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A Filosofia dos Filósofos

Pré-Socráticos
Sumário

A Filosofia dos Filósofos Pré-Socráticos


Objetivos....................................................................... 03
Introdução..................................................................... 04
1. Escolas Pré-socráticas e seus Principais
Representantes..................................................... 05
1.1 Tales de Mileto.................................................... 07
1.2 Anaximandro de Mileto....................................... 08
1.3 Anaxímenes de Mileto......................................... 10
1.4 Pitágoras de Samos.............................................. 12
1.5 Heráclito de Éfeso............................................... 14
1.6 Parmênides de Eleia............................................. 14
Referências Bibliográficas............................................... 17
Objetivos
Ao final desta unidade, você deverá apresentar os seguintes
aprendizados:

• Conhecer as principais ideias dos filósofos da escola


jônica e identificar suas contribuições para o progresso do
conhecimento humano;
• Conhecer as principais ideias dos filósofos das escolas
pitagórica e eleata e identificar suas contribuições para o
progresso do conhecimento humano;
• Conhecer as principais ideias dos filósofos da escola da
pluralidade e identificar suas contribuições para o progresso
do conhecimento humano.

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Introdução
Os pré-socráticos não se consideravam filósofos. O termo
“pré-socrático” foi usado tardiamente, já com a última geração desses
filósofos. Se Sócrates era contemporâneo de alguns ditos pré-socráticos
e designados como “filósofos”, logo, Sócrates é o ponto de partida do
termo, pois, a partir do momento em que Sócrates recebe o título de
pai da filosofia ocidental, todos os pensadores que antecederam este
período são considerados filósofos pré-socráticos.

Mas será que todos os pré-socráticos consideravam Sócrates


como filósofo? A importância desse questionamento é que, ao
investigarmos os filósofos pré-socráticos, estamos nos remetendo às
origens da filosofia ocidental.

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1. Escolas Pré-socráticas e seus Principais
Representantes
De acordo com os vários estudos históricos da filosofia, os
pensadores que antecedem Sócrates, Platão e Aristóteles – os três
filósofos da antiga Grécia mais apreciados pelos grandes intelectuais do
ocidente – são conhecidos pelo termo “pré-socrático”. Contudo, esta
não é a melhor maneira de identificar esses pensadores.

A singularidade de cada pensamento, as suas respectivas


contribuições para as ciências da natureza, para as ciências matemáticas
e para a própria filosofia não podem ser ofuscadas por uma
nomenclatura, visto que reduziria estes primeiros sábios da filosofia a
uma pré-história da ideia de razão, que possivelmente só se consolidaria
com os trabalhos intelectuais dos atenienses.

Os pensamentos e os ensinamentos de Tales, Anaximandro,


Anaxímenes, Pitágoras, Heráclito, Parmênides, entre muitos outros,
ecoam desde o século VI a.C. até os nossos dias atuais por meio dos
estudos da geometria, da aritmética, da música, da física, da filosofia e
de tantas outras disciplinas que compõem o nosso complexo quadro das
ciências e filosofias.

A filosofia é filha das prósperas colônias greco-jônicas,


localizadas na região litorânea da atual Ásia Menor. Porém, mesmo que
o grande pensador grego Aristóteles tenha se referido a Tales de Mileto
como o primeiro filósofo, estes primeiros sábios ainda não utilizavam

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os termos “filósofo” ou “filosofia”. Mas, então, como entender o
significado da filosofia e o que faz os primeiros pensadores se tornarem
os primeiros filósofos para os grandes pensadores ocidentais?

Ainda no período entre os séculos IX a.C. e o V a.C., a


educação pública era exercida nas principais pólis gregas por meio de
transmissões orais de cantos poéticos musicalizados. Desta maneira, o
grego era introduzido na cultura, nos valores, no conjunto dos saberes,
ou seja, ele passava a deter, oralmente, a enciclopédia da história
cultural de seu povo.

Com o aparecimento dos filósofos, o exercício do estudo, da


formação e da partilha do conhecimento ganha um contorno diferente.
Agora, a experiência do novo saber acontece em estudos e partilhas por
meio de textos escritos, em forma de prosa. Não há uma preocupação
de resguardar as narrativas tradicionais, mas, sim, de expor uma teoria
capaz de explicar os fenômenos da natureza e da sociedade por meio de
noções cósmicas geométricas, sem qualquer interferência sobrenatural
em suas explicações.

