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O Pensamento Filosófico Medieval

Sumário

O Pensamento Filosófico Medieval


Objetivos ...................................................................... 03
Introdução..................................................................... 04
1. Filosofia Patrística .............................................. 05
1.1 A Patrística Pré-agostiniana ............................... 06
1.2 Os Apologistas e os Controvertistas (séc. II):....... 07
1.3 Os Alexandrinos e os Africanos (séc. III):............ 08
1.4 Os Luminares de Capadócia (séc. IV):................. 10
1.4.1 João Crisóstomo.................................................. 11
1.4.2 Gregório de Nissa . ............................................. 12
1.4.3 A Filosofia de Santo Agostinho........................... 12
2. Filosofia Escolástica............................................. 15
2.1 Primeiro Período ................................................ 15
2.2 Segundo Período................................................. 16
2.3 Terceiro Período.................................................. 17
Referências Bibliográficas............................................... 18
Objetivos
Ao final desta unidade, você deverá apresentar os seguintes
aprendizados:

• Identificar a influência do pensamento agostiniano na


cosmovisão medieval;
• Apontar as principais caracterísitcas da escolástica e
do pensamento de Tomás de Aquino, bem como a sua
influência no sistema educacional medieval;
• Perceber os caminhos e descaminhos pelos quais a filosofia
passou para dialogar com a fé e com a razão.

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Introdução
A filosofia que aconteceu na Europa, entre os séculos V e
XV, conhecida como a Idade Média, também é chamada de filosofia
medieval. A Igreja Católica, como a maior Instituição da época, terminou
interferindo na produção do conhecimento, deixando suas contribuições;
a filosofia foi uma delas. Nessa perspectiva, é comum encontrarmos
representantes do alto clero da igreja estudando e produzindo filosofia.
Entre esses pensadores cristãos, podemos citar: Santo Agostinho, Santo
Tomás de Aquino etc.

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1. Filosofia Patrística
Quando o Império Romano iniciou sua derrocada, havia
uma instituição religiosa pronta para assumir a direção do mundo:
o Cristianismo, que se expandia através da filosofia dos padres da
Igreja. No intuito de converter pagãos, combater heresias e justificar
a fé, os padres da Igreja daquele século desenvolveram a apologética,
que consiste em um discurso racional religioso em defesa do
Cristianismo.

A realidade descrita caracteriza a primeira fase da filosofia


no período medieval, também conhecida como Patrística. O período
medieval não foi a “Idade das Trevas”, como se acreditava. A filosofia
clássica sobrevive confinada nos mosteiros religiosos. Sob a influência
da Igreja, as especulações se concentram em questões filosófico-
-teológicas, tentando conciliar a fé e a razão.

E é nesse esforço que Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino


trazem reflexões fundamentais para a história do pensamento ocidental.

Importante
Santo Agostinho: Maior representante da
Patrística.
Santo Tomás de Aquino: Maior representante da
Escolástica.

Portanto, Patrística e Escolástica são duas escolas da filosofia


medieval. Mesmo havendo uma grande diversidade de abordagens

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teóricas, esse período foi marcado por uma intensa busca de conciliação
entre razão e fé.

Santo Agostinho de Hipona (cidade africana) foi o mais


importante filósofo da alta Idade Média. Além de filósofo e teólogo,
Agostinho também exercia uma função eclesiástica de bispo.

1.1 A Patrística Pré-agostiniana

O período do pensamento cristão segue por toda época


neotestamentária e chega até o começo da Escolástica, isto é, os
séculos II-VIII da Era Vulgar. Este período da cultura cristã é
designado com o nome de Patrística e representa o pensamento dos
Padres da Igreja, que são os construtores da teologia nascente, guias e
mestres da doutrina cristã.

A Patrística é contemporânea do último período do


pensamento grego, o período religioso, e com ele mantém fecundo
contato. Uma diferença profunda entre essas abordagens, no entanto,
se deve ao fato de a primeira ser adepta do teísmo enquanto a outra se
pauta no panteísmo. Ela também é coetânea do Império Romano, com
o qual polemiza até a cristianização depois de Constantino.

