derrotado as forças papais. As forças combinadas francesas e papais derrotaram os voluntários na
batalha de Mentana, a 3 de novembro de 1867, sendo Garibaldi aprisionado. Os italianos estavam
profundamente ressentidos, e, embora Napoleão tentasse entrar em acordo com eles, a opinião
pública francesa, instigada pela igreja, impediu quaisquer concessões. Assim, a questão romana
tomou-se o ponto principal da disputa e perturbou as relações franco-italianas até a queda do Segundo
Império.
I; 63. O trono espanhol ficara vago depois da fuga da Rainha Isabel para a França, em 29 de setembro de
1868, em seguida à derrota das forças reais. Em maio de 1869, o Parlamento Espanhol instituiu uma
monarquia constitucional e procurava um candidato adequado para o trono espanhol entre as casas
reais da Europa.
A opinião histónca sobre o papel de Bismarck nesta crise pode ser dividida aproximadamente em
três aspectos, o dos historiadores que acreditavam que Bismarck usara a candidatura desde o princípio
para provocar a guerra com a França, os que consideram Bismarck completamente inocente no assunto
e os que acreditam que mesmo não desejando a guerra, ele tirou partido da situação e confrontou a
França com a opção entre a guerra e a derrota diplomática.
política agressiva contra a França. H. v. Sybel, historiador oficial da unificação germânica, afirmou, em
seu “Die Begruendung des Dcutschen Reiches durch Wilhelm I”, 7 vols., (Munique, 1913), que
Bismarck nada tinha a ver com a candidatura Hohenzollern. Hans Dclbrueck, em “Das Geheimnis der
Napoleonischen Politik im Jahre 1870”, em suas “Erinnerungen, Aufsaetze und Reden” (Berlim,
1902), e H. Oncken, “Das Deutsche Reich und die Vorgeschichte des Weltkriegcs" (Leipzig, 1933),
acreditavam que a política de Bismarck era essencialmente defensiva e uma reação à tentativa de
Napoleão de cercar a Prússia com suas alianças com a Áustria e a Itália. É também a opinião de E.
Brandenburg, em “Die Rcichsgruendung", de L. Reiners, “Bismarckgruendet das Reich, 1864-1871“
(Munique, 1957), que assevera que não obstante Bismarck favorecer a candidatura de Leopoldo, não
queria que isso levasse à guerra c nem queria armar uma cilada para Napoleão III (p. 381). A. J. P.
Taylor, “Bismarck: The Man and the Statesman” (Londres, 1955), considera a questão do envolvimen
to de Bismarck “a mais difícil de responder” e conclui que “não há traço de prova de que ele
trabalhasse dcliberadamente para uma guerra com a França, e ainda menos que a determinara para o
verão de 1870... a canditadura Hohenzollern, longe de ter sido projetada para provocar uma guerra
com a França que completaria a unificação germânica, pretendia realizar a unificação germânica sem
guerra. Ele Bismarck; não tinha nem planejado a guerra nem a tinha previsto. No entanto,
reivindicou-a como sua, logo que se tornou inevitável Ele desejava apresentar-se como o criador da
Alemanha e não como um homem dominado pelos acontecimentos” (pp 115, 116, 118 e 121).
O terceiro e maior grupo é o que ocupa uma posição intermediária entre os dois extremos: são
alemães, americanos e ingleses, muitos dos quais reavaliaram velhas provas ou usaram novos
documentos surgidos depois da Segunda Guerra Mundial
H Geuss, em “Bismarck and Napoleon III” (Colônia, 1959) acreditava que um Hohenzollern na
Espanha deteria 40.000 a 80.000 soldados franceses, isto è, um oitavo a um quarto do exército francês
em tempo de guerra. O desvio de tão grande pane de suas forças persuadina Napoleão a abandonar a
facção belicista de seu governo e a imprimir um rumo liberal à política interna. Isto, por sua vez,
permitiría a Bismarck uma política pacifista na unificação germânica. “A candidatura Hohenzollern
foi, pois, essencialmente, uma alavanca para Bismarck mover a incerta situação interna francesa... em
direção à unificação germânica e a paz, como sempre pretendera” (p 266). O plano falhou, pois um de
seus requisitos principais - o segredo total - não foi mantido. B Schot “Die Entstehung des deutsch -
franzoesistshen Kneges und die Gruendung des deutschen Reiches”, em H. Boehme, ed . “Probleme
der Reichsgruendungszeit, 1848-1879” (Colônia, 1968), pp. 269-95, sustenta que, desde o começo,
Bismarck não planejava a guerra, mas também nada fizera para acalmar a excitação produzida pela
divulgação prematura da candidatura; ao contrário, utilizou habilmente a situação criada pelas
exageradas reclamações francesas. Então, confrontou o governo francês preocupado com a perda do
prestígio nacional com as alternativas de guerra ou derrota diplomática. Era imperativo, tanto para a
opinião pública européia, como para a alemã, que a França tomasse a iniciativa e aparecesse como a
perturbadora da paz. Bismarck atingira seu objetivo, embora de modo diverso do planejado
onginalmente (p. 291). J. Dittrich, “Bismarck, Frankreich und die spanische Thronkandidature der
Hohenzollern: Die Kregsschuldfrage von 1870” (Munique, 1962), conclui que ele arquitetou
(“gemacht”) a candidatura e a usou para forçar uma decisão (p. 2), mas não crê que Bismarck desejava a
guerra (p. 289). L. D. Steefel, “Bismarck, the Hohenzollern Candidacy and the Ongins of the Franco-
German War of 1870” (Cambridge, Mass. 1962), declara que “a guerra franco-prussiana não foi
resultado de uma calculada política de longo alcance” (p. 221). Ele acentua repetidamente que a França
declarou a guerra que até então não era inevitável. “Bismarck não criou a candidatura Hohenzollern
como uma mina para explodir a projetada Tríplice Aliança, mas que o temor dessa aliança foi um fator
principal, talvez o maior, de sua decisão de apressar o oferecimento espanhol” (p. 239). “(A
candidatura) dava a Bismarck os meios de criar uma crise européia. Que forma tomaria, não podería ser
antecipada com certeza” (p 244). Pflanze, “ Bismarck and the Development of Germany”, vol. 1, julga
que “a candidatura Hohenzollern era um ato ofensivo e não defensivo... que o alvo de Bismarck era...
uma crise com a França. Ele dcliberadamente navegou no sentido da colisão, com a intenção de
provocar ou uma guerra ou um colapso interno na França” (pp. 448, 449). W. N. Medlicott, “ Bismarck
80 George O. Kent.
and Modern Germany” (Londres, 1965) acredita que “Bismarck, indubitavelmente, instigou a
candidatura e que, indubitavelmente, agradeceu a deflagração da guerra resultante” (p. 81). A guerra
franco-prussiana não foi, sem dúvida, um ataque não provocado de pane da Prússia; mas, “quem pode
negar que a conduta de Bismarck desde 1866 não provocasse a provocação?” (p. 84). A. Mitchell,
“Bismarck and the French Nation, 1848-1890”, (N. York. 1971), chama a atenção para o interesse de
Bismarck pelas políticas internas francesas, especialmente pelo resultado da eleição para a legislatura
nacional em maio de 1869, que deu maioria aos liberais. Contrário a opiniões que temiam que os
resultados prenunciassem uma volta à inquietação interna e a aventuras no exterior, Bismarck
acreditava que “fortaleciam o trono de Napoleào” Mitchell acha que isto era inquietante para
Bismarck, “porque não mais contana com uma iniciativa canhestra da França que lhe desse uma
complicação diplomática conveniente para explorar” (p. 51). Em seu prefácio para Bonnin, “Bismarck
and the Hohenzollem Candidature for the Spanish Throne, The Documents in the German
Diplomatic Archives” (Londres, 1957), G. P Gooch escreve que “Bismarck agradeceu a perspectiva de
um conflito com a França, em que a vitóna militar parecia razoavelmente certa e que removería o
último obstáculo à incorporação voluntária da Alemanha do Sul em um império federal com o rei da
Prússia à frente Não há indícios de anseio pela guerra em suas cartas e despachos” (pp 10-1 1).
64. J. Becker, “Zum Problem der Bismarckschen Politik in der Spanischen Thronfrage 1870”
pp. 569-570
65 D W. Houston. “Emile Ollivier and the Hohenzollem Candidature”, French Historical Studies 4
(outono de 1965), pp. 125-49.
67. Uma avaliação correta esclarecería a personalidade e os métodos de Bismarck, tanto quanto sua
política de unificação germânica e as subseqüentes relações franco-germânicas antes da Primeira
Guerra Mundial Eu me baseei muito em J. Becker, “Zum Problem der Bismarckschen Politik in der
Spanischen Thronfrage 1870”.