É por esse motivo que os primeiros filósofos são chamados


de filósofos naturalistas: porque buscavam uma visão de mundo capaz
de revelar os mistérios do universo dentro de um quadro conceitual
adequado para organizar a natureza em referências geométricas e em
conceitos realistas rigorosamente conceituados. O mundo não poderia
mais ser entendido em meio às disputas divinas, mas, sim, como um
sistema de coisas racionalmente existentes e organizadas.

Para ratificar esses conceitos, o professor Jean- Pierre Vernant


(1990, p.381) nos diz que:

Assim se reconstitui, por detrás da natureza e além das


aparências, um pano de fundo invisível, uma realidade mais
verdadeira, secreta e escondida, que o filósofo se encarrega de
atingir e da qual ele faz o próprio objeto de sua meditação.
Ao se prevalecer desse ser invisível contra o visível, do
autêntico contra o ilusório, do pensamento contra o fugaz, do
certo contra o incerto, a filosofia substitui, à sua maneira, o

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pensamento religioso. Ela se situa no próprio quadro que a
religião havia constituído quando, ao colocar além do mundo
da natureza as forças sagradas que, no invisível, asseguram o
seu fundamento, ela estabelecia um contraste entre os deuses
e os homens, os imortais e os mortais, a plenitude do ser
e as limitações de uma existência fugaz, vã, fantasmática.
Entretanto, a filosofia opõe-se à religião até nesta aspiração
comum em ultrapassar o plano da simples aparência para
ascender aos princípios ocultos que as confortam e as
sustentam.

A filosofia é a arte que busca conhecer racionalmente tudo o


que existe, do cosmo ao mais simples ser. Para começarmos essa viagem
em busca do conhecimento, vamos analisar as contribuições de cada
pré-socrático.

1.1 Tales de Mileto

Segundo a tradição dos historiadores da filosofia, Tales foi


o primeiro filósofo, geômetra e matemático. Natural da cidade de
Mileto, nasceu entre o final do século VII e o início do século VI a.C.
e pertenceu ao mundo greco-jônico da Ásia Menor. Considerado um
dos sete sábios de sua época, Tales abriu espaço para o nascimento da
filosofia quando investigou:

1. Qual era a substância originária das coisas que compunha o


real;
2. Qual era a estrutura geométrica do mundo;
3. O que garantiria a ordenação funcional da natureza.

Tales poderia encontrar respostas as suas perguntas dentro


dos grandes mitos já coletados e cantados por Homero e Hesíodo,
porém não estava preocupado com as respostas que repousavam em
poemas ou cânticos tradicionais. Ele queria construir uma compreensão
da natureza bem diferente daquelas propostas feitas pelas teogonias
ou pelas cosmogonias mitológicas. Tales queria uma compreensão da
natureza a partir de uma História Física da Natureza.

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Então, respondendo à primeira questão apresentada, Tales
imaginou que a água fosse o princípio originário da realidade. Neste
caso, nem o sangue e nem qualquer ato divino é a causa da existência
das coisas presentes na natureza. Para o milesiano, a água era o
princípio fundamental existente para a realidade da natureza.

Já a segunda questão trabalhada por Tales tratava de


estabelecer uma forma geométrica para o mundo. Para manter-se
coerente a sua primeira conclusão, ele construiu um desenho figurativo
do planeta Terra em formato retangular e plano, que repousaria sobre
águas.

Por último, Tales entendeu que a força magnética dos ímãs


revelava que as coisas existentes no mundo estariam propícias a uma
força comum a todos: o pampsiquismo. O pampsiquismo era a tese
capaz de explicar a condição espacial de ajustamento de todas as coisas
para que, assim, o universo não fosse um caos.

1.2 Anaximandro de Mileto

Anaximandro também nasceu em Mileto, aproximadamente


no início do século VI a.C., e é provável que ele tenha sido discípulo
de Tales. É dele o tratado filosófico mais antigo encontrado até agora,
embora dos escritos intitulados “Sobre a Natureza” só tenhamos
herdado um pequeno trecho.

Tales e seu discípulo Anaximandro aprofundaram a


investigação sobre os fundamentos da natureza. Sendo assim,
Anaximandro entendeu que o princípio da natureza (arché) não poderia
ser algo como a água, pois, como um ente existente, ela já seria derivada
de algo anterior a si mesma.

Para Anaximandro, o fundamento do real deveria ser algo


infinito quantitativamente e qualitativamente, pois, só assim, são
possíveis derivações para a formação do mundo físico, tal como se
pudesse entender e o quanto fosse necessário.