Importante

O termo “teísmo” (do grego Théos, Deus) é uma


crença na existência de deuses, seja um ou mais
de um. No caso de mais de um, pode existir um
supremo. Teísmo não é religião, pois não se trata
de um sistema de costumes, rituais e não possui
sacerdotes ou uma instituição. O Teísmo apenas
classifica a opinião de que existe ou existem deuses.
Algumas religiões são teístas, outras são deístas,
panteístas etc. Então, podemos dividir o teísmo em:

• Monoteísmo: Crença em um só Deus.


• Politeísmo: Crença em vários deuses.

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• Henoteísmo: Crença em vários deuses,
mas com um supremo a todos.

Dada a culminante grandeza de Agostinho, a Patrística é


dividida em dois períodos:

Antes de Agostinho (a patrística pré-a-


Agostinho, que merece um desenvol-
gostiniana) - Período em que, filoso-
vimento à parte, visto ser o maior dos
ficamente, interessam especialmente
padres.
os chamados apologistas e os padres
alexandrinos.

1.2 Os Apologistas e os Controvertistas (séc. II):

A Patrística do século II é caracterizada pela defesa que faz do


cristianismo contra o paganismo, o hebraísmo e as heresias. Os padres
deste período são divididos em três grupos:

• Padres apostólicos;
• Apologistas;
• Controversistas.

Neste momento, o que nos interessa são os apologistas, ou seja,


os pensadores do segundo século pela defesa racional do cristianismo
contra o paganismo. Os primeiros e os últimos padres têm uma
importância religiosa, dogmática, no âmbito do próprio cristianismo.

Os escritos não canônicos, chamados de apostólicos, nos


legaram as duas primeiras gerações cristãs, desde o fim do primeiro
século até a metade do segundo. Seus autores, quando conhecidos,
recebem o apelido de padres apostólicos, porquanto floresceram no
tempo dos Apóstolos, os conheceram diretamente ou, ainda, foram
discípulos imediatos deles.

Os escritores cristãos do fim do segundo século são chamados


de apologistas pois, de um lado, eles procuram demonstrar a inocência
dos cristãos para obter, em favor deles, a tolerância das autoridades

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públicas; do outro lado, eles procuram provar o valor da religião
cristã para granjear discípulos. Seus escritos, portanto, são, por vezes,
apologias propriamente ditas, por vezes, obras de controvérsia, e, às
vezes, teses. Além disso, os escritos são dirigidos ora contra os pagãos,
ora contra os hebreus.

Os apologistas mais cultos do que os padres apostólicos


frequentemente são filósofos, como Justino Mártir. Ainda que não
apresentem uma unidade sistemática, eles continuam filósofos depois da
conversão e se esforçam por defender a fé mediante a filosofia.

Para compreendê-los, é bom lembrar que o escopo por eles


visado era, sobretudo, pôr em focos os pontos de contato existentes
entre o cristianismo e a razão, e entre o cristianismo e a filosofia.
Apresentavam o cristianismo como a sabedoria mais perfeita, a fim de
levarem, gradualmente, à conversão dos pagãos.

Ufana-se ele de ser filósofo e cristão. Embora leigo, Justino


dedicou sua vida à difusão e ao ensino do cristianismo. Imitando os
filósofos, ele abriu em Roma uma escola para o ensino da doutrina
cristã. Suas obras são duas apologias: uma contra os pagãos, um diálogo
com o judeu Trifão; e outra obra contra os hebreus, ambas escritas em
meados do segundo século.

Justino procura a unidade, a conciliação entre paganismo


e cristianismo, entre filosofia e revelação. Ele ainda julga tê-la
encontrado, primeiro, pela crença de que os filósofos clássicos –
especialmente Platão – dependem de Moisés e dos profetas, depois pela
doutrina famosa dos germes do Verbo (lógos espermáticos), encarnados
pessoalmente em Jesus, mas difundidos mais ou menos em todos os
filósofos antigos.

1.3 Os Alexandrinos e os Africanos (séc. III):

O terceiro século apresenta um interesse particular em relação


ao pensamento cristão. Tentou-se uma renovação do paganismo com
base no panteísmo neoplatônico e nos cultos orientais, fundidos em

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uma característica filosófico-religiosa em oposição ao cristianismo,
que já ia se afirmando mesmo culturalmente. Os padres deste período
polemizam filosoficamente com os pensadores pagãos, levados a
estimarem seus adversários.