68. Citado por J. Becker, “Zum Problem der Bismarckschen Politik in der Spanischen Thronfrage
1870”, p. 597.
69. O “orçamento de ferro” de 1867 “forneceu equivalente exército de 1% da população, apoiado por
uma dotação anual de 225 taleres por cabeça. Originalmente lançada para expirar em dezembro de
1871, esta lei foi prorrogada por mais três anos”. G. Craig, “The Politics of the Prussian Army, 1640-
1945”, (Oxford, 1955), p. 220.
72. A melhor descrição da guerra é dada por M. Howard, “The Franco-Prussian War” (N. York, 1961).
73. E. Kolb, “Kriegsfuehrung und Politik 1870/71”, em T. Schieder e E. Deuerlein eds., “Reichsgru-
endung 1870/71” (Stuttgart, 1970), pp. 95-118.
74. Citado por Taylor, ‘‘The Struggle for Mastery in Europe", p. 212.
75. Ibid., pp. 212-14.
Bismarck e seu tempo 81
78. A maior realização de Bismarck, o estado unificado, não sobreviveu à Segunda Guerra Mundial. Os
métodos usados por Bismarck para unificar a Alemanha foram admirados e elogiados durante sua vida,
porém foram crescentemente questionados à medida que o “Reich” falhava ao defrontar-se com uma
série de crises domésticas e externas, sendo finalmente esmagado.
Os seguintes exemplos são apenas alguns dos pontos de vista de alguns historiadores. H. v.
Treitschke em “Historischc und Politische Aufsaetza”, 3 vols. (Leipzig, 1911-15), escrito em 1886,
credita a fundação do “Reich” à monarquia prussiana; realizada militarmente tinha a força do “fait
accompli” e por trás de si o irresistível poder dos sentimentos nacionais ressuscitados (2:551). No
entanto, as massas não tomaram pane no movimento de unificação, “nem era desejável que o
fizessem”, de acordo com Treitschke, “porque semelhante movimento em solo germânico costumava
produzir muito barulho e anarquia” (3:544). A União Aduaneira também não desempenhou papel
construtivo no movimento mais amplo. O panicuiarismo e o ódio à Prússia entre os Estados da
Alemanha do Sul também faziam parecer inatingível essa unidade germânica, ainda por muito tempo.
Neste ponto, “a generosa providência nos deu a guerra com a França. Realmente, só um evento dessa
magnitude, somente tal ato de violência, tão brutal e imprudente, que podia despertar a consciência
mais indolente, foi capaz de trazer o Sul de volta à pátria maior” (3:548).
Apenas alguns anos depois, escrevia E. Marcks, nacionalista e antigo admirador de Bismarck,
completando a primeira parte da biografia de Bismarck com “Der Aufstieg des Reiches: Deutsche
Geschichtevo 1807 -187 1/78", 2 vols. (Stuttgart, 1936). Ele asseverava que a unificação da Alemanha era
82 George O. Kent.
obra pessoal de Bismarck: no entanto, outros, como o rei, Moltke, Roon, o exército, a opinião pública
estavam envolvidos, mas fora Bismarck que unificara o país (1: xii-xiii; 2:514-15).
Golo Mann, por sua vez, em sua "Deutsche Geschichte dea 19. und 20. Jahrhundens” (Frankfurt,
1958), acha que a unificação da Alemanha foi realizada pelos estados, isto é, pela Prússia, o grande
estado, impondo sua liderança aos menores. A coerção prussiana foi disfarçada pelo fato de largos
segmentos da população quererem a unidade e por ela trabalharem, embora o próprio povo não a
fizesse. Completada a unidade, somente uma minoria estava satisfeita com os resultados (p. 378).
Afinal não era mesmo um estado nacional real, porquanto grande parte da nação permaneceu de fora
para sempre p. 386
H. Bartel. um historiador alemão oriental, em “Zur Stcllung der Reichsgrucndung von 1 87 1 und
! zum Charakter des preussisch-deutschen Reiches”, H Bartel e E. Engelberg, eds. “Die grosspreus-
ische militaensche Reichsgrucndung, 187 1 ”, 2 vols. (Berlim, 1971), pp. 1 -20, vê a fundação do “ Reich”
principalmente como resultado do capitalismo bem-sucedido. Citando Engels, ele afirma que o
comércio e a indústria se tinham desenvolvido a tal ponto na Alemanha c que as relações comerciais se
I tinham estendido tanto que não mais podia ser tolerada a situação doméstica particularista com a falta
de proteção no exterior O caminho para a unificação se deu em linhas burguesas e contra-
revolucionàrias. sem vitória completa do povo. A velha monarquia foi transformada em uma
monarquia burguesa e imperialista, com os privilégios da nobreza intatos c grande desvantagem para
os trabalhadores. Assim, foram revigoradas as diferenças de classe, acentuando-se a divergência entre o
caráter do Estado e as necessidades desenvolvimentistas da nação, o que levou, entre outras coisas, a
uma política exterior agressiva (2:4-6).
A. J. P. Tavlor, em “The Course of German History" (N. York, 1946), declara que o “Reich” de
Bismarck era uma ditadura imposta a forças conflitantes, sem nenhum acordo entre si. As partes não
concordavam; elas eram manipuladas por Bismarck - subjugadas quando ameaçavam erguer-se e
estimuladas quando fracas. Bismarck estava no meio de uma gangorra, balançando-a de modo a
manter sua criação artificial numa espécie de equilíbrio; porém, o resultado inevitável era dar à
Alemanha oscilações cada vez mais violentas e incontroláveis” (pp. 115-16).
Bismarck e seu tempo 83
Em “The Catholics and German Unity, 1866-1871" (Minncapolis, 1954), G. G. Windell escreve
que “os particularistas tinham perdido, mas apenas por diminuta margem. Os nacionalistas tinham
ganho, mas tão-somente com o auxilio de alguns que, intimamente, estavam pesarosos pelo que
tinham feito... pelo pais afora, muitos indivíduos de ambos os credos tinham chegado a olhar guerra e
o futuro da Alemanha como outro estágio da secular disputa entre Wittenberg e Roma" (pp. 273-74).
T. S. Hamerow, em “The Social Foundations of German Unification, 1858-187 1", acredita que
“mesmo na hora de seu maior triunfo, a política de centralização foi recebida por muitos alemães com
indiferença e desconfiança. A unificação nacional era obra de uma minoria determinada, infatigável,
inteligente, próspera c influente... Bismarck conseguira adaptar a estrutura do Estado às necessidades
de uma economia cada vez mais industrializada. Ele tinha negociado uni acordo verbal entre a
aristocracia e a burguesia, salvaguardando os interesses da velha ordem nos quadros da nova. O
governo autoritário era camuflado por uma fachada de controle parlamentar, enquanto o progresso
material era assegurado pela integração econômica. O sucesso militar e político permitia à Alemanha
sausfazer as demandas do capitalismo industrial sem alterar o tradicional sistema de classes”
(pp. 425-26).
79. Pflanze, “ Bismarck and thc Development of Gemany", vol. 1, p. 491. Sobre as tentativas de alguns
representantes dos estados menores de diminuir a ascendência da Prússia no novo “Reich” e
fortalecer os aspectos federais da nova constituição, veja R Dietrich, “Das Reich, Preussen und die
Einzelstaaten bis zur Entlassung Bismarcks”, em D. Kurze, ed., “Aus Theorie und Praxis der
Geschichtswissenschaft: Festschrift fuer Hans Herzfeld", (Berlim, 1972), pp. 236-56. Quanto aos
detalhes sobre as negociações com a Baviera e principalmente sobre o papel de Bleichroeder, veja
Stern, “Gold and Iron”, pp. 133-34.
80. Pflanze, ‘‘Bismarck. and the Development of Germany”, vol. 1, pp. 480-90.
81. K. Bosl, “Die Verhandlungen ueberden Eintritt der Sueddeutschen Staaten in den Norddeutschen
Bund und dic Entstehung der Reichsverfassung", em Schiedere Deuerlein, eds., “Reichsgruendung,
1870/71, pp. 148-63.
6. O NOVO REICH”
“Agora que realizamos o maior sonho de nossas vidas, o que resta fazer?”
exclamou Heinrich von Sybel após a unificação1. A maioria de seus contemporâ
neos, tanto liberais quanto nacionalistas, expressaram sentimentos similares.