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Este conceito de algo infinito, indeterminado (ápeiron)
pode ser entendido dentro da teoria da matemática dos conjuntos.
Para Anaximandro, a água era um elemento, um ente derivado de
propriedades e qualidades finitas.

Então, para o discípulo de Tales, a água não se adequava


à ideia de fundamento de todas as coisas existentes (fundamento
universal - arché). Somente algo indeterminado e infinito (ápeiron)
poderia assumir tais atributos de origem e fundamento de todas coisas
existentes, de tudo que é físico. O ápeiron é um conceito elementar
com mais possibilidades de derivações do que o conceito de água, que já
possui propriedades e qualidades definidas. Na lógica de Anaximandro,
do infinito e do indeterminado, é possível um número maior de
derivações de seres do que algo determinado e limitado como a água.

É importante observar o conceito de universalidade


desenvolvido neste trabalho de Anaximandro. Para ele, pelo fato da água
ter uma propriedade determinada e extensão limitável, ela não poderia
se desdobrar em tantas coisas como algo que não tem propriedade e
nem extensão definidas. A universalidade da ideia de ápeiron é uma
novidade, pois descobre-se que somente algo indeterminado e infinito
é capaz de assumir infinitas formas específicas. Logo, o que é mais
universal é sempre algo extremamente simples, embora por outro lado,
o que é mais particular seja algo mais concreto e real.

Por exemplo, o nome “Maria José da Silva” é específico a um


número menor de pessoas do que simplesmente o nome “Maria”. Por
sua vez, o termo “mulher” refere-se a um número maior de pessoas do
que o nome “Maria”. Ainda nesta lógica, o termo “ser humano” refere-
se a um número maior de pessoas do que o termo “mulher”. Logo,
em ordem decrescente, o termo “ser humano” é mais universal do que
“mulher”, que é mais universal do que “Maria” e que, por último, é
mais universal que “Maria José da Silva”.

Conforme a figura 1, Anaximandro observa que Ápeiron


(indefinido e infinito) é mais adequado para se definir o princípio de
toda natureza (água), como propôs Tales de Mileto.

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Massa Infinita, o Ápeiron.
Múltiplos mundos simultâneos, dentre eles o nosso.
Figura 1: Ápeiron (Infinito).

Depois de estabelecer o Ápeiron como elemento fundamental


de toda a natureza, Anaximandro também observa a existência de uma
dinâmica de criação e decomposição de todas as coisas à luz do tempo
(cronos – cronos).

A criação não é mais vista no horizonte da piedade divina,


mas, sim, a partir de uma dinâmica própria à natureza das coisas
materiais. O surgimento do mundo orgânico e inorgânico e suas
respectivas decomposições é algo próprio à materialidade da natureza.

1.3 Anaxímenes de Mileto

Anaxímenes é o terceiro na sucessão filosófica. Ele também


nasceu em Mileto e é um pensador do século VI a.C. Suas reflexões
ainda possuem tradição entre as narrativas míticas e a filosofia tal como
a conhecemos.

O princípio da natureza, do real ainda é a sua preocupação


especulativa. Nos seus escritos sobre a Natureza, Anaxímenes radicaliza
a questão do princípio da natureza: para ele, a água e o ápeiron (ar) são
conceitos que não podem esclarecer plenamente a dimensão plural e
realista da natureza.

Por isso, Anaxímenes lança a ideia de pneuma ápeiron (ar


indeterminado) como conceito central que identifica uma possível realidade

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capaz de dar origem à dimensão real e pluralista da natureza. Não podemos
confundir a ideia de ar com aquilo que conhecemos quimicamente como
O2 (oxigênio) ou até mesmo com quaisquer outros gases.

A ideia de ar (pneuma) remete a um conceito geral e abstrato


recorrente das antigas mitologias, que teriam características de
simplicidade.

Na figura 2, Anaxímenes representa o que seria o pneuma


ápeiron (o ar indeterminado), defendendo a teoria de que ele seria capaz
de assumir várias formas da realidade, pois a sua indeterminitude inicial
poderia tornar qualquer coisa existente na natureza.

Água
Pneuma
Ápeiron

Natureza
Terra
Princípio
simples, mas
universalizante.
Fogo

Figura 2: Pneuma Ápeiron (ar indeterminado).