Sem mudar a sua fisionomia original, o cristianismo está em


condições de desenvolver um pensamento, uma filosofia, uma teologia,
que representarão a sua essência doutrinal. Daí a distinção que se
afirmou entre os simples fiéis e os gnósticos - sábios - cristãos. Este
gnosticismo cristão se afirmou especialmente em Alexandria do Egito,
o grande centro cultural da época, mesmo do ponto de vista católico.
Naquele famoso didascaléion (celebrizada escola catequética, espécie de
faculdade teológica), foram luminares Clemente e Orígenes.

O cristianismo filosófico é próprio e característico dos padres


alexandrinos, que vivem na tradição cultural helenista. Tal tradição
é enaltecedora e potencializadora dos valores intelectuais, teoréticos,
especulativos, metafísicos, dos quais teremos, em tempo oportuno, o
primeiro sistema orgânico de teologia cristã, graças a Orígenes.

Entretanto, Orígenes é hostilizado pelos padres chamados


africanos, pertencentes não à África oriental, ao Egito, mas, sim, à
África ocidental, latina. Esses padres se ressentem, por conseguinte,
do espírito prático, pragmatista, jurídico, moralista latino – que
produziu os estóicos e os cínicos romanos – em oposição ao gênio
grego. Embora apareçam vultos notáveis, como Tertuliano, entre os
padres africano-latinos, os padres africanos – bem como os padres
latinos em geral – não apresentam interesse particular para a história
da filosofia.

Embora as preocupações de Clemente sejam, sobretudo,


morais e pedagógicas, e os meios empregados sejam, satisfatoriamente,
religiosos e cristãos, ele valoriza também, e grandemente, a filosofia à
maneira de Justino, sendo dotado de uma erudição prodigiosa e de uma
cultura incomparável.

A distinção que faz Clemente dos cristãos em simples fiéis


e gnósticos, isto é, sábios, perfeitos, é filosoficamente importante. O

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gnóstico cristão, diferentemente do simples fiel ou crente, é consciente
de sua fé, justificando-a e organizando-a racionalmente, filosoficamente.
Querendo harmonizar a doutrina cristã com a filosofia pagã, acentua-se
demasiadamente a última, negligenciando a Sagrada Escritura e a Tradição.

Milhares de obras são atribuídas à atividade literária de


Orígenes. Prescindindo dos escritos exegéticos e ascéticos, que não
nos interessam, mencionamos a obra Tratado sobre os princípios e os
oito livros Contra Celso. Por princípios, Orígenes entende os artigos
principais do ensino da Igreja, e as verdades primordiais deduzidas
mediante a razão teológica das premissas reveladas, por falta de
revelação formal.

A obra Tratado sobre os princípios nos proporciona a ciência


baseada na Revelação, e representa uma suma teológica verdadeira e
própria. Ela representa, talvez, a primeira grande síntese doutrinal da
Igreja, segundo a tendência metafísica dos doutores orientais.

Já a obra Contra Celso é a mais célebre de Orígenes sob o


aspecto apologético. É uma resposta à obra Sermão Verdadeiro de Celso,
o filósofo pagão. Antes de tudo, Orígenes declara que a melhor apologia
do cristianismo é constituída pela vitalidade divina da Igreja, isto é, pela
sua força e virtude para a reforma moral dos homens e pela sua difusão
universal, apesar dos ataques dos adversários.

Orígenes pode ser considerado o verdadeiro fundador da


teologia científica, bem como o primeiro sistematizador do pensamento
cristão em uma vasta síntese filosófica.

1.4 Os Luminares de Capadócia (séc. IV):

O século quarto, especialmente a segunda metade, representa


a idade de ouro da Patrística. Basta lembrar que, para a igreja oriental,
temos Atanásio, o malho do arianismo, os luminares de Capadócia –
Basílio, Gregório Nazianzeno e Gregório de Nissa –, e João Crisóstomo,
o mais celebrado representante da escola de Antioquia. Já para a igreja
ocidental, temos Ambrósio de Milão e Jerônimo.

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Os padres dessa época se exprimem em aprimorada forma
clássica e possuem uma profunda cultura filosófica. Os maiores são
solidamente formados na solidão monástica e ascética, e pertencem,
geralmente, às altas classes sociais. A igreja cristã, declarada livre pelo
Edito de Milão e protegida por Constantino, torna-se religião do estado
com Teodósio. Estas condições de paz e de privilégio eram, certamente,
favoráveis à cultura cristã.