Aqueles que haviam duvidado, depois da revolução de 1848, que seu pais
conseguiría um dia unificar-se agora se regozijavam. E tudo se tornara possível
graças ao gênio de Bismarck, a cujos feitos ecoavam louvores através do pais. O
futuro parecia brilhante, e os primeiros anos que se seguiram à unificação
atenderam às mais altas expectativas. No entanto, repentinamente, uma severa
crise econômica e financeira provocou uma amarga desilusão. No meio dessa crise,
Bismarck começou a sua disputa com a Igreja Católica - a “Kulturkampf’ -
e, em seguida, ao final da década de 1870, sua cruzada anti-socialista. Essas duas
lutas domésticas causaram uma insatisfação generalizada entre os católicos e os
trabalhadores que, através de seus respectivos partidos políticos - o Partido do
Centro e o Partido Social Democrático - formavam o núcleo da oposição ao
Governo. A esses dissidentes se juntaram os franceses da Alsácia-Lorena, os
guelfos de Hanover, os dinamarqueses do Schleswig-Holstein e os poloneses da
Prússia Oriental e Ocidental. Todos juntos formavam um grupo expressivo cuja
diversidade e tamanho refletiam o fracasso de Bismarck no plano interno.
Parece irônico que um homem que foi capaz, apesar de três guerras, de
convencer as potências européias de suas intenções pacíficas não tenha conseguido
um êxito semelhante em seu próprio país. Aparentemente, Bismarck jamais
entendeu as forças que transformaram a Europa Central de uma economia agrária
numa economia industrial e de uma sociedade rural numa sociedade urbana,
como também não apreciava as consequências dessas mudanças para a vida
política alemã. Seu objetivo era o de preservar a monarquia e a ordem social
estabelecida, baseada na nobreza, na burocracia e nas forças armadas. Apesar de
estar disposto a fazer concessões no campo econômico, ele se recusava a fazer o
mesmo em questões políticas. Uma vez que a unificação tornara desnecessárias as
guerras com outros países, Bismarck transferia a luta para o cenário interno; sua
luta contra os católicos e os socialistas podem ser consideradas como um artificio
para desviar a atenção popular de problemas pendentes de ordem social e
constitucional.
I
I
88 George O. Kent.
A atitude do próprio Bismarck não seguiu a opinião pública. Ele parece haver
decidido sobre a anexação posteriormente, embora seja impossível determinar
com precisão quando tomou uma decisão a esse respeito. Sabe-se que durante a
revolução de 1848 ele solicitara que Estrasburgo fosse novamente incorporada ao
“Reich”. Ele acreditava que a França odiaria a Alemanha e buscaria vingar-se de
qualquer maneira e, enquanto isso, a Alsácia-Lorena proporcionaria a tão
desejada segurança para a Alemanha meridional. Bismarck também acreditava
fortemente na “realpolitik”11, a qual exigia, a seu ver, a anexação de territórios
após uma guerra vitoriosa. (O exemplo de 1866 não contradiz este princípio,
porque o fracasso da Prússia de adquirir território austríaco fora compensado
pelas anexações prussianas na Alemanha Central). Este conceito de política de
poder exigia que a França fosse enfraquecida territorial, militar e economicamen
■ i
te. A França, antes da guerra, era muito superior à Alemanha em poder militar e
i■
econômico, e Bismarck, o líder de uma potência relativamente menor, não
poderia ter previsto que seu país eclipsaria a França nas décadas seguintes.
A saída para a crise parecia ser cada vez mais a adoção de tarifas protecionistas.
Ao mesmo tempo, a necessidade de reformas fiscais para tornar o “Reich”
independente dos estados, a promulgação de um novo orçamento militar e a
reorganização dos ministérios do “Reich” se combinavam para criar um impasse
entre Bismarck e a maioria liberal no “Reichstag”. A proposta de Bismarck de um
orçamento militar permanente era rejeitada pelos liberais que, pela primeira vez
desde a unificação, opunham-se ao governo17. Por pressão da opinião pública,
chegou-se a um compromisso e os gastos militares foram estabelecidos por lei para
um período de sete anos; tal lei tornou-se conhecida como “Septennat”. Ainda
assim, os liberais não estavam totalmente satisfeitos. A respeito das questões das
reformas fiscais e reorganização dos ministérios do “Reich”, eles desejavam que os
ministros fossem responsáveis perante o “Reichstag”, o que foi recusado por
Bismarck18.
próximo Pontífice como faz em relação a um general prussiano que levará suas
ordens ao clero católico na Alemanha e em outros lugares”27. Bismarck também
acreditava existir uma conspiração católica, envolvendo Áustria, Itália, França,
seus inimigos internos, e possivelmente a imperatriz Augusta28.
ter acreditado que com um sentimento público tão fone ele teria condições de
destruir num prazo cuno o Panido Democrático. O Chanceler considerava o
crescimento do Partido perigoso para a Monarquia e para a estrutura social e
religiosa do Estado; em política externa, tinha a preocupação de que o SDP, como
o Partido Católico do Centro, usasse suas ligações internacionais para aliar-se aos
inimigos da Alemanha. No rastro da recessão econômica de 1873 e do clima
generalizado antiliberal que havia no país, a situação parecia propícia para uma
campanha anti-socialista. Essa tendência no pensamento de Bismarck era reforça
da por seu desejo de contar com o apoio político dos conservadores em vez dos
liberais e de abandonar a postura de livre comércio do “Reich”39.
alcançar unia sólida maioria em favor do seu programa, Bismarck tentou várias
coalizões partidárias, assim como outras manobras externas47. Nenhum desses
arranjos funcionou por muito tempo e persistiu a ameaça de uma revolução. Não
havia solução para as contradições do sistema constitucional alemão. Da mesma
forma como o desfecho do conflito constitucional prussiano não resolvera a
contradição entre a monarquia prussiana e o governo constitucional, o “Reich” de
Bismarck não conseguiu reconciliar o poder real e a responsabilidade parlamen
tar. A única maneira de preservar a ordem existente contra as forças novas e
ascendentes da esquerda era a ameaça de um golpe de estado de cima para
baixo48.
|
Para Bismarck, o movimento socialista não era apenas um grave perigo ao
recém-criado Estado - seus aspectos internacionais faziam seus membros ipsofado
inimigos do “Reich” (“Reichsfeinde”) o socialismo era também uma filosofia
ímpia e um movimento imoral que buscava mudar a ordem da sociedade
estipulada por Deus. A seus olhos, isto era uma rebelião e as rebeliões tinham que
ser sufocadas49. A atitude de Bismarck em relação ao socialismo e ao movimento
operário pouco havia mudado desde os dias de março de 1848, quando, ultrajado
pelos vitoriosos levantes em Berlim, queria esmagá-los sumariamente. Se tanto, as
suas convicções haviain-se aprofundado. Como a maioria dos alemães, tinha os
seus sentimentos conservadores fortalecidos pelos acontecimentos republicanos
na França e sobretudo pelo levante da Comuna de Paris em 1870-71. Os
i. extremamente parciais informes da imprensa sobre esses acontecimentos, que
exageravam o “perigo vermelho”, mas silenciavam sobre os excessos perpetrados
pelas tropas francesas, atemorizavam o público e faziam com que o movimento
operário aparecesse como uma ameaça terrível ao Estado e à sociedade. A
declaração do movimento dos operários alemães, que expressava solidariedade à
Comuna, só aumentou esses temores50.
r
I
Bismarck e seu tempo 99
f
no Ruhr, em maio de 1889, defrontara o jovem imperador Guilherme II (que
sucedera seu pai no trono após a morte deste em 1888) com a luta dos
o trabalhadores alemães e o convencera da necessidade de uma legislação trabalhista
flD mais abrangente. Essa atitude aprofundou o conflito do imperador com o
co chanceler e contribuiu1 para a exoneração de Bismarck. Ao mesmo tempo, a
----------- ----------------
preocupação abertamente manifestada por Guilherme II deu respeitabilidade ao
partido. A impressionante vitória eleitoral do partido, limitada basicamente à
Alemanha do Norte, e áreas protestantes, pode ser, até certo ponto, explicada pela
crescente alienação dos trabalhadores da sociedade burguesa alemã, com sua
ênfase na educação e na propriedade (“Besitz und Bildung”)57
k
Bismarck e seu tempo 101
apolítico. De fato, o burguês alemão apolítico tinha medo das massas, suspeitava
do governo democrático e era firme em seu apoio às políticas conservadoras59. O
ideal burguês era o intelectual, mergulhado na leitura e completamente desinte
ressado dos assuntos cotidianos ou do conhecimento prático. Diferentemente de
seu colega inglês ou francês, o professor universitário alemão não tinha vínculos
com a comunidade dos negócios ou o mundo cosmopolita da aristocracia. Sem
contato com a pequena burguesia e os artesãos, o acadêmico alemão permanecia
isolado e desenvolveu uma fé exagerada na educação e um igualmente forte
desapreço pelas questões práticas. A educação tinha sido tradicionalmente a única
maneira para os membros da classe média alemã de melhorarem as suas situações
e, desde o século XVIII, muitos haviam escolhido esse caminho para entrar no ser
viço público e nas universidades.