Conforme vimos acima, o pneuma ápeiron poderia assumir


formas de fogo, terra e água em processos contínuos de condensação e
distensão. Vale lembrar que os pensadores da época acreditavam que os
quatro elementos simples da natureza eram terra, água, ar e fogo. No
entanto, por considerações do Princípio Universalizante, Anaxímenes
considera o ar indeterminado (pneuma ápeiron) como elemento
fundante ou princípio supremo da natureza.

Sendo assim, podemos entender um conceito fundamental


para a filosofia: o princípio universal (princípio de tudo), que sugere a
existência de algo originário. No entanto, este algo originário não pode

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ter uma característica definida, pelo contrário, deve ser algo simples
capaz de assumir formas e características diversas.

Na figura 3, Anaxímenes apresenta o princípio originário


ou universalizante, que deveria ser algo tão simples quanto universal.
Diante disso, já podemos chegar a uma outra conclusão e temos duas
dimensões do real:

• A dimensão da origem e do fundamento, que garante a


existência e o ser das coisas;
• A dimensão das coisas criadas ou, simplesmente, das coisas
existentes.

Universal, Uno e
Simples

Particular, Múltiplo Particular, Múltiplo


e Complexo e Complexo

Particular, Múltiplo
e Complexo

Figura 3: Dimensões do real.

1.4 Pitágoras de Samos

Pitágoras é um personagem ímpar na história da filosofia


ocidental. Sua biografia revela alguém versátil e intenso tanto na
filosofia como na religião. Nascido na cidade de Samos, ele viveu entre
os séculos VI e V a.C. Sua vida tão dinâmica não pode ser medida e
nem acompanhada fielmente pelas histórias fascinantes escritas por
seus biógrafos. Mas é certo que seus ensinamentos ultrapassaram as
fronteiras do mundo grego, em direção à Itália setentrional e à Sicília.

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Pitágoras reorganiza os saberes em fundamentos matemáticos.
A matematização do mundo e dos saberes traz Pitágoras para o
centro dos grandes pensadores ocidentais, pelo fato de repensar a
ideia de fundamento, princípio e ordem da natureza, da razão e do
conhecimento. Bem diferente de seus vizinhos milesianos, Pitágoras
encontra nos números o princípio elementar de toda a realidade.
A natureza repousa sobre uma ordenação matematicamente lógica,
constituída originariamente por números.

As convicções religiosas de Pitágoras regerão, de certo modo, a


sua concepção filosófica. Para o filósofo de Samos, o ser humano pecou
originariamente quando cultivou o ódio e a inveja, e, por isso, a alma
fica aprisionada no corpo para um processo contínuo de purificação,
até que ela encontre o espírito absoluto da natureza. Para isso, a alma
deverá controlar o corpo e suas paixões e dedicar-se prioritariamente aos
exercícios da contemplação (teoria), buscando a harmonia do mundo
(do cosmos) e a beleza de seu fundamento.

Na figura 4, Pitágoras defende a ideia de que é pela


matemática (aritmos, em grego) que podemos compreender a realidade
e sua harmonia. A música, por exemplo, é teorizada por Pitágoras em
sistemas de intervalos, que são usados até hoje nos estudos de teoria
musical. Alguns fundamentos das teorias geométricas também nasceram
com Pitágoras.

Universo:

Harmonizado e formado
na ordem numérica.

Figura 4: Universo/ordem numérica.

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1.5 Heráclito de Éfeso

Heráclito era natural da cidade de Éfeso e viveu entre os séculos


VI e V a.C. A sua preocupação em entender a natureza, seu fundamento
e o seu princípio, possuem uma grande influência na história da filosofia
e até mesmo nos dias de hoje. Como pensar na natureza se nela “tudo se
move”?

Não se pode descer duas vezes no mesmo rio e não se pode


tocar duas vezes uma substância mortal no mesmo estado,
pois, por causa da impetuosidade e da velocidade da mudança
(...) (Hecráclito citado por REALE, G. e ANTISERI, D.
História da Filosofia. Vol.I. São Paulo: Paulinas, 1990, p. 36).

Então, a primeira grande constatação de Heráclito é a


mutabilidade da natureza. O mundo está em constante movimento,
todavia, este constante movimento não é caótico, pelo contrário, ele
é ordenado. A dinâmica ordenada da natureza faz com que todas as
coisas estejam em constante mutação, em ações de criação e destruição,
nascimento e morte. Mas diante de tudo isto, qual é o fundamento
desta mutação ordenada?