Entretanto, a grandeza da Patrística, no quarto século, não


é tão científica quanto dogmática, teológica. A teologia, sobretudo
graças aos luminares de Capadócia, torna-se uma construção intelectual
sistemática, imponente, em razão da filosofia e da lógica aristotélica,
que proporcionam o instrumento e o método, para a precisão e a
organização do dogma.

As grandes heresias da época obrigaram os padres a


defender racional e filosoficamente a doutrina cristã, que era atacada
especialmente por Ário (256-336), padre alexandrino oriundo da Líbia
e negador da divindade do Verbo. A heresia ariana – o arianismo foi
condenado pelo concílio de Niceia (325) – teve Atanásio como seu mais
destacado e forte opositor.

1.4.1 João Crisóstomo

João Crisóstomo de Antioquia nasceu de uma família ilustre,


no ano de 344. Ele recebeu uma educação clássica aprimorada, e
estudou retórica, filosofia, direito. Depois de batizado, ele valorizou a
solidão e o ascetismo.

Padre em Antioquia e, depois, bispo de Constantinopla,


Crisóstomo faleceu degredado pela fé, em 407. É significativo neste
grande prelado o senso profundo da vaidade do mundo, e a grande
estima do cristianismo concebida como ascética.

Os grandes representantes da escola neoalexandrina, os


luminares de Capadócia, foram grandes testemunhas do caráter
fundamentalmente ascético do cristianismo.

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1.4.2 Gregório de Nissa

Gregório de Nissa foi o maior dos luminares de Capadócia e,


talvez, de todos os padres gregos, sob o aspecto especulativo e filosófico.
Irmão de Basílio, Gregório nasceu no ano de 355, em Cesareia. Após
receber uma informação cultural aprimorada, foi destinado ao estado
eclesiástico, entretanto, deixou-se desviar da sua vocação, virando
professor de retórica e casando-se.

As exortações do irmão e de Gregório Nazianzeno


persuadiram-no da vaidade do mundo, até que, abandonando a cátedra
de retórica, retirou-se para a vida ascética contemplativa.

Em seguida, foi feito bispo de Nissa, cidadezinha da


Capadócia, primando pela sua cultura teológica e filosófica. Faleceu,
provavelmente, em 395.

Gregório de Nissa é o maior filósofo dos padres gregos. Ele


esforça-se para mostrar que os dados da razão e os ensinamentos da fé
não se hostilizam, mas se harmonizam reciprocamente.

Gregório possui, como verdadeiro filósofo, o gosto das


definições claras e das classificações metódicas. Em teologia é
origenista; em filosofia é neoplatônico.

1.4.3 A Filosofia de Santo Agostinho

Agostinho sentiu-se despertado para a filosofia e pela leitura


de Cícero. Posteriormente, ele deixou-se influenciar pelo maniqueísmo,
seita persa que afirmava ser o universo dominado por dois grandes
princípios opostos: o bem e o mal, mantendo uma incessante luta entre
si. Mais tarde, insatisfeito com o maniqueísmo, Agostinho entrou em
contato com o neoplatonismo (movimento filosófico do período greco-
romano desenvolvido por pensadores inspirados em Platão) que, na
época, tinha como característica o ceticismo.

Ele cresceu e se aprofundou em uma grande crise existencial,

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uma inquietação quase desesperada em busca de sentido para a vida.
Foi nesse período crítico que ele se encontrou com Santo Ambrósio,
bispo de Milão, sentindo- se extremamente atraído por suas pregações.
Pouco tempo depois, converteu-se ao cristianismo. O pensamento
de Agostinho reflete, em grande parte, os principais passos de sua
trajetória. São eles:

• Do maniqueísmo ficou uma concepção dualista,


simbolizada pela luta entre o bem e o mal, a alma e o
corpo. Neste sentido, dizia-se que o homem tem uma
inclinação natural para o mal. Além disso, insistia
que já nascemos pecadores e que somente um esforço
consciente pode nos fazer superar essa deficiência “natural”.
Considerando o mal como o afastamento de Deus, esta
concepção defendia a necessidade de uma intensa educação
religiosa.

• Do ceticismo ficou a permanente desconfiança nos dados


dos sentidos, isto é, no conhecimento sensorial, que nos
apresenta uma multidão de seres mutáveis, flutuantes e
transitórios.

• Do neoplatonismo, Agostinho assimilou a concepção de


que a verdade, como conhecimento eterno, deveria ser
buscada intelectualmente no mundo das ideias.