1
Bismarck e seu tempo 103
I I
I !
NOTAS
1. W. Heyderhoff e P. Wentzke, eds., "Deutscher Liberalisiimus im Zeitaltcr Bismarcks” (Bonn, 1925),
1:494.
5. Ibid, p. 134.
6. Ibid., p. 338.
7. Stem, “The Failure of Illiberalism”, p. 47-48.
8. Como texto, veja J. Lepsius, A. Mendelssohn Bartholdy, F. Thimme, eds., Die Grosse Politik der
Europaeischen Kabinette, 1817-1914”, 40 vols., (Berlim, 1922-27), vol. 1, n? 17, pp. 38-43, de ora em
diante citado com a sigla G.P.
9. A anexação da Alsácia-Lorena, depois da guerra de 1870/71 tomou-se um dos maiores problemas
nas relações franco-alemãs e contribuiu para a deflagração da Primeira Guerra Mundial. A questão da
responsabilidade pela anexação há muito interessa os historiadores e, compreensivelmente, se fixou
em Bismarck. Ultimamente foi reavivada a controvérsia sobre o papel de Bismarck e foi publicada uma
série de artigos na “Historische Zeitschrift” e alhures, com interessantes opiniões.
O último relato, por H. U. Wehler, “Das ‘Reichsland’ Elsass-Lothringen von 1870 bis 1918” em
H. U. Wehler, d. “Krisenherde des Kaiserreichs, 1871-1918” (Goettingen, 1970) com uma exaustiva
bibliografia, em anotações nos rodapés, mostrando que, longe de resistir à anexação, Bismarck
favoreceu-a, o que nunca fora declarado por nenhum historiador. A questão de quanto e quão
abenamente ele a favoreceu levantou alguma controvérsia. W. Lipgens, em dois artigos, na
“Historische Zeitschrift” (“Bismarck, die oeffentliche Meinung und die Frage der Annexion von
1870”, H Z 199 (1964): 31-112, e “Bismarck und die Frage der Annexion von 1870” H Z 206
(1968):486-617, crê que Bismarck estimulou os reclamos populares pela anexação através de uma
campanha de imprensa bem coordenada, em julho-agosto de 1870. Argumentam contrariamente L.
Gall, “Zur Frage der Annexion von Elsass-Lothringen 1870,” H Z 206 (1968): 265-326, e E. Kolb,
“Bismarckund das Aufkommen der Annexionsforderungen 1870”, H Z 209 (1969): 318-56. O último,
apoiado por J. Becker, “Baden, Bismarck und die Annexion von Elsass und Lothringen,” em
“Zeitschreift fuer die Geschichte des Oberrheins” 115 (1967): 167-204, mostra que, em vez de
encorajar as demandas de anexação, Bismarck não influiu na opinião pública, ao menos até meados de
agosto de 1870. Ao contrário, a recuperação da Alsácia foi pedida unanimemente por todos os
segmentos da opinião pública alemã desde fins de julho e com frequência crescente à medida que se
acumulavam os sucessos militares alemães (E. Kolb “Bismarck und das Aufkommen”, p 353).
Wehler, não descendo a detalhes, menciona que a opinião pública alemã era fonemente
secundada pelos pronunciamentos de eminentes professores e publicistas, tais como Sybel, Treitschke,
Mommsen, Maurenbrecher e Lenz, que aconselhavam o povo a não repetir os erros de 1815. Wehler
também acredita que Bismarck mantinha vivas as demandas de anexação e as manipulava para fins
políticos. O exército pedia a anexação por motivos militares e estratégicos, embora os grandes
benefícios econômicos e industriais das jazidas de minério de ferro de Longwy-Brie ainda não fossem
conhecidos na época. (Veja, entretanto, G. W. F. Hallgarten, “Imperialismus vor 1914”, 2.* ed., 2 vols.
(Munique, 1963), 1:157-58; H. Boehme, “Deutschlands Veg zur Grossmacht (Colônia, 1966), pp.
301-2; e R. Hartshome, “The Franco-German Boundary of 1871”, World Politics 2(1949-50)”, pp. 209-50.
Do ponto de vista militar, a Alsácia-Lorena e as fortalezas de Belfort, Metz e Estrasburgo eram as
chaves da defesa do Noroeste da França, que o alto-comando alemão desejava usar como trampolim na
próxima guerra. As duas províncias e as fortalezas ofereciam também uma defesa necessária para o
Sudeste da Alemanha, especialmente Baden e o Palatinado.
G. Ritter, “The Sword and the Scepter,” 4 vols. (Coral Gables, Fia. 1969-73), também diz que
Bismarck sempre acreditou em fones salvaguardas contra a revanche francesa. “O próprio Bismarck...
ajudou a atiçar as chamas das paixões nacionalistas, embora nunca tocado por elas, e proclamou desde
o princípio como um dos objetivos da guerra... o “slogan” - a Alsácia-Lorena deve tomar-se alemã”.
Segundo Ritter, o principal alvo de Bismarck era uma paz duradoura, e a anexação das províncias “não
era para reivindicar antigos direitos de propriedade... mas proteger (a Alemanha)... contra o ataque
seguinte” (1:226, 254, 258).
108 George O. Kent.
R.I. Giesberg, em “TheTreatyof Frankfurt” (Filadélfia, 1966), também acredita que predomina
vam as considerações estratégicas na mente de Bismarck e que ele estava cheio de sentimentos
nacionais e não tencionava resistir às reivindicações populares (pp. 24-25).
Os únicos alemães que nâo eram dominados por argumentos militares foram Marx e Engels. O
último escreveu que somente os “asnos da imprensa oficial prussiana” poderíam imaginar que a Fran
ça podería ser contida pela anexação alemã da Alsácia-Lorena (citado por Wehler, “Das ‘Reichsland’
Elsass-Lothringen”, p. 22); quanto a Marx, achava que, em vez de garantir a paz, como sustentavam
alguns generais e publicistas alemães, a anexação da Alsácia-Lorena levaria ou a uma total dependência
germânica da Rússia ou a uma “guerra racial contra as raças eslavas e românicas aliadas”. (Karl Marx,
“Der Buergerkrieg in Frankreich” (Berlim, 1949) p. 36.
Dezessete anos depois, em 1887, o próprio Bismarck admitiu que havia uma possibilidade da
Alemanha ter de combater a França e a Rússia em futuro não muito distante (G. W., 7:378).
Wehler é de opinião que as anexações foram inevitáveis, dada a avassaladora vitória militar e os
sentimentos nacionalistas do povo germânico. Este pensamento também foi expresso por Guilherme I.
“Eu nâo pedi a Alsácia-Lorena no começo da última guerra”, disse a seu companheiro de leitura, “mas,
ao mesmo tempo, nâo podia deixá-la escapar se quisesse manter meu exército e meu povo”. (Citado
por Wehler, “Das ‘Reichsland’ Elsass-Lothrigen”, p. 330, n. 16.)
Veja também D. P. Silverman, “Reluctant Union: Alsace-Lorraine and Imperial Germany, 1871-
1918” (University Park, Pa., 1972), pp. 29-30 and n. 37.
11. Sobre a “Realpolitik” de Bismarck, veja os ensaios sob esse título por O. Pflanze, na Review of
Politics 20 (outubro de 1958), pp. 492-514, e H. Holborn, em “Thejoumal of the History of Ideas 21”
(janeiro, março 1960), pp. 84-98.
13. Para um relato bem detalhado, veja Wehler, “Bismarck und der Imperialismus”, pp. 53-84; e
também Stem, “Gold and Iron”, pp. 182-83.
14. Veja o cap. 7.
17. Até 1874, o orçamento do exército era governado pelo chamado orçamento “de ferro” de 1867.
Craig, “The Politics of lhe Prussian Army”, pp. 219 em diante.
18. D. S. White, *The Splintered Party: National Liberalism in Hessen and the Reich 1867-1918”
(Cambridge, Mass, 1976), pp. 55 em diante.
Bismarck e seu tempo 109
22. O desenvolvimento do livre comércio para o protecionismo foi, é claro, muito mais complicado do
que descrito neste resumo. Para detalhes, veja, inter alia, H. Boehme, “Big Business Pressure Groups
and Bismarck’s Turn to Protectionism 1873-1879”, Historical Journal 2 (1967); I. Lambi, “FreeTrade
abd Protection in Germany, 1868-1879”, (Wiesbaden, 1963), e Bom, “Structural Changes in German
Social and Economic Development at the End of the 19* Century”.