Para Heráclito, o princípio material e fundamental de toda a


natureza é o fogo – a primeira energia. Mas o fogo por si só não é capaz de
criar e conduzir um universo tão diversificado e de proporções tão imensas.
Por isso, Heráclito entendeu que o grande princípio seria o Lógos.

Para o filósofo éfeso, o Lógos é capaz de criar unidade entre


todas as coisas que estão em movimento, e até mesmo de criar unidade
entre os opostos, entre os contrários. Para ele, o frio e o quente são
estados de coisas que permanecem ativos em uma mesma natureza.
Assim, Lógos é o fundamento racional e ordenador de uma natureza
dinâmica, ou seja, em constante mutação.

1.6 Parmênides de Eleia

Tal como Heráclito, Parmênides foi um filósofo do Século VI

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e V a.C., contudo, sua cidade natal foi Eleia. Por isso, o seu grupo de
estudo e de discípulos recebeu o nome de Escola Eleática.

A sua filosofia chegou até nós de uma maneira incisiva,


tendo sido importante até mesmo para definir o estudo e os objetivos
da filosofia. Para Parmênides, a filosofia deve se preocupar com a
natureza do ser das coisas, tendo todas as coisas o seu próprio ser,
que é responsável pela sua existência e também pela definição de suas
características distintivas.

Além do mais, Parmênides entendia que, somente por meio


do ser das coisas, nós poderíamos pensá-las. Se as coisas existem, então,
elas têm um ser, e se elas têm um ser, elas podem ser pensadas. Logo,
tudo tem um ser que se origina como um ente (ou coisa) da natureza. E
se as coisas são algum ente na natureza, então, elas podem ser pensadas,
pois elas possuem um ser específico.

Sendo assim, vejamos algumas fórmulas filosóficas de


Parmênides em suas próprias palavras (Parmênides citado por REALE,
G. e ANTISERI, D. História da Filosofia. Vol.I. São Paulo: Paulinas,
1990, p. 50-51):

Pois bem, eu te direi – escuta a minha palavra – apenas em


que caminhos de busca se pode pensar: um é o que é e não
é possível que não seja – essa é a senda da persuasão, porque
atrás de si tem a verdade. É necessário dizer e pensar que o
ser seja: com efeito, o ser é, o nada não é. Um só caminho
resta ao discurso: o que o ser é.
(...) Pensar e ser é o mesmo. Pensar é o mesmo e isso em
função do que o pensamento existe. Porque sem o ser, no
qual é expresso, não encontrarás o pensar; com efeito, fora do
ser nada mais ele é ou será….

A formulação do pensamento de Parmênides é simples. E


por ser simples, este pensamento pode ser considerado a base para a
tradição filosófica e científica da tradição cultural. A ideia “o ser é e o
não-ser (nada) não é” enfatiza que o conhecimento só é possível a partir
de coisas definíveis, existentes e não ilusórias.

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Segundo Reale e Antiseri (1990, p. 51):

“É necessário dizer e pensar que O SER seja: com efeito, o


SER é, o NADA não é. Um só caminho resta ao discurso: o
que o ser é? (...) Pensar e ser é o mesmo. Porque sem o ser,
no qual é expresso, não encontrarás o pensar”.

Para entender melhor, observe a tabela 1 abaixo:

A Dimensão do Ser Originário Ciência ou Filosofia


O Ser (em grego: to on). Os seres, as coisas (em grego: ta onta)

Dimensão formativa Dimensão formada, existente, concreto.

Universal Particular.

Tabela 1: Pensamento Parmênides.

Nessa perspectiva, os pré-socráticos refletiram sobre a natureza


do mundo, ou seja, do próprio cosmo, procurando explicá-lo a partir
de suas próprias naturezas, por meio das substâncias primordiais
encontradas por cada um deles. Este pensamento foi o ponto de partida
para o entendimento racional do mundo.

Os pensadores que apresentamos nesta unidade de


aprendizagem foram de extrema importância para o desenvolvimento
do pensamento ocidental, ao longo de quase três mil anos. As suas
contribuições ainda norteiam a busca pelo conhecimento e pela
racionalidade humana. Foram eles que iniciaram o estudo das ciências,
especificamente, a matemática.

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Referências Bibliográficas
REALE, G. ANTISERI, D. História da filosofia. Vol.I. São Paulo:
Paulinas, 1990.

VERNANT, Jean-Pierre. Mito e pensamento entre os gregos. 2 ed.


Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.

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