• Com o cristianismo ele defendeu a via do


autoconhecimento, ou seja, o caminho da interioridade
como instrumento legítimo para a busca da verdade.
Somente o íntimo de nossa alma, iluminada por Deus,
poderia atingir a verdade das coisas. Com isso, provoca-se a
submissão do espírito à matéria, equivalente à subordinação
do eterno ao transitório, da essência à aparência.

Assim, a teoria agostiniana estabelece que todo conhecimento


verdadeiro é o resultado de um processo de iluminação divina, que
possibilita ao homem contemplar ideias, arquétipos eternos de toda

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a realidade. Nesse tipo de conhecimento, a própria luz divina não
é vista, mas serve apenas para iluminar as ideias. Um outro tipo de
conhecimento seria aquele no qual o homem contempla a luz divina,
olhando o próprio sol: a experiência mística.

Isso significa que, para Agostinho, a fé revela verdades ao


homem de forma direta e intuitiva, para que, depois, venha a razão
esclarecendo aquilo que a fé já antecipou. Agostinho procede da tradição
platônica, da qual é herdeiro por intermédio do neoplatonismo de
Plotino. No entanto, ele incorpora esta tradição em um contexto cristão
e, por esta razão, a transforma profundamente, ao mesmo tempo em que
a completa e a aprimora, corrigindo, nela, o que havia de mais discutível.

Agostinho não admite nem o universo inteligível das ideias


subsistentes, nem o ineísmo platônico, embora estas duas opiniões
errôneas lhe parecessem envolver magníficos pressentimentos da
verdade. Pois é verdade que deve existir um mundo inteligível ou
mundo das ideias, uma vez que o nosso pensamento procede por meio
das ideias eternas e necessárias, e por meio de referências a normas
absolutas e imutáveis, que não descobriremos, evidentemente, no
universo da percepção móvel, mutável e essencialmente múltiplo.

Unicamente, este mundo das ideias é a razão divina com a qual


é preciso que estejamos de algum modo em comunicação, pois é apenas
por esta via que conseguiremos explicar que pensamos e julgamos
segundo normas que transcendem o espaço e o tempo.

Dessa forma, o religioso e filósofo, conhecido como Santo


Agostinho de Hipona, desenvolveu uma ideia de que todo homem
possui uma consciência moral e um livre arbítrio, e que todo sujeito
tem a consciência do certo e do errado, além do direito de escolha para
fazer o que quiser.

2. Filosofia Escolástica
O período entre o século IX e o século XVI demarca o que
denominamos escolástico, no qual foi deflagrado o movimento que

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tinha como interesse entender e explicar a religiosidade cristã, por meio
das ideias dos filósofos Platão e Aristóteles.

Os filósofos cristãos dessa época acreditavam que a Igreja,


enquanto instituição, tinha um papel fundamental na salvação dos fiéis,
guiando-os ao caminho da salvação ou do paraíso.

A filosofia escolástica medieval é dividida em três períodos:

• I - Período de formação - do século VIII ao XII, ou o


tempo das escolas;
• II - Período de apogeu - do século XIII, ou do início das
universidades;
• III - Período de declínio - do século XIV ao XV, até a
Renascença.

2.1 Primeiro Período

São poucos os nomes representativos dos primeiros quatro


séculos da escolástica medieval. Este longo período de obscuridade é,
contudo, de uma extraordinária gestação das novas nacionalidades que
sucederam ao Império de Roma, depois da deposição de seu último
titular Rômulo Augústulo, em 476. As novas nacionalidades acabaram
dando certo, e, assim, progressivamente, também a sua filosofia. É
possível reconhecer duas fases no período de formação da escolástica:

Primeira fase - Da fundação, na qual ocorrem os primeiros


escolásticos – Alduíno de York e João Escoto Erígena. Ainda que
Boécio e Cassiodoro constem como primeiros pensadores medievais,
ainda são caracterizados como patrísticos, junto com os quais são
estudados. A Idade Média propriamente dita principia a desenvolver-
se com os francos, sobretudo com Carlos Magno, o qual deu
desenvolvimento às escolas.