23. Knut Borchardt, “The Industrial Revolution in Germany, 1700-1914”, em C. M. Cipolia, ed.»
“The Fontana Economic History of Europe”, (Londres, 1871-4), pc 1, p. 155.
25. Boehme, “Deutschlands Weg zur Groissmacht”, pp. 419, 566-67. A única mudança mais decisiva
na recente historiografia germânica foi a mudança de ênfase da fundação do império, em 1871, à
passagem para o protecionismo, em 1879. Esta nova atitude desenfatiza os aspectos políticos e
organizacionais ligados a 1870-71 e acentua as mudanças econômicas, sociais edomésticas que tiveram
lugar desde 1875, como resultado da depressão de 1873. O mais notável defensor deste ponto de vista é
H. Boehme, que mostra a mudança de Bismarck nos anos 1875-81, do “laissez-faire” ao protecionismo
e da cooperação com os liberais à aliança com os conservadores como mais significativa no
desenvolvimento da Prússia-Alemanha do que a unificação e a fundação do “Reich” em Versalhes em
18 71. “A reconciliação com o Centro e, sobretudo, a transição dos grandes proprietários de terra para o
protecionismo marcou pontos (importantes) no caminho da reorganização do Estado prussiano-
germânico por Bismarck; uma reorganização equivalente a uma nova fundação do “Reich”.”
(Boehme, “Deutschlands Weg zur Grossmacht”, p. 419.)
26. Promulgada pelo Concilio do Vaticano, em 18 de julho de 1870, afirmava que o papa, falando ex
cathedra, t infalível em assuntos de fé e moral.
28. Sobre as simpatias pró-católicas de Augusta, veja, G. W., 15:336 e M. Busch “Bismarck, Some Secret
Pages of His History”, 3 vols. (Londres, 1893), 2:416. As interpretações da “Kulturkampf’ e os
motivos de Bismarck para assumir esta funesta luta têm sido influenciados por considerações religiosas
e ideológicas e até agora não apareceu um estudo definitivo, equilibrado, a respeito.
opinião de Kissling, a aliança de Bismarck com os liberais depois de 1871 levou a concessões em
assuntos religiosos e educacionais, sacrificando no processo os princípios conservadores cristãos. O
apoio do chanceler ao governo liberal da Baviera foi outro motivo de luta (1:365,390). Porém, não havia
um plano global definido; começou muito gradualmente. Nem a questão polonesa, nem o Partido do
Centro tiveram influência real sobre as políticas de Bismarck, contrariamente ao que se pensaria mais
tarde (3:357,360). Originalmente, Bismarck não tinha intenção de combater o Centro; em vez disso, ele
queria reconciliar o Centro com os Nacionais Liberais e manter relações amistosas com o papa. Porém,
quando os Nacionais Liberais levantaram a questão da intervenção germânica a propósito dos poderes
temporais do papa, Bismarck tinha de tomar partido. Entretanto, ele ainda esperava obter o apoio do
Centro, e pediu a Antonelli, Secretário de Estado papal, que orientasse o Centro para isso. Quando
Antonelli recusou, Bismarck rotulou o papa de “Reichsfeind” (inimigo do “Reich”), fazendo-o por
extensão ao Partido do Centro (3:361-63).
Neste filão, temos A. Wahl “Vom Bismarck der siebziger Jahre” (Tuebingen, 1920) e “Deutsche
Geschichte, 1871-1914”, 4 vols. (Stuttgart, 1926-36), que acreditava que Bismarck iniciou a “Kulturkampf”
prinápalmente para isolar a França e para ligar a Rússia e a Itália (que tinha suas próprias dificuldades
com a Igreja) mais solidamente à Alemanha. Nenhuma consideração política doméstica teve qualquer
influência nessa decisão.
Escrevendo na mesma época, mas tomando uma posição menos radical, E. Schmidt, “Bismarck
Kampf mit dem politischen Katholizismus” (Hamburgo, 1942), achava que o catolicismo político
tentou deixar sua marca no recém-estabelecido “Reich” e, quando fracassou, juntou-se à oposição
contra Bismarck. Assim, Bismarck foi forçado a lançar a “Kulturkampf ” para defender a obra de sua
vida (p. 6).
Uma visão mais equilibrada é apresentada por H. Bomkamm, “Die Staatsidee um Kulturkampf ”
(Munique, 1950), que sustenta ter sido Bismarck influenciado, tanto por considerações internas como
externas. Intemamente, Bismarck foi ameaçado pelas táticas parlamentares do Centro no apoio de seu
programa Para a segurança do novo "Reich”, este partido tinha de ser destruído e este era o único
objetivo de Bismarck na luta Seus motivos não eram baseados em nenhuma teoria de Estados, nem em
fundamentos ideológicos, porém, inteiramente em considerações políticas. “Ele não lutava por
nenhuma idéia nem em nome de uma filosofia protestante, hegeliana nacional-liberal ou critica de
que está repleta a ciência modema contra o dogma medieval. Seu único prindpio era realizar uma
divisão nítida entre a esfera religiosa e a política que ele via perigosamente mescladas pela própria
existência e política do Partido do Centro... (para ele, a “Kulturkampf ” era uma guerra preventiva no
plano doméstico” (pp. 65-66).
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Bismarck e seu tempo 111
35. Ibid., p. 215. Conversações entre o governo prussiano e o Núncio papal, iniciadas em julho de
1878.
37. Ibid.
38. Bismarck tinha acusado os líderes do SDP de alta traição, por se oporem à anexação da Alsácia-
Lorena e terem expressado simpatia pela Comuna de Paris.
39. V. Lidtke, “The Outlawed Party: Social Democracy in Germany, 1878-1890” (Princeton, 1966),
pp. 70 em diante.
40. “Medo da revolução, medo de perderstatus econômico, medo do futuro- estas eram as presunções
básicas subjacentes na eleição do verão de 1878”. (M. Stuermer, “Regierung und Reichstag im
Bismarckstaat, 1871-80” (Duesseldorf, 1974), p. 231.)
48. De acordo com Stuermer, “Regierung und Reichstag im Bismarckstaat”, p. 291. A essência do
problema constitucional germânico durante o império girava em torno do conflito insolúvel entre o
parlamentarismo e o cesarismo. Bismarck usava alguns elementos deste último para solapar a
representação parlamentar; ao mesmo tempo que apelava para plebiscitos, ameaçava com um golpe de
estado.
49. O. Vossler, “Bismarcks Ethos”, Historische Zeitschrift 171 (março, 1951), p. 290.
51. Citado por H. U. Wehler, “Das Deutsche Kaiserreich, 1871-1918’’ (Goettingen, 1973), p. 136.
60. F. K. Ringer, “The Decline of the German Mandarins: The German Academic Community, 1890
1933” (Cambridge, Mass., 1969) p. 121.
63. Stuermer, "Regierung und Reichstag im Bimarckstaat”, pp. 296-308. Um interessante e estimulante
artigo sobre a idéia de que Napoleào III e Guizot foram modelos para Bismarck é o de A. Mitchell,
Bonaparusm as a Model for Bismarckian Politics” e comentários subseqüentes por O. Pflanze, C.
Fohlen e M. Stuermer, no “Journal of Modem History 49 n9 2” (june, 1977): 181-209.
64. J.J. Sheehan, “Conflictand Cohesion among German Elites in the 19lh Century”, em Sheehan, ed.,
Imperial Germany”, pp. 62-92; a citação está nas pp. 82-83.
65. Bussmann, “Europa und das Bismarckreich”, in Gal, ed., “Das Bismarck-Problem”, pp. 325-27.
67. E. Deuerlein, “Die Konfrontation von Nationalstaat und national bestimmter Kultur”, em Shieder
e Deuerlein, eds., “Reichsgruendung 1870-71”. pp. 226-58.
68. G. L. Mosse, “The Crisis of German Ideology” (N. York, 1964); F. Stem, “The Politics of Cultural
Despair” (Berkeley, CaL, 1961') em toda a obra.
Bismarck e seu tempo 118
69. D. Gasman, “The Scientific Origins of National Socialism” (N. York, 1971) p. XXIII. Veja também
H. G. Zmarzlik, “Social Darwinism in Germany, Seen as an Historical Problem”, em Holbom, ed.,
“Republic to Reich” (N. York, 1973). p. 435.
71. P. Pulzer, “The Riseof Political Anti-Semitism in Germany and Áustria” (N. York, 1964), pp. 76-96.
74. Stern, “Gold and Iron”, p. 528r- Veja também W. T. Angres, "Prússia’sArmy and thejewish Reserve
Oflicer Controversy before World War I”, em Sheehan, ed., "Imperial Germany”, pp. 97-100.
75. Messerschmidt, “Die Armee in Staat und Gesellschaft - Die Bismarckzeit”, 102-7.
76. K. H. Hoefele, “Geist und Gesell schaft der Bismarckzeit, 1870-1890” (Goettingen, 1967), pp. 22
em diante.
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7. A POLÍTICA EXTERNA DE BISMARCK
Uma crise nas relações franco-alemãs, iniciada pela queda de Thiers, iria logo
testar a força da recém-formada Liga dos Imperadores7 _Arecuperação econômica
francesa se fez de forma mais rápida e completa do que fora esperada e o governo
francês foi capaz de saldar a indenização de guerra de cinco bilhões de francos
antes do prazo, o que resultou na completa evacuação das tropas alemãs do
território francês em setembro de 1873. Esse fato, combinado com a reorganiza
ção e o fortalecimento do exército francês, provocou uma considerável ansiedade
no Estado-Maior alemão. Após a derrota de 1870, o exército francês havia
reorganizado sua estrutura de treinamento e de organização, acrescentando um
quarto batalhão a cada regimento no início de 1875. Nesse mesmo período,
rumores de compras francesas em grande escala de cavalos e forragem alarmaram
o comando militar alemão e levaram Moltke, chefe do Estado-Maior, a advogar
uma guerra preventiva contra„a França8.
l
Bismarck e seu tempo 119
Desta feita, os russos acreditaram ter obtido das potências carta branca para
executar seu mandato, caso o governo turco deixasse de cumprir para com suas
obrigações. Se a Rússia pudesse assim agir com rapidez e decisão, ela teria boas
chances de fazer valer, junto à Turquia, sua vontade, independente de interferên
cias externas. Tal oportunidade apresentou-se quando da recusa, em 9 de abril,
pelo sultão, do Protocolo de Londres. No dia 24 de abril, a Rússia declarou guerra
à Turquia. Em que pesem a superioridade militar e os êxitos iniciais russos, os
turcos terminaram por conter o avanço russo em Plevna. Quando a fortaleza
finalmente se rendeu em 10 de dezembro, as tropas russas não possuíam mais
forças para capturar Constantinopla, negociando-se, por fim, um armistício em 31
de janeiro de 1878, com as tropas russas acampadas nos arredores da cidade. As
l
Bismarck e seu tempo 121
A Aliança dos Três Imperadores revelava-se, para todos os efeitos, morta. Nem
por isso representava grande perda. Sua eficácia era quando muito marginal,
122 George O. Kent.
Por vezes, a ameaça (se era verdadeira ou não, não importa) de uma coalizão
hostil-austro-russa, franco-russa, ou mesmo austro-franco-russa, a antiga aliança
Kaunitz - parece ter dominado seus pensamentos e o levado a atividades ainda
mais frenéticas. Isto talvez tenha sido o caso imediatamente antes da conclusão da
aliança com a Áustria. A revelação da iminência da renúncia de Andrassy da pasta
de Ministro das Relações Exteriores da Áustria levou Bismarck a apressar a
negociação da aliança27. Andrassy e Bismarck rascunharam os termos, em Viena,
em 24 de setembro, e assinaram a aliança, em 7 de outubro de 187928.
Foram várias as razões para essa atitude de Bismarck. Pela altura do outono de
1887, muitos líderes do exército, Molke e Waldersee entre outros, estavam
convencidos de que um conflito com a Rússia era inevitável; recomendavam que
se fizesse uma guerra preventiva44. Estavam especialmente preocupados pelo fato
da Rússia estar fazendo extensas construções na fronteira alemã oriental e
argumentavam que empréstimos alemães à Rússia teriam financiado essas obras.
Alguns industriais alemães apoiavam os líderes militares ao lembrar que esses
recursos seriam melhor investidos em casa, onde contribuiríam para reduzir as
taxas de juros e ajudar a indústria alemã a superar a barreira tarifária russa. Como
conseqüência das altas barreiras tarifárias russas impostas aos bens industriais
alemães, as exportações alemãs para a Rússia tinham declinado, ao passo que
exportações russas para a Alemanha tinham aumentado; também haviam
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as pressões em favor de colônias, Bismarck as atendia55. Ele o fez por várias razões.
Esperava que ao conquistar novos mercados, se obteria, domesticamente, prospe
ridade e estabilidade econômicas, e que não se perturbariam as tradições sociais.
NOTAS
1. F. Fischer, “Der Krieg der Ilusionen”, caps. 4-6, toda a obra.
4. A avaliação da política exterior de Bismarck, similar à de sua política doméstica, tem mudado
consideravelmente desde a publicação da “Grossie Politik” em 1920. W. L. Langer, em sua “European
Alliances and Alignments” (N. York, 1931), acreditava que “nenhum outro estadista de sua estatura
tinha mostrado antes a mesma moderação e senso político dentro do possível e do desejável” (pp.
503-4). Vinte e cinco anos mais tarde, depois de outra guerra mundial, as opiniões não eram mais tão
favoráveis. A. J. P. Taylor “o sistema do chanceler ... algo como uma escamoteação, como peça de
virtuosismo consciente. Uma vez principiado o caminho das alianças, Bismarck as tratava como
solução para todos os problemas”. (“TheStrugglefor Mastery in Europe", p. 278). W. N. Mcdlicott, em
“Bismarck, Gladstone and the Concert of Europe” (Londres, 1956), escreve que “se Bismarck queria a
paz queria-a em seus termos; sua filosofia da vida internacional permaneceu fundamentalmente
combativa e pessimista e ele não pôde descobrir uma base confiável de sobrevivência nacional diversa
da acumulação e manobra de uma força superior... Bismarck era singularmente não convincente como
grande arquiteto da paz: os estados estrangeiros eram principalmente cônscios das potencialidades
agressivas de sua diplomacia ... Um considerável problema para os estudiosos de sua diplomacia
posterior é, de fato, saber até que ponto ele era vítima dos pesadelos de sua próprias criações”, (pp.
11-12).
Além das considerações políticas e diplomáticas, houve tentativas, especialmente depois de 1945,
de examinar a política exterior de Bismarck em perspectivas mais amplas. O dogma da primazia da
política externa, expresso por Ranke na primeira metade do século dezenove e sustentado pelos
historiadores alemães até a segunda metade do século vinte, foi desafiado, pela primeira vez, por E.
Kehr, em sua “Schlachtflottenbau und Parteipolitik, 1894-1901“ (Berlim, 1980). Seu método inovador
de examinar os problemas e políticas domésticos e sua influência na política exterior não foram bem
recebidos na época e não foram seguidos até depois da Segunda Guerra Mundial. Desde então,
historiadores alemães ocidentais, como Rosenberg, Boehme e VVehler, têm vinculado as condições
sociais e econômicas à política exterior, enquanto, na Alemanha Oriental, Jerusalimski, Wolters,
Kumpf-Korfes e Engelberg seguiram a tradição da historiografia marxista, que tradicionalmente
132
George O. Kent.
considerava as condições econômicas e sociais como base da política exterior. (H. Wolters, “Neue
Aspekte in der Buergerlichen Historiographie der BRD zur Bismarckschen Aussenpolitik 1871 bis
1890".Jahrbuch fuer Geschichte 10 (1974), pp. 507-39, e G. G. Iggers, “New Directions in European
Htstonography" (Middletown, Conn. 1975), pp. 96-98.
5. Depois da derrota da Áustria, emem Koeniggraetz, em 1866, foi estabelecido um novo sistema
consdtuáonal e nos termos do Acordo de 1867 a Hungria obteve maior autonomia dentro do império.
Dal até 1918 o titulo oficial foi Monarquia Austro-Húngara. Neste estudo‘será usada para maior
conveniência a expressão Áustria, para referir-se ao império e seu governo.
9. E. Eyck, Bismarck , 3:160-61: para um tratamento recente da crise, veja Hillgruber, “Deutsche
Grossmacht-und Weltpolitik” (Duesseldorf, 1977) pp. 35-52.
10. Em relação ao papel de Henri de Blowitz neste caso, veja H. S. de Blowitz, “My Memoirs
(Londres, 1903), pp. 106 em diante, e F. Giles, “A Prince of Journalists: The Life and Time of Henri
Stefan Opper de Blowitz" (Londres 1962), pp. 80 em diante.
12. N. Rich e M. H. Fischer, eds. “The Holstein Papers”, 4 vols. (Londres, 1955-63) 1: 124.
13. O pan-eslavismo foi um movimento fracamente coordenado entre os povos de língua eslávicada
Europa (russos, bielo-russos, ucranianos, poloneses, checos, eslovacos,
sérvios, croatas, eslovenos,
macedônios e búlgaros), principalmente durante o século 19, em que afirmavam
e, por vezes, o desejo de uma união política. Não era de origem russa, porém era suao-unidade cultural
-----------------
temido como tal na Europa Ocidental em geral, sem justificativa, tido como meio de reforçoolhado
largamente da açãoe
russa nas relações internacionais e de facilitar sua expansão no continente”. J. Dunner, “Handbookof
World Htstory” (N. York, 1967), pp. 680-81.