Segunda fase - Ganhou campo a questão dos universais, que


divide os filósofos em torno de um grave problema epistemológico,
cuja solução é impossível de filosofar com consistência. Esta segunda

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fase é uma florescência direta da primeira, e, por isso, não deve ser
acentuada como um tempo novo; em vez disso, é melhor acentuar as
diferenças doutrinárias em que se desdobra. Assim, a primeira fase é
tratada globalmente, enquanto a segunda é imediatamente subdividida
em filósofos realistas, antirrealistas, e filósofos de outras tendências,
inclusive ecléticas.

2.2 Segundo Período

O segundo período da escolástica, que marca seu apogeu, tem


várias escolas de pensamento, porém, a mais importante delas é, sem
dúvida, o tomismo.

O tomismo é a filosofia elaborada por Santo Tomás de


Aquino (1225-1274), que procura uma síntese entre o platonismo e o
pensamento de Aristóteles, embora o filósofo grego que exerceu maior
influência sobre Santo Tomás de Aquino tenha sido Aristóteles.

Tomás de Aquino viveu intensamente os conflitos intelectuais


típicos de sua época, que opunham o conhecimento pela razão, a teologia à
filosofia e a crença na revelação bíblica às investigações dos filósofos gregos.

Inserida no movimento escolástico, a filosofia de Tomás de


Aquino (o tomismo) já nasceu com um objetivo claro: não contrariar a fé.

De fato, a finalidade de sua filosofia era organizar um conjunto


de argumentos para demonstrar e defender as revelações do cristianismo.

Assim, Tomás de Aquino reviveu, em grande parte, o


pensamento aristotélico, com a finalidade de buscar nele os elementos
racionais que explicassem os principais aspectos da fé cristã.

Retomando as ideias de Aristóteles sobre o ser e o saber,


Tomás de Aquino enfatizou a importância da realidade sensorial. No
processo de conhecimento dessa realidade, ele ressaltou uma série de
princípios considerados básicos.

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Segundo Santo Tomás, a razão pode provar a existência de
Deus por meio de cinco vias, todas de índole realista. Considera-se
algum aspecto da realidade dada pelos sentidos como o efeito do qual se
procura a causa.

• A primeira - Fundamenta-se na constatação de que no


universo existe movimento. Baseado em Aristóteles, Santo
Tomás considera que todo o movimento tem uma causa;
• A segunda - Diz respeito à ideia de causa em geral. Todas
as coisas ou são causas ou são efeitos. Não se pode conceber
que alguma coisa seja causa de si mesma;
• A terceira - Refere-se aos conceitos de necessidade
e possibilidade. Todos os seres estão em permanente
transformação, alguns sendo gerados, outros se
corrompendo e deixando de existir;
• A quarta - A existência de Deus é de índole platônica e
baseia-se nos graus hierárquicos de perfeição observados
nas coisas;
• A quinta - Fundamenta-se na ordem das coisas. Exige um
ser governante para a ordem de realidade.

2.3 Terceiro Período

O terceiro período da escolástica medieval é marcado por um


declínio dos sistemas de pensamento filosóficos e científicos. Porém,
o término desse período surge como um rico momento que anuncia a
modernidade, chamado de Renascença. Foi um período de transição entre
a Idade Média e a Idade Moderna, que ocorreu principalmente na Itália,
e se alastrou por toda a Europa. Importantes acontecimentos artísticos e
culturais marcaram esse momento e invadiram o ocidente do século XV.

Nessa perspectiva, podemos concluir que as principais questões


debatidas pelos filósofos medievais foram: a relação entre a razão e a fé;
a existência e a natureza de Deus; as fronteiras entre o conhecimento
e a liberdade humana e a individualização das substâncias divisíveis e
indivisíveis, ou seja, um pensamento ligado extremamente à religiosidade.

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Referências Bibliográficas
BOEHMER, Phitolomeus; GILSON, Etienne. História da filosofia
cristã. 2 ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1999.

CAVALCANTE, Márcia Sá. Para ler os medievais. Petrópolis: Editora


Vozes, 2003.

HEERS, Jacques. História medieval. 6 ed. Rio de Janeiro: Bertrand,


1991.

ORÍGENES. Contra Celso. São Paulo: Paulus, 2004.

________. Tratado sobre os princípios. São Paulo: Paulus, 2012.

ROCHA, Alessandro. Uma introdução à filosofia da religião. São


Paulo: Editora Vida, 2008.

SANTO AGOSTINHO (Coleção Os Pensadores). Nova Cultural,


1999.

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