14. R. Wittram, "Bismarcks Russlandpolitik nach der Reichsgruendung ”, Historische Zeitschrift 186
(dezembro, 1958), pp. 261-84.
16. A indagação russa de 1» de outubro de 1876 foi resultado de carta de Guilherme para o czar, em que
o imperador alemão expressava sua apreciação pela política russa com a Prússia de 1864 até 1870/71.
Essa autude, escreveu Guilherme, “determinarã minha política com a Rússia, haja o que houver"
(Citado por Bussmann, “Das Zeitalter Bismarcks", p. 133; veia também Wittram, “Bismarcks
Russlandpolitik”, pp. 269-70.
17. M. S. Anderson, “The Eastem Question, 1774-1923” (N. York, 1966), p. 193.
18. Veja W. N. Medlicott, “The Congress of Berlin and After” (Londres, 1938), pp. 10-13.
19. Ibid.caps.2e3. Não estâ bem claro porque Berlim foi escolhidaeaquemcabealocalizaçâo. Parece
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que Andrassy tinha proposto Viena em fins de janeiro de 1878, quando i Rússia objetou e sugeriu
Bismarck. e seu tempo 133
Bruxelas ou Baden-Baden. Em outra versão, Bismarck teria sugerido Viena e Andrassy Berlim;
aparentemente também Gorchakov concordara com Berlim. A escolha de Berlim foi, sem dúvida, uma
concessão à Rússia, para induzi-la a participar do Congresso e Gorchakov apreciara o gesto. A.
Novotny, “Quellen und Studien zur Geschichte des Berliner Kongresses 1878” (Graz, 1957) 1:51-52.
20. E. Eyck, “Bismarck” 3:253. No entanto, veja Medlicott, “The Congress of Berlin and After”, p. 22.
“Bismarck desempenhou um papel eminentemente negativo durante esta crise nos destinos da Rússia,
e se esta nào tinha direito a reclamar seu apoio também nào teve razão para agradecer sua amizade.”
21. E. Eyck, “Bismarck” 3:267. O apoio de Bismarck à Inglaterra foi como reconhecimento da estreita
cooperação entre Andrassy e Disraeli (os acordos existentes entre a Rússia e a Áustria). Seu objetivo era
evitar uma guerra generalizada e deixar a questão balcânica em aberto, de modo que a Alemanha
retraindo-se disso tirava proveito. (Hillgruber, “Bismarcks Aussenpolitik”, p. 152).
22. Os historiadores ofereceram várias explicações para a aliança com a Áustria. A velha escola,
representada por E. Brandenburg, via-a simplesmente como assunto comum de política exterior.
Bismarck concluiu a aliança como defesa ante uma ameaça de ataque russo, embora não julgasse a
Rússia um inimigo permanente. (“Von Bismarck zun Weltkrieg”, 2? ed. (Berlim, 1924), p. 11.
Semelhante opinião é a de W. Windelband, “Bismarck und die europaeischen Grossmaechte, 1879-
1885” (Essen, 1942), que na base de muito material novo e inédito concluiu que Bismarck se viu
forçado a dirigir-se á Áustria em razão das crescentes dimensões do exército russo e das possibilidades
da Rússia se juntar a uma coalizão antigermânica (p. 54).
A. J. P. Taylor cita causas mais complicadas em seu magistral e estimulante estudo sobre a diplo
macia européia do século 19. De acordo com Taylor, Bismarck teria preferido recriar a Santa Aliança,
mas as suspeitas da Áustria em relação à Rússia o tinham evitado; ele estava mais preocupado com a
turbulência austríaca do que com a agressão russa e um meio de controlar a Áustria era fazer uma
aliança com ela. Era “uma suspeita, segundo os liberais, que ele estava abandonando os assuntos
internos. Embora não lhes desse uma "Alemanha Maior”, dava-lhes uma união das duas potências
germânicas, baseada nos sentimentos nacionais”. ("The Struggle for Mastery in Europe, p. 259). Walter
Bussmann, em "Das Zeitalter Bismarcks”, acha que a aliança corporifica o conceito da "Mitteleuropa”.
A possível ameaça de uma aliança austro-franco-russa, a velha coalizão de Kaunitz da Guerra dos Sete
Anos, compeliu Bismarck a formar a aliança dualista (pp. 140-141). Na opinião de A. Hillgruber,
Bismarck concluiu a aliança no momento em que a Rússia estava se aproximando da Alemanha para
restabelecer relações amistosas, cuja formalização pretendeu assim apressar ("Bismarcks Aussenpolitik”,
p. 156). Quem tratou mais recente e detalhadamente do acordo dualista foi B. Waller, “Bismarck at the
Crossroads” (Londres, 1974). Waller acredita que a inimizade pessoal entre Bismarck e Gorchakov, em
combinação com a questão romena, tornou a aliança alemã com a Áustria desejável (caps. 4, 7-9).
veia Waller Maste™'n Europe", p. 261. Sobre a luta de Bismarck com o imperador,
veja Waller, B.smarck at the Crossroads”, p. 192 e n° 40.
36. Medlicott, “Bismarck, Gladstone and the Concert of Europe”, pp. 335-36.
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I
i' sem salda” d?;” ' lu ^Í°S) l3™'" no futuro, a Rússia cairía na armadilha do “beco
"Bismarcks Russlandspoli fik”, m»""* Caído 5e nâo fosse a Alemanha deter a Áustria. (Wittram,
43. W. L. Langer, “The Diplomacy of Imperialism”, 2.* ed. (N. York, 1951). cap. 1.
47. Ibid., p. 178. Veja também Stem, “Gold and Iron”, pp. 440-50.
48. Wehler, “Krisenherde des Kaiserreichs, 1871-1918” pp. 179-80, esp. n.° 44. Não acredito no que
Wehler diz, que a ação de Bismarck determinou o curso fatal da Alemanha. Bismarck pode ter
apontado nessa direção, mas seus sucessores é que resolveram reforçar, em vez de refrear essa
tendência.
49. Citado por G.W.F. Hallganen, “War Bismarck ein imperialist?” “Geschichte in Wissenschaft und
Unterricht” (maio de 1971), p. 262.
51. Strandmann, “Domestic Origins of Germany’s Colonial Expansion under Bismarck”, p. 149 n? 36;
G W , 13:383.
53. Ibid. p. 129 n? 18. A discussão se Bismarck era ou não um imperialista despertou muito interesse
entre os historiadores. Como uma das mais recentes interpretações, vide artigos de Hallganen-Wehler
mencionados no ensaio bibliográfico. Bismarck usou o caso colonial em 1884 para seus próprios fins.
“Se é absurdo supor que Bismarck permitira que alguns entusiastas coloniais mudassem e insultassem
sua política exterior, é ainda mais absurdo acreditar que Bismarck, que se recusara a desculpar
ambições germânicas na Europa, sucumbisse pessoalmente a ambições ultramarinas”. (“The Struggle
for Mastery in Europe” p. 293-94). Segundo K. Buettner, “Die Anfaenge der deutschen Kolonialpolitik
in Ostafrika”, Berlim, 1959, entretanto, a oposição inicial e o entusiasmo futuro pelas colônias estava
inteiramente dentro do espírito da época. Sua oposição em 1868 estava de acordo com a atitude
predominante de “laissez-faire” e sua futura conversão às colônias seguia as tendências dos negócios e
dos interesses comerciais, Bismarck nào tinha um esquema para aquisição de colônias, e até 1880 a
bandeira alemã seguia o comércio alemão. A atitude em face das colônias não era senão um reflexo das
lutas políticas domésticas e, como político prático, Bismarck mudou seus pontos de vista por volta de
1885 (pp. 23-25).
G. W. F. Hallganen, em “Imperialismus vor 1914”, diz que foi Von Kusserow, funcionário do
Ministério do Exterior alemão, quem lançou as linhas principais da polídca colonial germânica e quem
persuadiu um Bismarck relutante a segui-las (1:206-22). H. U. Wehler, em “Bismarck’s Imperialism
1862-90”, em Wehler, ed., “Krisenherde des Kaiserreichs, 1871-1918”, pp. 113-34, considera o
imperialismo de Bismarck resultado de uma tensão doméstica insolúvel. Segundo Wehler, nào houve
solução de continuidade nos pontos de vista de Bismarck em 1884-86; ele ainda acreditava que um
império informal era preferível a uma administração colonial dirigida pelo Estado. Bismarck era um
imperialista pragmático, que nào era motivado nem pelo prestígio, nem por uma missão germânica ou
poderio mundial. Ele acreditava que as colônias podiam assegurar um crescimento econômico seguro
e salutar e preservar a hierarquia social e a estrutura polí tica existentes. Para abrandar os efeitos da crise
econômica no outono de 1882, o governo não tinha escolha além da expansão ultramarina, o que fez.
Lr <
I
136 Gcorge O. Kent.
criando subsídios para as exportações e para as empresas de navegação e promovendo novos acordos
comerciais. O fim das políticas de livre comércio pelas outras nações e a crescente competição
comercial tomaram inevitável a intervenção direta do Estado. Sentia-se também nos círculos
governamentais alemães e na comunidade dos negócios que a corrida internacional pelas colônias
estava por acabar e se a Alemanha não agisse depressa seria tarde. Para Bismarck, as colônias eram um
meio de ajudar o comércio exportador alemão e, portanto, a economia alemã. Ele também usou
políticas coloniais para efeitos eleitorais, para abafar sérias tensões políticas e sociais, para fortalecer sua
posição de poder bonapartista-ditatorial e para aumentar a popularidade periclitante e o prestígio do
governo. Veja também P. M. Kennedy, “German Colonial Expansion”, Past and Present 54 (fevereiro
de 1972), pp. 134-41, e K. J. Bade, “Friedrich Fabri und der Imperialismus in der Bismarckzeit:
Revolution, Depression-Expansion”, (Zurique, 1975).
58. Strandmann, “Domestic Origins of Germany’s Colonial Expansion under Bismarck”, p. 158 n? 74.
ainda era, evidentemente, necessário por ainda uns poucos anos, mas após isso as
suas funções seriam distribuídas e algumas delas seriam assumidas pelo próprio
imperador”. E, segundo o capelão da Corte, Stoecker, o imperador dissera:
“daremos ao velho mais seis meses, então eu mesmo governarei”2.
Mas havia outras questões mais substantivas que precipitaram uma grave crise
entre os dois homens. Uma situação interna cada vez mais difícil parecia indicar o
fracasso do sistema misto de governo de Bismarck por volta do fim da década de
1880. As pressões combinadas dos liberais e dos socialistas por reconhecimento e
por um governo parlamentar mais responsável já eram irresistíveis; a manipulação
das maiorias parlamentares, ameaças de guerras e aventuras coloniais não mais
produziam os efeitos desejados. Duas questões exigiam uma atenção quase
imediata: a prorrogação das leis anti-socialistas e a adoção do novo orçamento
militar. Supunha-se que nenhuma das duas obteria a aprovação do “Reischstag”3.
1
Bismarck e seu tempo 139
i
estendería o seu apoio ao estabelecimento dos poderes temporais do Papa e, assim,
indisporia a Itália. (A mesma ameaça e temor de uma conspiração católica nos
planos interno e externo que Bismarck propagara com tanto êxito durante a
“Kulturkampf ” era agora usada pelos defensores do imperador contra ele.) Os
ganhos dos democratas-sociais, de outro lado, significavam para os conservadores
que a revolução estava próxima. Nessa situação bastante confusa, era razoável que
Bismarck pensasse que sua posição seria fortalecida e que não se pensaria mais em
sua demissão; quem mais na Alemanha seria capaz de controlar essas condições
políticas caóticas e preservar a ordem estabelecida?
Essas manobras revelam que a polídca partidária teve muito mais responsa
bilidades na crise do que até então se acreditava. A demissão de Bismarck não deve
ser vista como um voto popular de desconfiança nem como uma indicação do
poder do “Reichstag”, mas sobretudo como uma questão de política de poder. O
11
140 George O. Kent.
NOTAS
1. M. Balfour, “The Kaiser and His Times" (N. York, 1972), pp. 139-40; Craig, “The Politics of the
Prussian Army”, p. 239.
3. O seguinte é baseado em J. C. G. Roehl, "The Desintegration of the Kartell and the Politics of
Bismarck’s Fali from Power 1887-1889?" Historical Journal 9 (1966), pp. 60-89; e pelo mesmo autor
“Staatsreichplan oder Staatsreichbereitschaft? Bismarcks Politik in der Endassungskrise", Historische
Zeitschrift 203 (dezembro de 1966), pp. 610-24.
4. Um dos primeiros livros sobre a crise da demissão é de P. Liman, "Fuerst Bismarck und seie
Endassung" (Berlim, 1904), faz um relato bajulatório do Chanceler e de suas políticas e atribui a
demissão à diferença de idade e de temperamento entre ele e o imperador. O livro é baseado
prindpalmente nas memórias de Bismarck e só crítica por alto a Guilherme 11. Liman atribui a crise a
intrigas burocráticas e da Cone.
G. Freiherr von Eppstein, “Fuerst Bismzrcks Endassung" (Berlim. 1920), usando os papéis
póstumos particulares do antigo Ministro de Estado e Secretário do Interior. Boetcher, e do antigo
chefe da chancelaria do “Reich”, Rottenburg, acredita que o choque entre ajuventude impaciente e o
velho cauteloso pode ser a causa da exoneração de Bismarck, mas descarta as intrigas como fator
preponderante. Boetcher, um dos mais próximos colaboradores de Bismarck durante seus últimos
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dez anos na Chancelaria, foi suspeitado e acusado de intrigante por Bismarck. Boetticher negou as
acusações em seus papéis e, por seu turno, acusou Herben Bismarck, filho mais velho de Bismarck, de
ter criado desconfiança entre os dois.
O primeiro relato Compreensivo da crise da demissão éode W. Schuessler, “Bismarcks Sturz
(Berlim, 1922). Ele apresenta a queda do chanceler, em pane, como uma desculpa moral; “Quem pode
negar que nossas calamidades começaram em tal tempo?... uma tragédia porque nosso herói- culpado
ou inocente - foi vítima de seu destino em pane feito por ele mesmo, em parte pelos deuses... mas tudo
isto, as muitas incompreensôes, a solidão do gênio, o passar do tempo, e a luta pelo poder não podem
absolver Guilherme II, julgado culpado perante a história: o dia de juízo foi 9 de novembro de 1918
(pp. vii a viii).
7. A facilidade com que Bismarck lançava mão da ameaça de golpe de estado é persuasivamente
apresentada por Stuermer, “Staatsreichgedanken im Bismarckreich", pp. 566-615.
10. Uma edição crítica e atualizada de “Reflections and Reminiscences” pode ser encontrada em G. W.,
vol. 15.
11. “Goetz von Berlichingen", um dos primeiros e mais conhecidos dramas de Gõethe, trata de Goetz,
o cavaleiro independente e amante da liberdade, durante a Guerra dos Camponeses que, embora
desrespeitando as leis e os homens, permaneceu leal ao imperador.
9. BISMARCK REAVALIADO
O século XIX era para a Alemanha mais do que para qualquer outro país um
período de mudança. Em seu despertar - no Congresso de Viena, - não existia até
mesmo um Estado alemão: em vez disso, havia uma conglomeração de estados
médios e pequenos, monarquias, ducados, estados eclesiásticos e cidades livres, -
a maioria dos quais empobrecidos e rurais, com poucas cidades grandes -, ligados
por poucos rios importantes e algumas estradas em más condições. No fim do
século, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha era o principal país
industrial do continente, unificado, fone, largamente urbanizado e expandindo o
seu comércio para os quatro cantos do mundo.
Bismarck, como a maioria dos homens, tinha algumas lacunas visíveis. Sua
imaginação criativa, energia e rara intuição política eram prejudicadas por uma
*
Este ensaio diz respeito primordialmente a livros e artigos publicados após 1945;
os em inglês aparecem primeiro, seguidos por aqueles em alemão.
menril ^g^s artigos sobre a política exterior de Bismarck que devem ser
“Studíp113 rv i Langer> Bismarck as a Dramatist”, em A. O. Sarkissian, ed.,
York 19,™'Plom3t2cHist°ryandHistoriographyinHonourofG.P.Gooch”(N.
marck’ Rein rv SObre BÍSmarck 6 ° d«pacho de O. Pflanze, “Bis-
Realnnr.1,” P,° ’,Thc Reviewof PoIitics 20 (1958), e H. Holbom, “Bismarck’s
sobre *' H °f the History of Ideas 21 (1960), são o que há de melhor
HistoZ r aSS,UontO- R- H- Lord’ “Bi^arck and Rússia in 1863”, American
baseado em d'*<outu^ro de 1923), avalia a Convenção de Alvensleben,
Austro-Pm«t w em?S G A' Kert6SZ1 “Reflections on a Centenary: The
ar of 1866 ’, Htstorical Studies of Australia and New Zealand
Bismarck e seu tempo 147